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Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Escola de Ciências Sociais e da Saúde


Curso de Psicologia

A história da luta antimanicomin

Turma: A02
Julia Paschoal Fernandes de Paiva
Laura Rúbia Duarte Guimarães
Nathalia Andrade

Professora: Paula Virgínia Oliveira Elias

Goiânia, 2022
Após a realização da entrevista, foi possível entrar em contato com o
Transtorno da Personalidade Histriônica e obter informações relevantes sobre a sua
funcionalidade patológica. Por esse motivo, com a finalidade de compreender o
transtorno em sua totalidade, serão abordados os seguintes critérios: aspectos
clínicos; sintomas de uma pessoa com TPH; causas do TPH; diagnóstico do TPH;
tratamento do TPH; comorbidades em pacientes com TPH; consequência do
paciente com TPH.
Primeiramente, é imprescindível entender os conceitos referentes aos
distúrbios de personalidade. Alguns autores partem de uma definição de Jaspers
que concede a esses distúrbios um caráter fixo, que não se desenvolve em fases,
mas possuem sintomas que fazem parte do indivíduo. A personalidade é definida
como sendo o resultado da observação do comportamento de um indivíduo,
envolvendo seu desempenho afetivo, volitivo, cognitivo etc. Além disso, os traços de
personalidade, frequentemente predispõem ao desenvolvimento de desordens
psiquiátricas. Nesse caso, o problema não é a personalidade, pois ela apenas
contribuiu para o desenvolvimento da perturbação apresentada. Para Kaplan,
Sadock e Grebbs 1997 (citados por Marina Vieira Madeira Robazzi, 2017), os
transtornos de personalidade dizem respeito a alterações nesses traços, que se
configuram como mal adaptados ou inflexíveis, de modo a comprometer o
funcionamento do indivíduo ou provocar sofrimento significativo para ele, o que
acarreta prejuízos quanto a percepção do ambiente e de si mesmo.
1.1 Transtorno da Personalidade Histriônica: Aspectos Clínicos

Segundo a versão mais atualizada do Manual Diagnóstico e Estatístico de


Transtorno Mentais (DSM-5), o diagnóstico dos transtornos de personalidade é
caracterizado dentro de uma perspectiva dimensional, que separam as diferentes
síndromes clínicas em três grupos, de acordo com características mais parecidas e
relevantes entre os diferentes transtornos. O grupo A diz respeito à categoria
“esquisito-excêntrica”, o grupo B se refere à “dramático-emotivo” e o grupo C à
“ansioso-medroso”. Dentro dessa classificação, o Transtorno de Personalidade
Histriônica encontra-se no grupo B. Os critérios diagnósticos baseiam-se em uma
emocionalidade intensa e difusa, uma excessiva busca de atenção que envolve
comportamentos sexualmente sedutores, autodramatização, teatralidade, entre
outras características. Nas pessoas com o seguinte transtorno, os relacionamentos
interpessoais geralmente se mostram superficiais e conturbados, com uma
tendência à manipulação do outro e baixa tolerância à frustração. Segundo o DSM
5, existe um risco elevado de que esses indivíduos recorram ao suicídio, enquanto
ameaça ou mesmo tentativa, provavelmente com a intenção de obter mais atenção
e cuidados.

1.2 Sintomas: como identificar uma pessoa com TPH

Pacientes com transtorno de personalidade histriônica exigem continuamente


que sejam o centro das atenções e muitas vezes ficam deprimidos quando não são.
Eles são muitas vezes altamente dramáticos, entusiastas e paqueradores, tentando
na maioria das vezes encantar novas pessoas. Esses pacientes muitas vezes se
vestem e agem de forma inadequadamente sedutora e provocante, não apenas com
interesses românticos, mas também em contextos trabalhistas, escolares, cotidianos
etc. Eles querem impressionar os outros com sua aparência e muitas vezes ficam
preocupados com a forma como parecem. Expressão da emoção pode ser
superficial (desligada e ligada muito rapidamente), sendo bastante exagerada. Eles
falam de forma dramática, expressando opiniões fortes, mas com poucos fatos e
detalhes que defendem suas opiniões.

