Ciúme Mórbido: Uma Revisão e Formulação Cognitivo-Comportamental
NICHOLAS TARRIER, RICHARD BECKETT, SUSAN HARWOOD and NAGY
BISHAY
O ciúme é uma emoção comum que pode
ser considerada patológica em algumas
circunstâncias. O termo “ciúme mórbido”
tem sido usado para significar essa
condição anormal ou extrema. No
entanto, a literatura sobre ciúme mórbido
é escassa e os dados empíricos
fragmentados. Os objetivos deste artigo
são revisar brevemente o conceito, definir
as dimensões do transtorno e aplicar uma
estrutura cognitivo-comportamental a ele.
Tal resumo é oportuno, pois reúne os
diferentes aspectos do problema e
fornece uma base teórica para gerar mais
pesquisas.
Conceituação de ciúme mórbido
A abordagem psiquiátrica
Essencialmente, o ciúme mórbido tem
sido visto como um sintoma ou sinal de
outras condições ou doenças
psiquiátricas, e não como uma entidade
nosológica em si. Foi classificado como
ocorrendo em associação com três tipos
de condições (Shepherd, 1961): distúrbios
cerebrais tóxicos ou orgânicos (incluindo
alcoolismo, dependência de outras
substâncias além do álcool, distúrbios
psiquiátricos no senio e outros distúrbios
cerebrais); psicoses funcionais (incluindo
esquizofrenia e estados paranóides e
psicoses afetivas); e distúrbios neuróticos
e de personalidade. A associação entre
ciúme mórbido e alcoolismo tem uma
longa história (ver Shepherd, 1961;
Madder, 1979, Shrestha et a!, 1985). No
entanto, conclui-se geralmente que,
embora o abuso de álcool frequentemente
precipite o ciúme e a violência, raramente
é a causa primária (Landfeldt, 1961;
Shepherd, 1961). Shepherd (1961)
também citou o ciúme mórbido como
ocorrendo no abuso de anfetaminas e
cocaína e, ocasionalmente, tem sido
associado a vários distúrbios, geralmente
neurológicos, da velhice. O ciúme
delirante é um dos critérios do DSM-III
para transtorno paranóide (American
Psychiatric Association, 1980) e, embora
muitos sistemas de diagnóstico, como o
DSM-III, façam uma classificação
separada da psicose paranóide, os
pacientes que sofrem delírios paranóides
seriam frequentemente incluídos no
grupo. categoria de esquizofrenia. Delírios
sobre a infidelidade do parceiro não são
incomuns em pacientes que sofrem de
esquizofrenia (Abely & Feuillet, 1941). O
fato de a medicina psiquiátrica tender a se
concentrar no ciúme mórbido como um
sintoma das psicoses se reflete nas
abordagens de tratamento (Mooney, 1965;
Pollock, 1982; Munro, 1984).
A abordagem comportamental
Parece haver pouco na literatura
comportamental sobre o ciúme mórbido.
Cobb & Marks (1979) comparam o ciúme
mórbido à neurose obsessivo-compulsiva,
em que alguns pacientes com esse
transtorno apresentam pensamentos
ciumentos como ruminações e verificam
evidências de infidelidade como rituais
compulsivos.
A abordagem sociobiológica
Daly et al (1982) propuseram que em
espécies que evoluíram com fertilização
interna, os machos não podem identificar
com segurança seus descendentes. Por
causa disso, as espécies que
desenvolveram investimento paterno se
defenderão contra gastar esse
investimento em filhotes não aparentados.
Assim, o ciúme sexual masculino faz parte
de um complexo
comportamental-motivacional, incluindo
também o uso ou ameaça de violência
que evoluiu para alcançar a exclusividade
sexual e controlar a função sexual para
defender a confiança na paternidade. Aqui
Daly e seus colegas estão discutindo o
ciúme masculino em geral. No entanto,
eles citam a distribuição sexual do ciúme
mórbido como evidência de que o ciúme
sexual é um “aspecto onipresente da
psicologia masculina”.
