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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo

21º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo


Universidade de Brasília (UnB) – Brasília (DF) – Novembro de 2023
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Jornalista e empreendedor: discussões para uma


identidade profissional
Luciane Fassarella Agnez1

Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília

Resumo: O presente trabalho levanta reflexões sobre o desenvolvimento do empreendedorismo


no jornalismo e como isso pode impactar na identidade deste profissional. Trazemos uma
problematização a partir da revisão de estudos que abordam o profissionalismo diante de um
cenário de transformações, em diálogo com abordagens que tratam da atitude empreendedora. De
forma exploratória, entrevistamos dois jornalistas empreendedores brasileiros para observar seus
pontos de vista e de que maneira relacionam suas trajetórias objetivas ao processo de significação
e valorização da profissão.

Palavras-chave: identidade profissional; jornalista empreendedor; empreendedorismo no


jornalismo; ethos jornalístico; entrevista em profundidade.

1. Introdução
O setor de mídia se consolidou no Brasil em torno de empresas privadas que, a
partir dos anos 1990, concretizaram um processo de oligopolização, levando a uma
concentração nas mãos de alguns grandes grupos (ROMANCINI, LAGO, 2007). A
história da imprensa brasileira registra poucos episódios de novas iniciativas, que
poderiam remeter a um empreendedorismo na área. Podemos citar uma primeira
experiência de cooperativismo, que surge no Rio Grande do Sul, com o Coojornal, entre
1974 e 1983. Outro exemplo são os veículos alternativos que tiveram um papel importante
no combate à ditadura, porém com dificuldade de sustentação e poucos sobreviveram

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Professora no Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB). Doutora em
Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB). E-mail: luagnez@gmail.com

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após a reabertura política. Além disso, estes profissionais eram mais identificados como
revolucionários do que como empresários (KUCINSKI, 2001).
Menos lembrada nos estudos que tratam do jornalismo empreendedor, a assessoria
de imprensa foi a área em que um maior número de jornalistas começou a empreender.
No Brasil, no início dos anos 1970, jornalistas com passagem pela grande imprensa
abriram as primeiras empresas para prestar esse tipo de serviço (DUARTE, 2003). Em
1983, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e o Conselho Federal de Relações
Públicas (CFRP) assinaram um acordo para que a atividade fosse exercida pelos dois
profissionais; em 1986, a FENAJ publicou o Manual da Assessoria de Imprensa; e a
atividade é listada na Classificação Brasileira de Ocupações na descrição dos
profissionais do jornalismo 2 . Há um debate relevante sobre o fato de assessoria de
imprensa ser ou não jornalismo, que abrange do campo deontológico ao jurídico, mas não
é este o ponto aqui. O fato é que muitos jornalistas deixaram as redações, sobretudo a
partir dos anos 1980, e passaram a exercer atividades ligadas à comunicação
organizacional, muitos desses abrindo suas próprias empresas. No cenário atual, quase
35% dos jornalistas brasileiros exercem atividades ligadas à assessoria de comunicação,
incluindo produção de conteúdo para mídias digitais (LIMA et al., 2022).
Com o paradigma digital, na primeira década dos anos 2000, registramos um
crescimento de iniciativas jornalísticas. Uma delas foi por meio de blogs ou de páginas
independentes, como o Blog do Noblat e o Conversa Afiada, com estruturas enxutas e
bastante vinculados à personalidade de seus fundadores (CARVALHO, 2018). A partir
de 2013, temos um crescimento acelerado de nativos digitais com características de mídia
alternativa e/ou autodeclarados independentes, em antigos modelos e em novos arranjos,
a exemplo de Mídia Ninja, Jornalistas Livres, Nexo, Jota, Agência Pública, entre outros
(SILVEIRA, RAMOS, 2022). Com as plataformas digitais, há também uma ampliação
na oferta de serviços voltados à comunicação digital e à produção de conteúdo,
caracterizando novas demandas para a assessoria em comunicação.
Nas últimas décadas, além do avanço das tecnologias digitais, uma série de
mudanças são observadas no jornalismo, afetando processos produtivos, modelos de

