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MANUAL DE APOIO

Área: 762 - Trabalho Social e Formador/a: Telma Barreto


Orientação

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UFCD: 4296 – Associativismo e Carga Horária: 25 horas
Animação

Índice

Objetivos ……………………………………………………………………………………………Pág.3
Objetivo geral…………………………………………………………………………..……… Pág.3
Objetivo específico………………………………………………………………….………. Pág.3
Conteúdos programáticos………………………………………………………………… Pág.4
Introdução………………………………………………………………………………………… Pág.5
Associativismo: papel e função sociocultural…………………………………. Pág.6
Tipos de associações……………………………………………………………………….. Pág.9
Áreas de intervenção………………………………………………………………………. Pág.13
Formas de organização……………………………………………………………………. Pág.19
Legislação aplicável…………………………………………………………………………. Pág.21
Conclusão………………………………………………………………………………..……... Pág.26
Referências bibliográficas…………………………………………………………….…. Pág.27

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OBJETIVOS DO CURSO

Objetivo Geral

 Reconhecer a importância da ligação entre a atividade do animador


sociocultural e as estruturas associativas.

Objetivos Específicos

 Definir o conceito de associativismo;


 Reconhecer o papel das associações no desenvolvimento
comunitário.

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CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

 Associativismo: papel e função sociocultural;


 Tipos de associações;
 Áreas de intervenção;
 Formas de organização;
 Legislação aplicável.

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INTRODUÇÃO

O presente manual foi concebido como instrumento de apoio à Unidade de


Formação de Curta Duração nrº 4296 –Associativismo e Animação, de
acordo com o Catálogo Nacional de Qualificações.
O movimento associativo, através das suas diferentes estruturas,
desempenha um papel insubstituível no contexto social e global,
fornecendo um contributo essencial dirigido ao interesse geral. A
associação atua para além do sector do trabalho possibilitando o
investimento do tempo liberto em benefício de algo que, sendo pessoal,
assume um carácter essencialmente coletiva, solidária e com capacidade
sustentada de intervenção social, política, cultural, económica, e de
coesão do tecido comunitário. O associativismo contribui para a
consolidação e dinamização do tecido social, e é um importante fator de
transformação e inovação social. Assume-se como um local de
experimentação de novas soluções.
De acordo com o supra citado, ao longo do presente documento irão ser
desenvolvidos os conteúdos abordados durante o decorrer da formação.

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ASSOCIATIVISMO: PAPEL E FUNÇÃO SOCIOCULTURAL

Desde que o homem vive em grupo, em sociedade, surge a necessidade


de superar as insuficiências, necessidades, dificuldades, ambições,
aspirações, individuais, participando.

Associativismo é um Movimento Social:


*Que fomenta a ação coletiva;
*Que fomenta a organização humana;
*Que fomenta a criação de associações de pessoas com o objetivo de
ultrapassar necessidades cada vez mais difíceis de satisfazer
individualmente, numa determinada comunidade

Associativismo:
 Movimento social que fomenta a organização humana
 Movimento Associativo (forma de organização humana, que
responde a necessidades de uma comunidade através de uma
associação);
 Movimento Cooperativo (forma de organização humana, através da
qual o homem dá resposta aos seus problemas económicos, sociais
e culturais através de uma cooperativa).

Associativismo? Este conceito está associada às organizações nas quais


grupos de cidadãos têm a possibilidade de lutar e afirmar a sua
identidade, constituindo um pilar decisivo na construção da solidariedade
e contribuindo para o exercício da democracia e da cidadania.

A emergência do associativismo está relacionada com as condições sociais


decorrentes da sociedade industrial, tornando-se ao longo dos tempos um
elemento dinamizador das comunidades, e um importante fator de
transformação e inovação social.

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Em Portugal, o associativismo foi dinamizado durante o Estado Novo.
Participar era uma forma de resistir à ditadura, de partilha de ideias e de
dinamização de ações cívicas, mas foi sobretudo após o 25 de Abril que
houve um grande crescimento das associações. Além deste crescimento,
há que registar que as associações chamadas “ clássicas” se organizaram
de modo mais diversificado ao nível das suas atividades e houve a criação
de novos tipos de associações.

