Você está na página 1de 13

2

ALMIR DIAS ESIQUIEL

ATORES QUE ELABORARAM O ATO INSTITUCUINAL 5 - AI-5

Artigo da Disciplina de: Atores e Instituições do


Regime militar: 1964-1985. Universidade
Federal do ABC.

Professora: Cíntia Lima Crencêncio

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2023
2

RESUMO

O presente artigo tem como finalidade elencar os principais atores que elaboraram o Ato
Institucional nº 5, de 13 de Dezembro de 1968, os motivos e as origens que levaram os
militares a agirem com tamanha violência contra civis empreendendo perseguições, prisões,
seções de tortura, pessoas desaparecidas e assassinadas. O fechamento do Congresso Nacional,
a cassação de mandatos políticos sem o devido processo legal, a cassação de Habeas Corpus.
Além de fundamentar no artigo as teorias de direitos humanos, todos os tipos de violações
destes direitos humanos cometidos pelos atores que não foram punidos pelo Estado brasileiro
conforme prevê as normas supralegal nacional e tratados internacionais de direitos humanos em
defesa da pessoa humana. Os brasileiros que sofreram com as perseguições, tortura e morte do
autoritarismo da Ditadura Militar no Brasil que ao longo dos longos vinte e um anos levaram o
país ao caos, terror e desumanidade.

Palavra-Chave: Ditadura militar, AI-5, Direitos Humanos.

SUMÁRIO:

Resumo.....................................................................................................................................2
Introdução.................................................................................................................................2
Desenvolvimento......................................................................................................................6
Referências...............................................................................................................................18

INTRODUÇÃO

Este artigo irá abordar os principais atores que elaboraram o Ato Institucional nº 5, de
13 de dezembro de 1968, que arquitetaram o golpe de 1964, entre eles a cúpula de militares do
exército, as elites brasileiras em conjunto com os EUA preocupados com a expansão do
comunismo na América Latina e viram no golpe uma forma de proteger seus interesses na
região. Os EUA apoiaram ativamente os governos militares no Brasil e em outros países da
região, fornecendo recursos financeiros, treinamento militar e apoio logístico e político.
(HIRST, 2002).
O acontecimento de 31 de março de 1964 ganhou um sentido de revolução por parte dos
militares, tendo apoio também de ampla parcela da sociedade e imprensa nesse processo de
constituição, para justificar as ações políticas desempenhadas em prol da ruptura democrática e
2

constitucional, sobretudo, para algumas autoridades, sejam elas, políticas, religiosas ou


militares, como um processo de sobrevivência e permanência em torno do regime recém-
instituído. (COSTA, 2019, p.6).
Os motivos e as origens que levaram os militares a agirem com tamanha violência
contra civis empreendendo perseguições, prisões, seções de tortura, pessoas desaparecidas e
assassinadas. O golpe também teve a participação de algumas empresas Multinacionais e o
setor latifundiário que investiram com truculência a todos que aspiravam pela liberdade e os
direitos individuais e coletivos, a luta feminista das mulheres pela igualdade de gênero, os
direitos trabalhistas, a redução dos acidentes de trabalho, direitos previdenciários o (INAMPIS)
e demais pautas do povo brasileiro pelo processo de redemocratização. (TELES e LEITE,
2013, p. 3).
O Ato AI-5, também irá abordar o fechamento do Congresso Nacional, sob a violação
do princípio da separação dos poderes, que é uma das bases do sistema democrático, e impediu
a atuação dos representantes eleitos pelo povo na elaboração e na fiscalização das leis. Da
mesma forma, a cassação de mandatos políticos sem o devido processo legal e a demissão de
funcionários públicos considerados subversivos sem o respeitar o princípio do contraditório e
da ampla defesa que configuraram clara violação aos direitos fundamentais dos cidadãos.
(DALLARI, 2017, p.167).