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Esses pacientes são facilmente influenciados por outros e pelas tendências
momentâneas. Eles acabam confiando muito nos outros, especialmente em figuras
de autoridade, pois pensam que elas são capazes de resolver seus problemas. Eles
frequentemente acham que os relacionamentos são mais próximos do que eles são.
Eles anseiam por novidades e tendem a se aborrecer facilmente. Assim, eles podem
trocar de emprego e amigos com frequência. Gratificação adiada é muito frustrante
para eles, então suas ações são muitas vezes motivadas pela obtenção de
satisfação imediata. Alcançar intimidade emocional ou sexual pode ser difícil. Os
pacientes podem, muitas vezes sem ter ciência disso, desempenhar um papel de
vítima. Eles podem tentar controlar seus parceiros usando sedução ou
manipulações emocionais e, ao mesmo tempo, tornarem-se muito dependentes do
parceiro (Manuais MSD; versão para profissionais de saúde).
Para o diagnóstico do transtorno de personalidade histriônica, de acordo com
o DSM-5, os pacientes devem ter:

1) Padrão generalizado de excessiva emocionalidade e busca de


atenção.
Esse padrão se caracteriza por no mínimo 5 dos seguintes sintomas:
2) Desconforto quando eles não são o centro das atenções.
3) Interação com os outros que é inadequadamente sedutora ou
provocativa sexualmente.
4) Mudança rápida e expressão superficial das emoções.
5) Uso consistente da aparência física para chamar a atenção para eles
esmos.
6) Discurso que é extremamente impressionista e vago
7) Autodramatização, teatralidade e expressão extravagante das
emoções.
8) Sugestionabilidade (facilmente influenciados por outras pessoas ou
situações).
9) Interpretação dos relacionamentos como mais íntimos do que são.

Além disso, os sintomas devem ter ocorrido no início da idade adulta.

1.3 - Causas do TPH

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A causa do TPH não é definida, porém, em sua grande maioria, há relatos de
trauma psíquico, muitas vezes na infância (Arruda, Trillo, Correia, Sila e Palma,
2017). Também pode decorrer de um histórico de aprendizagem ao longo da vida,
devido à reforçadores de mau comportamento ou ausência de atenção parental, por
exemplo.
Segundo a CID10, para preencher o critério, o exame médico e a investigação
não devem revelar a presença de qualquer perturbação física ou neurológica
conhecida. Deve haver evidências de que a perda de função é uma expressão de
conflitos ou necessidades emocionais. Os sintomas podem desenvolver-se em
estreita relação com o estresse psicológico e muitas vezes aparecem
repentinamente (CID-10).

1.4 – Diagnóstico do TPH

De acordo com o DSM-5, deve-se preencher pelo menos cinco dos oito
critérios avaliados para o critério de Transtorno da Personalidade Histriônica, sendo
eles:
1. Desconforto em situações em que não é o centro das atenções.
2. A interação com os outros é frequentemente caracterizada por
comportamento sexualmente sedutor inadequado ou provocativo.
3. Exibe mudanças rápidas e expressão superficial das emoções.
4. Usa reiteradamente a aparência física para atrair a atenção para si.
5. Tem um estilo de discurso que é excessivamente impressionista e carente
de detalhes.
6. Mostra auto dramatização, teatralidade e expressão exagerada das
emoções.
7. É sugestionável (i.e., facilmente influenciado pelos outros ou pelas
circunstâncias).
8. Considera as relações pessoais mais íntimas do que na realidade são.

