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21/09/2021

PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO


Curso de Direito / FADIR / UFMS
Prof. Sandra M. F. de Amorim
Curso de Psicologia / FACH / UFMS

2021.2

 A SIMULAÇÃO é um fenômeno universal, existente desde os


primórdios dos tempos. Ao contrário do que se imagina, não se trata
de um resultado do processo evolutivo das civilizações.
 Tema inesgotável tem sido objeto de estudo de juristas, médicos,
historiadores e filósofos, desde a Antiguidade e ainda, mais
recentemente, é tema para estudiosos, da Psicologia.
 Conteúdos da literatura, mitologia, dados históricos, relatos
bíblicos, teatro grego, teatro romano, etc. comprovam a presença da
SIMULAÇÃO de diferentes formas.
 Estudiosos sobre o tema afirmam que todos simulam, segundo os
próprios interesses. É, portanto, um tema de abrangência em todos
os segmentos do comportamento humano.

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 SIMULAÇÃO – extrapola definições de dicionários

 SIMULAÇÃO MENTIRA IMITAÇÃO


 SIMULAÇÃO - para obter vantagens (nexo do objetivo da
mentira em lucro próprio) SIMULAÇÃO PATOLÓGICA - na
qual falta uma relação entre objetivo do mentiroso e a criação
mentirosa.
 Todos nós simulamos de uma forma ou de outra, enquanto
vivemos, na dialética do ser e do parecer, em um cenário de
mentira socialmente organizada (p.215).

 SIMULAÇÃO COMO FRAUDE CLÍNICA – imitar, agravar ou


criar intencionalmente sintomas patológicos com finalidade
especulativa (Bonet, 1990) ;
 “Processo psicomotor voluntário capaz de criar ou alterar
sintomas patológicos visando obter vantagens pessoais, as
quais não teriam acesso sem fraude” (Vasquez);
 Para Ingenieros (1925) “simular é adotar os caracteres
exteriores e visíveis daquele que se imita, a fim de confundir-
se com o simulado”.

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 PRÉ-SIMULAÇÃO ou SIMULAÇÃO ANTERIOR - o simulador monta um


esquema, com objetivo de ser estigmatizado como doente mental, meses ou até
anos, antes de cometer o crime.
 SUPERSIMULAÇÃO ou PARASSIMULAÇÃO – exagero dos sintomas por um
portador de transtorno mental ou copia os sintomas de outros transtornos (ocorre
não apenas em psicopáticos).
 METASIMULAÇÃO OU SIMULAÇÃO RESIDUAL – mesmo recuperado, o sujeito
simula ainda estar doente para obter vantagens.
---
 DISSIMULAÇÃO – contrário da simulação; esconde, omite sintomas e patologias;
busca auferir alta médica ou diminuição da vigilância.
---
 SINTOMAS DE CONVERSÃO (histeria) SIMULAÇÃO
 REAÇÕES DE RECLUSÃO: estado psicogênico de agitação ou fraqueza mental

 Rovinski (2000) alerta que na pericia psicológica jurídica podem ocorrer os


fenômenos de simulação e dissimulação. Estes ocorrem em razão do
sujeito obter o resultado que deseja, ou seja, ter vantagens.
 A SIMULAÇÃO e a DISSIMULAÇÃO fundamentam-se na distorção dos
dados produzidos pelos periciados.
 A SIMULAÇÃO é a tentativa de criar, apresentar voluntariamente sintomas,
sinais ou vivências que não existem, estando sempre relacionada a um
incentivo externo (por ex. aposentadoria, dispensa do trabalho, etc.).
 A DISSIMULAÇÃO ocorre quando se procura não demonstrar, esconder,
negar voluntariamente ou amenizar os sintomas que realmente existem e
está relacionada com a tentativa de evitar uma privação de
direitos.(Dalgalarrondo, 2006).

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 MESOLÓGICOS ASTUTOS Pelo efeito do meio social, intensificam a


SERVIS simulação; buscam adaptação ao meio.

 CONGÊNITOS BURLÕES Fator orgânico (discutível);


REFRATÁRIOS simula desinteressadamente;
a simulação é o “fim” da sua conduta.

 PATOLÓGICOS SUGESTIONADOS anomalia do funcionamento


“PSICOPATAS” mental que acarreta uma perda
do sentido de adaptação ao meio
(maior desafio do diagnóstico
médico e psicológico)

FANFARRÃO – exaltação pessoal, em geral, inofensivos.


