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TEORIA GERAL DO

PROCESSO
Lianne Soares
AULA 01

AULA 01
SISTEMA
PRINCIPIOLÓGICO
NO NOVO CPC.
COMENTÁRIOS AOS
ARTIGOS 1º AO 12
AULA 01

AULA 01
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS E DA
APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS

Art. 1o O processo civil será


ordenado, disciplinado e
interpretado conforme os valores e
as normas fundamentais
estabelecidos na Constituição da
República Federativa do Brasil,
observando-se as disposições deste
Código.”
 […] os princípios constitucionais são, precisamente, a
síntese dos valores mais relevantes da ordem jurídica. A
Constituição […] não é um simples agrupamento de
regras que se justapõem ou que se superpõem. A idéia de
sistema funda-se na de harmonia, de partes que convivem
sem atritos. Em toda ordem jurídica existem valores
superiores e diretrizes fundamentais que ‘costuram’ suas
diferentes partes. Os princípios constitucionais
consubstanciam as premissas básicas de uma dada ordem
jurídica, irradiando-se por todo o sistema. Eles indicam o
ponto de partida e os caminhos a serem percorridos.
ATENÇÃO!
 Porfazer parte do ordenamento jurídico pátrio,
o Novo Código de Processo Civil exige
expressamente leitura e interpretação a luz da
Constituição, mas não só, pois há a necessidade
de considerar a sistemática principiológica
adotada, cuja analise “não deve ser de modo
isolado, toda compreensão deve se dar
mediante o entendimento pleno de seu
sistema, sob pena de se impor leituras
apressadas e desprovidas de embasamento
consistente.”
1. PRINCÍPIO DISPOSITIVO
 O artigo 2° do NCPC (novo código de processo civil)
norteia o princípio do Dispositivo (da inércia ou da
demanda):
O processo começa por iniciativa da parte e se
desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções
previstas em lei.
 Esse artigo consubstancia que a jurisdição apenas atua
quando provocada, excetuando as situações legalmente
previstas, ou seja, a inércia da jurisdição não importa
passividade e apatia do juiz na condução do processo. Já o
impulso oficial traz a idéia de que o processo deve
caminhar sempre ao seu fim.
PRINCÍPIOS DA INAFASTABILIDADE DO
CONTROLE JURISDICIONAL E O PRINCÍPIO DO
DIREITO DE AÇÃO

Oart. 3° do NCPC aumenta a amplitude


do art. 5°, inc. XXXV da Constituição da
República Federativa do Brasil,
ressalvando apenas a questão da
arbitragem (via alternativa de
pacificação extrajudicial, mediante a
escolha de um terceiro imparcial que
decidirá no lugar das partes, segundo
normas e procedimentos por ela eleitos).
ATENÇÃO!!!
Art. 3° – Não se excluirá da apreciação
jurisdicional ameaça ou lesão a direito.
§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a
solução consensual dos conflitos.
§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de
solução consensual de conflitos deverão ser
estimulados por magistrados, advogados,
defensores públicos e membros do Ministério
Público, inclusive no curso do processo judicial.
ATENÇÃO!
 Fredie Didier aduz:
“Trata, o dispositivo, da consagração, em
sede constitucional, do direito
fundamental de ação, de acesso ao Poder
Judiciário, conquista histórica que surgiu
a partir do momento em que, estando
proibida a autotutela privada, assumiu o
Estado o monopólio da jurisdição. Ao criar
um direito, estabelece-se o dever - que é do
Estado: prestar a jurisdição. Ação e
jurisdição são institutos que nasceram um
para o outro”.
O PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA
Oart. 16 da Declaração dos Direitos do Homem,
de 1789, estabelece que toda sociedade, onde a
garantia dos direitos não é assegurada, não goza
de uma Constituição. O certo é que a garantia
do acesso à justiça não se restringe apenas a
propositura de ações judiciais, mas
resguarda principalmente o direito de
defesa, pois nele devem estar as
possibilidades reais de as partes no processo
serem ouvidos e influírem na atividade
jurisdicional.
ATENÇÃO!
Art. 4º As partes têm direito de obter em
prazo razoável a solução integral do
mérito, incluída a atividade satisfativa.
 Isso leva a crer que o direito à jurisdição em
prazo razoável é uma exigência para a tutela
jurisdicional efetiva. Além disso, a tutela deve
ser prestada por meio de uma jurisdição
adequada.
 A tutela não deve ser apenas adequada, mas
também efetiva, assim dispõe o art. 5º, LXXVIII,
da Constituição Federal (efetividade processual).
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ
 Preceitua o art.5° do projeto do novo CPC:

Aquele que de qualquer forma participa do


processo deve comportar-se de acordo com a
boa-fé.
 O princípio da boa-fé se demonstra como um novo
paradigma no Direito, responsável por estabelecer
novos limites para o exercício dos direitos,
fulcrando-se no resguardo da moral, da
veracidade e da confiança nas relações jurídicas.
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE
DE PESSOA HUMANA E OS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA

Oartigo 8° do NCPC aponta para a necessidade


de decisões fundamentadas e ainda faz alusão ao
art. 37 da CF/88. Veja-se:
Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz
atenderá aos fins sociais e às exigências do
bem comum, resguardando e promovendo a
dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a
legalidade, a publicidade e a eficiência.
ATENÇÃO!
Ao exigir que decisões sejam devidamente
fundamentadas o sistema deseja que o
magistrado interprete a norma de acordo
com os valores e preceitos constitucionais,
em particular ao princípio da dignidade de
pessoa humana, rejeitando a atividade
meramente criativa, na qual o julgador
levaria em conta seus valores e escolhas
pessoais.
PRINCÍPIO DA ISONOMIA (= PRINCÍPIO
DA PARIDADE ENTRE AS PARTES)
 É assegurada às partes paridade de tratamento em
relação ao exercício de direitos e faculdades
processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos
deveres e à aplicação de sanções processuais,
competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
( Artigo 7º)
 No NCPC as situações processuais de aplicação do
princípio da isonomia foram mais detalhadamente
especificadas. Incorporando o viés constitucional, partiu-se
da premissa de que um processo justo está em plena
consonância com o direito à igualdade e ao contraditório
participativo. É a prerrogativa de que a todos devem
ser dadas oportunidades de agir de se defender em
absoluta igualdade de condições.
ART 6º PRINCÍPIO DA
COOPERAÇÃO
 O princípio processual civil da Cooperação processual já
era muito prestigiado no direito estrangeiro (Alemanha,
França e Portugal), mas no Brasil ainda tinha reflexos
tímidos. Nas palavras de Fredie Didier Junior, em
dissertação à Revista de Processo: “…o chamado
princípio da cooperação, que orienta o
magistrado a tomar uma posição de agente-
colaborador do processo, de participante ativo do
contraditório e não mais a de um mero fiscal de
regras”.

 Esse princípio decorre da Boa-fé e da Lealdade.


ATENÇÃO! REDAÇÃO DO ART. 6° DO NCPC:
Todos os sujeitos do processo devem cooperar
entre si para que se obtenha, em tempo
razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

 Com isso as partes e os agentes do poder


judiciário devem se comprometer com os valores
do processo constitucionalizado (eficiente e
satisfativo), sem criar entraves desnecessários.
PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DO
DEVIDO PROCESSO

 O artigo 9° do NCPC reforça a idéia de contraditório


participativo:

Não se proferirá decisão contra uma das


partes sem que esta seja previamente
ouvida. Parágrafo único. O disposto no
caput não se aplica à tutela antecipada
de urgência e às hipóteses de tutela
antecipada da evidência previstas no art.
306, incisos II e III.
CONTRADITÓRIO TENDO COMO
DESTINATÁRIO O ÓRGÃO JURISDICIONAL
(ART. 10)
 Art. 10 – Em qualquer grau de jurisdição, o órgão
jurisdicional não pode decidir com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha
oportunizado manifestação das partes, ainda que
se trate de matéria apreciável de ofício.
 É inovação no projeto do novo Código. A principal
diferença para o formato anterior é que a exigência do
contraditório tem como destinatário o órgão
jurisdicional. Desta forma, entre o contraditório e a
livre fundamentação das decisões do juiz, deverá
preponderar o contraditório, resguardando
valores do Estado Democrático de Direito.
PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DAS
DECISÕES SURPRESA
 Sua exegese é a segurança e assertividade da jurisdição,
com o intuito de preservar a ampla defesa das partes e
evitar que ocorra error in procedendo e error in
judicando, passando a ser obrigação do juiz a oitiva das
partes sobre aspecto processual que não foi objeto de seus
debates e que ensejará conseqüência relevante.
 Um exemplo da aplicabilidade do princípio é a intenção do
juiz de extinguir a ação por reconhecimento de ofício da
prescrição do direito de ação: nenhuma das partes teceu
qualquer argumento acerca da prescrição. O juiz assim,
antes de sentenciar de ofício, deverá abrir vista às
partes despachando “digam as partes sobre a
prescrição da ação”.
ATENÇÃO!!!
É possível argumentar que o novo princípio
irá afetar o princípio da duração razoável
do processo e sua efetividade. Contudo,
considerando o caráter terminativo ou de
encerramento de discussões de questões
entre as partes, parece ser compatível com
a intenção do NCPC de aprimorar a
prestação jurisdicional, que fica evidente
em todo o novo codex.
ATENÇÃO!
 “Entende-se por “fundamento” referido no art. 10
do CPC/2015 o substrato fático que orienta o
pedido, e não o enquadramento jurídico
atribuído pelas partes.“
 “É desnecessário ouvir as partes quando a
manifestação não puder influenciar na solução
da causa.“
 “Na declaração de incompetência absoluta não
se aplica o disposto no art. 10, parte final, do
CPC/2015.”
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE DOS ATOS
PROCESSUAIS E PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO
DAS DECISÕES JUDICIAIS.

