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INTERVENÇÃO 
EM 
SITUAÇÕES
DE
VIOLÊNCIA
IDENTIFICANDO enfermidades. Veja o quadro
2, um explicativo para
O ABUSO mostrar os sinais e sintomas
SEXUAL que podem estar presentes
em uma criança ou jovem
vítima de abuso sexual. 
O abuso sexual infantil
produz consequências
Destaca-se o aspecto do
negativas ao
comportamento,
desenvolvimento infantil,
principalmente aquele que
além de apresentar
 envolve brincadeira
particularidades que
sexualizada inadequada. É
acarretam maiores
importante que seja dada
dificuldades para a sua
devida atenção à
prevenção, identificação e
diferenciação de um
diagnóstico, assim como para
desenvolvimento sexual
o atendimento,
típico de um atípico.  
encaminhamentos e
tratamentos que passam a
Dentro do que se espera de
necessitar.  
um desenvolvimento sexual
normal está o interesse
Identificar os sinais
sexual esporádico, que se
indicativos de abuso não é
caracteriza pela curiosidade
tarefa fácil. Existe uma ampla
e pela exploração, por outro
variedade deles, mas é
lado, a criança que foi
necessário muito cuidado
abusada sexualmente vai
para se afirmar ou não um
apresentar um foco e
abuso sexual.  
interesse maior no
comportamento sexual, se
Devem ser analisados
apresentando inadequado,
conforme estão
persistente e compulsivo. Um
apresentados dentro de um
olhar cuidadoso,
contexto familiar, social e os
principalmente neste dado é
que se julgar necessários,
fundamental.    Os demais
pois muitos podem ser
aspectos emocionais, físicos
indicativos de outros
e cognitivos devem ser 
problemas ou

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analisados conjuntamente, criança a não revelar o abuso
para que não se faça um sexual. Há casos que mesmo
julgamento errado da após a revelação pela criança
situação.   ou jovem, a família continua a
esconder a violência, seja por
Além dos sinais serem fator fatores externos ou
de atenção, a violência psicológicos mantenedores
sexual acaba por apresentar da situação. A vergonha dos
características que dificultam familiares e amigos; situação
a revelação, seja por parte da financeira precária; falta de
vítima ou da família. São elas, evidências médicas;
o segredo, a negação, a ameaças; barganhas; falta de
retratação e a síndrome de credibilidade na palavra da
adição.   O segredo mantido vítima; culpa e medo pelas
pela vítima é causado pelo consequências após a
medo de ser castigada, não revelação, são fatores que,
acreditada e protegida. Esses muitas vezes, levam a família
sentimentos podem levar a   a manter o segredo, caso
contrário negar fatos levados
à justiça, perpetuando assim,
o abuso intrafamiliar.

Quadro 2.

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Outra característica comum estar prejudicando a sua
relacionada a essa vítima, podem levar a uma
manutenção do segredo diz tentativa de parar o abuso,
respeito à retratação. mas em razão da sua
Comportamento realizado compulsão à repetição, o
pela vítima após a sua abusador não consegue.
revelação e denúncia, onde a Como uma dependência
vítima volta atrás na sua psicológica, repetir gera o
revelação e nega o ocorrido. alívio de tensão. Esta
Esse aspecto é bastante consequência pode levar a
comum e esta relacionado à comportamentos abusivos
diâmica familiar e social que satisfatórios e sem
ocorre após ela revelar a intercorrências, como flagras
situação. A criança ou o e denúncias por parte da
adolescente se vê diante de vítima) aprimorando assim, os
transformações familiares abusos.
intensas (prisão do
agressor, afastamento do lar),
além de ter de responder
a questionamentos,
julgamentos, ouvir que foi
culpado pelos abusos. Enfim,
o profissional diante de tais
aspectos, deve estar
preparado para ajudar a
vítima a se preparar para
estas mudanças, adaptar-se
a elas.  

A síndrome da adição, por


sua vez, refere-se à
compulsão do agressor
sexual à repetição, quer
dizer, os sentimentos como
culpa e a consciência de 

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ABORDAGEM DO velha e adolescente, relata o
episódio de abuso sexual
FENÔMENO sofrido.  

