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COGNITIVO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOTERAPIA COGNITIVO


COMPORTAMENTAL

Crisângela Nascimento de Menezes Costa


Graduada em Psicologia

CIÚME PATOLÓGICO SOB A PERSPECTIVA DA TERAPIA COGNITIVO-


COMPORTAMENTAL

Andriza Saraiva Corrêa


Orientadora
COGNITIVO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOTERAPIA COGNITIVO
COMPORTAMENTAL

CIÚME PATOLÓGICO SOB A PERSPECTIVA DA TERAPIA COGNITIVO-


COMPORTAMENTAL

CRISÂNGELA NASCIMENTO DE MENEZES COSTA

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação


Cognitivo/Monteiro Lobato/FADISMA como requisito
parcial para obtenção do grau de Especialista em
Psicologia Clínica.

Andriza Saraiva Corrêa


Orientadora

Manaus/AM, 23 de julho de 2019


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Ciúme Patológico sob a perspectiva da Terapia Cognitivo-Comportamental

Resumo

As motivações que levaram a esse artigo surgiram devido à demanda de queixas dos pacientes
apontarem o ciúme como fator associado às dificuldades nos seus relacionamentos, resultando
muitas vezes em separações, bem como a constatação de crimes passionais que vão desde
agressões até ao assassinato, noticiados pela mídia, nos quais, mais uma vez, se destaca o ciúme
como fator desencadeante da violência. A proposta do artigo é mostrar o ciúme sob a
perspectiva da Terapia Cognitivo- Comportamental, que se destaca nesse meio sendo referência
em resultados eficazes nesse processo. É a abordagem psicológica atual com mais evidências
científicas de efetividade na mudança de atitudes prejudiciais e mantém seu foco voltado para
a identificação e reparação de padrões de pensamentos disfuncionais. Dentro do contexto de
quem sofre com o ciúme patológico ou exagerado, que repercute nos padrões de comportamento
baseados em pensamentos disfuncionais, a TCC é capaz de atuar modificando crenças e
desadaptações desses pensamentos, além de auxiliar na busca por autocontrole, melhoria na
autoestima do paciente e consequente construção de relacionamentos interpessoais saudáveis.

Palavras-chave: Ciúme patológico, relacionamentos amorosos e Terapia Cognitiva


Comportamental para o ciúme

Pathological Jealousy Under the Perspective of Cognitive Behavior Therapy

Abstract

The motivations that led to this article arose due to the demand for patient complaints to point
out jealousy as a factor associated with difficulties in their relationships, often resulting in
separations, as well as the finding of passion crimes ranging from assaults to murder reported
by media, in which, once again, jealousy is highlighted as a triggering factor for violence. The
purpose of the article is to show jealousy from the perspective of Behavioral Therapy, which
stands out in this environment as reference in effective results in this process. It is the current
psychological approach with more scientific evidences of effectiveness in the change of harmful
attitudes and it keeps its focus towards the identification and repair of dysfunctional thought
patterns. In the context of those who suffer from pathological or exaggerated jealousy, which
reverberates in patterns of behavior based on dysfunctional thoughts, TCC is able to act by
modifying beliefs and disadaptations of these thoughts, as well as helping in the search for self-
control, improvement in patient self-esteem and consequent building of healthy interpersonal
relationships.

Keywords: Pathological jealousy, love relationships and Cognitive Behavioral Therapy for
jealousy
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Introdução