Em Portugal existem cerca de 65.490 registos relativos a associações,


segundo um levantamento de dados realizado pela Secretaria Geral da
Administração Interna, em 2011, tendo como fonte a documentação
existente sobre esta matéria nos Governos Civis, entidades que detinham
um papel regulador, no âmbito da aprovação dos estatutos e
regulamentos das associações e que abrangiam diversas tipologias –
instrução, saúde, recreio, beneficência, irmandades, confrarias,
trabalhadores, religiosas, etc.

Assim, podemos afirmar que em Portugal existem muitas associações,


mas somos o país que detém o mais baixo índice de participação por
habitante. Apesar deste cenário, segundo Melo de Carvalho, em 2002, na
obra “Associativismo, inovação social e desenvolvimento”, há um balanço
positivo entre as que são criadas e as que desaparecem. Se as
associações traduzem ao longo dos tempos uma força social tão
expressiva e valiosa, tanto a nível económico, como social, porquê a falta
de visibilidade numa sociedade cada vez mais mediatizada? Sendo as
associações resultado do contributo de todos, por que razão estas não
conseguem ser recompensadas com o apoio adequado por parte de quem
regula estas matérias? Refiro-me em concreto ao facto de terem a sua
subsistência económica através das quotizações e do financiamento do
poder local, central ou político, sendo a intervenção estatal muito
reduzida, uma vez que abrange um número muito limitado de
associações.

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Em relação aos trabalhos desenvolvidos nas associações, estes assentam
no contributo dos colaboradores, que na sua grande maioria intervêm de
forma gratuita, dando o seu tempo e conhecimento. Este contributo dos
associados evidencia e representa valor económico e social, mas tem
implicações a nível individual, pois acarreta disponibilidade do ponto de
vista pessoal.

Face ao exposto o associativismo é um fenómeno a ser estudado com


maior detalhe e rigor. Há estudos que se debruçaram sobre a falta de
adesão de novos associados, e outros sobre as dificuldades das
associações em conseguir reter ou captar novos membros, mas ainda
assim é preciso investigar muito mais. Por exemplo, quais os motivos que
levam à desmotivação, ao interesse momentâneo que rapidamente se
transforma em desinteresse, à forma de participação pouco ativa, que
quase se pode chamar de “passiva”?

Segundo o livro branco do Kenes Group ( 2015) sobre os desafios das


associações para captar ou reter novos membros, estes devem- se em
grande parte à crise económica, à demografia e à tecnologia. Sugiro uma
leitura atenta deste documento pois o mesmo apresenta algumas
conclusões muito interessantes sobre este assunto, e indica alguns
comportamentos que podem ser adaptados pelas associações.

A APorEP – Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo, não recebe


subsídios e depende exclusivamente das quotizações dos sócios e das
receitas arrecadadas com a organização de encontros como as Jornadas
Internacionais de Protocolo. Graças ao empenho e esforço de uma equipa
de associados, desde 2015 que conseguimos reunir todos os anos os
profissionais desta área para refletir e debater temas que interessam a
todos. As XII Jornadas Internacionais de Protocolo serão no próximo dia
16 de Novembro de 2017, no Auditório da Reitoria da Universidade Nova
de Lisboa.

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Em suma, a maioria dos associados portugueses são voluntários mas não
se sentem recompensados porque consideram ser quase nula a
visibilidade da sua intervenção e contribuição individual para o coletivo.
Através das associações poderemos intervir e ajudar a transformar o país,
estabelecendo relações de parceria e de cooperação entre os diferentes
poderes, sejam políticos, económicos ou da comunicação social. Podem
ser partilhados, e mantidos os princípios de autonomia e independência.

“O associativismo é um dos pilares da sociedade”. As associações


precisam do conhecimento, do entusiasmo e das novas ideias de todos.

TIPOS DE ASSOCIAÇÕES

Tipos de associações:

*Políticas;
*Juvenis;
*Estudantes;
*Pais;
*Defesa do consumidor;
*Defesa do ambiente;
*Religiosas;
*Solidariedade social;
*Agrícolas;
*Mulheres;
*Sindicais;
*Patronais;
*Desportivas;
*Família;
*Bombeiros;
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*Caçadores;
*Pessoas portadoras de deficiência;
*Imigrantes;
*Florestais.

