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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Processo: 1.0000.19.073847-6/001
Relator: Des.(a) Washington Ferreira
Relator do Acordão: Des.(a) Washington Ferreira
Data do Julgamento: 30/11/2021
Data da Publicação: 30/11/2021

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - ANTECIPAÇÃO DE TUTELA - ART. 300 DO CPC - AUSÊNCIA DE


REPASSE DE RECEITAS TRIBUTÁRIAS PELO ESTADO DE MINAS GERAIS - FUNDAÇÃO DE AMPARO À
PESQUISA DO ESTADO DE MINAS GERAIS - PROBABILIDADE DO DIREITO - RECURSO PROVIDO EM PARTE.

Para a concessão da tutela de urgência aventada no art. 300 do CPC/15, são necessários elementos que apontem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

Havendo nos autos elementos que demonstrem suficientemente o atraso no repasse de valores devidos pelo Estado
de Minas Gerais à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais e evidenciado perigo de dano, deve
ser reformada a decisão recorrida, para determinar que o ente estadual regularize o repasse das parcelas vincendas.

V.V. EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO POPULAR. TUTELA DE URGÊNCIA. REGULARIZAÇÃO DE


REPASSES. FAPEMIG. ART. 212, DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. IMPOSSIBILIDADE. MÉRITO
ADMINISTRATIVO. ART. 300 DO CPC/15. REQUISITOS. NÃO PREENCHIMENTO.
I. De acordo com o art. 300 do CPC/15 a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem
a probabilidade de direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.

II. Nos termos do art. 212 da Constituição do Estado de Minas Gerais, a manutenção das entidades de amparo e
fomento à pesquisa é atribuição do ente estadual, de modo que as dotações e orçamentos necessários à sua efetiva
operacionalização serão controlados pela Administração Pública Estadual.

III. Considerando que a transferência dos valores devidos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas
Gerais (FAPEMIG), em especial dos três últimos duodécimos vencidos, é ato que compete à Administração Pública,
não cabe ao Poder Judiciário determinar a imediata regularização dos repasses, sob pena de violação ao princípio da
separação de poderes.

AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0000.19.073847-6/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE -


AGRAVANTE(S): BEATRIZ DA SILVA CERQUEIRA - AGRAVADO(A)(S): ESTADO DE MINAS GERAIS,
SECRETÁRIO DE ESTADO DA FAZENDA DE MINAS GERAIS, SECRETARIO DE ESTADO DO PLANEJAMENTO
E GESTÃO

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na
conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDO O RELATOR.

DES. WASHINGTON FERREIRA


RELATOR

DES. WASHINGTON FERREIRA (RELATOR)

VOTO

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto por BEATRIZ DA SILVA CERQUEIRA, contra decisão
proferida pelo MM. Juiz de Direito da 6ª Vara de Fazenda Pública Estadual e Autarquias da Comarca de Belo
Horizonte, que, nos autos da Ação Popular ajuizada em face do ESTADO DE MINAS GERAIS, indeferiu o pedido
liminar consistente na regularização das transferências devidas à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
Minas Gerais - Fapemig, especialmente dos últimos três duodécimos vencidos (fls. 20/26 do

