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05/05/2022 10:08 Associação Esportiva Araguaia | História(s) do Sport

O blog do Laboratório Sport


 

Com a foice e o martelo dentro de campo

20/01/2019

por Fabio Peres

“Bandiera rossa la trionferà / Evviva il comunismo e la libertà!”.

A tradicional música comunista entoada pela torcida da Associazone Sportiva Livorno Calcio
(https://youtu.be/MldbVM7QV9g?t=321) poderia muito bem ressoar em estádios brasileiros sem causar estranhamento; pelo
menos, na cidade de Santo André, em São Paulo.

Desde 2015, o município conta com um clube em homenagem às mulheres e homens que lutaram na Guerrilha do Araguaia
contra a ditadura militar, iniciada com o golpe de 1964: a Associação Esportiva Araguaia. Para conhecer um pouco mais sobre
a agremiação, entrevistamos, entre os dias 8 e 16/1/2019,  Renato Ramos, um dos fundadores e treinador do clube.

(https://historiadoesporte.files.wordpress.com/2019/01/araguaia-escudo-1.png)

Fabio Peres: Renato, conte um pouco sobre você, sua história, e como ela se envolve com a Associação Esportiva Araguaia (AEA).

Renato Ramos: Bom meu nome é Renato Ramos, tenho 33 anos, sou nascido e criado em Santo André, região do Grande ABC
Paulista. Assim como todo jovem brasileiro tive o sonho de ser um atleta de futebol profissional, joguei nas categorias de base
dos 12 aos 17, foi um período bastante importante para minha formação como cidadão, como ser social membro da sociedade,
enfim um período bastante positivo e de bastante aprendizado. Cursei administração de empresas, me formei em futebol pela
Faculdade Carlos Drummond de Andrade, e atualmente curso pós graduação em psicologia aplicada às organizações. Sou um
dos fundadores da Associação Esportiva Araguaia em 2015, atualmente ocupo a Vice-Presidência e sou treinador das
categorias de base da equipe.

Fabio Peres: E como surgiu a ideia de fundar a AEA?

Renato Ramos: A ideia de fundação do Araguaia surgiu em 2007 num debate do grupo de esportes do PCdoB (Partido
Comunista do Brasil) em Santo André na época. Por diversos motivos a ideia ficou engavetada até colocarmos em prática no
ano de 2015.

Fabio Peres: Então, diferente de outras associações esportivas, a AEA possui uma vinculação, uma identidade, histórica e política, bastante
clara e delineada. Como essa vinculação se reflete no cotidiano do clube?

Renato Ramos: Olha mesmo no momento que atravessamos com o crescimento do fascismo, da direita brasileira, temos
crescido a todo momento, e quando eu digo em crescimento é dentro do trabalho esportivo principalmente através do futebol.
Como observo o crescimento, por exemplo da torcida, atraindo cada vez mais militantes da esquerda, comunistas, pessoas
ligadas aos movimentos sociais, partidos, enfim todos que constroem o nosso campo. O time é uma homenagem a Guerrilha
do Araguaia, aos homens e mulheres que lutaram ela retomada da democracia no Brasil, sempre fazemos questão de deixar
isso claro. Nosso mascote, inclusive, é o Osvaldão, em homenagem a um dos líderes da Guerrilha do Araguaia, esportista e
comunista.

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(https://historiadoesporte.files.wordpress.com/2019/01/osvaldao.png)
Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, é o mascote da AEA. Foi a forma encontrada pela agremiação de homenagear e manter
viva a memória do guerrilheiro, membro do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e campeão de boxe pelo Vasco, assassinado
em 1974 na Guerrilha do Araguaia. Um pouco da história de Osvaldão pode ser vista em filme resgatado em Praga
(https://youtu.be/i38v3tR1XLE), disponibilizado pela Fundação Maurício Grabois.

Fabio Peres: Mas, AEA possui torcida?

Renato Ramos: Sim, nossa equipe tem um grande apoio principalmente dos setores mais à esquerda da nossa sociedade pela
identificação óbvia com a história da fundação do clube e nossas posições enquanto diretoria.

Fabio Peres: E, qual é, na sua opinião, a motivação principal que os torcedores possuem para se torcer pela AEA? Conte  um pouco como é
a relação com eles.

Renato Ramos: A principal motivação é a representatividade que temos em campo, no nosso dia a dia com a esquerda, com os
movimentos sociais e pautas progressistas e populares da nossa sociedade. A relação com a torcida é próxima, tanto com os
que a distância nos apoiam como os que apoiam no dia a dia dos jogos no campo, inclusive no final do ano [de 2018] foi
fundada a Tuga – Torcida Uniformizada Guerrilha do Araguaia.

(https://historiadoesporte.files.wordpress.com/2019/01/img_7347.jpg)
Tuga, Torcida Uniformizada Guerrilha do Araguaia, em um dos jogos da Associação Esportiva Araguaia

Fabio Peres: E como as pessoas e a torcida acompanham o clube? Como é a divulgação da AEA? 