Problemas de definição
O estudo do ciúme tem o problema de
tentar uma explicação científica de um
termo derivado da linguagem cotidiana.
Isso resulta em uma “indefinição”
conceitual. Isso é especialmente
verdadeiro para o ciúme mórbido ou
patológico, sobre o qual parece haver
uma suposição implícita de muitos autores
de que o que é razoável e o que é ciúme
irracional será tacitamente entendido. Os
parâmetros definidores do ciúme mórbido
não foram claramente estabelecidos.
Como o elefante ou a pornografia, o
ciúme mórbido é mais fácil de reconhecer
do que definir. A classificação de Cobb
(1979) é útil, pois divide o ciúme normal
do mórbido e depois subdivide o último
em neurótico (não psicótico) e psicótico,
dando três categorias no total. “Psicótico”
refere-se a pensamentos ciumentos de
natureza delirante e a distinção entre ele
e o ciúme neurótico tem implicações para
o tratamento. Alguns autores (por
exemplo, Shrestha et al, 1985; Shepherd,
1961) usam o termo para incluir respostas
excessivas à infidelidade real, bem como
ciúmes em resposta à infidelidade
imaginada. No entanto, isso confunde o
ciúme em termos de suspeita onde a
infidelidade é imaginada e raiva onde ela
é real. Uma definição de ciúme mórbido
deve incluir um conceito central de crença
ou suspeita de infidelidade do parceiro,
que tem pensamentos, sentimentos ou
comportamentos consequentes. No
entanto, para permitir a distinção entre
ciúme normal e mórbido, o termo deveria
ser restrito para descrever uma
preocupação infundada com a infidelidade
do parceiro. Assim, a característica do
ciúme mórbido é que os pensamentos são
irracionais, infundados e ocorrem fora de
contexto. Ou seja, as suspeitas sobre a
fidelidade do parceiro não precisam ser
precipitadas ou mantidas por evidências
confiáveis. A pessoa que experimenta
esses pensamentos irracionais está
reagindo aos próprios pensamentos e não
à evidência (ou falta dela) que os apóia.
As reações aos pensamentos ciumentos e
os próprios pensamentos podem ser
generalizados em situações, tempo e
'rivais'. O ciúme mórbido perturbará o
funcionamento da pessoa que o
experimenta e frequentemente afetará
seu parceiro e, portanto, o
relacionamento. Os pensamentos
ciumentos e quaisquer sentimentos ou
comportamentos associados do sofredor
ou parceiro serão percebidos como
problemáticos, ou seja, excedendo os
níveis de possessividade considerados
como a norma para aquela sociedade ou
cultura. Por outro lado, espera-se que o
ciúme normal seja: baseado na realidade;
específico para parceiro, evento ou 'rival';
transitório, persistindo apenas enquanto o
comportamento ou infidelidade do
parceiro continuar; e o comportamento do
parceiro, e não o ciúme em si, seria
percebido como problemático. O ciúme
mórbido é, portanto, uma descrição não
sobre a extensão da resposta ciumenta,
mas sobre a racionalidade e objetividade
que precipita essa resposta.
A natureza do ciúme mórbido
O ciúme mórbido é um emocional
multidimensional complexo relativo à
suspeita infundada de rivais sexuais e
emocionais e um medo de perder o
parceiro e relacionamento, manifestados
como respostas nos domínios cognitivo,
afetivo e comportamental. Nesta seção,
descreveremos como o ciumento mórbido
individual provavelmente difere do normal
nesses domínios. Isso deve formar a base
de uma avaliação clínica.
Em pacientes que não sofrem de uma
doença psicótica presume-se que esse
complexo conjunto de respostas
emocionais é aprendido. Em pacientes
psicóticos a situação é menos clara; os
delírios são presumidos como parte da
doença psicótica, embora isso não exclua
um componente aprendido. Adotamos a
abordagem de que os eventos cognitivos
são o problema central e que
comportamento e sequelas afetivas são
as principais consequências, o efeito na
vida do paciente, relacionamento e
ambiente sendo as consequências
secundárias. Identificar eventos cognitivos
sem comportamentos claramente
definidos é problemático, mas uma
abordagem semelhante tem sido bem
sucedida com modelos cognitivos da
depressão e estimulou pesquisas
consideráveis e inovação no tratamento.