Os tipos de associações conforme o objeto social que desenvolvem,


segundo Victor Mendes (2005) poder ser agrupados em quinze categorias:
 Culturais, recreativas e Tempos Livres (música em geral, bandas
filarmónicas, teatro, artes, grupos corais, cineclubes, folclore, etc);
 Desporto (clubes desportivos ecléticos ou de uma única modalidade,
associações regionais, federações);
 Ação Social (IPSS, mutualistas, misericórdias, família, deficientes,
proteção da infância e 3.a idade);
 Humanitárias e Caridade (bombeiros, caritas, cruz vermelha);
 Politicas, Intervenção e Reivindicação (politicas, desenvolvimento local,
mulheres, cívicas e direitos humanos]
 Religiosas;
 Representação de interesses (sindicais, empregadores - ex-patronais);
 Emigrantes (comunidades portuguesas) e Imigrantes;
 Educação e Formação (pais, estudantes, ex-alunos, escuteiros educação
popular, alfabetização, escolas profissionais, ensino especial, cientificas,
bibliotecas, informação);
 Saúde (doentes e familiares, dadores de sangue, ligar de amigos de
hospitais, luta contra adicções, ajuda médica ao domicílio, investigação
médica);
 Ambiente e Património (ONGA, defesa do património);
 Prestação de Serviços aos associados e de interesse económico
(empresariais, agricultores, caçadores e pescadores, confrarias, clubes de
emprego, distribuição e comercialização de produtos de associados como
seja a título de exemplo artesãos);
 Consumidores e utentes (consumidores, utentes de serviços públicos ou

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privados);
 Solidariedade, Cooperação e Desenvolvimento (atividades
internacionais, missões e ONGD);
 Proximidade e Vizinhança (condomínio, moradores, gestão equipamentos
e prestação serviços domicilio.

Associação é considerada um conjunto de pessoas que se reúnem para


atingir um objetivo especifico e para realizar uma tarefa em comum
(como processo –( Ander - Egg )
Associação – conjunto de pessoas associadas numa organização, que para
a concretização de algum fim ou interesse comum, se mantêm unidas
mediante um conjunto conhecido e aceite de regras que orientam o
funcionamento dessa mesma organização (como entidade –( Ander-Egg )
Associação:
*é uma pessoa coletiva composta de pessoas singulares e/ou coletivas
unidas em torno de um objetivo comum, sem ter por fim o lucro (Victor
Mendes);
*pessoa coletiva de substrato pessoal que não tem por fim a obtenção de
lucros para distribuir pelos sócios (artigo 157° do Código Civil).

História do associativismo no mundo


O que atualmente se entende por Associativismo tem origens que se
perdem no tempo se atendermos às características funcionais de algumas
das associações de hoje.
 PRÉ-HISTÓRIA – Caça coletiva (sobrevivência)
 ANTIGA GRÉCIA – Ginásios (cultura física); Palestras (educação)
 ANTIGA ROMA – Organizações Profissionais; Clubes de Jovens;
Escolas de Gladiadores
 IDADE MÉDIA – Irmandades (Igreja Católica); Ordens Militares;
Corporações (produtores, aprendizes, jornaleiros, mestres e
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artesãos de um ofício) até ao séc.XIX
 SÉCULO XIX – Associações profissionais de Trabalhadores e de
patrões (que deram origem aos atuais sindicatos e associações

patronais); Cooperativismo (Pioneiros de Rochdale em 1844);


Associações de Cultura e Recreio; Associações Desportivas
 SÉCULO XX – Associações de Acção Social; Associações de Acção na
Saúde; Associações de Acção no Ambiente; Associações de Acção na
Ocupação dos Tempos Livres; Multinacionais Associativas: Cruz
Vermelha, AMI, Green Peace.

