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Treinamento e pedagogia do futsal

É bastante comum jogadores brasileiros com destaque no cenário do futebol mundial


relatarem que iniciaram suas carreiras esportivas no futsal. Nomes como Rivellino, Zico,
Sócrates, Ronaldo, Ronaldinho, Djalminha, Alex, Neymar e tantos outros craques do
campo foram formados nas quadras.
E não é por acaso. Em tempos em que se discutem tanto as metodologias de treinamento
em campos reduzidos, por meio dos chamados minijogos, por exemplo, o futsal conta com
tal dinâmica de forma natural, enraizada no seu próprio jogo.
Fatores como tomada de decisão, movimentação curta e rápida, mudança de direção,
habilidade motora, noção espaço-temporal, mostram que o futsal reúne qualidades que
fazem toda a diferença para o jogador no futebol de campo.
“Esses desafios constantes e diversificados fazem com que as crianças atuem no limite
das suas competências e, por isso, aprendem muito em pouco tempo. É preciso decidir
rápido e bem para sobreviver no jogo de futsal. Além disso, há a vivência do precoce
sistema de competições estabelecido no futsal há muitos anos. Se por um lado é
preocupante, pois, se pautado em cobranças exageradas, pode acarretar danos
psicológicos para aqueles meninos que reagem mal às pressões dos adultos, por outro
lado amadurece os jogadores”, explica Wilton Santana, treinador e pedagogo do futsal.
Natural de Londrina, no Paraná, Wilton Santana, 45 anos, atua como professor adjunto do
Departamento de Ciências do Esporte na Universidade Estadual de Londrina. Fez
mestrado e doutorado na Unicamp e publicou três livros sobre futsal. Iniciou-se como
jogador na modalidade e jogou futebol nos juniores do Flamengo, entre 1985 e 87, período
em que foi campeão brasileiro e carioca.
Ainda como atleta, disputou também uma Copa do Mundo pela seleção brasileira de
futebol sub-16. Tornou-se técnico de futsal e dirigiu equipes adultas nas três divisões do
estadual paranaense (Ouro, Prata e Bronze), um dos mais disputados do país, além de
seleções paranaenses (adulta, Sub-14 e 17). Também atua como diretor-técnico do portal
"Pedagogia do Futsal" e membro do recém-criado Departamento de Desenvolvimento
Técnico da Confederação Brasileira de Futsal (CBFS).
Segundo ele, no entanto, mesmo o futsal sendo considerado uma ótima possibilidade para
a formação de jogadores para o futebol, a modalidade não recebem nenhum tipo de
benefício nas transferências realizadas para os gramados. E isso vem inibindo o
investimento contínuo em infraestrutura e profissionais de qualidade no trabalho
desenvolvido nas quadras.
“Inegavelmente, o futebol vem se beneficiando historicamente do trabalho de muitos
profissionais, associações e clubes de futsal de categorias menores sem dar nada em
troca. Quando digo "nada em troca", reporto-me a divisas, dinheiro, percentual que precisa
ser atribuído a esses segmentos pela formação de jogadores. Ora, precisa haver uma
legislação que proteja os clubes de futsal que formam os jogadores que entram no futebol
e se destacam. Não é justo o garoto passar seis, sete, oito anos jogando futsal, migrar
para o futebol, firmar-se na carreira, alguns, inclusive, decolarem para o exterior e o clube
de futsal de formação não receber um centavo por isso. Algo está muito errado”, completa.
Nesta entrevista à Universidade do Futebol, Wilton Santana ainda fala sobre como a
Periodização Tática ainda é pouco debatida no futsal. Confira a íntegra:
Universidade do Futebol – Constantemente vemos história de jogadores de futebol
que iniciaram sua carreira no futsal. Para você, qual a importância do futsal neste
processo de formação?
Wilton Santana – Penso que o fato de se ter um bom número de jogadores expressivos
no futebol oriundo do futsal ratifica, por si só, que esse esporte é relevante para a
formação daqueles. Diria, minimamente, que o futsal, por ser jogado num espaço menor,
compartilhado e com menos jogadores, torna o ambiente muito exigente para quem joga.
Essa elevada demanda tático-técnica (cognitivo-motora) constrange, sobremaneira, as
habilidades do praticante, o que tende a aprimorar rapidamente seu nível de jogo.
