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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO

TRIBUNAL FEDERAL

PARTIDO POLÍTICO XYZ, pessoa jurídica de direito privado, inscrito no CNPJ


sob nº ..., e no TSE sob nº..., devidamente representado pelo congresso
nacional, com sede na rua..., nº..., bairro..., cidade..., estado..., CEP..., vem,
por seu advogado infra-assinado, com escritório profissional na rua..., nº...,
bairro..., cidade..., estado..., CEP..., endereço onde recebe notificações e
intimações, com fundamento no art. 102, I, a, da Constituição da Republica,
c/c. o art. 1º da Lei nº 9.868/99, respeitosamente à presença de Vossa
Excelência propor

Ação Declaratória de Constitucionalidade,

Contra a Lei Estadual nº 10.171/2020, que determina que as eleições para


Prefeitos e Vereadores sejam realizadas em único turno no dia 20 de dezembro
de 2020 e proíbe toda e qualquer modalidade presencial de campanha por
parte dos candidatos.

I – DOS FATOS

O Senhor Governador do Estado do Paraná sancionou a Lei nº 10.171 de


2020. A referida Lei foi publicada no Diário Oficial do Estado no dia 30 de junho
de 2020.
As disposições contidas na mencionada lei destinam-se a promover novo
cronograma eleitoral no âmbito do referido Estado devido a pandemia COVID-
19. A lei trata basicamente dos seguintes assuntos:

Que as eleições para Prefeitos e Vereadores serão realizadas em único turno,


no dia 20 de dezembro de 2020, em todos os 399 Municípios do mencionado
Estado; e

A proibição de qualquer modalidade presencial de campanha por parte dos


candidatos;

Nota-se, que a Lei Estadual nº 10.171/2020, tem como objetivo principal a


reformulação do processo eleitoral.

Por tais razões, o Partido XYZ serve-se da presente Ação Direta de


Inconstitucionalidade com pedido de medida liminar, para requerer, primeiro a
imediata suspensão dos efeitos da lei e, ao final, que seja declarada a
inconstitucionalidade da Lei estadual 10.171, de 2020.

III - DA LEGITIMIDADE ATIVA E DA PERTINÊNCIA TEMÁTICA

A Constituição da Republica Federativa do Brasil, em seu art. 103, VIII, e


art. 2º, inciso VIII, da Lei nº 9.868/99, traz que os partidos políticos que
possuem representação no Congresso Nacional são legitimados a propor ação
direta de inconstitucionalidade, vejamos:

Art. 103. Podem propor a ação direta de


inconstitucionalidade e a ação declaratória de
constitucionalidade:

VIII - partido político com representação no


Congresso Nacional;

O Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Mendes, em sua obra “Curso de


Direito Constitucional”, 10ª edição, p.1160, ensina:

(...) A exigência de que o partido esteja representado


no Congresso Nacional acaba por não conter
qualquer restrição, uma vez que suficiente se afigura
a presença de uma representação singular para que
se satisfaça a exigência constitucional.

Em se tratando da pertinência temática, novamente citando o Senhor Ministro


do Supremo Tribuna Federal Gilmar Mendes, ele nos ensina que “a relação de
pertinência se assemelha muito ao estabelecimento de uma condição de ação
– análoga, talvez, ao interesse de agir do processo civil”. E sobre o tema, a
jurisprudência desse Supremo Tribunal não exige dos Partidos Políticos a
demonstração da pertinência com a atividade de representação, vejamos:

“(...) Os Partidos Políticos, desde que possuam


representação no Congresso Nacional, podem, em
sede de controle abstrato, arguir, perante o Supremo
Tribunal Federal, a inconstitucionalidade de atos
normativos federais, estaduais ou
distritais, independentemente de seu conteúdo
material, eis que não incide sobre as agremiações
partidárias a restrição jurisprudencial derivada do
vínculo de pertinência temática (ADI nº 1.407-MC,
Rel. Min. Celso de Mello, Plenário, DJ 24.11.2000).
(Grifos nossos)

Assim, os partidos políticos, conforme entendimento desse Supremo Tribunal


Federal, não precisam demonstrar pertinência temática para a propositura da
presente ação.

