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2ª edição
2 0 0 9
Copyright 2009 by João Henrique Areias
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
A724b
2.ed.
ISBN 978-85-88642-12-6
1. Marketing esportivo - Brasil - História. 2. Futebol - Aspectos
econômicos - Brasil. 3. Esportes - Aspectos econômicos - Brasil. 4. Esportes -
Administração. I. Título. II. Título: Vinte anos de marketing esportivo.
09-5400. CDD: 796.0698
CDU: 796.062
migrar para este modelo. Mas não é só por isso, é claro, que eu recomendo e
Zico
Márcio Braga
Presidente do C.R. do Flamengo, em 17 de dezembro de 2007
Agradecimentos
por onde vai, arrasta multidões fanatizadas. Há quem morra com o seu nome
Além de torcedor, fui aluno dessa escola que forma jogadores, técni-
prensa), com o nosso caro massagista Demi que vieram do Flamengo e hoje
servem, também, à CBF. Nas minhas três primeiras passagens pelo clube,
cio Braga, que sempre confiou no meu trabalho. Nesta última experiência
o resultado não foi diferente, só que desta vez o título foi de bi-campeão
brasileiro de basquete.
que foi o primeiro a sugerir que eu escrevesse este livro. Ao Alvaro Esteves,
filhos, que embarcou comigo nos primeiros projetos; aos meus filhos Gustavo
Felippe Awi, que me ajudou com muita competência a formatar este livro; à
Lucia Koury, minha editora, por sua santa paciência; ao Bruno Gonçalves que,
em seu primeiro estágio, encarou a tarefa de organizar o mailing e o hotsite
Alvaro, meus amigos internautas que cuidam dos nossos sites; aos profissio-
nais que trabalharam comigo na Sportlink (Flavio Pinto, Luiz Leo, Andrea
João Vitor, Marquinhos Leal, Edu Mora, Julio Avellar, Bruno Campos, Gabriel
levar nosso projeto adiante, em especial aos funcionários Vitorino Silva, Ser-
gio Silva, Dário e Alessandra, além dos ex-alunos do meu curso de marketing
meu cliente, amigo e compadre Savio, sua mulher Suzana e aos três magní-
todas as horas e a muitos outros que não caberiam nesta página, mas que
PS: Esta edição foi revisada e ampliada com o capítulo sobre a experiência
no Fla-Olímpico, onde exerci o cargo de vice-presidente, de fevereiro a julho
de 2009.
dos, onde, com alguma frequência, nos deleitamos com as vitórias do nosso
talento. Basta uma sumária reflexão para você se questionar e, quem sabe,
concluir, como eu, que existe um enorme abismo entre o que é e o que poderia
e celebridades num grau como talvez só seja observado nos EUA. Contudo,
íses chega a 5%, não empregamos mais do que uma fração do potencial de
Giba, Maurício, Oscar e Hortência, só para citar alguns dos poucos a quem
relação às diversas modalidades, mas que viesse a nos retirar do terceiro pe-
Areias é um desses. Sua história mostra que ele não tem dúvida alguma de que,
gra, seria só uma questão de tempo passarmos para o lado dos que produzem
um projeto cujo conceito básico era o de usar o incentivo econômico para in-
bev, das Lojas Americanas, entre outros investimentos) que, como eu, tinha
em quase 100% maior que as médias da época, estes seriam sócios dos lucros.
Este projeto, levado pelo João ao Clube dos 13 e apresentado à sua diretoria,
presidida pelo sr. Fábio Koff, nem sequer teve resposta formal.
gos, sabem da sua tenacidade quando se encanta por suas próprias soluções,
em geral ousadas para o nosso ambiente. Então, não é difícil entender como
cido a entrar em alguma nova loucura. Digo isto antecipando sua própria con-
clusão, depois de ler este livro. Desde a viabilização da Copa União (capítulo
dos em prazos que deveriam e foram adjetivados como loucura. E foi assim,
na crise, consequência comum da falta de planejamento e do amadorismo,
doto para todos os males; seria desprezar o ocorrido quando dos investimentos es-
trangeiros, também desejados, que aportaram em clubes na última década, como foi
feita com o MSI. Foram todos feitos por profissionais, mas em ambientes amadores,
dança na governança das entidades esportivas, que hoje atendem mais aos in-
dos atletas ou, mesmo, os da sociedade como um todo. Neste sentido, é inte-
tivo, no futebol ou fora dele, recomendo, na leitura deste livro, atentar para
dos por esporte que custam a entender o porquê de tanto atraso em seguir
Maracanã que tem o esporte neste nosso Brasil. Pois foi neste país que se
Estou certo de que a maior recompensa para o autor será inspirar outros
jovens (como era ele, em 1987, imaginando fórmulas para a Copa União) a
esporte do país uma estrutura e uma prática à altura do talento dos nossos
melhores esportistas.
15. Introducao
Depoimento: Zico
145. No basquete
Virando o jogo
Depoimento: Ary Vidal e Renato Brito Cunha
201. Fla-Olimpico
A história do Fla-Basquete, bi-campeão brasileiro
Depoimentos: Paulo César Pereira Filho, Alexandre
Franklin, Jefferson, Pedro Paulo Drumond, Paulo Chupeta,
Arthur Repsold, Carlo Mossi e Sergio Ricardo de Almeida
Introducao
com depoimento do Zico
O estrangeirismo marketing ainda não havia desembarcado nos trópi-
cos nem o Brasil era o país do futebol quando uma coisa e outra se juntaram
pela primeira vez por aqui. Foi simples assim: no início dos anos 30, uma
nome ao seu novo lançamento. A empresa era a Lacta, o ídolo era Leônidas
da Silva e o dono da ideia era uma das cabeças mais revolucionárias do início
dores da virada do século XX. Naquela época, era mais uma aposta visionária
Silva era o maior ícone de um esporte que dava os seus primeiros passos – largos,
é verdade – pelas principais cidades brasileiras. Ele fez o único gol do Brasil na
Copa de 1934 e voltou como artilheiro do Mundial da França quatro anos depois,
na primeira vez em que a seleção brasileira não passou vergonha neste torneio.
revistas. Pelo trabalho, consta que recebeu a quantia de dois contos de réis.
Negro estavam levando algo novo para o conjunto de estratégias cujo obje-
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do que chamamos de marketing. Tanto estavam na vanguarda que, embora
Leônidas tenha lançado ainda outros produtos, como cigarros e relógios, este
mengo. Foi um convite que me pegou de surpresa. Até então, eu era apenas
ideias de marketing, ainda embrionárias, e ele não demorou muito para de-
eventos, representar a empresa lá. Até poderia também ter delegado a missão
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e que os negócios envolvendo o esporte seriam uma área de grande potencial
muito amigo do Márcio Braga. Ele me disse que o novo presidente do Flamen-
que eu poderia ser um bom nome por minha experiência com comunicação
passar pela área comercial da empresa, fui aos poucos me direcionando para
no início dos anos 80, não eram tão óbvias como são hoje. Ali, patrocinando
que uma empresa tem de se comunicar desse jeito com seu público-alvo.
não tinha tempo de me dedicar ao clube, que trabalhava todo dia até pelo me-
com um calhamaço de papéis que logo me chamaram a atenção. Jazia ali uma
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coletânea dos projetos de marketing desenvolvidos no Flamengo pelo publici-
pois competir com o Eldorado europeu já era tarefa inglória, mas Steinberg
nada menos que o maior craque do Brasil na época. Tão simples que, hoje, pa-
rece até absurdo que ninguém tivesse pensado nessa ideia antes. De quebra,
como aquele estava perdido num arquivo abandonado numa sala igualmente
diretorias amadoras dos clubes, que não costumam ter a menor vontade de
das Olimpíadas de Los Angeles, em 1984. Esta edição dos Jogos tornou-se um
outras, foi financiada basicamente pela iniciativa privada. Até então, apesar
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da sua grandeza, as Olimpíadas eram eventos deficitários para as cidades que
alguns anos antes dos Jogos de 1984, a população de Los Angeles se declarou
a dar lucro (algo em torno de US$ 250 milhões) desde o seu nascimento, na
de publicidade.
ideias. Não só pelas iniciativas de Steinberg, que falava até em direito de ima-
gem dos atletas, mas também por outras ações isoladas. Em 1984, na gestão de
da Lubrax, que mantém até hoje, num dos raríssimos casos de fidelidade de pa-
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cursor do marketing esportivo no Brasil, começou a desenvolver campanhas de
Naquele início, meu primeiro projeto que deu o que falar foi o de incre-
Grêmio, clube de onde veio, Renato era um exemplo de jogador que gostava
permanência na Gávea, ainda mais com o seu alto salário. Numa reunião,
até que chegou a minha vez. Eu disse que ficar com o Zico era um risco cal-
culado, ele teria 50% de chances de voltar a ser o Zico que todos amavam
e 50% de chances de nunca mais jogar bola na vida. Por isso, se a segunda
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o colocasse numa função fora do campo, uma espécie de relações públicas
não tinha dúvidas de que, carregando o Zico ao meu lado, minhas chances de
vender qualquer projeto do clube saltariam de 10% para 90%, ainda mais se
Não era uma decisão fácil, porque o salário era alto para os padrões da
época, mas que hoje não paga um volante razoável no Flamengo. Mesmo as-
sim, o Márcio Braga comprou a minha ideia, não sem antes colocá-la à prova:
“Então trate de arrumar logo esse patrocinador que vai pagar o Zico, porque
IBM consumia quase todo o meu dia e, por isso mesmo, decidi começar a busca
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lá dentro mesmo. Com um sistema de mensagens interno, um precursor do e-
mail, pedi uma ajuda ao diretor de marketing da IBM, o Márcio Kaiser, que eu
sabia ser rubro-negro doente. Dizia que o Flamengo estava procurando um pa-
empresa. Não demorou muito tempo para um vendedor da IBM chamado José
Esse trabalho com o Zico foi apenas um dos 17 que o departamento de mar-
850 mil. No ano anterior, a receita tinha sido de US$ 400 mil, advinda de contra-
tos com oito empresas. Em 1988, meu último ano à frente da vice-presidência, tra-
balhamos com 21 empresas (Lubrax, Adidas, Mesbla, Kibon, Nestlé, entre outras)
bro-negra que, no final das contas, era o nosso público-alvo, como o que pos-
equipe claramente movido pela paixão por um clube e por um ídolo. O Márcio
Kaiser e o José Mário Pereira de Almeida fizeram isso pelo Flamengo e pelo
tos que desenvolvi nos últimos 20 anos, quase sempre envolvendo alguns dos
Neste livro, procuro mostrar que esses cases, além de renderem his-
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valor didático. Ficarei feliz se ajudarem, por exemplo, um estudante de
cerca o esporte nos dias de hoje. Ele não se arrependerá se investir tempo
lhões em vendas indiretas. A paixão que o esporte desperta remonta aos seus
primórdios, mas agora ela vem acompanhada de ações de marketing cada vez
proporcionaram uma boa margem de lucro aos seus participantes. Seu legado
para os clubes de futebol, que não vivem mais sem o dinheiro pago pela te-
que ainda impera entre os nossos dirigentes tem impedido avanços maiores.
Poderíamos estar, por exemplo, num estágio mais evoluído que o do milioná-
rio futebol espanhol, que hoje não pára de importar os nossos craques.
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pois de um jejum de 24 anos. Não, contratos publicitários não entram em cam-
po nem marcam gols, mas eles podem ajudar a dividir ou a unir um grupo. Em
em que a seleção brasileira foi eliminada nas oitavas de final. Quatro anos de-
pois, representei o técnico Carlos Alberto Parreira e todos os atletas, entre eles
hoje conhecida como a cerveja número um. Fizemos vários contratos coletivos
mais vitoriosos dos últimos anos, com títulos por Flamengo, Real Madrid e
Zaragoza. Foi uma opção porque, com ele, poderia ir além de um trabalho de
que fez de Sávio um jogador bem sucedido dentro e fora de campo. Foi meu
primeiro cliente na Sportlink. Já fazemos uma parceria desde 1994, que será
Fluminense vivia uma época de vacas magras, sem conquistar um título havia
Sportlink. São coisas do nosso futebol, como ficará claro ao longo do livro.
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Arthur Antunes Coimbra
técnico de futebol
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Claro que os resultados são fundamentais para isso dar certo, mas
tive a oportunidade de ver esse ciclo se formar no Japão. O que vem junto
é a incorporação de profissionais mais específicos nos clubes, como fisiote-
rapeutas e até preparadores de goleiros, profissional que os japoneses não
tinham, entre outras coisas. Já na Itália, tínhamos, na década de 80, um
futebol muito profissional nos bastidores, ainda que o Udinese fosse apenas
um clube médio. Porém a estrutura era bem enxugada e tratava apenas de
futebol. Foi o meu primeiro contato com uma liga realmente organizada.To-
das as possibilidades disponíveis em ações de marketing são importantes.
Mas num país onde há tanta bagunça no futebol é difícil falar des-
sas divisões claramente, como marketing e até planejamento. É complicado
achar um parceiro que queira apoiar sem ter certeza de que o campeonato
vai acabar, sabendo que você compete em desigualdade de condições e que
há influência política muito intensa que, às vezes, atrapalha o esporte.
N.A. - Pedi para o Zico dar seu depoimento sobre nossas experiências conjuntas e
recebi dele um belo relato sobre administração esportiva que, pode não parecer, é
exatamente o que este livro mostra: a importância do profissionalismo no esporte.
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Copa Uniao
Pela primeira vez, o futebol brasileiro na vanguarda
com depoimentos de Juca Kfouri e Celso Grellet
E m 1º de maio de 1969, no primeiro Dia dos Trabalhadores depois da
publicação do AI-5, o governo militar mandou os principais estados do país
cidades. No Rio, por exemplo, houve um Fla-Flu, enquanto em São Paulo foi
era o de atrair o povo para a sua grande paixão, o futebol, e ajudar a des-
dos brasileiros com o escrete canarinho teria de ser canalizada para que fosse
conviver melhor com as nossas fragilidades. Esse conceito era a base de uma
eram estimulados a construir estádios para mais de 60 mil pessoas que, mais
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de tudo, era necessário criar um campeonato de abrangência efetivamente na-
pantes. Eram 20, mas já incluía mais clubes do Nordeste, do Sul e de Minas
times na edição de 1979. “Onde a Arena vai mal, mais um time no Nacional”,
tário para a CBF, que tinha de arcar com os custos das viagens e hospedagem
que isto acontecia numa época em que nossos craques estavam, em sua maio-
dinheiro da Loteria Esportiva, que bancava boa parte desses gastos, era cada vez
para levar adiante o antigo sonho de fundar uma liga independente da CBF.
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Anteriormente, o ex-presidente do Fluminense Francisco Horta já havia ten-
de união dos clubes. Nessa nova tentativa, o objetivo dos dirigentes era o
como uma atividade econômica que precisava ser lucrativa para sobreviver
o nome de Clube dos 13, mantido até mesmo quando foram admitidos mais
A iniciativa foi muito bem recebida pela grande imprensa, que em sua
95% dos torcedores brasileiros e, por isso, tinham força, sim, para superar os
obstáculos que apareceriam pela frente, entre eles uma suposta ilegalidade
da iniciativa, uma vez que a legislação não permitia a criação de ligas inde-
pendentes da CBF. Esta era uma das alegações para que a entidade, mesmo
nacional fora de seu controle. A CBF ainda não entendia que, antes de ser um
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O Clube dos 13 representava uma ideia, ao mesmo tempo tão radical e
sensata, que deu crias: no ano seguinte, ajudei a montar o Clube dos Seis,
da teoria para a prática, um outro obstáculo tão grande quanto a sua “ile-
de US$ 1 milhão, quantia de que eles precisavam para fazer o papel financei-
ma era tão grave que alguns membros do Clube dos 13 já admitiam ceder à
Flamengo, tornou-se crucial para o futuro do Clube dos 13. Seus membros
a ele que não entendia como uma entidade que reunia os maiores clubes do
projeto de marketing, assim como tínhamos feito com o Zico e a Blue Cross
alguns meses antes. Naquele mesmo ano, uma reportagem da revista Business
Week, com a chamada de capa: “Nada vende mais do que o esporte”, mostra-
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investimentos na área. Então, o presidente do Flamengo virou-se de repente
para mim e me lançou o desafio: “Ah, é fácil? Pois então você tem até segun-
Reunião do Clube dos 13, em 1987, com a presença dos dirigentes do Flamengo, Flumi-
nense, Botafogo, Vasco, São Paulo, Corinthians, Palmeiras, Santos, Cruzeiro, Atlético,
Internacional, Grêmio e Bahia.
mana pela frente para dar uma solução para o Campeonato Brasileiro. Lem-
Depois fui para casa, sentei em frente ao meu computador e passei a adaptar
assim como a IBM era líder no mercado de informática, o Clube dos 13 era lí-
Xuxa, uma ex-modelo gaúcha sem qualquer apelo popular que, em poucos
anos, havia se tornado uma febre nacional. Graças a quê? A uma caixa retan-
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Naquela época, a televisão ainda era um tabu para os clubes de futebol.
ões isoladas de dirigentes contra essa prática. A primeira de que tenho notícia
clubes, isto é, os responsáveis pelo espetáculo, teriam que ser pagos por isso.
Como não houve acordo, não há imagens registradas deste clássico. Por esta
história, dá para ter uma noção do tamanho do meu desafio na tal reunião de
espera de uma solução que salvasse o futebol brasileiro da falência mas, até
início, já dei a diretriz do meu projeto: “Se vocês precisam mesmo de US$ 1
Foi bom até a luz estar apagada, para a exibição das transparências na
em vez de aparecerem para 100 mil pessoas no estádio, vão aparecer para
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posição toda. É uma questão de amplificação da mensagem”. Então usei o
exemplo da Xuxa, que não saía da minha cabeça. Uma moça que de repente
ouro. Naquela época, ela venderia gelo para esquimó. A massificação pela
ela. Cabia a nós explorar o seu potencial da melhor maneira possível. Assim,
a paixão do torcedor pelo seu time. Já acontecia isso com outros esportes,
quem os times jogariam até o fim do ano. Para vender um produto, o com-
prador tem que saber exatamente o seu conteúdo e, até então, calendário era
mostravam bem a divisão interna que existia naquela sala. O então vice-pre-
aliada dos clubes de futebol. Era uma mudança e tanto. Pelo menos eu tinha
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a bilheteria era apenas a sétima principal fonte de renda dos clubes italianos,
a maior média de público havia sido de 22 mil pagantes por partida, em 1983.
Deixei a sala de reunião sem saber da decisão final dos dirigentes. Pas-
sei incógnito pelos repórteres que aguardavam uma notícia do lado de fora.
seguinte, eu teria uma feira da IBM em São Paulo. Quando cheguei lá, um
explicado nos mínimos detalhes. Eu gelei na hora: “Vou ser demitido da IBM”.