Ora, há muitos problemas emergenciais para se resolver. Esses desafios constantes e
diversificados fazem com que as crianças atuem no limite das suas competências e, por
isso, aprendem muito em pouco tempo. É preciso decidir rápido e bem para sobreviver no
jogo de futsal. Além disso, há a vivência do precoce sistema de competições estabelecido
no futsal há muitos anos. Se por um lado é preocupante, pois, se pautado em cobranças
exageradas, pode acarretar danos psicológicos para aqueles meninos que reagem mal às
pressões dos adultos, por outro lado amadurece os jogadores.
Na prática, um menino com 12, 13 anos (idade que, em geral, tem acontecido a passagem
do futsal para o futebol), acumula sete, oito anos de competição no futsal. São muitos
jogos oficiais. Essa experiência também tende a ajudá-lo a lidar com as demandas
competitivas do jogo e do entorno esportivo do futebol. Quem avalia que isso é perfumaria
precisa rever o conceito. Vou permitir-me citar a minha história de vida: fui um menino que
saiu do futsal para a seleção brasileira de futebol sub-16, que disputou o Mundial da China
em 1985. Eu tinha seis anos incompletos de prática do futsal e já acumulava mais de 10
campeonatos oficiais, entre metropolitanos e estaduais, o mesmo número de finais; cinco
títulos estaduais do mirim ao juvenil; já havia decidido título estadual na cobrança de
pênaltis; jogado em diferentes cidades; disputado um Campeonato Brasileiro de Seleções
no infantil, em São Paulo, pela seleção paranaense, e jogado uma temporada na categoria
principal, entre os adultos. A minha história era similar a de outros colegas vindos do futsal
que encontrei naquela seleção, como, por exemplo, Bismarck (que foi ídolo no Vasco da
Gama). Portanto, jovens jogadores de futsal são veteranos de competição e isso,
seguramente, contribui para que se firmem num ambiente competitivo como é o do futebol.
Há quem avalie, inclusive, que o futsal atrapalharia o processo de construção dos
jogadores de futebol. O argumento seria a especificidade distinta dos esportes. Ora,
excetuando-se o fato de, em dado momento, que talvez seja na categoria sub-13 ou 15, os
esportes ganharem contextos mais específicos, considero isso uma enorme distorção.
Citaria apenas Claude Bayer, o pedagogo esportivo francês, que defendeu na década de
1970 a ideia de que há elementos táticos comuns entre os diferentes jogos esportivos
coletivos, o que, permitiria aos jogadores transferirem conhecimentos; na prática, significa
que o que se aprende em uma quadra de futsal entra com o garoto no campo de futebol.
Mas, se isso é insuficiente, ou seja, se o futsal atrapalha o futebol, então o futebol teria de
ter reprovado craques como Rivellino, Zico, Sócrates, Ronaldo, Ronaldinho, Djalminha,
Alex, Neymar e tantos outros formados no futsal. Ou não? O fato é que a maioria das
crianças se inicia no futsal por volta dos seis, sete anos e migra definitivamente para o
futebol, hoje, por volta dos 12 ou 13 anos. Logo, são de cinco a sete anos de aprendizado
que precisam ser considerados como significativos para a qualidade do jogador. E olha
que estou sendo muito econômico, porque há garotos que jogam futsal até bem mais tarde
e optam pelo campo apenas quando pressionados pelo departamento de futebol do clube.
Na época em que fui juniores do Flamengo, Djalminha, um excepcional jogador de futebol,
craque também na quadra, jogou as duas modalidades até quando estava próximo do
juvenil.
Na prática, um menino com 12, 13 anos (idade que, em geral, tem acontecido a passagem
do futsal para o futebol), acumula sete, oito anos de competição no futsal. São muitos
jogos oficiais. Essa experiência também tende a ajudá-lo a lidar com as demandas
competitivas do jogo e do entorno esportivo do futebol, compara Wilton Santana
Universidade do Futebol – No seu entender, em termos práticos, como poderia ser
organizada uma formação de jogadores que contemplasse o futsal e o futebol de
campo?
Wilton Santana – Bem, isso já é feito, ainda que não de modo intencional, sistematizado,
pelo menos na maior parte das realidades. Na prática, crianças até por volta da categoria
sub-9 jogam apenas futsal, pois, como disse, o sistema de competições favorece; a partir
da sub-11 e da sub-13 jogam ambos concomitantemente, mas, em muitos casos, em
clubes diferentes. Prevalece, sobretudo, a informalidade, ou seja, os clubes e os técnicos
das modalidades não interagem; por vezes, "torcem o nariz um para o outro".