O AI-5 foi uma das medidas mais extremas adotadas pelo regime, permitindo a censura
à imprensa, a prisão sem mandado judicial, à suspensão de direitos políticos e a cassação de
mandatos parlamentares. A suspensão dos direitos políticos por um período de 10 anos é uma
medida que representava uma grande ameaça à democracia, pois impedia que os cidadãos
exercitassem seus direitos civis e políticos, como votar e ser votado, participar de partidos
políticos e se expressar livremente. Isso permitia ao regime militar cassar mandatos de políticos
que se opunham ao governo, além de impedir a participação deles em eleições futuras. A essa
suspensão dos direitos políticos não era feita com base em critérios objetivos ou em leis claras,
mas sim de acordo com a interpretação subjetiva do governo militar sobre quem representava
uma ameaça à preservação da Revolução, termo utilizado para justificar diversas medidas
autoritárias. (CORDEIRO, SOUZA, BUNDANT, 2021, p.23).

Todas as violações de direitos humanos, no que diz respeito ao direito internacional e os


tratados de direitos humanos, o Relatório da Comissão Nacional da Verdade, criada em 2011
para investigar as violações de direitos humanos cometidas durante o regime militar, que
compilou depoimentos de vítimas e testemunhas, documentos oficiais, laudos periciais e outros
2

materiais que comprovam a existência de práticas de violências e torturas. (COMISSÃO


NACIONAL DA VERDADE, 2014, p.21).
Este artigo aponta porquê muito dos atores não foram punidos pelo Estado brasileiro
conforme prevê as normas, tratados internacionais de defesa da pessoa humana, que foram
torturadas e sofreram perseguições na Ditadura Militar no Brasil. (BORGES, GODOY, 2016).
Segundo o autor Carlos Fico, ele traz uma análise detalhada do funcionamento do
aparato repressivo do Estado brasileiro, responsável por perseguir, torturar e matar aqueles que
eram considerados inimigos do regime. A extensa pesquisa documental e em entrevistas com
ex-agentes da polícia política e com sobreviventes da repressão, descreve as principais
estratégias utilizadas pela polícia política, como a infiltração de agentes em organizações de
oposição, a coleta de informações por meio de escutas telefônicas e a utilização da tortura como
forma de obter confissões. O autor também analisa o papel das Forças Armadas nesse processo,
mostrando como a repressão foi uma política de Estado que contou com o apoio de diversos
setores da sociedade brasileira. (FICO, 2021, p.133-134).
Por fim, as teorias de direitos humanos, constituição federal, normas supralegais e
tratados internacionais de direitos humanos fundamentarão a proteção da pessoa humana, os
direitos individuais e coletivos. Como exemplo o Pacto de San José da Costa Rica para
defender os direitos que podem ser usados para argumentar contra a cassação de mandatos
políticos sem o devido processo legal e a demissão de funcionários públicos considerados
subversivos sem o respeitar o princípio do contraditório e da ampla defesa, violando assim os
direitos fundamentais dos cidadãos. O Pacto de San José da Costa Rica estabelece a
obrigatoriedade de garantias judiciais e do princípio da legalidade, o que implica que o Estado
deve agir de acordo com a lei e respeitar as garantias processuais previstas para garantir a
proteção dos direitos humanos. Além disso, os direitos à liberdade de pensamento, expressão,
associação e reunião pacífica são essenciais para o exercício da democracia e devem ser
protegidos pelo Estado. (COMPARATO, 2013, p.167).
Este artigo será pautado por duas metodologias, análise documental, ou documentos
oficiais e revisão da literatura.

