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Londrina PR, de 04 a 07 de Julho de 2017.

II CONGRESSO INTERNACIONAL DE POLÍTICA SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL:


DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
III SEMINÁRIO NACIONAL DE TERROTÓRIO E GESTÃO DE POLITICAS SOCIAIS
II CONGRESSO DE DIREITO À CIDADE E JUSTIÇA AMBIENTAL

Direitos Humanos, estado penal e criminalização da pobreza.

A falibilidade da criminalização da pobreza à luz da teoria das


janelas quebradas: Um dilema para a efetivação do princípio da
igualdade

Wilson Yoshiro Oyamada1

Palavras-chave: Criminalização da pobreza.; Seletividade do Direito Penal.; Teoria das


janelas quebradas.; Princípio da igualdade.

Key-words: Criminalization of poverty.; Selectivity of Criminal Law.; Broken windows theory.;


Principle of equality.

Não é difícil perceber a disparidade na aplicação da lei penal para um indivíduo que
dispõe de pouco poder aquisitivo em relação a outro que apresenta significante patrimônio.
Não à toa, a população carcerária brasileira é, em sua maioria, proveniente das classes
mais baixas da sociedade, detentoras de poucos recursos financeiros, baixo acesso a
escolaridade e sem acesso a informação.

O Brasil, ab initio, vem sendo forjado sob a insígnia da desigualdade, e tais


discrepâncias ainda não foram sanadas. O reflexo desse mal é sentido, sobretudo, na
seletividade do Direito Penal, pois aqueles que se situam à margem da sociedade estão, de
certa forma, mais propensos a sentirem as duras penas do Direito Criminal.

Seguindo essa linha de raciocínio, como já salientado, são justamente os estratos


mais pobres da população que se encontram a mercê de sofrerem com a seletividade do
sistema penal. Constata-se que, na maior parte das vezes, os delitos que são processados
e apenados pelas instituições dizem respeito a infrações penais que, segundo Zaffaroni
(2003, p. 47), versam sobre a obra tosca da criminalidade, aos delitos grosseiros, com fins

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Advogado; especializando em Filosofia Moderna e Contemporânea: aspectos éticos e políticos pela
Universidade Estadual de Londrina e especializando em Filosofia e Direitos Humanos pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná; Monitor das disciplinas de Introdução ao Estudo de Direito e de Direito
Processual Civil da Facudade de Telêmaco Borba; Brasil; gw.wilson@bol.com.br.

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Londrina PR, de 04 a 07 de Julho de 2017.

lucrativos, como o furto e o roubo, que são delitos contra a propriedade, bem como o
pequeno tráfico de drogas, em que, na maior parte das vezes, figuram como sujeito ativo
pessoas de baixa escolaridade, provenientes das classes menos favorecidas.

Nesse sentido, é oportuno trazer a tona os ensinamentos de Zaffaroni e Pierangeli,


pois eles acreditam que não se pode penalizar o ser de uma pessoa, mas apenas o seu agir
(ZAFFARONI; PIERANGELI, 1997, p. 119-120).

A partir dessas premissas, é patente a necessidades de mudanças no modelo


estrutural e operacional no âmbito do Direito Penal brasileiro, fazendo com que esse ramo
do Direito deixe de ser seletivo, sendo aplicado de forma justa e igualitária, ou seja, de
maneira homogênea, fornecendo idênticas garantias para todos, sepultando, de uma vez
por todas, o Direito Penal do Autor, ainda bastante presente em solo nacional, mas,
enquanto na Alemanha nazista os judeus eram perseguidos pelo simples fato de serem
judeus, aqui, no Brasil, são os pobres, que, não raras vezes, são perseguidos, tratados com
descaso e carentes das garantias individuais e estatais, devido ao mal acarretado pela
seletividade do Direito Penal proveniente da criminalização da pobreza.

Nessa diapasão, cumpre mencionar que, no ano de 1969, nos Estados Unidos da
América, na Universidade de Stanford, Phillip Zimbardo e sua equipe, realizaram um estudo,
até então inédito, na seara da psicologia social. Nessa pesquisa, eles abandonaram dois
automóveis idênticos em vias públicas, um automóvel foi deixado no Bronx, local conhecido
como uma zona pobre e problemática de New York, e o outro foi abandonado e Palo Alto,
Califórnia, local caracterizado pela riqueza de seus habitantes. Logo, os carros eram
idênticos, todavia, as populações, as culturas e a realidade social em que eles foram
deixados eram distintas.

Na sequência, verificou-se que o automóvel deixado no Bronx foi rapidamente


devastado pela ação de vândalos, vindo a ser surrupiado vários dos seus componentes. Em
contrapartida, o automóvel abandonado em Palo Alto manteve-se intacto. Por corolário,
inferiu-se, tendo por base esse resultado inicial, ser a pobreza um fator determinante da
criminalidade.

Insatisfeitos com esse desfecho, esses mesmos pesquisadores decidiram quebrar


uma das janelas do automóvel que se encontrava íntegro. Não demorou muito para se
instalar uma situação análoga ao processo ocorrido no Bronx, tendo como resultado a
destruição do carro.

Com efeito, contatou-se não ser a pobreza, por si só, a causa fomentadora de
infrações penais, mas sim a sensação de impunidade. Nessa esteira, é oportuno valer-se
dos ensinamentos de Cleber Masson, que preceitua: “se são cometidos pequenos delitos

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(lesões corporais leves, furtos etc.), sem a imposição de sanções adequadas pelo Estado,
abre-se o espaço para o cometimento de crimes mais graves, tais como homicídios, roubos,
latrocínios e tráfico de drogas” (MASSON, 2017, p. 630).

No campo da criminologia, James Q. Wilson e George L. Kelling desenvolveram, no


ano de 1982, a “teoria das janelas quebradas” (broken windows theory), afirmando uma
quantidade maior da incidência de crimes e contravenções penais nos locais em que há
grande descuido e desordem. Assim, se uma comunidade apresenta sinais de deterioração
e tal fato, aparentemente, não perturba ninguém dessa comunidade, ali a criminalidade irá
se instalar. Desta feita, com essa teoria, semelhante ao estudo realizado por Phillip
Zimbardo, notou-se que a sensação de impunidade é a responsável por fomentar o
cometimento de infrações penais, e não a pobreza.

Percebe-se, portanto, que a criminalização da pobreza não se sustenta, pois carece


de embasamento empírico, persistindo a dúvida, para alguns, devido à seletividade do
Direito Criminal, ainda reinante no Brasil, que faz valer a força estatal para a classe menos
favorecida da população.

Colaborando com esse entendimento, a teoria das janelas quebradas demonstrou


que a pobreza, por si só, não é fator determinante na prática de infrações penais, mas sim a
sensação de impunidade. Evidentemente, far-se-á necessário um estudo mais esmiuçado a
respeito da relação entre a pobreza e o cometimento de delitos, para aferir, com mais
precisão, a eficácia da aludida teoria.

Ademais, pelo exposto, resta patente que a criminalização da pobreza afronta o


princípio da igualdade, sendo uma ofensa gritante contra a Carta Magna brasileira,
prejudicando a concretização dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil.

REFERÊNCIAS

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso
em 20 fev. 2017.

CONTRUCCI, Jose Roald. A seletividade do sistema penal no Estado Democrático


Brasileiro: Uma afronta ao Princípio da Igualdade. Acesso em 20 fev. 2017

MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado: parte geral – vol. 1 / Cleber


Masson. 11ª ed. Ver., atual e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Enrique. Manual de direito penal


brasileiro: parte geral. São Paulo: RT, 1997. p. 119-120.

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