Visto que é normal as pessoas dizerem que sentem ciúmes, um sentimento simples e
universal, que permeia as relações humanas, que faz parte da construção social e cultural de
todos, mas que abrange também muitos outros sentimentos como raiva, ódio, fidelidade, medo,
cobiça, orgulho e amor. Por isso é importante saber identificar esses gatilhos e os pensamentos
disfuncionais que são decorrentes deles, para que possamos no setting terapêutico trabalhar
nestas cognições distorcidas e assim evitar comportamentos disfuncionais acerca do ciúme,
visto que o ciúme é um dos principais motivadores de crimes passionais seguidos ou não de
suicídio no Brasil.
O Ciúme, embora considerado um sentimento natural como resposta protetiva pode
ocasionar reações negativas diversas que vão desde a angústia, raiva e desconfiança ao extremo
da violência, incluindo agressões, homicídios e/ou suicídios, desde o momento em que o
portador do ciúme tem a percepção da possibilidade de perda do parceiro íntimo. Ademais,
pode se tornar doentio, possibilitando baixa autoestima, insegurança e tensão nos envolvidos.
Desta forma, considera-se como prejudicial à relação afetiva, de modo a comprometer a
qualidade do relacionamento (Seo, 2005).
Ferreira-Santos (2011) fala de como é normal sentir ciúme, compara tal normalidade
com outros sentimentos, como o sentir medo, raiva, inveja, alegria, saudade. Contudo apesar
de ser normal, deve-se considerar sua origem, sua intensidade, duração e a forma que a pessoa
que o sente se comporta, a importância que ele assume no seu cotidiano e como afeta a pessoa
que convive com ele.
O ciúme patológico é um dos principais fatores que motivam casos de violência
doméstica, e em outros contextos de agressão, discórdia, separações e até mesmo de homicídios
passionais. O ciúme é uma queixa constante no contexto clínico, tornando-se necessário discutir
sobre aspectos importantes que norteam a atuação do profissional Psicólogo quando se
encontrar diante dessa queixa. Além de também poder contribuir para o tratamento terapêutico,
possibilitando a prevenção de suas consequências.
O ciúme é um sentimento cognitivo, comportamental que abrande uma grande
dimensão. Pode ser uma resposta emocional e interpessoal destrutiva e frequentemente
perigosa. Tem sido uma problemática muito discutida e na atualidade levado a sério, a despeito
da importância do ciúme como uma dificuldade para os casais, a demanda tem crescido pela
procura de um tratamento, e é nesse contexto que entra a Terapia Cognitiva Comportamental.
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Segundo Ballone (2010) o ciúme é definido na maioria dos textos, como um sentimento
fisiológico, natural e marcado pelo medo real ou imaginário de perder o objeto de desejo ou o
relacionamento, é o medo de deixar de representar para a outra pessoa aquilo que se deseja
representar. Quando se pretende representar tudo na vida para a outra pessoa, não dando mais
espaço em sua vida para outras coisas, a possibilidade de se frustrar é enorme, o ciúme será
proporcional as suas pretensões.
Para o autor ciúme é uma atitude emocional protetora e defensiva de si mesmo, é um
método preventivo de não se perder a pessoa desejada, preservando-se, assim previne-se perder
o relacionamento. Com o objetivo de aliviar a frustração o sentimento de ciúme motiva
comportamentos impulsivos, quanto mais bizarro for esse impulso mais anormal é o ciúme. O
que diferencia os casos do ciúme normal para os não normais, é a consequência que ele acarreta
em sofrimento, quanto mais resulta em sofrimento, em atitudes bizarras, mais distante fica de
ser normal.

O ciúme normal é transitório e esporádico, aparece em circunstancias e


momentos específicos, é baseado em fatos concretos e dentro de um contexto que
envolve realmente o relacionamento amoroso. As manifestações exageradas e
patológicas aparecem como preocupações excessivas e fantasiosas, quase nunca estão
restritas ao contexto romântico atual, viajam pelo passado, supõem pensamentos,
tomam os sonhos como indícios de realidade, veem coisas que a razão nem percebe.
(Ballone, 2010 p. 20)