 Trata da publicidade e da fundamentação das


decisões judiciais. A publicidade é uma das
garantias mais importantes no Estado
Democrático de Direito, e é o único instrumento
de controle da atuação judicial. Assim, o sigilo e
a restrição às informações judiciais devem ser
medidas excepcionais.
 Já o princípio da motivação das decisões
judiciais é prerrogativa para o contraditório
participativo e para a segurança jurídica de
todo o sistema processual.
ATENÇÃO!!!
Art. 11 – Todos os julgamentos dos
órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade.
Parágrafo único. Nos casos de segredo
de justiça, pode ser autorizada
somente a presença das partes, de seus
advogados, de defensores públicos ou
do Ministério Público.
JULGAMENTO DOS PROCESSOS EM
ORDEM CRONOLÓGICA

A redação do artigo 12 do NCPC é inovadora,


estabelecendo que todos os órgãos jurisdicionais
deverão obedecer a ordem cronológica de
conclusão para proferir sentença ou acórdão.
Essa inovação é louvável, pois o
julgamento em ordem cronológica é um
imperativo de igualdade. Além disso, essa
regra impedirá que julgamento siga ordem
distinta considerando as partes
envolvidas.
ART. 12 – OS ÓRGÃOS JURISDICIONAIS DEVERÃO
OBEDECER À ORDEM CRONOLÓGICA DE CONCLUSÃO
PARA PROFERIR SENTENÇA OU ACÓRDÃO.

§ 1º A lista de processos aptos a julgamento


deverá estar permanentemente à disposição
para consulta pública em cartório e na rede
mundial de computadores.
§ 2º Estão excluídos da regra do caput:
I – as sentenças proferidas em audiência,
homologatórias de acordo ou de improcedência
liminar do pedido;
II – o julgamento de processos em bloco para
aplicação da tese jurídica firmada em
julgamento de casos repetitivos;
ART. 12 – OS ÓRGÃOS JURISDICIONAIS DEVERÃO
OBEDECER À ORDEM CRONOLÓGICA DE CONCLUSÃO
PARA PROFERIR SENTENÇA OU ACÓRDÃO.

III – o julgamento de recursos repetitivos


ou de incidente de resolução de demandas
repetitivas;
IV – as decisões proferidas com base no art.
945;
V – o julgamento de embargos de
declaração;
VI – o julgamento de agravo interno;
VII – as preferências legais.
ART. 12 – OS ÓRGÃOS JURISDICIONAIS DEVERÃO
OBEDECER À ORDEM CRONOLÓGICA DE CONCLUSÃO
PARA PROFERIR SENTENÇA OU ACÓRDÃO.

§ 3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a


ordem cronológica das conclusões entre as preferências
legais.
§ 4º Após a inclusão do processo na lista de que trata o §
1º, o requerimento formulado pela parte não altera a
ordem cronológica para a decisão, exceto quando
implicar a reabertura da instrução ou a conversão do
julgamento em diligência.
§ 5º Decidido o requerimento previsto no § 4º, o processo
retornará à mesma posição em que anteriormente se
encontrava na lista.
ATENÇÃO!

Essa regra vale para os juízes e os


tribunais (sentença ou acórdão).
Deverá ainda, ser elaborada uma
lista de processos aptos a
julgamento, e que esteja
permanentemente à disposição para
consulta pública em cartório e na
internet.
CONCLUSÃO

O Novo Código de Processo Civil Assentou ideológica e


expressamente o vetor do devido processo civil -
constitucional, muito difundido pela doutrina.
Com efeito, assinalou expressamente princípios presentes
na constituição, tais como:
 inafastabilidade jurisdicional (art. 3°);duração
razoável do processo (art. 4°); isonomia processual
(art. 7°); contraditório (art. 9°); publicidade (art.
11); motivação (art. 11);dignidade da pessoa
humana (art. 8°); razoabilidade(art. 8°);
legalidade, publicidade e eficiência (art. 8°) e da
cooperação (art. 6°).
PARA REFLETIR...
 Essa repetição de princípios
constitucionais, denota avanço na ciência
processual, pois viabiliza diminuir o
distanciamento entre a teoria e a efetiva
prática processual, a incidência dos
princípios mencionados, encetam, ainda
que indiretamente a afirmação de uma
sociedade com valores mais éticos e
isonômicos, mormente em um Estado em
desenvolvimento e marcado por
desigualdades sociais.
DIREITO EM DEBATE
 A Medida Provisória 759, altera o Código Civil para
consagrar o "brasileiríssimo" DIREITO REAL DE
LAJE. Trata-se de situação muito comum,
especialmente nos grandes centros urbanos, em que o
proprietário do "andar térreo" cede o direito de uso e
moradia para que um terceiro construa "a sua casa" no
andar de cima. É o popular "puxadinho". Assim,
passam a coexistir unidades imobiliárias autônomas,
de titularidades distintas, situadas em uma mesma
área. O reconhecimento desse direito - embora,
claro, exija a nossa cuidadosa interpretação no
caso concreto - reverencia a função social.

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