ATO INSTITUCIONAL Nº 5 – AI-5


Segundo o professor Pedro Lenza, o golpe militar de 1964 teve o apoio financeiro e
político dos EUA, que enxergavam no Brasil um país estratégico para a sua política de barrar o
comunismo na América Latina. O presidente dos EUA na época era Lyndon B. Johnson que
forneceu toda a logística necessária aos militares brasileiros para formarem grupos e derrubar o
2

então Presidente da República do Brasil João Goulart mais conhecido como Jango, que estava
em viagem à China, logo após o golpe de 1964. Já em sua volta de viagem, não pode pousar em
solo brasileiro sendo exilado no Uruguai e 1976 na Argentina. A partir da derrubada de Jango
da presidência, o regime passou a investir contra militares leais ao antigo governo. Com base
no AI-1, e, posteriormente, no AI-5, promoveram uma limpeza na administração pública,
através de cassações, demissões, aposentadorias e perda de direitos políticos, seguido de
perseguições, prisões, inquéritos falsos, tortura e morte. Os movimentos sociais armados,
segundo o jornalista Elio Gaspari, foram uma resposta à instalação do AI-5 e não o contrário
como ainda sustentam os que apoiaram os golpistas.
O General Costa e Silva, o Brigadeiro Francisco Correia de Melo e o Almirante
Augusto Rademaker, militares vitoriosos, constituíram o chamado supremo comando da
Revolução e, em 09 de abril de 1964, baixaram o Ato Institucional de nº 1, de autoria de
Francisco Campos e assim se seguiram os demais Atos Institucionais até chegar ao Ato
Institucional nº 5 que é o objeto do nosso estudo. (LENZA, 2011, p.115).
O Ato Institucional nº 5 foi elaborado pelos militares que assumiram e apoiaram o golpe
militar de 31 de março de 1964, sobre a presidência do general Artur da Costa e Silva que o
promulgou em 13 de dezembro de 1968. Que promulgou o Ato Institucional nº 5 com o
seguinte preambulo: “São mantidas a Constituição de 24 de janeiro de 1967 e as Constituições
Estaduais; O Presidente da República poderá decretar a intervenção nos estados e municípios,
sem as limitações previstas na Constituição, suspender os direitos políticos de quaisquer
cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais, e
dá outras providências”. No entanto, embora Costa e Silva tenha sido o responsável por
promulgar o AI-5, o ato foi elaborado e apoiado por uma junta militar que governava o país na
época, composta pelos ministros militares Augusto Rademaker, Mário Andreazza e Luís de
Almeida Baptista. (PLANALTO, 1968).
O AI-5 concedeu ao governo militar amplos poderes para perseguir e reprimir qualquer
tipo de oposição política. O ato suspendeu várias garantias constitucionais, incluindo o habeas
corpus, o direito a um julgamento justo e o direito à liberdade de expressão. O habeas corpus é
um dispositivo constitucional com o intuito de garantia fundamental na Constituição Federal do
Brasil que consta no art. 5º, inciso LXVIII, que foi inicialmente utilizado como um dispositivo
constitucional para garantir não só a liberdade física, como os demais direitos que tinham por
pressuposto básico a locomoção. Tratava-se da chamada teoria brasileira do habeas corpus,
que perdurou até o advento da Reforma Constitucional de 1926, impondo o exercício da
garantia somente para os casos de lesão ou ameaça de lesão à liberdade de ir e vir, a saber:
2

“conceder-se á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofre
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”.
(LENZA, 2011, p.940).