As associações têm assumido um papel muito importante nas sociedades:


*Substituindo em muitas áreas de intervenção o próprio Estado;
*Atingindo grande importância na esfera económica

História do associativismo em Portugal


As primeiras associações foram as Religiosas que se propagaram ao longo
de toda a história de Portugal, dando origem às Misericórdias:
 1ª.Misericórdia em 1498, fundada pela Rainha D. Leonor de
Lencastre
 1807, associações de socorro mútuo
 1834, associações comerciais e industriais
 1842, associações agrícolas
 1848, associações de cultura e recreio
 1849, associação académica de Coimbra
 1856, associações desportivas
 1860, cooperativismo
 1871, associação académica de Lisboa
 1872, associações sindicais
 1911, associação académica do Porto
 1945, associações cívicas
 1974, proliferação do associativismo tanto em número como em
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áreas de intervenção

História do direito de associação em Portugal


A história do Associativismo está relacionada não só com o objetivo de dar
resposta ás necessidades de uma comunidade, mas também com a
Liberdade de Associação:
1o Período - Antes de 1910
2o Período - De 1910 a 1926
3o Período - Estado Novo (1926 a 1974)
4o Período - Depois de 1974

ÁREAS DE INTERVENÇÃO

Associativismo e participação social…


Foi afirmado no ponto anterior que os movimentos sociais constituíram
frequentemente parte do estudo das associações voluntárias. Considerá-
los segundo esse prisma significaria destituir esse campo de investigação
de autonomia e enquadrá-lo em limites deveras redutores. Mas, por outro
lado, admitimos que se impõem pontos de intersecção entre estas duas
noções, na sequência dos quais elas se tornam correlativas. Tal como os
movimentos sociais, as associações voluntárias pressupõem a existência
de um grupo de indivíduos que congregam esforços com vista à
prossecução de um ou mais objetivos, relacionados com a satisfação de
interesses e aspirações comuns.

A principal diferença estabelece-se em termos organizacionais: enquanto


o movimento social, embora pressuponha condutas racionalmente
orientadas, não implica necessariamente - pelo menos numa primeira fase

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-institucionalização e formalização rígidas; uma associação é uma
instituição legalmente constituída, um grupo formalmente organizado. E
precisamente porque submetida a um ciclo de vida organizacional, a
associação à medida que vai obtendo resposta às suas contestações e
alcançando a realização dos seus objetivos, perde também o seu carácter
reivindicativo, permanecendo como grupo organizado que uma vez
atingida a sua maturidade adquire uma forma burocratizada. Embora nem
sempre isso se verifique, há o caso de associações que mesmo fortemente
burocratizadas retomam o seu carácter reivindicativo em diferentes
momentos da sua vida associativa.

Neste sentido, uma associação pode manter-se nessa qualidade mesmo


quando desprovida do dinamismo inicial e destinada unicamente a
assegurar, segundo Albert Meister, "o controlo da aplicação de leis" que
dão resposta às suas reivindicações. O mesmo não se poderá dizer sobre
movimento social, noção que só faz sentido se enquadrada no campo das
dinâmicas sociais e na temática dos atores protagonistas de mudança.
Não valerá a pena alongarmo-nos com o desenvolvimento de estas e
outras afinidades e níveis de divergência entre estas noções, pois isso
terá mais pertinência à medida que delimitarmos o conceito de
associação.

A nossa opção teórica de articulação destas duas problemáticas,


movimentos sociais e associativismo, encontra o seu principal
fundamento no facto de ambas constituírem campos férteis para a análise
das novas reivindicações e lutas sociais (no caso particular do
associativismo, José Manuel Viegas refere que têm sido privilegiadas no
seu estudo as linhas de orientação que o situam nos “novos campos das
lutas sociais” e o articulam com democracia) ou, num sentido mais lato,
as novas modalidades de participação social.

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O associativismo enquanto via de participação social
A participação social foi uma questão que "esteve na moda",
principalmente em França nos anos 60 e 70, participação tanto no
trabalho como no lazer; nos domínios tradicionais da política e do social
ou em novos domínios de intervenção e participação coletiva. Todo esse
fenómeno "explosivo" encontrou, na maior parte dos casos, materialidade
em associações diversas. Essa proliferação do movimento associativo
começou a ser então considerada como indicador de democratização e
maior participação da sociedade civil. Têm-se destacado em França, nos
últimos anos, diversos trabalhos de pesquisa empírica com o objetivo de
caracterizar o novo associativismo e respetiva base social.
Os trabalhos mais recentes na área do associativismo sustentam a
hipótese de que a nova dinâmica associativa se manifesta não tanto nas
camadas operárias e meios populares, mas em grupos e classes sociais de
maiores rendimentos e mais elevados níveis de instrução. Richard Balme
vê este envolvimento por parte da classe média assalariada nas
associações como uma busca de novas identidades e solidariedades.