Sabe-se que o abuso sexual • Revelação acidental:  Pode


é uma violência muito ocorrer por meio de exames
traumática e, dependendo da médicos que evidenciam o
intensidade e formas de abuso (hematomas,
exposição e de como essa sangramentos, DSTs) ou
criança é cuidada alguma situação qualquer
emocionalmente por seus que leve à revelação
familiares, esse (mensagens telefônicas ou
acontecimento pode deixar em rede social, conversas
sequelas muito graves.   com amigos). Crianças muito
pequenas vítimas de abuso
O suporte familiar é sexual, que não entendem
fundamental para a que o abuso sexual é errado
superação de traumas.  Uma e inadequado, podem contar
das formas de prevenção diz acidentalmente alguma cena
respeito ao momento da que leve à suspeita de
revelação do abuso por  violência.  
 parte da criança.  
• Revelação estimulada:
A maneira como recebemos  Quando há suspeitas de
a notícia pode amenizar ou abuso sexual e essa vítima,
aumentar o sofrimento da criança ou jovem, é
vítima, acarretando um dano submetida à
maior em seu questionamentos e
desenvolvimento emocional, entrevistas.  A revelação
cognitivo, social.  A costuma ser a atitude mais
revelação, em si, está contida difícil de se receber por um
em três categorias:  • profissional que atua com
Revelação intencional: crianças e adolescentes.  
 Dinâmica em que a vítima, Muitos não possuem
geralmente criança mais capacitação alguma a  

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respeito sobre o assunto e  já adquiridas. A presença de
não sabe como proceder ou muitos espectadores pode
a quem procurar. Outra assustar a vítima fazendo
questão importante é se com que ela fique com medo
autoquestionar sobre suas de continuar o seu
limitações para tratar do testemunho. O sigilo deverá
assunto, bem como, ser preservado, garantindo a
motivações, limitações e segurança das informações 
possibilidades pessoais para
encarar a situação que está à
sua frente.     Escuta Empática
A seguir, alguns tópico Seja você pai, mãe, educador,
importantes para auxiliar o psicólogo, outra pessoa ou
profissional ou a quem profissional,  a primeira
receber a revelação por parte atitude correta a se fazer, é
da vítima:  realizar uma escuta
empática.  A técnica de
Organizando o escuta empática envolve
local respeitar o ritmo e o tempo
da criança, ouvir o que ela
É muito importante que o tem a dizer e, se colocar no
ambiente seja apropriado lugar dela.  
para a abordagem do
assunto. Um local tranquilo e Ter uma postura
seguro facilita o relato da compreensiva evitando o
criança e o manejo do julgamento e a crítica. 
profissional. Além disso,  Nestes momentos, pode ser
evitar que pessoas difícil manter um controle
atrapalhem a conversa, não sobre nossas emoções,
se pode permitir podemos nos sentir com
interrupções, caso contrário, raiva, com pena, vontade de
corre-se o risco de gritar, chorar ou até sair
fragmentar todo o processo correndo. Entretanto, é
de descontração e confiança importante manter um

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controle das emoções e não Ela terá permissão para
fazer na frente da criança, participar das decisões
pois ela pode ficar com quanto aos próximos passos,
medo e não querer contar ter clareza das implicações
mais nada ou até mesmo, de cada um deles, claro,
aumentar a sensação de sempre que as condições
culpa ou desmentir o que emocionais e de
estava dizendo.   desenvolvimento o  
permitirem.  Esse tipo de
O mesmo serve para as abordagem é peça
perguntas, que podem fundamental e se for
envergonhar e até mesmo, necessário, inicie a conversa
fazê-la se sentir culpada pelo sobre assuntos diversos,
que ocorreu.   podendo inclusive utilizar
livros, jogos e recursos
O abuso sexual é um lúdicos. 
fenômeno que pode envolver
culpa, vergonha e medo. Por
isso, é importante não criticar
a vítima, tampouco duvidar
se o que ela está falando é
verdade.  Assim, a criança ou
o adolescente se sentirá
encorajada a falar sobre o
assunto se for demonstrado
interesse da pessoa pelo
relato.  

É muito importante explicar à


criança como você pretende
ajudá- la, de forma que ela
não seja surpreendida com
as ações seguintes e não se
sinta traída em sua
confiança. 