Renato Ramos: Nossa principal estratégia é através das novas redes: nosso canal no youtube
(https://www.youtube.com/channel/UCyBPWgP-P1CAAfpH8nMUl1Q) (a TV Araguaia
(https://www.youtube.com/channel/UCyBPWgP-P1CAAfpH8nMUl1Q)), grupos de atletas, pais de whatsapp, instagram

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(https://www.instagram.com/aearaguaia/?hl=pt-br), flickr (https://www.flickr.com/photos/aearaguaia)  e, principalmente, o
Facebook (https://pt-br.facebook.com/aearaguaia/).

Fabio Peres: Mas, voltando a questão da representatividade e da motivação dos torcedores, o que é feito para manter viva essa identidade do
clube?

(https://historiadoesporte.files.wordpress.com/2019/01/manuela_d´avila.png)
A candidata à vice-presidência Manuela D’Ávila (PCdoB) com a camisa da Associação Esportiva Araguaia (19/09/2018)

Renato Ramos: Sempre valorizar as nossas origens, nossa identidade visual e nossa história. Afinal conhecer o passado é
premissa básica para não se repetir os erros históricos no futuro (por mais que isso esteja ocorrendo). Mas, fazemos nosso
papel de vanguarda, de ser uma entidade que combate a xenofobia, a homofobia, o racismo, o machismo.

Fabio Peres: Mas, o fato da AEA carregar essas bandeiras tem alguma implicação na forma de trabalhar? Em outras  palavras, o fato de
possuir essas bandeiras o diferencia em relação a outros clubes no que tange, por exemplo, ao treinamento, performance, à maneira de lidar
com os atletas etc.?

Renato Ramos: Na verdade, não. Nossa forma de trabalho é exclusivamente voltada ao futebol, pensando em fazer o melhor
trabalho com as condições que temos, sempre buscando bons resultados e uma boa formação dos garotos como atletas e bons
cidadãos.

Fabio Peres: Quais são as principais expectativas e metas que a AEA possui?

Renato Ramos: Bom, não escondemos de ninguém que nossos sonhos e metas são crescer dentro do cenário do futebol. Como
alcançar esses objetivos e metas ainda depende de algumas circunstâncias que estamos trabalhando para estruturar. E no
momento certo estaremos colocando num debate mais amplo ao conjunto das forças da esquerda e dos esportivas que estão
cada vez mais apoiando nosso projeto.

Fabio Peres: Quais campeonatos e em quais categorias que a AEA já participou? Quais foram as principais conquistas?

Renato Ramos: O Araguaia participa desde sua fundação das competições municipais de Santo André organizadas pela liga
local. Já disputamos a taça cidade de São Paulo, competição organizada pela prefeitura de São Paulo, Copa Zico, Copa Kagiva e
outras. Em 2019 esperamos participar das competições da associação paulista de futebol. Nossas principais conquistas no
principal foram a Copa amizade 2016 e da base a Copa Andrezinho 2018 na categoria sub-16.

(https://historiadoesporte.files.wordpress.com/2019/01/foto-
time-montado.jpg)
Equipe sub-16 na conquista da Copa Andrezinho 2018

Fabio Peres: E os desafios? Quais os principais desafios que um clube como AEA possui? Esses desafios (ou quais deles) são decorrentes da
vinculação histórica e política da AEA?

Renato Ramos: Sinceramente não enfrentamos até hoje nenhuma resistência. Pois, trabalhamos sério, atendemos a população,
no nosso caso a juventude que busca uma oportunidade dentro do futebol. Já realizamos amistoso por exemplo com o Santos
no CT Rei Pelé. Levar a foice e o martelo do futebol num dos maiores templos do futebol brasileiro é prova de trabalho sério,
de futebol de verdade e de jovens sonhadores e determinados.

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Fabio Peres: E como a AEA se mantém? Quais são as principais formas de financiamento?

Renato Ramos: Nos mantemos da fundação até o momento com venda de materiais: camisas, adesivos, e doações
(https://www.vakinha.com.br/vaquinha/projeto-araguaia-2018-categorias-de-base). Para 2019 conseguimos aprovar pela
primeira vez um projeto pela lei de incentivo do governo federal, e estamos na luta para concretizar a captação para ter um
2019 mais tranquilo e com melhor estrutura.

Fabio Peres: Há mais alguma coisa


que você  gostaria de adicionar?

Renato Ramos: Gostaria de


agradecer pela oportunidade de
falar um pouco do nosso projeto,
e pedir para que todos sigam
(https://historiadoesporte.files.wordpress.com/2019/01/renato_ramos.png) nossas redes, participe do nosso
Renato Ramos dia a dia e vamos juntos buscar
gerar oportunidades aos nossos
jovens através do esporte, no
nosso caso, o futebol.

Fabio Peres: Nós que agradecemos: não só pela entrevista, mas também por manter o esporte tão vivo, plural e interessante. Obrigado!    

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