Por outro lado, avalio que é uma lacuna a ser explorada pelo futsal, o "primo pobre", que
precisa ser humilde e sensibilizar toda a gente do futebol para as vantagens de interagir as
modalidades. No último ano, eu e o PC de Oliveira, técnico campeão mundial com a
seleção brasileira de futsal, temos estreitado ideias no sentido de propor uma metodologia
que favoreça o processo concomitante de formação de jogadores de futsal e futebol, de
modo que seja otimizado o desempenho daqueles em ambas as modalidades enquanto a
competem e ao optarem por uma ou outra. Isso é algo que será divulgado no momento
certo.
Na prática, crianças até por volta da categoria sub-9 jogam apenas futsal, pois, como
disse, o sistema de competições favorece; a partir da sub-11 e da sub-13 jogam ambos
concomitantemente, mas, em muitos casos, em clubes diferentes. Prevalece, sobretudo, a
informalidade, ou seja, os clubes e os técnicos das modalidades não interagem; por vezes,
"torcem o nariz um para o outro", aponta o profissional do futsal
Universidade do Futebol – Alguns estudos seus destacam a importância da
competição bem organizada e nas idades certas, inclusive para a formação de
jogadores. Para você, com quais idades as crianças deveriam começar a competir?
Qual o formato ideal e a progressão desejada para estas competições?
Wilton Santana – Aprendi cedo com meus amigos e professores de pedagogia do
esporte, João Freire e Roberto Paes, que fazer esporte implica em competir e, nesse
sentido, importa tratar pedagogicamente a competição. Na prática, crianças de seis anos
competem futsal, logo, é mais precoce para estas do que para aquelas que optam em se
iniciar pelo futebol.
No lugar de falar de um formato ideal, prefiro me referir a certa "gênese" da competição,
ou seja, a momentos sucessivos do processo competitivo, que deveria rumar do
diversificado para o especializado; do adaptado para o padronizado. Na prática, quanto
mais novo o jogador, mais as regras deveriam se ajustar a ele do que ele às regras, o que
exigiria, por exemplo, alterações que favorecessem certa cultura de jogo
independentemente da regra oficial. É possível dar exemplos que já acontecem no futsal
em alguns lugares do país. Um deles é acerca da reposição quando do arremesso de
meta: enquanto a regra oficial permite que o goleiro lance a bola para a outra quadra
diretamente (por cima), o regulamento adaptado inibiu tal comportamento, obrigando-o a
repor a bola para um dos seus colegas no campo defensivo. Para tanto, adicionou-se outra
exigência: a de que os adversários respeitem certa distância dos atacantes nesse
momento. A diminuição da pressão defensiva faz com que o menino que recebe a bola
tenha mais tempo para encadear uma solução motora, pois tem mais tempo para analisar
a situação e encontrar uma solução mental (decidir). Essa adaptação tende a favorecer um
bom nível de jogo, que se pauta na tentativa de circular a bola no lugar de se desfazer
dela, lançando-a para frente indiscriminadamente.
Diria que há outras premissas pedagógicas que favorecem o ambiente competitivo: "expor
a criança socialmente apenas quando ela reunisse condições tático-técnicas mínimas de
competir", o que evitaria críticas precoces sobre o desempenho daquelas. Na prática, se
ela não sabe, minimamente, ocupar um espaço na quadra, controlar a bola e interagir
quando sua equipe tem e não tem a bola, não é o momento de ser exposta socialmente.
Ela precisa de mais tempo para aprender essas coisas.
Outra premissa seria: "quanto mais cedo, mais a competição deveria ser dada à
participação do que à seleção". Refiro-me à característica do ambiente: quanto mais nova
a criança, mais dado à cooperação, à participação de todos os jogadores, como
obrigatoriedade e não como concessão. Por exemplo, tenho um filho de seis anos que
compete futsal. Coloquei-o numa competição que o regulamento obriga que todos joguem.
Logo, de antemão, sei que ele jogará e seus colegas também, o que dará oportunidade a
todos de experimentarem jogar, testar as habilidades, vencer e perder, aprender a interagir
com o entorno. Dará, igualmente, a oportunidade de os pais verem seus filhos em quadra,
participando, sendo protagonistas em dado momento.
Outra premissa pedagógica seria "inscrever as crianças em competições equilibradas", isto
é, que tenham certa homogeneidade entre as equipes, para evitar que algumas sejam,
invariavelmente, sobrepujadas por outras. Sempre fico constrangido quando acontecem
goleadas em jogos de iniciantes. Algum adulto avaliou mal ou desrespeitou essa premissa.