Liguei imediatamente para o Márcio Braga para saber o porquê de toda essa
exposição e ele me acalmou. Disse que decidiu usar o projeto para pressionar
roer a corda. Mas cabia a mim fazer desse projeto uma realidade.
Paulo, com quem me encontrei no dia seguinte. No primeiro semestre, ele ha-
de 1987, entre São Paulo e Corinthians. Os clubes cobraram US$ 70 mil. Pode-
tido para todo país na segunda-feira à noite, inclusive para a cidade onde ele
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Já estava decidido que o campeonato não teria 13, mas 16 clubes. Era um
número que permitia uma tabela mais racional, com número par, e dava uma
ás, Coritiba e Santa Cruz. Assim, calculei que seria possível vender 42 jogos
para a TV Globo, ao preço de US$ 70 mil cada um. Daria um total de US$ 3,4
milhões, ou seja, US$ 2,4 milhões a mais do que o Clube dos 13 necessitava
você vai querer vender todos os jogos pelo preço de uma final de Campeonato
nada a perder.
Três dias depois da reunião no Clube dos 13, estávamos sentados numa
sala eu, o Celso e um diretor da TV Globo, o Ivan Borges. Ele parecia não
acreditar no que estávamos lhe propondo: “João, US$ 3,4 milhões é mais do
que pagaram US$ 70 mil porque a final do Campeonato Paulista era um jogo
único que despertava interesse no Brasil inteiro. Então eu disse a ele que, de
fato, o futebol brasileiro, naquele momento, não valia nem um dólar mas era
outra coisa que estava em jogo ali: “Queremos recuperar um bem do povo
brasileiro, a sua maior paixão, e fazer parte disso não tem preço”.
uma imagem que, de certa forma, me remetia à IBM. Ambas eram líder de
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de uma paixão popular, poderia melhorar muito a sua imagem. Este era um
valor intangível e o único preço que eu tinha ali como referência para nego-
tenha sido favorecido pela técnica comum dos japoneses que sentam à mesa
para negociar. Eles o fazem até que o outro lado fique cansado, uma estraté-
gia também comum no judô, por exemplo. Acredito nisso porque, de repente,
o Ivan abriu a guarda com uma frase: “João, eu não posso falar para as pesso-
Pois então havia gente graúda esperando o fim dessa negociação, era um
“Ivan, se eu estivesse no seu lugar, eu ligaria agora para essas pessoas e diria
ram pagar os US$ 3,4 milhões, num contrato de cinco anos. Deram US$ 2,1
Dali mesmo eu liguei para o Márcio e pedi que ele avisasse aos clubes
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e o Celso explicamos exatamente os termos do contrato e, apesar de uma ou
vidados a sair da sala e, quando voltamos, eles nos chamaram para ser dire-
para os clubes e uma para mim e o Celso. O contrato com a TV Globo não
Tínhamos um mês para completar a missão porque a Copa União tinha início
dário, como tinha se tornado hábito até então, causaria um desgaste e tanto
para todos nós, uma vez que já seria uma contradição à nova mentalidade que
nome do torneio, que deixaria de ser Campeonato Brasileiro para ser tornar
Copa União, uma alusão ao entendimento, até então inédito, de todos os par-
ticipantes. Mas a empresa estava ainda traumatizada com o esporte por causa
da história da Fórmula-1.
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no Brasil em que usaria como garoto-propaganda dois astros da música pop
internacional: Rod Stewart e Tina Turner. Ou seja, num país xenófobo como o
Brasil dos anos 80, eles estavam importando cultura para vender refrigeran-
te. Liguei para o Celso e ele havia tido a mesma ideia: precisávamos procurar
a Coca-Cola urgentemente.
O alto escalão da Coca-Cola nos recebeu no Rio. O que nós tínhamos a ofe-
carinho pelo Brasil para vencer todas as resistências que existiam contra mar-
cas internacionais. A IBM já tinha passado por isso no início dos anos 80, quan-
do sofreu com a Lei da Informática criada pelo governo militar, que proibia
mudar seu nome aqui de IBM “do” Brasil para IBM Brasil. Era como se dissesse
aos seus clientes que era estrangeira, sim, mas vivia aqui como um cidadão
cedendo, embora no ano seguinte tenha pago aos clubes US$ 1,3 milhão
os clubes estavam pegando uma verba que já seria da TV Globo, só que sob
outras circunstâncias.
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De qualquer forma, somados os contratos da TV Globo e da Coca-Cola,
viam visto tanto dinheiro assim, de uma hora para outra. Pela primeira vez
MacCann Erikson
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O Vasco, por exemplo, reivindicava que os clubes de maior torcida tivessem
participação maior na fatia do bolo, até com certa razão. Enquanto se dis-
Paulista. O presidente do São Paulo era o mesmo do Clube dos 13, o Carlos
Miguel Aidar, que também havia passado à frente do Corinthians numa ne-
gociação com um jogador chamado Renatinho. E ainda soltou uma frase que
seria divertida se não fosse trágica naquela ocasião: “O que é bom para o São
Paulo não pode ser bom para o Corinthians”. Ou seja, por rivalidade clubista,
de cotas, esqueceu isso e entrou no grupo dos que tentavam convencer Matheus
Vicente Matheus, enfim, cedeu, mas o nosso maior desafio naquela tarde
ainda estava por vir. Estávamos já chegando ao acordo final quando o presiden-
não acreditava no que estava ouvindo. A Coca-Cola já tinha mais de cem anos
de existência e sempre exibiu aquela logomarca, qualquer criança sabe que ela
Então, nós fomos na sala ali ao lado conversar com o Jorge Gigante, o
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da gremista jamais entenderia qualquer traço vermelho na camisa do clube.
Por sorte, o Gigante era argentino e entendia muito bem até onde chegavam
rivalidades como a que existe entre Boca Juniors e River Plate. Se fosse um
executivo americano ali, o contrato iria por água abaixo, porque lá essas pai-
tem a sua única loja preta e branca no mundo porque amarelo e vermelho
O que não teve solução foi a nossa tentativa de vender o espaço do meio-
dentro do campo. Para manter o contrato nos mesmos valores, nós então
cedemos o espaço na camisa dos times para o ano todo, e não apenas entre
de que serve para mostrar o quanto havia de inovador em toda aquela his-
invadindo o futebol. Dizia, com o seu sarcasmo genial, que esses “rapazes do
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Eu expliquei ao João os nossos propósitos, que o marketing era só um meio
dentro das quatro linhas. Acho que, no final, ele acabou entendendo, pois
não soltou mais nenhuma piada nem sugeriu que cobríssemos a rede da trave
atrás de outras empresas que nos ajudaram a viabilizar a Copa União. A Varig
nos deu desconto de 50% em todas as passagens que foram usadas nas viagens
virou uma febre da garotada. Vendeu 180 mil exemplares em apenas uma se-
mana e, ao fim do ano, a venda total foi de 480 mil unidades e 20 milhões de
foi pioneiro ao pagar pela primeira vez direitos de imagem a atletas brasileiros.
Para fortalecer a marca dos clubes, fomos atrás de uma empresa que fa-
simo explorado pelos dirigentes brasileiros. Nos Estados Unidos, esse mercado
era dos mais promissores: havia crescido mais de mil por cento entre 1977 e
sendo que US$ 5 mil seriam para mim e para o Celso, os intermediários. Foi o
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víamos vendido a Dover um produto que não nos pertencia. Para não melar o
as classes e depois pedem marca notória, o que impede que alguém use o seu
eles tinham de mais valioso, o que chamamos de valor intangível. Era como a
Coca-Cola: a sua marca vale mais que todos os seus bens tangíveis somados,
incluindo todo o seu patrimônio. Pior: alguns usavam como mascotes símbo-
los que não lhes pertenciam. O Botafogo, por exemplo, tinha adotado o Pato
Tão importante quanto o trabalho de Bhering junto ao INPI foi a briga que
a indústria de calçados Fighter, que tentou registrar os escudos dos clubes para
por ano e poderia arrecadar muito mais. Vinte anos depois, os clubes ainda
não aproveitam bem a sua popularidade para vender produtos e ainda não
duraram mais que duas semanas. Não foi, porém, uma questão simplesmente
Com tudo pronto, agora tínhamos que confirmar que o nosso produto
era mesmo bom, ou seja, a Copa União precisava ser um sucesso também den-
tinham dois jogos no Rio, dois em São Paulo, um em Porto Alegre e um Belo
Horizonte. Isso fez com que os torcedores dessas cidades voltassem a ganhar
tes). Em ambos, o Flamengo foi o campeão, o que certamente puxou essa mé-
dia para cima, mas, em 1987, o Corinthians, segundo clube mais popular do
o equivalente a uma média de 41 mil torcedores por jogo, seis mil a mais que
jogos. Eram três por semana. O primeiro, toda sexta-feira, às 21h30, num
uma partida às 16 horas, nunca para a praça onde ele estava acontecendo.
do apito final, para que ninguém soubesse previamente que partida seria
recuperação de lesões.
Uma pesquisa do Ibope com 2.300 pessoas mostrou que 72% dos homens
Considerando as mulheres, este número caía para 52%, mas ainda era muito
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clubes – foi que apenas 7% dos entrevistados afirmaram que a transmissão
dos jogos pela TV mudara o hábito delas de ir ao estádio. Esse número era um
60% dos entrevistados afirmaram que não tinham o hábito de ir aos estádios,
algo que poderia ser fomentado justamente pela TV. Dos entrevistados ho-
mens, 85% disseram que viram os jogos pela televisão. Cruzando com outros
jogos tiveram 31% de audiência contra 29% dos programas que iam ao ar no
mesmo horário. No Rio, esta mesma relação foi de 35% contra 36%. O primei-
Rio e 43% em São Paulo, uma praça sem ligação com os dois finalistas. Estes
ao vivo, direto para o Rio, mas mesmo assim 90 mil pessoas foram ao estádio.
Ficou claro que, se o espetáculo for bom e tiver atrativos, existe público para
dos jogos e até se animou mais a ir aos estádios. Nada mais era do que o
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da bola. Hoje não se imagina um grande campeonato sem a presença de uma
grande emissora. É como se ele não acontecesse de fato. A Copa União, pois,
para os estádios, o preço dos ingressos foi o mesmo cobrado nos campeonatos
gresso durante toda a fase classificatória. Houve reajuste de 100% apenas nas
semifinais e finais. Hoje, dobrar o preço do bilhete soa absurdo, mas devemos
tebol brasileiro: o atraso dos jogos. Com a entrada da TV, eles se tornaram
duas vezes antes de cometer uma indisciplina, uma vez que agora sua imagem
açou não ceder os árbitros, tanto que, na primeira rodada, ainda pairava a
da de braço com os clubes – e percebendo que a Copa União foi aceita pelo
público e pela mídia – , a entidade aceitou negociar. Foi feita uma composição
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campeão e o vice da Segunda Divisão (Sport-PE e Guarani), chamada de Mó-
dulo Amarelo. Os 16 clubes não aceitaram isso, porque não estava no regula-
1987. A CBF insiste que é o Sport, uma vez que os times do Módulo Verde se
res não seriam aumentados caso a competição fosse inchada, mesmo porque a
O ideal teria sido organizar uma Segunda Divisão também com 16 clu-
público pagante caiu quase pela metade (13.811), sem contar a queda na
qualidade dos jogos. Além da inclusão de equipes menos fortes, voltaram com
52
do uniforme rubro-negro e o Corinthians manteve o logotipo da rede de pa-
pelaria Kalunga, mesmo depois de a revista Placar mostrar que o nome signi-
do, aos poucos, o seu conceito original. Foram retirados do torneio os atribu-
tos que levavam mais gente ao estádio, o que, no fim das contas, é o objetivo
to. É claro que o dinheiro é bom e é importante, mas ele acaba traduzindo,
na verdade, que o seu produto é bom. Eu sempre dizia que a gente estava
odo. Na verdade, a Copa União era uma passo grande demais na estrutura
Espanha, por exemplo, só foi criada uma liga profissional nestes moldes em
53
ção nacional, deixando o campeonato para os clubes. Foi uma pena porque
verdade que a renda das pessoas é maior no Velho Continente, mas o nosso
Ironicamente, de lá para cá, foi a CBF quem mais deu passos no ca-
dos 13 representa até hoje o interesse dos principais times do país graças à
Brasileiro.
Mais importante que tudo isso foi que a Copa União fez os clubes enten-
derem que era fundamental buscar novos tipos de receita para sobreviver. Do
à mesa dos clubes para negociar duas figuras: o diretor social, para tratar
não era tão frequente quanto hoje. Ainda era possível decorar os times, que
tir de meados dos anos 80, começaram a se sentar nessa mesa profissionais de
54
Evidentemente, nem todos os clubes aproveitaram da mesma forma o
legado da Copa União. Houve alguns como São Paulo, Flamengo, Grêmio e In-
ting no seu dia-a-dia. Ainda assim, todos têm muito a melhorar. E há outros
Nos anos 90, surgiu uma outra figura para compor essa mesma mesa: o
propiciando títulos e ganhos financeiros ao seu clube, ele também não será
metida com o sucesso dos clubes dentro e fora das quatro linhas. Sobre este
55
Juca Kfouri
jornalista esportivo, ex-diretor de redação
da revista Placar
56
Celso Grellet
diretor da Prime Licensing, que representa a marca Pelé,
e ex-diretor de Marketing do Clube dos 13
57
Na selecao do
tetra
Na seleção do tetra, craques também da propaganda
com depoimento de Gilmar Rinaldi
B rown, blonde, black, tall, short, strong, handsome, graceful, famous,
athletic, sensual, confident, versatile, agile, creative, healthy, dynamic,
Assim, com 24 adjetivos e uma frase direta estampados num folheto ver-
craques do futebol mundial como Romário, Bebeto, Raí, Aldair e Taffarel que
com a Copa de 94, nos Estados Unidos. Aconteceu no início dos anos 90,
1
- Morenos, louros, negros, altos, baixos, fortes, bonitos, jeitosos, famosos, atléticos, sensuais,
seguros, versáteis, ágeis, criativos, saudáveis, dinâmicos, inteligentes, jovens, bem-sucedidos,
simpáticos, alegres, vaidosos, sensacionais. E prontos para anunciar o seu produto
61
Graças, principalmente, ao prestígio do Pelé, nós conseguimos com o
Brasil para os jogos do Mundial. Foi a última vez em que uma empresa de
marketing recebeu essa tarefa porque depois a CBF passou a ceder os direitos
Nessa época, nós tínhamos de viajar muito para Nova York, onde o Pelé
tempos em que jogou no Cosmos, no fim de sua carreira, ele cultivou ami-
zade com o dono da WB, o Steve Ross, que foi quem, nos anos 70, bancou
com aquela cidade cosmopolita que, um ano e meio depois, quando vendi
minha parte na empresa para o Pelé por motivos pessoais, decidi me mudar
New York University, uma referência mundial nesse mercado. Acabei incenti-
vando muitos jovens brasileiros a fazer o mesmo, pois, realmente, o curso era
ciar com os jogadores da seleção a cessão das suas imagens para estampá-las
em milhares de figurinhas.
62
Lembro que eu cheguei bem cedo ao Hotel Intercontinental, em São Con-
Copa. Ou seja, o Brasil ainda nem estava classificado de fato para o Mundial,
mas já tínhamos que negociar quanto valia a imagem de cada jogador com
muito bem recebido. Reunimos os jogadores numa sala e não houve muitas
dificuldades para fechar o negócio. Expliquei a eles que o valor a ser pago
pela Editora Abril seria o mesmo para todos os jogadores. Já naquela época
não havia mais o conceito de figurinha carimbada, isto é, aquela que é mais
Sportlink
A imagem dos tetracampeões foi oferecida às agências de publicidade num folheto verde e
amarelo com 24 adjetivos e uma frase direta.
63
possibilitava que um jogador menos conhecido, como o Paulo Sérgio, pudesse
pelão muito comum nos Estados Unidos): a americana Upper Deck, a brasileira
Upper Deck teria o direito de fazer o mesmo nos Estados Unidos, a Multi Edito-
vai lançar, se vai usar TV, rádio ou jornal. O jogador pode pedir também um
tação, o Romário, com aquele seu jeito particular que ainda era desconhecido
para mim, me chamou num canto e disse: “Aí, amigo, se eu não aceitar eu vou
prejudicar alguém?”. Respondi a ele a verdade: é até certo ponto comum que
algum jogador não aceite os termos do contrato e, nem por isso, ele deixa de
ser assinado. Ou seja, a Editora Abril faria o álbum com ou sem o Romário e os
outros jogadores receberiam o mesmo valor que eu havia proposto. “Então não
achar que sua imagem valia mais do que o valor que a Abril estava oferecen-
64
do – ou, por que não, valia mais que a dos outros jogadores. Depois de uma
fazer os dois gols que classificariam o Brasil para a Copa, diante do Uruguai,
no Maracanã. Mesmo sem saber que tudo isso aconteceria, eu não poderia
um amistoso pela seleção em Los Angeles, onde foram procurados por uma
ram ceder suas imagens para figurinhas em nível mundial por apenas US$ 6
Deck é uma empresa séria mas, realmente, vocês poderiam ter pedido mais.
Foi o que eu fiz. Por sorte, a Upper Deck estava interessada em incluir mais
terra deles, e eu pude reajustar o contrato de todo mundo para valores mais
justos. Os jogadores ficaram tão felizes que me chamaram, a partir daí, para
65
de nenhum profissional de marketing para assessorá-los em contratos de pu-
produtos do que pelo que fazem com a bola, essa situação hoje parece com-
representá-lo comercialmente.