GABAROLA CHARLATÃO - mente com objetivo de auferir lucros
colocar-se em destaque BURLÃO – mórbido, mais pernicioso, é um degenerado
“MENTIRA”
PATOLÓGICA MITÔMANO VAIDOSO – visa impressionar
adultera fatos com tendência LUCRATIVO – iludir a vitima para auferir lucro
à grandiosidade MALIGNO – perfil criminoso
HISTÉRICO – “histéricas” grandes dissimuladoras
(atenção!)

PATOLÓGICOS CONFABULADOR – sem lucro, sem premeditação


relacionados à transtornos mentais DELIRANTE– MELANCÓLICO, MANÍACO,
PARANÓICO, MITOMANIA DOS HISTÉRICOS –
INCONSCIENTE, CONSCIENTE
(ICS QUE SE TORNA CS)

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 Grave, o transtorno factício consiste em um quadro patológico no qual o


paciente simula ou provoca, intencionalmente, qualquer tipo de sinal ou
sintoma físico ou psicológico, sem que exista uma vantagem para tal atitude,
exceto pela obtenção de atenção e cuidados médicos.
 O que diferencia o transtorno factício da simulação é o fato de, nesta, a
motivação para assumir o papel de doente sempre inclui algum tipo de
incentivo ou recompensa externa, como obter aposentadoria ou benefícios de
órgãos de assistência social, ou evitar a punição por algum crime ou ato ilegal
cometido.
 Transtorno factício, diferentemente da simulação, é um transtorno mental.
 CID F 68.1 – TRANSTORNO FACTÍCIO
Subtipos – com sinais e sintomas predominantemente psicológicos; com
sinais e sintomas predominantemente físicos; com sinais e sintomas
psicológicos e físicos combinados; sem outra especificação).

CONTROLE MOTIVO

TRASTORNO VOLUNTÁRIO INCONSCIENTE


FACTÍCIO
SIMULAÇÃO VOLUNTÁRIO CONSCIENTE

SOMATOFORME INVOLUNTÁRIO INCONSCIENTE

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 A complexidade das situações apresentadas reafirma a posição de


que as ações dos peritos devem ser pautadas em procedimentos,
métodos e técnicas científicos e referendados por sólidas
pesquisas.
 Cabe à perÍcia a tarefa de diagnosticar a capacidade mental de todo
periciando e estabelecer se está em capacidade de entendimento e
de autodeterminação, no momento do fato que originou o processo
jurídico.
 Destaca-se ainda que, o rigor exigido nesse campo, está
relacionado também com a ocorrência de possíveis situações de
simulação ou dissimulação dentro dos processos avaliativos.
 No caso da Psicologia, por ex., a utilização de instrumentos
projetivos possibilita o acesso a informações de forma indireta e
consistente.

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 Testes projetivos são um método bastante apropriado para se obter dados a


respeito das características de personalidade de um periciando, pois as
possibilidades de simulação ou dissimulação de características apresentam-se
mais reduzidas quando comparadas às entrevistas ou aos testes de personalidades
objetivos. Serão as coerências ou incoerências entre os fatos relatados nos autos do
processo, nas entrevistas, no comportamento não verbal do examinando e nos
resultados dos testes psicológicos que nortearão o psicólogo na análise de
questões relacionadas à simulação ou dissimulação. (JUNG, 2014).
 Para Taborda (2004) em uma perícia psicológica, podem ocorrer fenômenos como
a simulação, uma vez que o avaliando poderá omitir dados que possam prejudicá-
lo e incrementar informações que julga serem relevantes para ajudá-lo na
avaliação.
 Nestes casos, conforme o autor, “o perito deverá estar atento a essa possibilidade
e buscar confirmar por fontes colaterais (entrevista com terceiros, exame de
documentos e prova técnica carreada aos autos) a fidedignidade do que é
afirmado” (p. 63) pelo periciando.

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 No século XIX a expressão “psicopata” era utilizada pela literatura médica


generalizando o termo a todos os doentes mentais.
 A separação e diferenciação do termo psicopatia e doenças mentais
começaram a aparecer na Alemanha no século XIX quando a psiquiatria
germânica vinculou a psicopatia aos conceitos de “personalidade” e
“constituição”.
 Na segunda metade do século XX, após a segunda guerra mundial a
psicanálise e a fenomenologia permearam uma significativa influência sob o
campo psiquiátrico ocidental.
 A partir daí o conceito de psicopatia se interligou completamente com o termo
antissocial e esta ligação desde então passou a predominar.
 Os estudos indicam que a psicopatia se manifesta numa série de condutas que
são resultado de fatores biológicos e da personalidade, relacionados com uma
série de antecedentes familiares e outros fatores ambientais.