2
Disponível em: http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTituloResultado.jsf. Acesso
em: 01 ago. 2023.

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negócios, condições de trabalho e a própria relação da atividade com a sociedade. Estudos


analisam as variáveis que marcam essas transformações e fundamentam um cenário de
crise nos negócios e impõem desafios à profissão (ADGHIRNI, 2005; DEUZE, 2005;
BRIN, CHARON, BONVILLE, 2007; NEVEU, 2010; ADGHIRNI, PEREIRA, 2011).
A partir de 2013, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) passam a
reconhecer que os cursos de Jornalismo devem observar em seus projetos pedagógicos,
entre outros aspectos, o desenvolvimento do espírito empreendedor como forma de
atender a novas demandas. Além de preparar o futuro profissional para “conceber,
executar e avaliar projetos inovadores que respondam às exigências contemporâneas e
ampliem a atuação profissional em novos campos”, devem capacita-los para “exercer
dignamente a atividade como autônomos em contexto econômico cuja oferta de emprego
não cresce na mesma proporção que a oferta de mão-de-obra” (BRASIL, 2013).
As dificuldades em implementar esse conteúdo nos cursos de jornalismo
começam a ser analisadas (GUEDES, LEITE, 2021; AGNEZ, 2022), além de se buscar
uma perspectiva crítica, pois o empreendedorismo não deve funcionar para encobrir a
flexibilização excessiva ou a precarização das condições de trabalho (ROXO,
GROHMANN, 2015).
Esta introdução foi necessária para contextualizar o ponto que queremos levantar:
de que maneira a incorporação das atitudes empreendedoras impactam na identidade
profissional do jornalista brasileiro? Para isso, nos tópicos a seguir, traremos uma
problematização a partir da revisão de estudos que nos permitem dialogar com as
identidades jornalística e empreendedora. Na sequência, como pesquisa exploratória,
apresentamos duas entrevistas com jornalistas empreendedores brasileiros.

2. Identidade profissional no jornalismo

Na contemporaneidade, a identidade do indivíduo passa a ser atravessada pelo


papel que assume em suas atividades, pois fazer parte de um grupo profissional significa
dividir práticas e conhecimentos, proporcionando um reconhecimento social. No
jornalismo, a identidade profissional é resultado de uma aquisição histórica, decorrente
dos processos de legitimação, e a forma identitária é coletiva, ou seja, o indivíduo se
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define a partir da assimilação dos valores do grupo (LE CAM, 2006a). Além disso, ela é
construída no local de trabalho, pois está intimamente ligada à cultura organizacional, às
práticas e às relações entre os atores que interagem no processo produtivo.
Segundo Traquina (2000), a profissionalização do jornalismo passou por alguns
estágios, como a formação de associações de classe, a elaboração de códigos
deontológicos e o desenvolvimento do ensino da atividade. Nesse processo, o recurso da
autolegitimação se mostrou uma constante com a evocação de valores relativos à
liberdade de imprensa e ao interesse público, apoiados num ideal de objetividade como
garantia de compromisso com a verdade e a neutralidade do jornalista. No entanto, foi
uma atividade submetida à lógica de mercado, o que leva a “um conjunto de evoluções
pelas quais a busca de rentabilidade máxima vem redefinir a prática jornalística”
(NEVEU, 2006, p. 158). Moretzsohn (2007, p. 117) sintetiza:

A constituição do jornalismo como atividade industrial, ao longo do século


XIX, viria a profissionalizar essa prática e submetê-la, embora nunca sem
conflitos, às demandas do mercado. Nas últimas décadas do século XX, o
chamado processo de globalização, favorecido pelo desenvolvimento
exponencial das novas tecnologias da informação, conduziria à constituição
dos grandes conglomerados de comunicação, dos quais o jornalismo é apenas
mais um dos múltiplos ramos de um negócio que envolve entretenimento,
propaganda, telefonia e tantos quantos forem os campos do que se
convencionou chamar de “mídia”.