Mário Jorge Lobo Zagallo. Os dois perceberam que eu surgia como um útil
com as empresas nem encher o saguão dos hotéis com representantes, gerando
mim. Talvez por isso nosso trabalho tenha recebido ampla aceitação – e colabo-
ração – da comissão técnica. Isso tudo pode tê-los animado também a me dar
cabe em duas páginas deste tipo de publicação. Mas eu insisti para que eles
mais faturou com álbum de figurinhas na Copa de 94: US$ 880 mil (US$ 40
mil vezes 22 atletas), seguida da Alemanha (US$ 250 mil) e dos anfitriões
66
Mais do que uma simples imposição comercial, a opção por contratos
campo pela primeira vez de mãos dadas, como uma corrente, e golearam os
dial. O gesto seria repetido até a final da Copa, dia 17 de julho de 1994, con-
tra a Itália, em Los Angeles. Era uma reação ao início preocupante do Brasil
Arquivo pessoal
marketing que seguisse essa mesma linha. O conceito dos contratos coletivos,
uma inovação para o esporte naquela época, seria o mesmo da seleção: união
67
pacto de cooperação firmado por aquele grupo também deveria ser espelhado nos
Talvez a coisa mais prazerosa desse trabalho foi ter percebido que os joga-
dores compraram a ideia dos contratos coletivos. Eles confiaram que eu estava
quando você conquista a confiança dos jogadores, eles te ajudam com a mesma
daquele que seria o maior jogador daquele Mundial também estaria associada
a várias outras empresas. Romário, por fim, cedeu e se juntou aos seus com-
York, onde tinha uma série de compromissos. Estava em casa quando tocou o
Romário, que ligou para me contar que havia praticamente acertado um con-
trato com a Brahma por telefone, que já havia combinado valores mas estava
reação foi compreensível: “Mas, Romário, por que eu? Até semana passada
68
O craque, como sempre, não perdeu o rebolado e respondeu de primeira:
cobra?” Disse a ele que cobraria 10% do valor do contrato, mesma porcenta-
gem que eu estava cobrando de todos os outros jogadores. Para ele não seria
minha viagem ao Brasil: “Então está fechado”, ele respondeu, antes de me dar
ria para passar dois dias no Rio se eu marcasse dois gols no último jogo. E eu
de Romário. Dali até a final da Copa teria muitas outras. Num dia, ele não quer
saber de papo, parece convicto de que não vai negociar. Depois ele se informa
negociações e, então, muda de opinião. Para isso, aposta gols com o seu treina-
dor, em mais uma prova de que é movido a desafios. Assim funciona a cabeça
Cabia a mim, então, pegar um vôo no mesmo dia de Nova York para o
Brahma. Antes de ele chegar, repassei com o Romário o que ele queria do
“Ué, o que o Areias está fazendo aqui? Ele vai conversar com a gente?”. E o
Baixinho respondeu mais uma vez de bate-pronto: “Não, ele vai conversar
que, mesmo sem ter estudado muitos anos, Romário é um sujeito muito pre-
69
parado, pois já havia pedido para incluir alguns itens que lhe favoreciam.
É como se fosse guiado por seu instinto, a exemplo do que acontece dentro
de campo. Tive que acertar apenas alguns detalhes com o Fischer. Fiz toda
me pagou tudo corretamente. Depois disso, ele quis que eu continuasse tra-
balhando para ele, assim como já fazia com os outros jogadores da seleção,
mas aí eu pedi um contrato. Não era por desconfiança, é claro, mas as pessoas
Apesar do acerto com o Fischer, aquele contrato com a Brahma não estava
le grupo. Foi o que eu disse ao Fischer mais tarde. E ele comprou a ideia. A
Raí, que tinham uma cota maior, mas os outros jogadores também receberam,
mente, pediu para não entrar. E o outro lateral, o Jorginho, não quis porque
com futebol há anos, alertei a ele que, se o contrato vazasse, essa exigência seria
70
um prato cheio para a imprensa. Mas eu me comprometia a pedir aos atletas
que, caso se lembrassem, que comemorassem o gol dessa forma. Alguns fizeram,
outros não, mas tudo ficou muito mais natural do que se estipulado num docu-
mento. Por coincidência ou não, o jogador mais jovem daquele grupo, o Ronaldo,
rantes poderia usar a equipe como um todo, numa imagem de um jogo, por
71
suas campanhas publicitárias. Foi uma bela saída da Brahma, que não havia
conseguido comprar uma cota de publicidade das duas TVs brasileiras que
adquirido sobre a imagem individual dos jogadores, deu a volta por cima
nha da cerveja número um, ficou a impressão de que era a Brahma, e não a
Desde muito antes dos preparativos finais para a Copa dos Estados Uni-
ficava num caminhão do lado de fora do estádio. Dessa forma, havia a possi-
amplo acesso ao estádio para os músicos da sua banda. Eles foram orientados
72
a ficar perto da tribuna de imprensa, onde o Galvão Bueno narrava a partida
soube depois que houve diretor da emissora brasileira ligando para a cabine
do Galvão para tentar conter o vazamento, mas nada pôde ser feito. Já nos
transmissão do jogo mas acabou cortando junto a perna dos jogadores, o que
Uma das situações mais tensas dessa disputa velada entre Brahma e Coca-
ria. A empresa de refrigerantes foi à Justiça alegando que as camisas eram muito
parecidas com as da seleção brasileira, que só poderiam ser usadas por ela, de
acordo com o contrato firmado com a CBF. Então, pensamos num modelo verde-
e-amarelo com duas faixas verticais largas. Estampada na frente da camisa havia
uma mão com o dedo indicador levantado, ou seja, o número um. Com os jogado-
res como modelo, foi o suficiente para fazer a associação entre a Brahma e a sele-
ção brasileira sem usar as marcas da CBF, que de fato pertenciam à Coca-Cola.
tão eficiente que foi classificada entre os quatro maiores casos de ambush
73
dantes de marketing entenderem até onde vão os limites da criatividade de
das comunicações Sprint comprou uma cota do Mundial para divulgar o seu
novo cartão telefônico, que também tinha função de crédito. A briga conti-
Apenas dois anos antes, talvez tenha ocorrido o caso mais famoso de am-
por jogadores de basquete profissionais dos Estados Unidos, país que até en-
entre outros, por Michael Jordan, Magic Johnson, Larry Bird e outras feras da
eram patrocinados pela Nike, a seleção usava material da Reebok. Nos Esta-
dos Unidos, isso é muito mais sério do que aqui e a polêmica se instalou até
pódio vestindo o agasalho da Reebok. Essa era a imagem que iria para o
74
deira dos Estados Unidos. Foi o típico caso de ambush marketing em que a
Nike, se não conseguiu expor a sua marca para o mundo inteiro, pelo menos
press, num caso parecido com o da Mastercard e Sprint, também foram parar
ting. A Visa era a patrocinadora oficial dos Jogos mas a American Express
Fez muito calor nesse carnaval e, toda vez que a câmera de TV mostrava o
Não chega a ser considerado ambush marketing, mas até há uns dez anos
maneira, uma empresa qualquer que comprasse as placas exibia a sua marca
ciante da TV. E fazia isso por uma mixaria, se comparado com os milhões
75
do vendemos a Copa União, eu já falava desse perigo para a TV Globo. Em
daqui e dos Estados Unidos. Ainda morava em Nova York e tinha em mãos
tiam vender suas imagens para os mais variados produtos ou para participar
de ações institucionais.
O Bebeto, por exemplo, poderia vender produtos que tivessem como ca-
racterística a agilidade, a rapidez. Com seu jeito simpático, era adorado tam-
bém pelas crianças. O Taffarel, por ser goleiro, transmitia um ideia de segu-
rança, ideal para um banco, por exemplo. Já o Raí era, notoriamente, o galã
lembrar que aquela seleção, antes do Mundial, nunca gozou de prestígio ab-
natórias, a equipe ainda carregava a pecha de fazer parte da Era Dunga, como
76
SELEÇÃO BRASILEIRA
Tabela Indicativa de Preços de Publicidade
PUBLICIDADE
TV ................................................................. US$ 50.000,00
Revista ........................................................... US$ 30.000,00
Jornal ............................................................ US$ 20.000,00
Rádio, outdoor .............................................. US$ 15.000,00
LICENCIAMENTO
Imagem, nome, apelido ................................... US$ 5.000,00
(mínimo garantido)
MATERIAL ESPORTIVO
Utilização de artigos do cliente ........................ US$ 5.000,00
(média mensal)
Antônio Carlos acertaram com a Gillette. Este último acabou ficando fora da
lista final de convocados para a Copa, mas pelo menos faturou. Ele se juntou
a Edmundo e Palhinha, que também receberam sua parte pelo álbum de figu-
dos tetracampeões mundiais: Editora Abril, Upper Deck, Multi Editora, Panini,
77
Brahma, Phillips, Grendene, Alpargatas, Mitsubishi e Gillete. Mais uma vez,
mais fácil, uma vez que o Baixinho já tinha sido garoto-propaganda deles no
dene foi um pouco mais difícil, nós não estávamos conseguindo chegar a um
contratos. Se na hora de acertar os último detalhes ele deixava comigo, como fez
com a Brahma, antes disso ele participava com sugestões inteligentes. Lembro
que, quando foi assinar um contrato de renovação com a Nike, ele me pediu
em inglês. Eu li, fiz algumas anotações e entreguei a ele de volta. Não dei muita
importância porque eu sabia que o Romário não falava inglês, mas esqueci que
tinha um holandês fluente, devido ao tempo em que morou lá. Então o craque,
numa rápida olhada, descobriu que havia um item incluindo sandálias no rol de
produtos da Nike que poderia ser divulgado por ele. “Que sandália, João! O meu
negócio com eles é só tênis e chuteira. Vamos tirar isso”. E tiramos. Se não o
fizéssemos, o Romário não poderia ter assinado o contrato com a Grendene, pois
78
Durante a Copa, os jogadores da seleção brasileira colheram os benefí-
com seus familiares nos dias de folga. Atraía a imprensa brasileira e estrangei-
ra, torcedores e, é claro, levava o nome da cerveja para o mundo todo. Era um
torcedores famosos da seleção, para animar a festa. Foi ali a comemoração dos
Arquivo pessoal
79
relhos não eram tão comuns, mesmo nos Estados Unidos. Aquele era nosso
binar de pegá-los de carro nos dias de folga para dar um passeio na Casa da
ção da maravilhosa equipe de Telê Santana pela Itália, o Pacheco virou uma
figura pejorativa. A Brahma teve uma postura sempre positiva com os jogado-
cedidos, vivi uma alegria especial pelo reconhecimento dos jogadores ao longo
da Copa. A maior prova disso foi que, pouco antes do torneio, fui nomeado por
dos “dinos”, como que eles se referiam ao grupo formado por Romário, Branco,
líderes daquele grupo, os responsáveis para que não fossem repetidos os erros
de quatro anos antes. O único “dino” que não esteve no Mundial de 90 foi o
para dar uma opinião, em geral, sobre assuntos extra-campo. Lembro, por
80
que fariam ao piloto Ayrton Senna, morto tragicamente naquele ano, caso
se estava perfeita, não tinha o que tirar nem pôr. E a bonita homenagem foi
na primeira fase, foi o Romário quem me deu uma, até certo ponto inesperada,
prova de confiança. A gente estava se falando por telefone quando, antes de des-
ligar, ele fez um desabafo sobre os problemas que via no time. Aquela, de fato,
viria a ser a pior atuação da seleção em toda a campanha do tetra. “Pô, Areias,
assim não vai dar”. O Romário não se conformava com aquele empate, embora
tivesse sido um dos poucos a se salvar na equipe, marcando até um belo gol de
tinha conversado essas coisas com o Parreira: “Eu não, não posso fazer isso”.
camente por ter começado o jogo no banco de reservas e, a partir daí, deixou
contra o Uruguai, no Maracanã, mas o susto de quase ter ficado fora da Copa
ainda o perturbava. Romário não queria falar nada com o Parreira porque
“Que isso, Romário, você não está falando mal de ninguém. Está
ra?”, perguntei. O Baixinho não se opôs. Quando tive uma oportunidade, de-
81
pois de um treino, chamei o treinador da seleção num canto e disse a ele que
mento da equipe. Na hora, o Parreira não me respondeu nada, mas soube que
depois ele foi procurar o Romário para conversar. Era o procedimento que eu
ção. Era um churrasquinho com pagode. Fui com os meus dois filhos, Paula
e Gustavo, então com nove e dez anos, e, como nunca, pude constatar que
sia. Eu estava indo para o estádio de carro, com a minha família e Rosana,
mulher do Gilmar Rinaldi, nossa amiga. Então liguei para ele, a fim de dese-
jar boa sorte, e peguei o grupo já no meio de uma grande batucada dentro do
ônibus. Para me ouvir, o goleiro pediu aos jogadores que dessem um tempo no
Depois eu soube que a cena está gravada no vídeo que o Gilmar fez dos bas-
tado com o Eduardo Fischer ainda naquela primeira conversa no Porcão, an-
tes de fechar o contrato do Romário. Disse a ele que, pela minha experiência
82
do de um time de futebol do que prometer a ele algo que não pode cumprir.
Ali, naquele momento, o Fischer entendeu e a Brahma foi mais do que uma
Na Copa de 1998, pelo que fiquei sabendo, não havia esse mesmo
neceu até um grupo de 1994, que chegou a me pedir para reeditar o modelo
de trabalho, mas o momento era outro. A esta altura, muitos deles já conta-
Nunca mais foram feitos tantos contratos publicitários, ainda mais coleti-
vos, quanto no Mundial dos Estados Unidos. Assim como num time de futebol,
Apesar de divergências pontuais, todo mundo tem que se mover para o mesmo
83
Gilmar Rinaldi
goleiro da Seleção Brasileira tetracampeã mundial em 1994.
Atualmente, é agente de jogadores.
84
A trajetor i a
de Sa VI O
Como planejar a carreira de um jogador
com depoimento de Sávio
E mpresário, procurador, agente, representante... São diversas as de-
nominações para o profissional responsável por cuidar dos contratos de um
a ser visto com desconfiança pela mídia e pelos torcedores. Afinal, o agente
Como já está claro até agora no livro, minha área de atuação no esporte
é, trabalhar mais com a seleção brasileira como um todo do que com um joga-
dor isoladamente. Mas às vezes as situações da vida nos levam por caminhos
precisei de muito tempo para perceber que Sávio logo deixaria de ser um
87
Foi uma oportunidade de trabalho que, literalmente, bateu à minha por-
jogador de futebol em início de carreira. Até então, era o seu pai, Seu Mazi-
nho, quem cuidava dos interesses do filho, que anos antes havia se mudado
de Vila Velha, no Espírito Santo, para tentar a vida num grande clube carioca.
cordaram que seria necessário alguém com mais experiência na área. Depois
Lembro como se fosse hoje o dia em que Sávio entrou na minha sala.
Era um menino tímido, como é até hoje, mas já se revelava inteligente e bem
para isso: “Olha, Sávio, eu não sou empresário de jogador. Trabalho com
trabalham para que o seu atleta mude de time constantemente. Não é uma
questão de romantismo. Mas isso não permite que se crie uma identidade com
88
por ser natural de sua personalidade. Ali, na minha sala da Sportlink, eu ain-
da não tinha certeza disso, mas apostei que poderíamos dar certo.
jamento de dez anos na sua carreira. Perguntei a ele quais eram seus planos
brasileira. Aquilo tudo também era uma novidade para mim, mas fui guiado
longos, fossem eles com clubes ou com patrocinadores, o que significava ca-
Minha primeira prova de fogo com o Sávio foi negociar seu futuro no
razoável para a então grande promessa da Gávea. Não entrava naquela onda
a cada ano uma parcela do valor do seu passe, ou seja, seria uma aposta no
seu próprio desempenho dentro de campo. Se ele tivesse boas atuações, seria
também. Todo jogador já tinha, por lei, direito a 15% do passe em caso de
transferência para outro clube e, no caso dele, essa participação cresceria ano
toria, porém, achou que era novidade demais e descartou a ideia. Acabamos
89
tar atletas formados e consagrados, eu recebia agora um jogador “cru”, sem
até pela sua empatia com crianças, foi indicá-lo como embaixador do Brasil
criançada de escolas públicas do Rio. Foi o juiz da infância Siro Darlan quem
do Flamengo. Assim como ocorreu com o clube, sempre preferimos que ele
que veste Adidas, e quando a Reebok lhe fez uma proposta tentadora: US$
Sávio jogou tão bem que rivalizava com o Romário no posto de ídolo maior
90
dos rubro-negros. Em 1995, houve o baque pela derrota na final do Campeo-
mundo, que, infelizmente, não deu certo. Mas, no Estadual do ano seguinte,
Eram comuns as comparações com Zico, algo que sempre rejeitou: “O Zico é
Arquivo pessoal
91
Em 1997, o Sávio não tinha a menor intenção de deixar o Flamengo mas,
certo dia, o então presidente Kleber Leite nos chamou para uma reunião no Ho-
liberdade para dizer sim ou não. De fato, era uma oferta incrível, tanto que
era em dinheiro e metade com o passe de três jogadores: Palhinha, Rodrigo Fa-
bri e Zé Roberto, este mesmo que jogou as Copas de 1998 e 2006. Pelo menos
nós pudemos negociar a duração do contrato. Não abríamos mão de que fosse
longo, como nos propusemos desde o início, mas dessa vez foi mais fácil. Ao
O Sávio ainda era novo, tinha 23 anos. Deixava dez anos de história no
naquele que foi considerado pela Fifa o clube do século XX. Pelos valores e
tal, seria cobrado mais que os outros. E ídolo ele foi nos quatro anos e meio
aproximava deles. Sua identificação com o Real Madrid não se deu apenas
pelas suas atuações em campo, mas também por sua postura de respeito às
tradições do clube.
Madrid, rivalizando com Raul e Roberto Carlos. Dos nove títulos do clube na
92
drid, cuja camisa tinha o nome e o número de Sávio (11). Além disso, venceu
mas o diretor de futebol, o argentino Jorge Valdano, não o deixou sair. Mais
tarde, como o Sávio foi ficando mais jogos na reserva, convencemos o Real
A partir daí, ficou mais difícil manter a nossa opção por contratos longos.
ele foi jogar de novo na Espanha, dessa vez no Real Zaragoza. Ali, levantou o
único troféu que lhe faltou no Real Madrid, a Copa do Rei (2003/2004), jus-
da Espanha (2004/2005), contra o Valência. Nas duas finais, ele foi eleito o
Brasil. A tristeza fez com que crescesse a vontade de voltar a viver mais per-
to de sua família, sua mãe e irmãos. Essa passou a ser uma prioridade na sua
93
Brasileiro de 2006. Se fosse para qualquer outro clube, a multa seria de seis
milhões de euros.
teve um problema no púbis que não permitiu, de fato, que tivesse uma boa
levantamento interessante: Sávio jogou dez dos 20 jogos que restavam para
60% dos pontos, o que impediu que o clube, mais uma vez, passasse a compe-
das que disputasse na temporada. Era uma boa e justa ideia. Mas a lesão no
Ney Franco deixou claro, várias vezes, que não contava muito com o Sávio.
então, encerrava sua extensa carreira com a camisa rubro-negra, que vestiu
258 vezes e com a qual marcou 95 gols. Felizmente surgiu uma boa proposta
94
prestígio naquele país e foi um dos nomes lembrados. Tornou-se, então, um
Além de sua carreira nos clubes, Sávio tem muito orgulho de sua vida na
seleção brasileira. Era um sonho como o de tantos garotos que ele conseguiu tor-
nar realidade. Entre 1993 e 2000, disputou 44 jogos com a camisa amarelinha
na, e no mesmo ano medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta. Xodó do
Fiz esse pequeno histórico da carreira do Sávio para mostrar que o suces-
se perderam pelo caminho porque não tiveram sua vida pessoal e profissional
Sávio pôde pautar a sua carreira pelo conceito que combinamos desde o início:
mais longo do futebol brasileiro: 13 anos até agora. Nesse período, sempre tive
mais importante que deve ser entendido por alguém que se dispõe a cuidar da
os menores cuidados com a sua imagem, alguns que até parecem supérfluos.