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doc. único).
Em suas razões recursais a Agravante disserta sobre a finalidade da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Minas Gerais, destacando que o Poder Executivo Estadual não tem realizado as transferências obrigatórias
que lhe competem à FAPEMIG. Destaca que a inadimplência do Estado implicou na suspensão da submissão de
bolsistas aos programas Bolsas de Iniciação Científica (BIC) e Iniciação Científica Júnior (BIC Jr.). Ressalta que o art.
212, da Constituição do Estado de Minas Gerais, impõe o repasse de, no mínimo, 1% (um por cento) da receita
orçamentária corrente ordinária do Estado à entidade de amparo e fomento à pesquisa. Aduz que o legislador
constituinte não reservou ao administrador qualquer margem de escolha à realização ou não do repasse, desse
modo, sustenta que não cabe ao Poder Executivo analisar a conveniência ou a oportunidade da destinação de
receitas à FAPEMIG. Por fim, afirma que o pedido liminar se limita a regularização dos repasses constitucionais, de
modo que não é necessária a apresentação de provas quanto ao valor devido em atraso (fls.01/15 do doc. único).
Com esses argumentos pugna pela concessão da antecipação dos efeitos da tutela recursal para determinar
que o Estado de Minas Gerais transfira mensalmente à FAPEMIG os recursos a que faz jus, bem como o provimento
do Agravo de Instrumento.
Sem preparo.
O pedido de antecipação dos efeitos da tutela recursal foi indeferido (fls. 930/933 do doc. único).
O Agravado apresentou contraminuta (fls. 953/968 do doc. único).
A d. Procuradoria Geral de Justiça emitiu parecer opinando pelo provimento do recurso (fls.1028/1040 do
doc. único).
A Agravante, intimada a se manifestar sobre as preliminares suscitadas em contraminuta, apresentou
petição de fls. 1049/1055 do doc. único.
É o relatório.
Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso.
PRELIMINARES
-Inépcia da inicial
Em contraminuta, o Estado de Minas Gerais suscita, preliminarmente, a inépcia da petição inicial sob o
argumento de que a autora não teria cuidado de descrever o ato administrativo lesivo ao patrimônio público apto a
subsidiar a Ação Popular.
Todavia, a omissão administrativa a que se refere a autora na exordial (fls.44 do doc. único) é abarcada pelo
conceito de ato lesivo mencionado no art. 5º, LXXIII, da Constituição Federal, para autorizar a propositura da presente
demanda, sendo certa a desnecessidade de comprovação de materialidade do referido ato.
Nesse sentido foi a tese firmada pelo Supremo Tribunal Federal, ao analisar o Tema 836, notadamente
quanto à exigência de comprovação de prejuízo material aos cofres públicos como condição de propositura de ação
popular. A propósito:
Não é condição para o cabimento da ação popular a demonstração de prejuízo material aos cofres públicos, dado que
o art. 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal estabelece que qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular e impugnar, ainda que separadamente, ato lesivo ao patrimônio material, moral, cultural ou histórico do
Estado ou de entidade de que ele participe. (STF, Tema nº 836, ARE 824781 RG , Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI
Julgamento: 27/08/2015.DJe-203 DIVULG 08-10-2015 PUBLIC 09-10-2015)
Além disso, da análise da exordial (fls. 35/46 do doc. único), verifica-se que a discussão gira em torno da
necessidade de defesa do incentivo à pesquisa tecnológica, científica, econômica e social do Estado por meio da
manutenção dos repasses à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, o que revela o cabimento
da ação popular.
Assim, considerando que os argumentos contidos na inicial se encontram em consonância com a pretensão
deduzida pela autora, não há que se falar em inépcia da petição inicial.
Com tais considerações, REJEITO A PRELIMINAR.
-Vedação à concessão de liminar contra a Fazenda Pública
Ainda em contraminuta, o Estado de Minas Gerais suscita, preliminarmente, a impossibilidade de
deferimento da medida liminar pleiteada diante da vedação contida no art. 7º, §2º, da Lei nº 12.016/19, afirmando,
para tanto, que o pagamento de valores de qualquer natureza encontra óbice no referido dispositivo legal.
Alega, ainda, que eventual concessão de tutela antecipada em face da Fazenda Pública violaria a Lei
Federal nº 9.494/97, que estendeu às tutelas antecipatórias as restrições fixadas na Lei nº 8.437/92.
Contudo, razão não lhe assiste.
Isso, pois, o art. 7º, §2º, da Lei nº 12.016/19 é responsável pela disciplina do mandado de segurança, sendo
certo que a extensão da vedação nele contida deve ser analisada com cautela, sobretudo se considerado que o art.
1º, §2º, da Lei nº 8.437/92 dispõe expressamente sobre a não aplicação da norma que obsta a concessão de medida
liminar contra atos do Poder Público em se tratando de ação popular.

