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SISTEMAS ELEITORAIS E PROPOSTAS DE REFORMA POLÍTICA NO BRASIL

1 INTRODUÇÃO

Sistemas eleitorais. Os sistemas eleitorais constituem o conjunto de regras jurídico-políticas


necessárias ao exercício da democracia e para a escolha daqueles que exercerão, em nome do povo,
o poder político por meio dos cargos públicos eletivos.

Tipos de sistemas eleitorais. Os sistemas eleitorais são definidos conforme as regras de apuração,
contagem e agregação de votos, bem assim pela forma de conversão dos votos em mandatos. É o
conjunto dessas regras que caracteriza os sistemas.

São três os sistemas eleitorais mais utilizados pelos países:

a) o sistema majoritário;
b) o sistema proporcional;
c) o sistema misto (combina o sistema majoritário com o proporcional para eleger o Parlamento).

Sistemas eleitorais no Brasil. No Brasil, adota-se o sistema majoritário nas eleições para os cargos
do Poder Executivo (presidente, governador e prefeito) e para os cargos do Senado. Já o sistema
proporcional é utilizado nas eleições para deputados (federais, distritais e estaduais) e vereadores.

Circunscrição eleitoral. No Brasil existem três tipos de circunscrição eleitoral: os municípios,


onde são eleitos os vereadores e os prefeitos; os Estados e o Distrito Federal, onde são eleitos os
deputados estaduais, deputados distritais, deputados federais, senadores e governadores; e a União,
que elege o Presidente da República.

2 O SISTEMA ELEITORAL MAJORITÁRIO

No sistema majoritário, considera-se eleito o candidato que obtiver mais votos dentre os
competidores.

A eleição para Presidente da República. A Constituição Federal, em seu art. 77, §§ 2º e 3º,
estabelece que será eleito Presidente o candidato que obtiver a maioria absoluta de votos, não
computados os em branco e os nulos. Caso nenhum candidato alcance a maioria absoluta na
primeira votação, haverá nova eleição entre os dois candidatos mais votados, considerando-se eleito
aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.

A eleição para o Senado. Nos termos do art. 46, §§ 1º ao 3º, da Constituição Federal, o Senado
Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio
majoritário. Cada Estado e o Distrito Federal elegerão 3 (três) Senadores, com mandato de oito
anos. A representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de quatro em quatro anos,
alternadamente, por um e dois terços. Cada Senador será eleito com dois suplentes.

2.1 O sistema majoritário simples

No sistema majoritário pode ser exigida a maioria relativa ou a maioria absoluta. Na primeira
hipótese teremos o chamado sistema majoritário simples, adotado no Brasil nas eleições para
senadores e prefeitos de municípios com até duzentos mil eleitores. Neste caso exige-se um único
turno de eleição, vencendo o candidato mais votado, independentemente da soma dos votos dos
concorrentes.
O sistema majoritário simples é criticado justamente por permitir a eleição de candidatos não
legitimados pela maioria absoluta do eleitorado. Nesse sentido, candidatos com alto nível derejeição
podem ser eleitos.

2.2 Sistema majoritário absoluto

O sistema majoritário absoluto foi adotado no Brasil para as eleições de Presidente da República,
governadores e prefeitos de municípios com mais de 200 (duzentos) mil eleitores. No sistema
majoritário absoluto, os votos do eleito devem corresponder necessariamente a mais de 50% dos
votos válidos, não sendo levados em conta os votos em branco, os votos nulos e as abstenções. Caso
a maioria absoluta não seja alcançada no primeiro turno das eleições, os dois candidatos mais
votados disputarão o segundo turno.

2.3 Sistema de voto distrital

O sistema de voto distrital é uma modalidade do sistema majoritário. Nesse modelo o eleitorado é
dividido em distritos geográficos, onde serão disputadas as vagas para o parlamento. Conforme já
mencionado, o voto distrital consiste na transformação dos Estados e do Distrito Federal em
distritos, nos quais seriam realizadas eleições.

2.3.1 As variantes do sistema majoritário no voto distrital

As variantes mais difundidas do sistema majoritário são:

a) o voto majoritário uninominal; e


b) o voto majoritário plurinominal.

No sistema de voto majoritário uninominal, o território é dividido em distritos e os eleitores de cada


um deles elegem um representante para o Poder Legislativo. Já no sistema de voto majoritário
plurinominal, as circunscrições são divididas em distritos que elegem, pelo voto majoritário, seus
representantes (mais de um).

A Bahia como exemplo hipotético. O Estado da Bahia, por exemplo, que atualmente elege 39
deputados federais pelo sistema eleitoral proporcional atual, seria dividido em 39 distritos, onde
haveria, em cada um desses distritos, uma eleição pelo voto majoritário uninominal. Uma
alternativa seria um número menor de distritos com eleições pelo voto majoritário plurinominal;
nesse caso teríamos mais de um candidato eleito em cada distrito.