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 Devido às várias influências, destaca-se a complexidade que reveste a


definição de psicopatia. Louco? Criminoso? Serial killer?
 Diferentes designações acabaram gerando limitações no enquadramento
conceitual e avaliativo desta perturbação grave da personalidade.:
 Transtornos do caráter (Milon, 1981);
 Transtornos da personalidade antisocial (Associação de Psiquiatria Americana – APA,
1980);
 Transtornos da personalidade dissocial (Organização Mundial da Saúde, 1965;
 Sociopatia (Partridge, 1930) .

A evolução da definição do conceito pode ser dividida em dois grandes


momentos:
 1941-1976 – Cleckley – pioneiro no estudo da psicopatia dentro da psiquiatria anglo-
saxônica;
 A partir de1952 – desenvolvimento dos sistemas de classificação dos transtornos
mentais.

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 1809 – Pinel – “mania sem delírio” (ações atípicas e agressivas);


 1812 – Rush – defeito congênito (mas não identificou);
 1835 – Pritchard – insanidade moral (primeiro a reconhecer a influência do meio);
 1888 – Koch – “inferioridade psicopática” (anomalia de caráter, com ênfase em
aspectos congênitos);
 Entre 1896 e 1915 – Kraepelin – introduziu o termo “personalidade psicopática”
(procurava descrever indivíduos com indicadores de comportamento criminal anormal
ou imoral;
 Entre 1923 e 1955 – Schneider - classificou as personalidades psicopáticas em
categorias distintas: (1) Hipertímicos; (2) Depressivos; (3) Inseguros; (4) Fanáticos; (5)
Carentes de valor; (6) Lábeis de humor; (7) Explosivos; (8) Apáticos; (9) Abúlicos; (10)
Asténicos. Apesar desta tipologia, chamou atenção para a identificação de diversas
combinações com gradações diferentes.

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 1941 – considerado referência nos estudos da psicopatia, em seu livro “A máscara da sanidade”,
Cleckley apontou características principais para identificar um psicopata:

(1) Encanto superficial e boa inteligência;


(2) Inexistência de alucinações ou de outras manifestações de pensamento irracional;
(3) Ausência de nervosismo ou de manifestações neuróticas;
(4) Ser indigno de confiança;
(5) Ser mentiroso e insincero;
(6) Egocentrismo patológico e incapacidade para amar;
(7) Pobreza geral nas principais relações afetivas;
(8) Vida sexual impessoal, trivial e pouco integrada;
(9) Ausência de sentimentos de culpa ou de vergonha;
(10) Perda específica da intuição;
(11) Incapacidade para seguir qualquer plano de vida;
(12) Ameaças de suicídio raramente cumpridas;
(13) Raciocínio pobre e incapacidade para aprender com a experiência;
(14) Comportamento fantasioso e pouco recomendável com ou sem ingestão de bebidas
alcoólicas;
(15) Incapacidade para responder na generalidade das relações interpessoais;
(16) Exibição de comportamentos antissociais sem escrúpulos aparentes.

 Para ele, a principal característica do psicopata é a deficiente resposta afetiva face aos outros, o
que explicaria a forte relação com as condutas antissociais.

 Seus estudos são a base das definições mais recentes na vertente clínica do conceito.

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 1964 – McCord & McCord - A psicopatia estaria relacionada com a “incapacidade para
amar” e a “ausência de sentimentos de culpa”. Estas características estariam na base
dos comportamentos antissociais apresentados pelos indivíduos com este tipo de
perturbação. psicopatia estaria relacionada com a “incapacidade para amar” e a
“ausência de sentimentos de culpa”.
 Estas características estariam na base dos comportamentos antissociais apresentados
pelos indivíduos com este tipo de perturbação. Caracterizaram os psicopatas como
pessoas associais, agressivas, altamente impulsivas, egocêntricas, com baixo limiar de
tolerância à frustração e incapazes de manter laços afetivos com outros humanos. O
psicopata é assim descrito como possuindo uma personalidade desajustada e regulada
por desejos primitivos e por uma busca exagerada de sensações.
 1966 – Buss - descreveu a psicopatia de acordo com dois componentes distintos:
sintomas e traços da personalidade. Para ele, o psicopata é:
 (a) uma pessoa vazia e isolada;
 (b) não tem uma identidade basilar; e
 (c) não tem perspectiva de controle do tempo.

