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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.18.044585-0/001 Númeração 5005526-


Relator: Des.(a) Roberto Vasconcellos
Relator do Acordão: Des.(a) Roberto Vasconcellos
Data do Julgamento: 30/08/0018
Data da Publicação: 31/08/2018

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - PROCESSO


FÍSICO - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - IMPLANTAÇÃO DO
PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO - PJE - OBSERVÂNCIA AO
DISPOSTO NO ART. 4º, § 1º, III, DA PORTARIA CONJUNTA Nº
411/PR/2015 - JUÍZO COMPETENTE - AQUELE EM QUE TRAMITOU O
PROCESSO DE CONHECIMENTO - NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA
AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL.

- Nos termos do disposto no art. 4º, § 1º, III, da Portaria Conjunta nº


411/PR/2015, a partir da inauguração do Sistema PJe, nas comarcas do
Estado de Minas Gerais em que não há a implantação da CENTRASE, o
Cumprimento de Sentença proferida em processo que se iniciou por meio
físico deverá ser processado através do sistema eletrônico, perante o Juízo
em que tramitou o Feito de Conhecimento, sob pena de ofensa ao Princípio
do Juiz natural.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.18.044585-0/001 - COMARCA DE UBERABA -


APELANTE(S): BANCO DO BRASIL S.A. - APELADO(A)(S): LUVIK DO
BRASIL LTDA. - EPP.

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 17ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em dar provimento ao Apelo e, de ofício, remeter os autos ao Juízo da 5ª
Vara Cível de Uberaba.

DES. ROBERTO SOARES DE VASCONCELLOS PAES

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RELATOR.

DES. ROBERTO SOARES DE VASCONCELLOS PAES (RELATOR)

VOTO

Trata-se de Apelação interposta pelo BANCO DO BRASIL S/A em razão


da Sentença colacionada sob o cód. 05, prolatada pelo MM. Juiz da 3ª Vara
Cível de Uberaba, que, nos autos da Ação de Cobrança, em fase de
Cumprimento de Sentença, ajuizada contra LUVIK DO BRASIL LTDA.-EPP,
julgou extinto o feito, sem resolução de mérito, nos seguintes termos:

"Vistos, etc.

Ciente da certidão de triagem ID 22618623.

Versam os autos sobre CUMPRIMENTO DE SENTENÇA postulado por


BANCO DO BRASIL em face de LUVIK DO BRASIL LTDA. - EPP e
OUTRAS. Pretende dar início aos atos expropriatórios para recebimento dos
valores atinentes a condenação imposta nos autos do processo de nº
0701.13.041-927-1, em trâmite perante a 5ª Vara Cível da Comarca de
Uberaba.

Sabe-se que a partir da implantação do PJE, que se deu em 29/02/2015, a


distribuição deverá ser promovida por meio eletrônico. Entretanto, no caso
alhures, pretendendo o cumprimento de sentença prolatada por OUTRO
JUÍZO, em processo físico (0701.13.041-927-1), tenho que, o pedido deverá
ser formulado perante aquele juízo e nos

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próprios autos da ação de conhecimento.

Nesse ínterim, por orientação da CJG a parte deverá promover aos atos
necessários ao prosseguimento do feito (liquidação de sentença e
cumprimento de sentença), sejam eles provisórios ou definitivos, também de
forma física.

Aliás, não há que se falar na aplicação do art. 4º, III da Portaria 411/PR/2015,
posto que, as ações propostas até a data da implantação do PJE continuarão
tramitando em meio físico, até baixa definitiva. Sabe-se que a possibilidade
de distribuição do cumprimento de sentença ou execução de sentença, com
base na Resolução 805/2015, aplica-se SOMENTE a CENTRASE, vara
especializada criada na Comarca de Belo Horizonte. Não há na Comarca de
Uberaba vara especializada para cumprimento de sentença, logo, estes
devem ser PROTOCOLADOS nos próprios autos da ação de conhecimento.

Ante ao exposto, JULGO EXTINTO O FEITO, com fundamento no art. 485,


IV do NCPC.

Sem Custas.

Após o trânsito em julgado, arquive-se com baixa.

P.R.I." (cód. 05 - Destaques do original).