3 O SISTEMA ELEITORAL PROPORCIONAL

Distribuição das vagas. No sistema eleitoral proporcional as cadeiras do parlamento são


distribuídas na proporção do número de eleitores que votaram nas correntes ideológicas
representadas pelos partidos ou coligações. Dessa forma, ao votar, o eleitor escolhe ser representado
por determinado partido e, preferencialmente, pelo candidato por ele escolhido. Caso este não seja
eleito, o voto será somado aos demais votos da legenda, compondo a votação do partido ou
coligação.

A Constituição Federal acolheu o sistema proporcional para a escolha de vereadores e deputados


(estaduais, distritais e federais), conforme prevê o art. 45 da Lei Maior, aplicado, por simetria, para
as vagas nas assembleias legislativas, na Câmara Legislativa do Distrito Federal e nas câmaras de
vereadores. A exceção é a eleição dos senadores, que são eleitos pelo sistema majoritário, assim
como os governadores e o Presidente da República.

A eleição para a Câmara dos Deputados. O número total de deputados, bem como a
representação por Estado e pelo Distrito Federal será proporcional à população de cada Estado,
conforme estabelecido na Lei Complementar nº 78/1993, sendo 8 (oito) o número mínimo e 70
(setenta) o número máximo de deputados por unidade da Federação, conforme o art. 45, §§ 1º e 2º
da CF. O Estado da Bahia elege 39 (trinta e nove) deputados federais.

O número de deputados estaduais. Segundo o art. 27 da CF, o número de Deputados à


Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da representação do Estado na Câmara dos
Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os
Deputados Federais acima de doze. A Assembleia Legislativa da Bahia possui 63 (sessenta e três)
deputados estaduais.

O número de vereadores. Segundo a Constituição Federal, em seu art. 29, inciso IV, a quantidade
de cadeiras na Câmara de Vereadores é proporcional ao número de habitantes. Exemplos:

- até 15 mil habitantes: 9 vereadores;


- entre 120 mil e 160 mil habitantes: 19 vereadores;
- entre 1.050.000 e 1.200.00 habitantes: 33 vereadores;
- entre 2.400.00 e 3.000.000 habitantes: 43 vereadores.

A Câmara de Vereadores do Município de Salvador possui 43 vereadores, uma vez que a população
da Capital baiana é de cerca de 2.900.000 habitantes.

3.1 O quociente eleitoral e o quociente partidário

O sistema eleitoral proporcional visa à garantia de representação dos setores minoritários da


sociedade nos parlamentos. Os principais instrumentos utilizados por esse sistema para a definição
dos partidos e candidatos que ocuparão as vagas do parlamento são: a) o quociente eleitoral; e b) o
quociente partidário.

O quociente eleitoral, em conjunto com o quociente partidário e a distribuição das sobras,


constituem os métodos pelos quais se distribuem as cadeiras nas eleições proporcionais.

3.1.1 O quociente eleitoral. O quociente eleitoral é determinado dividindo-se o número de votos


válidos apurados pelo número de vagas a serem ocupadas em cada circunscrição eleitoral. Contam-
se como válidos apenas os votos dados a candidatos regularmente inscritos e às legendas
partidárias, conforme dispõe a Lei nº 9.504/1997, art. 5º. Noutras palavras, o quociente eleitoral é o
resultado da divisão entre o número de votos válidos apurados na eleição proporcional (tanto os
nominais quanto os de legenda) pelo número de vagas da Casa Legislativa, conforme estabelece o
artigo 106 do Código Eleitoral (Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965). O resultado dessa operação
define a quantidade de votos válidos necessários para se eleger pelo menos um candidato por uma
legenda partidária.

Cálculo do quociente eleitoral. Exemplo das eleições de 2020 para Vereador em Salvador1. Em
2020 existia cerca de 1,8 milhão de eleitores em Salvador, mas somente 1,4 milhão votou (400 mil
se abstiveram). Desse 1,4 milhão que votou, 200 mil votaram em “branco” ou “nulo”. Logo, os
1 Números arredondados para facilitar o entendimento.
votos considerados válidos foram 1,2 milhão. Considerando a eleição para o cargo de Vereador (43
vagas), o quociente eleitoral exigido para um partido (as coligações deixaram de existir para a
eleição proporcional) conquistar uma vaga na Câmara de Vereadores de Salvador é de,
aproximadamente, Qe = 27.906 votos: 1,2 milhão/43.

3.1.2 O quociente partidário. Definido o quociente eleitoral, o sistema proporcional prevê o


cálculo do quociente partidário, que definirá quantas vagas caberá a cada partido e/ou coligação. O
quociente partidário resulta da divisão entre o número de votos válidos sufragados a uma mesma
legenda partidária (tanto os nominais dados aos candidatos daquela legenda quanto os propriamente
de legenda) pelo quociente eleitoral anteriormente definido. Essa operação define o número de
representantes que a legenda elegerá.