De acordo com o AI-5, em seu art. 2º, “Art. 2º - O Presidente da República poderá
decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras de
Vereadores, por Ato Complementar, em estado de sitio ou fora dele, só voltando os mesmos a
funcionar quando convocados pelo Presidente da República”. Também permitiu ao governo
fechar o Congresso Nacional, demitir funcionários públicos considerados subversivos, cassar
mandatos políticos e intervir em governos estaduais e municipais. (PLANALTO, 1968).
Sob o ponto de vista jurídico, é importante destacar que o AI-5 representou uma
ruptura com o estado de direito e com as garantias constitucionais vigentes à época, uma vez
que permitiu ao governo adotar medidas arbitrárias e autoritárias sem o devido processo legal
art. 5.º, LIV e sem o respeito aos direitos fundamentais previstos na Constituição.
(CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL, 2023, p. 16). Sob o ponto de vista jurídico, é
importante destacar que o AI-5 representou uma ruptura com o estado de direito e com as
garantias constitucionais vigentes à época, uma vez que permitiu ao governo adotar medidas
arbitrárias e autoritárias sem o devido processo legal e sem o respeito aos direitos fundamentais
previstos na Constituição. (NUCCI, 2020, p. 64).
O fechamento do Congresso Nacional, por exemplo, violou o princípio da separação
dos poderes, que é uma das bases do sistema democrático, e impediu a atuação dos
representantes eleitos pelo povo na elaboração e na fiscalização das leis. Da mesma forma, a
cassação de mandatos políticos sem o devido processo legal, art. 5º, inciso LIV – ninguém será
privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; sendo assim, a demissão de
funcionários públicos considerados subversivos sem o respeito ao princípio da ampla defesa e
do contraditório configuraram clara violação aos direitos fundamentais dos cidadãos.
(CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL, 2023, p. 16).
Estampado no texto constitucional no Art. 5º, LV, da Constituição Federal de 1988, o
contraditório e a ampla defesa se expressam como “aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes”. Explanando o contraditório, (TÁVORA e ALENCAR,
2011, p.98) diz:
Contraditório é o direito de participar de um procedimento que lhe possa trazer
alguma espécie de repercussão jurídica; não tem como pressuposto a existência de
partes adversárias. Se há possibilidade de defesa, é porque há exercício do
contraditório; se eu me defendo, estou participando do procedimento; estou, portanto,
exercitando o meu direito de participação (TÁVORA e ALENCAR, 2011, p. 98).
2

Nas preleções do jurista, em consonância com o texto constitucional, o contraditório é


direito essencial em qualquer processo e procedimento, para se resguardar a lisura e a igualdade
das partes na formação do convencimento do juízo. No tocante à ampla defesa, trata-se de
garantia basilar que funciona como sustentáculo do Estado Democrático de Direito. Corolário
do devido processo legal preceitua que seja possibilitado aquele cujo recai uma imputação
todos os meios legais para exercer sua defesa. (TÁVORA e ALENCAR, 2011, p. 98).
A ampla defesa, além de abarcar a defesa material ou genérica, pressupõe também a
defesa técnica exercida em regra por advogado, reconhecida no art. 261 CPP. Nas palavras do
professor Guilherme Nucci (2016, p. 25), “O princípio da ampla defesa, significa que ao réu é
concedido o direito de se valer de amplos e extensos métodos para se defender da imputação
feita pela acusação.” (NUCCI, 2016, p. 25).
De acordo com o Capítulo IV que trata dos direitos políticos no art. 14 § 3º, inciso II da
CFB, II – o pleno exercício dos direitos políticos; uma das principais medidas autoritárias
instituídas pelo AI-5 foi à suspensão dos direitos políticos dos cidadãos que fossem
considerados contrários ao regime militar. Com isso, muitas pessoas foram impedidas de
participar de atividades políticas, tais como se candidatar a cargos públicos, votar ou participar
de partidos políticos. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL, 2023, p. 22).
Além disso, o AI-5 também instituiu a censura da imprensa, que tinha como objetivo
controlar e restringir a divulgação de informações consideradas subversivas pelo regime
militar. Com a censura, muitos jornais e revistas tiveram suas edições suspensas ou foram
completamente fechados, enquanto outros tiveram que se adaptar e autocensurar-se para evitar
problemas com as autoridades. Estes direitos foram de forma e unilateralmente violados aja
visto o que no art. 220 da Constituição Federal do Brasil. 
A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer
forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta
Constituição, § 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
(CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL, 2023, p.129).
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob
qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o
disposto nesta Constituição.
§ 1o Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade
de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o
disposto no art. 5o, IV, V, X, XIII e XIV.
§ 2o É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
Existiram alguns motivos para que os culpados e integrantes do golpe do regime militar
de 1964 não fossem investigados efetivamente, punidos e presos, ou seja, o Brasil e os demais
2