Logo, o Partido Político XYZ detém a Legitimidade Ativa Universal para o


exercício da iniciativa do pedido do controle abstrato de constitucionalidade.

IV – DO FORO COMPETENTE

A Constituição Federal, em seu artigo 102, I, alínea a, estabelece:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal


Federal, precipuamente, a guarda
da Constituição, cabendo-lhe:

I - Processar e julgar, originariamente:

A ação direta de inconstitucionalidade de lei


ou ato normativo federal ou estadual (…);

A competência, portanto, para o processamento e julgamento desta ação de


forma originária é da Suprema Corte.

II. DO CABIMENTO DA ADI

A presente Ação de Inconstitucionalidade visa demonstrar a


inconstitucionalidade formal subjetiva da Lei Estadual nº 10.171 de 2020, por
invasão de competência privativa da União para legislar sobre direito
processual eleitoral (art. 22, inc. I, da Constituição da Republica e art.), violação
a princípio da anterioridade eleitoral (art. 16, da CRFB/88) e a
inconstitucionalidade material (art. 29, I e II, da CRFB/88).
Nota-se que no presente caso, é cabível a Ação, pois a mencionada Lei
Estadual padece de inconstitucionalidade por afrontar diretamente dispositivos
da Constituição Federal como será demonstrado a seguir.

V – DO OBJETO DA PRESENTE AÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE

A Constituição da Republica traz que podem ser impugnados por ação direta
de inconstitucionalidade, nos termos do art. 102, I, a, primeira parte,
da CRFB/88, “lei ou atos normativos federais ou estaduais”.

O Excelentíssimo Senhor Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar


Mendes, em sua obra “Curso de Direito Constitucional”, 10ª edição, p.1165,
explica que:

Devem ser considerados leis ou atos


normativos estaduais, podendo ser objeto
somente de ação direta de
inconstitucionalidade:

(...) Leis estaduais editadas para regulamentar


matéria de competência exclusiva da
União (CF, art. 22, parágrafo único).

Busca-se com a presente ação a declaração de inconstitucionalidade de Lei


Estadual nº 10.171/2020.

VI. DA LEI ESTADUAL IMPUGNADA

VI.a DA INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL

A Lei impugnada é formalmente inconstitucional.

O art. 22, I, da Constituição dispõe


que “compete privativamente à União legislar
sobre direito processual e eleitoral”.

A matéria objeto da Lei nº 10.171/2020 é de cunho processual eleitoral, pois


determina que as eleições para Prefeitos e Vereadores serão realizadas em
turno único no dia 20 de dezembro de 2020. O que configura invasão de
competência privativa da União, configurando assim sua inconstitucionalidade
formal.

Nesse sentido, eis a jurisprudência desse Supremo Tribunal:

E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE –


LEGISLAÇÃO ESTADUAL QUE INSTITUI EXIGÊNCIA DE
DEPÓSITO RECURSAL NO VALOR DE 100% DA
CONDENAÇÃO COMO PRESSUPOSTO DE INTERPOSIÇÃO
DE QUALQUER RECURSO NO ÂMBITO DOS JUIZADOS
ESPECIAIS CÍVEIS DO ESTADO DE PERNAMBUCO –
REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL: TÍPICA
MATÉRIA DE DIREITO PROCESSUAL – TEMA SUBMETIDO AO
REGIME DE COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO ( CF,
ART. 22, INCISO I)– USURPAÇÃO, PELO ESTADO-MEMBRO,
DA COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO FEDERAL PARA
LEGISLAR SOBRE DIREITO PROCESSUAL – OFENSA AO
ART. 22, I, DA CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA –
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL DECLARADA – AÇÃO
DIRETA JULGADA PROCEDENTE. – Os Estados-membros e o
Distrito Federal não dispõem de competência para legislar sobre
direito processual, eis que, nesse tema, que compreende a
disciplina dos recursos em geral, somente a União Federal –
considerado o sistema de poderes enumerados e de repartição
constitucional de competências legislativas – possui atribuição
para legitimamente estabelecer, em caráter de absoluta
privatividade ( CF, art. 22, n. I), a regulação normativa a propósito
de referida matéria, inclusive no que concerne à definição dos
pressupostos de admissibilidade pertinentes aos recursos
interponíveis no âmbito dos Juizados Especiais. Precedentes. –
Consequente inconstitucionalidade formal (ou orgânica) de
legislação estadual que haja instituído depósito prévio como
requisito de admissibilidade de recurso voluntário no âmbito dos
Juizados Especiais Cíveis. Precedente: ADI XXXXX/AL, Rel. Min.
CÁRMEN LÚCIA. (ADI 2699 / PE - Órgão julgador: Tribunal
Pleno, Relator (a): Min. CELSO DE MELLO, Julgamento:
20/05/2015, Publicação: 10/06/2015)