Cálculo do quociente partidário. Exemplo das eleições de 2020 para Vereador em Salvador.
Considerando o quociente eleitoral de 27.906 votos, basta dividir o número de votos obtidos pelo
partido para saber quantos vereadores elegerá.

Usando como exemplo o Partido Avante, que teve 34.841 votos (sendo 3.630 votos de legenda),
dividindo-se esse valor pelo quociente eleitoral (27.906), conclui-se que o partido terá direito a 1
(uma) vaga: 34.841/27.906 = 1,24.
A candidata eleita pelo AVANTE foi DÉBORA SANTOS, com 7.586 votos.

Tomando como outro exemplo, o DEM, que teve 164.885 votos (sendo 41.927 votos de legenda),
conclui-se que o seu quociente partidário será 5,9 (cinco inteiros e nove décimos). Logo, o partido
terá direito a 5 vereadores pelo cálculo do quociente partidário (no total, o DEM elegeu 7
vereadores).

Os efeitos do sistema proporcional sobre os resultados da eleição. Em 2020, o vereador eleito


com menor votação foi MARCELO CASTILHO MAIA (PMN), com 3.460 votos. Contudo,
diversos candidatos obtiveram votação superior e não foram eleitos. Exemplos: ALBERTO VIANA
BRAGA (REPUBLICANOS, 7.516 votos); ORLANDO PEREIRA PALHINHA (DEM, 6.822
votos) Por que isso acontece? Porque os votos são direcionados aos partidos, distribuindo-se as
vagas a todos aqueles que atingiram o quociente eleitoral. A contagem dos votos inicia-se pelos
votos dados aos partidos; só depois é que se verifica a lista dos mais votados de cada partido. Veja-
se que os referidos candidatos teriam maior chance de serem eleitos caso tivessem disputado a
eleição por outro partido.

3.1.3 Da proibição das coligações e da exigência de votação mínima.

Da proibição de coligações para as eleições proporcionais. Desde 2020 foi proibida a coligação
partidária para eleições proporcionais. Deste modo, o quociente eleitoral passará a ser calculado
apenas considerando os resultados obtidos pelos partidos individualmente.

Da exigência de 10% do quociente eleitoral para a eleição (art. 108 do Código Eleitoral). Para
se eleger, o candidato tem que atingir, pelo menos, 10% (dez por cento) do quociente eleitoral, para
evitar a eleição de candidato sem representatividade, beneficiado com os votos do demais
candidatos do partido.

O Caso Enéas Carneiro. Em 2002, Enéas Carneiro candidatou-se a deputado federal por São
Paulo, obtendo a maior votação da história brasileira, até então, para aquele cargo: cerca de 1,5
milhão de votos. Seu partido (PRONA) obteve votos suficientes para, através do sistema
proporcional, eleger mais 5 (cinco) deputados federais, sendo que um deles teve apenas 275 votos.
3.2 Os sistemas de voto em lista aberta e lista fechada

O voto em lista aberta. Considerando que as vagas conquistadas pelos partidos ou coligações
partidárias são definidas pelos eleitores, observando-se a ordem de votação nominal obtida por cada
candidato individualmente, pode-se concluir que o sistema eleitoral adotado nas eleições para
deputados e vereadores no Brasil é o sistema eleitoral proporcional de lista aberta.

O sistema de voto proporcional em lista aberta não permite aos partidos políticos o controle sobre a
distribuição das cadeiras em disputa nas eleições para o parlamento. Nesse sistema, os eleitores
escolhem diretamente os candidatos que desejam eleger, por afinidades ideológicas ou por outras
razões de natureza pessoal.

O voto em listas partidárias preordenadas (ou lista fechada)

No sistema de voto em listas partidárias preordenadas (ou lista fechada) é apresentada ao eleitor
uma lista ordenada com os candidatos elegíveis ao pleito e, nesse caso, o eleitor votaria apenas na
legenda partidária e não nos candidatos. O sistema de listas fechadas representaria uma economia
significativa no financiamento público das campanhas, uma vez que não existiriam disputas entre os
candidatos de um mesmo partido a serem resolvidas pelos eleitores. Além de menos oneroso aos
cofres públicos, o sistema eleitoral de listas fechadas também facilita o controle do repasse de
verbas públicas.

4 O SISTEMA ELEITORAL MISTO

O sistema eleitoral misto nada mais é do que um modelo em que parte dos deputados é eleita pelo
voto proporcional e parte pelo voto majoritário. Com isso, busca-se mitigar as desvantagens dos
dois sistemas. Esse modelo não é adotado no Brasil.

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