Segundo Ballone (2010) há três tipos de ciúme não normal: exagerado, obsessivo e
patológico. O ciúme que faz parte do grupo de emoções e sentimentos que trazem sofrimento,
dor e que escraviza tanto o ciumento como o objeto do ciúme é o ciúme não normal.
No ciúme normal segundo Ballone (2010) o motivo para se sentir ciúmes é concreto e
real, a reação do sujeito é proporcional ao motivo que o desencadeou e não se prolonga por
muito tempo, a duração do episódio tem começo e fim, relacionando-se diretamente com a
situação que o desencadeou. No ciúme exagerado o motivo que o desencadeia tanto pode ser
concreta como ás vezes fantasiosa, tendo sua reação moderadamente desproporcional ao
motivo, o ciumento exagerado leva um pouco mais de tempo para se recuperar do motivo que
o fez sentir ciúmes, mas se recupera, enquanto que o ciumento patológico fantasia seu ciúme,
não precisando de motivo para senti-lo e tem recaídas constantes.
A expressão ciúme patológico designa na maioria das vezes, mais um sintoma de
alguma outra patologia psíquica do que de uma doença em si. Conhecido também como
síndrome de Otelo, referindo-se a peça Otelo, escrita por William Shakespeare em 1694, que
mostra o lado obscuro do ciúme patológico capaz de produzir pensamentos irracionais e
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comportamentos inaceitáveis. A síndrome de Otelo homenageia a obra literária que descreve o


homicídio cometido pelo marido que suspeita da traição de sua mulher e seu subsequente
suicídio (Leong et al. 1994 apud Almeida, Rodrigues & Silva, 2008.)
Para o autor a pessoa portadora do ciúme patológico deseja controlar os pensamentos e
comportamentos do outro em tempo integral, se preocupada obsessivamente inclusive com
relacionamentos anteriores, no qual pode se tornar em pensamentos repetitivos com imagens
intrusivas e com seus detalhes.

O ciúme patológico é ilimitado, exige posse e atenção exclusivas e não se


contenta com menos que tudo. Outra característica do ciúme patológico é a
incapacidade de obter satisfação completa com a pessoa amada, a ponto de a pessoa
ciumenta estar sempre condenada ao desapontamento, o qual muitas vezes se reflete
em atitudes hostis. (Ballone, 2010 p. 71)

No ciúme patológico, várias emoções são experimentadas, tais como a ansiedade,


depressão, raiva, vergonha, insegurança, humilhação, perplexidade, culpa, aumento do desejo
sexual e desejo de retaliação. O portador do ciúme patológico é um vulcão emocional sempre
prestes à erupção e apresenta um modo distorcido de vivenciar o amor, pois, para esta pessoa,
o quadro que está sendo manifestado é uma contingência obrigatória do sentimento amoroso e,
portanto, não passível de crítica.
Para Cavalcante (1997, p.24) o ciúme patológico consiste em:

[...] uma perturbação total, um transtorno afetivo grave. O ciumento sofre em seu
amor: em sua confiança, em sua tranquilidade, em seu amor próprio, em seu espírito
de dominação e em seu espírito de posse. O ciúme corrói-lhe o sentimento em sua
base e destrói, com uma raiva furiosa, suas próprias raízes. Propicia a invasão da
dúvida que perturba a alma, fazendo com que ame e odeie ao mesmo tempo, a pessoa
objeto de sua afeição. O maior sofrimento do ciumento é a incerteza em que vive, pela
impossibilidade de saber, com segurança, se o (a) parceiro (a) o engana ou não.

A pessoa com ciúme patológico seria extremamente sensível, vulnerável e muito


desconfiado, geralmente portador de autoestima muito rebaixada, tendo como defesa um
comportamento impulsivo. Afirma ainda o autor que o ciúme patológico é uma desordem
afetiva séria, que destrói o relacionamento e sentimentos; deixando o indivíduo constantemente
ameaçado. Muitas vezes, a relação é baseada na posse; consequentemente, isso não é
“negociável” numa era onde a liberdade e a autonomia se tornam cada vez mais divinizadas
pela humanidade. Dessa forma, o relacionamento torna-se angustiante, tenso, carregado de uma
intensa carga emocional negativa.
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No processo de ciúme patológico, várias emoções, pensamentos irracionais e