governos que sucederam o golpe viraram as costas para o povo brasileiro. Abaixo descrito
constam alguns dos motivos elencados pelo governo brasileiro:
A anistia de 1979 foi promulgada a Lei da Anistia, que concedeu perdão político a todos
os envolvidos em crimes políticos ou conexos com estes cometidos entre 1961 e 1979. Isso
incluiu tanto os presos políticos quanto os agentes do Estado envolvidos em violações de
direitos humanos. Como resultado, muitos crimes cometidos durante a ditadura foram deixados
impunes, e muitos responsáveis nunca foram julgados.
O Pacto de silêncio em que muitos envolvidos em violações de direitos humanos
durante a ditadura militar concordaram em manter um pacto de silêncio, impedindo que as
informações sobre o que aconteceu durante esse período fossem divulgadas. Isso dificultou a
investigação dos crimes cometidos e a responsabilização dos envolvidos.
A falta de vontade política de alguns governos brasileiros, especialmente durante os
anos pós-redemocratização, não demonstraram vontade política de investigar e processar os
crimes cometidos durante a ditadura. Além disso, alguns políticos e militares envolvidos em
violações de direitos humanos ocuparam cargos importantes no governo e em outras
instituições, o que tornou difícil processá-los.
As limitações legais em que muitos dos crimes cometidos durante a ditadura militar
prescreveram antes que pudesse haver uma investigação ou processo judicial. Além disso,
algumas das leis que regem a investigação de crimes cometidos durante a ditadura foram
elaboradas para proteger os envolvidos em violações de direitos humanos, dificultando a
responsabilização. (BORGES, GODOY, 2016, p. 49-68).
Fico faz uma pesquisa minuciosa sobre o funcionamento desses órgãos de repressão e
mostra como eles agiam na perseguição e repressão aos opositores do regime militar. O autor
revela detalhes sobre a estrutura, métodos e objetivos da repressão política, destacando a
atuação do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e do Serviço Nacional de
Informações (SNI), além de outras agências de inteligência do governo. (FICO, 2008, p.68).
As especulações relativas ao regime militar não são infundadas. Ainda há muita
resistência por parte de setores militares quanto a se dar publicidade a alguns acervos,
especialmente aqueles dos centros de inteligência militar, tanto quanto havia em relação aos de
outros órgãos integrantes do sistema de repressão, como o Serviço Nacional de Informações
(SNI) e o Conselho de Segurança Nacional, hoje liberados, ainda que saneados, o que indica a
importância de se manter constante à pressão da opinião pública. Os atuais comandantes
militares negam a existência dos arquivos da inteligência militar, mas, no passado, o mesmo foi
dito sobre papéis que hoje se encontram disponíveis. Aliás, dificilmente os arquivos militares
2

teriam sido destruídos, já que continham documentos relacionados à segurança nacional e sua
destruição implicaria aos responsáveis graves responsabilidades. (FICO, 2008, p.73).
Segundo Carlos Fico, a obra Como eles agiam, traz uma análise detalhada do
funcionamento do aparato repressivo do Estado brasileiro, responsável por perseguir, torturar e
matar aqueles que eram considerados inimigos do regime, ele se dedica ao estudo da ditadura
militar e das violações de direitos humanos ocorridas no período da ditadura militar. Na
questão das violações dos direitos humanos durante a ditadura militar o autor reforça que foram
muitas e deixaram marcas profundas na sociedade brasileira. (FICO, 2008, p.113).
Para tanto se faz necessário abordar os dispositivos de proteção dos direitos humanos
para analisar como que o AI-5 foi sem dúvida um ato desumano, ou seja, um arcabouço de
violações e crueldades contra a pessoa humana, que deveria ter punido seus mentores sem
deixar que as injustiças entrassem para a história com tamanha desfaçatez. Os dispositivos
pelos quais o Brasil é signatário de direitos humanos foram todos violados pelos governos
brasileiros que deram as costas para tamanha barbárie, para tanto que os dispositivos e normas
internacionais de direitos humanos foram incorporadas no ordenamento jurídico pátrio no
decorrer do processo de redemocratização. (GRIFOS MEUS, 2023).