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 A psicopatia é uma forma de transtorno mental, porém sem os típicos sintomas das
psicoses, o que conferiria ao psicopata uma aparência de normalidade.
 O psicopata é capaz de mentir, simular, dissimular, trapacear, cometer crimes perversos
e chocantes sem apresentarem nenhuma culpa. Desrespeita direitos e desejos do outro,
agindo de maneira manipulativa com o único propósito de obter vantagem, seja no âmbito
financeiro ou social envolvendo sexo ou poder. Por apresentarem incapacidade de sentir
culpa ou remorso são capazes de manter frieza em situações que fariam qualquer outro
indivíduo se descontrolar (MORANA,2006).
 Todo e qualquer ato de um psicopata é minunciosamente arquitetado e calculado para a
obtenção da realização de seus objetivos e sendo assim, são indivíduos completamente
sedutores e cativantes, pois possuem a habilidade de conquistar a simpatia das pessoas ao
seu redor simulando afetos apropriados para cada situação (HENRIQUES,2009).
 Considerando as fases de desenvolvimento da personalidade, o diagnóstico desse
transtorno só pode ser atribuído a maiores de 18 anos, entretanto algumas características
podem ser percebidas na infância. Mentir, agir de formas agressivas com colegas de
escola ou irmãos, praticar atos ilícitos e maltratar animais são algumas destas
características.

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 No campo da psicologia, foram os estudos de Winnicott que deram uma nova


direção à compreensão psicanalítica dos comportamentos antissociais.
 Como vimos, Winnicott destaca a importância da qualidade das relações
precoces da criança com as figuras de cuidado (funções materna e paterna)
para o desenvolvimento saudável.
 No desenvolvimento da sua teoria sobre a tendência antissocial, seus estudos
comprovam que a privação afetiva precoce está no histórico de sujeitos
antissociais e delinquentes (WINNICOTT, 1987).
 Ele deixa claro que a “tendência antissocial” não é um diagnóstico e pode
ser encontrada em diferentes indivíduos e pode ou não ser expressa em uma
conduta mais ou menos desadaptada.
 Destacamos a relevância desses estudos para as ações de prevenção e
intervenção, especialmente daqueles sujeitos que ainda estão em
“formação”.
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 As classificações nosológicas das doenças mentais permitiram o desenvolvimento


de uma abordagem categorial no que se refere à definição de psicopatia.

 Os indicadores que são considerados nestas versões centram-se claramente em


aspectos relativos ao estilo de vida antissocial, e não em indicadores clínicos
(sintomas interpessoais e afetivos) (Hart, Cox, & Hare, 1995).

 DSM-V - Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ( Diagnostic


and Statistical Manual of Mental Disorders) , desenvolvido pela Associação
Americana de Psiquiatria.

 CID-10 - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas


Relacionados com a Saúde, desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde
(OMS).

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NOSOLOGIA – DSM-V
TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE DO GRUPO B - TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOCIAL
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS 301.7
A. Padrão invasivo de desconsideração e violação dos direitos das outras pessoas que ocorre desde os 15 anos de
idade, conforme indicado por três (ou mais) dos seguintes:
1. Fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a comportamentos legais, conforme indicado pela repetição
de atos que constituem motivos de detenção.
2. Tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras repetidas, uso de nomes falsos ou de trapaça para ganho
ou prazer pessoal.
3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro.
4. Irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas lutas corporais ou agressões físicas.
5. Descaso pela segurança de si ou de outros.
6. Irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha repetida em manter uma conduta consistente no
trabalho ou honrar obrigações financeiras.
7. Ausência de remorso, conforme indicado pela indiferença ou racionalização em relação a ter ferido, maltratado
ou roubado outras pessoas.
B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade.
C. Há evidências de transtorno da conduta com surgimento anterior aos 15 anos de idade.
D. A ocorrência de comportamento antissocial não se dá exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou
transtorno bipolar.

