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Resumo
As motivações que levaram a esse artigo surgiram devido à demanda de queixas dos pacientes
apontarem o ciúme como fator associado às dificuldades nos seus relacionamentos, resultando
muitas vezes em separações, bem como a constatação de crimes passionais que vão desde
agressões até ao assassinato, noticiados pela mídia, nos quais, mais uma vez, se destaca o ciúme
como fator desencadeante da violência. A proposta do artigo é mostrar o ciúme sob a
perspectiva da Terapia Cognitivo- Comportamental, que se destaca nesse meio sendo referência
em resultados eficazes nesse processo. É a abordagem psicológica atual com mais evidências
científicas de efetividade na mudança de atitudes prejudiciais e mantém seu foco voltado para
a identificação e reparação de padrões de pensamentos disfuncionais. Dentro do contexto de
quem sofre com o ciúme patológico ou exagerado, que repercute nos padrões de comportamento
baseados em pensamentos disfuncionais, a TCC é capaz de atuar modificando crenças e
desadaptações desses pensamentos, além de auxiliar na busca por autocontrole, melhoria na
autoestima do paciente e consequente construção de relacionamentos interpessoais saudáveis.
Abstract
The motivations that led to this article arose due to the demand for patient complaints to point
out jealousy as a factor associated with difficulties in their relationships, often resulting in
separations, as well as the finding of passion crimes ranging from assaults to murder reported
by media, in which, once again, jealousy is highlighted as a triggering factor for violence. The
purpose of the article is to show jealousy from the perspective of Behavioral Therapy, which
stands out in this environment as reference in effective results in this process. It is the current
psychological approach with more scientific evidences of effectiveness in the change of harmful
attitudes and it keeps its focus towards the identification and repair of dysfunctional thought
patterns. In the context of those who suffer from pathological or exaggerated jealousy, which
reverberates in patterns of behavior based on dysfunctional thoughts, TCC is able to act by
modifying beliefs and disadaptations of these thoughts, as well as helping in the search for self-
control, improvement in patient self-esteem and consequent building of healthy interpersonal
relationships.
Keywords: Pathological jealousy, love relationships and Cognitive Behavioral Therapy for
jealousy
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Introdução
Visto que é normal as pessoas dizerem que sentem ciúmes, um sentimento simples e
universal, que permeia as relações humanas, que faz parte da construção social e cultural de
todos, mas que abrange também muitos outros sentimentos como raiva, ódio, fidelidade, medo,
cobiça, orgulho e amor. Por isso é importante saber identificar esses gatilhos e os pensamentos
disfuncionais que são decorrentes deles, para que possamos no setting terapêutico trabalhar
nestas cognições distorcidas e assim evitar comportamentos disfuncionais acerca do ciúme,
visto que o ciúme é um dos principais motivadores de crimes passionais seguidos ou não de
suicídio no Brasil.
O Ciúme, embora considerado um sentimento natural como resposta protetiva pode
ocasionar reações negativas diversas que vão desde a angústia, raiva e desconfiança ao extremo
da violência, incluindo agressões, homicídios e/ou suicídios, desde o momento em que o
portador do ciúme tem a percepção da possibilidade de perda do parceiro íntimo. Ademais,
pode se tornar doentio, possibilitando baixa autoestima, insegurança e tensão nos envolvidos.
Desta forma, considera-se como prejudicial à relação afetiva, de modo a comprometer a
qualidade do relacionamento (Seo, 2005).
Ferreira-Santos (2011) fala de como é normal sentir ciúme, compara tal normalidade
com outros sentimentos, como o sentir medo, raiva, inveja, alegria, saudade. Contudo apesar
de ser normal, deve-se considerar sua origem, sua intensidade, duração e a forma que a pessoa
que o sente se comporta, a importância que ele assume no seu cotidiano e como afeta a pessoa
que convive com ele.
O ciúme patológico é um dos principais fatores que motivam casos de violência
doméstica, e em outros contextos de agressão, discórdia, separações e até mesmo de homicídios
passionais. O ciúme é uma queixa constante no contexto clínico, tornando-se necessário discutir
sobre aspectos importantes que norteam a atuação do profissional Psicólogo quando se
encontrar diante dessa queixa. Além de também poder contribuir para o tratamento terapêutico,
possibilitando a prevenção de suas consequências.
O ciúme é um sentimento cognitivo, comportamental que abrande uma grande
dimensão. Pode ser uma resposta emocional e interpessoal destrutiva e frequentemente
perigosa. Tem sido uma problemática muito discutida e na atualidade levado a sério, a despeito
da importância do ciúme como uma dificuldade para os casais, a demanda tem crescido pela
procura de um tratamento, e é nesse contexto que entra a Terapia Cognitiva Comportamental.