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O QUE FAZER!

• Utilize uma linguagem simples e clara para que a criança


ou o adolescente entenda o que está sendo dito. Use as
mesmas palavras que a criança utiliza para identificar as
diferentes partes do corpo. Após confirme com ela se o que
você está compreendendo o que ela está relatando,
resumindo o relato.   

• Permita que ela conte a história livremente.  

• Explique os procedimentos e o que irá acontecer em


seguida, destacando que ela estará protegida. Assim, ficará
aliviada ao contar a alguém o que está acontecendo.  

• Anote tudo o que está sendo relatado e as emoções e


comportamentos relacionados a determinada cena revivida.
Se você por psicólogo, isso será utilizado posteriormente no
relatório que servirá aos procedimentos legais, tomando o
cuidado para evitar impressões pessoais, guardando o sigilo
daquilo que não for necessário.

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O QUE NÃO
FAZER!
• Não perguntar diretamente os detalhes do abuso sofrido,
nem fazer a vítima repetir o seu relato várias vezes. Esse
procedimento evita que o sofrimento seja evidenciado por
reviver o trauma a que foi exposta.  

• Não conduza o que ela diz. Deixe que se expresse com suas
próprias palavras, respeitando seu ritmo.  

• Perguntas sugestivas podem contaminar o relato.  

• Utilize o mínimo de perguntas possível.  

• Evite questões fechadas que a resposta se limite a apenas


um “sim” ou “não”, bem como perguntas inquisidoras, pois
além de reforçar sentimentos negativos, pode dificultar o
relato.

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Denúncia somente a este membro,
mas sim a todos. 

Depois do acolhimento da Dessa maneira, o


revelação da criança ou do desenvolvimento emocional,
adolescente e o exercício da social e moral de cada um
escuta empática, chegou o pode estar comprometido
momento da denúncia.   diante do trauma a que
foram expostos.
Após tê-la ouvido
atentamente, encoraje-a e Um acompanhamento
explique que ela terá que psicoterapêutico é
contar a outras pessoas. fundamental, pois possibilita
 Neste momento você fará a à vítima a oportunidade de
denúncia aos órgãos elaborar e ressignificar esse
competentes para que sejam momento tão delicado pelo
realizados os procedimentos qual ela passou.  Resgatar o
necessários.   equilíbrio da família, que se
encontra frágil e estagnada
A notificação pode ser por em sua forma de reagir e de
meio de denúncia se relacionar de maneira
anônima (disque 100) ou saudável. Lidar com toda a
diretamente em delegacias situação e retomar o seu
de polícia ou especializadas papel principal, que é o de
(quando houver), vara de nutrir sentimentos afetivos
crimes contra criança e em uma relação próxima e
adolescente, hospital infantil, duradoura com os seus
conselho tutelar.  membros.  

Acolhimento e Dessa forma, é necessário


avaliar os sentimentos 
intervenção predominantes como medo,
raiva, culpa, ansiedade, bem
Quando o abuso sexual como a sua organização
ocorre com um membro da psíquica e a presença de
família, ele não atinge mecanismos de defesa. 

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Reações psicossomáticas e E ainda, essa boa descrição
sintomas fóbicos podem pode evitar que a criança ou
estar presentes e devem ser o adolescente seja chamado
analisados com cautela. É para falar novamente, o que
pertinente trabalhar aspectos pode aumentar o seu
como a recuperação da sofrimento e sofrer
autoestima e reorganização revitimização.  
da vida como retorno à
escola e outras atividades Rede de proteção é um
diárias.  conjunto de ações
integradas e intersetoriais
Encaminhamento para prevenir a violência,
principalmente a doméstica,
A pessoa que recebeu a intrafamiliar e sexual, e
denúncia poderá ir proteger a criança e o jovem
pessoalmente em um dos em situação de risco.
órgãos competentes que
fazem parte da Rede de Trata-se de uma ação
Proteção (conselhos tutelares, intersetorial integrada pela
delegacias especializadas, Secretarias Municipais de
hospitais), ou telefonar para o Ação Social e Trabalho,
Disque Denúncia (disque 100), Saúde e Educação, assim
comunicando suspeita ou como pelo Conselho Tutelar,
ocorrência de violência sexual. Conselho Municipal dos
  Direitos da Criança e do
A denúncia pode ser feita de Adolescente e outras
forma pública ou sigilosa, sem organizações a fins. São seus
ter a sua identidade revelada. objetivos:  
Qualquer que seja a opção
tomada, a denúncia é • Tornar visível a violência
necessária e importante, pois que se pratica contra
uma boa descrição do caso crianças e adolescentes,
contribuirá para o órgão  estimulando a notificação
competente agilizar seu papel dos a casos.  • Capacitar os
e evitar que precise solicitar profissionais para a
complementação das percepção da 
informações. 

