Relato de caso

Ciúme mórbido como uma variante do transtorno obsessivo-compulsivo

Gordon Parker, Elaine Barrett
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Objetivo: Apresentar uma vinheta de caso representativa e revisar vários relatos anteriores
e, em seguida, sugerir que uma porcentagem daqueles com ciúme mórbido pode ter uma
variante do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Quadro clínico: Um paciente apresentou voluntariamente um diagnóstico de depressão e
ansiedade após estresses conjugais e profissionais recentes, antes de descrever ciúmes
recentes e assédio de sua esposa por causa de um relacionamento anterior. Padrões de
pensamento obsessivo e comportamentos compulsivos são descritos, e propõe-se que a
imagem apoie um diagnóstico de transtorno obsessivo-compulsivo.
Tratamento e resultado: O paciente foi tratado como se tivesse um transtorno
obsessivo-compulsivo e relatou dissipação de suas preocupações após intervenção
cognitivo-comportamental.
Conclusões: A proposição é importante, pois o diagnóstico de ciúme mórbido muitas vezes
convida ao pessimismo terapêutico e os tratamentos eficazes para o TOC (tanto
medicamentoso quanto comportamental) podem ser úteis.
Palavras-chave: ciúme, ciúme mórbido, transtorno obsessivo-compulsivo.

Sugerimos que indivíduos que assediam seus queixa de "depressão" de 4 semanas,

parceiros com ciúmes podem ter uma variante
do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Fornecemos uma vinheta clínica e distinto e perda de peso. Ele ofereceu duas
argumentamos nossa proposição por
referência tanto a questões fenomenológicas
quanto à resposta ao tratamento. Como
'ciúme' é uma rubrica heterogênea,
abrangendo dimensões de intensidade,
racionalidade e persistência, bem como um
número de categorias bastante variadas (por
exemplo, ciúme 'normal', ciúme patológico,
ciúme mórbido), qualquer uma dessas,
expressão frustrada de TOC pode ser
relevante apenas para uma minoria de
instâncias de ciúme patológico. No entanto,
como agora existem vários tratamentos
eficazes (comportamentais e farmacológicos)
para o TOC, a possibilidade pode permitir
intervenções terapêuticas mais direcionadas
para alguns pacientes.
Estudo de caso
Um homem de 54 anos, gerente de uma loja
de antiguidades, apresentou-se com uma
descrevendo um humor deprimido, distúrbios
intermitentes do sono, bem como apetite
causas, uma eleição do conselho com as
políticas de um partido sendo uma ameaça
para seus negócios e recente disfunção
conjugal.
As dificuldades conjugais seguiram-se ao seu
desejo declarado de fazer contato com uma
ex-namorada, com quem não mantinha
contato há 30 anos. Sua esposa concordou
agradavelmente, porém, uma semana depois,
perguntou se poderia fazer contato com seu
antigo namorado. O paciente desenvolveu
progressivamente um conjunto de sintomas de
ansiedade, incluindo ataques de pânico e
experiências de despersonalização. Ele
começou a assediar sua esposa, inicialmente
sobre sua motivação para restabelecer o
contato e, posteriormente, perseguindo todos
os detalhes de seu relacionamento original
com o homem, questionando-a e arengando-a
por horas. Ele aceitou o encaminhamento
quando sua esposa afirmou que seu
comportamento ameaçava seu casamento
feliz de 20 anos e que, se persistisse, ela o
deixaria.
A história de fundo estabeleceu exposição
precoce a uma série de perdas importantes,
incluindo abandono precoce por ambos os
pais. Apesar de uma educação limitada, ele
alcançou cargos de alta gerência, devido ao
seu relacionamento interpessoal astuto e à
sua disposição para trabalhar com
assiduidade e meticulosidade. Embora tivesse
tido várias namoradas, ele escolheu sua
esposa porque ela o aceitou 'ele'
incondicionalmente. Essa aceitação foi
importante, pois ele julgou que outras
mulheres queriam que ele assumisse um
papel masculino tradicional mais
estereotipado. Embora ciente do namorado de
sua esposa, ele não havia pedido
anteriormente detalhes de nenhum
relacionamento físico e não poderia oferecer
nenhuma explicação sobre o motivo de não
ter explorado o assunto.