Preocupação
Pensamentos intrusivos e suspeitas sobre
a fidelidade do parceiro são claramente
centrais para o distúrbio. Isso também
incluiria pensamentos e imagens sobre
onde o parceiro estava, o que eles faziam
no passado e até mesmo o que eles
prefeririam estar fazendo. A frequência,
intensidade, duração e especificidade da
situação dos pensamentos e a
capacidade de descartá-los parecem
variar de indivíduo para indivíduo. Esses
pensamentos têm semelhanças com
pensamentos e ruminações obsessivas
(Cobb & Marks, 1979) e pensamentos que
ocorrem na depressão (Beck eta!, 1979)
na medida em que parecem ser gerados
espontaneamente e frequentemente não
são desafiados.
Comportamento confirmatório
Overt behaviors of seeking to confirm
these suspicious preoccupations are
common and are evident to others,
especially the partner. Constant
interrogation of the partner about their
whereabouts, actions or even thoughts
and intentions, accompanied by
accusations of infidelity and followed by
arguments, are usually present (Doherty &
Ellis, 1976). Sufferers will often embark on
ritualistic-like behavior to check on their
partner. Telephone calls to work, surprise
visits, surreptitious following of the partner,
searching of the partner's clothes and
possessions, reading of diaries and
interception of mail, examination of
underclothes and bed linen for evidence of
coitus are all common confirmatory
behaviors (Shepherd, 1961; Mooney,
1965, Seeman, 1979). Some patients
have been described by Shepherd (1961)
to “make strenuous efforts to corroborate
their suspicions”, such as hiring detectives
to follow their partners, hiding
microphones to detect secret liaisons,
making excessive sexual demands to
prove their partner is satiated or going to
extreme lengths to extract a “confession”
such as demanding their partner submit to
a lie-detection test or hypnosis (Shepherd,
1961; Mooney, 1965).
Evitação

Evitação comportamental de situações
que provocam ciúme frequentemente
aparecem nos relatos de pacientes e seus
parceiros. Pacientes do sexo feminino
relatam evitar revistas ou jornais que
contenham fotos de mulheres jovens e
atraentes. Da mesma forma, programas
de televisão, filmes e até menções a
outras mulheres ou nomes de mulheres
também são evitados. Ambos pacientes e
seus parceiros relatam evitar membros do
sexo do paciente, ou situações em que
esses rivais imaginários podem ser
encontrados. Hafner (1979) observou a
ocorrência de ciúme mórbido nos maridos
de mulheres agorafóbicas. A evitação
forte teoricamente manteria o ciúme
impedindo a habituação da excitação
associada ao ciúme.
Sofrimento pessoal
Embora a literatura contenha poucos
dados coletados sistematicamente, relatos
anedóticos são abundantes. Os pacientes
frequentemente descrevem sentir-se
deprimidos, ansiosos, irritáveis, agitados,
fóbicos e às vezes suicidas (Shepherd,
1961; Mooney, 1965; Seeman, 1979,
Cobb, 1979; Teisman, 1979, Im et a!,
1983; Bishay et al 1989). Mooney (1965)
descreveu o ciúme não psicótico como
mais propenso a estar associado a
cansaço, depressão e tendências suicidas
do que o ciúme psicótico.
Interrupção do funcionamento
Constantes ruminações ciumentas e suas
consequências primárias perturbarão o
funcionamento do paciente, competindo e
inibindo outros comportamentos contínuos
e direcionados a um objetivo. Seus efeitos
sobre o comportamento do paciente e/ou
do parceiro e a interrupção de seu
relacionamento emocional e sexual estão
bem documentados (por exemplo,
Shepherd, 1961; Seeman, 1979; Teisman,
1979; Coen, 1987; Doherty & Ellis, 1976;
Im et a! , 1983).