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violência e para o profissionais da justiça e das
desenvolvimento do trabalho instituições relacionadas.
integrado e intersetorial.  • Para que o processo de
Oferecer ás vítimas, os intervenção e de
autores da violência e ás responsabilização do
famílias o atendimento agressor se dê de forma
necessário para ajudar na plena, as instituições
superação das condições precisam se adequar às
geradoras de violência, bem normas que elegeram a
como na sequela dela criança como prioridade
resultantes.  • Diminuir a absoluta,investindo em
reincidência da violência pelo novos recursos, fortalecendo
acompanhamento e as equipes interdisciplinares
monitoramento dos casos • nas áreas da saúde, proteção
Desenvolver ações voltadas e justiça, assim como a
para a prevenção da capacitação destes
violência, com o profissionais.  
envolvimento da
comunidade.   Estudantes das diversas
A Rede de Proteção é áreas, em especial dos
composta por órgãos que cursos de de Direito,
fazem parte do Sistema de Enfermagem, Serviço Social,
Garantia de Direitos da Educação, Psicologia e
Criança e do Adolescente. Medicina também estão
Eles são  responsáveis por entre os que necessitam de
receber e apurar notificações conhecimento abrangente
de suspeita ou ocorrência de sobre a temática do abuso
abuso sexual.  sexual. 

Dificuldades
Por diversas vezes, a
denúncia pode não ser
acolhida devidamente pelos

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FLUXOGRAMA
DE
ATENDIMENTO

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GARANTIAS O Estatuto da Criança e do
Adolescente (1990) reforça
LEGAIS PARA A  essa normativa, em seu
DENÚNCIA Artigo 4º, quando diz ser
dever não somente da
A proteção integral e família e do Poder Público,
prioritária da criança e do mas também da sociedade
adolescente está embasada geral, assegurar com
tanto em documentos prioridade a efetivação de
jurídicos internacionais direitos à saúde, à dignidade,
quanto na legislação ao respeito e à liberdade. O
brasileira, de tal modo que Artigo 5º do ECA, condena a
todos os setores da negligência, a violência, a
sociedade, em especial as crueldade e a opressão, seja
áreas da Educação e da por ação ou omissão contra
Saúde, são responsáveis em crianças.
promover e garantir direitos a
meninos e meninas de nosso O Artigo 13 do Estatuto
país. demonstra com clareza o
papel do setor de saúde e
A Declaração Universal dos do setor educacional,
Direitos Humanos (1948) e a quando obriga a notificação
Declaração Universal dos ao Conselho Tutelar ou ao
Direitos da Criança (1959) Juizado da Infância sobre
asseguram que crianças e qualquer suspeita ou
adolescentes têm direito a confirmação de maus-tratos
cuidados e assistência contra criança ou
especiais. A Constituição da adolescente, não excluindo,
República Federativa do porém, os demais setores
Brasil (1988), em seu Artigo dessa responsabilidade, pois
227, determina ser dever não são esferas públicas
somente da família, mas do privilegiadas de proteção
Estado e da sociedade como que recebem incumbências
um todo assegurar à criança específicas, como: a de
e ao adolescente o direito à identificar e notificar a
vida, à saúde, à dignidade, ao situação de maus-tratos, a
respeito e outros. de buscar formas para 

