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Interpretação

Perante a questão colocada, cumpre proceder à averiguação do preenchimento dos elementos típicos da incriminação.
(…problema em causa…). Estando assim perante um problema de interpretação da lei penal, associada ao princípio da
legalidade – em concreto, ao corolário da lei estrita (art. 29.º/1 e 3 CRP e art. 1.º CP). De acordo com o qual, só será
considerada típica a conduta que se encontre descrita na norma, numa clara articulação com os princípios da
segurança jurídica e da culpa. Em consequência, encontra-se vedado o recurso à analogia incriminadora em direito
penal (1.º/3 CP).

Desta forma, haverá que discernir os limites da interpretação proibida e permitida, aferindo se (problema em causa).
Para tal, devemos recorrer a dois critérios sugeridos pela doutrina.

O primeiro critério – sentido possível e previsível das palavras – reporta-se à conceção de interpretação sustentada
por Maria Fernanda Palma. Baseada em raciocínios analógicos, a delimitação da interpretação permitida em Direito
Penal que potencia a segurança jurídica e a conformidade com o artigo 1.º, n.º 3, do CP deve partir do sentido
possível das palavras (compreendido no quadro do seu sentido comunicativo comum), alicerçando-se ainda na
articulação desse sentido com a essência do proibido subjacente à norma criminal.

Esta conceção diferencia-se da tese sustentada, por exemplo, por Castanheira Neves, que utiliza um critério da
intencionalidade normativa típica. Sobre o qual sustenta ver nas palavras apenas uma exteriorização possível da
norma, cuja ideia do proibido pode, por isso, ser encontrada noutras proveniências. Recorrendo, dessa forma, à
análise de condições legais, dogmáticas, sistemáticas e institucionais.

Manuseando a primeira conceção descrita… critério do sentido possível das palavras + essência do proibido

Conceito Material de Crime

A questão levanta um problema de conceito material de crime.

1. Ver quem tem competência para dizer o que são crimes 165.º/1/c) CRP – assembleia da república, podendo
autorizar, todavia, ao governo. Se não tiver sido esse órgão, continuamos a resposta a dizer “admitindo que
tinha competência”.
2. Ver se a conduta é legitima de ser considerada como crime. Ver qual é o bem jurídico em causa e se há
necessidade de o criminalizar. Características da conduta:
– ver se há bem jurídico (noção MFP: condições essenciais de liberdade da pessoa e de
funcionamento do EDD; e teoria)
– ver se a conduta pode de alguma forma ter lesado ou potencialmente lesar o bem jurídico
(dignidade punitiva – tem de existir um bem jurídico e que a conduta que está em causa seja
suscetível de afetar aquele bem jurídico)
– necessidade da pena ou subsidiariedade do direito penal
Ver se há carência de tutela penal (se houver outra forma de proteger o bem jurídico sem ser o
direito penal não deve ser a via mais gravosa que é o direito penal) 18.º/2 CRP
3. Concluir. Se respeitar não há problema de constitucionalidade. Se não respeitar há um vicio de
inconstitucionalidade (pode ser formal, orgânico ou material)

Lei no tempo

1) Problema de lei no tempo. Enunciar o p da legalidade.


2) Enunciar o corolário – lei prévia: lei tem de ser anterior ao momento da prática do facto 29/1 e 3 crp + 1/1
cp
3) Regra 1 estipulada de acordo com este corolário: em princípio aplica-se a lei que estiver em vigor no
momento da prática do facto 29/1 e 3 crp + 2/1 cp + 3 cp
4) Ver o momento da prática do facto: art. 3 – momento em que o agente atuou (critério unilateral da conduta,
só interessa qd praticou o facto, qd atuou, independentemente de quando acontece o resultado. Isto por
motivos de segurança e culpa, ou seja, a pessoa tem de ter capacidade de se confrontar com a lei que existia
no momento em que atua e de se conformar com as consequências que a mesma implica)
5) Ver se existe uma lei posterior
6) Ver se a lei posterior é mais ou menos favorável *
7) 29/4 2.º parte crp + 2/2 cp por exigências de igualdade (tem de ser tratado de forma igual das pessoas que
serão punidas neste momento) e necessidade da pena (se o legislador vem dizer que afinal se aplica uma lei
mais favorável não faz sentido ser se mais gravemente punido)
* Regra 2 - Temos de aplicar retroativamente a lei mais favorável
Regra 3 -Não podemos aplicar retroativamente a lei menos favorável