Violência
Argumentos e acusações podem
freqüentemente resultar em violência
verbal e física e, às vezes, em
assassinato (Doherty & Ellis, 1976). A
expressão comportamental do ciúme
atraiu a atenção de trabalhadores
forenses em dois campos relacionados,
abuso conjugal e homicídio. Há um
consenso entre os autores de que a
ocorrência real de violência é muito maior
do que a conhecida ou tratada (Stahly,
1978). As mulheres, que representam a
grande maioria das vítimas, raramente se
apresentam às clínicas com queixas
explícitas de abuso conjugal. Verificou-se
que, à medida que aumentam a
intensidade e a frequência dos episódios
violentos, ocorrem adaptações
inadequadas à situação. Parceiros de
homens ciumentos agressivos
desenvolvem uma série de sintomas,
incluindo sentimentos de desamparo,
isolamento, passividade extrema,
ansiedade, depressão e abuso de
medicamentos prescritos e álcool. Muitas
vezes, são as últimas queixas e lesões
físicas "acidentais" que levam as
mulheres às clínicas (Gayford, 1975;
Hilberman & Munson, 1978). O ciúme tem
surgido em estudos empíricos como um
fator importante na causa de conflitos
entre casais e na precipitação do cônjuge
abuso e violência (Hilberman & Munson,
1978; Rounsaville, 1978; Daly et a!,
1982).
As agressões ciumentas normalmente
ocorrem dentro de um clima geral de
exigências e ameaças verbais, confrontos
e discussões e restrições impostas às
atividades sociais e de trabalho dos
cônjuges. Isso produz 'terror antecipatório'
(Hilberman & Munson, 1978), ajuda a
moldar o comportamento de ambos os
parceiros e é responsável pelo
desenvolvimento de ansiedade e Baixa
transtornos depressivos que são
comumente relatados na literatura sobre
abuso conjugal.
Tal como acontece com o abuso do
cônjuge, o ciúme também emergiu como
um fator contribuinte significativo na causa
dos homicídios (por exemplo, West, 1968;
Wilt, 1974; Glues, 1976). Os estudos
acima se baseiam na análise de registros
policiais cujo objetivo principal é identificar
os eventos imediatamente anteriores ao
homicídio. No entanto, Chimbos (1978) e
Guttmacher (1955) sugerem que os
arquivos policiais subestimam seriamente
a prevalência do ciúme sexual como
motivo de homicídio.
Agressão a terceiros
Isso se refere a acusações, discussões e
violência contra um terceiro, que, na
ausência de qualquer evidência objetiva,
é percebido como sendo, na pior das
hipóteses, amante do parceiro e, na
melhor das hipóteses, um rival em
potencial. Parece haver poucos dados
coletados sistematicamente sobre essa
dimensão, mas os parceiros de indivíduos
com ciúme mórbido frequentemente citam
sua ocorrência.
Delírios
A literatura psiquiátrica tem dado maior
atenção aos delírios de ciúme, e alguns
autores equiparam o ciúme mórbido a um
estado delirante (por exemplo, Enoch &
Trethowan, 1979). É possível que o
paciente não delirante raramente entre
em contato com os serviços psiquiátricos,
o que poderia explicar a escassez de
interesse e dados.
Insegurança, falta de confiança e baixa
auto-estima
auto-estima, sentimentos de
insegurança e inferioridade, baixa
auto-imagem e baixa auto-afirmação são
características do paciente ciumento
mórbido que aparecem constantemente
na literatura (Shepherd, 1961; Seeman,
1979; Cobb, 1979). Durante a entrevista
clínica, os pacientes frequentemente
descrevem opiniões ruins sobre seu valor,
sentimentos de não serem atraentes e
baixa confiança no contexto de seus
relacionamentos emocionais e sexuais,
mesmo que os sentimentos opostos
sejam verdadeiros em outras áreas de
suas vidas.