Como exemplo deste ponto, cito o trabalho que fizemos logo no início de
95
um bom número de cartas de fãs que, geralmente, ficam abandonadas no de-
que o Sávio recebia na Gávea. Fizemos uma carta-resposta padrão, com foto e
assinatura dele, que era enviada aos torcedores, pedindo que eles entrassem
num cadastro de fã-clube que chegou a quatro mil associados. Assim, a rela-
alvo do Sávio. Quantos anos tinha, qual o sexo, onde morava, o que gostava
e do jornal A Crítica, de Manaus. Além disso, era a prova de que o Sávio fi-
gurava como um ídolo nacional, o que lhe ajudou também em contratos com
material esportivo com o seu nome, que não chegou a ser comercializada em
rizá-la. Depois, e mais importante, para não interferir no seu dia-a-dia como
jogador de futebol. Isso é fatal para um atleta de ponta que precisa manter uma
rotina entre treinos e concentração, sem contar, é claro, com o tempo dedicado
96
ainda mais depois que ele foi jogar na Espanha. São relativamente comuns
fiscais para o Sávio. No Brasil, quem faz o seu Imposto de Renda é a La Ro-
com livros publicados na área. Até hoje é ele quem cuida do Imposto de Ren-
O mesmo princípio vale para a parte jurídica. Sempre falei que advogado
bom normalmente é caro. Não serve o amigo da vizinha, o que faz um precinho
Arquivo pessoal
97
camarada. O profissional precisa ter história, experiência. Um jogador de futebol
famoso é uma figura muito visada, tem que estar resguardado juridicamente.
mado sobre tudo o que existe no mercado financeiro, fundos de longo prazo,
dos seus anos de carreira, o Sávio construiu um patrimônio sólido, com in-
Este, aliás, é um assunto sobre o qual um bom agente deve pensar desde
o início: o que seu jogador vai fazer depois que pendurar as chuteiras? É
uma das perguntas que mais atormentam um atleta profissional, cuja carreira
termina antes dos 40 anos. Creio que o Sávio não terá grandes dilemas quan-
sando um tempo lá para dar uma assistência maior a ele e também decidi
me inscrever no curso. O goleiro Casillas, que ainda joga no Real, foi nosso
companheiro de turma.
Foram quatro meses de aula e, no fim, a tese final do Sávio foi sobre o
problemas típicos do Brasil. Quando sair, será mais um dos vários trabalhos
sociais em que o Sávio se envolve, quase sempre sem fazer muito alarde.
98
É fácil perceber que o Sávio, além de todo o talento em campo, é um
jogador acima da média em suas atividades fora das quatro linhas. Quem o
conhece de perto sabe que ele é também um chefe de família muito dedicado.
Tem três filhos com a Suzana: o Breno, o Hugo e o Lucas. Como já disse, sou
atleta de ponta.
Arquivo pessoal
Primeira turma do Curso de Gestão Esportiva realizado pela Fundação Real Madrid em con-
junto com a Universidade Francisco de Vitória. Na foto, à esquerda de Areias (na última fila),
estão o Casillas (atual goleiro e ídolo do Real Madrid e da Seleção Espanhola) e o Sávio.
99
Sávio Bortolini
ex-jogador do Flamengo, da Seleção Brasileira, do
Real Madrid e atual jogador do Levante de Valência, na Espanha.
Por tudo isso, em pouco tempo, o João se tornou, além de meu primeiro
e único procurador, um amigo e, muitas vezes, um pai. Foi muito importan-
te o apoio dele em momentos mais difíceis, como quando o meu verdadeiro
pai ficou doente. O João ia comigo ao hospital e conversava com o meu pai,
que também era muito amigo dele. Até hoje, gosto de me aconselhar com
o João, que também me pede opinião sobre determinados assuntos de vez
em quando, numa troca bastante rica. Não foi à toa que o chamei para ser
o padrinho do meu primeiro filho, o Breno. Nunca vou esquecer o dia em
que chegamos a Madri pela primeira vez, depois de minha transferência do
Flamengo para o Real. Minha mulher, a Suzana, havia ficado no Rio porque
o Breno tinha apenas três meses. Havia toda aquela expectativa por um
novo mundo que se abria e eu pude contar com o apoio do João em todos
os momentos. No primeiro dia, procuramos um restaurante brasileiro no
centro de Madri, que prometia uma feijoada completa. Nunca comi uma
feijoada tão aguada, não havia um pedaço de carne. Mas rimos muito com
aquilo tudo e até hoje me lembro dessa história como o início de uma nova
fase da minha vida.
100
De olhos a be r tos
para o or ie nte
O Fluminense e a Hyundai
com depoimento do jornalista Paulo César Andrade
M aracanã, dia 25 de junho de 1995. Do lado direito das cabines de rá-
dio, aquela camisa rubro-negra que, segundo Nélson Rodrigues, é uma basti-
lha inexpugnável. Com o número dez nas costas, o mesmo eternizado por Zico,
eu sentia aquilo que jogadores que enfrentam seu clube de coração tentam
explicar aos repórteres, normalmente usando um clichê que não deixa de ser
mento irrefutável: seja qual for o resultado, tenho motivos para comemorar.
minense, Arnaldo Santiago, poucos meses antes. Muito objetivo, ele convi-
103
Desde o início eu já sabia que o desafio era enorme. Tinha conhecimento
completando dez anos sem conquistar nenhum título, o que é muito para uma
equipe de tanta tradição. O pior é que não se via muita perspectiva para tirar
o pé da lama. O time que estava sendo formado era fraco e os salários viviam
atrasados, o que quase sempre é fatal para quem quer ser vitorioso.
sição da mídia estava toda voltada para o Flamengo, que montava uma equipe
mundo na época, Romário, que vivia o seu auge. Contratara também o lateral
Sávio, que surgia como a maior revelação da Gávea dos últimos anos. Com esse
Certo dia, eu peguei o jornal pela manhã e me surpreendi com uma no-
havia sido oferecido ao clube, mas o próprio Arnaldo não parecia muito em-
mim, naquele momento, me oferecer para ter uma conversa com o Renato. Eu
104
já o conhecia do Flamengo e também tinha estado com ele na sua apresen-
tentando cuidar das coisas do lado de fora, trazer dinheiro para o clube, mas
preciso que você assuma a liderança do grupo. Tem que segurar as pontas en-
quanto os problemas não forem resolvidos. Você não estava no grupo na Copa
de 94, mas sabe como era o espírito lá dentro. E sabe bem também como era
salários atrasavam, ele botava dinheiro do próprio bolso. Pagava até o sujeito
até que, por tudo isso, merecia até uma estátua nas Laranjeiras.
de camisa parecia sem solução. Houve um momento em que tivemos que botar
ção da prefeitura. E foi criado o slogan “Ame o Rio”, que ficou estampado na
105
é naturalmente um garoto-propaganda. Mas a diretoria da Ipiranga nos infor-
mou que não tinha interesse em patrocinar times de futebol, pois provocaria
Parecia mais uma resposta negativa mas eles deixaram uma abertura. A
formação para Arnaldo que conversou com o então presidente da Fifa, João
Havelange, que tem ótimas relações com o Fluminense e com o prefeito Cesar
de Cesar. Ele não estava interessado na tal ilha, mas queria como contraparti-
que seria cedido. A empresa deveria construir uma creche e fazer obras de
O acordo com o Fluminense dizia que, para cada terreno que a prefeitura
cedesse, o clube receberia US$ 200 mil. Era, na verdade, uma comissão pelo
Ipiranga, que pagou, então, US$ 800 mil ao tricolor. Foi um dinheiro muito
O mais importante é que, além de ter sido criativa, a solução foi benéfica
não só para o Fluminense, mas para todas as partes envolvidas. Nesse caso,
positiva da cidade para fora, não vendem violência. Além disso, fazem um
106
cidade ajudar o clube local. Cesar Maia já havia ajudado o Flamengo, o Vasco
Ele foi para lá apenas para bater papo e, no meio da conversa, perguntou
como estava o trabalho com o Fluminense. Eu disse a ele que estava difícil,
quis saber, já animado. “Não, da Hyundai mundial.” Na hora eu achei que ele
organizador da Copa do Mundo de 2002, que seria disputada sete anos de-
foi designado para cobrir o jogo, que não atraiu o interesse de muita gente.
César foi chamado para ajudar na conversa. E saiu de lá com um cartão do Mr.
Aqui no Brasil pouca gente sabe que a Hyundai não é apenas fabricante
107
Mr. Hürr, que ficava baseado em São Paulo. Fomos para lá poucos dias de-
pois mas o acerto demorou mais dois meses para sair. Os orientais são muito
bro que fomos recebidos na sede da Hyundai com uma faixa de boas-vindas,
respeito dos coreanos não só pelo parceiro mas também pelo intermediário
minense receberia cerca de US$ 2 milhões por ano. Era uma senhora ajuda
Hyundai logo naquela decisão com o Flamengo, o que só servia para me dei-
xar ainda mais dividido. Minha pessoa física era rubro-negra, mas minha pes-
Fluminense. O jejum de dez anos sem títulos chegava ao fim. Com dinheiro
108
nense brigou até o fim pelo seu segundo título brasileiro. Chegou às semifinais,
o que não ocorria desde 1988), mas foi derrotado pelo Santos numa partida
que até hoje os tricolores não esquecem. Apesar da frustração, parecia claro
janeiro de 1996.
Conheci o Pedro Arantes quando ele ainda dirigia o basquete tricolor. Ele
a ele que eram duas realidades diferentes. Já tinha sido difícil conseguir o
Com a barriga, exatamente em cima do nome Hyundai, Renato Gaúcho fez o histórico
gol da vitória, dando ao Fluminense o campeonato carioca, após um jejum de dez anos.
109
contrato para o futebol e seria ainda muito pior para os chamados esportes
à vista. Sugeri que ele entrasse num acordo com o departamento de futebol
para que recebesse ao menos uma fatia do valor da empresa coreana para
levantar o basquete. Acho que ele não gostou muito, deve ter pensado que
ele me ligou dizendo que precisava ter uma reunião comigo. O assunto: o
ano com reajuste de valores. Só a partir do terceiro ano seria possível uma
nova negociação mas, ao fim desse prazo, ele já seria maior que o do Flamen-
go com a Petrobras. Estava muito bem pago. Mas Pedro achava que o Flumi-
nense tinha de rever o contrato: “Como rever, Pedro? Demoramos dois meses
e meio para fechar o negócio e você quer mudar agora, com menos de um ano
isso, para que o Fluminense fosse campeão, mas não fazia o menor sentido
rever valores por causa da primeira conquista: “Ou você esqueceu que até o
ano passado o Fluminense estava num jejum de dez anos sem ganhar nada?
convencê-lo. Como ele tinha recebido carta branca da presidência, fui obriga-
110
Eles têm novos projetos, acreditam que o clube se valorizou ano passado, e
dar? Não estava tudo certo, não estamos cumprindo o combinado?”, ele per-
“Em uma semana nós vamos dar uma resposta”, decretou ele.
nião tão tranquilo que eu imaginei que o Fluminense tivesse uma carta na
tura e da Ipiranga, havia apoiado o Gil Carneiro nas eleições e poderia ter
conseguido alguma abertura com uma empresa japonesa, uma vez que es-
forçando a barra com a Hyundai para que esta desistisse e abrisse caminho
rio uma carta do Mr. Hürr em que ele dizia que a Hyundai não renovaria com
grupo que assumiu o Fluminense não nos interessa mais como parceiro”, es-
O clube perdeu o patrocínio, o dinheiro e, neste mesmo ano, caiu para a Segun-
da Divisão pela primeira vez, o que motivou a maior crise da história das La-
111
ranjeiras. Sem suportar a pressão, o Gil Carneiro renunciou e o Pedro Arantes
saiu junto. Era só o início do calvário tricolor, que seria reconduzido à Primeira
Divisão numa legítima virada de mesa mas que, em seguida, seria rebaixado de
novo. Como se não fosse o suficiente, caiu em 1998 para a Terceira Divisão.
joso para o clube. A Hyundai, por sua vez, não desistiu do futebol, apesar da
dois negócios com o Fluminense. O primeiro foi com a Reebok, que forneceu
112
Paulo Cesar Andrade
jornalista esportivo
Primeiro fomos para São Paulo e, em poucos dias, estávamos viajando para
a Coréia do Sul, que vivia a febre do futebol por causa da sua escolha para sede da
Copa do Mundo de 2002, junto com o Japão. O João Henrique, com toda a sua
experiência, costurou bem o acordo, que foi bom para os dois lados. O Fluminense
jamais imaginava que ganharia tanto dinheiro em tão pouco tempo. E tudo por
causa de um simples jogo-treino de um clube rival.
113
Na tabelinha
com Pele
Um gol para Flamengo e Santos
com depoimento de Pelé
A inda nos anos 50, no início de sua carreira como jogador, Pelé re-
cebeu uma proposta surpreendente de um amigo de seu pai, o ex-jogador
Caninha Pelé. O rótulo chegou a ser impresso, mas as garrafas nunca foram
anunciar o seu produto. Daquele dia para cá, o rosto de Pelé “pegou bem” em
nos, uma ideia do que esse cidadão chamado Édson Arantes do Nascimento,
Quem gosta de futebol, então, tem a nítida noção do poder que possui esse
Essa é uma das razões pela qual Pelé sempre foi um caso à parte no mun-
usado para vender, o rei do futebol já era identificado como uma figura alta-
117
mente vendável e, por consequência, seria vendável também tudo o que ele
say, Petrobras, Nokia, Probel, Golden Cross, Mastercard... Não chegou a ser
via sido eleito o Atleta do Século XX, vinte anos antes de o século terminar.
de seus primeiros sócios na Pelé Sports & Marketing, no início dos anos 90,
quando o ex-jogador iniciou um projeto que tinha por objetivo explorar a sua
Corinthians. Apesar do poder de seu nome, o Rei do Futebol tinha obtido in-
seu enorme sucesso como garoto-propaganda não foi suficiente para conso-
lidar seu apelido na área de licenciamentos. É sabido que até hoje ele não
exceção de que se tem notícia é o Café Pelé, lançado nos anos 70 pela Com-
118
Àquela altura, eu já tinha firmado o meu nome no mercado de marketing
esportivo. Por causa do trabalho no Flamengo e no Clube dos 13, tinha bom
trânsito com dirigentes dos principais clubes do país, além de conhecer bem
própria empresa, a Areias Sports & Marketing, que alcançava sucesso em seus
ciamos ao empresário Hélio Viana, que já trabalhava com Pelé e que havia me
procurado anos antes, no Flamengo, para montar um negócio deste tipo. Mas,
também dois consultores da IBM, onde eu ainda mantinha bons contatos. Ali,
conhecer melhor o homem por trás do mito, seu modo de raciocínio, sua pers-
picácia que já tinha sido provada no episódio da Caninha Pelé, quando ainda
era um garoto. Percebi que a imagem de Pelé só não é melhor entre os brasi-
seja gênio nos negócios, gênio na vida familiar, gênio nos comentários sobre
futebol etc. Mas a verdade é que, nessas áreas, ele comete erros e acertos
como qualquer um. Pelé só era perfeito com a bola nos pés. Mesmo assim,
apesar de suas limitações naturais em outras áreas, entendi que ele pode até
119
O melhor de tudo é que Pelé tem noção de seus limites no mundo empre-
sarial, procura ajuda, ouve conselhos e sabe admitir seus equívocos. Tive logo
uma prova disso nessa reunião em Ubatuba. Antes de começá-la, para des-
contrair, ele nos mostrou uma série de cartões de visita de empresas em que
de bola, em cores berrantes. Ele estava nos mostrando os cartões para dizer
começar a trabalhar com ele. Reconheço que fui um pouco ousado para quem
não tinha muita intimidade com o novo sócio: “Pelé, então eu vou pedir tam-
bém para fazer um cartão com o seu nome como presidente da Areias Sports
& Marketing, a minha empresa”, eu disse. Ele não entendeu muito bem, mas
eu continuei: “Ué, dessa forma você vai me abrir portas em qualquer lugar”.
entrada de sua empresa. Ele vai circular entre pessoas que não te conhecem.
Por isso, esse hábito de rabiscá-lo antes de dá-lo a alguém: é uma forma de
meu ídolo que, a esta altura, eu já chamava de Édson: “Eu sei que é a nossa
primeira reunião, talvez você não vá gostar do eu vou dizer, mas é mais ou
menos o que acontece com alguns dos produtos que você anuncia. O Pelé
120
é um líder na sua área de atuação. Em tese, nenhum outro atleta tem uma
imagem tão poderosa quanto a sua. Então você só deve associar essa imagem
a empresas líderes na sua área de atuação ou, no mínimo, algo perto disso.
sua altura. Podem estar à altura do Édson, mas do Pelé, não”. Eu disse aquilo
e esperei a reação dele. Achei que viesse um corte, mas ele concordou. Mais
tarde, já com a Pelé Sports & Marketing na ativa, ele parou de fazer contratos
Arquivo pessoal
Mesa redonda na TV Manchete, em 1991, com Armando Marques, Pelé, Alberto Léo,
Marcio Guedes e Areias.
121
esporte e de publicidade. Veio até gente da Argentina. Éramos umas 12 pes-
soas. Ficamos ali quase umas oito horas conversando, trocando ideias.
Durante todo o tempo, o Pelé se portou com a maior correção, sem o me-
nor estrelismo. Em primeiro lugar, como um bom anfitrião, preparou ele mesmo
um peixe delicioso e nos serviu com toda elegância. Depois fez a brincadeira:
“Para vocês verem, o rei servindo os seus súditos”. Durante a exaustiva reunião,
ele ouviu tudo, não reclamou de nada e apresentou o seu ponto de vista com
simplicidade. No fim, deu uma declaração que eu achei fantástica: “Se eu tives-
se feito uma reunião dessa há 30 anos, não teria cometido tantos erros”.
Era isso: o Pelé queria montar sua empresa de marketing para planejar
melhor a sua vida como empresário e, assim, evitar outros equívocos. Nada
além disso. Era a nossa missão ajudá-lo nessa empreitada. Precisávamos, logo
122
com um time misto, o que só servia para torná-la ainda menos interessante,
como num círculo vicioso. O público que comparecia aos estádios era bastan-
Não deixava de ser um bom desafio para que a Pelé Sports & Marketing
entrasse com força no mercado, mesmo porque serviria para dar visibilidade
os primeiros clubes a abrir as portas para nós. Eu tinha ótima entrada no clu-
recemos US$ 600 mil para o Flamengo e US$ 400 mil para o Santos pelos
quatro jogos que eles fariam em casa se fossem até a final da Supercopa. A
Para o Flamengo, era uma média de US$ 150 mil por jogo e para o San-
tos, US$ 100 mil, valores muito acima da média que recebiam por amistosos
ou competições oficiais. Na primeira fase, a cota era de US$ 70 mil, valor que
Pelé Sports & Marketing arcaria com todas as despesas de viagens e estadias
nou-se a menina dos olhos dos dois clubes. Era interessante se manter na
competição não só para ganhar o título, mas para continuar faturando as co-
tas pagas pela Pelé Sports & Marketing. A diretoria do Flamengo ainda tomou
123
uma decisão inteligente: pegou metade da cota e deu aos jogadores. Sempre
dar melhor para as equipes. Foi o princípio que eu usaria três anos depois, na
emissora. Por isso, só era possível negociar os jogos cujo mando de campo fosse
dos brasileiros. Estávamos, na verdade, fazendo uma aposta. Era uma aposta
alta para uma competição que não havia ainda vingado: US$ 1 milhão, fora as
despesas com passagens e estadias. Mas acreditávamos que, com um bom pro-
los para o Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Primeiro porque as placas es-
o Flamengo, e acreditávamos que estes teriam mais boa vontade com a Su-
percopa, uma vez que eles não têm muita oportunidade de assistir às partidas
não quis pagar pelos direitos de transmissão da Supercopa, mas aceitou fazer
da. Ofereceríamos cinco cotas de publicidade e uma delas seria apenas para
124
Nós, então, fomos atrás das empresas e conseguimos fechar quatro cotas:
que anunciantes que pagavam menos para ter suas marcas nos estádios esti-
vessem mais expostos que os que compravam a cota de TV, bem mais caras.