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NOSOLOGIA – DSM-V (APA, 2014)


TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE DO GRUPO B - TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOCIAL
CARACTERÍSTICAS DIAGNÓSTICAS 301.7

 A característica essencial do transtorno da personalidade antissocial é um padrão


difuso de indiferença e violação dos direitos dos outros, o qual surge na infância ou
no início da adolescência e continua na vida adulta. Esse padrão também já foi
referido como psicopatia, sociopatia ou transtorno da personalidade dissocial. Visto
que falsidade e manipulação são aspectos centrais do transtorno da personalidade
antissocial, pode ser especialmente útil integrar informações adquiridas por meio de
avaliações clínicas sistemáticas e informações coletadas de outras fontes colaterais.
Para que esse diagnóstico seja firmado, o indivíduo deve ter no mínimo 18 anos de
idade (Critério B) e deve ter apresentado alguns sintomas de transtorno da conduta
antes dos 15 anos (Critério C). O transtorno da conduta envolve um padrão repetitivo
e persistente de comportamento no qual os direitos básicos dos outros ou as
principais normas ou regras sociais apropriadas à idade são violados. Os
comportamentos específicos característicos do transtorno da conduta encaixam-se
em uma de quatro categorias: agressão a pessoas e animais, destruição de
propriedade, fraude ou roubo ou grave violação a regras. (...) (APA, 2014).

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 F60 – TRANSTORNOS ESPECIFICOS DE PERSONALIDADE


 F60.2 – TRANSTORNO DE PERSONALIDADE DISSOCIAL
 Transtorno de personalidade caracterizado por um desprezo das
obrigações sociais, falta de empatia para com os outros. Há um desvio
considerável entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas. O
comportamento não é facilmente modificado pelas experiências adversas,
inclusive pelas punições. Existe uma baixa tolerância à frustração e um
baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da violência. Existe
uma tendência a culpar os outros ou a fornecer racionalizações plausíveis
para explicar um comportamento que leva o sujeito a entrar em conflito
com a sociedade.
 Inclui: Personalidade amoral, dissocial, associal, psicopática, sociopática
Exclui: transtorno de conduta (F91.-), de personalidade do tipo
instabilidade emocional (F60.3)

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 F60 – TRANSTORNOS ESPECIFICOS DE PERSONALIDADE


 F60.2 – TRANSTORNO DE PERSONALIDADE DISSOCIAL
(a) Indiferença insensível pelos sentimentos alheios;
(b) Atitude flagrante e persistente de irresponsabilidade e desrespeito por
regras, normas e obrigações sociais;
(c) Incapacidade de manter relacionamentos, embora não haja dificuldade em
estabelecê-las;
(d) Muito baixa tolerância à frustração e um baixo limiar para descarga de
agressão, incluindo violência;
(e) Incapacidade de experimentar culpa e aprender com a experiência,
particularmente punição;
(f) Propensão marcante para culpar os outros ou para oferecer racionalizações
plausíveis para o comportamento que levou o paciente a conflito com a
sociedade.

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 Pessoa instável e emocionalmente imatura. As suas reações surgem simples e


provocadas por situações de frustração ou de algo que incomoda o psicopata. Não
experimentam ansiedade nem medo, as suas relações sociais e sexuais são
superficiais, as recompensas/castigos não têm qualquer efeito sobre o seu
comportamento imediato. Este autor refere, no entanto, que estes indivíduos, apesar
de serem simples nas suas reações emocionais, são capazes de simular estados
emocionais e afetos para com os outros sempre que isso lhes permita atingir os
objetivos que pretendem. (Karpman, 1961).
 Nesta linha de investigação podem ser igualmente consideradas as concepções de
psicopatia que possuem por base os estudos efetuados a partir de tratamentos
estatísticos, principalmente com recurso à análise fatorial. Estes estudos procuraram
identificar grupos (clusters) de traços de personalidade que permitissem definir os
vários tipos de personalidades psicopáticas. Os trabalhos desenvolvidos nesta linha
de investigação tiveram por base análise da história de vida dos indivíduos, rating
scales, questionários de auto-relato e inventários de personalidade

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 Jenkins – 1960 - Três tipos distintos de psicopatas: (1) “não socializado-agressivo”


era definido por tendências agressivas, crueldade, desafio à autoridade e
sentimentos inadequados de culpa; (2) definido por “sobre-ansioso”, caracterizava-
se por timidez, apatia, sensibilidade e submissão; (3) designado por “socializado”,
surge associado a grupos antissociais, com envolvimento em grupos com história
de roubo e ausências da escola e de casa
 Quay e colaboradores – 1971 - identificação de dois fatores que permitiram definir
a psicopatia: a delinquência psicopática, que integrava aspectos como fraca
moralidade, rebeldia, impulsividade, e ausência de laços familiares; e a
delinquência neurótica, que correspondia a tendências agressivas e impulsivas,
sentimentos de culpa, remorsos, tensão e depressão.
 Blackburn – 1971, 1975, 1986) - tipologia que subdividia os psicopatas em quatro
subgrupos: (1) psicopatas primários; (2) psicopatas secundários; (3) psicopatas
inibidos; (4) psicopatas conformados. Dados conformados pelos estudos de Lykken
(1995), Levenson, Kiehl, e Fitzpatrick (1995) e Ross, Lutz, e Bailley (2004).