Uma formulação
cognitivo-comportamental de ciúme
mórbido não psicótico
A revisão anterior do ciúme mórbido
sugere que qualquer formulação dos
fenômenos deve levar em conta uma
variedade de características presentes no
indivíduo não psicótico e ciumento
mórbido. Além do componente afetivo (por
exemplo, ciúme), um modelo deve
incorporar uma explicação de por que o
comportamento ciumento continua na
ausência de evidências objetivas. Além
disso, deve explicar por que a expressão
comportamental do ciúme varia entre os
indivíduos e dentro do mesmo indivíduo
ao longo do tempo, bem como por que,
em algumas circunstâncias, está
associado à culpa e à depressão e, em
outras, à raiva e à agressão.
Propõe-se que a característica central do
ciúme mórbido é a propensão do
indivíduo a fazer distorções e erros
sistemáticos na percepção e interpretação
de eventos e informações. Como tal,
eventos que têm o potencial de má
interpretação provocarão ciúme em
sujeitos cujas expectativas e avaliações
cognitivas produzem um viés para
interpretações particulares e errôneas.
O modelo de psicopatologia mais influente
para focar nos processos cognitivos foi
desenvolvido por Beck e seus
colaboradores, especialmente em relação
à depressão (Beck, 1967; 1976; Beck et
al, 1979). Nesse modelo, cognições
distorcidas ou pensamentos automáticos
são produzidos quando os esquemas
irrealistas de crenças e suposições
subjacentes de um indivíduo são ativados
por um evento importante.
Os pensamentos automáticos fazem parte
do 'fluxo de consciência' que tende a estar
na mente de um indivíduo
conhecimento. Eles são bastante
instáveis, eliciados por estímulos externos
ou internos e seu conteúdo é geralmente
associado a um afeto ou comportamento
particular (Beck, 1983). Assim, em
pacientes com ciúmes mórbidos, esses
pensamentos provavelmente estariam
associados à perda ou medo da perda do
parceiro para um rival ou perda do
relacionamento por infidelidade do
parceiro.
Os esquemas são mais estáveis (embora
ainda dependentes do estado),
subjacentes a crenças ou suposições de
natureza geral que dizem respeito ao
mundo e à relação do paciente com ele.
Essas suposições possivelmente são
formadas a partir de experiências
passadas e servem para direcionar a
atenção do paciente para eventos atuais.
Em pacientes ciumentos, o esquema
provavelmente está relacionado a personalidade mais estável que poderia
suposições gerais e errôneas sobre
relacionamentos e comportamento sexual
e emocional humano. De maneira
semelhante ao paciente deprimido, o
paciente ciumento comete erros de lógica
que envolvem distorções sistemáticas na
interpretação das informações. Por
exemplo, uma mulher que supõe que todo
homem terá um caso se tiver a
oportunidade, terá pensamentos
suspeitos sobre seu cônjuge.
Da mesma forma, se um homem supõe
que uma vez que uma mulher foi infiel em
um relacionamento, ela sempre será em
outros, isso resultará em pensamentos de
infidelidade sobre seu parceiro. O
paciente aceita esses pensamentos como
verdadeiros e frequentemente age de
acordo com eles.
A história de aprendizado anterior, fatores
culturais e sociais e outras influências,
como a personalidade, ajudam a formar o
esquema em relação aos relacionamentos
sexuais e emocionais. Um fator
precipitante saliente ativará suposições
particularmente relacionadas à
autoeficácia percebida dos sujeitos nas
relações sexuais e sua capacidade de
manter um relacionamento.
Pensamentos ciumentos sobre o
comportamento ou intenção de seu
parceiro ocorrerão em resposta a
estímulos externos ou internos (incluindo
outros pensamentos ou estados de
humor). Além disso, semelhante à
depressão em que o humor deprimido
aumenta a acessibilidade de cognições
negativas, uma visão negativa de si
mesmo aumenta a acessibilidade de tais
pensamentos.
Além de cognições e esquemas, Beck
(1983) levantou a hipótese de que cada
indivíduo tem uma estrutura de
funcionar como "um sistema central de
valores de esquemas superiores".