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Segundo Ballone (2010) o ciúme é definido na maioria dos textos, como um sentimento
fisiológico, natural e marcado pelo medo real ou imaginário de perder o objeto de desejo ou o
relacionamento, é o medo de deixar de representar para a outra pessoa aquilo que se deseja
representar. Quando se pretende representar tudo na vida para a outra pessoa, não dando mais
espaço em sua vida para outras coisas, a possibilidade de se frustrar é enorme, o ciúme será
proporcional as suas pretensões.
Para o autor ciúme é uma atitude emocional protetora e defensiva de si mesmo, é um
método preventivo de não se perder a pessoa desejada, preservando-se, assim previne-se perder
o relacionamento. Com o objetivo de aliviar a frustração o sentimento de ciúme motiva
comportamentos impulsivos, quanto mais bizarro for esse impulso mais anormal é o ciúme. O
que diferencia os casos do ciúme normal para os não normais, é a consequência que ele acarreta
em sofrimento, quanto mais resulta em sofrimento, em atitudes bizarras, mais distante fica de
ser normal.
Segundo Ballone (2010) há três tipos de ciúme não normal: exagerado, obsessivo e
patológico. O ciúme que faz parte do grupo de emoções e sentimentos que trazem sofrimento,
dor e que escraviza tanto o ciumento como o objeto do ciúme é o ciúme não normal.
No ciúme normal segundo Ballone (2010) o motivo para se sentir ciúmes é concreto e
real, a reação do sujeito é proporcional ao motivo que o desencadeou e não se prolonga por
muito tempo, a duração do episódio tem começo e fim, relacionando-se diretamente com a
situação que o desencadeou. No ciúme exagerado o motivo que o desencadeia tanto pode ser
concreta como ás vezes fantasiosa, tendo sua reação moderadamente desproporcional ao
motivo, o ciumento exagerado leva um pouco mais de tempo para se recuperar do motivo que
o fez sentir ciúmes, mas se recupera, enquanto que o ciumento patológico fantasia seu ciúme,
não precisando de motivo para senti-lo e tem recaídas constantes.
A expressão ciúme patológico designa na maioria das vezes, mais um sintoma de
alguma outra patologia psíquica do que de uma doença em si. Conhecido também como
síndrome de Otelo, referindo-se a peça Otelo, escrita por William Shakespeare em 1694, que
mostra o lado obscuro do ciúme patológico capaz de produzir pensamentos irracionais e
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[...] uma perturbação total, um transtorno afetivo grave. O ciumento sofre em seu
amor: em sua confiança, em sua tranquilidade, em seu amor próprio, em seu espírito
de dominação e em seu espírito de posse. O ciúme corrói-lhe o sentimento em sua
base e destrói, com uma raiva furiosa, suas próprias raízes. Propicia a invasão da
dúvida que perturba a alma, fazendo com que ame e odeie ao mesmo tempo, a pessoa
objeto de sua afeição. O maior sofrimento do ciumento é a incerteza em que vive, pela
impossibilidade de saber, com segurança, se o (a) parceiro (a) o engana ou não.
Ruge e Lenson (2006) versam ainda sobre a polêmica “tendência a ser traído” dizendo
que: “[...] existem poucas dúvidas de que certas pessoas, por um conjunto complexo de razões,
tendem a ser atormentadas por atos semelhantes de traição de relacionamento para
relacionamento” (p. 52).
Os autores acima sugerem ainda que a presença do ciúme obsessivo num
relacionamento seja recorrente, ou seja, existem inúmeros motivos para se esperar que em
relacionamentos subsequentes a tormenta do ciúme se faça presente, independentemente das
diferentes circunstâncias em que estes relacionamentos ocorram, o ciumento sempre encontrará
motivos para sentir ciúmes.
Segundo Ballone (2010, p. 96) o ciúme tem cura e quando não tem, pode-se controla-
lo. O objetivo do tratamento psicológico e psiquiátrico visa o equilíbrio e não a eliminação dos
sentimentos; visa à administração dos excessos emocionais. A pessoa deve procurar controlar
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a força e a duração do ciúme, controlando o ciúme a pessoa terá a chave do bem-estar físico e
emocional.
Para se ter êxito na terapia faz-se necessário uma consciência do paciente sobre o seu
problema, é preciso que ele admita para si mesmo que está doente e, assim poder proporcionar-
se a cura.