A análise da personalidade sugeriu um
homem com uma personalidade obsessiva
distinta: sempre pontual nos compromissos,
preocupado com a ordem e a eficiência,
extremamente bem organizado, um verificador
meticuloso de questões menores e maiores,
perfeccionista, focado na produtividade,
escrupuloso quanto à moralidade e ética e
distintamente consciencioso . A revisão dos
sintomas indicou ansiedade leve de longa
data. Inicialmente foi feito o diagnóstico de
estado de ansiedade com depressão
secundária, sendo prescrito alprazolam por
um breve intervalo para reduzir a ansiedade.
Na terceira consulta, foi considerada a
possibilidade de TOC.
Fenomenologia e formulação
Se TOC era o transtorno, qual era a
obsessão? O sujeito estava preocupado com
a fidelidade e honestidade de sua esposa.
Durante grande parte do dia ele teve
pensamentos intrusivos e indesejados que se
tornaram cada vez mais incapazes de resistir,
inicialmente baseados nas nuances do
relacionamento sexual de sua esposa com o
namorado anterior.
Duas características (sendo os pensamentos
indesejados e, pelo menos inicialmente,
resistidos) indicam que seu pensamento era
mais do que uma preocupação. Mais tarde,
ele ficou preocupado com a fidelidade de sua
esposa a ele, uma preocupação sem qualquer
base além dela, e talvez maliciosamente,
desejo declarado de restabelecer contato com
seu antigo namorado se seu marido entrasse
em contato com sua namorada anterior. Ele se
sentia mentalmente torturado pelos
pensamentos persistentes, embora o trabalho
geralmente aliviasse o sofrimento acentuado.
Qual era a compulsão? O sujeito descreveu a
necessidade de arejar sua esposa hora após
hora. Suas respostas, dando-lhe uma
"imagem mais completa", aliviariam
temporariamente sua ansiedade, no entanto,
levaram a uma série de perguntas de
acompanhamento. Ele mal podia esperar que
seu trabalho terminasse para pressioná-la por
respostas, pois sua agitação mental seria
temporariamente aliviada. Embora sua esposa
pudesse confortá-lo nessas ocasiões, sua
raiva geralmente crescente aumentou sua
insegurança e levou a um assédio ainda
maior. Embora reconhecendo que poderia
“perder” sua esposa, ele foi incapaz de conter
sua arenga, a compulsão postulada. Qualquer
formulação deve admitir a possibilidade de
uma contribuição genética para a ansiedade e
permitir que seus altos níveis de ansiedade de
traço sejam contribuídos por estressores
precoces (por exemplo, abandono dos pais),
com todos esses fatores construindo uma
sensação de insegurança. Seu traço de
ansiedade tinha sido "preso" por um estilo de
personalidade obsessivo e um sistema de
defesa que não permitia ou minimizava
potenciais estressores de "insegurança".
Assim, embora ele acreditasse fortemente que
as mulheres deveriam permanecer virgens até
o casamento, ele se apaixonou por uma
mulher que o aceitou incondicionalmente e ele
tentou retribuir. Embora ciente, então, de seu
namorado anterior, ele nunca perguntou sobre
esse relacionamento, presumivelmente não
querendo ser informado de quaisquer detalhes
que ameaçassem sua auto-imagem
relativamente segura ou sua imagem de uma
esposa virginal, negando assim o ciúme. Uma
bolha protetora de negação foi estourada pelo
pedido recente de sua esposa, permitindo que
uma fonte subliminar de ansiedade e
insegurança de longa data surgisse,
inicialmente disfarçada de insegurança sobre
os resultados de uma eleição do conselho.
Gerenciamento
Após a segunda consulta, e sem solicitação,
ele iniciou uma escala de autoavaliação com
seus próprios pontos de ancoragem
construídos (0 = normal; 5 = abaixo do normal;
10 = limítrofe; 20 = palpitações perpétuas; 30
= alta ansiedade; 40 = obsessão ; 50 =
depressão, confusão, obsessão; e 60 =
depressão grave, suicida), e na quinzena
seguinte fez avaliações em uma faixa de 5-35.
Na terceira semana, sua esposa forneceu
novas revelações sobre seu relacionamento
anterior, com auto avaliações subsequentes
naquela semana variando de 50 (quando sua
esposa forneceu informações sobre o
relacionamento anterior) a 5 (quando sua
esposa o confortou). A possibilidade de uma
apresentação forme fruste de TOC levou a
uma tentativa de clomipramina começando na
quarta semana. As autoavaliações
(inicialmente com média de 30) variaram de 5
a 10 após 6 dias.