O Pacto de San José da Costa Rica, ratificado pelo Brasil em 1992, estabelece uma série de
direitos humanos que devem ser garantidos pelo Estado. Dentre esses direitos, destacam-se os
seguintes dispositivos que podem ser usados contra o AI-5:

Artigo 7º: Direito à liberdade pessoal

Artigo 8º: Garantias judiciais

Artigo 9º: Princípio da legalidade e da retroatividade

Artigo 10º: Direito à indenização

Artigo 11º: Proteção da honra e da dignidade

Artigo 12º: Liberdade de consciência e de religião

Artigo 13º: Liberdade de pensamento e expressão

Artigo 15º: Direito à reunião e associação pacíficas

Artigo 16º: Liberdade de associação para fins políticos

Esses dispositivos podem ser usados para argumentar contra a cassação de mandatos
políticos sem o devido processo legal e a demissão de funcionários públicos considerados
subversivos sem o respeitar o princípio do contraditório e da ampla defesa, violando assim os
2

direitos fundamentais dos cidadãos. O Pacto de San José da Costa Rica estabelece a
obrigatoriedade de garantias judiciais e do princípio da legalidade, o que implica que o Estado
deve agir de acordo com a lei e respeitar as garantias processuais previstas para garantir a
proteção dos direitos humanos. Além disso, os direitos à liberdade de pensamento, expressão,
associação e reunião pacífica são essenciais para o exercício da democracia e devem ser
protegidos pelo Estado.

Por conta dessas medidas autoritárias, o AI-5 foi amplamente criticado por muitos grupos
políticos e pela sociedade em geral. Sua revogação, em 1978, foi um importante passo para o
processo de redemocratização do Brasil e a retomada dos direitos civis e políticos dos
brasileiros.

Também é importante destacar a relevância dos tratados internacionais de direitos humanos,


que estabelecem obrigações para os Estados signatários em relação à proteção desses direitos.
Entre os principais tratados estão a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais, entre outros.

Portanto, é fundamental que as normas internacionais e nacionais relativas à proteção dos


direitos humanos sejam cumpridas e respeitadas, e que sejam estabelecidos mecanismos de
controle e de punição para as violações desses direitos. Somente assim será possível garantir
uma sociedade justa e democrática, que valorize a dignidade da pessoa humana.

Quanto às liberdades individuais e coletivas, elas foram sistematicamente violadas durante a


ditadura militar no Brasil. A censura, a perseguição política, a tortura e o assassinato de
opositores foram práticas comuns, e o Estado brasileiro não ofereceu nenhuma forma de
reparação ou justiça para as vítimas desses crimes. A herança do liberalismo, da fraternidade,
da liberdade e da igualdade, tão importantes para a construção da democracia moderna, foi
profundamente comprometida pelo regime autoritário e repressivo que governou o país por
duas décadas.

O direito a um julgamento justo é um direito fundamental reconhecido na Constituição Federal


do Brasil e em diversos tratados de direitos humanos dos quais o país é signatário. Esse direito
é garantido a todas as pessoas, sejam elas cidadãos brasileiros ou estrangeiros, e é considerado
uma das bases do Estado de Direito.

O artigo 5º da Constituição Federal brasileira estabelece diversas garantias processuais que


asseguram o direito a um julgamento justo. Dentre elas, podemos destacar:

O direito ao contraditório e à ampla defesa: a Constituição garante que ninguém poderá ser
considerado culpado sem que lhe seja assegurado o direito de defesa e o contraditório, em
processo judicial ou administrativo.

O direito ao juiz natural: o artigo 5º também estabelece que ninguém poderá ser processado ou
sentenciado senão pela autoridade competente, previamente determinada por lei.
2

O direito à presunção de inocência: a Constituição estabelece que ninguém será considerado


culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, ou seja, até que a sentença
seja definitiva e não possa mais ser contestada.

O direito à prova: a Constituição garante que é assegurado o direito de produzir provas em


favor da defesa, sendo vedada qualquer prova obtida por meio ilícito.