Veja-se Excelência, a mencionada lei que legisla sobre direito processual e


eleitoral viola frontalmente a Constituição.

VI. b DA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL

Ainda que se pudesse superar a questão de inconstitucionalidade formal da Lei


Estadual nº 10.171/2020, o que não se dá na espécie, sua invalidade
constitucional há de ser declarada, pelo vício material de que se acha
contaminada.

O artigo 29, I e II da Constituição, traz que:

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica,


votada em dois turnos, com o interstício mínimo de
dez dias, e aprovada por dois terços dos membros
da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos
os princípios estabelecidos nesta Constituição,
na Constituição do respectivo Estado e os seguintes
preceitos:

I – eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos


Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante
pleito direto e simultâneo realizado em todo o País;

II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada


no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao
término do mandato dos que devam suceder,
aplicadas as regras do art. 77, no caso de
Municípios com mais de duzentos mil eleitores;

Nota-se que o dispositivo é bem claro ao definir que o primeiro turno das
eleições municipais para Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores deve acontecer,
de quatro em quatro anos, sempre no primeiro domingo de outubro do ano
anterior ao término do mandato dos que devam suceder. Portanto, a Lei
Estadual nº 10.171/2020 viola também matéria regulada pela Constituição
Federal. Matéria essa que também já foi complementada por Lei Federal nº 9.
504 de 1997, que determina:

Art. 1º As eleições para Presidente e Vice-


Presidente da República, Governador e Vice-
Governador de Estado e do Distrito Federal, Prefeito
e Vice-Prefeito, Senador, Deputado Federal,
Deputado Estadual, Deputado Distrital e Vereador
dar-se-ão, em todo o País, no primeiro domingo de
outubro do ano respectivo.

Sobre o tema, eis a jurisprudência dessa Suprema Corte:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI DISTRITAL


3.916/2006. REGULAMENTA O EXERCÍCIO DE ATIVIDADES
PROFISSIONAIS. CABELELEIRO, MANICURO, PEDICURO,
ESTETICISTA E PROFISSIONAIS DE BELEZA. OFENSA AOS
ARTS. 21, XXIV, e 22, I E XVI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. I - São inconstitucionais
normas locais que tratam de matérias de competência privativa da
União. II - Lei distrital que reconhece e regulamenta o exercício
profissional das atividades de cabeleireiro, manicuro, pedicuro,
esteticista e profissional de beleza. III - Afronta o disposto nos
arts. 21, XXIV, e 22, I e XVI, da Constituição Federal. IV – Ação
direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
(STF - ADI: 3953 DF - DISTRITO FEDERAL XXXXX-
29.2007.1.00.0000, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI,
Data de Julgamento: 27/04/2020, Tribunal Pleno, Data de
Publicação: DJe-119 14-05-2020)

Ademais, já existem propostas no Congresso Nacional, no sentido de prorrogar


os mandatos dos atuais Prefeitos, Vice-Prefeitos e Vereadores até 2022.
Sendo assim, a justificativa do Senhor Governador, de que a justificativa para o
sancionamento da referida Lei seria a pandemia COVID-19, não merece
prosperar, uma vez que o Congresso já vem tratando sobre o assunto de forma
prioritária.

Desse modo, a Lei Estadual nº 10.171/2020, padece de inconstitucionalidade.

VI. c DA VIOLAÇÃO AO ARTIGO 16 DA CRFB/88

Mesmo, que Vossa Excelência entendesse de que não haveria violação aos
mencionados dispositivos da Constituição, a Lei Estadual não poderia ser
aplicada nas eleições de 2020, por desrespeitar também o art. 16 da Carta
Magna. O referido artigo determina que:

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará


em vigor na data de sua publicação, não se
aplicando à eleição que ocorra até um ano da data
de sua vigência.