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Desse modo, uma vez que é cabível a concessão da medida na forma como requerida pela parte autora no
procedimento por ela instaurado, não há que se falar em vedação ao deferimento do pedido liminar em razão das
normas supracitadas.
Com tais considerações, REJEITO A PRELIMINAR.
Sem mais preliminares, passo à análise do mérito.
MÉRITO
Tratam-se os autos de Ação Popular ajuizada por Beatriz da Silva Cerqueira, ora agravante, em face do
Estado de Minas Gerais, ora agravado, objetivando, em sede liminar, a imediata regularização dos repasses das
verbas devidas à Fundação de Amparo e Fomento à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG, em especial
dos 03 (três) últimos duodécimos vencidos.
Para tanto, afirma a autora que os repasses à FAPEMIG são procedidos a menor desde o ano de 2018 e
que, até o presente momento, os representantes da Administração Pública estadual não estabeleceram prazo para a
regularização da questão (fls. 35/46 do doc. único).
Intimado a se manifestar acerca do pedido de tutela de urgência, o Estado de Minas Gerais apresentou
petição de fls. 823/837. Posteriormente, o d. Magistrado da causa, ao proferir a decisão agravada, indeferiu o pedido
de tutela de urgência por entender não estarem presentes os requisitos contidos no art. 300, do CPC/15, ensejando a
interposição do presente recurso.
Pois bem.
Sabe-se que para o deferimento da tutela de urgência é necessário o preenchimento dos requisitos previstos
no art. 300 do CPC/15, quais sejam, a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo.
No caso em exame, em uma análise sumária permitida nesse momento processual, entendo que não estão
presentes os requisitos necessários para o deferimento da tutela de urgência postulada, não havendo motivos para a
reforma da decisão agravada.
Nos termos do art. 212 da Constituição do Estado de Minas Gerais, a manutenção das entidades de amparo
e fomento à pesquisa é atribuição do ente estadual, de modo que as dotações e orçamentos necessários à sua
efetiva operacionalização serão controlados pela Administração Pública Estadual. In verbis:
Art. 212 - O Estado manterá entidade de amparo e fomento à pesquisa e lhe atribuirá dotações e recursos
necessários à sua efetiva operacionalização, a serem por ela privativamente administrados, correspondentes a, no
mínimo, um por cento da receita orçamentária corrente ordinária do Estado, os quais serão repassados em parcelas
mensais equivalentes a um doze avos, no mesmo exercício.
Nesse ponto, em que pesem os argumentos trazidos pela recorrente, a análise em torno da (im)
possibilidade de transferência dos valores devidos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
(FAPEMIG), em especial dos três últimos duodécimos vencidos, é ato que compete à Administração Pública, sendo
defeso ao Poder Judiciário, sobretudo nesse momento processual, imiscuir-se no mérito administrativo.
Além disso, a determinação para que o Estado de Minas Gerais regularize, imediatamente, os repasses
devidos à FAPEMIG poderá acarretar impactos consideráveis à receita orçamentária corrente ordinária do Estado,
sendo certo que a Administração Pública possui regras próprias que não podem ser desconsideradas pelo Judiciário,
sob pena de manifesta violação ao princípio de separação de poderes.
Assim, embora legítima a pretensão de resguardo e incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento econômico
do Estado de Minas Gerais, a medida requerida pela autora encontra óbice nos próprios princípios que norteiam a
Administração Pública, quais sejam, a legalidade, a moralidade e a impessoalidade.
Destaco, por oportuno, que, quanto ao pedido de regularização do repasse dos valores dos três últimos
duodécimos vencidos, os repasses pretéritos não realizados constituem dívida do Estado, de modo que sua cobrança
deverá observar as disposições contidas no art. 100, da Constituição Federal, inexistindo, portanto, a alegada
urgência a ensejar o deferimento da pretensão deduzida.
Nesse cenário, ausente o preenchimento cumulativo dos requisitos elencados no artigo 300, do CPC/2015,
que autorizam a concessão da tutela de urgência quando presentes os elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano, inexistem motivos para modificar a decisão agravada.
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO, mantendo incólume a decisão agravada.
Sem custas.
É como voto.

