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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Tópicos Especiais da História do Brasil - HH362/A

Alice Ledesma De Nadai Vieira Espíndola

Democracia Corinthiana

CURITIBA
2023
Identificação da fonte:

A fonte escolhida é um retrato que apresenta jogadores do Sport Club Corinthians


Paulista, são eles: ‘Biro-Biro’ [camisa 11], Zenon [camisa 10], Zé Maria [camisa 7], Sócrates
[camisa 8], Casagrande [camisa 9] e Leão [camisa 1], posando para a foto de costas estampando
em seus uniformes ‘Democracia Corinthiana’, antes de uma partida contra o Bahia pelo
Campeonato Brasileiro de Futebol, em São Paulo no Estádio do Morumbi. Foi tirada em 27 de
março de 1983 por Domício Pinheiro e está disponível no Acervo Estadão.

Critério de validação de autenticidade da fonte:


Como critério de validação da autenticidade da fonte temos o Acervo de Fotos
Históricas Estadão de onde a foto foi retirada. Disponível em: Democracia corintiana - Fotos
Históricas - Acervo - Estadão (estadao.com.br)

Contexto histórico:
Durante o período de 1964 a 1985, o Brasil passou por uma ditadura militar
consequência de um golpe de Estado instaurado em 64, ao então presidente do Brasil João
Goulart, que ficou marcado como um dos períodos mais tensos da história brasileira de
repressão dos direitos civis onde o poder ficava concentrado nos militares. Houve uma tentativa
de golpe em 1961, onde tentaram evitar a posse do então vice-presidente Goulart, pelos
mesmos que tiveram sucesso em 1964 que aprenderam com seus erros e entenderam que, para
o golpe funcionar, eles iriam precisar do apoio de várias facções das classes dominantes.
(CRUZ e MARTINS, 2008)

(do rural ao urbano, do arcaico ao moderno, do nacional ao estrangeiro, do


produtivo ao parasitário) juntamente com ponderáveis parcelas da pequena-
burguesia, das profissões liberais e da nova classe média burocratizada, com
suas respectivas representações no plano político-partidário. (CRUZ e
MARTINS, 2008)

Os militares, então, passaram a impor um “regime autoritário” sustentado por atos


institucionais, que segundo Sebastião Cruz e Carlos Martins:

[...] é forçoso reconhecer que o regime, apesar de ter-se tornado agudamente


autoritário em diversos momentos, não só nunca chegou a atingir os graus
extremos de intensidade registrados em outros países capitalistas periféricos
(Chile, Argentina) como até mesmo assumiu, em certas oportunidades,
características próximas às da normalidade republicana, tal como essa
expressão é contemporaneamente entendida. (CRUZ e MARTINS, 2008)

Em 1978, com a extinção do Ato Institucional 5, a Anistia assinada, em 1979, e o


sistema bipartidário sendo substituído pelo pluripartidarismo, vários partidos foram criados,
porém a economia brasileira não ajudou. Juntando a inflação com a dívida externa, onde o
Brasil se encontrava, resultou no aborrecimento da população pelo encarecimento do custo de
vida. Os brasileiros, já não mais satisfeitos com sua situação, começam as manifestações por
eleições diretas que ficaram conhecidas como manifestações a favor das ‘Diretas Já’. Desde o
início, essas manifestações eram vistas com estranheza pelos militares por desconfiarem dos
motivos dos organizadores, além de ter como participante o Lula que apresentava perigo para
os militares. E, mesmo com a aversão dos militares às manifestações, foram surgindo mais
adesões como as associações de advogados, dos principais jornais, artistas e personalidades do
show business, além dos atletas corinthianos que foram um dos pioneiros a levar a política à
campo. (SKIDMORE, 1988)

A campanha agora assumira um ar festivo. Os partidários das diretas


envergavam camisetas (algumas com as cores da bandeira brasileira) com a
inscrição "Quero votar para presidente". Os comícios eram sempre ordeiros,
mostrando uma disciplina que surpreendia os observadores nacionais e
estrangeiros. O clima de festa, de entusiasmo popular e de ordem tornou a
campanha difícil de ser desmoralizada pelos seus adversários, mas, mesmo
assim, foram feitos esforços com tal objetivo. (SKIDMORE, 1988)

Próximo ao final da ditadura militar, quando houve um aumento na discussão sobre


democracia entre a população, o Sport Club Corinthians Paulista, time de futebol brasileiro,
marcou a história com um movimento chamado de Democracia Corinthiana, que durou de 1982
a 1984. Inicialmente o movimento prezava pela democratização das resoluções administrativas
do clube. Quando Adílson Monteiro Alves, jovem sociólogo, foi nomeado como diretor de
futebol pelo presidente do clube da época, Waldemar Pires, o nomeado começou a dar espaço
a jogadores mais politizados como Sócrates, Wladimir e Casagrande. Ocorreram grandes
mudanças sociopolíticas dentro do clube, os atletas destacavam a importância que tinha quando
grandes ídolos populares se posicionavam, além de desafiarem o conservadorismo impregnado
no futebol brasileiro.