Em seu Apelo (cód. 07), o Autor argumenta que o MM. Juiz extinguiu o
presente feito, sem resolução do mérito, em razão deste Cumprimento de
Sentença ter sido distribuído por meio eletrônico, e o Processo de
Conhecimento ter tramitado fisicamente. Pondera que o Juízo da 5ª Vara
Cível de Uberaba, onde tramitou o feito de origem, consignou que o
Cumprimento de Sentença deveria se dar de forma eletrônica, pelo que
remanesceu configurado um Conflito Negativo de Competência entre os
Magistrados. Pugna pelo provimento do Apelo,

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com a cassação a r. Sentença, a fim de que o Cumprimento da Sentença por


ele aviado seja recebido pelo sistema PJe.

Apesar de devidamente intimado, a Recorrida não apresentou


Contrarrazões, conforme certificado sob o cód. 14.

É o relatório.

Decido:

Inicialmente, registro que, para a admissibilidade do presente Recurso,


deve ser observado o regramento contido no Novo Código de Processo Civil,
tendo em vista a data da publicação da Decisão motivadora da sua
interposição e a regra constante do art. 14, da Lei nº 13.105/2015:

"Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente


aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as
situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.".

Nesse sentido é o Enunciado nº 54, divulgado pela 2ª Vice-Presidência


deste Col. Tribunal de Justiça:

"54. A legislação processual que rege os recursos é aquela da data da


publicação da decisão judicial, assim considerada sua publicação em
cartório, secretaria ou inserção nos autos eletrônicos.".

Feitas tais considerações, conheço do Recurso, porque próprio,

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tempestivo (códs. 05 e 07) e devidamente preparado (códs. 08 e 10).

Em consulta ao sítio eletrônico deste Eg. Tribunal de Justiça, verifiquei


que o BANCO DO BRASIL S/A ajuizou, perante o Juízo da 5ª Vara Cível de
Uberaba, a Ação de Cobrança de nº 0701.13.041927-1, em desfavor de
LUVIK DO BRASIL LTDA.- EPP e outros, processo esse que tramitou por
meio de autos físicos, tendo sido prolatada Sentença, julgando procedente o
pedido inicial formulado pelo Autor, nos seguintes termos:

"III - Dispositivo:

Pelo exposto, julgo procedente o pedido contido na petição inicial para


condenar a parte requerida 01 a 03, de forma solidária, a pagar à parte
autora, o valor de R$ 133.933,21 (cento e trinta e três mil, novecentos e trinta
e três reais, vinte e um centavos), com correção monetária através do índice
adotado pela Corregedoria Geral de Justiça, a partir de 30/10/2013, e, a
incidência de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação de f. 112, em
20/12/2013, e, em consequência, extingo o processo, com resolução do
mérito, nos termos do art. 269, I, do CPC.

Fixo honorários advocatícios a serem pagos pela Parte Promovida 01 a 03,


de forma solidária, em face da Parte Promovente, no importe de 10% do
valor da condenação.

Custas a serem pagas pela Parte Promovida 01 a 03, solidariamente.

Publicar. Registrar. Intimar.

U b e r a b a , 1 4 d e J a n e i r o d e 2 0 1 6 . "
(http://www4.tjmg.jus.br/juridico/sf/proc_movimentacoes.jsp?comrCodigo=701
&numero=1&listaProcessos=13041927 - Destaques do original).

O referido "decisum" transitou em julgado, tendo o Autor iniciado o


Cumprimento de Sentença, por meio de simples petição nos autos

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físicos de nº 0701.13.041927-1.

Entretanto, o MM. Juiz da 5ª Vara Cível de Uberaba, em 20/04/2017,


indeferiu o processamento do Cumprimento de Sentença, em autos físicos,
sob o seguinte fundamento:

"Vistos, etc...

Trata-se de pedido de cumprimento de sentença.

Em consonância com o art. 4º, § 1º, III, do Provimento Conjunto nº


411/PR/2015, o cumprimento de sentença deverá ser inaugurado via Sistema
PJe.

Isto Posto, indefiro o pedido de fl. 137.

Sem custas, ao arquivo com baixa." (cód. 09 - Destacamos).