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proteger a vítima e dar apoio da confidencialidade, a
à família. O Artigo 245 do ECA intimidade de pessoas,
considera infração grupos e organizações que
administrativa a não tenha acesso no exercício
comunicação à autoridade profissional.
competente pelo profissional
e/ou instituição responsável, Artigo 10º:
dos casos de que tenha Nas situações em que se
conhecimento. Infração esta configure conflito entre as
sujeita à multa de três a vinte exigências decorrentes do
salários de referência. Além disposto no Art. 9º e as
do ECA, a obrigatoriedade da afirmações dos princípios
notificação está determinada fundamentais deste Código
também pelo Conselho excetuando-se os casos
Federal de Medicina. previstos em lei, o psicólogo
poderá decidir pela quebra
Diante da legislação vigente, de sigilo, baseando sua
não há dúvida de que é decisão na busca do menor
dever de qualquer cidadão, prejuízo.
dentre os quais os Parágrafo único – Em caso
profissionais de saúde de quebra do sigilo previsto
(médico, enfermeiro, no caput deste artigo, o
assistente social, psicólogo, psicólogo deverá restringir-
pedagogo, odontólogo, se a prestar informações
terapeutas, entre outros), estritamente necessárias.
notificar qualquer suspeita ou
constatação de violência. Dessa forma, o psicólogo
pode quebrar o sigilo
O Código de Ética profissional quando em
do Profissional atendimento da possível
vítima criança ou
Psicólogo e o adolescente, nas situações
sigilo que visam o menor prejuízo
para o atendido, porque há
p r o f9o:
Artigo issional riscos de revitimização.
É dever do psicólogo No código de ética também
respeitar o sigilo profissional é citado o sigilo em casos de
a fim de proteger, por meio atuação multiprofissional, é o
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artigo 6º: Um acompanhamento
O psicólogo, no psicoterapêutico é
relacionamento com fundamental, pois possibilita
profissionais não psicólogos à vítima a oportunidade de
(os assistentes sociais, elaborar e ressignificar esse
advogados, juiz, por exemplo) momento tão delicado pelo
a) Encaminhará a qual ela passou.
profissionais ou entidades
habilitados e qualificados Resgatar o equilíbrio da
demandas que extrapolem família, que se encontra
seu campo de atuação; frágil e estagnada em sua
b) Compartilhará somente forma de reagir e de se
informações relevantes para relacionar de maneira
qualificar o serviço prestado, saudável. Lidar com toda a
resguardando o caráter situação e retomar o seu
confidencial das papel principal, que é o de
comunicações, assinalando a nutrir sentimentos afetivos
responsabilidade, de quem em uma relação próxima e
as receber, de preservar o duradoura com os seus
sigilo. membros.

Dessa forma, é necessário


ESTRATÉGIAS  avaliar os sentimentos
DE predominantes como medo,
raiva, culpa, bem como a sua
INTERVENÇÃO organização psíquica e a
presença de mecanismos de
Quando o abuso sexual defesa. Reações
ocorre com um membro da psicossomáticas e sintomas
família, ele não atinge fóbicos podem estar
somente a este membro, presentes e devem ser
mas sim a todos. Dessa analisados com cautela. É
maneira, o desenvolvimento pertinente trabalhar
emocional, social e moral de aspectos como a
cada um pode estar recuperação da autoestima e
comprometido diante do reorganização da vida como
trauma a que foram retorno à escola e outras
expostos.  atividades diárias. A criança
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ou adolescente vítima de processo de apoio,
violência sexual deve ser designadamente para a ida
encaminhado para ao Tribunal, para a retirada
tratamento psicoterapêutico, de casa etc.
pois essa experiência deixa
marcas psicológicas Pesquisas têm sido
profundas na personalidade desenvolvidas nas áreas de
e no comportamento.  avaliação e tratamento
psicoterapêutico em vítimas
Abaixo, alguns itens que de abuso sexual. A partir dos
devem ser revisados durante achados, autores apontam
o atendimento que as crianças e
psicoterapêutico das vítimas: adolescentes que foram
vitimadas, constroem os
a) Avaliar a situação de risco significados e as crenças
psicológico e o grau de sobre si e sobre o mundo, a
sofrimento emocional em partir da experiência abusiva,
que a vítima se encontra; as quais demonstram ter
b) Avaliar o significado real grande impacto no
dos comportamentos que desenvolvimento das
apresenta; psicopatologias.
c) Analisar o grau de
vinculação afetiva em Dessa forma, destaca-se o
relação aos pais e a outros uso de técnicas que
familiares; enfatizam o processamento
d) Estabelecer um cognitivo, que é suscetível a
diagnóstico psicológico e erros interpretativos. As
solicitar, se necessário, a vítimas têm uma maneira
intervenção de um psiquiatra; particular de pensar e
e) Realizar um trabalho que compreender o abuso
fortaleça a autoestima da sexual, de tal forma que a
criança e da família a fim de leva a construir estas
restaurar a confiança em si percepções e crenças
mesma e no outro; errôneas. As modificações
f) Preparar a criança para cognitivas por sua vez,
diferentes momentos do  afetam emocionalmente as