Isso sugere que os pacientes com ciúmes
mórbidos devem ter perfis de
personalidade diferentes dos normais
correspondentes. Tarrier et al (1989) O resultado na escala de neuroticismo é
descobriram que uma amostra de especialmente pertinente, pois Bagley &
mulheres que se identificaram como Evan-Wong (1975) encontraram uma
ciumentas mórbidas pontuaram correlação significativa entre o traço de
significativamente mais alto nas escalas neuroticismo de Eysenck e a 'avaliação
de introversão, neuroticismo e negativa de si mesmo'.
psicoticismo do Eysenck Personality
Questionnaire (Eysenck & Eysenck, 1975)
do que uma população normal de mesma
idade, mas não na pontuação da mentira.

A Fig. 1 apresenta uma representação A natureza do evento ativador varia entre

diagramática dos processos que os indivíduos e pode ser altamente
possivelmente estão por trás do ciúme idiossincrática.
mórbido.

Neste modelo proposto, o ciúme é

conceituado como uma resposta primária
a uma avaliação inicial de eventos
ambientais. Essas avaliações primárias
são baseadas em interpretações errôneas

de eventos e refletem esquemas

subjacentes, eles próprios formados por
experiências anteriores e afetados por
variáveis de personalidade.
A má interpretação dos eventos em curso
continua mesmo que o evento de ativação
original tenha passado.
A Fig. 2 ilustra o desenvolvimento de
ciúme mórbido em um paciente
encaminhado. Neste exemplo, o dos eventos em andamento. O evento
nascimento do primeiro filho do paciente
ativou um esquema que incluía crenças
sobre sua atratividade pessoal e a
estabilidade de seu relacionamento
conjugal. Ela assumiu que o último
dependia apenas de ela ser sexualmente
atraente para o marido dela. De maneira
semelhante aos pacientes deprimidos, as
suposições ativadas produzem distorções
sistemáticas na percepção e interpretação
estímulo de testemunhar seu parceiro
conversando com uma colega de trabalho
provoca a paciente a se avaliar como
menos atraente do que a colega. A
conversa é mal interpretada como
evidência de que o cônjuge sente atração
sexual por sua colega. Isso resulta em
pensamentos automáticos de suspeita
acompanhados de sentimentos de ciúme 1). Tais respostas podem variar de
e início de comportamento confirmatório. comportamento de evitação, culpa e
No indivíduo com ciúme mórbido, o depressão, até raiva e agressão.
processamento de informações
defeituosas pode resultar em uma ampla Novaco (1979), em seu modelo
variedade de eventos que se tornam cognitivo-comportamental da raiva,
gatilhos para novos pensamentos conceitua as respostas a eventos
suspeitos automáticos, mesmo na externos como sendo determinadas por
ausência de evidências objetivas. Fotos processos de avaliação primários e
de revistas, programas de televisão, secundários (ver também Chesney, 1985).
situações sociais e variações no
comportamento ou na rotina de um Neste modelo, as reações subsequentes
parceiro podem ser mal interpretados são determinadas não apenas pela
dentro da estrutura de um sistema falho percepção inicial dos eventos, mas
de suposições e resultar em sentimentos também pelo estilo de enfrentamento do
de desconfiança e ciúme. A esse respeito, indivíduo, eficácia no enfrentamento,
os pensamentos ciumentos compartilham resultado antecipado e reação dos outros.
várias características com os Assim, muito do comportamento, além do
pensamentos obsessivos. Eles são 'confirmativo', exibido por indivíduos
intrusivos, freqüentemente indesejados, ciumentos pode representar o resultado
acessíveis, desagradáveis e às vezes de processos de avaliação secundária
identificados como irracionais (se não no (Fig. 1). Essas respostas são
tempo e posteriormente). Eles também frequentemente características do ciúme
são frequentemente acompanhados por mórbido, mas claramente não são
ações comportamentais, como verificação exclusivas dele. Aqueles indivíduos (ver
ou busca de segurança. Os pensamentos Fig. 2) que, refletindo, veem sua suspeita
ciumentos também podem ser inicial como irracional e seu
considerados semelhantes aos comportamento 'confirmativo' como
pensamentos intrusivos, que são comuns irracional, são mais propensos a sentir
e existem em um continuum do normal ao culpa e depressão e exibem retraimento,
patológico (Rachman & de Silva, 1978; silêncio e evitação comportamental em
Salkovskis & Harrison, 1984). Salkovskis resposta ao seu ciúme .