O art. 4º, § 1º, III, da Portaria Conjunta nº 411/PR/2015, dispõe que:

"Art. 4º A partir da implantação do Sistema PJe nas comarcas do Estado de


Minas Gerais, o recebimento de petição inicial ou intermediária relativas aos
processos que nele tramitam somente poderá ocorrer no meio eletrônico
próprio do Sistema ou conforme o disposto no art. 67 desta Portaria
Conjunta, exceto nas situações previstas para peticionamento fora do
sistema.

§ 1º As ações propostas até a data da implantação do Sistema PJe


continuarão tramitando em meio físico ou pelo Sistema Projudi, inclusive os
respectivos incidentes processuais e as ações conexas, ainda que
distribuídos por dependência posteriormente àquela data, exceto quando:

(...)

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III - se tratar de cumprimento ou execução de sentença, observado, inclusive


nas comarcas que não possuem Central de Cumprimento de Sentença -
CENTRASE implantada, o procedimento disposto nos Anexos da Portaria
Conjunta da Presidência nº 529, de 18 de julho de 2016, e do Provimento da
Corregedoria-Geral de Justiça nº 331, de 24 de agosto de 2016, ressalvados
os feitos de competência dos Juizados Especiais." (Destacamos).

Pelo supracitado artigo, percebe-se que o Cumprimento de Sentença,


mesmo nas Comarcas em que não há a CENTRASE implantada (como é o
caso de Uberaba), deverá ser processado na forma eletrônica, como
acertadamente o Apelante o fez, ao iniciar tal fase processual nestes autos
de nº 5005526-61.2017.8.13.0701, dos quais se originou o presente Apelo.

Apropositadamente:

"EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.


AÇÃO ORDINÁRIA PROCESSADA EM AUTOS FÍSICOS. TRAMITAÇÃO DA
EXECUÇÃO POR MEIO ELETRÔNICO. CABIMENTO. RECURSO
DESPROVIDO. Nos termos da Portaria nº 411/PR/2015, as ações propostas
até a data da implantação do Sistema PJe continuarão tramitando em meio
físico ou pelo Sistema Projudi, inclusive os respectivos incidentes
processuais e as ações conexas, ainda que distribuídos por dependência
posteriormente àquela data, exceto quando se tratar de cumprimento ou
execução de sentença, observado, inclusive nas comarcas que não possuem
Central de Cumprimento de Sentença." (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv
1.0000.18.006037-8/001, Relator: Des. Edilson Olímpio Fernandes, 6ª
Câmara Cível, DJe 06/07/2018 - Destacamos).

"EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.


DECISÃO QUE REJEITA A IMPUGNAÇÃO. NULIDADE POR AUSÊNCIA
DE FUNDAMENTAÇÃO. PRELIMINAR REJEITADA. INÉPCIA DA INICIAL.
NÃO CONFIGURAÇÃO. EXCESSO DE EXECUÇÃO. PROVA. AUSÊNCIA.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. COMPENSAÇÃO. ILIQUIDEZ. 1. A

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preliminar de nulidade da decisão agravada por ausência de fundamentação


não merece prosperar se o magistrado a quo declinou devidamente as
razões pelas quais formou seu convencimento na hipótese. 2. Considerando
a obrigatoriedade do cumprimento eletrônico da sentença nas comarcas em
que vigora o PJE, não há que se falar em inépcia da inicial quando o
incidente não acompanha os autos físicos. 3.

É pacífico no Eg. Superior Tribunal de Justiça o entendimento segundo o


qual eventual omissão da sentença acerca da possibilidade de compensação
da verba honorária, na esteira do art. 21 do CPC, pode ser suprida em fase
de cumprimento de sentença, sem que isto configure ofensa à coisa julgada.
4. A vedação à compensação dos honorários, na espécie, não se deve à
omissão na sentença quanto a tal possibilidade, mas pelo fato de o valor dos
honorários devidos aos patronos do agravante ainda não ter sido liquidado
(art. 369, do Código Civil). V.v. Conforme orientação do Superior Tribunal de
Justiça, não viola postulado da coisa julgada a determinação de
compensação dos honorários de sucumbência em sede de cumprimento de
sentença, notadamente quando não houver vedação expressa no provimento
judicial." (TJMG - Agravo de Instrumento nº 1.0000.17.080984-2/001,
Relatora: Des. Cláudia Maia, 14ª Câmara Cível, publicação da súmula em
27/04/2018 - Destacamos).