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vítimas e também o seu c) saber dizer não. Uma
comportamento. O objetivo pessoa cujos territórios
do tratamento corporais e emocionais
psicoterapêutico é modificar foram violados precisa de
estas crenças e ajudar a ajuda para restabelecer os
vítima a reconstruir um limites de tal território,
repertório de identificar e expressar
comportamentos e afetos sentimentos de desejo e o
mais adaptativos. seu oposto, sentimentos
positivos e negativos, zonas
O processo de tratamento privadas, bons e maus
das crianças e adolescentes contatos, bons e maus
vítimas de abuso sexual, segredos; e
assim como a própria
violência, não é tarefa fácil, (d) aceitar que as
entretanto, apresenta quatro experiências difíceis não
interesses específicos que podem ser totalmente
devem ser tratados com esquecidas, mas assimiladas,
prioridade, sendo: integradas e transformadas,
passando de algo ruim e
(a) descrever o abuso sexual, insuportável a uma triste
ou seja, falar, escrever, lembrança.
desenhar, jogar, mostrar
quaisquer outras formas para As técnicas utilizadas por
descrever com detalhes;  profissionais psicólogos
também podem ser
(b) expressar em palavras ou adaptadas para cada caso,
ações os sentimentos de como por exemplo, em
culpa, vergonha, decepção, meninos vítimas de abuso
tristeza, raiva em relação ao sexual. Técnicas
agressor e em relação diferenciadas que visam
àqueles que não perceberam abordar questões como
o que estava acontecendo; identidade de gênero e
expressar sentimentos orientação sexual,
ambivalentes; discussões muito presentes

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em meninos vítimas de abuso sentimento de culpa, medo e
sexual, onde o agressor é do auxílio no desenvolvimento
sexo masculino. A confusão de habilidades parentais
quanto à sexualidade ocorre, como a monitoria positiva,
pois o abuso se dá em uma manifestação de afeto,
relação homossexual, comunicação adequada,
mesmo não sendo entre outras que se julgar
considerado como tal, além necessárias.
de estar envolvido com a
formação da identidade de
gênero do menino
acarretando dúvidas quanto
a isso.

Como vimos anteriormente,


diante de uma gama de
sintomas, que as crianças e
adolescentes vítimas de
abuso sexual podem
apresentar, o
acompanhamento
psicológico com os familiares
se torna fundamental,
especialmente com os
familiares não ofensores.
Para que a família se
beneficie do tratamento, o
profissional pode incluir
estratégias sobre como lidar
com os comportamentos
desadaptativos que a vítima
possa apresentar. Discutir
sobre os fatores que levam
os familiares a apresentarem

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ESTRATÉGIAS  sem permissão, não brincar
com fogo, etc. A educação
DE sobre o abuso sexual em
PREVENÇÃO crianças deve ser iniciado
desde muito cedo. Ela
internaliza os cuidados que
O conhecimento acerca do
deve ter assim como os
abuso sexual infantil e a sua
cuidados do dia a dia.
dinâmica de manifestação,
seja por parte da criança que
• Falar sobre os tipos de
apresenta sintomas ou por
toques – “bons e maus”. É
parte do agressor que
importante que ela saiba
apresenta comportamento
distinguir o que é um toque
típico é o tópico mais
bom, onde a criança se sinta
importante para a prevenção
protegida e acolhida. Os
dessa forma de violência.
toques ‘maus’ estão
Isso porque, a sociedade
relacionados com aqueles
precisa estar atenta aos
que fazem a criança se sentir
sinais e saber que o abuso
desconfortável, que ela não
sexual infantil pode ser
deseja receber naquele
devastador para a vítima.
momento. Além disso, os
toques ‘maus’ também
A segunda forma de
dizem respeito aos toques
prevenção diz respeito às
nas partes íntimas, como
crianças. Ensiná-las sobre a
genitais e seios das crianças.
autoproteção, sobre o
cuidado com o seu corpo, ter
• Os pais deverão reforçar
direito sobre ele. Para
que não haverá problema,
promover a autoproteção em
nem punição em comunicar
crianças, alguns pontos
algo de errado a respeito de
devem ser destacados:
todo o conhecimento sobre
o abuso sexual que,
• Falar sobre os perigos de
porventura elas vierem a
maneira clara e simples, além
passar. Junto disso, reforçar
de transmitir regras
que se algo acontecer, a
segurança básica como não
culpa nunca será da criança.
ficar sozinho em casa, sair 