Para atrair mais público, vendemos ingressos que valiam para os dois
bou dando um passo maior que as pernas. Nas quartas de final, a diretoria
a Pelé Sports para solicitar uma mudança de planos. Dessa vez, eles queriam
jogar no Maracanã, pois acreditavam na força da sua torcida num jogo difí-
A rigor, o mando de campo era nosso, da Pelé Sports, uma vez que paga-
mos ao Flamengo por isso. Para nós, seria mais interessante financeiramente
125
passaria dos US$ 100 mil, e a renda seria dividida meio a meio entre o clube
de lucro, US$ 30 mil para o clube e US$ 30 mil para nós. Ou seja, um valor
pelo menos três vezes menor do que pagaríamos se o jogo fosse disputado em
Brasília. E o pior: a equipe carioca venceu por 2 a 1 nos 90 minutos, mas foi
para o Flamengo e para nós, que tivemos um lucro de cerca de US$ 100
Demos uma prova de que era possível obter retorno com uma competição
pouco popular. Para isso, é necessário que ela seja planejada racionalmente
Outra inovação da Pelé Sports foi trazer para o Brasil o sistema Adtime,
dade estática no campo. Na verdade, ela já não era tão estática assim. Graças
dores, pois ela é feita de palhetas giratórias que formam imagens diferentes.
bley, em Londres. Eu havia conhecido o Chris alguns anos antes, quando fui
dos uniformes do Flamengo. Ele queria nos oferecer esse sistema Adtime para
mercado brasileiro.
126
De início, não achei que a ideia fosse vingar no Brasil. Aqui uma
placa publicitária custava algo em torno de US$ 1 mil. Pelo Adtime, o valor
pulava para aproximadamente US$ 40 mil. Não tínhamos mercado para isso.
Foi o que eu disse para o Chris, mas ele insistiu: “João, vê o preço que você
consegue.” E, por US$ 20 mil, nós conseguimos negociar o sistema para qua-
ca, mas o mais interessante é que ele é, na sua essência, um tipo de ambush
ca, mas não é da emissora. Mesmo assim, ela vende aquilo que não tem, que é
durante dois minutos no primeiro tempo e dois minutos no segundo. Com essa
firmando. De fato, o Adtime não tinha mercado por aqui para se firmar como
realmente muito mais caro que as placas tradicionais, o que o tornou inviá-
vel. Não era o caso da Pelé Sports & Marketing, que continuou caminhando
com as próprias pernas por longos anos. E, se não foram pernas tão eficientes
127
Edson Arantes do Nascimento
rei do futebol
Quando eu fui convidado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso para ser
Ministro do Esporte, aceitei porque tinha o desejo de devolver ao futebol e ao povo
brasileiro tudo que havia recebido. Eu queria profissionalizar e moralizar a admi-
nistração do futebol brasileiro. Como é do conhecimento de todos, nos anos 70, esti-
ve no Cosmos de New York. Ali pude perceber a importância do marketing esportivo
que veio a se consolidar nos anos 80, com as Olimpíadas de Los Angeles.
Eu acreditava que esta era a solução para o nosso esporte, isso me fascinava
e, por isso, nos anos 90, convidei João Henrique para trabalhar comigo e ser meu
sócio na Pelé Sports e Marketing, no Rio de Janeiro. Na sua breve passagem (dois
anos depois, João foi morar nos Estados Unidos), reformulamos a estratégia de
exploração da imagem do Pelé (O João se dirigia a mim como Edson e dizia que
Pelé era uma das marcas mais fortes no nosso segmento de atuação – o esporte
– e que por isso só deveria se ligar a marcas líderes em seus segmentos), e fizemos
um belo projeto de administração dos jogos do Santos e Flamengo na Supercopa,
entre outros projetos. Mesmo assim, ainda falta muito e, por isso, concordo com o
João quando diz em seu livro que, para o futebol e o esporte em geral avançar no
Brasil, é necessário buscar um novo modelo de gestão baseado no profissionalismo
e honestidade.
128
Arena Petrobras
Uma nova casa para Flamengo e Botafogo
com depoimento de Carlos Augusto Montenegro
Q uantas vezes a gente já ouviu a seguinte pergunta: como pode um
clube como o Flamengo não ter um estádio próprio? O espanto vale para
tura para receber jogos importantes, e não apenas para treinar. Mal compa-
rando, são forças do futebol que não têm casa própria, vivem de aluguel. Vá
contar isso para um italiano, espanhol ou um inglês que o espanto será ainda
maior. Uma equipe capaz de reunir 100 mil pessoas em volta de um campo de
tes do poder público para mandar seus jogos. O Maracanã tornou-se o palco
arqui-rival São Paulo. Embora lendários, esses estádios acabam fazendo com
construir sua própria casa. Muitos ainda não entendem que ter um estádio
um jogo na sua casa são cada vez mais importantes para o equilíbrio financei-
próprio. E quando, por exemplo, o seu senhorio pede o imóvel? Pois é, tam-
bém acontece isso com os clubes que vivem de aluguel. Uma dessas situações
131
tocar o projeto de um novo estádio em apenas nove semanas. Estávamos em
obras, já com vistas aos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007. O estádio fi-
paixão de seus torcedores, no fim dos anos 20, o clube ganhou São Januário,
cariocas. Não era a solução ideal, é sempre muito impopular com a sua tor-
Freitas, me procurou com uma proposta ousada. Era tão ousada que, a prin-
cípio, eu a rejeitei: “João, eu tenho uma ideia para o Flamengo e para o Bota-
fogo, mas você é a pessoa que tem que tocar o projeto. Vamos alugar o campo
Mas por que eu?”. O Bebeto não perdeu o entusiasmo. “A Portuguesa tem uma
área boa para fazer as adaptações de que precisamos e você é a pessoa certa
porque tem um bom trânsito nos clubes e vai saber equilibrar as emoções de
ceu ali. Mas, com a Portuguesa, seria algo mais complexo. Embora simpático, o
Estádio Luso-Brasileiro era acanhado demais, comportava não mais que cinco
132
mil pessoas numa arquibancada de cimento. Não recebia jogos de Primeira Di-
Para não dar uma resposta negativa logo de cara, eu quis saber mais dos
planos do Bebeto. “Mas o que temos que fazer lá?”, perguntei. E o presidente
cenciados das duas equipes. Simples assim. Depois da lista, eu dei a resposta
para tudo isso. Você pode ser louco, mas eu não sou.”
Marcelo Carnaval
133
Mas o presidente do Botafogo tem a virtude da persistência. Com o apoio
do comigo: “O João é um mal agradecido, não quer mais nos ajudar”. Aí eu fiz
Então eles disseram que era só eu planejar a estratégia de marketing que eles
“sim”. “Eu ainda acho maluquice, mas vamos tentar”, eu disse, por fim.
Naquele almoço, eu já tinha uma ideia por onde começar – era uma ques-
tão de lógica: numa visão mais imediatista, quem era o responsável pelo pro-
Maracanã para fazer as obras. Então ele teria que nos ajudar. Fomos até a então
recursos através da lei de incentivo do ICMS para a cultura e o esporte. Ela nos
que fariam no estado. Mas, fomos além: “Governadora, nós não temos tempo
para correr atrás dessas empresas. Veja, por favor, com o seu secretariado uma
grande empresa que recolha muito ICMS. Entenda, isso é uma questão de Esta-
do, são dois dos maiores clubes do Rio que estão sem-teto.”
do Estado do Rio, porque é aqui que ela extrai a maior parte de seu petróleo.
134
e o presidente da BR Distribuidora era Rodolfo Landim, que não perde um
arquibancada que seria feita diretamente por ela. Esse dinheiro não passou
pela mão dos clubes, que durante todo o tempo de uso do estádio só tiveram
iniciativa de vulto nesse sentido tinha sido o Kyocera Arena, o belo estádio
do Atlético-PR, em Curitiba. Mas por que não Arena Telemar? Porque demos
estádio, enquanto a Petrobras, que gastou mais, ficou com o nome. Foi uma
Marcelo Carnaval
Antonio Augusto, presidente da Portuguesa, Areias, José Carlos Salim, diretor do Portu-
guesa, e Raimundo Nonato, coordenador do estádio Arena Petrobras
135
O naming rigths é algo absolutamente banal na Europa e, principalmen-
te, nos Estados Unidos. Em geral, pega-se um estádio que já existe e vende-se
o seu nome para uma grande empresa num contrato longo, de pelo menos
dez anos, para que os torcedores se acostumem a ele. Podemos lembrar de vá-
rios exemplos fáceis: Allianz Arena (Bayern de Munique), Delta Center (Utah
outros. O primeiro caso de naming rights que se tem notícia é de 1953, quan-
com o seu nome em Viena, capital da seu país-natal, a Áustria. Numa situação
Credicard Hall, Chevrolet Hall, Teatro Abril e Citibank Hall, que já foi Claro
Hall e ATL Hall. No futebol, existe ainda um preconceito contra esse tipo
mesmo aconteceu com a nossa Arena Petrobras, que foi chamada por muita
porte e, quando ele acontece, argumenta que não pode fazer propaganda
de graça. Como eu disse, é puro preconceito que, com o tempo, vai cair.
Basta dizer que, há 20 anos, alguns jornais botavam uma tarja preta sobre
Copa União. Alguém imagina isso hoje? Mas persiste ainda uma visão com-
pode ter mais qualidade, o que vai se reverter em mais gente interessada em
136
Marcelo Carnaval
Marcelo Carnaval
Com uma taxa de ocupação de 52%, os jogos do Flamengo tiveram uma renda bruta de
quase R$ 2, 5 milhões.
137
virtuoso. Se todos tivessem chamado o campo da Portuguesa de Arena Pe-
trobras é possível que a empresa estivesse lá até hoje. Seria quase obrigada
jogos, também só ficou atrás do estádio de Belo Horizonte, que recebeu 39.
de R$ 1 milhão.
sante, mudaria um pouco a imagem do bairro, que tem sofrido muito com a
a Portuguesa recebeu um aluguel de R$ 12 mil por partida. O valor era pago pelo
Flamengo e pelo Botafogo, que gastariam bem mais se realizassem seus jogos no
138
A parceria entre Flamengo e Botafogo gerou até receitas pouco comuns no
até dezembro pela coordenação do projeto. Para formar uma equipe, pedi ao
Márcio e ao Bebeto funcionários dos clubes, seis de cada um. Não serviam
Entre todas esses profissionais, a quem sou muito grato, gostaria de des-
139
tacar a figura do Raimundo Nonato, um homem ligado ao esporte que foi
confiança que eu chamei para ser o executivo da Arena Petrobras. Foi o tempo
Era uma espécie de capitão da equipe de profissionais dos dois clubes. Foi ele
hoje por causa de suas dívidas milionárias com o Governo federal. Nenhum de-
les pode obter certidão negativa de débito, o que os impede de receber recur-
sos públicos. Pois então como foram beneficiados com verba da maior estatal
brasileira e pela isenção de impostos estaduais que seriam pagos pela Telemar?
Bem simples: o contrato não foi feito diretamente com eles, mas com a Liga
Carioca de Futebol, uma entidade jurídica que tinha sede mas estava inativa
havia anos. Era formada por Flamengo, Botafogo, Fluminense, América e São
ração de Futebol do Rio. Mas a iniciativa nunca saiu do papel e a liga perdeu a
sua função. A Timemania, nova loteria que será administrada pela Caixa Eco-
parte reverterá para os cofres públicos, para quitação das dívidas fiscais.
te, em pouco tempo a liga estava de novo em atividade. E com essa nova
tas de estádio. Poucos clubes aqui fazem isso direito, talvez apenas São Paulo,
taram a esse grupo. Mas, um ano antes, o Flamengo também já tinha dado um
passo à frente nesse sentido quando realizou os seus jogos no Brasileiro no então
José Maria Sobrinho e Leovegildo Lins Gama Junior, o Junior. Quando come-
milhões brutos. Mas só levou para casa R$ 200 mil, menos de 10%. Em va-
Suderj ficou com R$ 500 mil e R$ 1 milhão foram gastos com impostos, com
resolver o problema dos dois lados, decidimos nos unir. Acertamos que todas
ter na sua cidade o clube mais popular do Brasil. Neste ponto, faço minha
cheio do bolo. Sem contar que Volta Redonda passaria a ser falada no Brasil
TVs do norte a sul do país teriam que citar o nome da cidade. Isso não tem
preço. Na verdade, a cota de R$ 100 mil passou a ser barata. A cidade es-
por causa do maravilhoso time capitaneado por Bebeto nos anos 90. Até
zemos promoções de tudo quanto foi tipo para atrair a torcida. Não tivemos
canã. Pelo acordo, o rubro-negro já garantia R$ 1,6 milhão mas, graças à boa
142
A Arena Petrobras e o Estádio da Cidadania foram, portanto, duas so-
insisto que, numa gestão profissional, esse tipo de problema não deveria nem
existir. Um estádio próprio é requisito básico para um clube que pretende ser
superavitário. Quem não entende isso, fica cada vez mais para trás.
143
Carlos Augusto Montenegro
vice-presidente do Botafogo e presidente do Ibope.
Este ano, demos um passo ainda mais importante neste sentido. Com o En-
genhão, arrendado junto à Prefeitura, o Botafogo mostra, de uma vez por todas,
que não abre mais mão das receitas obtidas apenas pelos clubes que contam com
estádio próprio.
144
No basquete
Virando o jogo
com depoimentos de Ary Vidal e Renato Brito Cunha
Q ual o esporte mais popular do Brasil? Ninguém tem dúvidas de que
é o futebol. E qual o segundo lugar? Bem, eu diria que também é o futebol,
que sempre foi disputado pelo vôlei e pelo basquete. Pelo menos de um 30
anos para cá, o vôlei tem se sobressaído até com certa folga, seja no aspec-
Esta é a realidade brasileira. Agora eu conto uma história que nos ajudará a
e foi duas vezes medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos (1960 e 1964).
Wlamir Marques, entre outros. De lá para cá, vivemos ainda bons momentos
pecial nos anos 90. Com elas, o Brasil foi campeão mundial em 1994, na
147
Mas, a despeito dos grandes jogadores que formamos, os resultados da
que já dava muito mais alegrias para o torcedor e retorno financeiro para
também tinha pedido para sair e a Penalty, insatisfeita com a pouca visi-
Federal, que pagava na época US$ 600 mil por ano, mas queria diminuir o
valor para US$ 300 mil. Era toda a receita que o dirigente dispunha para
a forma como o basquete brasileiro estava sendo gerido. Não havia sequer um
para saber se a marca estava sendo mais lembrada pelos consumidores nem
Se o marketing for bem feito, o esporte costuma dar um retorno até dez vezes
148
O Campeonato Nacional Masculino de 1995 havia sido altamente defici-
viagens eram feitas de ônibus porque não havia dinheiro para passagens de
tamanho o desinteresse que a competição provocava. Não havia mais que 700
que este fosse atrativo técnica e comercialmente. A grosso modo, eu tinha que
ca, uma série de amistosos pelo país com vistas ao Pré-Olímpico que seria
etc. Conversando com essas pessoas, como num brain storm, surgiram várias
149
deficiência que ficou clara na conversa com os jornalistas, por exemplo, era a
detalhadas dos jogos de clubes e da seleção, o que impedia uma análise mais
Minha primeira ideia foi recorrer à IBM, onde eu havia trabalhado. Mas
seria muito caro para a realidade da CBB. Então consegui um acordo com
te. Eles nos deram duas mil unidades em troca de uma placa de publicidade
criar uma revolução no basquete, uma reviravolta no modo como ele vinha
150
seria reservado às atividades da seleção brasileira e o terceiro, às copas regio-
Desde o início, eu deixei claro ao Renato Brito Cunha que não havia mais
com o Campeonato Brasileiro de futebol antes da Copa União, eles não reuniam
pantes seria uma decisão politicamente desgastante para a CBB, mas era impres-
cindível para garantir a qualidade técnica e comercial dos jogos. Expliquei a ele
te. Era uma mudança cultural e tanto no basquete, mas o Renato entendeu.