perturbadores, dúvidas e ruminações sobre provas inconclusivas, ideias obsessivas, prevalentes
ou delirantes sobre infidelidade, busca incessante de evidências que confirmem ou afastem a
suspeita, além de comportamentos inaceitáveis ou bizarros, são experimentados pelo indivíduo
que sofre do problema. A perturbação se manifesta através de sentimentos como ansiedade,
culpa, raiva, sentimento de inferioridade, depressão, imagens intrusivas, remorso, humilhação,
insegurança, vergonha, rejeição, rituais de verificação, desejo de vingança, angústia,
possessividade, baixa autoestima, medo de perder o parceiro para um rival, desconfiança
excessiva e infundada, gerando significativo prejuízo no funcionamento pessoal e interpessoal
de quem sofre desse mal (Bottura Junior, 2003).
A inquietação do ciumento é facilmente provocada, por isso, o ciumento é muitas vezes
instrumento de zombaria. Certa expectativa de traição se faz presente no cotidiano da pessoa
ciumenta. Blévis (2009, p.70) afirma que a qualquer momento e diante de qualquer suspeita o
ciumento “se precipita num universo de suposições que conduzem todas elas, à mesma
conclusão: a traição. Presa fácil, o ciumento é feito de bobo por um teatro de ilusões”. Sobre
isso diz ainda:

Para o ciumento, o jogo do amor só tem, com efeito, um único e inelutável


desfecho: a pessoa amada o trairá, essa derrota está “escrita” desde sempre. [...] sua
necessidade de controlar o próprio destino satisfaz-se em denunciar de antemão o
fracasso de qualquer vínculo, como que para assim conjurar a insustentável tragédia
do amor [...]. Para ele, não existe a garantia da palavra dada; o ciumento não confia
em nada (Blévis, 2009, p.69).

Ruge e Lenson (2006) versam ainda sobre a polêmica “tendência a ser traído” dizendo
que: “[...] existem poucas dúvidas de que certas pessoas, por um conjunto complexo de razões,
tendem a ser atormentadas por atos semelhantes de traição de relacionamento para
relacionamento” (p. 52).
Os autores acima sugerem ainda que a presença do ciúme obsessivo num
relacionamento seja recorrente, ou seja, existem inúmeros motivos para se esperar que em
relacionamentos subsequentes a tormenta do ciúme se faça presente, independentemente das
diferentes circunstâncias em que estes relacionamentos ocorram, o ciumento sempre encontrará
motivos para sentir ciúmes.
Segundo Ballone (2010, p. 96) o ciúme tem cura e quando não tem, pode-se controla-
lo. O objetivo do tratamento psicológico e psiquiátrico visa o equilíbrio e não a eliminação dos
sentimentos; visa à administração dos excessos emocionais. A pessoa deve procurar controlar
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a força e a duração do ciúme, controlando o ciúme a pessoa terá a chave do bem-estar físico e
emocional.
Para se ter êxito na terapia faz-se necessário uma consciência do paciente sobre o seu
problema, é preciso que ele admita para si mesmo que está doente e, assim poder proporcionar-
se a cura.

A primeira coisa sensata a fazer é admitir para si próprio que o monstro


existe, está ali. Se não houver controle sobre ele, coisas muito ruins acontecerão.
Quanto mais se rumina sobre as razões do sentimento de ciúme não normal, mais
pensamentos distorcidos e falsos estarão a serviço das emoções. É como um trem onde
um pensamento distorcido engata-se no outro. A terapia trabalha procurando fazer o
contrário, ou seja, corrigindo pensamentos e crenças falsas para controlar emoções
perturbadoras. (Ballone, 2010 p. 97)

A partir do momento que o paciente admite seu problema, admite que a dor e o
sofrimento que sente são causados pelo ciúme, e que tal ciúme não tem fundamento, são frutos
de sua imaginação, fica mais fácil trabalhar suas crenças, corrigir seus pensamentos
perturbadores.
Ballone (2010, p. 97) relata sobre o controle do ciúme, caso não haja:

Se não houver uma tentativa do controle do ciúme, por meio de técnicas de


psicoterapia e com auxilia de medicação, ele tende-se a alimentar-se de si próprio, e,
tal como uma bola de neve, a sucessão de pensamentos perturbadores chegará a
proporções perigosas. Nesse ponto as pessoas perdem o domínio da razão e seus
pensamentos passam a girar apenas em torno das atitudes negativas. Uma vez
desencadeado, o ciúme não normal põe em marcha um trem pesado de pensamentos
furiosos, um atrás do outro. A terapia atuará sobre esses pensamentos em carrilhão
que acompanham o sentimento de ciúme não normal, da mesma forma que os
eventuais medicamentos necessários atuarão sobre parte da autoestima rebaixada,
sobre o controle dos impulsos, da tendência obsessiva e até do delírio.

O foco do tratamento segundo Ballone (2010), em grande número de casos, recai sobre
a autoestima. A autoestima satisfatória aumenta a capacidade de separar o emocional do
racional, tornando mais fácil encontrar soluções para os problemas, tanto intelectuais quanto
pessoais. As pessoas com a autoestima rebaixada têm mais dificuldades em tomar decisões, não
possuem autonomia.

O terapeuta, psiquiatra ou outro profissional da área bem preparados tem


condições de avaliar o estado afetivo das pessoas, seja ela circunstancial em reação a
um acontecimento da vida, seja atrelado à personalidade e, portanto, constitucional.
Reconhecer essa diferença, por exemplo, é saber se a pessoa está com ciúme não
normal ou se ela é ciumenta. (Ballone, 2010 p. 98)
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A psicoterapia tem como objetivo tornar a pessoa consciente de seus sentimentos e agir
para mudá-los, quando for o caso. Essa atitude, sem dúvida, será indispensável para o controle
dos impulsos gerados pelo ciúme.

Embora vários modelos de psicoterapia possam ser uteis no tratamento do


ciúme não normal, a partir da década de 1990 inúmeros pesquisadores valorizaram o
uso da terapia cognitivo-comportamental para o tratamento desse problema,
principalmente para o ciúme obsessivo. Por outro lado, esse método não se aplica ao
ciúme delirante, como não aplica também qualquer outro tipo de terapia psicológica.
A terapia cognitivo-comportamental tem boa indicação principalmente quando estão
presentes distorções cognitivas, alterações afetivas e comportamentais. (Ballone,
2010, p. 99).

De acordo com Ballone (2010) uma das maneiras de intervir é agir no início da crise de
ciúme. A reavaliação dos pensamentos que disparou a reação do ciúme determina um dos
primeiros passos da psicoterapia. A terapia comportamental tem sido eficiente para disciplinar
as atitudes diante da situação geradora do ciúme. A psicoterapia também deve buscar um
reforço da autoestima e valorização da autoimagem da pessoa ciumenta.

São vários os estudos que comprovam os resultados positivos obtidos com


as técnicas psicoterápicas também para o tratamento de outros comportamentos
impulsivos, como jogo patológico. Para o ciúme, quando se opta pela terapia
cognitivo-comportamental, o foco da atenção são os pensamentos que atormentam e
produzem sofrimento na pessoa ciumenta, pressupondo que eles se originam de
crenças sobre ela mesma ou sobre relacionamentos em geral. Outro foco incidirá sobre
os comportamentos de inspeção e vigilância contínuos. (Ballone, 2010, p. 99).

Para Ballone (2010) os pensamentos repetitivos e dominadores do ciúme subordinam


todas as outras ideias, e a emoção acaba sufocando a razão.

As inclinações para retaliação por parte do ciumento são automáticas, e os


impulsos que levam a um comportamento rude e agressivo afloram com grande
energia. Controlar tais impulsos e reavaliar os pensamentos de ciúme são objetivos
primordiais do tratamento, que pode exigir o uso de medicamentos anti-impulsivos
e/ou terapia cognitivo-comportamental, de preferência ambos conjuntamente.
(Ballone, 2010, p. 99).