Assim, a lei que alterar processo eleitoral, deve respeitar o princípio da


anterioridade, pois caso contrário haverá uma instabilidade na segurança
jurídica pátria.

A jurisprudência desse Supremo Tribunal é no sentido de:

A competição eleitoral se inicia exatamente um ano antes da data das eleições


e, nesse interregno, o art. 16 da Constituição exige que qualquer modificação
nas regras do jogo não terá eficácia imediata para o pleito em curso. (...) A
jurisdição constitucional cumpre a sua função quando aplica rigorosamente,
sem subterfúgios calcados em considerações subjetivas de moralidade, o
princípio da anterioridade eleitoral previsto no art. 16 da Constituição, pois essa
norma constitui uma garantia da minoria, portanto, uma barreira contra a
atuação sempre ameaçadora da maioria.

[ RE 633.703, rel. min. Gilmar Mendes, j. 23-3-2011, P, DJE de XXXXX-11-


2011, Tema 387.]

Vide RE 631.102 ED, rel. p/ o ac. min. Dias Toffoli, j. 14-12-2011, P, DJE de
XXXXX-5-2012, Tema 367)
Como se vê, a Suprema Corte é no sentido de que as modificações na
legislação processual eleitoral é de que não terão eficácia imediata.

O Dr. Marcus Vinicius Furtado Coelho, ex-Presidente Nacional da Ordem dos


Advogados do Brasil, também explica, em matéria fornecida ao Boletim de
notícias [1], que:

(...) permitir modificações casuísticas na legislação que


disciplina a disputa eleitoral levaria à perpetuação dos
mandatários que já estão no poder, uma vez que disporiam
dos mecanismos para mudar as regras ao sabor de suas
conveniências.

Ele também acrescenta:

(...) a lei que alterar o processo eleitoral seja inaplicável ao


pleito a ocorrer dentro de um ano da data de publicação,
diferindo a eficácia, o dispositivo protege a um só tempo os
candidatos e os eleitores. Para surtir efeitos na eleição
imediatamente subsequente, a nova legislação deve entrar
em vigor até um ano antes do primeiro domingo do mês de
outubro do ano eleitoral, na forma do artigo 1º da
Lei 9.504/97.

Assim, a Lei Estadual 10.171/2020, não pode ser aplicada nas eleições de
2020, por violação ao princípio da anterioridade eleitoral e ao princípio da
segurança jurídica e o que faria por gerar sua inconstitucionalidade também
aqui.

VII – DA MEDIDA LIMINAR

O artigo 300 do Código de Processo Civil estabelece “a tutela de urgência será


concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito
e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.”

A probabilidade do direito pode ser verificada nas violações, pela Lei Estadual,
aos dispositivos mencionados da Constituição Federal. Portanto, a relevância
dos fundamentos jurídicos, autoriza a concessão da medida liminar no presente
caso, a fim de proceder-se à interpretação conforme a Carta Magna.

No que tange perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, conforme


salientado na presente peça, a referida lei objeto desta Ação Direta de
Inconstitucionalidade, terá incidência na próxima eleição – 20 de dezembro de
2020, ou seja, dentro de alguns meses, necessário, portanto que seja
concedido a medida liminar.

VII- DOS PEDIDOS:


Ante o exposto, requer:

Em LIMINAR, a suspensão dos efeitos da Lei Estadual de nº 10.171/2020;

Caso o relator julgue indispensável, a oitiva do Advogado-Geral da União e o


Procurador-Geral da República, conforme determina o art. 10, § 1º, da
Lei 9.868/99;

Concedida a liminar, requer que seja o Estado, na pessoa de seu


representante, intimado a dar-lhe cumprimento;

Após, seja citado, na pessoa do Procurador-Geral do Estado para, querendo,


contestar;

A intimação do Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral da República


para que se manifestem sobre o teor da ação, conforme determina o art. 8º, da
Lei 9.868/99;

No mérito, requer a procedência do pedido para que seja declarada


inconstitucional a Lei Estadual nº 10.171/2020;

Dá-se à causa o valor de R$ ...

Nesses termos,
pede deferimento.
Local..., data....
Advogado
OAB Nº...

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