Semelhantemente ao que sucedeu relativamente aos novos movimentos


sociais que eclodiram em meados da década de 70, também o
associativismo conheceu um novo impulso nessa mesma data, pautando-
se por formas de. agir muito próximas e mesmo coincidentes com as dos
novos movimentos sociais; quer isto dizer que esse novo associativismo
teve como traços dominantes: a complexidade, a heterogeneidade (da
base social) e o centramento em questões que escapavam aos
tradicionais conflitos sociais e políticos, revestindo-se aparentemente de
um certo apolitismo e abarcando, assim, novos sectores da vida social.

Apesar de toda essa diversidade que aparentemente existe, D. Mehl


propõe-se procurar apreender a unidade do movimento associativo,
tomando como ponto de partida a tarefa de esboçar os "contornos de

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uma cultura política específica" Ao afastar, deste modo, a intenção de
criar tipologias, o seu foco de interesse orienta-se para três dimensões
do campo das associações e do movimento associativo, as quais
constituem, no âmbito da nossa pesquisa, vertentes importantes:
a) A cultura associativa;
b) Os papéis e as funções das associações;
c) Os atores do movimento social.

É aqui entendido por cultura associativa o conjunto de valores comuns e


de temas que servem de linha de orientação, isto é, o conjunto de
representações que é partilhado pelas diferentes associações. E dentro
da cultura associativa considera como linhas analíticas:

 A qualidade de vida (tema importante tanto para as associações


ligadas ao consumo e à defesa do consumidor, como para as
associações de lazer) ligada à ideia de que a realização individual
passa pela melhoria de vida material e extra-trabalho;

 As relações sociais, sendo consideradas as associações como


prolongamento das redes familiares, redes essas que são
"revivificadas por relações interindividuais que as associações
tendem a humanizar”;

 O Estado enquanto principal adversário e interlocutor das


associações, as quais em contrapartida se assumem como porta-
vozes da sociedade civil;

 O jogo político, aspeto que levanta o problema do "apolitismo" e


consequente crítica aos partidos, pela sua incapacidade e falta de
pragmatismo na resolução dos problemas do quotidiano;

 O local, elemento valorizado e alternativo ao mundo político


tradicional;

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 A democracia local, dimensão a ser analisada também dentro da
perspectiva da crítica do Estado.

Em suma, para D. Mehl há, assim, uma valorização do indivíduo, da


família e dos grupos de afinidade em detrimento das classes sociais e dos
grupos profissionais. De igual modo, evidente será a discussão da
autonomia da sociedade civil - correlativa de noções como as de
cidadania, descentralização, democratização e participação - e o
paradoxo manifesto na defesa da autonomia da sociedade civil, por um
lado, mas, por outro, a evidência de reivindicações que obviam uma
interferência do Estado na sociedade.. Richard Balme, na sua análise das
capacidades de ação das associações nas coletividades locais, constata que
apesar do associativismo se apresentar como portador de uma nova dinâmica
política, a sua intervenção acaba por se tornar bastante limitada face a um
poder autárquico que negoceia sempre estabelecendo uma relação
desigual.

Quanto aos partidos políticos, eles vêm ameaçada, ou no mínimo


questionada, a sua função de mediadores políticos face às reivindicações
de um novo modo de gestão onde prepondere o local e as diversas
instituições que dele fazem parte. Nesse modelo, o associativismo
contribuirá para uma nova dinâmica política nas colectividades locais. A
este propósito, diz a autora: "O movimento associativo tem um papel
específico na regulação social, responde a funções sociais particulares, ocupa
um lugar original no sistema político-social", p. 30. Todavia, e curiosamente
D. Mehl afirma, que em França esta cultura política tem raízes em frações dos
partidos políticos tradicionais, ligados à esquerda, e mais propriamente no Maio
de 68, pois nessa época surgiram discursos que combateram o centralismo em
defesa da iniciativa local.

