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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA - UESB

FERNANDA SOARES
JUCINÉIA SILVA
LUANA FRANÇA
MÁRIA LIZ
MONIQUE SILVEIRA
TAIANA GOMES.

ANÁLISE DA ABORDAGEM DA REVOLUÇÃO CABANA NO


LIVRO DIDÁTICO HISTÓRIA SOCIEDADE & CIDADANIA DE
ALFREDO BOULOS JÚNIOR

Vitória da Conquista - BA, 2015


FERNANDA SOARES
JUCINÉIA SILVA
LUANA FRANÇA
MÁRIA LIZ
MONIQUE SILVEIRA
TAIANA GOMES.

ANÁLISE DA ABORDAGEM DA REVOLUÇÃO CABANA NO


LIVRO DIDÁTICO HISTÓRIA SOCIEDADE & CIDADANIA DE
ALFREDO BOULOS JÚNIOR

Trabalho apresentado à disciplina História


do Brasil II, ministrada pela prof.ª Dr.ª
Cleide de Lima Chaves, na Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia como
requisito de avaliação.

VITÓRIA DA CONQUISTA - BA,


2015
O presente texto tem por finalidade analisar criticamente a abordagem acerca da
Cabanagem no livro didático História: Sociedade & Cidadania, escrito por Alfredo
Boulos Júnior (2012), trabalhado no oitavo ano do ensino fundamental, fazendo um
paralelo com os trabalhos da especialista Magda Ricci. O autor do livro didático é doutor
em Educação (área de concentração: História da Educação) pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo e Mestre em Ciências (área de concentração: História Social) pela
Universidade de São Paulo.
Levando em consideração que o livro didático é parte de um arcabouço para
mediação da aprendizagem do aluno para construção do conhecimento, é notória
atualmente uma grande preocupação dos estudiosos ao escolher através do PNLD livros
que contenham uma historiografia mais avançada. Contudo, ainda é possível perceber que
alguns deles não possuem conceitos e subsídios eficazes para construção desse
conhecimento.
A temática da Cabanagem está disposta no livro didático História Sociedade &
Cidadania – 8º ano, editora FTD S.A., 2ª edição, do autor Alfredo Boulos Júnior, num
capítulo intitulado “Regência: a unidade ameaçada”. Esse capítulo está dividido em duas
seções, História Política e As Rebeliões Regenciais. A Cabanagem é apresentada nessa
última seção, seguida pela Revolução Farroupilha, Revolta dos Malês, Sabinada e
Balaiada. Por fim é apresentado um conjunto de questões sobre o conteúdo abordado no
capítulo.
Alfredo Boulos aborda a temática de forma bastante sucinta. A Revolução Cabana
foi explanada em duas laudas, contendo além do texto, um gráfico e duas imagens,
recursos que fazem parte do ensino aprendizagem. Mas o conteúdo em si, é trabalhado de
forma bastante reduzida, sendo que a imagem de uma palafita ocupa grande parte da
página, no entanto, o espaço poderia ter sido melhor aproveitado se a imagem fosse
menor, possibilitando, assim, a apresentação de outros aspectos importantes do
movimento que não foram contemplados. Portanto, a escassez de informações não se
justifica.
Com essa imagem, o autor deixa explicito o motivo pelo qual os trabalhadores da
região eram nomeados de cabanos, pois moravam em cabanas erguidas sobre estacas às
margens dos rios. E pede para que os educandos relacionem a fotografia dessa habitação
de um bairro atual de Manaus com a Cabanagem.
Boulos inicia a abordagem informando que a Cabanagem teve início em 1835 na
província do Grão-Pará e apresenta quais estados compunham essa região naquela época.
“a província do Grão-Pará abrangia os atuais estados do Pará, Amapá, Rondônia, Roraima
e Amazonas” (BOULOS, 2012, p.206). Com isso o autor demonstra a amplitude do
movimento. Afim de que esse aspecto ficasse em maior evidência, o autor lançou mão da
utilização de um mapa, demarcando a região onde o movimento ocorreu. Esse mapa foi
apresentado na introdução da seção, onde as regiões que foram palco de movimentos,
como Balaiada, Revolta dos Malês, Sabinada e Revolução Farroupilha, também foram
destacadas.
Magda Ricci informa que apesar da amplitude da Revolução Cabana, esta foi, e
ainda é, analisada como um movimento regional típico do período regencial. Boulos,
diferente de Magda, não evidencia toda difusão do movimento, como as fronteiras que
atingiu, mas também não o reduz à uma pequena área, no entanto, o inclui no chamado
conjunto das Revoltas Regenciais. De início pode-se constatar que o autor apresenta os
movimentos que ocorreram durante o período regencial como “rebeliões”, demonstrando
uma historiografia tradicional, com uma história vista de cima.
Segundo Boulos, durante o período regencial ocorreram várias “rebeliões nas
províncias”, tanto no Norte, quanto no Sul. E no que refere a Cabanagem no Grão-Pará o
autor exibe graficamente a estimativa populacional da região em 1835, dividida de acordo
com a etnia dos moradores, sendo que de um total de aproximadamente 120 mil
habitantes, 12,5% eram brancos, 27,5% índios, 25% negros, 35% mestiços.
Magda Ricci (2006), no artigo Cabanagem, Cidadania e identidade
revolucionaria: o problema do patriotismo na Amazônia entre 1835 e 1840 relata que
autores modernos discordam da interpretação de Ricardo Guimarães, que aborda o
movimento como luta de classe. E nas abordagens de Boulos pode-se verificar que o
mesmo também argumenta o movimento pelo mesmo viés dos autores modernos. Pois,
segundo ele, tanto a população pobre quanto os fazendeiros estavam insatisfeitos com a
administração da província.
Podemos perceber que o autor não destaca todos os atores que Magda Ricci
pontuou como envolvidos no processo, sendo que ele só ressalta o papel da população
pobre e dos fazendeiros, mas não diz de forma clara quem eram esses pobres. A única
alusão que faz a essa população é verificada no gráfico populacional que o autor apresenta
no início da abordagem, sendo assim, o professor deve informar de forma mais clara aos
educandos, o papel dos negros, mestiços, indígenas, soldados desertores, bem como, o
papel das mulheres.
Há no livro uma ilustração do desenhista Getulio Delphin por meio da qual se
pode identificar alguns dos grupos envolvidos no movimento, como indígenas, membros
da elite e fazendeiros, mas a imagem, assim como o texto, não evidencia, por exemplo, o
papel dos negros de origem africana e/ou crioula, nem dos mestiços, ou seja, a gravura
não ilustra a participação dos variados indivíduos de diversas origens, culturas e etnias
que Magda Ricci informa que se envolveram no processo.