A partir do momento que o paciente admite seu problema, admite que a dor e o
sofrimento que sente são causados pelo ciúme, e que tal ciúme não tem fundamento, são frutos
de sua imaginação, fica mais fácil trabalhar suas crenças, corrigir seus pensamentos
perturbadores.
Ballone (2010, p. 97) relata sobre o controle do ciúme, caso não haja:
O foco do tratamento segundo Ballone (2010), em grande número de casos, recai sobre
a autoestima. A autoestima satisfatória aumenta a capacidade de separar o emocional do
racional, tornando mais fácil encontrar soluções para os problemas, tanto intelectuais quanto
pessoais. As pessoas com a autoestima rebaixada têm mais dificuldades em tomar decisões, não
possuem autonomia.
A psicoterapia tem como objetivo tornar a pessoa consciente de seus sentimentos e agir
para mudá-los, quando for o caso. Essa atitude, sem dúvida, será indispensável para o controle
dos impulsos gerados pelo ciúme.
De acordo com Ballone (2010) uma das maneiras de intervir é agir no início da crise de
ciúme. A reavaliação dos pensamentos que disparou a reação do ciúme determina um dos
primeiros passos da psicoterapia. A terapia comportamental tem sido eficiente para disciplinar
as atitudes diante da situação geradora do ciúme. A psicoterapia também deve buscar um
reforço da autoestima e valorização da autoimagem da pessoa ciumenta.
Ballone (2010) fala sobre a importante da pessoa ciumenta não aceitar passivamente
seus pensamentos imaginários do ciúme. É preciso buscar sempre reconhecer conclusões
emocionais e questioná-las quando surgirem diante de determinadas situações geradoras de
ciúme. Segundo o autor é uma experiência muito importante melhorada pela psicoterapia e
capaz de minimizar o ciúme exagerado que põe em risco um relacionamento.
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Segundo Ballone (2010), a pessoa obsessivamente apaixonada acredita que não pode
viver ou existir sem a outra pessoa, crê que somente ela dá sentido a sua vida. Segundo o autor
as vivencias traumáticas da separação não desejada geram mágoas e reforçam crenças
generalizadas de abandono, traição e perda. A pessoa que tenha sofrido uma traição, por
exemplo, pode desenvolver crenças que a tornem ciumenta, desconfiada.
[...] é valiosa nos casos de ciúme não normal. Exceto nos casos de ciúme delirante, o
ciumento exagerado e obsessivo tem crítica de seus sentimentos perturbadores e pode
ser capaz de aprender a lidar com eles. Para esses casos, em que além da crítica existe
incômodo com os sentimentos, fala-se em transtorno egodistônico. Diz-se que seu
transtorno é egossintônico (em sintonia com o ego), e para elas a psicoterapia não é
indicada.
Exemplificando o que o autor quer dizer é que a pessoa egodistônica se perturba com
seus pensamentos, impulsos, atitudes, seu comportamento o incomoda, não está satisfeito com
seu jeito de ser, enquanto a pessoa egossintônica é o oposto, está em sintonia com seu ego, está
de acordo com seu jeito de ser.
Segundo Ballone (2010) é muito mais difícil convencer uma pessoa egossintônica a
fazer um tratamento, uma vez em que ela acredita ter sempre razão em suas suspeitas e que o
problema está nas pessoas que não o compreendem. Já a pessoa egossintônica é sensível à ideia
do tratamento e, não raras vezes, até procura ajuda especializada.
É sempre bom conscientizar as pessoas ciumentas sobre os modernos recursos que a
medicina coloca à disposição da qualidade de vida. Segundo o autor até pouco tempo, a
abordagem terapêutica do ciúme patológico era complexa e pouco eficiente. O tratamento
combinava uma série de intervenções, como controle de raiva e da violência, treino de
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Método
Resultados e discussão
Conclusão
Referências
Almeida, T.; Rodrigues, K.R.B. & Silva, A.A. (2008). O ciúme romântico e os relacionamentos
amorosos heterossexuais contemporâneos. Estudos de Psicologia, 13(1), 83-90.
Ballone, G.J. (2010). Histórias de ciúme patológico: identificação e tratamento. SP. Manole.
Bottura Junior, W. (2003). Ciúme: entre o amor e a loucura. São Paulo: República Literária.
Cavalcante, A. M. (1997). O ciúme patológico. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos.
Ruge, K. & Lenson, B. (2006). A síndrome de Otelo. Tradução Claudia Gerpe Duarte. Rio de
Janeiro: BestSeller.
Vergara, S.C. (2011). Projetos e relatórios de Pesquisa em Administração (12 ed.). São Paulo:
Atlas.