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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


MESTRADO PROFISSIONAL EM HISTÓRIA-PROFHISTÓRIA

Macapá, 26 de abril de 2021

Carta de Intenção

Eu MAURA LEAL DA SILVA, professora adjunta de História do Brasil da Universidade


Federal do Amapá, graduada em História pela mesma instituição (1994), mestre em História
pela PUC/SP (2007) e Doutora em História pela UnB (2017). Atuei como professora da
Educação Básica da Rede Pública do Estado do Amapá, entre os de 1992 a 2013, e como
comissionada da Comissão Estadual da Verdade do Amapá, entre os anos de 2013 a 2017.
Atualmente coordeno o Grupo de Pesquisa Democracias e Ditaduras (GPDD), no qual
desenvolvo pesquisas nas áreas do Brasil República, com ênfase nos estudos regionais sobre a
Ditadura Civil-Militar brasileira e do Ensino de História da Ditadura Civil-Militar, venho
através deste manifestar meu interesse em integrar o corpo docente do Programa de Pós-
Graduação do Mestrado Profissional em História - ProfHistória.

Minha aproximação com o ensino de história se manifestou muito antes de ingressar


na docência do ensino superior. Ainda em 1994, como professora do magistério da Rede
Pública Estadual no Amapá passei a ministrar, em razão da carência de professores graduados
em história, essa disciplina para alunos do ensino fundamental e médio. Foi nesse período,
que me tornei professora do extinto Instituto de Educação do Estado do Amapá – IETA,
atuando diretamente com a formação de professores. Foi um momento de grandes
aprendizados direcionados a orientações da aplicabilidade do ensino da história para alunos
das séries iniciais. Em 2001, quando ingressei como professora temporária no Curso de
História da UNIFAP, apesar de desafiante, senti-me confiante em ministrar a disciplina de
Prática de Ensino. Em 2003, o convite para a implantar e coordenar o curso de História em
uma Instituição do Ensino Superior no Estado, Faculdade de Macapá – FAMA,
possibilitaram-me grande experiência de legislação e currículo no que tange a condução de
um curso de licenciatura em história. Atualmente, como professora do Brasil República,
venho direcionando com as turmas de licenciatura as temáticas abordadas na disciplina com a
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prática do ensino da história, em especial, com os temas dos quais pesquiso, Ditadura Civil-
Militar brasileira e os desdobramentos deste período em Estados como Amapá que nasceram
de Territórios Federais.

Durante o período de abril de 2013 a junho de 2017, como membro colegiado da


Comissão Estadual da Verdade do Amapá – CEV-AP, além das pesquisas documentais e orais
sobre o período da Ditadura Civil-Militar, tendo como delimitação espacial o território
amapaense, desenvolvemos em parcerias com as escolas da rede pública estadual e privada, o
Projeto “A Memória Vai à Escola”. Durante a vigência do projeto foram desenvolvidas
quarenta e seis ações, nas quais foram atendidas trinta e uma instituições de ensino
fundamental, médio, tecnológico e superior, totalizando uma carga horaria de 126 h/a,
contemplando um público de 2.342 alunos e alunas de diversas faixas etárias. Chamou-nos
atenção, a receptividade do público estudantil durante a realização das atividades, por
intermédio de reflexões, análises, comparações entre as leituras, os fatos históricos e as
notícias divulgadas na mídia, além de troca de informações e experiências, contribuindo assim
para a ampliação de conhecimentos, formação de juízos e valores e, consequentemente, para
se assumir uma posição mais crítica e fundamentada sobre o regime ditatorial brasileiro.

Atualmente esses temas se encontram imbricados no escopo de nossas preocupações e


proposições desenvolvidos dentro do Grupo de Pesquisa Democracias e Ditaduras (GPDD)
que coordeno na UNIFAP, e são alvos de investigações em projetos de pesquisa e/ou extensão
específicos que estamos desenvolvendo. Havia um entendimento compartilhado entre nós,
docentes da Unifap que compuseram a CEV-AP, de que se fazia necessário o
desenvolvimento de projetos institucionais que garantissem a guarda e a divulgação da
documentação recolhida e produzida pela CEV-AP. Em um estado como o Amapá, com
grandes dificuldades de acesso à informação e fontes, essa institucionalização foi entendida
como tarefa mais urgente. Também se tinha em mente que era preciso garantir a não
interrupção do processo de investigações iniciado pela CEV-AP e que, por falta de estrutura e
financiamento, não pôde ser realizado durante o período de sua vigência.
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A criação do GPDD1, em 2017, ocorreu logo após a finalização dos trabalhos da CEV-
AP, com o objetivo de dar continuidade às pesquisas iniciadas pela CEV-AP e de reunir
professoras, professores, pesquisadoras, pesquisadores, alunas e alunos, membros da
sociedade civil organizada (em movimentos sociais, sindicais, estudantis) e demais
profissionais da pesquisa e educação sensibilizados com temáticas que envolvam a difícil
consolidação da democracia em países periféricos como o Brasil, que ainda enfrentam a
permanência cruel desses processos históricos de colonização, escravidão e autoritarismo
dentro de suas estruturas sociais, econômicas, políticas e culturais.