Ballone (2010) fala sobre a importante da pessoa ciumenta não aceitar passivamente
seus pensamentos imaginários do ciúme. É preciso buscar sempre reconhecer conclusões
emocionais e questioná-las quando surgirem diante de determinadas situações geradoras de
ciúme. Segundo o autor é uma experiência muito importante melhorada pela psicoterapia e
capaz de minimizar o ciúme exagerado que põe em risco um relacionamento.
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Segundo Ballone (2010), a pessoa obsessivamente apaixonada acredita que não pode
viver ou existir sem a outra pessoa, crê que somente ela dá sentido a sua vida. Segundo o autor
as vivencias traumáticas da separação não desejada geram mágoas e reforçam crenças
generalizadas de abandono, traição e perda. A pessoa que tenha sofrido uma traição, por
exemplo, pode desenvolver crenças que a tornem ciumenta, desconfiada.

Quando se fala que os esforços terapêuticos devem ser dirigidos à autoestima


da pessoa ciumenta, considera-se esse fator um dos mais concomitantes do ciúme. De
acordo com muitas pesquisas realizadas, entre as características comuns aos homens
que agrediam suas mulheres, as mais frequentes foram baixa autoestima, ciúme e
isolamento social, seguidas pelo abuso de álcool e drogas, insegurança e outras.
(BALLONE, 2010, p. 102).

A terapia medicamentosa deve ser conduzida por um profissional da área habilitado.


Segundo Ballone (2010) em casos de ciúme que não sejam do tipo delirante, o uso de
medicamentos deve ser associado ao tratamento psicoterápico, pois, em algumas ocasiões os
medicamentos sejam indispensáveis, costumam ser insuficientes.
A associação de medicamentos com psicoterapia segundo Ballone (2010):

[...] é valiosa nos casos de ciúme não normal. Exceto nos casos de ciúme delirante, o
ciumento exagerado e obsessivo tem crítica de seus sentimentos perturbadores e pode
ser capaz de aprender a lidar com eles. Para esses casos, em que além da crítica existe
incômodo com os sentimentos, fala-se em transtorno egodistônico. Diz-se que seu
transtorno é egossintônico (em sintonia com o ego), e para elas a psicoterapia não é
indicada.

Exemplificando o que o autor quer dizer é que a pessoa egodistônica se perturba com
seus pensamentos, impulsos, atitudes, seu comportamento o incomoda, não está satisfeito com
seu jeito de ser, enquanto a pessoa egossintônica é o oposto, está em sintonia com seu ego, está
de acordo com seu jeito de ser.
Segundo Ballone (2010) é muito mais difícil convencer uma pessoa egossintônica a
fazer um tratamento, uma vez em que ela acredita ter sempre razão em suas suspeitas e que o
problema está nas pessoas que não o compreendem. Já a pessoa egossintônica é sensível à ideia
do tratamento e, não raras vezes, até procura ajuda especializada.
É sempre bom conscientizar as pessoas ciumentas sobre os modernos recursos que a
medicina coloca à disposição da qualidade de vida. Segundo o autor até pouco tempo, a
abordagem terapêutica do ciúme patológico era complexa e pouco eficiente. O tratamento
combinava uma série de intervenções, como controle de raiva e da violência, treino de
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comunicação e assertividade, aconselhamento, controle dos impulsos, parada de pensamento,


técnicas de relaxamento, dramatização e inversão de papéis.

Método

O presente estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica acerca das contribuições da


TCC para o tratamento do Transtorno do Ciúme Patológico. Segundo Vergara (2011), a pesquisa
se configura como bibliográfica quando utiliza somente a literatura para obter seus dados e estuda
sistematicamente materiais que são produtos de publicação em livros, revistas, jornais e redes
eletrônicas. Buscou-se, através deste artigo, responder o seguinte questionamento: “Como a
terapia cognitivo-comportamental tem colaborado para o tratamento terapêutico de pacientes
com o Transtorno Ciúme Patológico? ”.
Para responder a essa indagação usou-se como fonte de pesquisa as bases de dados:
Livros (ver referências); CETCC (Centro de Estudos em Terapia Cognitiva Comportamental)
e Scientific Electronic Library Online SciELO, no período de janeiro de 2019 a julho de 2019.
De modo a operacionalizar a busca pelos estudos foram usados os descritores: Ciúme
patológico, relacionamentos amorosos e Terapia Cognitiva Comportamental para o ciúme.
Deste modo, foram selecionados livros e artigos que foram analisados a partir da
construção de um banco de dados destacando-se: título, autor (es), ano de publicação, tipo de
estudo e principais resultados. O banco de dados formulado orientou a descrição, a análise e a
interpretação dos resultados, que serão apresentados a seguir.