Embora a característica principal do TPH seja o comportamento


inadequadamente sedutor e provocante, esse transtorno apresenta algumas
características em comum com outros transtornos da personalidade, denotando

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assim diagnósticos diferenciais. Dessa forma, o TPH pode ser confundido com
narcisista e dependente, visto que ambos buscam atenção, admiração, aprovação e
apoio dos outros (American Psychiatric Association, 2013). O transtorno da
personalidade borderline tem em comum com o TPH comportamentos
manipuladores e de busca de atenção, bem como emoções que mudam
rapidamente. Por fim, TPH e transtorno de personalidade antissocial dividem a
característica de serem manipuladores, sedutores, impulsivos e apresentam
comportamentos de busca de novidade e excitação.
É importante ressaltar que o diagnóstico da personalidade histriônica envolve
questões que vão além dos critérios clínicos. Considerando o fato de que a
prevalência desse transtorno é de 1,84% (National Epidemiologic Survey on Alcohol
and Related Conditions de 2001-2002), sendo com mais frequência diagnosticado
no sexo feminino, aspectos de cultura também devem ser considerados.
É importante avaliar se as características de TPE apresentadas em um
indivíduo (emocionalidade, sedução, estilo interpessoal dramático, busca por
novidades, sociabilidade, charme, impressionabilidade, tendência à somatização)
são clinicamente prejudiciais, uma vez que essas características podem variar de
uma cultura para outra ou pode ser prevalente em determinada faixa etária ou
gênero. Analisando a interferência desses fatores é possível que o diagnóstico de
TPH seja descartado.

1.5 – Principais Metas do Tratamento

A definição de metas é um requisito extremamente importante para uma


intervenção bem-sucedida. É crucial que as metas sejam específicas, concretas,
compreensíveis e aceitáveis para o paciente. Sendo que, o objetivo fundamental
para pacientes com TPH é aumentar seu senso de segurança emocional e
fortalecer o esquema adulto saudável. Existem diversas metas que podem fazer
parte da formulação de caso, dependendo das necessidades individuais do
paciente. Elas incluem as seguintes:
1. Aumentar a consciência e as habilidades de regulação para melhorar a
tolerância à frustração e permitir o aprendizado de novos comportamentos
desconfortáveis, porém saudáveis. A segunda parte dessa meta é o paciente usar

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essas habilidades para reduzir a ocorrência de exibição dramática ou outro
comportamento agressivo.
2. Testar temores sobre rejeição, tornando menos catastróficas as ideias
extremas sobre o significado de desaprovação ou perda de atenção. Sensibilidade a
esses medos pode ser reduzida separando-se a ideia do “eu” do comportamento ao
interpretar resultados, de modo que qualquer crítica seja vinculada a ações ou
situações transitórias ou mutáveis, e não personalizadas como uma medida do valor
pessoal. Também é importante construir confiança para enfrentar experiências
realistas de crítica e rejeição por meio da defesa assertiva de si mesmo (Padesky,
1997).
3. Melhorar as habilidades comunicativas e sociais, incluindo construir
empatia pelos outros e aprender modos alternativos de ligar-se aos demais de
maneira mais direta sem dramatização ou atuação sexual. Um componente
importante dessa meta é melhorar a capacidade do paciente para escutar e receber
dados dos outros e integrar essas informações, em vez de basear-se
exclusivamente em seu senso interno de satisfação mediante a atenção imediata e
intensiva das outras pessoas. Isso inclui as habilidades específicas da escuta ativa
e a tomada de uma perspectiva diferente, bem como ser um bom membro da
plateia, em vez de assumir o centro do cenário.
4. Aumentar a autossuficiência, as habilidades de resolução de problemas e o
senso de identidade com menos dependência da atenção dos outros. (Aaron T.
Beck, Denise D. Davis e Arthur Freeman, 2017)