Gomes (2009) também faz um retrospecto do processo de autolegitimação, que


“cumpre a decisiva tarefa de convencer a todos de que o jornalismo é uma instituição
importante, preciosa e necessária para toda a sociedade e que, portanto, deve ser mantida,
protegida e cuidada pelos cidadãos […] e pelo Estado” (GOMES, 2009, p. 68).
A noção de profissionalismo assumiu então dois planos centrais: o primeiro
voltado para o discurso de legitimação; e o segundo no que se refere às práticas concretas.
Para Ruellan (1993), estas seriam as duas faces que compõem uma mesma identidade
profissional, pois reconhecer um jornalista como profissional é admitir que este respeita
uma série de maneiras de produzir e detém os saberes necessários para isso.
A autonomia e a utilidade social de uma profissão se formam a partir de princípios
que agem na estratégia de reivindicar e de conservar o controle da própria atividade.
Como explica Ruellan (1993), essas estratégias assumem três dimensões: a formação

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(preparação dos futuros membros); o controle da atividade e a delimitação de fronteiras;


e a extensão (a conquista de novos territórios, o acúmulo de novas tarefas, a ampliação
do mercado de atuação).
A expressão “jornalistas profissionais” vem sendo amplamente usada pelo grupo,
o que permite supor a existência de jornalistas “não profissionais” ou “amadores”. No
início, segundo Ruellan (1993), a adoção do termo “profissional” atribuiu um sentido de
qualidade ao trabalho. No entanto, nos últimos anos, com os sucessivos ataques à
imprensa e um cenário de desinformação, sobretudo após o aparecimento das mídias
sociais, tem sido cada vez mais recorrente a distinção pelo uso da expressão “imprensa
profissional”. O que isso pode representar é uma necessidade ainda presente de
legitimação social e identitária do grupo (FIDALGO, 2005).
Estudos que analisam o jornalismo em contexto de transformação, indicam que as
ideologias fundantes do campo profissional apresentam certa estabilidade, ao menos no
discurso. Deuze (2005) lista cinco elementos dessa ideologia que se apresentam
recorrentes no tempo e no espaço: o entendimento do jornalismo como um serviço
público; a noção de objetividade e imparcialidade; a autonomia jornalística no exercício
do trabalho; os sentidos de atualidade e imediatismo; e as questões éticas que validam a
profissão.
Para entender melhor, temos que considerar a prevalência do “mito do repórter”,
que se torna a “figura jornalística por excelência” (LAVOINNE, 1992). O papel da
reportagem na sociedade moderna, o caráter informativo da imprensa e o testemunho dos
acontecimentos importantes transformam o repórter em um “herói”, ancorando nisso o
discurso de legitimação (AGNEZ, MOURA, 2016).
O “mito do repórter” tem sido acionado também em cenário de convergência
tecnológica. Para Pignard-Cheynel e Noblet (2009, p.1, tradução livre), sites noticiosos
mobilizam algumas referências de representação “na figura mítica idealizada do repórter,
que retorna a uma prática autêntica, nobre e eminentemente positiva (se não positivista)
do jornalismo, e a uma valorização dos fatos, do campo e do testemunho”. O mesmo
reconhecem Barbosa et al. (2013), ao analisarem a identidade dos jornalistas que atuam
em dispositivos autóctones. Ainda que percebam algumas mudanças nas rotinas, como a

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aceleração no tempo de produção e uma importância maior da busca pela audiência, a


dimensão deontológica da profissão não sofre alterações.
Como uma “profissão de fronteiras”, sem contornos precisos, o jornalista foi se
adaptando às mudanças sofridas ao longo do tempo, conformando os valores fundantes
às demandas por novas atividades, como quando passou a ocupar cargos de chefia, de
apresentador, de colunista ou de correspondente internacional (RUELLAN, 1993).
No caso brasileiro, essa fluidez e capacidade em assumir múltiplos papéis
encontra maior conflito no caso da assessoria de imprensa. Diferentemente de outros
países, nos quais esta atividade é exercida principalmente por relações públicas, no Brasil
os jornalistas assumiram este mercado a ponto de representar mais de 1/3 dos
profissionais em atuação (LIMA et al., 2022). Pesquisa de Dantas (2014) mostra que
jornalistas migram para a assessoria de imprensa em busca de empregabilidade e melhor
qualidade de vida, mas a formação comum mantém viva a identificação com o jornalismo.
De um lado, autores (CALDAS, 2003; CHAGAS, 2003) defendem que somos
todos jornalistas (mesma formação) e em prol disso devemos cooperar no ambiente de
trabalho. Há a sinalização dos esforços em conciliar a ética jornalística e a defesa do
interesse público, com os interesses do assessorado, no entanto, apesar de práticas e
culturas diferentes, haveria um interesse comum: a importância da informação na
sociedade, com a defesa da ética. A FENAJ3 tem a posição de que assessoria de imprensa
é jornalismo, por uma defesa do mercado de trabalho, que começa a ser ameaçado por
decisões judiciais4. Por outro lado, pesquisadores como Bucci (2006) e Fonseca (2013)
defendem que são funções distintas e, por isso, requerem códigos de ética diferentes.
O objetivo aqui não é aprofundar nesta discussão, muito menos saná-la, mas
avançar na problematização em torno do que é ser jornalista e como estar na profissão,
algo que marca uma identidade profissional. Seja no trabalho da assessoria de imprensa,