É ao nível deste novo contexto, que as associações devem ser situadas,


uma vez que lutam por ter uma palavra a dizer ao nível da gestão política

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local e do quotidiano em geral. Através delas, os indivíduos, exercendo
um direito de cidadania - outras vezes as associações são uma das vias
possíveis para alcançar essa cidadania, como acontece em certas
situações de marginalidade social -, conseguem organizar as populações
locais que se vêm assim representadas por órgãos que lhes são mais
próximos porque têm aí uma intervenção direta . A dinâmica associativa
traduz uma "procura generalizada de participação", procura essa que
constitui, segundo Mehl, um dos pontos comuns do atual movimento
associativo.

Outro facto relevante diz respeito ao papel assumido pelas associações em


termos da reestruturação das redes de sociabilidade local, paralelamente
ou em alternativa às instituições tradicionais como a família, a igreja, ou a
comunidade local. Essa reestruturação não se confina à recriação ou
reprodução das sociabilidades antigas, ela passa principalmente pela
criação de novas formas de sociabilidade, de que são exemplo os
restaurantes e mercearias vegetarianas e macrobióticas, tipos diferentes
de livrarias, ou as cooperativas de artesanato urbano. É também ligado ao
movimento associativo e aos novos movimentos sociais que surge "a
defesa do consumidor, a defesa urbana, a contestação feminista e
ecologista. As associações são o seu instrumento organizacional específico"

Equacionando o problema nestes termos, ficamos perante o cruzamento e


a conciliação das duas problemáticas que temos procurado tratar ao longo
deste capítulo: os movimentos sociais - com especial incidência nos novos
movimentos sociais - e o associativismo - particularmente as formas de
associativismo mais recentes. Tal como conclui D. Mehl:

"o movimento associativo representa também o recipiente no qual


são formados, identificados, desdobrados dos contra-sistemas
ideológicos, portadores de novos movimentos sociais, pondo em
causa, pelas suas ideias e os seus combates, os valores centrais, das

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nossas sociedades contemporâneas: valores da sociedade industrial
para o movimento ecológico, valores da sociedade patriarcal para o
movimento feminista.

FORMAS DE ORGANIZAÇÃO

Constituição de uma associação


*1a reunião para aprovação dos estatutos - Assembleia Geral Fundadora

Estatutos:
Elementos obrigatórios: a denominação, o fim, a sede, os bens ou
serviços, a forma de funcionamento, a duração;
Elementos facultativos: direitos e obrigações dos associados; forma de
extinção da associação:
 Pedido de admissibilidade de denominação (Registo Nacional de
Pessoa Coletiva);
 Pedido de cartão provisório (pedido feito ao RNPC que atribui um
número nacional de pessoa coletiva);
 Escritura Pública da Associação em Cartório Notarial e publicação em
Diário da República;
 Assembleia-geral para eleição dos corpos gerentes: Assembleia-
geral (órgão deliberativo); Direção (órgão que coordena e gere a
atividade da Associação); Conselho Fiscal (órgão de fiscalização

Características da associação
*Formação – participação voluntária (condicionada pelo direito de
associação);

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*União de Pessoas Físicas – número mínimo de associados de acordo com
os órgãos de gestão;
*Organização Formal – existência de órgãos de gestão; os modelos de
gestão são exteriorizados através dos estatutos;
*Personalidade jurídica – adquirida através de escritura pública e
publicação em Diário da República;
*Objetivo Comum – deve ser lícito, possível e determinado no tempo
*Fim Não Lucrativo – não tem em vista o lucro e sim o cumprimento do
objetivo;
*Propriedade – pode ser social ou coletiva: Social (quando é pertença da
Nação); Coletiva (quando é pertença do grupo de associados).

Princípios:
 Solidariedade humana;
 Igualdade democrática;
 Auto – ajuda;
 Auto – controlo;
 Participação democrática;
 Gestão democrática;
 Valores;
 Liberdade;
 Democracia

Funções das Associações


 Promover a intervenção individual e ou em grupo de forma livre e
democrática (via para exercer e alcançar a cidadania);
 Promoção do convívio e participação social (via para promover a
reestruturação das redes de sociabilidade das comunidades);
 Promover novas formas de sociabilidade de acordo com as
necessidades e anseios;

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 Promoção da ocupação dos tempos livres;
 Difusão da cultura e do desporto;
 Preservação da identidade raízes e tradições (locais, regionais ou
nacionais).

LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

Legislação sobre Associações


NO DIREITO INTERNACIONAL

A) Declaração Universal dos Direitos do Homem


Aprovada em 10 de Dezembro de 1948.
Artigo 20.°
«1.° Toda a pessoa têm o direito à liberdade de reunião ou de associação
pacífica. 2.° Ninguém pode ser obrigado a fazer parte duma associação».

B) Convenção Europeia dos Direitos do Homem.


Aprovada para ratificação, pela Lei n." 65/78, de 13 de Outubro
Artigo 11°
«1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião pacífica e à liberdade
de associação, incluindo direito de, com outrem fundar e filiar-se em
sindicatos para a defesa dos seus interesses.
2. O exercício destes direitos não pode ser objecto de outras restrições,
senão das que, previstas pela lei, constituírem disposições necessárias,
numa sociedade democrática, à segurança nacional, à segurança pública,
à defesa da ordem e à prevenção do crime, à protecção de saúde ou da
moral ou protecção dos direitos e liberdade de outrem. O presente artigo
não proíbe que sejam impostas restrições legítimas ao exercício destes

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direitos pelos membros das forças armadas, da polícia ou da
administração do Estado».

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA


Aprovada em 2 de Abril de 1976, na redacção que lhe foi dada pelas Leis
Constitucionais n.º 1/82, de 30 de Setembro, n." 1/89, de 8 de Julho. N°
1/92, de 25 de Novembro e n.º 1/97, de 20 de Setembro

Artigo 46. ° - Liberdade de associação


1. Os cidadãos têm o direito de, livremente e sem dependência de
qualquer autorização constituir associações, desde que estas não se
destinem a promover a violência e os respectivos fins não sejam
contrários à lei penal.
2. As associações prosseguem livremente os seus fins sem interferência
das autoridades públicas e não podem ser dissolvidas pelo Estado ou
suspensas das suas actividades senão nos casos previstos na lei e
mediante decisão judicial.
3. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação nem
coagido por qualquer meio a permanecer nela.
4. Não são consentidas associações armadas nem do tipo militar,
militarizadas ou paramilitares, nem organizações que perfilhem a ideologia
fascista.

DIREITO À LIVRE ASSOCIAÇÃO - Dec-Lei Nº. 594/74 de 7 Novembro


O direito à livre associação constitui uma garantia básica de realização
pessoal dos indivíduos na vida em sociedade. O Estado de Direito,
respeitador da pessoa, não pode impor limites à livre constituição de
associações, senão os que forem directa e necessariamente exigidos pela
salvaguarda de interesses superiores e gerais da comunidade política. No
processo democrático em curso, há que suprimir a exigência de

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autorizações administrativas que condicionavam a livre constituição de
associações e o seu normal desenvolvimento.
O direito à constituição de associações passa a ser livre e a
personalidade jurídica adquire-se por mero acto de depósito dos
estatutos. Exige-se das associações que se subordinem ao princípio da
especificidade dos fins e ao respeito pelos valores normativos que são a
base e garantia da liberdade de lodos os cidadãos. Revogam-se, assim,
expressamente os Decretos-lei nºs. 39 660, de 20 de Maio de 1954, sobre
controlo administrativo das associações, e 520/71, de 24 de Novembro,
que sujeitou as cooperativas, em certos casos, ao regime das associações.
Nestes termos:
Usando da faculdade conferida pelo n.º 1, 3. °, Do Artigo 16. ° Da Lei
Constitucional n.º 3/74, de 14 de Maio, o Governo Provisório decreta e
promulgo, para valer como lei, o seguinte:
Artigo 1 — 1. A todos os cidadãos maiores de 18 anos, no gozo dos seus
direitos civis, é garantido o livre exercício do direito de se associarem
para fins não contrários à lei ou à moral pública, sem necessidade de
qualquer autorização prévia.
2. Leis especiais poderão autorizar o exercício do direito de associação a
cidadãos de idade inferior ao lim ite consignado no número anterior.
Artigo 2. — 1. Ninguém poderá ser obrigado ou coagido por qualquer
modo a fazer parte de uma associação, seja qual for a sua natureza.
2. Aquele que, mesmo que seja autoridade pública ou administrativa,
obrigue, ou exerça coacção para obrigar, alguém a inscrever-se numa
associação

