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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO

PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

MD. LUIZ FUX.

REGINALDO LÁZARO DE OLIVEIRA LOPES, brasileiro,


casado, atualmente no exercício do mandato de Deputado
Federal (PT/MG) e, ainda, Líder da Bancada do Partido dos
Trabalhadores na Câmara dos Deputados, portador da carteira
de identidade RG nº 387321, inscrito no CPF nº 903.308.626-
34, com endereço funcional na Esplanada dos Ministérios, Praça
dos Três Poderes, Câmara dos Deputados, Gabinete 426, anexo
IV, CEP nº 70.160-900, Brasília/DF e endereço eletrônico
dep.reginaldolopes@camara.leg.br, vem à presença de Vossa
Excelência, com supedâneo na Constituição Federal e na
Legislação Penal e Processual Penal e demais diplomas legais
correlatos, aviar a vertente DELATIO CRIMINIS, para que
sejam investigadas e apuradas eventuais condutas ilícitas
(penais, civis e administrativas) em tese perpetradas pelo
Senhor EDUARDO NANTES BOLSONARO, brasileiro, casado,
atualmente no cargo de Deputado Federal, com endereço
funcional na Câmara dos Deputados, tudo conforme os fatos e
fundamentos de direito a seguir delineados.

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I – Brevíssima síntese dos fatos.

Com efeito, nos últimos três anos e meio, o Presidente


da República promoveu, de forma desenfreada, em total
dissintonia com os desejos e desideratos da população
brasileira, uma elevada flexibilização do acesso a armas de
fogo, notadamente por decretos (questionados em arguida
inconstitucionalidade, perante esta Corte), permitindo amplos
poderes autorizativos aos chamados CACs (Colecionadores,
Atiradores Desportivo e Caçadores).

A facilitação do acesso às armas de fogo, longe de


promover a pretensa segurança do cidadão ou permitir,
eventualmente, autodefesa em face de uma situação de
agressão indevida, tem alimentado a violência e o ódio entre os
brasileiros, transformando quizilas que poderiam ser resolvidas
com diálogo ou pelas vias institucionais em verdadeiras
tragédias.

Isso sem contar a legalização de armas por


integrantes de grupos criminosos que, pela via das autorizações
de acesso individual a múltiplas armas, em modalidades e
espécies diversas e suas respectivas munições, têm ampliado o
acervo armamentista, sem controle estatal devido, em virtude
das dispensas das exigências havidas nos regulamentos
vigentes em governos anteriores, pelos decretos da lavra do

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atual governo, inclusive excluíram atribuições antes reservadas
a Polícia Federal e mesmo às Forças Armadas.

O Deputado representado, em total alinhamento com


seu pai e Presidente da República, tem se notabilizado pelos
ataques que desfere às instituições democráticas e aos
opositores que denunciam o descalabro e o retrocesso que
representa, para o País e a sociedade brasileira, o Governo
titularizado por sua família.

É o representado, dessa maneira, um dos principais


símbolos de incentivo ao armamento da população, tendo
promovido, ao longo dos últimos anos, diversas postagens em
clubes de tiros ou com armas em punho, inclusive nas
dependências do Palácio do Planalto e no Parlamento.

As condutas reprováveis do Representado, que juntamente


com o Presidente Bolsonaro tentam incutir na sociedade
brasileira uma sanha armamentista, atingiram seu ápice no dia
de ontem.

Com efeito, num momento em que o País atravessa uma


das eleições mais acirradas do período democrático, em que as
instituições republicanas e a sociedade brasileira vem sendo
acossadas, diuturnamente por ameaças de rompimento
institucional, promovidas pelo Representado, sua família e
apoiadores, o Deputado Eduardo Bolsonaro, sem qualquer
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compromisso democrático ou republicano, foi às redes sociais e
convocou a população para se armar e se transformar numa
espécie de exército voluntário de Bolsonaro.

Nesse sentido, a seguinte postagem:

Ora, quando o Deputado afirma que todos aqueles que


hoje possuem dezenas de armas de fogo (CACs), “tem que se
transformar num voluntário de Bolsonaro”, a mensagem
que se transmite, de forma direta ou subliminar, notadamente

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no contexto criado em torno do “7 de setembro” pelo Presidente
da República, é que toda essa população deve se armar e ir às
ruas, no dia da Independência e nos dias subsequentes,
promover a defesa armada do Presidente e de seu projeto de
poder autoritário e destrutivo de Nação.

Trata-se de uma convocação armada, em que se incentiva


milhares de brasileiros a irem às ruas promoverem, de qualquer
forma, inclusive com ódio e violência, a defesa de um governo
moribundo.

A iniciativa do Representado é muito grave, criminosa, com


potencial para causar verdadeiras tragédias na sociedade, dada
a intolerância e o acirramento das disputas em curso no País, de
modo que deve ser rechaçada e punida com o rigor da lei.

Não há que se falar, por outro lado, que o


Representado está respaldado pela imunidade parlamentar
material.