Arquivo pessoal
ços para mudanças de datas, W.O.s, viradas de mesa. Para atender à televisão
151
so público. Quando eu comecei a visitar as emissoras, percebi que o basquete
Por sorte, aquele era um momento de consolidação das TVs por assina-
soras precisavam de bons produtos. Certo dia, saiu publicado num jornal
até outros países. A Globosat, então, viu que poderia perder um mercado de
a emissora poderia dizer aos seus anunciantes que eles também teriam suas
valor compatível com as negociações do futebol e bem acima do que era pago
ao vôlei na época, algo em torno de US$ 300 mil. Era algo fantástico para o
primeiro contrato. Naquele momento, lembrei uma frase ótima do Ary Vidal
que, de certa forma, estava sendo contrariada: “Fazer marketing com vôlei é
fácil, Bernard, Montanaro, Renan. Só nome bonito, com caras de dois metros
de altura bem distribuídos. Agora vai fazer com Pai Nego, Pipoca, cada nome
152
pior que o outro no basquete. E tudo mal distribuído”. Pois a Globosat vendeu
onato foi de cerca de duas mil pessoas. Todos os times eram estimulados a
fazer promoções para encher seus ginásios. Lembro que os mais criativos
o primeiro All Star Game, uma versão brasileira para o jogo de estrelas da
foi preocupante para a seleção brasileira, que chegou a ficar muito perto
“A princípio, mil dólares para cada jogador”, ele me disse. Então eu respondi
na hora: “Renato, você vai pagar dez mil dólares para cada um. É hora de
arriscar porque se o Brasil não for para a Olimpíada todo o nosso projeto de
O doping financeiro não é uma prática nova no esporte, mas ainda hoje
é visto com preconceito, como se fosse coisa de mercenário. Não é isso. Nin-
guém decide jogar menos porque recebe menos, mas no fundo é uma moti-
insisti: “Renato, vamos encarar isso de forma profissional. Não é mais esporte
153
Mas antes de anunciar a premiação, nós conversamos com o Ary Vidal e
com o Oscar, o líder do grupo. Ambos disseram que estavam ali pela camisa
tivação extra, especialmente o Oscar: “Pode ser que para um não seja impor-
tante, mas para outro pode ser. Nós, profissionais, queremos reconhecimento
então, que chamaria o grupo para se juntar a nós. Lembro que quando o Re-
nato disse que pagaria US$ 10 mil pela vaga nos Jogos de Atlanta, o Amaury
falou: “Tudo bem, presidente, vai dar uns US$ 500 para cada um, acho que é
justo.” Quando eles ficaram sabendo que era US$ 10 mil para cada um, quase
tiveram um infarto. O basquete nunca tinha trabalhado com esses valores mas
E assim foi feito, por US$ 1 milhão. Da mesma forma, trabalhamos na reno-
tante concentrar investimentos num esporte só, como o Banco do Brasil fazia
com o vôlei. Até então, a Caixa diversificava muito a verba e não encontrava
seu foco. Nós, então, renovamos com a estatal por US$ 3 milhões.
que era a verba da Caixa Econômica Federal. Em menos de nove meses, con-
154
Era um trabalho valiosíssimo não só nosso, mas também da CBB, que
dois não se davam bem e foi uma disputa acirradíssima. Tanto que foi parar
Segundo Renato, o voto não era válido porque a federação não estava em dia
com suas obrigações com a CBB e não podia votar. No empate, ele assumiria
delo amador de gestão do nosso esporte. A nova diretoria decidiu fazer uma
vam funcionando bem, como o marketing. Grego queria rever todos os contra-
tos de patrocínio. O primeiro a ser rompido foi com a Reebok, que ainda tinha
mais três anos pela frente. Outra medida foi demitir o técnico Ary Vidal.
Com a Sportlink não seria possível uma mudança tão rápida. Tínhamos
Grande do Norte. Aquela tinha sido uma das conquistas da gestão do Rena-
o caderno de encargos para sediar o torneio e não dava para abrir mão do
nosso know-how. Pelo menos não naquela hora. Depois do campeonato, nós
155
mos. Com a ajuda da Caixa, levamos os folclóricos Dartagnan e Bola Sete,
que sabem animar uma torcida como poucos. Além disso, tivemos a ideia
de convidar as escolas públicas de Natal para levar seus alunos aos jogos.
George Killian, afirmou no dia da final que nunca tinha visto um público
masculino adulto. E, por causa disso, fez uma homenagem especial ao Dar-
por isso, manteria a Sportlink, mas sob a condição de reduzirmos a nossa comis-
são de 20% para 10% sobre os contratos. Além disso, não teríamos mais exclusi-
vidade com a CBB, ou seja, ela poderia contratar outras agências de marketing:
“Mas fique tranquilo, vocês não vão perder nada. Sou um homem de marketing,
conseguiremos novos contratos”, ele disse. O Grego era dono de uma empresa de
“Então, como homem de marketing, você deve saber que é fundamental ter
uma só agência. Como é que eu e outra empresa vamos à Coca-Cola, por exem-
plo, pedir a mesma coisa? Como você vai separar isso?”. Não obtive resposta. Eu
156
o Sávio no Real Madrid. Foi uma fase muito difícil. Todo um planejamento
Nos tribunais, pelo menos, fez-se justiça. Foram quase 30 processos, en-
res. Eles contrataram o escritório dos Zveiter, um dos mais conhecidos do Rio
que parou de produzir os álbuns. O contrato com o SporTV foi renovado, mas
em bases bem inferiores a que obtivemos. Também houve reflexo nas qua-
Ari Gomes
A presença dos alunos das escolas públicas de Natal e de tipos folclóricos como Dartagnan
e Bola Sete, transformaram os jogos do Campeonato de Basquete Mundial Juvenil Femini-
no, em julho de 1997, numa festa.
157
dras. Desde então, por exemplo, a seleção brasileira masculina de basquete
rismo do esporte brasileiro falou mais alto outra vez. A frustração com a CBB
sempre foi apaixonado pelo basquete. Foi jogador quando jovem e, à frente
mesmos. Nos Estados Unidos, é assim, mas o Brasil não tem essa cultura.
Uberlândia com o objetivo de, assim como fiz com a seleção brasileira,
tava todo mundo com uma visão muito limitada aos seus interesses. Com
158
o problema identificado, desenvolvemos o conceito “Unidos pelo basquete
equipes de basquete que mudavam de nome praticamente todo ano. Elas ficavam
como a do Rio Claro (SP), por exemplo. Nos anos 90, foi bicampeão brasileiro,
num torneio em Paris. Em suma, era uma máquina de jogar basquete, inferior ape-
nas aos times da NBA. Mas pouca gente hoje se lembra disso porque em um ano
ele se chamava Polt Vaporeto, no outro Blue Life e assim por diante. A equipe de
159
Na universidade, tivemos que fazer uma reunião com alunos, funcioná-
rios e professores para mostrar a eles que o time de basquete seria um par-
ceiro. Poderia ser usado como laboratório para vários cursos. A turma de pu-
assistir aos jogos do time, como também ajudaram a criar uniformes, fizeram
torcidas organizadas etc. Por fim, durante o mês em que estive lá, ajudamos a
formar uma profissional, a Maria das Graças, que, mais tarde, assumiu o meu
lugar na coordenação do projeto. Foi uma formação tão bem sucedida que,
importante ter uma equipe esportiva associada ao nome da cidade. Foi como
prefeitura, fazer palestras, clínicas etc. O esporte, como todo mundo sabe,
para sugar seus recursos. Era uma questão de mudança de ângulo. A prefei-
dia comprariam uma cota e fariam parte do Clube dos 30, uma referência ao
prata (R$ 3 mil) e bronze (R$ 1 mil). Tivemos 24 cotistas, desde grandes
160
que um dia bateu na porta do meu escritório, lá na universidade, um senhor
que era motorista de táxi. Era da Cooperativa 1010. Além de colaborar com
o time, ele fazia questão de distribuir adesivos do Clube dos 30 entre todos
mente o conceito do nosso projeto. Era como se pensasse: “...os meus passa-
excelente ideia dele. Cada motorista não pagou mais de R$ 30 por mês. Se
todo esse trabalho não resultasse também numa evolução técnica da equipe
de basquete tudo teria sido inútil. Mas o Unit Uberlândia, que ficara em nono
Dali em diante, até 2005, nunca mais deixou de figurar entre os cinco melho-
res times do país. Seu ápice aconteceu em 2004, quando conquistou o título
vida profissional. Foi responsável por tantas alegrias quanto o trabalho com
161
Ary Vidal
ex-técnico da Seleção Brasileira Masculina de Basquete
162
Renato Brito Cunha
ex-presidente da Confederação Brasileira de Basquete
Depois que saí da presidência, temi pelo futuro da CBB. Minha única espe-
rança era que a presença da Sportlink e dos patrocinadores fosse capaz de manter
o ritmo de crescimento do basquete brasileiro. Mas, infelizmente, não foi isso que
aconteceu. O contrato com a Sportlink foi rompido, em seguida a CBB perdeu
o apoio da Reebok e, no ano seguinte, a Caixa Econômica Federal desistiu de
patrocinar o basquete. Como se não bastasse, a confederação também perdeu o
contrato com a Molten, que fornecia duas mil bolas de basquete por ano.
163
Entendendo
o cliente
A tática da vitória
com depoimento de Márcio Braga
N a transição do regime militar para o democrático, em meados dos anos
80, empresas multinacionais sofriam muita resistência em áreas de influência
sava tornar-se mais simpática aos olhos dos brasileiros e, para isso, tinha de
ajudaria a deixá-la mais brasileira. Num curto prazo, nós não venderíamos
mais computadores por causa disso mas, aos poucos, com a consolidação
167
mente ausente durante os anos de chumbo da ditadura. Convidamos o Luís
tos, sobre o escritor em seu habitat, contando sobre sua experiência, seu
curto prazo. Citei o caso de uma empresa em que trabalhei, que fez marketing
para atingir seus objetivos, sejam eles de curto, médio e longo prazos. Para o
vale a mesma lição: assim como um treinador deve conhecer bem sua equipe
negociar com grandes empresas, que são geralmente as que se dispõem a in-
vestir em esporte. Primeiro deve-se entender que elas são pessoas jurídicas
ela e as suas circunstâncias. Quais são essas circunstâncias e por que elas
168
se originaram é algo que o profissional deve ter na cabeça antes de visitar a
que essa empresa veicula, o tipo de mensagem que ela quer passar, que pú-
como o jornal Meio e Mensagem. Ali a gente encontra uma relação dos maio-
res anunciantes, quanto eles têm para investir em propaganda, qual é sua
agência de publicidade, o que eles querem vender etc. Não adianta chegar
barato que ele seja, eu vou recusar, porque, por uma questão de qualidade
MARKETING ESPORTIVO
Agentes
fornecedores mercado
169
Apenas essa observação crítica e atenta das mídias é suficiente para
perceber que, como aconteceu com a IBM nos anos 80, hoje em dia cresce
clubes e eventos esportivos, que é o nosso foco nesse livro, é altamente be-
Flamengo, por achar que sua marca na camisa rubro-negra não fará com que
receba mais correntistas e investidores. Mas os bancos, em geral, têm uma ima-
gem negativa junto à população, pois vivem de juros altos, cobram taxas para
tudo e têm obtido recordes seguidos de lucros. Por isso, eles podem querer pa-
seu poder de marketing. Elas têm tudo para se vender bem, mas, por não
mas pouca gente ouviu falar dela. Ela está precisando de um consultor que
keting precisa, então, decidir outra questão: ele deve se dirigir diretamente à
170
elas exercem muita influência sobre o cliente, com quem trabalham algumas ve-
zes há 10, 20 anos. Quando recebem a verba de publicidade, elas fazem o plane-
pois estes são meios mais conservadores. É possível planejá-los e veiculá-los com
mais fria, unilateral. Você manda a mensagem e tem mais dificuldades de ouvir
vida. É óbvio que esse investimento tem um grau de risco maior. Imaginem
Para que esse risco seja menor, convém tornar a ação de marketing a
são que se usa hoje para isso é “ativação de patrocínio”, ou seja, potencializá-
lo para que aquela marca exposta não atinja apenas o público visualmente.
171
No caso do show de música, por exemplo, uma medida obrigatória para ativar
ta a mudar de patrocinador.
vermelha e preta, como o Flamengo. Mas ela não estava satisfeita em apenas
expor a sua marca na camisa do clube. Para vender mais óleo e gasolina,
var o patrocínio. Por exemplo: se fosse jogar fora do Rio, o Flamengo teria
promoções com a marca do clube nos postos com a sua bandeira, organizar
time etc. Tudo isso garantido em contrato. O Flamengo poderia estar mal no
va-se muito na Era Dunga, um apelido pejorativo para designar um time mais
tático e menos técnico, do jeito que o brasileiro não gosta. Imprensa e tor-
172
jejum de 24 anos sem títulos mundiais. Eu precisava, então, trabalhar com o
que, nesse caso, a agência não seria minha aliada. Se eu procurasse somente
mais nada porque os US$ 2 milhões que eu propunha para o projeto sairiam
PATROCINADORES PRODUTOS
OFICIAIS OFICIAIS
DIREITOS /RETORNO:
TV - direitos de transmissão
nacional e internacional
Espaços publicitários -
Inserção de vídeo, uniformes, placas,
FORNECEDOR publicações, material impresso (ingres- APOIO
OFICIAL so, folhetos etc.) OFICIAL
Licensing, franchising
Produtos com marca e símbolos
dos clubes
Concessões e permutas -
Restaurante, estacionamento
Eventos e promoções -
Intervalos dos jogos
Imagem dos atletas e equipes
Ingressos /Convites
Títulos e expressões
Produto oficial / fornecedor oficial
patrocinador oficial
TV(S) TORCEDORES
OFICIAL(IS)
173
US$ 3 milhões para a publicidade direta. Mas a questão não é só financeira.
Para não passar por cima de ninguém, eu fui até a W/Brasil e expliquei
disse, não foi maldade da agência, eles apenas estavam pensando no seu fa-
com o clube tricolor. Para isso precisava de US$ 2 milhões da sua cota de
que a Hyundai seria conhecida pelo público brasileiro, que era o seu grande
que mede as marcas mais lembradas pelo consumidor, para o quarto lugar
174
Para tomar todas essas decisões, é claro que eu estudei a fundo os pro-
que estudou a fundo o seu negócio. Daí para frente, com uma competência
175
Márcio Braga
presidente do Flamengo
Até hoje existe gente que não vê com bons olhos a entra-
da de empresas privadas no futebol. Dizem que é uma forma de mercantilizar
o futebol. Para mim, isso um grande equívoco, um pensamento conservador e
reacionário. Sempre acreditei na profissionalização do futebol, talvez por isso
tenha me dado tão bem com o João Henrique Areias.
176
Um Novo Mo de l o
de gestao
Profissionalizar para não morrer
com depoimento do Junior
I magine o leitor uma empresa centenária, com centenas de funcioná-
rios e milhões de consumidores, quase tantos quanto a população da Ar-
no entanto, chega para trabalhar no início da noite e volta para suas casas
antes das 21 horas. Eles não possuem muita responsabilidade com o negó-
por outros e não responderão pelos erros que tiverem cometido em sua ad-
sos esportistas. O leitor deve ter reparado que, algumas ações de marketing
das entidades para as quais foram criadas. Esse conceito está atrelado a um
179
dará jeito nas finanças do Flamengo ou de qualquer clube brasileiro afundado
Até os anos 70 e parte dos anos 80, esse modelo era suficiente para movi-
no fim dos anos 90 é emblemática. Gigantes como Nations Bank, ISL, Octa-
pá e enxada. Ele não saberá o que fazer com tantos recursos. Até hoje eu me
de seus dirigentes.
180
Lembro que, na época desse boom de investidores, fui convidado pelo
tipo, a fazer uma radiografia do futebol brasileiro. Deixei claro no estudo que
Também no mesmo período, dei uma entrevista para o diário Lance! pre-
empresas deveriam exigir a mudança no modelo de gestão dos clubes ou, en-
tão, quebrariam a cara. No dia seguinte, fui bombardeado por todos os lados.
parceria desse tipo, deu o resultado esperado. Acredito que, para que esse
investidor volte a se interessar pelo nosso futebol, ele tenha que encontrar do
quanto sua empresa. Não é o que acontece ainda hoje, em pleno século XXI.
Sobre a foto da equipe Fla-Futebol, Campeã Carioca de 2005, de Ari Kaye, uma arte feita
com os gigantes da equipe da Sportlink: Joana, Bernardo, George, Flávio e Nadia
181
Atualmente, nenhum grande clube brasileiro funciona com uma estru-
ção, ainda é gerido por dirigentes voluntários, embora com uma “cultura
clubes, herdariam apenas suas receitas, mas até hoje a ideia não saiu do pa-
pel por ser inviável legalmente e por ser considerada uma ameaça de calote
Márcio Braga sabia que algo precisava mudar na gestão do futebol, mas, no ín-
N.A. A maioria dos clubes tem eleição a cada três anos para eleger o presidente e o vice-presi-
dente geral responsáveis por gerir o clube no dia-a-dia. O presidente eleito convida amigos e
correligionários políticos para assumirem as outras vice-presidências (futebol, esportes olímpi-
cos, social, administração, marketing, finanças etc.). São todos dirigentes voluntários.
182
acima do Fla-Futebol. Além do mais, o vice-presidente geral, Artur Rocha, era
esse não é o modelo que vai ao encontro do que eu penso. Não vou ficar aqui
no clube ganhando um bom salário por amizade a você porque, graças a Deus,
não preciso disso”, afirmei. Mas ele me pediu para ficar até o fim de junho,
que tudo seria resolvido. Nada aconteceu novamente e eu pedi o meu boné.
É óbvio que essa reestruturação profissional dos clubes passa por vários
que, por questões óbvias, foram pensadas com relação ao Flamengo, mas po-
no clube mais popular do Brasil se, na época da eleição, for montado um gru-
Só que desde o início da campanha, ficará claro para o sócio que ele não
183
NOVO MODELO ORGANIZACIONAL
Assembleia Geral
Conselho
CONSELHO
Deliberativo
ADMINISTRAÇÃO
(Até nove membros)
Conselho
Consultivo
Conselho
Fiscal
DIRIGENTES
VOLUNTÁRIOS
ESTRUTURA
PROFISSIONAL
CEO
Presidente
profissional
que tem estrelas (jogadores) e produtos (sua marca e os jogos). Caberá a ele
184
sidade de um departamento recursos humanos, inexplicavelmente ausente na
tro. O São Paulo, por exemplo, deixou um pouco de lado a questão técnica
DIRIGENTE X MERCADO
Evolução da relação
Até os Anos 80 Anos 90 1a década
anos 70 século XXI
Dirigente Dirigente Dirigente Dirigente
Voluntário Voluntário Voluntário Profissional
185
É claro que outros conselhos, como o Fiscal, continuarão existindo, mas
eles devem ficar livres da politicagem que costuma imperar nos clubes bra-
sileiros. Para isso, podem ser contratados, por exemplo, auditores profissio-
Costumo conversar muito sobre tudo isso com três ex-jogadores rubro-
negros, todos meus ídolos além de amigos pessoais: Zico, Junior e Leonar-
do. Não é conversa jogada fora, porque os vejo inseridos neste modelo. Às
acho que falta alguma coisa fora de campo. Sempre digo a eles: ajudem
milhões de consumidores.
desde o início, deixar claro que, se determinado grupo ganhar a eleição, ele
algum deles, mas alguém que, como os três, já tenha exercido alguma fun-
186
reportariam diretamente ao diretor-executivo. Seriam remunerados e, como
Dantas, por quem tenho o maior apreço, deveria fazer parte do tal Conselho de
se formou no clube: o Márcio queria blindar o futebol mas não lhe deu auto-
nomia suficiente para isso. Não conseguimos sequer abrir uma conta bancária
exclusiva para o Fla-Futebol. Todo o dinheiro que entrava para o futebol, caía
Paulo queria contratar o atacante argentino Cristian Castillo. Ele jamais ha-
via visto o sujeito jogar, mas tinha recebido um DVD com os seus melhores
nior se revoltou e disse que o argentino não viria. Foi um mal-estar danado.