3
O Manual de Assessoria de Imprensa da FENAJ passou por atualizações e novas edições, assim como a
atividade segue sendo citada no código de ética da entidade. Além disso, a federação promove há 22 anos
o Encontro Nacional dos Jornalistas em Assessoria de Imprensa e tem se posicionado em favor da extensão
dos direitos trabalhistas dos jornalistas para os assessores. Disponível em: www.fenaj.org.br. Acesso em:
01 ago. 2023.
4
Exemplo de decisão no Tribunal Superior do Trabalho, em 2022, que não reconhece a assessoria de
imprensa como função de jornalista. Disponível em: https://www.poder360.com.br/justica/assessor-de-
imprensa-nao-e-jornalista-diz-tst/. Acesso em: 01 ago. 2023.

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seja diante das mudanças desencadeadas no contexto digital, é perceptível nos estudos a
manutenção de uma ideologia fundamente ainda em torno – se não do repórter
propriamente – de uma função que defende o direito à informação, conformando valores
como objetividade, liberdade e interesse público. O que temos recentemente é a
ampliação de um novo papel: a do jornalista empreendedor.

3. Os contornos para uma identidade empreendedora

Ao estudar a identidade profissional no jornalismo em um contexto de


transformação digital, Le Cam (2006b) também considerou o jornalismo como profissão
baseada na obrigação de produzir informação neutra e factual. Entretanto, no contexto
norte-americano, destacou o papel das empresas de mídia para a identidade do grupo
profissional. Os proprietários, na posição de tomadores de decisão, desempenharam um
papel fundamental na fixação desses valores, no desenvolvimento da formação desse
profissional e na gestão do mercado de trabalho.
Em outras partes do mundo, assim como no Brasil, é notório como as empresas
de mídia se utilizaram das ideologias fundantes da profissão de jornalista para
legitimarem suas atuações e manterem o controle do mercado. Além disso, enquanto elas
desenvolveram um modelo de negócio baseado na publicidade e em estratégias
comerciais, os profissionais se mantiveram como guardiões dos valores éticos.
Por muito tempo, as redações lutaram para manter um distanciamento do
departamento comercial. Mesmo quando chegavam a cargos de gestão, o lucro não era
declarado como principal motivação. Como ilustra Briggs (2011), jornalistas não
publicariam jornais para fazer dinheiro, mas fariam dinheiro para publicar jornais. Essa
percepção do dinheiro como um “inimigo” pode ser uma das razões que explicam a
demora em se investir em pesquisas sobre modelos de negócios no jornalismo (SOURIS,
2015).
Bourdieu (2005) chamou atenção para as estruturas invisíveis do campo
jornalístico, que tiram a autonomia do profissional. Segundo o autor, o jornalismo de
mercado tensiona a cultura profissional e o capital econômico, submetendo a produção a

