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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DA VARA JUDICIAL DA

COMARCA DE RS.

Processo n°

, já qualificado nos autos do processo, vem, respeitosamente, através de seu


procurador infra assinado, à presença de Vossa Excelência, requerer o
DESBLOQUEIO do saldo de sua conta, pelos motivos que seguem.

A parte exequente requereu a penhora “on line” dos saldos bancários do


executado (evento 15).

Deferido o pedido, foi bloqueada a monta de R$ 2.144,07 (dois mil cento e


quarenta e quatro reais com sete centavos) de sua conta no Nubank.

Contudo, impõe-se apontar a IMPENHORABILIDADE dos respectivos saldos.


De um, por se tratar de verba de natureza salarial, de dois, por se tratar de conta de
pagamentos com saldo inferior a 40 salários mínimos, conforme extratos bancários
anexos.

DA NATUREZA SALARIAL

O executado, diga-se, não possui vínculo trabalhista formal há duas décadas.


Desde então, provém seu sustento e da sua família através de seus ganhos como
trabalhador autônomo informal.

Assim, conforme folders de anúncios de eventos anexos, o executado exerce


a profissão de músico, se apresentando em bares, restaurantes e eventos pela
região.
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Contudo, reitera-se, o executado o faz informalmente, não efetuando sequer
recolhimento à previdência.

Todavia, conforme entendimento pacífico dos tribunais, a informalidade não


afasta o caráter salarial e alimentício – e, consequentemente, a
impenhorabilidade – das verbas bloqueadas.

Senão vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS.


EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. GANHOS DE
TRABALHADOR AUTÔNOMO. IMPENHORABILIDADE.
1. Sabe-se que os valores percebidos a título de trabalho
autônomo encontram proteção especial nas disposições
presentes no art. 833, inc. IV, do Código de Processo Civil, que
trata das regras de impenhorabilidade, as quais devem ser
interpretadas sob a ótica da máxima efetividade da ordem
constitucional, pois tratam de garantias de direitos fundamentais.
2. No caso dos autos, comprovado que os valores bloqueados
correspondem a ganhos de trabalhador autônomo, deve ser
reformada a decisão vergastada para declarar a
impenhorabilidade dessas quantias e, consequentemente,
proceder à sua liberação. APELO PROVIDO.

Ainda, há de se reconhecer a dificuldade de produção de prova da natureza


da verba salarial neste caso, eis que a esmagadora maioria dos negócios são feitos
“de boca”, com a pactuação contratual formalizada “no aperto de mãos”.

Contudo, os folders de eventos ora juntados trazem embasamento às


alegações. Ainda, a própria dívida executada, cobrada em virtude do alvará
municipal, também comprova o labor da parte.

Diante disso, conforme dispõe o art. 833, IV, do CPC, o referido bloqueio é
indevido, eis que os vencimentos salariais são impenhoráveis.

Art. 833. São impenhoráveis:


IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as
remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e
os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro
e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de
trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,
ressalvado o § 2º ;

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DA IMPENHORABILIDADE DA CONTA

O executado possui apenas uma conta bancária, aberta ainda no mês de


setembro, no banco Nu Pagamentos S.A, popularmente conhecido como Nubank.

O referido banco, digital, oferece, assim como todos os outros do ramo, uma
conta denominada conta de pagamentos.

Esta conta, segundo regulamentação do BACEN e informações do próprio


banco, anexas, consiste numa “conta corrente que rende”. Isso porque, via de regra,
as contas bancárias são separadas em contas corrente ou contas poupança. Aquela
é utilizada para movimentações cotidianas, ao passo que esta serve para depositar
suas reservas e obter rendimentos financeiros de baixa escala.

A conta de pagamentos do Nubank, pois, oferece as duas modalidades:


movimentações e rendimentos de baixa escala. Contudo, essa diferenciação entre
as nomenclaturas não afasta o que ambas têm em comum: seus saldos, se
inferiores a 40 salários mínimos, são impenhoráveis, na forma do art. 833, inc. X,
do CPC.

Destaca-se que o dispositivo supracitado apenas faz referência à conta


poupança, contudo, o entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça, é de
que a característica de impenhorabilidade deve ser estender às aplicações
financeiras como um todo, bem como, é claro, às outras modalidades de conta:
corrente e de pagamentos. Senão, vejamos:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO


RECURSO ESPECIAL. REGRA DE IMPENHORABILIDADE. VALORES ATÉ
40 SALÁRIOS MÍNIMOS DEPOSITADOS EM CONTAS BANCÁRIAS.
INCIDÊNCIA. PRECEDENTES. 1. São impenhoráveis os saldos inferiores a
40 salários-mínimos depositados em caderneta de poupança e, conforme
entendimento do STJ, em outras aplicações financeiras e em conta-
corrente. Precedentes. 2. Agravo interno não provido. AgInt no RECURSO
ESPECIAL Nº 1812780 - SC (2019/0128828-6)

Veja, Excelência, que a ampliação da regra de impenhorabilidade atinge o


caso em tela. Isso porque, conforme já mencionado, esta é a única conta que o
executado possui, sendo que a verba lá contida nem de perto alcança os 40
salários mínimos.

Neste sentido, pois, tem-se que os saldos penhorados são duas vezes
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impenhoráveis. Uma, por se tratar de verba salarial, outra, por constarem em
aplicações financeiras com saldos inferiores a 40 salários mínimos.

Assim, límpido é o direito que o executado tem de ver reconhecida a


impenhorabilidade dos saldos constantes em sua conta.

Ainda, considerando que esta é a única fonte de renda do executado, não


podendo contar com outros meios para prover seu sustento, requer, em sede de
urgência, inaudita altera pars, sejam imediatamente liberados os valores
bloqueados.

Isso porque condicionar, à luz do contraditório, a expedição do alvará de


liberação dos valores à oitiva da outra parte – ente público com prazo em
dobro –, nada mais é que prejudicar ainda mais a situação financeira do
executado, uma vez que resta líquido, certo, pacífico e cristalino o direito da
parte a ver reconhecida a impenhorabilidade de suas contas.

Para tanto, sugere-se a devolução diretamente à conta bancária em que


foi realizada a penhora. Alternativamente, não sendo possível, indica-se a
seguinte conta bancária:

Ante o exposto, requer o reconhecimento da IMPENHORABILIDADE dos


valores bloqueados, com o consequente e imediato DESBLOQUEIO dos saldos,
pelos motivos expostos.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Rio Pardo, 19 de outubro de 2022.

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