Naquela época, ele afirmou que se sentia
menos ansioso, que sua tricotilomania (não
relatada anteriormente) havia diminuído e que
seu ciúme (sentimento subjetivo e ações
comportamentais associadas) havia diminuído
consideravelmente. No entanto, como o ciúme
(e a necessidade associada de assediar sua
esposa) ainda era um tanto perturbador, ele
foi encaminhado a um psicólogo clínico para
um programa especializado de terapia de
exposição, prevenção de resposta e
reestruturação cognitiva.
Naquela avaliação inicial, ele relatou estar
ciente de que fazer uma pergunta levaria a
várias outras perguntas na tentativa de obter a
segurança que buscava. Ele também estava
ciente de que qualquer garantia, uma vez
obtida, era efêmera e gerava a necessidade
de maiores esclarecimentos. O tratamento,
portanto, concentrou-se em expô-lo
gradativamente a situações que resultariam
em ele experimentar o desejo de questionar
sua esposa. Instruções específicas foram
dadas para ajudá-lo a abster-se de questionar.
Quando exposto a cada situação, ele foi
encorajado a resistir ao impulso de questionar
e permitir que a excitação associada se
dissipasse. Sua esposa foi instruída a
abster-se gradualmente de dar as respostas
tranquilizadoras que suas perguntas
pretendiam suscitar. Comportamentos de
evitação (por exemplo, não olhar para fotos de
sua esposa de anos anteriores) também foram
visados. A reestruturação cognitiva, com
referência particular à reavaliação do
significado que ele atribuiu ao fato de sua
esposa querer entrar em contato com o
ex-namorado, foi parte integrante do
tratamento. Ele prontamente adotou os
princípios do programa de exposição e
implementou as intervenções cognitivas a seu
favor. Após 4 semanas, ele relatou que as
preocupações originais não eram mais
relevantes.
Discussão
Há um problema imediato na definição de
ciúme mórbido, com Tarrier et al. observando
que, "como o elefante ou a pornografia, o
ciúme mórbido é mais fácil de reconhecer do
que definir", enquanto Mullen também
observou problemas associados a qualquer
tentativa de distinguir o ciúme "patológico" do
normal. Além disso, Mooney observou que,
como o ciúme é amplamente definido na
sociedade ocidental, qualquer definição de
“ciúme patológico” que invoque um
componente dimensional de “excesso” é,
portanto, difícil de definir.
Definições foram colocadas, no entanto, com
Tarrier et al. sugerindo que seria esperado que
o "ciúme normal" fosse baseado na realidade,
específico para o parceiro, transitório e com o
comportamento do parceiro sendo percebido
como problemático. Em contraste, eles
definiram "ciúme mórbido" como tendo um
"conceito central de uma crença ou suspeita
de infidelidade do parceiro, que tem
pensamentos, sentimentos ou comportamento
consequentes". Há, então, nesses casos, uma
preocupação infundada com a infidelidade do
parceiro, com os pensamentos do indivíduo
irracionais, infundados e ocorrendo fora de
contexto, e com os pensamentos ciumentos
sendo percebidos como excedendo os níveis
normais de possessividade mantidos pelos
membros da sociedade . Mooney definiu o
ciúme patológico com base em sua
irracionalidade, e não em seu excesso.
Além disso, ele sustentou que havia duas
expressões principais, ciúme delirante e um
"ciúme obsessivo" não delirante1, com o
último indicando uma forma irracional e
preocupante de ciúme, em vez de TOC formal.
Em contraste, Docherty e Ellis dividiram o
ciúme patológico em três subgrupos:
excessivo, ego disfuncional e estudos de caso de 81 pacientes atendidos no
obsessivo-delirante; com os membros do
último subgrupo engajados em “um assédio
quase constante ao cônjuge, que assume a
forma de observação meticulosa”, juntamente
com um ciclo alternado de raiva e remorso.
Apesar das dificuldades em estabelecer sua
definição e status, passamos a examinar
nossa proposição.