Meses depois, o Artur Rocha fez o mesmo, só que com o atacante Dimba.
milhão. Foi um absurdo não só porque estava além das condições financeiras
que faz isso ou está agindo no desespero, com o coração do torcedor, ou tem
Por não ter sido firme na mudança para o sistema profissional, a dire-
leiro foi disputado em pontos corridos, o clube vendeu apenas 70 carnês com
187
ingressos para todos os jogos. No ano seguinte, o Fla-Futebol fez uma bela
por pura vaidade, enfim, não teve nenhum compromisso com a eficiência.
sem ganhar um centavo. O empresário, por exemplo, vai levar 10% do negó-
cio, o jogador pode ficar milionário. Mas o dirigente voluntário que, depois
a venda de um craque, faz isso de graça. É, sem dúvida, um campo fértil para
digamos, R$ 20 mil por mês, mais uma premiação baseada em metas, ele seria
muito menos tentado a aceitar um valor por fora, como ocorre hoje em dia.
mado clube-empresa, pelo menos num curto ou médio prazo. Não pelo conceito
em si, mas porque se a mudança for feita de um dia para o outro, na canetada,
o clube vai à falência no dia seguinte. Ele não tem uma cultura empresarial,
188
Desde a Lei Zico, passando pela Lei Pelé, existe um equívoco sobre a tal
coisa assim, impositiva, da noite para o dia. Como você vai criar responsa-
o ideal é que fossem criadas condições para uma mudança gradual que ob-
jetivasse a profissionalização dos clubes. Nada mais do que isso, pelo menos
nesse momento. Seria algo nos moldes da CBF, que tem dirigentes profissio-
nais e remunerados sem que, para isso, tivesse que virar uma empresa. Hoje,
leiro. Ela entendeu o que o Clube dos 13 fez naquela época e adotou o modelo
para si, enquanto os próprios clubes andaram para trás em diversos aspectos.
des clubes europeus, a grande maioria funcionando sob esse modelo. Mas é
não precisam, uma vez que têm suas dívidas controladas e geram os mais
variados tipos de receitas no mundo inteiro. Os dois últimos por uma questão
condicionados a metas.
culo XX pela Fifa, não era um primor de organização quando o Sávio foi para
lá, em 1997. Era meio parecido com o Flamengo, com politicagem para todos
189
os lados. Mas já era um clube rico, é claro. O dinheiro entrava como que
ting e criou um Conselho Gestor, formado por ele e mais quatro pessoas de
um ex-jogador argentino que foi ídolo com a camisa merengue. Hoje, o Real
vista mais amplo. Porque adianta pouco fazer uma reformulação estrutural num
uma estrutura global condizente para que seu crescimento seja contínuo.
que, por ser óbvia, parece ter uma resposta simples: qual o negócio do futebol?
cedor. Então o torcedor é a razão de ser do clube, é a foto dele que deve estar
à frente da mesa do presidente para que ele jamais se esqueça disso. Sem o
torcedor, não há clube. E como fazer para aumentar esse mercado? A resposta
é ídolos e títulos. Às vezes você atinge o objetivo com um ou com outro, mas o
ideal é que se tenha os dois, até porque uma coisa está ligada a outra.
Vamos pegar novamente o exemplo do São Paulo, cuja torcida tem cres-
cido a olhos vistos nos últimos anos. Ela está crescendo porque o São Paulo
futebol. Existem hoje mais torcedores do São Paulo porque, dos anos 90 para
cá, este foi o clube brasileiro que mais conquistou títulos importantes (três
190
Mundiais Interclubes, três Copas Libertadores, dois Brasileiros) e mais criou
uma galeria de ídolos (Raí, Leonardo, Kaká, Rogério Ceni, entre outros). O
São Paulo, como todo clube bem-sucedido, está ancorado num tripé funda-
mental para que esse mercado crescente de consumidores não seja sazonal,
VISÃO SISTÊMICA
Core Business
TORCIDA
TIME
TÍTULOS ÍDOLOS
ESTÁDIO
CT - Centro de treinamento
191
de Vargem Grande, um projeto que existe há mais de 20 anos na Gávea.
como foi apelidado o centro. Lembro que, na época, o Kleber Leite chegou
a dar uma entrevista em que dizia que não havia necessidade de CT porque
o Botafogo havia sido campeão brasileiro anos antes sem CT e sem estádio.
Zico fundou o CFZ... Eles alugam o espaço para clubes, formam atletas e são
bem remunerados por isso. O Nova Iguaçu, por sua vez, também tornou-se
próprio. É outra enorme fonte de receitas, sem contar com a parte técnica. É
o seu time que conhece bem aquilo ali e a torcida adversária só terá direito a
10% das arquibancadas. Todo o G-14, o grupo dos 14 maiores clubes da Euro-
pa, administra um estádio, mesmo que não seja seu. O San Siro é cedido pela
192
Flavio Espindola
Em 2004, Areias recebe um certificado do Márcio Braga, por seu inestimável trabalho de
conscientização sobre a importância do Centro de Treinamento.
torcida para levantar um estádio para 80, 100 mil pessoas, como têm o Real
pelas quatro classes sociais. Como será nos clássicos com Vasco, Fluminense
disputados no Maracanã. Mas como você vai explicar para o seu investidor
que ele vai ajudar a construir um estádio que só vai receber partidas contra
componente mais óbvio, todo clube precisa ter um bom time, mas às vezes os
dirigentes não entendem isso muito bem. Dois clubes tradicionais do Brasil,
por exemplo, apostaram num modelo de parceria que peca justamente nesse
193
lado do triângulo. No início dos anos 90, antes do boom dos investidores es-
Parmalat montou um belo time de futebol, que conquistou dois títulos brasi-
mais fizeram que terceirizar seu time de futebol. Foi a Parmalat quem contra-
tou craques como Rivaldo, Edmundo e Edílson. Tanto que, quando ela deixou
Roger, Carlos Alberto etc) foram levados pela empresa. Quando a parceria
mas o negócio dela é medicina e não futebol. Seu objetivo é divulgar a marca,
passar uma imagem positiva e não ficar à mercê de resultado no campo, como
os clubes. Não é por acaso que, quando o tricolor está em má fase dentro de
do clube, de lá saem seus talentos que, mais tarde, vão virar dividendos.
ensina qualquer livro de negócios, é para uma atividade acessória, não para
194
muitos anos, os dirigentes voluntários enxergaram o Campeonato Brasilei-
returno, fez com que grandes clubes se afundassem ainda mais em dívidas
e numa crise técnica que parecia sem fim. Eles acreditavam – e até hoje al-
até o fim, pois os times podem aspirar por mais tempo à possibilidade do
pontos corridos, ele pode vender carnês com todos os jogos da equipe até o
fim do ano. Chova ou faça sol, o torcedor sabe que seu time vai jogar no dia
tal, às tantas horas, em tal lugar. É uma receita garantida que lhe permite se
pontos corridos por todos os clubes e, na fase final, para as oito equipes
Percebi que o clube que era eliminado na primeira fase ficava até seis sema-
nas sem jogar. Contando com um mês de férias e as duas semanas de pré-
temporada, são três meses de um ócio fatal para as suas finanças. É óbvio:
o clube é como uma empresa que, durante o ano, pára de faturar por três
195
dores até continuam pagando mas, como sabem que sua marca deixará de
ser exposta esse tempo todo, já negocia previamente para diminuir o valor
total do contrato.
revolução no futebol brasileiro, que ao fim de cada ano vivia entre duas per-
guinte? Certo dia, encontrei o supervisor Paulo Angione e ele me chamou para
Havelange, do Pelé, entre outros. Cheguei lá mais tarde, sentei nas cadeiras
atrás, anonimamente, até que encontrei o Fábio Koff, presidente do Clube dos
13: “Agora ninguém mais pode dizer que somos desorganizados, João. Nem a
Não perdi a piada: “Na Europa não precisa nem lançar calendário, né, Fábio?
para o público, e logo quis saber a minha opinião: “É pior do que o que tinha
Havia clubes que poderiam ficar 18 semanas sem jogar. Se fosse na NBA, onde
de transmissão, tudo bem. Mas não seria assim aqui: perdeu, fica à míngua.
nos estádios com o sistema de turno e returno não se confirmou. Em 2002, últi-
196
de 2004, quando o público médio ficou em 7.556 pessoas, os outros anos varia-
ram pouco, para mais ou para menos: 10.468 (2003), 13.630 (2005) e 12.300
(2006). E acho que, cada vez mais, esse número vai aumentar porque o torcedor
vai entendendo que, no sistema de pontos corridos, cada jogo é uma decisão.
Marcelo Campos Pinto (TV Globo), o Fábio Koff (Clube dos 13), o Nabi Abi Che-
did (CBF), o Walter Mattos Jr. Jornal (Lance!), o Raí (representante dos jogado-
res), entre outros. Expliquei a eles que o campeonato de pontos corridos deveria
estar dentro do conceito de modernização trazido pelo estatuto, que nada mais é
a ele são garantidos por lei. O torcedor tem direito de, entre outras coisas, saber
com antecedência quando seu time vai jogar, quando acabará o campeonato etc.
O argumento mais convincente que eu levei para a reunião tinha a ver com
a relação entre os clubes que menos tinham participado da fase final dos cam-
peonatos e o destino deles num curto/médio prazo. O Bahia era o clube que
Portanto, era o clube que mais tinha ficado inativo nesse tempo todo. Na épo-
parecida. Era um efeito bola de neve: o time está ruim, não se classifica, fica
CALENDÁRIO IDEAL
197
sem jogar, não fatura, não tem como se reforçar, se enfraquece ainda mais e é
também tinha ficado fora de várias fases finais: “Não me surpreende se o Bota-
fogo for rebaixado em breve”, eu disse. Pois, naquele mesmo ano, o Botafogo
mas aos poucos muitos foram entendendo que só com esse regulamento eles
podem se planejar. Ninguém mais vai ficar inativo durante dois, três meses.
Além do mais, a emoção está garantida porque, até o fim, existem clubes
trados por uma liga de clubes independente. São eles que vão elaborar as tabe-
que arca com as despesas e, por isso, se sente no direito de interferir na vontade
dos clubes, os verdadeiros “donos do espetáculo”. Estes, por sua vez, acusam a
CBF de levar seus jogadores para a seleção brasileira sem indenizá-los por os
terem formado e por continuarem pagando seus salários. Não acredito que a
confederação seja culpada disso, mas vejo outros caminhos para ela.
198
No meu entender, a solução mais viável para as duas partes passa por
que é hoje, a despeito da situação tantas vezes calamitosa dos clubes. Pois,
lado, como receptora de atletas dos times, a CBF poderia usar o seu prestígio
para gerar receitas para os clubes. Se a seleção brasileira for convidada para
disputar um amistoso na Ásia, por exemplo, algo cada vez mais comum, a en-
Acredito que a CBF esteja disposta a abrir mão do Brasileiro se lhe for
apresentada uma proposta séria. Digo isso porque, em 2004, quando eu com-
trei a ele que, no ano anterior, o clube só havia ficado com R$ 200 mil dos R$
2,2 milhões de receita gerada nos jogos. A maior fatia foi dividida entre CBF,
sou a parte da entidade não só para o rubro-negro mas para todos os clubes.
sofrer no início, mas a responsabilidade lhes fará bem. Volto a repetir, no en-
tanto, que o rumo definitivo do futebol brasileiro só será tomado quando ele
199
Leovegildo Gama Junior
ex-jogador (Flamengo, Seleção Brasileira, Torino, Pescara),
técnico, dirigente e comentarista.
No Fla-Futebol, era o João, por exemplo, quem tinha que negociar os con-
tratos com a Nike e a Petrobras, mas a banda amadora do clube não deixava.
No futebol, eles também se metiam em tudo,comprometendo a independência do
Fla-Futebol. Perdemos uma grande oportunidade de profissionalizar o Flamengo.
Tenho certeza de que o clube hoje seria outro se o Fla-Futebol estivesse ainda na
ativa, não necessariamente pelas nossas qualidades pessoais, mas pelo modelo
profissional de gestão que ele representava.
200
Fla-Olimpico
A história do Fla-Basquete, bi-campeão brasileiro
com depoimentos de Paulo César Pereira Filho, Alexandre
Franklin, Pedro Paulo Drumond, Jefferson, Paulo Chupeta,
Arthur Repsold, Carlo Mossi e Sergio Ricardo de Almeida
201
202
Como já ficou claro em outros capítulos deste livro, são nos momentos de
crise que surgem as melhores oportunidades de se lançar uma semente de transfor-
mação. Foi o que passou pela minha cabeça quando vi estampada em todos os jornais
de janeiro de 2009, ele havia convocado a imprensa para dar uma notícia tão lamen-
tável quanto previsível. Sem meias palavras, Márcio informou que o Flamengo estava
abrindo mão de seus atletas de ginástica olímpica porque não tinha mais condição de
pagá-los. Estrelas da modalidade como Diego Hypólito, Danielle Hypólito e Jade Bar-
bosa estavam liberados para procurar outro clube para treinar. Ou então voltariam aos
nha deixado de ser autossustentável havia muitos anos. A equipe de basquete campeã
brasileira, dona dos melhores jogadores do país, estava com quatro meses de salários
atrasados. Nas outras modalidades, até a irrisória ajuda de custo dada aos atletas, entre
R$ 400 e R$ 600, não estava sendo paga desde julho de 2008. Era uma situação com-
pletamente caótica para um clube que se acostumou a ser base de equipes olímpicas e
203
A princípio, parecia um convite ao inferno. Não se desenhava à minha frente
Algumas coisas, no entanto, me fizeram pensar além dos obstáculos que apa-
reciam na minha frente. Primeiro, é claro, minha estreita relação com o Flamengo,
clube que abriu as portas para o meu trabalho como profissional de marketing. Depois,
que exponho neste livro e nos meus cursos de marketing esportivo. É claro que me lem-
Mas acreditei que, sem a paixão do futebol envolvida, eu encontraria mais autonomia
só restavam sete (remo, futsal, basquete, vôlei, judô, ginástica artística, natação, pólo
Por tudo isso, apesar do espanto de amigos próximos, disse sim ao convite de
única condição era ganhar autonomia total para implantar meu modelo de gestão.
Nosso primeiro passo foi dimensionar o tamanho do buraco dos esportes olím-
picos do Flamengo. Posso afirmar que era bem grande. As sete modalidades custavam
anualmente cerca de R$ 7 milhões aos cofres do clube. Como nenhuma tinha patrocí-
nio próprio, a única receita fixa vinha das escolinhas, que faturaram R$ 1,2 milhão e
gastaram R$ 700 mil no ano anterior. Com o lucro de R$ 500 mil, o rombo era de mais
ou menos R$ 6,4 milhões. Quem pagava essa conta? O clube precisava se submeter a
com o prejuízo dos chamados esportes amadores. A diretoria chegou a destinar 10%
do valor de contrato com a Petrobras para essas modalidades, mas houve um momento
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em que o dinheiro parou de entrar. E era aí que eu entrava na história. Minha principal
missão era criar receitas para as modalidades, num primeiro momento prioritariamente
Devo confessar que o primeiro obstáculo superado nada teve a ver com concei-
tos de marketing esportivo. A solução apareceu graças a uma paixão nacional chamada
Flamengo. Poucos dias depois que o presidente Márcio Braga expôs publicamente a
prefeitura de Niterói. Sensibilizado com o drama do clube e dos atletas, o prefeito Jorge
Roberto Silveira ofereceu o patrocínio do município para que Jade Barbosa e os irmãos
Seria a solução mais rápida para mais uma modalidade esportiva do clube que
sofria com o que eu chamo de custo-Flamengo. Os três ginastas rubro-negros têm salá-
rios bem acima da média brasileira. A gaúcha Daiane dos Santos, por exemplo, ganha
metade do que um deles recebia. Isso não significa que os atletas são mercenários ou
que a diretoria anterior não teve cuidado com o dinheiro do clube na hora de nego-
Assim como acontece com outros esportes, incluindo o futebol, os atletas que assinam
contratos com o Flamengo pedem mais porque sabem que não vão receber em dia. É
uma forma de se proteger do calote. Por isso, o custo total da ginástica rubro-negra
seria um patrocínio direto para o clube. O dinheiro seria repassado para um instituto
que deveria ser criado pelos ginastas, assim como o município já fazia com o velejador
Torben Grael, a triatleta Fernanda Keller, entre outros atletas de alto nível. Seria parte
unir para montar uma estrutura comum. A segunda opção seria a mais barata para eles,
por unificar as despesas. Mas foi aí que começaram os problemas. O pai de Jade, Cesar,
e a mãe dos irmãos Hypólito, Geni, não conseguiam se entender de jeito nenhum. E
go deu toda a assessoria jurídica para que eles fizessem o convênio com a prefeitura de
Niterói, mas, até agora, nada saiu do papel. Juntos, os ginastas estavam deixando de
faturar R$ 80 mil todo mês por não terem conseguido se entender entre eles.
Por um lado, eu entendi a dificuldade dos três atletas. Eles estavam se sentindo
como me senti no dia em que deixei a IBM para tentar meu primeiro voo solo como consul-
ao funcionário. Agora eles teriam de ir à luta por contra própria. Mesmo não pagando em
dia, o Flamengo era o empregador deles. De qualquer forma, foi a única solução encon-
trada para que dessem continuidade à brilhante carreira de cada um. Só dependia deles.
nástica, que tem um contrato com a Caixa Econômica Federal. Ora, quando a Daniele, o
Diego e a Jade dão retorno ao patrocinador? Quando estão nos Mundiais e nas Olimpí-
adas, representando a seleção brasileira. Só que, nessas ocasiões, eles não podem usar
clubes formam o atleta, dão moradia, instalações esportivas e não podem exibir seus
patrocinadores nas melhores ocasiões. Parece óbvio, então, que a confederação pelo
menos contribua com o salário do atleta. Só não é óbvio neste modelo de gestão ama-
Andréa João, para marcar uma reunião na confederação para encontrar um caminho
Felizmente, deu tempo para resolver outras questões até mais complicadas
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cos do Flamengo que o basquete. Não só pela gravidade da crise financeira que a equipe
passava, mas pela repercussão gigantesca dos problemas. Quando eu assumi o cargo de
vice-presidente, o salário dos jogadores estava atrasado havia quatro meses. O time, o
e a receita com bilheterias era quase nula. Pouco antes, no período de transição entre
a gestão da Patrícia Amorim e a minha, participei de uma reunião tensa. Na frente dos
Não disse nada naquela ocasião porque não tinha assumido a função oficial-
mente, mas no meu primeiro encontro com os jogadores deixei logo claro a minha
de mim. Mas precisava contar com a ajuda deles nos campeonatos. Na hora, me veio a
lembrança do pacto que firmei em 1995. Eles tratariam de se doar ao máximo dentro
de quadra que eu cuidaria de tudo fora dela. Como naquela vez, recebi uma resposta
ideia para chamar atenção da mídia sobre os problemas dos salários atrasados. Em dois
jogos disputados no Espírito Santo, eles entraram em quadra com uma camisa onde se lia:
RESPEITO. A atitude provocou grande repercussão. Felizmente, não fui pego de surpre-
sa. Numa atitude honesta dos jogadores, o ala-armador Marcelinho Machado, capitão e
disse que era um protesto pacífico e justo, já que realmente a diretoria do Flamengo não
estava sendo respeitosa com eles. Os atletas estavam fazendo a parte deles e nós, não.