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restrições financeiras e à busca pela audiência. A concorrência e as imposições do cenário


digital parecem acirrar ainda mais essa tensão: “O desafio de se manter ‘vendável’ em
um momento em que há excesso de informação circulando reflete na decisão de tentar
tornar a notícia cada vez mais atraente” (BARBOSA et al., 2013, p. 23). Isso pode se dar
por meio de um jornalismo de qualidade, com conteúdos relevantes e novas narrativas, o
que requer tempo e investimento; ou apelando a estratégias caça-cliques, de olho em
resultados mais rápidos, ainda que comprometendo a credibilidade.
Em 2008, Briggs 5 chamou a atenção para o fato de que cada vez mais os
jornalistas precisariam desenvolver “habilidades de marketing”, com foco na
transparência, na autenticidade e na cultura colaborativa, tudo muito novo para o campo
até aquele momento. Ali, os blogs se apresentavam como uma opção para jornalistas
lançarem seus próprios espaços de publicação, mais motivados pela independência e
liberdade de expressão (LE CAM, 2006b), do que desenvolvendo um novo modelo de
negócio.
A crise da empresa jornalística tem na emergência da internet um fator central,
ainda que não seja o único (NEUVEU, 2010), que leva a perda de receitas e a uma redução
dos postos de trabalho, fomentando o novo papel para os profissionais:

[...] o surgimento do profissional empreendedor no jornalismo é um fenômeno


relativamente recente, coincidindo com um colapso gradual da divisão entre os
lados comercial e editorial das organizações de notícias (DEUZE, WITSHGE,
2015, p. 19).

Importante destacar que o discurso empreendedor pode mascarar condições


trabalhistas precárias ou jogar para o profissional a responsabilidade por se encaixar nas
novas configurações do mercado, alimentando o ideário sobre o autoemprego ou a criação
de um negócio próprio como alternativa de trabalho e renda (CARBASSE, 2015; ROXO;
GROHMANN, 2015).
Se a atuação em assessoria de imprensa já coloca em suspeição a ética profissional
por defender interesses particulares, exigindo ainda hoje esforços em conciliar práticas e
valores; no caso do empreendedorismo, uma das principais críticas é que ele pode

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Disponível em: https://niemanreports.org/articles/the-end-of-journalism-as-usual/. Acesso em: 02 ago.
2023.

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exacerbar a tendência que sugere que os valores profissionais podem ficar cada vez mais
de lado para atender as metas comerciais (WAGEMANS, WITSCHGE, DEUZE, 2016).
Compreender os contornos para uma identidade do jornalismo empreendedor
passa pela própria identidade empreendedora, que já não é nítida. Nos estudos
organizacionais, não há uma definição fechada em torno do que é ser um empreendedor,
como explica Ésther, Rodrigues e Freire (2013). É comum encontrar na literatura a
associação do ato de empreender a um desejo de independência em ter um negócio
próprio; entretanto, também há quem considere que seja possível empreender dentro do
trabalho, sem a obrigatoriedade de abrir uma empresa. Neste caso, a identificação clássica
seria com a inovação.
Numa perspectiva administrativa, o empreendedor é um gestor e um tomador de
riscos (BORGES, 2012; ÉSTHER, RODRIGUES, FREIRE, 2013). Além da inovação e
da capacidade gerencial, outros atributos são salientados, como liderança, sucesso
empresarial e até mesmo algumas características inatas, como intuição e grande visão.
Borges (2012) ainda destaca que há outras visões que atrapalham a compreensão do
empreendedorismo como carreira: predador, gênio, ícone ou herói.
“Atualmente, a corrente predominante vem se esforçando em criar uma definição
de empreendedor atribuindo-lhe um papel fundamental e muitas vezes excessivo no
processo de desenvolvimento econômico e social de um país” (ÉSTHER, RODRIGUES,
FREIRE, 2013, p. 102). Dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2022 6 )
reforçam a importância do setor, mas a visão “salvadora” não é a que melhor define o
empreendedorismo. A motivação predominante do brasileiro para empreender é “ganhar
a vida porque os empregos são escassos”, ainda que “ter o próprio negócio” esteja entre
os principais sonhos.
A respeito do que leva a empreender, elaboramos o quadro a seguir a partir de
uma tipologia proposta por Dornelas (2005), em diálogo com o que se observa no
jornalismo:

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Disponível em: https://datasebrae.com.br/pesquisa-gem/. Acesso em: 02 ago. 2023.