Além das garantias previstas na Constituição, o Brasil é signatário de diversos tratados


internacionais de direitos humanos que também asseguram o direito a um julgamento justo.
Dentre eles, podemos destacar:

Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos: esse tratado estabelece que toda pessoa tem o
direito a um julgamento justo e imparcial, e que a condenação só pode ocorrer com base na
prova produzida no curso do processo.

Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica): essa
convenção estabelece diversas garantias processuais que asseguram o direito a um julgamento
justo, como o direito ao juiz natural, ao contraditório e à ampla defesa, e à presunção de
inocência.

Em resumo, o direito a um julgamento justo é um direito fundamental previsto na Constituição


Federal do Brasil e em diversos tratados internacionais de direitos humanos. Esse direito é
essencial para garantir a justiça e o Estado de Direito, e sua proteção é uma obrigação do
Estado em relação aos seus cidadãos.

DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS:

Artigo 5º, inciso LV: "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes"

Artigo 5º, inciso LIII: "ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente"

Artigo 5º, inciso LVII: "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória"

Artigo 5º, inciso LVI: "são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos"

DISPOSITIVOS DE TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS:

Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos:

Artigo 14, parágrafo 1: "Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e as cortes de justiça.
Toda pessoa terá o direito de ser ouvida publicamente e com as devidas garantias por um
tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido por lei"

Artigo 14, parágrafo 2: "Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua
inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa"
2

Artigo 14, parágrafo 3: "Toda pessoa acusada de um delito terá o direito de ser julgada sem
demora excessiva"

Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica):

Artigo 8º: "Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um
prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido
anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela ou para que
se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer
outra natureza"

Artigo 8º, parágrafo 2: "Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua
inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa"

Artigo 8º, parágrafo 5: "Toda pessoa que tenha sido condenada em sentença definitiva tem
direito a que a sentença seja submetida a um tribunal superior, em conformidade com a lei"

Referências:
2

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Edição 15 revista e ampliada. São


Paulo: Saraiva, 2011.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ait/ait-05-68.htm>. Acesso em: 16 de
março 2023.
NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Direito Penal, - São Paulo. 4ª Edição, Rio de
Janeiro, Editora Forense, 2020.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 35. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2017.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso
em: 17 de julho 2023.
FICO, Carlos. Como eles agiam: os subterrâneos da ditadura militar: espionagem e polícia
política. Rio de Janeiro: Record, 2001.
TELES, Amelinha; LEITE, Rosalina Santa Cruz. Da guerrilha à imprensa feminista: a cons-
trução do feminismo pós luta armada no Brasil (1975 – 1980). São Paulo: Editora Inter-
meios, 2013.
CORDEIRO Roan Costa, SOUZA Thais Pinhata de e BUDANT Luiz Henrique. “Narciso
acha feio o que não é espelho”: reflexões sobre a exceção brasileira em Narciso em férias.
Revista de Direito e Práxis, Rio de Janeiro, Vol. 12, N. 04, 2021.
Comissão Nacional da Verdade. Relatório Final. Brasília: CNV, 2014. Disponível em
<http://www.cnv.gov.br/relatorio-final.>. Acesso em: 18 de março 2023.
BORGES, Vivian; GODOY, Karina. A impunidade dos crimes cometidos durante a
ditadura no Brasil: um problema de ordem jurídica ou política? Revista de Sociologia e
Política, v. 24, n. 56, p. 49-68, 2016.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 34. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2020.
HIRST, Mônica. A construção do inimigo interno: Estados Unidos e Brasil: 1953-1964. Rio
de Janeiro: Editora FGV, 2002.
TÁVORA Nestor, ALENCAR Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal: 11ª.
edição revista e ampliada, Salvador: Editora, JusPodivm, 2016.
FICO, Carlos. A Ditadura Documentada Acervos desclassificados do regime militar
brasileiro. Acervo, Rio de Janeiro, v. 21, no 2, p. 67-78, jul/dez 2008
COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 10. ed. São
Paulo: Saraiva, 2013.

Você também pode gostar