(1985), em sua análise
cognitivo-comportamental das obsessões, Com outros indivíduos, no entanto (ver
sugeriu que as ruminações são Fig. 3), a avaliação secundária pode servir
problemáticas por causa dos para fortalecer as crenças iniciais. Esses
pensamentos automáticos desagradáveis indivíduos tenderão a aceitar sua
que ocorrem em resposta a eles. Uma interpretação da evidência como racional
situação semelhante pode ser e a ver seu comportamento "confirmativo"
hipotetizada no ciúme mórbido, em que como apropriado.
um pensamento intrusivo de suspeita ou
avaliação negativa precipita pensamentos Em tais circunstâncias, os eventos que
automáticos de infidelidade do parceiro. dão origem ao ciúme provavelmente
serão experimentados como provocativos
Embora o ciúme mórbido pareça ser uma e resultarão em raiva e levarão, em
resposta primária à má interpretação de algumas circunstâncias ou indivíduos, à
eventos e estímulos, parece haver agressão e violência.
também respostas secundárias (ver Fig.
 Possibilidades de pesquisa futura demonstrar que as palavras relacionadas
ao medo são processadas de forma
No momento, há poucos dados empíricos diferente em pacientes fóbicos e
para apoiar este modelo. Obtivemos obsessivos. Métodos semelhantes
algum apoio de um teste bem-sucedido, poderiam ser usados para investigar o
mas não controlado, de terapia cognitiva processamento cognitivo de palavras
com base nessa formulação (Bishay et al., relacionadas à infidelidade em pacientes
1989). Também mostramos que mulheres ciumentos.
com ciúmes mórbidos diferem dos
controles normais em um teste de Além de seu interesse teórico, a utilidade
personalidade (Tamer et a!, 1989) e do modelo cognitivo-comportamental é
estamos atualmente analisando dados de que ele sugere inúmeras estratégias de
uma pesquisa com indivíduos com ciúmes tratamento. A exposição sistemática do
mórbidos. paciente a estímulos que provocam
ciúme, a modificação de processos
No entanto, o valor heurístico dessa cognitivos disfuncionais e a modificação
formulação é que ela pode gerar uma de antecedentes, como baixa auto-estima,
investigação mais aprofundada, e várias todos merecem investigação. Há também
estratégias de pesquisa se sugerem. Por uma necessidade premente de um
exemplo, estudos sobre a relação entre o refinamento na definição de problemas e
humor e a acessibilidade de cognições no desenvolvimento de medidas e
negativas (Clark & Teasdale, 1982; 1985) técnicas de avaliação apropriadas.
pode ser útil para elucidar a relação entre Finalmente, testes de tratamento
insegurança emocional e pensamentos controlados precisam ser realizados.
ciumentos. Além disso, uma vez que foi
demonstrado, tanto em pacientes
deprimidos (Derry & Kuipers, 1981)
quanto em indivíduos normais com humor
deprimido induzido (Sutton et a!, 1988),
que os auto esquemas são
predominantemente organizados para
processar negativamente o material
auto-relacionado, experimentos
semelhantes podem ser feitos para
investigar o ciúme mórbido. Assim, ao
variar experimentalmente os sentimentos
de atratividade, insegurança ou
auto-estima, também seria esperado que
a acessibilidade dos pensamentos
ciumentos mudasse.

Outra via potencialmente frutífera é usar

métodos da psicologia experimental para
investigar o processamento cognitivo.
Mathews & MacLeod (1985; 1986) e
Watts eta! (1986) usaram um teste de
reação verbal, e Foa & McNally (1986)
uma tarefa de escuta dicótica para