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Quadro 1. Tipos de empreendedorismo e características


Tipo Característica No jornalismo
Nato Figura mais mitológica, com pessoas Menos identificado entre os
consideradas a frente do seu tempo, que profissionais, pelas próprias
buscam a realização dos seus sonhos e características do mercado e de
transformam suas ideias em grandes formação. Podem ser associados,
negócios. mitologicamente, aos grandes
empresários da mídia.
Corporativo Tem capacidade gerencial, desenvolve Estão assumindo funções de gestão e
estratégias de negociação, com desenvolvendo habilidades
habilidades de liderança e comunicação. corporativas, inovando nas
Pode ser um intraempreendedor, estratégias de produto e de modelos
inovando dentro da organização onde de negócio.
atua, sem ter seu próprio negócio.
O que aprende É considerado inesperado, pois é diante A formação tem um papel
de uma oportunidade que aprende a lidar importante, para ajudar no
com novas situações e acaba por mudar reconhecimento de oportunidades e
os rumos da carreira. na aprendizagem sobre como lidar
com novos papeis.
Social É movido por causas humanitárias e Tem sido observado em inciativas
acredita que o seu trabalho pode sem fins lucrativos e dialoga bem
contribuir para um mundo melhor. O com os valores que formam o ethos
objetivo principal não é ganhar dinheiro, jornalístico.
mas suprir lacunas na sociedade.
Por necessidade Precisa desenvolver um negócio para ter Pode ocorrer em mercados
renda, depois de uma demissão ou precarizados ou com redução dos
dificuldade de inserção no mercado de postos de trabalho, cenário agravado
trabalho. Engrossam estatísticas sobre se estes profissionais tiverem pouco
empreendedorismo, sobretudo em países preparo ou não desenvolverem
em desenvolvimento, mesmo atuando na habilidades adequadas.
informalidade.

Fonte: elaboração da autora, com base em Dornelas (2005).

4. Identidade empreendedora no jornalismo: pesquisa exploratória

Para aprofundar a discussão sobre a identidade empreendedora no jornalismo,


realizamos uma pesquisa exploratória por meio de duas entrevistas em profundidade com
jornalistas empreendedores em Brasília, de gerações e iniciativas distintas. A proposta foi
de reconstruir o ponto de vista dos profissionais, associando as trajetórias objetivas
(histórias de vida, identidade de grupo e referências primárias) às trajetórias subjetivas de

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significação e valorização. A seguir, apresentamos os entrevistados e seus


empreendimentos:
Sylvio Costa é jornalista formado pela UFES, em 1985, e começou a atuar no
jornalismo ainda com 15 anos. Mudou-se para Brasília em 1989 e trabalhou em grandes
veículos nacionais, como Folha de S. Paulo, IstoÉ, Correio Braziliense, Zero Hora e
Gazeta Mercantil, exercendo as funções de repórter, editor e chefe de reportagem e
ganhando 12 prêmios de jornalismo ao longo da carreira. Trabalhou numa agência da
ONU, como funcionário civil internacional, fez um mestrado na Inglaterra, quando
também atuou como freelancer da BBC, e se tornou jornalista concursado do Senado. Em
2004, ele fundou o site Congresso em Foco7, o que o levou a se afastar do serviço público
por alguns anos.
O Congresso em Foco é um dos primeiros nativos digitais e foi vencedor do
Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa em 2009. Na ocasião da entrevista,
Costa (2023) disponibilizou informações sobre acessos: em 2022, foram mais de 16
milhões de usuários e 35 milhões de visualizações de página, um aumento de 40%
comparado ao ano anterior. Entre os produtos da marca, está o site com acesso gratuito,
uma newsletter e o Prêmio Congresso em Foco. Do ponto de vista de receitas, além de
publicidade convencional, o empreendimento trabalha com conteúdo patrocinado,
promoção de eventos e tem crescido em serviços ligados à ciência de dados, como
pesquisa de opinião, grupo focal e análises ligadas às dinâmicas legislativas.
O segundo entrevistado foi Ruy Conde, jornalista formado em 2009 pelo Centro
Universitário IESB. Iniciou a carreira estagiando em assessorias de imprensa; depois
atuou no grupo RBS em Brasília, onde desempenhou diferentes funções até chegar à
chefia de produção; e atuou como repórter na CBN. Passou um período fora do país,
quando fez um curso de aperfeiçoamento em gerenciamento de crise e, ao retornar para o
Brasil, começou a trabalhar na assessoria de comunicação do Tribunal Superior Eleitoral.
Essa experiência permitiu a ele identificar uma demanda relacionada à dificuldade
de comunicação entre jornalistas e o setor jurídico, pelas diferenças de linguagem e
processos. Assim, ao lado de uma sócia, fundou em 2014 a ItPress Comunicação8, uma