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• O segredo sempre está Todas as formas de
envolvido em uma relação prevenção aqui
abusiva. Dessa forma, ao mencionadas devem ser
orientar as crianças sobre o passadas de forma tranquila,
abuso sexual, reforce em momentos de
também, que é errado descontração, sem assustar
esconder um segredo que em demasia a criança. O
envolve o corpo e seus conhecimento pode ser
limites. A criança geralmente passado em casa, durante o
esconde pequenos segredos, banho, troca de roupa e na
como comer doces escola, durante atividades
escondidos ou quando em sala de aula, por
quebra algum objeto, mas os exemplo.
segredos do corpo não
devem ser escondidos, que
não haverá problemas em CONSIDERAÇÕES
comunicá-lo aos pais ou FINAIS
professor, por exemplo.
Neste minicurso, pretendeu-
• Pedir ajuda quando se sentir se colocar em discussão a
desconfortável e com medo. violência sexual infantil em
A criança deve ser protegida seus variados tipos, o
por todos, portanto, quando agressor sexual e as
ela se sentir insegura e consequências que a
estranha em alguma violência sexual produz em
situação, pode correr, gritar, suas vítimas.  
contar para um adulto de
confiança. Atualmente, a violência
sexual contra crianças e
• Não forçar a criança a adolescentes é muito
abraçar e beijar quando ela discutida no âmbito da
não quiser. Você estará política de assistência social,
ensinando sobre o direito que pela importância em se
ela tem sobre o seu corpo. refletir a respeito de
Portanto, não a force abraçar questões relacionadas ao
ou beijar quem quer que seja. atendimento das vítimas, 

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suas características e Neste sentido, os trabalhos
também das pessoas que as sobre estes tópicos são
atendem, assim como, os escassos. Como alterar essa
pressupostos e visão se, ao longo de
metodológicos aplicados ao décadas, o abuso sexual
caso, os quais irão intrafamiliar ou a iniciação
fundamentar a ação dos sexual masculina precoce
profissionais dentro desta era vista como natural?
área de atuação. Assim, Talvez, a resposta esteja na
nunca o assunto provocou educação sexual com
tantas discussões sobre o crianças, desde a mais tenra
seu impacto na sociedade. idade. As crenças e os tabus
que a sociedade alimenta
Percebe-se um aumento no ainda são muito profundos.
envolvimento para o Desmistificar e conscientizar
fortalecimento da luta contra a todos pode ser o papel
essa forma de violência que principal dos governantes e
vitima milhares de crianças e da sociedade em geral.
jovens brasileiras. Entretanto,
o Brasil ainda se depara com Para tanto, o atendimento da
questões a serem discutidas criança e do adolescente
e, que de certa forma, fazem vítima de abuso sexual deve
parte de uma nova cultura incluir ações de proteção, de
que vem se transformando. maneira que lhes
proporcione o fortalecimento
A complexidade do tema, de sua autoestima,
que envolve relações e superação da situação,
comportamentos sociais, restabelecimento de seus
somado intrinsecamente à direitos. Enfim,
sexualidade humana, com oportunizando às vítimas,
seus padrões e regras rígidas condições dignas para a
moralmente construídas, reparação da violência
impedem que a luta contra sofrida.  
essa forma de violência se dê
de maneira completa e
efetiva. 

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Instituto Desenhando Sorrisos

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