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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.20.058352-4/001 Númeração 0583532-


Relator: Des.(a) Maurício Soares
Relator do Acordão: Des.(a) Maurício Soares
Data do Julgamento: 11/02/2021
Data da Publicação: 19/02/2021

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - MANDADO DE SEGURANÇA -


ESTADO DE MINAS GERAIS - CAPTAÇÃO E USO DE ÁGUA
SUPERFICIAL PARA FINS DE IRRIGAÇÃO - PROCESSO DE OUTORGA --
MOROSIDADE EXCESSIVA NA ANÁLISE DE REQUERIMENTO
ADMINISTRATIVO - CONDUTA OMISSIVA - ILEGALIDADE - DECISÃO
MANTIDA.

- Para o deferimento do pedido liminar em sede de mandado de segurança, é


necessário que a parte impetrante demonstre o preenchimento concomitante
dos dois requisitos estabelecidos no art. 7º, inciso III, da Lei n. 12.016/09,
quais sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora.

- Decorrido mais de um ano desde que iniciado o processo administrativo de


outorga de utilização de recursos hídricos, sem que tenha sido concluído
pela Administração Pública, resta evidenciada a omissão das autoridades
competentes pelo processamento e apreciação do pleito.

- O periculum in mora consiste no risco de comprometer o próprio exercício


das atividades da agravada, empresa do ramo de exploração mineral.

AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0000.20.058352-4/001 - COMARCA


DE NOVA SERRANA - AGRAVANTE(S): ESTADO DE MINAS GERAIS -
AGRAVADO(A)(S): DRAGA MAJOLA LTDA - ME

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 3ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de

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Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,


em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. MAURÍCIO SOARES

RELATOR.

DES. MAURÍCIO SOARES (RELATOR)

VOTO

Trata-se de agravo de instrumento interposto pelo Estado de Minas


Gerais em razão de decisão proferida pelo MM. Juiz de Direito da 2ª Vara
Cível da Comarca de Nova Serrana, nos autos do mandado de segurança
impetrado por Draga Majola Ltda.-ME contra ato Superintendente da
SUPRAM Regional Alto São Francisco.

A decisão agravada deferiu o pedido liminar formulado no mandamus,


determinando à autoridade coatora que garanta ao impetrante, ora agravado,
no prazo de 30 dias, contados da intimação de tal decisão, "o direito de ter
seu pedido administrativo sob o n. 9197/2018 decidido" (ordem n. 33).

Insurge-se o agravante contra tal decisão alegando, em suas razões


recursais, que: a) não há fumus boni iuris; b) a ilegitimidade ativa da
agravada, posto que o processo de outorga de n. 9197/2018 possui como
titular Carlos Rodrigues e Silva EPP, o que impõe a extinção do feito, com
fulcro no art. 485, VI, do CPC e c) a ilegitimidade passiva do Superintendente
Regional do Meio Ambiente do Alto São Francisco - SUPRAM-ASF, uma vez
que o processo administrativo mencionado pela agravada nas razões do
mandamus

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possivelmente tramita junto a Unidade Regional de Gestão de Águas do Alto


São Francisco - URGA-ASF, órgão do Instituto Mineiro de Gestão de Águas -
IGAM, em razão da sua atribuição legal para o controle e monitoramento dos
recursos hídricos.

Pugna pela atribuição de efeito suspensivo e, ao final, pelo provimento do


recurso para reformar a decisão agravada para indeferir o pedido liminar.

Dispensado o preparo, com fulcro no art. 1.007, § 1º, do CPC.

O pedido liminar recursal foi indeferido (ordem n. 39).

Contrarrazões apresentadas (ordem n. 40).

A douta Procuradoria de Justiça apresentou parecer manifestando-se


pelo acolhimento na preliminar de ilegitimidade passiva e, caso seja
rejeitada, pelo desprovimento do recurso (ordem n. 43).

É o relatório.

O presente recurso cumpre as exigências dos art. 1.016 e 1.017 do CPC,


é cabível e tempestivo, dispensado o preparo, nos termos do art. 1.007, § 1º,
do CPC. Destarte, presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço
do recurso.

O agravante suscitou, preliminarmente, a ilegitimidade ativa da agravada,


posto que o processo de outorga de n. 9197/2018 possui como titular Carlos
Rodrigues e Silva EPP, o que impõe a extinção do feito, com fulcro no art.
485, VI, do CPC.

