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Introdução
No século XIX, a literatura passou a incluir muito mais do que textos poéticos e
passou a abranger todas as expressões escritas, incluindo até mesmo as científicas
e filosóficas. A abrangência desafiou literatos e teóricos a estabelecerem critérios
para a manifestação artístico- literária em seus aspectos intrínsecos. Aristóteles foi
um dos primeiros pensadores a estudar o tema e formulou o conceito de mimese, ou
seja, a obra literária seria uma imitação da realidade. (LUCA; PINSKY, 2015)
Ademais, a utilização da literatura como fonte de pesquisa é recente isso porque os
historiadores passaram a observar a riqueza de significados proporcionado por
esses textos para compreender o universo cultural, dos valores sociais e das
experiências subjetivas de homens e mulheres no tempo. Visto que toda ficção está
sempre enraizada na sociedade pois é através dela que o escritor cria seus mundo
de sonhos, utopias ou desejos. (LUCA; PINSKY, 2015)
No conto “Vão cortar as cabeças”, trata da transferência da jovem Clara de Belo
Horizonte para a região Norte do país enquanto ocorria a Guerrilha do Araguaia
como medida punitiva a comportamentos considerados inapropriados pela madre
superiora da Congregação. Ao longo da narrativa é possível observar que a história
mistura ficção com realidade da qual é possível extrair e discutir sobre qual grupo
pertenciam os guerrilheiros, a violência e a situação social do campo.
A Guerrilha do Araguaia e a literatura como fonte
A comissão Nacional da Verdade e o projeto Brasil Nunca Mais chegaram aos
mesmos resultados no que tange a composição a partir do sexo sobre o
envolvimento contestatório e a faixa etária desses. A CNV aponta 384 homens
(88,48%) e 50 mulheres (11,52%) e para o BNM, 88% dos 7.367 investigados eram
do sexo masculino e 12% do sexo feminino. No que tange a faixa etária, o BNM
indica que 38,9% das pessoas submetidas a Inquéritos Policiais Militares tinham
idade igual ou inferior a 25 anos (sendo 91 com menos de 18 anos). E o projeto da
CNV indica que a média de idade era 33,4 anos, sendo o mais velho com 75 anos e
o mais novo possuía meses de vida. (CASALI, 2019)
O texto também trabalha com o arranjo da faixa etária dos grupos guerrilheiros ao
declarar que o governo estava sendo duro com os jovens, ainda mais o estudantes a
partir de um panorama nacional e internacional. Entretanto, o texto fornece
informações sobre a ocupação social da região conhecida como Bico do papagaio.
Essa região teve por parte do Estado grande incentivo de migrações sob o postulado
de que esse espaço era vazio.
No Pará o modelo previsto para o desenvolvimento seria o projeto sob a pata do boi,
ou seja, largos incentivos estatais que gera a introdução do modelo capitalista
subalterno e predatório na região incentivado pela Superintendência do
Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) que aprovou diversos projetos
agropecuários em sua maioria nas cidades de Conceição do Araguaia e Santana do
Araguaia.
“Nos quinze anos que se seguiram, mais de um bilhão de dólares em
investimentos foram aprovados para a agropecuária na Amazônia, setor que
recebeu a maior parcela dos incentivos sob o novo programa. Os produtores
de madeira industrial, juntamente com os fazendeiros, captaram a maior
parte dos subsídios da Sudam. Os madeireiros também se beneficiaram de
medidas específicas feitas para promover a exportação. As duas atividades
expandiram-se rapidamente no sul do Pará durante os anos 70.”
(SCHMINK; WOOD, 2012, p. 103)