O Supremo Tribunal Federal já decidiu em mais de


uma oportunidade que tais prerrogativas não se estendem a
palavras, nem a manifestações do congressista que se
revelem estranhas ao exercício, por ele, do mandato
legislativo, principalmente quando criminosas. Nesse
sentido, o trecho do voto abaixo:

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"Garantia constitucional da imunidade
parlamentar em sentido material (CF, art. 53,
caput) - que representa um instrumento vital
destinado a viabilizar o exercício independente
do mandato representativo - somente protege o
membro do Congresso Nacional, qualquer que
seja o âmbito espacial (locus) em que este
exerça a liberdade de opinião (ainda que fora
do recinto da própria Casa legislativa), nas
hipóteses específicas em que as suas
manifestações guardem conexão com o
desempenho da função legislativa (prática in
officio) ou tenham sido proferidas em razão
dela (prática propter officium), eis que a
superveniente promulgação da EC 35/2001 não
ampliou, em sede penal, a abrangência tutelar
da cláusula da inviolabilidade. - A prerrogativa
indisponível da imunidade material - que
constitui garantia inerente ao desempenho da
função parlamentar (não traduzindo, por isso
mesmo, qualquer privilégio de ordem pessoal) -
não se estende a palavras, nem a
manifestações do congressista, que se
revelem estranhas ao exercício, por ele,
do mandato legislativo. A cláusula
constitucional da inviolabilidade (CF, art. 53,
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caput), para legitimamente proteger o
Parlamentar, supõe a existência do necessário
nexo de implicação recíproca entre as
declarações moralmente ofensivas, de um lado,
e a prática inerente ao ofício congressional, de
outro."(Inq-QO 1024 / PR - PARANÁ QUESTÃO
DE ORDEM NO INQUÉRITO Relator(a): Min.
CELSO DE MELLO Julgamento: 21/11/2002
Órgão Julgador: Tribunal Pleno Publicação: DJ
04-03-2005) (g.n).

Como se verifica, a condição de Parlamentar Federal não é


um passaporte para a prática de toda sorte de iniquidades, para
incentivar ações criminosas e, principalmente, para ameaçar as
instituições republicanas e/ou adversários políticos. Por essa
razão, é preciso apurar e responsabilizar o representado por
suas ações e palavras, contendo o estímulo ao uso desenfreado
da violência por cidadãos nas ruas e em razão da necessária
segurança e estabilidade social e institucional para pleito
eleitoral que se aproxima.

II – Das infrações penais, em tese, perpetradas pelo


Deputado Representado.

A publicação do Representado, fazendo uma


convocação armada de “voluntários do Bolsonaro”, em alusão
a um "exército", no contexto das aleivosias alimentadas em
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torno de manifestações pelo dia “7 de setembro”, que
envolvem, inclusive, referências militares e, ainda, como
tentativa de fazer face aos desejos da população brasileira de
promover mudanças na Presidência da República
(amedrontando o eleitorado contrário aos projetos políticos da
família do representado), como estão a indicar as reiteradas
pesquisas eleitorais, pode configurar, em tese, a prática dos
crimes previstos nos artigos 286 e 359-L do Código Penal:

Incitação ao crime
Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de
crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.

Dos Crimes Contra as Instituições


Democráticas

Abolição violenta do Estado Democrático


de Direito

Art. 359-L. Tentar, com emprego de violência ou


grave ameaça, abolir o Estado Democrático de
Direito, impedindo ou restringindo o exercício
dos poderes constitucionais:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos,
além da pena correspondente à violência.

O resultado da postura irresponsável de pessoas como


o aqui representado, com influência e visibilidade política, ao
incentivar atos de ruptura contra a ordem democrática e as
práticas de civilidade e urbanidade, é a ameaça à democracia e
também ao bom senso. Ao colocar em risco potencial a vida de
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milhares de pessoas, insuflando atos violentos generalizados e
mesmo a desconfiança aos Poderes constituídos, tendo em vista
decisão liminar emanada pelo eminente ministro Edson Fachin
que sustou partes dos decretos, acima referidos, que exacerbam
liberações e acesso a armas de fogo por civis, sem o devido
controle, fere princípios e parâmetros basilares da ordem
constitucional.

Enfim, nesse instante em que a sociedade brasileira


espera por mais um momento de afirmação do exercício
democrático, de eleger seus representantes pelo poder
emanado do sentido constitucional soberano, de ver
consolidada sua vontade exercida pelo voto, confiante na
consistência que o processo eleitoral - conquistado e
aperfeiçoado nessa quadra democrática inaugurada desde 1988
- tem expressado no sistema de urnas eletrônicas seguras,
atitudes que afrontam tais direitos fundantes e ameaçam a
ordem constitucional e legal vigentes, como se verifica nas
ações e condutas aqui expostas, precisam ser efetivamente
apuradas, impedindo sua continuidade e, sobretudo,
identificando e responsabilizando de maneira devida e firme
infratores.

Como dito, são fatos graves que estão a demandar


uma ampla investigação, da parte do Procurador-Geral da
República, sob a Coordenação desse Supremo Tribunal Federal,
para que ações da espécie, vindas de quem deveria zelar pela
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ordem democrática e pela defesa das instituições (Deputado
Federal), sejam rechaçadas.

III – Do Pedido.

Face ao exposto e tendo presente a gravidade dos


fatos articulados, o Noticiante pugna seja intimada a
Procuradoria-Geral da República para que instaure
procedimento investigatório com o objetivo de apurar as
condutas e responsabilidades criminais, civis e/ou
administrativas, em tese existentes, do Senhor EDUARDO
NANTES BOLSONARO.

Termos em que
Pede Deferimento,

Brasília (DF), 06 de setembro de 2022.

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