Tanto isso era verdade que, no final daquele mesmo mês, eles se sagrariam campeões
olímpicos. Tentei fazer uma transição suave. Mas a Patrícia estava chateada porque o
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Márcio Braga tirou o cargo dela e não quis ficar. Convidamos ainda para nossa equipe
administração privada e esportiva. Da mesma forma que eu, o Hélio topou doar ao Fla-
mengo 90 dias de seu trabalho. Convidei também dois jovens ex-alunos do meu curso
e o Alexandre Franklin. Para comunicação, veio o George Milek. Outros ex-alunos meus
também foram importantes como voluntários, como a Alia Maas, Rômulo Macedo, João
Pedro Habib, Fernando Paz, Tatiana Azevedo, Rodrigo Calvoso, Mauricio Pelegrinetti,
Fernanda Belém, a equipe liderada pelo Ronaldo Bouças, os diretores do voleibol, mais
a Bárbara Moura. E, na parte financeira, aproveitei o Vitorino Silva, que já era funcioná-
rio do clube, além do Sérgio Silva e do Dário. Eu seria o diretor executivo e, como todo
Ao mesmo tempo, guardei um espaço para uma pessoa muito especial não
brasileira, para o ambiente que ele mais gosta: uma quadra de basquete. Alguns anos
antes, ele havia sofrido um AVC que o manteve entre hospital e casa. Achava que seria
Sabia que ele teria uma aceitação enorme de jogadores e comissão técnica. O mais
difícil foi convencer sua esposa, a minha amiga Heloísa, de que voltar ao esporte seria
importante até para a saúde dele. E foi o que aconteceu. Os cinco meses em que passou
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um time para produzir ídolos e conquistar títulos. Se dependesse só dele, ele contrataria
um dream team. Só que ele tem que se sentar antes com o coordenador financeiro, que
vai dizer quanto existe em caixa para pagar os jogadores e a comissão técnica. Nor-
malmente, haverá menos dinheiro do que o necessário para montar o time mas, nesta
mesma mesa, estará também o coordenador de marketing. É dele o papel de criar novas
financeiro. A Patrícia Amorim, por exemplo, foi uma ótima coordenadora esportiva.
Montou o melhor time de basquete da América do Sul, mas faltaram as outras duas
consumidores de basquete. Optamos, então, por um modelo que conheci num curso de
marketing digital. Chama-se plataforma Ning, que consistia numa rede social de intera-
co. Em cinco meses, cadastramos mais de oito mil rubro-negros que gostam de basquete.
Através do site, eles conversaram com os atletas, com a comissão técnica, trocaram infor-
mações, fotos e opiniões sobre os jogos e compraram produtos licenciados do clube. Tudo
isso com um custo praticamente zero para o Flamengo, que finalmente entrava na Era 2.0.
tive a ideia de levar os jogos do Flamengo para Macaé, onde certamente a gente teria
gente passou a cobrar mais compromisso deles com a frequência nas partidas. Era, en-
Colocamos à venda cinco camisetas temáticas do Fla-Basquete, que eram usadas pelos
jogadores e pela comissão técnica toda vez que entravam em quadra. A maioria das
vendas era feita através de um link no site. No período em que estive lá, arrecadamos
quase R$ 400 mil em venda das camisetas. Só nos dois primeiros jogos da final do NBB,
estava vazia desde a saída da Petrobras. Acertamos, então, um contrato com a Cia. do
Terno, uma das maiores redes de roupas sociais do Brasil. O valor do contrato aumen-
um total de R$ 450 mil em dois meses, sendo que só o jogo final injetou R$ 42 mil nos
cofres do clube.
Organização do Fla-Basquete
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210
Nesta negociação, vivemos uma situação semelhante àquela vivida na Copa
União entre Coca-Cola e Grêmio, que não queria usar a cor vermelha da empresa de
reclamou que a camisa do Flamengo tinha ficado parecida com a do Sport Recife.
Tivemos que explicar a alguns conselheiros que o clube não poderia se dar ao luxo de
ficar escolhendo cor de patrocinador. A um deles, cheguei a propor uma troca, é claro
que ironicamente. Ele nos daria R$ 400 mil e eu estamparia o nome dele no uniforme.
O contrato com a Cia. do Terno foi excelente, mas ainda precisávamos de mais. Decidi,
espaços publicitários.
Graças a esses recursos, somados à bilheteria dos jogos, conseguimos o que pa-
recia impossível. Em quatro meses, pagamos oito meses da folha salarial, que girava em
torno de R$ 215 mil. Faltou apenas quitar alguns prêmios por títulos de anos anteriores,
mas tudo seria resolvido, no máximo, até julho. Enquanto trabalhávamos fora da qua-
dra, lá dentro o time continuava fazendo a sua parte no NBB. O sucesso esportivo e os
desafios da gestão me obrigaram a ficar mais dois meses além do prazo de 90 dias que
eu dei ao presidente Márcio Braga para me dedicar ao clube. Aproveitei o tempo para
co do Flamengo. Seria o Instituto Fla-Olímpico. Ele seria formado por um conselho com
não-associado. Este instituto faria um convênio com o Flamengo, que autorizaria o uso
que foi oferecido aos ginastas rubro-negros. Entreguei o projeto ao Márcio Braga, que
ficou de analisá-lo.
211
Com a parte financeira bem encaminhada e o planejamento para o futuro
importante. Embora nossos objetivos fossem bem diferentes, havia uma prazerosa sin-
tonia entre a equipe que trabalhava nos bastidores e a que entrava em quadra. Como
o Flamengo não oferecia uma sala de ginástica ideal, conseguimos uma parceria com a
Academia Body Tech, uma das melhores do Rio, para os atletas treinarem. Eles sentiam
que estávamos comprometidos com eles. Vitória após vitória, chegamos aos playoffs
finais do NBB contra nosso grande rival, o Brasília. Um ano antes, o Flamengo já havia
não tinha uma quadra de alto nível para mandar seus jogos decisivos contra o Brasília.
Tínhamos feito um contato com a HSBC Arena, na Barra da Tijuca, mas o valor cobrado
pelo aluguel era inviável para a realidade do clube: R$ 75 mil por jogo, fora as despesas.
O diretor de esportes da TV Globo, Luiz Fernando Lima, ligou para mim preocupado.
Com ele, voltamos ao presidente da HSBC Arena, Artur Repsold, com outra proposta. O
ginásio seria cedido de graça, mas o Flamengo dividiria os lucros da bilheteria meio a
Parecia uma proposta desvantajosa para eles, mas aí eu apareci com um argu-
mento que sensibilizou o Artur. A arena foi construída com o dinheiro dos nossos impos-
tos para se transformar num legado esportivo para a cidade. Como o esporte olímpico
de espetáculos. Lembrei a ele que o Flamengo seria a única instituição esportiva do Rio
capaz de tornar o ginásio rentável. Eram argumentos fortes, mas que precisavam ser
confirmados na prática.
Depois do acordo com a HSBC Arena, começamos uma campanha forte para
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Graças a este esforço -- e evidentemente ao talento dos nossos atletas em quadra --, a
estratégia deu certo. Os três jogos da decisão renderam cerca de R$ 180 mil de lucro. A
média de público foi de 12 mil pessoas. No terceiro e último jogo chegamos a 15 mil ru-
de música. Isso porque chegamos a colocar ingressos num setor VIP no valor de R$ 200.
Algumas pessoas foram contra, mas eu confiei numa tese que carrego desde os tempos
de Copa União: se o espetáculo é bom, o público aparece. Ainda mais num dos bairros
mais ricos da cidade, a Barra da Tijuca. Tudo deu tão certo que a HSBC Arena decidiu
Por falta de experiência nossa, deixamos torcedores invadirem outros setores mais ca-
ros e não havia um local bem definido para a imprensa. No terceiro jogo, no entanto,
corrigimos a grande maioria dos problemas. Foi neste último jogo que eu viveria a
maior alegria destes meses de trabalho e também uma das maiores decepções da minha
vida no esporte. Ginásio lotado, imensa maioria rubro-negra, o cenário estava perfeito
para um dia apenas de festa. Dentro de quadra, confiávamos na capacidade dos nossos
atletas, mesmo diante de uma equipe forte como o Brasília. Na véspera da decisão, eu
tinha vivido uma experiência emocionante que me deu ainda mais fé na conquista do
lugar do Hélio, me pediu para conversar com os atletas. A princípio, não gostei da ideia.
Sempre achei que jogador não tem paciência para conversa de dirigente. Na decisão do
Sul-Americano, não permiti que nenhum cartola acompanhasse os jogadores nas via-
gens à Argentina e fomos campeões. Fala você, eu disse ao André. Mas ele insistiu tanto
que me convenceu.
Procurei ser o mais breve possível. Agradeci a eles todos os momentos que
quela nossa primeira reunião. Graças a eles, pudemos fazer um trabalho correto do
213
Paulo Chupeta e de seu assistente, João Batista. Em nome do grupo, eles pediram
que o Ary Vidal estivesse na quadra, ao lado deles, no jogo decisivo. Foi uma ideia
nes, tornou-se possível. Ele entendeu que aquilo seria uma bela homenagem a um
dos maiores nomes do basquete brasileiro. No dia da final, depois de ver o Ary bem
com alguns patrocinadores, ver se tudo estava dentro do planejado. Passei, então, no
camarote do Flamengo e me encontrei com o Márcio Braga. Ele estava ansioso para
me contar uma novidade. Já sabia a quem convidar para presidente do Instituto Fla-
Olímpico, o projeto que apresentei a ele dias antes: Patrícia Amorim. “Márcio, não
seu candidato nas próximas eleições, o Delair Dumbrosck”. A resposta dele resume
bem como funciona um modelo de gestão amador. “João, eu estou fazendo política”.
jogo, eu ainda o alertei: “Então convida a Patrícia, Márcio. Mas acho que ela não vai
aceitar. A Patrícia quer ser presidente do Flamengo e não do instituto”. A incrível ex-
periência que vivi durante a partida foi capaz de me fazer esquecer por alguns minutos
esporte que faz mal à saúde tantas são as emoções que ele desperta. Graças a Deus e ao
trabalho de todos, deu tudo certo. Com uma vitória de 76 a 68 sobre o Brasília, o Fla-
mengo era o primeiro campeão do Novo Basquete Brasil. Como sempre acreditei que
premiação. Só me aproximei uma vez para acompanhar a emocionante entrega das me-
dalhas. Ary Vidal foi o escolhido para colocá-las no pescoço dos jogadores. Logo depois,
chegou a taça. O Márcio, então, olha para mim, mas vai em direção à Patrícia Amorim
e juntos pegam o troféu. É ela quem entrega a taça ao nosso capitão, Marcelinho Ma-
chado. Eu achei estranha a atitude do Márcio e logo me veio à cabeça a conversa que
tivemos antes do jogo, no camarote. A Patrícia seria convidada para presidir o Instituto
Fla-Olímpico. Fazia parte da estratégia dele. Mas ainda não tinha me tocado do cons-
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trangimento que aquela cena representava. Cheguei mesmo a dar uma entrevista para a
Rádio Tupi lembrando mais uma vez que foi a Patrícia quem montou aquela bela equipe
e que nosso trabalho tinha sido o de pagá-la. Até que alguns membros da minha equipe
vieram reclamar comigo, dizendo que o Márcio deveria ter me convidado também para
saber o que tinha acontecido, se a Patrícia havia retomado o cargo. Isso porque o locutor
do SporTV Roby Porto tinha anunciado ao vivo, para todo o Brasil, que o troféu tinha
sido entregue pelo presidente Márcio Braga e pela diretora geral de esportes olímpicos
pe. Nós trabalhamos de graça durante cinco meses e o presidente do clube nos ignorou
decidi não ir com o grupo para o jantar de premiação. O assunto seria a crise causada
Disse que o gesto do presidente do Flamengo tinha sido um desrespeito não só comigo
mas com toda uma equipe de profissionais que trabalhou cinco meses de graça para o
clube. Tudo isso por causa de seu interesse político nas eleições gerais do clube que se
realizariam naquele ano. Não fazia questão de que ele me chamasse para entregar a
taça, mas alguém do departamento tinha de estar lá. O Márcio Braga respondeu dizen-
do que eu estava com ciúmes da Patrícia e que iria resolver o problema porque me con-
trataria como profissional do instituto que eu mesmo projetei. Aí é que eu fiquei ainda
mais irritado. O presidente do Flamengo achava que calaria a minha boca com um car-
go. Naquele momento, eu sentia que uma relação profissional e de amizade de 22 anos
tinha ficado balançada. Prometi a mim mesmo nunca mais trabalhar com Márcio Braga,
dar o departamento de esportes olímpicos do Flamengo para mostrar que era possível
conduzi-lo baseado em princípios profissionais, mas o presidente deixou claro que o seu
215
lado político falava mais alto. O Márcio Braga que já foi um grande estadista à frente
do clube tinha decidido fazer uma política menor. Pelo acordo, eu deixaria o cargo ofi-
cialmente dia 30 de junho, mas pedi demissão dois dias antes, até para marcar posição.
Alguns dias depois, o Márcio emitiu uma nota oficial elogiando o trabalho
que houve uma falha protocolar na entrega da taça e que, por isso, ninguém da minha
equipe tinha sido chamado. Ou seja, continuou sem reconhecer o seu erro. Tudo isso
reforçou as minhas convicções de que é essencial separar o lado político do lado profis-
sional de uma agremiação esportiva. Fazer política é necessário, mas ela jamais pode in-
brasileiro. Por mais que os dirigentes se esforcem em dar exemplos contrários, continuo
Delair Dumbrosck, e do diretor que convoquei para me ajudar, o Marcos Braz. O Delair,
que substituiu o Márcio Braga, licenciado por problemas de saúde, em todo o período
que estive à frente dos esportes olímpicos do Flamengo, apoiou todas as nossas ações,
inclusive levar as finais para a HSBC Arena. O Marcos Braz, que depois viria a assumir
a vice presidência de futebol do Flamengo, de forma competente, foi outro apoio impor-
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Paulo César Pereira Filho
coordenador de marketing do departamento de esportes olímpicos
grande experiência. Não tinha ideia de que como a administração do clube era
Alexandre Franklin
coordenador de tecnologia do departamento de esportes olímpicos
Jefferson
ala do Flamengo
Além da nossa capacidade dentro da quadra, o ponto forte
do basquete do Flamengo foi a união entre jogadores, comissão técnica e diretoria. Passa-
mos muitas dificuldades, quatro meses de salários atrasados, mas todos estavam compro-
metidos com o clube. Aos poucos, a organização fora da quadra foi melhorando, ganhamos
atrasados foram sendo quitados. Enfim, nós, jogadores, percebíamos que o basquete rubro-
negro estava ganhando uma cara mais profissional. Para completar, tivemos aquela festa
maravilhosa nos três jogos finais na Arena HSBC, com cerca de 15 mil pessoas na partida
217
Pedro Paulo Drumond
presidente da Cia. do Terno
associando o nome da empresa à maior marca esportiva do país. Apesar do histórico de de-
reprises do SporTV tivemos um retorno de marca pelo menos cinco vezes maior que o nosso
jornais e internet. Foi, portanto, uma parceria “ganha/ganha” que gerou benefícios para
o Flamengo e para nossa empresa e que, dentro da sua proposta inicial de curto prazo,
Paulo Chupeta
técnico do Flamengo, bicampeão brasileiro de basquete
Henrique Areias veio falar com a comissão técnica e com os atletas. Explicou as dificulda-
des da diretoria, mas prometeu trabalhar muito para conseguir botar os salários em dia.
E ele honrou todos os compromissos que assumiu, mesmo com os problemas que o time
dele, pudemos nos concentrar exclusivamente na competição. Sabíamos que tinha alguém
do lado de fora pensando nos outros problemas. E o resultado, todo mundo já sabe. Fomos
bicampeões brasileiros com uma festa jamais vista nos jogos decisivos na Arena HSBC. Todo
aquele trabalho dentro de quadra, somado aos esforços da diretoria para quitar os salários
e nos dar condições de trabalho, não poderia resultar em outra coisa. No fim de tudo, além
218
Arthur Repsold
presidente da GL Events Brasil
de basquete seria a atração principal de uma série de eventos que atraíssem não só o torce-
dor comum, mas as famílias. Por isso, os três jogos das finais foram, além de um belíssimo
evento esportivo, um show de entretenimento para crianças e adultos, com música, boa
comida e diversão. Ao contrário do que muita gente pensa, baixar o preço do ingresso não
é a melhor saída para atrair o público. Se as pessoas não apareceram é porque não fomos
lo, com rendas e público maiores a cada jogo. Na última partida, os ingressos se esgotaram
com 48 horas de antecedência, inclusive os mais caros, de R$ 200. Por tudo isso, estamos
acertando com o Flamengo para que a Arena HSBC seja a casa do time de basquete rubro-
Carlo Mossi
presidente da Braziline
dor (cliente). Tudo isso, é claro, reforçado pela ótima performance da equipe naquele pe-
com que foi conduzido. Foram vendidas cerca de 28.000 camisas do Fla-Basquete. Acredito
que, no futuro, possamos atingir resultados bem superiores se o planejamento das ações for
Para a Braziline, a experiência de trabalhar com o João foi valiosa, pois confir-
mamos que quando há vontade, talento e foco nos objetivos sempre conseguimos encontrar
219
Sérgio Ricardo de Almeida
presidente da Loterj
de todos. Até então, nunca tínhamos pensado em patrocinar equipes esportivas porque
poderia causar algum tipo de rejeição nos torcedores de clubes rivais. Mas o João apareceu
quete Brasil. E, de fato, a aceitação foi completa e o nosso retorno de mídia, muito bom.
Foi o próprio João quem teve a ideia de expor a marca da Loterj no ferro que sustenta a
tabela. As fotografias publicadas nos jornais quase sempre mostravam o nosso logotipo. A
mesma coisa aconteceu com o prisma de publicidade que ficava ao lado da quadra. Essa
experiência com o Fla-Basquete foi tão bem sucedida que decidimos colocar o esporte de vez
João, o Vasco está ali representando o Rio nessa retorno à elite do futebol brasileiro.
220
Sites interessantes sobre Esporte e Marketing
Entidades Governamentais
Ministério do Esporte
Ministério do Esporte - http://portal.esporte.gov.br/
Estatuto do Torcedor - http://www.esporte.gov.br/arquivos/noticias/plc1-l.pdf/
Estádios
Atletas
Gilmar - http://www.gilmarsports.com.br/
Junior - http://www.sitedojunior.com.br/
Pelé - http://www.pele.com.br/
Sávio - http://www.saviobortolini.com
Zico - http://www.ziconarede.com.br/
221
Veículos de comunicação
SporTV - http://sportv.globo.com
ESPN - http://espnbrasil.uol.com.br
Placar - http://www.placar.com.br
Traffic - http://www.traffic.com.br
222
Faculdade da Serra Gaúcha – www.fsg.br, Caxias do Sul - http://www.fsg.br/
223
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