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 Hare (1970) caracterizou o psicopata como alguém incapaz de mostrar empatia ou


preocupação genuína por outrem, que manipula e usa os outros para satisfazer os
seus próprios desejos. Estes indivíduos, segundo este autor, apresentam ainda uma
sinceridade superficial, que os torna capazes de convencer aqueles que usou e a
quem prejudicou, da sua inocência ou da sua motivação para mudar.
 Para ele, a psicopatia é um construto unidimensional composto por dois fatores
correlacionados: um associado aos aspectos clínicos (interpessoais e afetivos) que
definem este transtorno da personalidade e o outro mais associado aos aspectos
comportamentais que definem o termo de estilo de vida antissocial.
 A definição de psicopatia integra três facetas distintas, uma relativa a aspectos de
natureza interpessoal, outra relativa a aspectos afetivos e outra que considera
indicadores de natureza comportamental (Cleckley, 1941/1976; Cooke & Michie,
2001; Hare, 1991). Hare (2003) complementa com um quarto fator: que considera os
indicadores relativos ao comportamento antissocial.

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 A avaliação compreensiva da personalidade psicopática (Comprehensive


Assessment of Psychopathic Personality – CAPP) corresponde a um
modelo que define a psicopatia em cinco domínios:
(1) Domínio da vinculação, que avalia as dificuldades do psicopata em
estabelecer relações interpessoais;
(2) Domínio comportamental, que analisa os problemas relativos ao
planeamento e cumprimento das tarefas e responsabilidades;
(3) Domínio cognitivo, que reflete os problemas com a adaptabilidade e
flexibilidade mentais;
(4) Domínio da dominância, relacionado com questões de gestão do poder
e controlo;
(5) Domínio do Self, que define problemas relacionados com a identidade
e individualidade do psicopata. (Cook, Hart, Logan e Michie, 2004).

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 A psicopatia pode ser definida como um conjunto de características


ou traços de personalidade (CLECKLEY, 1951/1976; HARE, 1991, 2003)
que podem estar presentes em indivíduos com ou sem história de
antissocialidade e que surgem desde a infância, agravando na
adolescência e persistindo na fase adulta (GONÇALVES, 2000).

 Deste modo, define-se aqui o contorno de um transtorno da


personalidade, salvaguardando-se os aspectos relacionados com o
papel do comportamento antissocial como sintoma ou como
consequência deste transtorno (SOEIRO, 2006).

 Ao centrar a definição de psicopatia em indicadores relativos à


personalidade, permite afastar o impacto de índices não específicos
relativos ao comportamento antissocial e colocar de forma mais firme
o conceito de psicopatia, no domínio dos transtornos da personalidade.

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 AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e estatístico de


transtornos mentais: DSM-5. [Tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento et al Revisão
técnica: Aristides Volpato Cordioli et al. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
 JUNG, F. H. (2014). Avaliação Psicológica Pericial: Áreas e Instrumentos. Revista Especialize
On-line. IPOG - Goiânia – Edição Especial nº 008 Vol.01.
 MELEIRO, A.M.A.S. & SANTOS, M.C.E.A. Simulação: um desafio diagnóstico. In:
RIGONATTI, S.P. (coord); SERAFIM, A.P.; BARROS, E.L. (orgs.) Temas em Psiquiatria
Forense e Psicologia Jurídica. São Paulo: Vetor Editora, 2003.
 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Classificação de transtornos mentais e de
comportamento da CID -10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1993.
 ROVINSKI, S. L. R. (2000). Perícia Psicológica na área forense. In: Cunha, J. A.
Psicodiagnóstico, vol. 5, Ed. ver. Porto Alegre: Artmed.
 SOEIRO, C.; GONCALVES, R. A. O estado de arte do conceito de psicopatia. Análise
Psicológica, Lisboa-PT , v. 28, n. 1, p. 227-240, jan. 2010.
 TABORDA, J. G. V. (2004) Exame pericial psiquiátrico. In: Taborda, J. G. V.; Chalub, M.;
Abdalla-Filho, E. (Orgs.). Psiquiatria Forense. Porto Alegre: Artmed. p. 43-67.
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