Resultados e discussão

A realização do presente estudo primeiramente visou responder como a terapia


cognitivo-comportamental tem colaborado para o tratamento terapêutico de pacientes com o
Transtorno Ciúme Patológico, tendo como sujeitos uma pesquisa bibliográfica acerca das
contribuições da Terapia Cognitiva Comportamental para o tratamento do Transtorno Ciúme
Patológico. Visou-se nesta pesquisa o objetivo de discutir acerca da eficácia da Terapia
Cognitivo- Comportamental no tratamento do ciúme. Para tanto, foram averiguadas as técnicas
da TCC utilizadas na abordagem ao ciúme patológico.
A partir deste objetivo, o qual foi alcançado, pode-se afirmar que a Terapia Cognitivo
Comportamental (TCC) se destaca sendo referência com resultados eficazes nesse processo.
Sua abordagem psicológica é atual com evidencias científicas de efetividade na mudança de
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atitudes prejudiciais e mantém o foco do paciente voltado para a identificação e reparação de


padrões de pensamentos disfuncionais pelo levantamento de hipóteses que serão confirmadas,
ou não, no decorrer do processo da psicoterapia.
Dentro do contexto de quem sofre com o ciúme patológico ou exagerado, que repercute
nos padrões de comportamento baseados em pensamentos disfuncionais, a Terapia Cognitiva
Comportamental é capaz de atuar modificando crenças e desadaptações desses pensamentos,
além de auxiliar na busca por autocontrole, melhoria na autoestima do paciente e consequente
construção de relacionamento interpessoais saudáveis.
O ciumento não necessita de motivos reais, pois vive sob suspeita, a desconfiança e
insegurança estão presentes em seu cotidiano e por fatores desencadeadores ou por quase nada
o sentimento que corrói a alma pode se manifestar. O ciumento é vítima de si mesmo, de seu
mundo interior, de suas ideias cruéis e maléficas, que frequentemente oprimem o seu ser. Ao
mesmo tempo, o ciumento é um carrasco do outro, quando compartilha de sua dor impondo ao
seu parceiro o seu sofrimento, a sua tormenta. O ciumento deseja que o outro acredite na sua
verdade e viva essa verdade, como se fora sua também.
Quanto ao que sofre o ciúme que lhe é imposto, pode-se dizer que de certa forma
alimenta o ciúme e pode se escravizar, passando a viver em função do outro, e sustentar o perfil
que este lhe impõe. É um codependente, que assume para si esse perfil e não sabe viver de outra
forma, pensa que pode, mas na verdade, as circunstâncias que o enredam são mais fortes do que
ele, como um jugo pesado a respeito do qual não pode se livrar tão facilmente.
Enfim, a Terapia Cognitiva Comportamental possibilita o uso de técnicas para o sujeito
aprender através da Psicoeducação a Reestruturar seus pensamentos, chegando ao objetivo da
terapia que é conseguir flexibilizar os pensamentos com alternativas Positivas e Realistas de Si,
resultando às mudanças das Crenças. Que resulta a extinção de sintomas de alguns distúrbios
de comportamento, como é o caso do sintoma Ciúmes, tendo em vista que o ciúme é uma queixa
constante no contexto clínico, tornando-se necessário discutir sobre aspectos importantes que
norteam a atuação do profissional Psicólogo quando se encontrar diante dessa queixa. Além de
também poder contribuir para o tratamento terapêutico, possibilitando a prevenção de suas
consequências. Sugere-se que haja continuidade deste trabalho através de acadêmicos e demais
interessados, contribuindo assim para com o público alvo desta pesquisa e para o avanço do
conhecimento.
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Conclusão