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA


Aprovada em 2 de Abril de 1976, na redacção que lhe foi dada pelas Leis
Constitucionais n.º 1/82, de 30 de Setembro, n." 1/89, de 8 de Julho. N.º.
1/92, de 25 de Novembro e n.º 1/97, de 20 de Setembro

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Artigo 46. °
Liberdade de associação
1. Os cidadãos têm o direito de, livremente e sem dependência de
qualquer autorização constituir associações, desde que estas não se
destinem a promover a violência e os respectivos fins não sejam
contrários à lei penal.
2. As associações prosseguem livremente os seus fins sem interferência
das autoridades públicas e não podem ser dissolvidas pelo Estado ou
suspensas das suas actividades senão os casos previstos na lei e mediante
decisão judicial.
3. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação nem
coagido por qualquer meio permanecer nela.
4. Não são consentidas associações armadas nem do tipo militar,
militarizadas ou paramilitares, nem organizações que perfilhem a ideologia
fascista.

LEI DA LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO DE MENORES


Lei n° 124/99, de 30 de Agosto

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161,


° da Constituição, para valer como lei geral da República, o seguinte:

Artigo 1. °
Objecto
0 presente diploma regula o direito de associação de menores.

Artigo 2. °
Direito de associação
1 - Os menores com idade inferior a 14 anos têm o direito de aderir a
associações, desde que previamente autorizados, por escrito, por quem
detém o poder paternal.

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2 - Os menores com idade igual ou superior a 14 anos têm o direito de
aderir a associações ou constituir novas associações e a ser titulares dos
respectivos órgãos, sem necessidade de qualquer autorização.

Artigo 3. °
Associações
As associações objecto do presente diploma devem ter personalidade
jurídica, não podendo prosseguir fins contrários à Constituição, à lei ou ao
desenvolvimento físico e social do menor, nem fins de carácter lucrativo.

Artigo 4. °
Apoio do Instituto Português da Juventude
O Instituto Português da Juventude, através das suas delegações
regionais, prestará o apoio técnico necessário à constituição de
associações compostas maioritariamente por jovens.

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CONCLUSÃO

Ao longo desta UFCD foram abordadas diversas temáticas relacionadas


com o associativismo, sobretudo o associativismo em Portugal. De acordo
com toda a temática abordada podemos concluir que o associativismo é
particularmente favorável ao exercício da democracia, constituindo por
isso um importante fator de construção da nova cidadania e definição da
identidade local, e para a integração social e expressão cultural no
exterior do sistema economicista dominante. É essencial reconhecer a
especificidade e a importância do associativismo, especialmente sob a sua
forma cultural e recreativa, na medida em que o seu funcionamento
assenta numa lógica que não pertence nem ao domínio mercantil, nem
aos objetivos centrais da estratégia que o movimento associativo deve
elaborar.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Carvalho A. Melo de (2002), Associativismo, inovação social e
desenvolvimento, Algés, Confederação do Desporto de Portugal.

Cruz, Manuel Braga da (1995), Instituições Políticas e Processos Sociais,


Lisboa, Bertrand Editora. Fernandes, António Teixeira (2004),
“Democracia, Descentralização e Cidadania”, in Democracia, Novos
Desafios e Novos Horizontes, Oeiras, Celta Editores.

http://isociologia.up.pt/sites/default/files/working-papers/
working29_101019094709.pdf consultado a 10 de outubro de 2019

https://www.google.pt/search?ei=4W6sXe7vBc-
bjLsP1t2hmAE&q=associativismo+papel+e+fun
%C3%A7%C3%A3o+sociocultural&oq=associativismo+papel+e+fun
%C3%A7%C3%A3o+sociocul&gs_l=psy-
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10 de outubro de 2019

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