1.7 – Comorbidades em Pacientes com TPH

É fundamental que haja uma avaliação psicológica de excelência, para


identificar se uma pessoa possui somente alguns traços deste transtorno de
personalidade ou se, de fato, é portadora desta condição. Indivíduos com outros
transtornos de personalidade, como, por exemplo, transtorno de personalidade
antissocial, borderline ou narcisista, têm mais chance de ter TPH. Outros
transtornos que podem coexistir com o TPH são a depressão, distimia, transtorno de
sintoma somático e transtorno de conversão.
O diagnóstico desta condição é feito através da identificação de, pelo menos,
cinco sintomas e do surgimento no início da vida adulta. Acima de tudo, o indivíduo

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deve apresentar um padrão generalizado de excessiva emocionalidade. Por esse
motivo é fundamental que seja feita uma boa avaliação. Prova disso é justamente os
pontos de diferenciação do TPH em relação a outros transtornos de personalidade.
Por exemplo, indivíduos com TPN também buscam atenção, porém, eles
precisam se sentir enaltecidos e admirados. Já os indivíduos com TPH não fazem
distinção do tipo ou da qualidade da atenção recebida. Já indivíduos com TPB, se
consideram maus e sentem emoções de modo intenso. Os indivíduos com TPH não
se veem como pessoas más, embora dependam da aceitação de terceiros para
formar uma opinião sobre si mesmos.
Por fim, pacientes com TPD, como aqueles que possuem TPH, tentam criar
laços afetivos com outras pessoas ou participar de momentos sociais. Porém,
diferente de quem possui TPH, eles são inibidos e receosos.

1.8 - Consequências do TPH para o paciente

De acordo com a American Psychiatric Association (2014), DSM-5 - Manual


Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, é importante acentuar que o
paciente com TPH pode sofrer uma grande variedade de prejuízos caso o transtorno
não seja adequadamente tratado. Dentre elas, estão:

1. Dificuldades em desenvolver intimidade nos relacionamentos;


2. Tendência a desempenhar papéis nos relacionamentos, como o papel
de “vítima” ou de “princesa”;
3. Tendência a tentar controlar o parceiro por meio da manipulação
emocional e a sedução;
4. Dependência emocional do parceiro;
5. Dificuldades em manter amizades com pessoas comprometidas por
conta do comportamento sexualmente provocativo;
6. Afastamento dos amigos por causa da exigência constante de
atenção;
7. Busca pela satisfação imediata acompanhada de frustração em
situações que envolvem o atraso da gratificação;
8. Relacionamentos antigos podem sofrer negligência por conta da
prioridade que a pessoa dá aos novos relacionamentos;

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9. Tendência a iniciar projetos com muito entusiasmo, mas perde o
interesse com facilidade.

Considerações Finais

Em suma, fica evidente que a terapia cognitiva para TPH exige empatia,
flexibilidade, aceitação, criatividade e paciência por parte do profissional. Além
disso, são necessários outros estudos empíricos para testar a conceitualização
apresentada nesses materiais de pesquisa e esclarecer os componentes de um
tratamento bem-sucedido para TPH.

Referências

● American Psychiatric Association (2014). DSM-5 – Manual Diagnóstico e


Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed.

● Aaron T. Beck, Denise D.Davis, Arthur Freeman. Terapia Cognitiva dos


Transtorno Comportamentais. São Paulo: artmed, 2017.

● Mazer AK, Macedo BBD, Juruena MF. Transtornos da personalidade.


Medicina (Ribeirão Preto) [Internet]. 4 de fevereiro de 2017 [citado 30 de
novembro de 2022].

● Arruda, M. G., Trillo, A. S. P., Correia, V. P., Silva, A. R. da, & Palma, S. M.
M. (2017). Transtorno de personalidade histriônica e transtorno conversivo:
relato de caso em adolescente. Debates Em Psiquiatria.
https://doi.org/10.25118/2236-918X-7-3-6

● Transtorno de personalidade histriônica: O que é? Como identificar?


Instituto de Psiquiatria no Paraná
https://institutodepsiquiatriapr.com.br/blog/transtorno-de-personalidade-
histrionica-o-que-e-como-identificar/

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