7
Disponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/. Acesso em: 02 ago. 2023.
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Disponível em: https://www.instagram.com/sejait.com.br/. Acesso em: 02 ago. 2023.

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assessoria focada inicialmente no segmento jurídico que, além do relacionamento com a


imprensa, oferece serviços ligados à gestão de crise, às mídias sociais e ao design. A
empresa venceu o Prêmio Comunique-se 2021, na categoria Agência, e em 2023 é
finalista centro-oeste do Prêmio Top Mega Brasil.
Sobre a motivação para criar o Congresso em Foco, Costa (2023) contou que era
um projeto mais editorial do que empresarial: “seria a volta à redação, com liberdade
editorial (o emprego ideal para mim), com remuneração adequada e fazendo coisas
relevantes para a sociedade”. Ele identificou que havia espaço para cobrir a política
nacional e o Congresso Federal, sem precisar de uma grande estrutura, examinando as
lacunas de cobertura deixadas pelo conjunto da mídia. No entanto, o site foi ao ar sem
plano de negócios e sem planejamento financeiro. “Do ponto de vista empresarial,
cometemos diversos equívocos. E sustentar um veículo jornalístico com independência
editorial continua sendo algo bastante desafiador”, afirma Costa (2023).
No caso de Conde (2023), a motivação para criar o próprio negócio estava na
vontade de ganhos financeiros maiores. Ele percebeu um nicho de mercado, para
assessorar empresas jurídicas no relacionamento com a imprensa, e se preparou para
oferecer novos produtos, como a gestão de mídias sociais, que era novidade para o
segmento (que tem restrições em relação ao marketing). A iniciativa ocorreu num impulso
e ele destaca as dificuldades em empreender: “Se fosse mais bem preparado, teria perdido
menos energia e menos dinheiro. Ainda percebo a necessidade de modernizar a gestão.
Fui aprendendo na marra, no dia a dia, nas quedas” (CONDE, 2023).
Ambos entrevistados contornaram as dificuldades profissionalizando a gestão,
contratando equipes multidisciplinares (ainda que enxutas), estudando por conta própria
como fazer. Costa (2023) ressalta: “Acho que sou bom de empreender, mas não me sinto
aparelhado para gerir”, ou seja, tem ideias, mas falta método, o que considera ser um
“defeito de nós jornalistas, não planejar muito”. Quando se formou, em meados dos anos
1980, segundo ele havia um grande preconceito com jornalista que empreendia (“virou
capitalista, patrão, empresário”), o que é uma “grande hipocrisia, como se existisse uma
redação sacrossanta, ultraindependente do ponto de vista editorial (o que nunca existiu),
e uma área comercial opaca, que não diz como faz negócio” (COSTA, 2023). No cenário
atual, ele destaca a importância cada vez maior da transparência e da prestação de constas.

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Costa (2023) diz que, mesmo diante de todas as atividades que exerceu, ainda se
identifica profissionalmente como jornalista, que é um tipo de “servidor público, pois é
serviço público”. Ele se declara filiado ao Sindicado dos Jornalistas Profissionais do DF
e percebe que isso é “algo que era uma coisa da minha geração, não da nova”.
Sobre isso, Conde (2023) diz que nunca se considerou “só assessor de imprensa,
é limitante, jornalismo é muito mais amplo” e ainda relata que recentemente se identificou
pela primeira vez como “jornalista empresário”. Ele afirma não ter nenhum tipo de
filiação a entidades, nem trabalhistas e nem empresariais, e expressa a sua visão sobre a
profissão: “Jornalismo não é só sobre direita e esquerda, sobre esse ou aquele político; é
sobre informar a população e ter uma responsabilidade com a democracia” (CONDE,
2023).
As duas inciativas apresentadas aqui têm fins lucrativos e eles comentaram sobre
isso. “É possível fazer um jornalismo lucrativo sem desrespeitar os limites da legalidade
e da ética, sendo responsável, sendo técnico”, afirma Conde (2023). A este respeito, Costa
(2023) cita exemplos de sucesso, como o jornal The New York Times, que tem anunciado
resultados positivos 9 fazendo bom jornalismo, e o caso de pequenas empresas e de
empreendimentos sociais que são sustentáveis. “A conciliação do jornalismo com lucro
sempre existiu no Brasil, o problema é que nem sempre qualidade editorial acompanha,
tem coisa que se apresenta como jornalismo mas é outra coisa” (COSTA, 2023).