Como exposto, considero a experiência profissional acima relatada como de grande


relevância para a minha candidatura no ProfHistória, pois confirma nossa afinidade e
pretensão em contribuir de forma mais incisiva com a pesquisa e o ensino de história, tendo
como foco central a formação de professores e professoras que atuam diretamente com essa
disciplina nas escolas. Portanto, a linha de pesquisa “Linguagem e Narrativas Históricas
(produção e difusão””, que se propõe a desenvolver pesquisas sobre o processo de ensino e
aprendizagem da história, considerando as especificidades dos saberes e práticas mobilizados
na escola, compreendidos como conhecimento historicamente constituído, possibilita refletir
sobre as diversas formas de reprodução dos saberes históricos no âmbito escolar, buscando
romper com a cultura do silêncio e do esquecimento, muito presente no currículo escolar
como um todo.

Compreendo que deve ser compromisso dos educadores e educadoras atuais romper
com essa cultura, ofertando aos seus estudantes um amplo conhecimento acerca desse passado
doloroso que insiste em não passar, sobretudo, em períodos de grandes violações dos direitos
humanos e do cerceamento de liberdade, a exemplo do que ocorreu durante o regime ditatorial
brasileiro, quando a tortura e assassinatos cometidos a mando do Estado atingiram patamares
alarmantes. Sem o conhecimento dos fatos pretéritos, sem o aprendizado com os erros
cometidos, estaremos sempre vulneráveis às reincidências. Conhecer a verdade e ter acesso à
história é direito de todos, pois se trata de lembrar não apenas para que haja justiça com as
1
A aprovação do cadastro do Grupo de Pesquisa Democracias e Ditaduras pelo SIGAA da Unifap só ocorreu em
19 de agosto de 20019 (Processo 23125.022951/2019-47).
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vítimas, mas também para que toda a sociedade se envolva na consolidação da cultura
democrática. Portanto, se quisermos uma sociedade fundada na alteridade e no compromisso
com a efetivação da democracia, é preciso que se faça chegar até as crianças e os jovens o
conhecimento acerca da história dos erros cometidos no passado para que eles próprios não
sejam vetores da repetição no futuro, “Para que não se esqueça. Para que nunca mais
aconteça”.

Como se pode observar, o interesse em integrar o corpo docente através dessa linha
de pesquisa advém de me encontrar, atualmente, comprometida com atividades de pesquisa e
ensino que possam ajudar nesse doloroso mais necessário acerto de contas com esse passado
ditatorial, ainda obscuro em muitos aspectos, mas de forma mais ampla com o árduo desafio
que tem sido a consolidação da democracia no Brasil, no qual a violação dos direitos humanos
e autoritarismo do Estado ainda são práticas recorrentes e não estiveram restritos somente ao
período da ditadura civil-militar. Para tanto, o conhecimento dessa trajetória se torna objeto
imprescindível, não somente para todos os segmentos de formação escolar, mas para toda
sociedade brasileira, pois é conhecendo, discutindo, analisando, revelando os fatos e as
experiências passadas que poderemos efetivamente tornar esse período ditatorial de nossa
história e os demais em tempo passado.

Caso minha solicitação para ser credenciada como docente do ProfHistória venha a
ser aceita, assumo o compromisso de aprofundar as discussões acima apresentadas, vindo
inclusive a executar, além de pesquisas sobre essa temática, a realização de oficinas com essas
temáticas com professores e professoras de história que estejam atuando no Ensino
Fundamental e Médio. Também proponho ministrar as seguintes disciplinas: Teoria da
História; Seminário de Pesquisa; Ensino de História e Questões da Temporalidade;
Historiografia e Ensino de História; História e História Pública; Seminário Especial
Linguagem e Narrativas Históricas: Produção e Difusão; e Tópico Especial em Ensino de
História.
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Atenciosamente,

__________________________________

Maura Leal da Silva

Professora do Curso de História da UNIFAP


Doutora em História/UnB

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