DES. GERALDO AUGUSTO

Embora o merecido respeito ao entendimento do Eminente Desembargador Relator, apresenta-se

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respeitosa divergência, acompanhando o entendimento contido no voto do Eminente Desembargador Primeiro Vogal.

Para o deferimento da tutela provisória prevista no art. 300 do Código de Processo Civil, necessário que se
identifique a presença dos requisitos da probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo.

Conforme se verifica o repasse pelo Estado das verbas à FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de Minas Gerais), para investimento no desenvolvimento científico e na pesquisa, encontra previsão no art. 212 da
Constituição Estadual, havendo determinação de que seja aplicado, anualmente, no mínimo 1% da receita
orçamentária corrente ordinária do Estado.

Sabe-se que os referidos recursos destinam-se justamente a promover ações de fomento na área da ciência,
pesquisa e tecnologia, e que a FAPEMIG é fundação pública de direito público com esta finalidade, conforme
regulamenta dada pela Lei Estadual nº 11.552/94.

Assim, inconteste a obrigação do Estado de Minas Gerais de proceder aos repasses relativos ao duodécimo
devido FAPEMIG, nas datas legalmente previstas, sendo vedada a retenção.

No caso dos autos, há elementos capazes de evidenciar o atraso no repasse de valores relativos pelo Estado.

Não se desconhece a situação de crise econômica enfrentada pelo Estado de Minas Gerais, com decretada
situação de calamidade financeira; todavia, isso não pode constituir elemento autorizador de descumprimento da
obrigação de repasse, notadamente diante do prejuízo a ser suportado pela Fundação, com o comprometimento da
prestação de seus serviços.

Ademais, realmente se vislumbra o periculum in mora pelo que se justifica, neste momento processual, o
deferimento da antecipação dos efeitos da tutela recursal, para determinar que o Estado de Minas Gerais regularize o
pagamento das parcelas vincendas devidas à FAPEMIG.

Com tais razões, DÁ-SE PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. ALBERTO VILAS BOAS

Na espécie em exame, não comungo da argumentação do e. Relator, data venia.

Com efeito, sobre a entidade de amparo e fomento à pesquisa a Constituição Estadual prevê que:

"Art. 212. O Estado manterá entidade de amparo e fomento à pesquisa e lhe atribuirá dotações e recursos
necessários à sua efetiva operacionalização, a serem por ela privativamente administrados, correspondentes a, no
mínimo, um por cento da receita orçamentária corrente ordinária do Estado, os quais serão repassados em parcelas
mensais equivalentes a um doze avos, no mesmo exercício.

Parágrafo único A entidade destinará os recursos de que trata este artigo prioritariamente a projetos que se ajustem
às diretrizes básicas estabelecidas pelo Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia - Conecit -, definidos como
essenciais ao desenvolvimento científico e tecnológico do Estado, e à reestruturação da capacidade técnico-científica
das instituições de pesquisa do Estado, em conformidade com os princípios definidos nos Planos Mineiros de
Desenvolvimento Integrado - PMDIs - e contemplados nos Programas dos Planos Plurianuais de Ação Governamental
- PPAGs."

Por sua vez, a Lei Estadual nº 11.552/1994 cuidou de regulamentar a FAPEMIG e assim dispôs:

"Art. 2º. Fundação tem como finalidade promover atividades de fomento, apoio e incentivo à pesquisa científica e
tecnológica no Estado.