Nosso postulado não é original. Cobb e Marks
observaram quatro relatórios em que os
autores sugeriram que “a neurose obsessiva
compulsiva pode se manifestar como ciúme
mórbido”. Ao examinar tal possibilidade, eles
estabeleceram vários critérios para seu estudo
de caso, exigindo essencialmente: que os
pensamentos e comportamentos satisfaçam
os critérios para obsessões e compulsões;
que pensamentos mórbidos de ciúmes e/ou
rituais estejam presentes há pelo menos 1
ano; e que não haja evidência de psicose,
alcoolismo ou doença física. Todos os quatro
de seus pacientes tinham “problemas
obsessivo-compulsivos de longa data”. O
terceiro caso, embora tivesse uma história
anterior de realização de rituais mágicos
juntamente com pensamentos obsessivos
sobre a morte, apresentava características
semelhantes às de nosso paciente. Assim, ele
estava preocupado com uma "terrível
desconfiança" de sua esposa "que o
preocupou a maior parte do dia", sendo capaz
apenas de "obter alívio da ansiedade que
acompanhava esses pensamentos ao
interrogar sua esposa". O tratamento
comportamental de amplo espectro, adaptado
de técnicas comportamentais usadas para
tratar o TOC, levou a uma clara melhora nos
rituais e no humor em três de seus quatro
casos (embora os autores tenham notado que
os pensamentos ciumentos se mostraram
resistentes ao tratamento), permitindo aos
autores concluir que 'formas
obsessivo-compulsivas incomuns de ciúme
mórbido podem ser tratáveis'.
Shepherd, que sugeriu que entre os extremos
de um estado delirante floreado e uma
prontidão mórbida para reagir de forma
ciumenta, “deve ser inserido um universo de
variantes clínicas”, relatou uma série de
Maudsley Hospital. Ele observou que, dentro
dessa amostra, "a natureza insistente de
ideias reconhecidamente irracionais assumiu
um caráter compulsivo" em quatro, com um
deles tendo "características francamente
obsessivas" dominando o quadro clínico.
Outras visões indiretas apoiam a proposição.
Hoaken sugeriu que o ciúme mórbido poderia
ser subclassificado e incluía, por exemplo, um
grupo de “suspeita obsessiva”. Ele escreveu:
'Suspeitas obsessivas, como outras
obsessões, são pensamentos indesejados,
repetidamente intrusivos', no entanto, ele
passou a afirmar: 'Pensamentos ciumentos
obsessivos são diferentes de suspeitas
ciumentas, pois são facilmente reconhecidos
pelo paciente como ego distônico '.
Com base nas semelhanças fenomenológicas
observadas entre o transtorno
obsessivo-compulsivo clássico e o ciúme
patológico, vários relatos de casos
descreveram os bloqueadores da recaptação
da serotonina (úteis no tratamento do TOC)
como bem-sucedidos no tratamento do ciúme
patológico. No relatório de Gross, uma mulher
de 34 anos tinha suspeitas de longa data
sobre a infidelidade de seu marido e “o
perseguiu com perguntas sobre seu paradeiro
e insistiu que ele contasse cada minuto”. Após
4 semanas de fluoxetina 20 mg/dia, ela relatou
remissão (que foi mantida em uma revisão de
6 meses). No relato de Stein et al., o primeiro
caso é, novamente, semelhante ao nosso
paciente, sendo um homem casado que se
apresentava com preocupações de longa data
sobre a possível infidelidade de sua esposa, o
que o levou a 'questionamento compulsivo,
meticuloso e detalhado de sua esposa sobre
suas atividades diárias'.
Quatro de seus seis pacientes tratados
responderam à medicação; essa taxa de
resposta foi considerada pelos autores tão
robusta quanto a observada em pacientes
com apresentações clássicas de TOC.
A depressão é comum no ciúme patológico,
com Mooney estimando que cerca de 60%
apresentarão características de depressão.
Diante dessa realidade, ainda é possível que
a melhora seja função da ação antidepressiva
da medicação.
Embora não possamos excluir tal
possibilidade, outros estudos sugerem que o
transtorno de humor comórbido é raro. As
considerações fenomenológicas auxiliam na
avaliação do postulado? Tarrier e outros.
sustentava que os pensamentos mórbidos
(patológicos) de ciúme 'compartilham uma
série de características com pensamentos
obsessivos', sendo 'intrusivos, freqüentemente
indesejados, acessíveis, desagradáveis e às
vezes identificados como irracionais', e
também 'frequentemente acompanhados por
ações comportamentais como verificar ou
procurar de tranquilidade'. Stein e outros.
observaram várias semelhanças
fenomenológicas, incluindo a presença de
pensamentos e/ou imagens repetitivas que
são experimentadas com intensidade variável
como intrusivas, excessivas e perturbadoras,
sendo que a presença desses pensamentos e
imagens conduzem a comportamentos de
verificação estereotipados excessivos.