Normas penais em branco

1. Definição normas penais em branco


a. Sentido amplo: que as define como aquelas em que se observa uma incompletude do tipo
incriminador, visto que a integralidade do comportamento proibido resulta da articulação de duas
normas
b. Sentido restrito: casos em que o preenchimento do sentido normativo se faz com recurso a uma
disposição de nível inferior.
1.1. Concretização
2. (Potenciais) problemas de constitucionalidade
a. Formal (165/1/c CRP) – por violação da reserva de lei
b. Orgânica (165/1/c CRP) – por definição dos elementos de crime através de órgão
constitucionalmente incompetente
c. Material → p. da legalidade penal (29/1 e 3 CRP)

Corolário: Lei certa (determinabilidade) – o recurso a normas penais em
branco poderá implicar uma insuficiente e imprecisa definição do
comportamento proibido, violando a exigência do corolário
3. Critérios TC para aferir se a norma sancionadora (remissiva) respeita, de forma cabal, a função de
determinação de condutas dos preceitos penais. Serão admissíveis as normas que contenham em si mesmas:
- o conteúdo material da ilicitude, permitindo identificar o bem jurídico
- a ação perigosa que se proíbe – desvalor da ação
- o resultado cuja produção se pretende evitar – desvalor do resultado
A norma complementar surge, quando muito, como mera quantificação/concretização da norma que contém
a ameaça de sanção penal
4. Se a norma em causa não fixar critérios novos ou autónomos de ilicitude → compatível com o princípio da
legalidade

Criminologia – estuda o crime como fenómenos sociais ou psico-sociais

Deficiência do individuo

LOMBROSO: olha para o crime como facto empírico e natural. Assume que há criminosos natos. O estudo da
fisiognomia levou a concluir que havia características físicas que levavam a ser-se criminoso.

Deficiência de socialização

MEAD: crime é resultado de uma interação da sociedade com a pessoa. A sociedade determina a construção das
conceções em si mesmo e a construção de significados (interacionismo simbólico). Pessoas agem com base nos
significados dados às coisas e a interpretação desses significados depende da situação social do individuo.

SUTHERLAND: crime explica-se pela intensidade, frequência e precocidade de certos contactos sociais.
Comportamento criminoso é aprendido com a interação entre as pessoas, num processo de comunicação – aprende-se
a ser criminoso e todos o podem ser. Teoria da associação diferencial: crime é fenómeno associativo, explica-se pelos
contactos sociais.

Deficiências da estrutura social

MERTON: explica o crime pelo desfasamento entre as metas sociais gerais e as vias para as alcançar. Esse
desfasamento geraria indiferença para com os valores e mecanismos de adaptação individual. Crime e a explicação do
comportamento criminoso residem nas deficiências da estrutura social. Agente seria vítima da estrutura socio-
cultural. Self-fulfilling prophecies – definição pelo grupo de predições acerca de um individuo leva a que o individuo
se adapte à “verdade social” criada sobre ele.

Produto de uma construção social

LABELLING APPROACH: crime é resultado de factos sociológicos que advêm de um processo de seleção social.
Intâncias formais de controlo // instâncias não formais de controlo. Perspectiva dos estigmas. Crime seria expressão
de um processo subjetivo-social de estigmação dos delinquentes e de seleção de verdadeiras carreiras criminosas.

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