5. Considerações finais
Nos dois casos observados, os empreendedores representam o tipo “que aprende”,
pois os negócios resultaram de oportunidades identificadas: uma lacuna de cobertura, no
caso do Congresso em Foco, e um serviço especializado de assessoramento, com a
ItPress. Também foi comum o despreparo inicial para lidar com as funções de
gerenciamento. O que difere um pouco é a motivação, pois para Costa (2023) havia uma
busca mais editorial, de um projeto independente; enquanto para Conde (2023) era claro

9
Disponível em: https://nytco-assets.nytimes.com/2023/05/NYT-Earnings-Press-Release-Q1-2023-
Final.pdf. Acesso em: 03 ago. 2023.

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um desejo de aumentar seus rendimentos empreendendo. Contudo, é evidente a


identificação de ambos com a formação de jornalistas e com as ideologias fundantes,
como a defesa da democracia, a importância da transparência e o interesse em prestar um
serviço à sociedade.
Como afirmam Wagemans, Witschge e Deuze (2016), ao considerar o equilíbrio
entre interesses comerciais e valores profissionais, no caso do jornalismo, é importante
olhar além das trajetórias individuais e considerar o contexto político e social da formação
de novos negócios. Por isso, é importante compreender o processo de profissionalização
em cada país, a estruturação dos mercados e os desafios que foram sendo impostos, além
dos discursos legitimadores. O empreendedorismo não pode ser tratado como uma
habilidade individual, tão pouco como “salvador” diante da crise (DEUZE, WITSCHGE,
2015).
Os novos arranjos de mídia e as possibilidades de se empreender desafiam o status
quo no jornalismo, tanto em termos de sua organização quanto em termos de sua
ideologia. Como uma profissão de fronteiras, o jornalismo mostrou ter habilidade para se
adaptar a demandas de mercado (RUELLAN, 1993), conformando os valores
profissionais a novas realidades. No caso do cenário digital, como se apresenta em
estudos até este momento, não muda tanto a identidade profissional dos jornalistas. Ao
contrário, parece oferecer um lugar onde eles podem trabalhar de acordo com a identidade
reivindicada, destacando a independência e a manutenção dos princípios éticos, a partir
de estratégias identitárias que ainda evocam mitos fundadores (LE CAM, 2006b;
PIGNARD-CHEYNEL, NOBLET, 2009; BARBOSA et al, 2013; AGNEZ, MOURA,
2016). Isso se observa inclusive quando assumem atividades em assessoria de
comunicação, revelando a força de uma formação comum e o peso dos valores
profissionais (CALDAS, 2003; CHAGAS, 2003; DANTAS, 2014).
São necessárias mais pesquisas no campo do jornalismo empreendedor,
ampliando discussões, por exemplo, acerca dos desafios para a formação e o papel das
universidades. Outra questão que se coloca diz respeito às formas de associação,
fundamentais para a profissionalização, na defesa da deontologia e de direitos
trabalhistas, e como agora se organizam em torno da condição de empresário.

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Por último, considera-se a relevância do empreendedorismo social, que aproxima


o jornalismo de seu compromisso com a sociedade, e talvez esteja representando as
iniciativas de maior autonomia e defesa da democracia, mas também vale compreender
melhor as iniciativas com fins lucrativos. É importante ouvir mais os próprios
empreendedores, que por outro lado também devem estar dispostos a colaborar com os
esforços de investigação.

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