Art. 5º. Constituem receitas da Fundação:

I - dotações e recursos distribuídos pelo Estado nos termos do "caput" do art. 212 da Constituição

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Estadual;

II - auxílio e subvenção de órgão ou entidade pública ou privada, nacional, estrangeira ou internacional;

III - receita advinda da aplicação e da gestão de seus bens patrimoniais e de qualquer fundo instituído por lei;

IV - doação, legado, benefício, contribuição ou subvenção de pessoa física ou jurídica, nacional, estrangeira ou
internacional;

V - saldo de exercício anterior;

VI - renda resultante da prestação de serviços na sua área de atuação;

VII - participação em direitos de propriedade industrial e intelectual decorrentes de pesquisas apoiadas pela
FAPEMIG;

VIII - recursos financeiros provenientes de ressarcicimento de financiamento de projeto de pesquisa;

IX - rendas de qualquer procedência (grifei).

Assim, há relevância jurídica na argumentação desenvolvida pela recorrente haja vista que o repasse dos valores
não está ocorrendo - o que contraria a Constituição Estadual-, e isto prejudica, de forma intensa, o cumprimento da
finalidade para a qual a Fundação foi criada e que consiste na promoção de atividades de fomento, apoio e incentivo
à pesquisa científica e tecnológica do Estado.

Veja-se que a primeira fonte de receita mencionada pela legislação estadual da Fundação é, justamente, as
dotações e recursos distribuídos pelo Estado nos termos do art. 212 da CE, de forma que não pode deixar o ente
estadual de efetuar os repasses, não se tratando de ato discricionário.

Não se trata, portanto, de indevida ingerência do Poder Judiciário no Poder Executivo, pois o que se está
determinando é, sem dúvida alguma, a observâncias das regras constitucionais e infraconstitucionais que regem
clarmaente o tema e que são negligenciadas pela conduta espontânea do Estado.

Por certo, o contexto da pandemia ora vivenciado evidenciou a importância da ciência, sendo certo que a falta de
recursos da FAPEMIG impede o fomento à pesquisa e à inovação científica e tecnológica do Estado de Minas Gerais.

Esse aspecto foi até mesmo enfatizado pela Procuradoria Geral de Justiça em seu parecer:

"Além da incontestável relevância do fundamento da


demanda, presente o justificado receio de ineficácia do provimento final (art. 84, §§ 3º e 5º, do CDC), uma vez que a
inadimplência do Estado de Minas Gerais implicou a suspensão da submissão de bolsistas aos
programas Bolsas de Iniciação Científica (BIC) e Iniciação Científica Júnior (BIC Jr.), além da suspensão do
lançamento de novas chamadas públicas (cf. notícia publicada no site da Fapemig, em 22.02.2019).

Registe-se que, em consulta ao sítio eletrônico da referida Fundação, nesta data, constata-se que, no ano de 2019,
foram lançadas oito chamadas e, no ano de 2020, apenas duas chamadas na área de saúde" (ordem 62).

Acrescento, por fim, que como o pedido recursal consiste em deferir a tutela antecipada recursal, a fim de que se
determine aos agravados regularização dos repasses a que faz jus a FAPEMIG por expressa previsão do art. 212, da
Constituição Estadual, o pleito pode ser integralmente provido uma vez que não há requerimento de pagamento das
parcelas vencidas, mas tão somente da regularização dos próximos repasses.

Fundado nessas razões, dou provimento ao recurso para reformar a decisão agravada e conceder a tutela de
urgência para determinar que o Estado de Minas Gerais regularize o repasse a que faz jus a FAPEMIG previsto no
art. 212 da CE mediante o desembolso dos duodécimos relativos a este ano, com eventual compensação se houver a
prova do repasse em ocasião anterior a este julgado.

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SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO. VENCIDO O RELATOR"

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