Rachman sugeriu que as ruminações
obsessivas muitas vezes "têm uma qualidade
fantástica e se relacionam com impulsos ou
medos de que a pessoa possa realizar algum
ato agressivo e/ou repugnante" e, sendo
estranhos aos valores ou sistema moral da
pessoa, sempre resultam em sentimentos de
culpa. . Para as preocupações mórbidas, em
contraste, ele sustentava que o "conteúdo do
pensamento é geralmente mundano e
geralmente centrado em problemas ou
experiências realistas que dão origem à
infelicidade", e que as preocupações são
consistentes com o estilo de vida da pessoa e
são, portanto, racionais e raramente resistiu.
Em resumo, segundo Rachman, há
semelhanças e diferenças.
As principais semelhanças são pensamentos
intrusivos e repetitivos e distúrbios de
concentração e humor. As diferenças incluem
ruminações obsessivas sendo distônicas do
ego, irracionais, resistidas e associadas à
culpa, enquanto as preocupações mórbidas
são sintônicas, racionais, raramente
resistidas, às vezes associadas à culpa e
raramente expressas com conteúdo irreal.
Nenhuma das diferenças identificadas deve
necessariamente ser considerada como
absoluta. Por exemplo, vamos considerar
qualquer necessidade de ruminações
obsessivas como distônica do ego. Em um
ensaio centrado no 'ciúme normal', Mullen
descreveu como homens ciumentos 'não
raramente descrevem imagens mentais
vívidas de suas parceiras sendo estupradas
ou humilhadas sexualmente nas mãos de seu
suposto rival...', e que as 'imagens de
infidelidade são geralmente doloroso e
angustiante para os ciumentos'. Esse ego
fantasioso é estranho ou distônico? Como o
ciúme requer um contexto interpessoal,
enquanto o domínio da maioria das obsessões
padrão do TOC é intrapessoal, então qualquer
ponto de distinção deve ser baseado na
questão da distonia do ego versus sintonia?
Talvez a base deva ser “outra distonia”. Van
Sommers citou Margaret Mead: 'Aquele que é
zeloso estuda o rosto de sua amante para
aprender o prazer dela... todo o seu
comportamento é positivo... triunfo do rival'.
Assim, o ciúme pode atender ao requisito de
uma base obsessiva ao ver constantemente o
outro de forma distônica (ou seja, inaceitável
para o indivíduo e não conforme à imagem
desejada do outro).
Os comportamentos compulsivos do indivíduo
com ciúme mórbido geralmente correspondem
de perto às descrições das compulsões do
TOC. Enquanto, novamente, focando no
'ciúme normal', Mullen observou que a
verificação é 'um comportamento quase
universal entre os ciumentos, verificando se o
amante está onde eles dizem que estão e com
quem eles dizem, verificando novamente,
verificando (com frequência) inquisitorial
interrogatório do amante'. No nível
fenomenológico, há muita diferença entre a
ação assediadora de um indivíduo com ciúme
mórbido em relação ao indivíduo que tem um
ritual que envolve lavar o braço esquerdo 33
vezes e o braço direito 24 vezes? Cada um se
envolve no comportamento e depois o repete
por medo de que a contagem da conta esteja
incorreta. Assim, o ciumento pode assediar de
acordo com uma lista pré-determinada de
minúcias e, depois de uma trégua temporária,
assediar novamente, com a necessidade
insaciável de informações impossíveis de
serem amenizadas. Como observou Mullen, a
“busca por segurança. . . é inesgotável.
Tais atividades nunca podem produzir o
resultado desejado, pois qualquer garantia é
inevitavelmente questionada, e as demandas
repetitivas e invariáveis por mais garantias
continuam sem trégua. Agora, vamos
examinar a definição de "compulsões" no
TOC. Em uma definição, as compulsões são
definidas como comportamentos repetitivos
“que são executados de maneira
estereotipada para neutralizar ou prevenir
algum acontecimento temido, mas muito
improvável”.
Além disso, em relação à verificação (“feita
para evitar algum desastre futuro”), “a dúvida
se a verificação foi feita corretamente resulta
na necessidade de recomeçar a verificação”.