Diria que se é verdade que, por exemplo, a fisiologia entrou no mundo do futebol e do
futsal, também é verdade que a pedagogia ainda não entrou. Para tanto, basta checar as
comissões técnicas de muitos times e averiguar que boa parte tem a figura do fisiologista,
mas não a do pedagogo esportivo ou metodólogo. Ora, será que uma área eminentemente
intervencionista como a do ensino-treino dos jogos esportivos coletivos, dentre estes, o
futebol e o futsal, não precisa de gente que entenda de pedagogia do esporte?, questiona
o treinador e pedagogo
Universidade do Futebol – Infelizmente, não são raros os relatos e notícias de brigas
e problemas ocorridos com os pais de garotos em competições e treinamentos. Em
sua opinião, como o professor/treinador deve atuar junto à família para que o
processo de aprendizagem do futebol possa se dar em um ambiente mais saudável?
Wilton Santana – Recentemente estive com o professor Alcides Scaglia (mestre em
pedagogia do esporte e doutor em pedagogia do movimento pela Unicamp), em Londrina,
e o levei para ver uma final de campeonato sub-7 de futsal. De modo geral, o ambiente
nesses jogos tende a ser muito tenso por parte da torcida familiar, que, ansiosa, fica
propensa a pressionar árbitros, pais dos outros jogadores, seus filhos e os demais
meninos. Logo, os treinadores dessas categorias precisam resistir a essa insensatez e se
comportarem de modo distinto. Se os pais estão tensos, o treinador precisa ser sereno; se
os pais pressionam os árbitros, os treinadores os tratam com respeito; se os pais
pressionam os meninos, os treinadores os encorajam. Por sinal, nesse dia, eu era um dos
treinadores e um ex-aluno meu o outro treinador e não houve sequer um problema desse
tipo por parte da torcida familiar. Evidentemente que demos bons exemplos ao não
estressar as crianças, os árbitros e seus pais. Além disso, há ainda as reuniões
pedagógicas, que conscientizam os pais sobre como se comportarem nas competições
antes, durante e depois.
Mas não sou ingênuo e sei que, em muitos casos, isso pode descambar, sobretudo, se os
times forem de camisa ou de rivalidade acirrada. Nesses casos, sou a favor de severas
punições aos responsáveis. Na prática, se os pais ofendem, eles precisam ser retirados do
ginásio; se há brigas ou invasão, o clube deve ser impedido de mandar jogos em casa; se
o técnico é mal-educado e fala palavrão, precisa ser advertido com o amarelo e, em
seguida, com o vermelho; uma boa ideia seria sobrecarregar a equipe com falta técnica e
por aí vai. Os árbitros precisam punir os adultos que vão para os jogos infantis para
atrapalhar. E precisam começar a fazer isso com os treinadores que, no lugar de orientar
as crianças, as pressionam com gritos, xingamentos e cobranças exageradas,
transformando-se em fonte de estresse quando deviam ser fonte de encorajamento.
Penso que o fato de se ter um bom número de jogadores expressivos no futebol oriundo
do futsal ratifica, por si só, que esse esporte é relevante para a formação daqueles. Diria,
minimamente, que o futsal, por ser jogado num espaço menor, compartilhado e com
menos jogadores, torna o ambiente muito exigente para quem joga. Essa elevada
demanda tático-técnica (cognitivo-motora) constrange, sobremaneira, as habilidades do
praticante, o que tende a aprimorar rapidamente seu nível de jogo, diz
Universidade do Futebol – Em relação às metodologias de treinamento, no seu
modo de entender, quais são as melhores formas de desenvolver um jogador
inteligente?
Wilton Santana – Permita-me diferenciar dois tipos de jogadores: inteligente e criativo.
Inteligente é o jogador que decide bem quando se tem, claramente, uma hierarquia a ser
considerada na situação de jogo (por exemplo: se jogamos 2×1, o defensor tira o chute
frontal e o colega está em linha de passe, então é melhor passar a bola do que driblar);
criativo é o que tem a capacidade de fazer coisas incomuns, de produzir alternativas, sem
desconsiderar tomadas de decisão adequadas e pertinentes. Logo, nem todo jogador
inteligente é criativo, mas todo jogador criativo é inteligente.