Com efeito, basta a mera leitura da exordial e dos documentos que


instruíram o feito para constatar que o ato administrativo omissivo impugnado
no writ é a ausência de apreciação do processo n. 17858/2019, restando
evidenciado que a menção ao processo n. 9197/2018 no momento de
formulação dos pedidos da petição inicial, bem como na decisão agravada
trata-se de mero erro material.

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Destarte, rejeito a preliminar de ilegitimidade ativa.

O agravante alegou ainda, em sede preliminar, a ilegitimidade passiva do


Superintendente Regional do Meio Ambiente do Alto São Francisco -
SUPRAM-ASF, sob o fundamento de que o processo administrativo
mencionado pela agravada nas razões do mandamus possivelmente tramita
junto a Unidade Regional de Gestão de Águas do Alto São Francisco - URGA
-ASF, órgão do Instituto Mineiro de Gestão de Águas - IGAM, em razão da
sua atribuição legal para o controle e monitoramento dos recursos hídricos.

Da análise dos autos de origem através do Sitema PJe verifica-se que,


após a apresentação das informações pela autoridade coatora, bem como da
manifestação do agravado informando a impossibilidade de cumprimento da
medida liminar, sob o fundamento de compete ao IGAM, através da URGA-
ASF a atividade de análise do processo de outorga e não à SUPRAM Alto
São Francisco, o agravado pugnou pela inclusão do Coordenador da
Unidade Regional de Gestão de Águas do Alto São Francisco URGA-ASF no
polo passivo da demanda, o que foi deferido pelo MM. Juiz.

Destarte, considerando a integração da lide deferida em primeira


instância, com a inclusão no polo passivo do Coordenador da Unidade
Regional de Gestão de Águas do Alto São Francisco - URGA-ASF
depreende-se que a preliminar suscitada será oportunamente apreciada,
após a manifestação da autoridade coatora apontada como competente.

À luz de tais considerações, restou prejudicada a análise da preliminar de


ilegitimidade passiva, posto que já deduzida no feito de origem e pendente
de apreciação, sob pena de supressão de instância.

Quanto ao mérito propriamente dito, consistindo a controvérsia na análise


do acertamento da decisão proferida pelo Juízo a quo, que deferiu o pedido
liminar formulado pelo agravante no mandamus de origem, incumbe a este
Juízo ad quem averiguar se estão presentes os

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requisitos indispensáveis à concessão da medida deferida em primeira


instância.

Para o deferimento do pedido liminar em sede de mandado de


segurança, mostra-se imprescindível o preenchimento concomitante dos dois
requisitos estabelecidos pelo art. 7º, inciso III, da Lei n. 12.016/09, quais
sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora.

Pois bem.

Com efeito, a outorga de direito de uso de recursos hídricos é um ato


administrativo por meio do qual o poder público (outorgante) assegura ao
requerente (outorgado) o direito de utilizar recursos hídricos, por prazo
determinado, nos termos e nas condições expressas no respectivo ato.

Em sede de análise sumária dos autos, típica de agravo de instrumento,


resta evidenciada a aparente conduta omissiva da autoridade coatora,
consistente na mora em concluir o processo administrativo de outorga n.
17858/2019, formalizado pelo agravado junto a SUPRAM-ASF, no dia
05/02/2019, para fins de dragagem em curso d'água e cava aluvionar para
exploração de bens minerais, sem qualquer resposta até o ajuizamento do
feito de origem, que se deu em 20/12/2019.

Portanto, a princípio, é possível constatar a probabilidade do direito


alegado pela agravada no que tange à apreciação do requerimento
administrativo por ela deduzido perante a Administração Pública, posto que,
decorrido mais de um ano desde a instauração do processo administrativo
sem sua apreciação pelas autoridades competentes para tanto.

Noutro vértice, o periculum in mora, conforme consignado pela agravada


na exordial, consiste no fato de a empresa ser do ramo de exploração
mineral, sendo necessária a outorga requerida para a manutenção das suas
atividades.

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Destarte, presentes os requisitos necessários deve ser mantida


inalterada a decisão agravada.

Isso posto, NEGO PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO.

Custas recursais pelo agravante, isento de pagamento, com fulcro no art.


10, da Lei estadual n. 14.939/03.

É como voto.

JD. CONVOCADA LUZIA PEIXÔTO - De acordo com o(a) Relator(a).

DESA. ALBERGARIA COSTA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO"

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