O objetivo desta pesquisa foi discutir acerca da eficácia da Terapia Cognitivo-


Comportamental no tratamento do ciúme. As motivações que levaram a esse estudo surgiram a
partir de uma grande demanda clínica, foram observadas muitas queixas relacionadas ao ciúme
como fator associado às dificuldades nos relacionamentos conjugais. Além de a mídia veicular
muito em jornais, noticiários televisivos, programas de entrevistas e afins, notícias de crimes
passionais que vão desde agressões até ao assassinato, nos quais, mais uma vez, se destaca o
ciúme como fator desencadeante da violência.
De acordo com a literatura consultada, permitiu-se verificar que o ciúme é considerado
um sentimento natural do ser humano como qualquer outro, por exemplo, medo, raiva, alegria,
saudade entre outros. Entretanto, aspectos como o surgimento, a intensidade com que se
manifesta, o tempo de duração e o comportamento do enciumado, incluindo reações diversas
devem ser considerados relevantes, uma vez que o ciúme pode se tornar doentio, assumindo um
lugar relevante no cotidiano dos envolvidos e afetando o relacionamento, que por sua vez pode
se tornar insustentável.
A partir dessa ideia, delineou-se esta pesquisa em que se confirmou a eficácia da Terapia
Cognitiva Comportamental, o que responde positivamente, como sendo a abordagem
psicológica atual com mais evidências científicas de efetividade na mudança de atitudes
prejudiciais e mantém seu foco voltado para a identificação e reparação de padrões de
pensamentos disfuncionais. Dentro do contexto de quem sofre com o ciúme patológico ou
exagerado, que repercute nos padrões de comportamento baseados em pensamentos
disfuncionais, a Terapia Cognitiva Comportamental é capaz de atuar modificando crenças e
desadaptações desses pensamentos, além de auxiliar na busca por autocontrole, melhoria na
autoestima do paciente e consequente construção de relacionamentos interpessoais saudáveis.
Embora se tenha verificado a TCC como referência em resultados eficazes no
tratamento do ciúme patológico, vale considerar as limitações do presente estudo, tendo em
vista a escassez de pesquisas neste sentido. De sorte que se sugere a realização de novas
pesquisas acerca do tema sob esta ótica, considerando aspectos que não foram aqui
contemplados. Ressalte-se ainda que nos trabalhos consultados se enfatizou as contribuições
dos estudos sobre as formas de abordagem ao ciúme patológico no âmbito profissional, visto
adestrar os profissionais da área visando intervenções mais efetivas e colaborar para com a
qualidade de vida dos pacientes, sobretudo em seus relacionamentos conjugais.
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Referências

Almeida, T.; Rodrigues, K.R.B. & Silva, A.A. (2008). O ciúme romântico e os relacionamentos
amorosos heterossexuais contemporâneos. Estudos de Psicologia, 13(1), 83-90.

Ballone, G.J. (2010). Histórias de ciúme patológico: identificação e tratamento. SP. Manole.

Blévis, M. (2009) O ciúme: delícias e tormento. São Paulo: Martins.

Bottura Junior, W. (2003). Ciúme: entre o amor e a loucura. São Paulo: República Literária.

Cavalcante, A. M. (1997). O ciúme patológico. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos.

Ferreira Santos, E. (2011). Ciúme o medo da perda. São Paulo: Claridade.

Ruge, K. & Lenson, B. (2006). A síndrome de Otelo. Tradução Claudia Gerpe Duarte. Rio de
Janeiro: BestSeller.

Seo, K.T (2005). Principais fatores desencadeantes de ciúme patológico na dinâmica de


relacionamento conjugal. Revista Científica Eletrônica de Psicologia. Ano III, n. 05, nov.

Vergara, S.C. (2011). Projetos e relatórios de Pesquisa em Administração (12 ed.). São Paulo:
Atlas.

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