Para ilustrar, diria que Messi, Neymar e Falcão (futsal) são criativos; Xavi, Philipp Lahm e
Vinícius (futsal) inteligentes; e a maioria dos jogadores de futebol e de futsal não é nem
uma coisa, nem outra; trata-se de uma maioria pseudo jogadora, previsível, medíocre, que
não nos surpreende e tampouco decide bem dentro de campo. Bem, já que nenhum
jogador nasce criativo e inteligente, é preciso investir numa pedagogia que provoque essas
virtudes. A primeira premissa é considerar que a criatividade tem uma fonte que se chama
diversidade. Por conseguinte, se o treino for para memorizar e repetir técnicas, se for dado
à previsibilidade, sem jogadores criativos.
Diria que quanto mais o ambiente pedagógico permitir a produção de alternativas, a
liberdade de expressão, mais incitará a criatividade. Ou seja, se o menino puder produzir
soluções diferentes para resolver os problemas que se apresentam, mais criativo ele
ficará. Portanto, outra premissa é trazer desafios, problemas para o treino. Isso deveria ser
amplamente disseminado dos sete aos 37 anos. É preciso lembrar de que a essência do
jogo se assenta na incerteza; de que o jogo requer improvisação dos jogadores. Logo, o
meio de treino privilegiado é o jogo (as diferentes formas de jogo).
A outra virtude, a inteligência, é salientada quando o jogador precisa escolher a melhor
entre algumas opções (A ou B); por conseguinte, tem uma propensão maior de acontecer
quando do treinamento de jogadas de bola parada, algumas manobras defensivas,
algumas formações em vantagem numérica quando do contra-ataque e de desvantagem
numérica quando da defesa de contra-ataque. São situações igualmente relevantes, que
ensinam a decidir, a exercitar as condições "se… então", mas que não deveriam,
sobretudo na formação, mas mesmo depois, ser a essência do treino.
De modo geral, o ambiente nos jogos dos garotos tende a ser muito tenso por parte da
torcida familiar, que, ansiosa, fica propensa a pressionar árbitros, pais dos outros
jogadores, seus filhos e os demais meninos. Logo, os treinadores dessas categorias
precisam resistir a essa insensatez e se comportarem de modo distinto. Se os pais estão
tensos, o treinador precisa ser sereno; se os pais pressionam os árbitros, os treinadores os
tratam com respeito; se os pais pressionam os meninos, os treinadores os encorajam,
aponta Wilton Santana
Universidade do Futebol – Mesmo o futsal sendo considerado uma ótima
possibilidade para a formação de jogadores para o futebol, os clubes não recebem
nenhum tipo de benefício nas transferências realizadas do futsal para o futebol e,
posteriormente entre clubes de futebol. Para você, o que deveria ser feito para que o
futsal pudesse também lucrar com as transferências no futebol possibilitando o
investimento contínuo em infraestrutura e profissionais de qualidade?
Wilton Santana – Esse tema é central para o futsal. Não há, talvez, algo que precise ser
mais urgentemente discutido para essa modalidade. Inegavelmente, o futebol vem se
beneficiando historicamente do trabalho de muitos profissionais, associações e clubes de
futsal de categorias menores sem dar nada em troca. Quando digo "nada em troca", não
me refiro ao crédito, porque isso os jogadores mencionam, mas isso não "enche barriga"
de ninguém. Reporto-me a divisas, dinheiro, percentual que precisa ser atribuído a esses
segmentos pela formação de jogadores.
Ora, precisa haver uma legislação que proteja os clubes de futsal que formam os
jogadores que entram no futebol e se destacam. Não é justo o garoto passar seis, sete,
oito anos jogando futsal, migrar para o futebol, firmar-se na carreira, alguns, inclusive,
decolarem para o exterior e o clube de futsal de formação não receber um centavo por
isso. Algo está muito errado.
O fato é que os garotos que jogam futsal acalentam o sonho de se transformarem em
jogadores profissionais de futebol. Logo, o mais inteligente, o mais promissor, seria adotar
intencionalmente o futsal como uma "incubadora" de jogadores de futebol. Destaco, mais
uma vez, a "intencionalidade" dessa ação, o que exigiria desembolsar dinheiro para as
categorias menores e departamentos de futsal. Estou cansado de ver bons treinadores de
futsal, sobretudo de categorias menores, correndo atrás de mecenas e patrocínios
pequenos para manterem suas equipes, enquanto revelam craques para o futebol
engordar ainda mais sua conta bancária. É um disparate!