Quanto aos objetivos dos movimento, Boulos ressalta que “os cabanos queriam
terras para plantar e o fim da escravidão; já os fazendeiros queriam escolher o presidente
da província, que na época era imposto pelo governo central” (BOULOS, 2012, p.207).
Com isso ricos e pobres uniram-se na Revolução Cabana, cada grupo com seu propósito.
Magda afirma que os ideais da Cabanagem eram diversos, nisso a abordagem de Boulos
não destoa, mas a autora apresenta uma gama mais variada de objetivos, diferente do
autor que os apresenta de forma bem resumida.
Segundo Magda Ricci a bandeira de luta dos revolucionários era muito variada, o
que havia de comum nos anseios dos distintos grupos envolvidos no movimento se
resumia na morte aos portugueses e aos maçons. Já os mais radicais, que eram os pobres
e escravos, almejavam o fim da escravidão e o direito de ir e vir. No entanto, a abolição
não era uma bandeira levantada por todos revolucionários. Os membros da elite lutavam
pela ampliação de seus direitos e por maior liberdade política, as classes populares
também disputavam por espaço, direitos e poderes.
Quanto às lideranças da Cabanagem, o autor não faz uma abordagem aprofundada,
apenas cita os nomes de dois dos principais líderes do movimento, Félix Clemente
Malcher e Eduardo Angelim. Portanto, o educador deve apresentar aos educandos o papel
desses personagens dentro do contexto estudado, bem como daqueles que não foram
referenciados na abordagem de Boulos. Pois a sua compreensão é de grande importância
para o entendimento do processo.
Quanto aos mecanismos de repressão lançados contra a Cabanagem, Boulos
escreve que
O governo central não aceitou a República paraense e, em 1836, enviou ao Grão-Pará
uma poderosa força militar apoiada por navios e mercenários estrangeiros. Os cabanos
resistiram até 1840, mas não conseguiram impedir a tomada de Belém pelas forças
imperiais, que eram mais numerosas e mais bem armadas. A repressão à Cabanagem
foi brutal, as forças do governo mataram cerca de 40% da população do Grão-Pará.
(BOULOS, 2012, p.207)
Magda Ricci, explana que entre todos os que foram mortos pela Cabanagem,
estavam mestiços, índios, africanos, pobres, escravos, além de boa parte da elite. Ela
apresenta a estimativa de 30 mil mortes oficiais, além de uma grande quantidade de povos
indígenas que foram dizimados. Afirma, ainda, que “Toda chacina populacional da
Cabanagem, entre 1835 e 1840, deixou um trauma local e um vazio de explicações”
(RICCI, 2006, p.7).
A questão que Boulos apresenta para que seja resolvida pelos estudantes no final
do capítulo é composta por 4 tópicos. Primeiramente é apresentado um trecho de um
discurso de Eduardo Angelim, em seguida o autor pede para que os educandos respondam
às seguintes questões com base no trecho do manifesto aos cabanos: a) O que o líder
cabano quis dizer com “os paraenses querem ser súditos, mas não querem ser escravos”?
b) Identifique e copie o trecho em que o autor defende a causa paraense. c) O que o líder
cabano reivindica? d) Segundo Eduardo Angelim, como os paraenses reagiriam se o
governo central usasse a força para reprimi-los? O trecho apresentando por Boulos como
subsídio para a resolução dessas questões é o seguinte.
[...] Saibam, pois, o governo geral e o Brasil inteiro que [...] os paraenses querem ser
súditos, mas não querem ser escravos, [...] os paraenses querem ser governados por
um patrício paraense que olhe com amor para as suas calamidades e não por um
português aventureiro como o Marechal Manoel Jorge; os paraenses querem ser
governados com a lei e não com arbitrariedades, estão todos com os braços abertos
para receber o governo nomeado pela regência mas que seja de sua confiança, aliás
eles preferem morrer no campo de batalha a entregar de novo seus pulsos às algemas
e grilhões do despotismo; se o governo da corte teimar em subjugar-nos pela força,
nós teimaremos em dar-lhe provas de valor de um povo livre que esquece a morte
quando defende a sua liberdade. (BOULOS, 2012, p. 214)
Um ponto positivo do autor nessa atividade foi a utilização desse documento,
possibilitando o contato dos educandos com uma fonte, o que contribui para uma maior
análise e compreensão da história. Mas, sugerimos que o educador acrescente algumas
questões à atividade, com base nas explicações feitas durante a aula, evidenciando pontos
como: composição social, mecanismos de repressão, local e período em que ocorreu,
principais características e objetivos, entre outros que julgar necessários.
A abordagem da temática da Cabanagem feita por Boulos no livro didático aqui
analisado se dá de forma bastante sintetizada e simplificada, como pudemos perceber ao
longo desse texto. Mas é importante salientar que esse é um problema inerente a todo e
qualquer livro didático, onde não existe a possibilidade de se aprofundar em todos os
assuntos trabalhados, uma dessas limitações se dá, por exemplo, devido à restrição quanto
a quantidade de páginas, fator que força a sintetização dos conteúdos. Mas ainda assim,
o autor poderia ter aproveitado melhor o espaço do qual dispôs para a apresentação da
temática, com uma reorganização da dimensão das imagens e disposição do texto, por
exemplo.