O indivíduo percebe que o comportamento é
“excessivo e irracional, mas sente-se
impulsionado por uma pressão para agir que é
sentida como vindo de dentro”. Da mesma
forma que muitas “compulsões” do TOC
convidam à suspeita inicial de um delírio, o
assédio associado ao ciúme patológico pode
invocar uma possibilidade delirante. Van
Sommers observou que é "a observação, o
seguimento, os interrogatórios contínuos, as
cenas públicas repetitivas e forjadas e a
impressão de que as coisas estão fora de
controle... junto com a implausibilidade das
pistas que as pessoas atendem". . . que
aponta para estados delirantes', e sugeriu que
muitas vezes há apenas uma distinção difusa
entre um delírio e uma obsessão.
Onde fica essa posição que o paciente
considerou em nosso relato de caso?
Pensamentos repetitivos e intrusivos, sim.
Pensamentos inaceitáveis, desagradáveis e
vergonhosos, provavelmente. Pensamentos
abomináveis, provavelmente não. Enquanto
as ruminações obsessivas freqüentemente
compreendem pensamentos de prejudicar os
outros, 'idéias sexuais desagradáveis' também
são comuns, embora geralmente envolvam o
indivíduo, enquanto no presente estudo de
caso nosso paciente estava preocupado com
as atividades que sua esposa poderia ter
realmente envolvido. o indivíduo a 'se envolver
em um comportamento de evitação', como
esconder objetos pontiagudos se a obsessão
for prejudicar outra pessoa. Aqui, nosso
paciente se envolveu em assédio repetitivo e
interrogatório de sua esposa (nossa
compulsão postulada) e comportamento de
evitação, como não olhar para as primeiras
fotos de sua esposa. Talvez, também, a falha
de nosso paciente em questionar sua esposa
sobre o namorado dela possa ser vista como
outro exemplo (ou seja, comportamento
destinado a evitar uma situação que pode ter
desencadeado sua obsessão).
Tanto as compulsões quanto o
comportamento de evitação funcionaram para
impedir que o indivíduo confrontasse (se
expusesse a) a situação temida e, assim,
evitasse a reavaliação.
Conclusões
Em primeiro lugar, uma questão geral: Van
Sommers observou que a maioria dos
escritores tradicionais sobre o ciúme adotou a
tradição do “essencialismo”, com cada um
tentando “desenvolver uma ideia única,
poderosa e sistemática sobre o ciúme”. Ao
propor que algumas expressões de ciúme
patológico podem ser uma expressão ou
variante do TOC, não queremos arriscar essa
acusação.
Nós nos concentramos em semelhanças
fenomenológicas em vez de respostas ao
tratamento, pois, embora o último possa ser
visto como suporte a tal argumento, eles não
o sustentam quando o sucesso de tais
intervenções comportamentais e compulsivo (com o indivíduo descrevendo
medicamentosas não é específico para o
TOC. Embora vejamos claramente o ciúme
patológico como um rótulo que engloba
subgrupos heterogêneos e uma miríade de
expressões, sugerimos que, no entanto,
dentro desse grupo, pode haver uma
porcentagem de indivíduos com TOC ou uma
variante do TOC.
Tal possibilidade permite a aplicação de
abordagens terapêuticas que se
estabeleceram como efetivas para o TOC nos
últimos tempos. Como o ciúme mórbido é
reconhecido como uma condição
notoriamente difícil de tratar, a promessa de
abordagens mais direcionadas ao tratamento
em alguns pacientes não é insignificante.
Nossa proposição pode ser argumentada
fenomenologicamente, e fizemos tal tentativa
no presente relatório, no entanto, pode ser
imprudente exigir que um caso de ciúme
patológico atenda a requisitos
fenomenológicos estritos para o TOC antes de
aceitar o postulado. Em particular, sugerimos
que em casos de ciúme patológico não
delirante, onde o assédio verbal parece
uma necessidade premente de assediar
seguida de alívio temporário e, em seguida,
seguido por uma necessidade motivada pela
ansiedade de retornar aos interrogatórios
repetitivos ), então o tratamento respeitando a
possibilidade de uma forma frustrada de
apresentação do TOC pode aumentar nosso
nível atual de eficácia clínica. Embora o
presente artigo se concentre no ciúme
patológico, sugerimos que, como o assédio
baseado na ansiedade pode ocorrer em uma
variedade de situações, formas semelhantes
de apresentações frustradas de TOC podem
se beneficiar do reconhecimento.