Felizmente, há ao menos um caso bem sucedido de parceria futebol-futsal na formação de
jogadores: o Santos Futebol Clube. Lá, o futsal sobrevive graças ao entendimento de que
se trata de um aliado na construção de jogadores para o futebol. O futsal, no Santos, é
entendido como uma categoria menor do futebol. Evidentemente que há ainda muito por
fazer, como, por exemplo, estreitar os espaços de atuação dos profissionais do futsal na
prática cotidiana do futebol, o que significaria, na prática, levar para o campo, como aliado
desse treinador, o "especialista no espaço reduzido", que é o profissional do futsal.
Desconheço outras realidades que seguem esse modelo.
Por consequência, diria que se é verdade que o futebol precisa do futsal, também é
verdade que o futsal precisa do futebol. Tenho colegas que pensam o contrário; que
avaliam que o futsal não precisa do futebol. Considero que essa visão é míope.
Precisamos ser menos ingênuos. Esse discurso não ajuda em nada nossa modalidade,
pois não resolve a dificuldade financeira desse esporte. Ora, se o futsal produz exímios
jogadores para a alta competição mesmo dando para o futebol seus melhores jogadores
sem receber nada em troca, imagine então quantos jogadores a mais produziria para si e
para o futebol se tivesse a necessária e justa contrapartida financeira deste último.
Precisamos abrir os olhos e requerer os direitos como formadores de jogadores. Para
tanto, precisamos mostrar um currículo de formação que convença os exigentes e, muitas
vezes, arrogantes dirigentes de futebol.

Diria que quanto mais o ambiente pedagógico permitir a produção de alternativas, a


liberdade de expressão, mais incitará a criatividade. Ou seja, se o menino puder produzir
soluções diferentes para resolver os problemas que se apresentam, mais criativo ele
ficará. Portanto, outra premissa é trazer desafios, problemas para o treino. Isso deveria ser
amplamente disseminado dos sete aos 37 anos, afirma o profissional
Universidade do Futebol – A Periodização Tática vem sendo um tema cada vez mais
frequente entre os treinadores do futebol. Como este modelo é visto no futsal? Já
existem treinadores que realizam esta metodologia de treinamento?
Wilton Santana – Venho estudando a Periodização Tática faz alguns anos. Li boa parte
dos livros publicados sobre o tema (e não são muitos). Admiro o Vítor Frade. Sobretudo,
por criar e ser o arauto de uma inovadora metodologia de treinamento para o esporte mais
popular do mundo. Isso não é para qualquer um. Ousaria afirmar que não é possível ler
sobre a PT e passar incólume. A tendência é o leitor, se atento, deixar-se "contaminar"
pela teoria e prática dessa metodologia perspicaz. A PT tem o mérito de sacudir o tipo de
treinamento imperativo que se faz no futebol em geral, alicerçado no paradigma
mecanicista/cartesiano, que, na prática, separa as dimensões do rendimento,
fragmentando o treino em físico, técnico, tático, psicológico.
Frade, norteando-se pelo paradigma emergente (sistêmico), aponta que o futebol, por ser
jogo, é sistema e, por ser sistema, é indivisível, complexo, interativo, imprevisível,
inquebrantável e que a melhor forma de desenvolvê-lo bem seria respeitando sua natureza
no treino. Evidentemente que há toda uma lógica para se fazer isso, que passa por
perseguir uma forma singular, própria de jogar (modelo de jogo), criando, nos treinos, a
identidade que se quer expressar no jogo.
Se, por um lado, a PT é um tema cada vez mais discutido entre os treinadores de futebol,
sobretudo os jovens, tenho lá minhas dúvidas que será empregada no futebol brasileiro. O
sistema tradicional tende a rejeitar o que não entende; o que o contraria. Chamou-me a
atenção o novo livro de Xavier Tamarit (Periodização Tática vs Periodização Tática), que
tem Frade como protagonista e no qual este discorda do modo como alguns vem se
apropriando desta metodologia. Como disse Mourinho certa vez, os treinadores avaliarão
como interessante a PT, mas não saberão utilizá-la, porque não saberão criar treinos por
esse novo modo de pensar e praticar futebol.
No futsal do Brasil, entre as equipes da Liga Futsal, nunca soube de algum técnico que a
adotasse. Mas poderia citar ao menos três profissionais que são adeptos deste método:
Frederico Falconi (Ziquinho), técnico da sub-20 do Minas Tênis (MG); Fabiano Souza
(Chokito), técnico da categoria principal do Tigre (PE); e eu mesmo, que a apliquei neste
ano ao dirigir o Cambé Futsal (PR).
Estou cansado de ver bons treinadores de futsal, sobretudo de categorias menores,
correndo at

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