Diante do exposto fica evidente a extrema necessidade da intervenção dos


educadores nos saberes transmitidos pelo livro didático, tendo em vista que este não
constitui um fim em si próprio, deve ser constantemente objeto de análise e discussão,
necessitando sempre de complementos, e em momento algum deve ser considerado um
substituto do professor, sendo que sofre diversos tipos de limitações, sejam elas de
natureza econômica, ideológica ou mesmo técnica. Eles passam ainda por processos de
adequação ao público de acordo com sua idade/série, e isso provoca muitas vezes uma
simplificação exagerada dos conteúdos, e em alguns casos, até mesmo distorções, não
favorecendo o desenvolvimento de reflexões e um raciocínio crítico por parte dos
educandos. Contudo, não podemos desconsiderar a importância do livro didático, no
entanto deve-se levar em conta também as suas limitações, sendo que não deve ser
seguido de forma ortodoxa.
REFERÊNCIAS

BOULOS, Alfredo. História Sociedade & Cidadania, 8º ano / Alfredo Boulos Júnior. –
2. Ed. – São Paulo: FTD, 2012.

RICCI, Magda. Cabanagem, cidadania e identidade revolucionária: o problema do


patriotismo na Amazônia entre 1835 e 1840. Tempo, v. 11. Revista do Departamento de
História da UFF. Rio de Janeiro, 2006.

_________. Cabanos, patriotismo e identidades: outras histórias de uma revolução. In:


GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (Orgs.). O Brasil imperial. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2009. v. II: 1831-1870.

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