Não obstante o Requerente tenha iniciado o Cumprimento de Sentença


em atendimento ao requisito disposto no art. 4º, § 1º, III, do Provimento
Conjunto nº 411/PR/2015, não se pode olvidar que o feito de nº 5005526-
61.2017.8.13.0701, por se tratar da fase executiva da Ação de Cobrança de
nº 0419271-70.2013.8.13.0701, deveria ter sido distribuído por dependência
àquele processo, perante o Juízo prevento, da 5ª Vara Cível de Uberaba, ao
invés de ter sido remetido à 3ª Vara Cível daquela Comarca, em clara ofensa
ao Princípio do Juiz Natural.

O referido dogma, insculpido no inciso LIII, do art. 5º, da Constituição


Federal, só pode receber exceção no interesse da prestação jurisdicional
livre e imparcial. De outra forma, o Juiz seria

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aquele que a parte ou o advogado escolhesse e a Justiça não seria feita.

O Professor Universitário e Advogado, Diego Augusto Bayer, faz


relevantes considerações sobre o Princípio do Juiz Natural:

"PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL (Art. 5º, LIII e XXXVII, da CF/88)

Consagrado pela CF/88, em seu art. 5º, LIII, o princípio do Juiz natural
estabelece que ninguém será sentenciado senão pela autoridade
competente, representando a garantia de um órgão julgador técnico e isento,
com competência estabelecida na própria Constituição e nas leis de
organização judiciária de cada Estado.

(...)

Faz-se necessário esclarecer que a proibição da constituição de tribunais de


exceção não significa impedimento à criação de justiça especializada ou de
vara especializada, já que, nesse caso, apenas são reservados a
determinados órgãos, inseridos na estrutura judiciária fixada na própria
Constituição, o julgamento de matérias específicas." (in
https://diegobayer.jusbrasil.com.br/artigos/121943166/principios-
fundamentais-do-direito-processual-penal-parte-04).

O Conselho Nacional de Justiça - CNJ também traz prestantes lições


sobre o tema:

"Como garantia constitucional (artigo 5º, incisos XXXVII e LIII), o princípio do


juiz natural preleciona a utilização de regras objetivas de competência
jurisdicional para garantir independência e a imparcialidade do órgão
julgador.

Trata-se, portanto, de um juiz previamente encarregado, na forma da lei,


como competente para o julgamento de determinada lide, o que

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impede, entre outras coisas, o abuso de poder. Como consequência, não se


admite a escolha específica nem a exclusão de um magistrado de
determinado caso." (in http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/85865-cnj-servico-
principio-do-juiz-natural).

Assim, ao contrário do que entendeu o MM. Juiz, não seria o caso de


extinção do presente Cumprimento de Sentença, sem resolução do mérito,
nos termos do disposto no inciso IV, do art. 485, do CPC, mas, sim, de
simples remessa destes autos ao Juízo prevento e competente para
processá-lo e julgá-lo, qual seja, o da 5ª Vara Cível de Uberaba, o qual, ao
contrário do que sustenta o Apelante, em momento nenhum reconheceu a
sua incompetência para tanto, mas apenas ressaltou que a referida fase
processual deveria ser iniciada por meio eletrônico.

Em face do exposto, DOU PROVIMENTO AO APELO, para cassar a r.


Sentença, determinando o regular processamento do Cumprimento de
Sentença. De ofício, remeto os autos de nº 5005526-61.2017.8.13.0701, para
o Juízo da 5ª Vara Cível de Uberaba, que está prevento para processar e
julgar esta fase processual, a fim de que não haja desperdício de atividade
judiciária e descrédito para a Justiça.

Custas recursais, ao final, pela parte que sucumbir na demanda.

Deixo de aplicar o disposto no art. 85, §11, do CPC, eis que não houve
condenação em honorários na origem.

DES. AMAURI PINTO FERREIRA - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. LUCIANO PINTO - De acordo com o(a) Relator(a).

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SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO AO APELO E, DE OFÍCIO,


REMETERAM AOS AUTOS AO JUÍZO COMPETENTE, DA 5ª VARA CÍVEL
DE UBERABA."

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