[...] não se tratava de buscar a libertação individual, mas a libertação


“coletiva”, a resolução dos problemas políticos e sociais do país. Expandir a
mente era informar-se, intelectualizar-se, encarar a dura realidade do país.
(NAPOLITANO, 2014)

Em 1983, ano em que o movimento político inserido no processo de abertura política


‘Diretas Já’ engrenou, ativistas corinthianos participaram de comícios a favor do movimento
que pregava a volta das eleições diretas para o cargo de Presidente da República e outros, como
em 1982 que as eleições para governadores dos estados haviam voltado para o formato direto.
Em campo, os jogadores do time entravam para o jogo com camisas que sempre carregavam
mensagens de incentivo ao voto e à participação política.

A censura só era aplaudida por uma pequena burguesia ignorante e sem


capacidade de construir hegemonias e de influenciar os “formadores de
opinião”, ligados aos segmentos mais escolarizados da classe média. Os
intelectuais, liberais e de esquerda, cristalizaram a ideia de um regime
anticultural, repressor das liberdades e da criatividade.” (NAPOLITANO,
2014)

Ainda em 1983, dentro do movimento pelas ‘Diretas Já’, foi feita uma Proposta de
Emenda à Constituição nº 5, também ficou conhecida como Emenda Dante de Oliveira, que
propunha uma reescrita aos artigos nº 17 e nº 148 da Constituição Federal de 1967 e a extinção
de seus parágrafos, o que permitiria que as próximas eleições fossem feitas através do voto
direto popular. Ao ser posta em votação, e passar por quatro sessões na Câmara dos Deputados,
foi rejeitada por não alcançar a quantidade mínima de votos. No Corinthians o jogador
Sócrates, um dos principais ícones da Democracia Corinthiana, prometeu que se a emenda
fosse aceita permaneceria no Corinthians, porém, com a rejeição da emenda, Sócrates foi para
o time Fiorentina, na Itália. Assim, iniciou o fim do movimento da Democracia Corinthiana,
Casagrande também se despediu do ‘Timão’ e foi para o São Paulo. Waldemar Pires, então
presidente do clube, tentou lançar Adílson como seu sucessor, porém sem sucesso quando foi
derrotado nas eleições, essa derrota deu um ponto final ao movimento.

Referências:
CRUZ, Sebastião C. Velasco & MARTINS, Carlos Estevam. De Castello a Figueiredo: uma
incursão na pré-história da "abertura" In: ALMEIDA, Maria Herminia Tavares de & SORJ,
Bernardo. (orgs.) Sociedade e Política no Brasil pós-64. Rio de Janeiro, Centro Edelstein de
Pesquisas Sociais, 2008. pp. 8-90.
NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do Regime Militar Brasileiro, São Paulo, Contexto,
2014.pp-135-157.
SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Castello a Tancredo. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988,
pp.291-406.
DEMOCRACIA Corinthiana: O movimento que ajudou a construir o Brasil democrático.
Corinthians, 2014. Disponível em: Democracia Corinthiana: o movimento que ajudou a
construir o Brasil democrático (corinthians.com.br) Acesso em: 12 jan. 2023.
DEMOCRACIA Corinthiana. Meu Timão. Disponível em: Democracia Corinthiana
(meutimao.com.br) Acesso em: 12 jan. 2023.
SILVA, Daniel Neves. Ditadura Militar no Brasil. História do Mundo. Disponível em:
Ditadura Militar no Brasil: causas, início e fim - História do Mundo (historiadomundo.com.br).
Acesso em: 14 jan. 2023.
HIGA, Carlos César. Diretas Já. Mundo Educação. Disponível em: Diretas Já: o que foi,
contexto histórico, líderes - Mundo Educação (uol.com.br). Acesso em: 14 jan. 2023.
CORRÊA, Michelle Viviane Godinho. Emenda Constitucional Dante de Oliveira. Info Escola.
Disponível em: Emenda Constitucional Dante de Oliveira - História do Brasil - InfoEscola.
Acesso em: 14 jan. 2023.

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