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EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL

Recurso Extraordinário nº 1338750/SC (Tema 1177 da Repercussão Geral)

ASSOCIACAO DE PRACAS DO ESTADO DE SANTA


CATARINA – APRASC, associação privada, inscrita no CNPJ
sob o nº 04.638.810/0001-29, com endereço na Rua Raul
Machado, n. 139, Centro Florianópolis/SC, CEP 88020-610, já
qualificada nos autos do processo em epígrafe, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, mediante
procurador constituído, tempestivamente, com fundamento nos
artigos 138 e 1038, inciso I, do Código de Processo Civil de
2015, c/c o artigo 323, § 3º do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal, postular sua intervenção nos autos na
qualidade de AMICUS CURIAE e opor EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO em face do acórdão publicado em 13/09/2022,
conforme razões que seguem:

BREVE RESUMO DA LIDE

Cuida-se de ação ajuizada por policial militar estadual inativo


do Estado de Santa Catarina em face do Instituto de Previdência do Estado de Santa
Catarina – IPREV com supedâneo na inconstitucionalidade do artigo 24-C do Decreto-Lei
667/1969, incluído pela Lei Federal 13.954/2019, que retira dos Estados a competência para
legislar sobre as alíquotas da contribuição previdenciária incidente sobre os proventos de
seus próprios militares inativos e pensionistas.

Considerando a multiplicidade de ações em torno do tema e o


impacto nacional da questão constitucional debatida, o recurso extraordinário foi admitido

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como representativo da controvérsia e afetado para julgamento pelo regime da repercussão
geral.

Ao julgar o mérito da questão constitucional, o Plenário desta


Corte confirmou a própria jurisprudência no sentido de declarar a inconstitucionalidade
da fixação de alíquota, por lei federal, de contribuição previdenciária para militares
estaduais, a pretexto de edição das normas gerais previstas no artigo 22, XXI, da
Constituição, fixando-se a seguinte tese de repercussão geral:

A competência privativa da União para a edição de normas


gerais sobre inatividades e pensões das polícias militares e dos
corpos de bombeiros militares (artigo 22, XXI, da Constituição,
na redação da Emenda Constitucional 103/2019) não exclui a
competência legislativa dos Estados para a fixação das
alíquotas da contribuição previdenciária incidente sobre os
proventos de seus próprios militares inativos e pensionistas,
tendo a Lei Federal 13.954/2019, no ponto, incorrido em
inconstitucionalidade.

Na sequência, o IPREV opôs embargos de declaração por


meio dos quais, entre outras matérias, postulou a modulação dos efeitos da referida tese ao
argumento de que a eficácia retrospectiva causaria grave impacto nas contas públicas.

Alertada pela assessoria jurídica recém-constituída, a


Requerente, associação que representa 17 mil praças do Estado de Santa Catarina, tomou
conhecimento do pleito do IPREV, contudo, apenas após a inclusão do referido recurso na
pauta de julgamento, o que inviabilizou o pedido de ingresso no feito na qualidade de
amicus curiae naquele momento, conforme entendimento pacificado pelo Supremo Tribunal
Federal.

Assim, a Requerente apresentou simples petição por meio da


qual alertou esta Corte sobre a existência de ações coletivas nas quais se suspendeu
liminarmente a cobrança da contribuição previdenciária dos inativos com base na alíquota e
base de cálculo instituídas pela Lei Federal 13.954/2019. Por tais motivos, ressaltou-se a
necessidade de ressalvar as referidas ações judiciais a fim de não prejudicar os

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praças inativos que deixaram de recolher suas contribuições pela alíquota da Lei
Federal 13.954/2019 com amparo na jurisprudência desta Corte (sequencial 104).

Contudo, tal petição passou despercebida no julgamento dos


embargos de declaração opostos pelo IPREV, que foram acolhidos para preservar a higidez
dos recolhimentos da contribuição de militares efetuados nos moldes inaugurados pela Lei
13.954/2019 até 1º de janeiro de 2023.

É preciso, contudo, esclarecer o alcance da referida modulação


especificamente quanto às hipóteses nas quais há decisão judicial suspendendo a
aplicação da Lei Federal 13.954, de modo que os recolhimentos se deram com base
na alíquota da legislação estadual, razão pela qual a Requerente vem postular seu
ingresso nos autos na qualidade de amicus curiae e opor embargos de declaração com o
desiderato de evitar discussões sobre a obrigatoriedade dos inativos de providenciarem o
recolhimento das diferenças a esse título e, assim, preservar o direito dos seus associados.

CABIMENTO DA INTERVENÇÃO DA REQUERENTE COMO


AMICUS CURIAE

Como bem fundamentado por esta Corte ao deferir o ingresso


do Estado de Mato Grosso do Sul, do Estado do Pará, do Estado de São Paulo e do Estado
de Goiás nos presentes autos na qualidade de amicus curiae, o desempenho de tal papel
pressupõe a demonstração da pertinência temática entre a questão debatida e a
representatividade daquele que postula o privilégio de opinar sobre a causa, bem como da
possibilidade de efetivamente contribuir com informações relativas à realidade do sistema de
inatividades e pensões de militares estaduais.

Como já exposto, a Requerente é a maior associação de


praças do país, representando, atualmente, a quase totalidade de policiais e bombeiros
militares ativos e inativos do Estado de Santa Catarina.

Nesta condição, ajuizou demandas coletivas representando os


praças da reserva e reformados para discutir a adoção da alíquota previdenciária com base
na Lei Federal 13.954/2019.

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Dando cumprimento ao entendimento majoritário desta
Suprema Corte, o Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina concedeu tutela de
urgência nas referidas ações coletivas para afastar a alíquota da contribuição previdência
imposta pela aludida lei federal, mantendo a aplicação da Lei Complementar Estadual
412/2008.

Por consequência, a quase a totalidade dos policiais e


bombeiros militares do Estado de Santa Catarina, representados pela Requerente, já
não contribuem pela alíquota da lei federal desde o deferimento da tutela de urgência
nas ações coletivas.

Neste contexto, é muito evidente a relevância do tema sub


judice para os praças inativos e a representatividade adequada da Requerente na qualidade
de defensora dos direitos homogêneos dos seus associados, notadamente daqueles
beneficiados pelas ações coletivas propostas pela APRASC, daí a necessidade de postular
seu ingresso no feito na condição de amicus curiae para trazer informações imprescindíveis
à aferição dos impactos econômicos e sociais que a modulação dos efeitos da tese poderá
trazer especificamente para os milhares de militares inativos do Estado de Santa Catarina.

Cabe ainda frisar que é absolutamente tempestiva a


intervenção da Requerente neste momento, ainda que já tenha havido o julgamento de
mérito do recurso e a subsequente modulação dos efeitos da tese, pois o que se busca é
trazer circunstâncias fáticas que particularizam a situação dos militares inativos do Estado
de Santa Catarina com o escopo de aclarar a extensão da decisão dos embargos
declaratórios, de modo a evitar discussões que possam trazer prejuízos aos
associados beneficiados por decisões judiciais que suspenderam a aplicação da
alíquota prevista pela Lei Federal 13.954/2019.

Vale dizer, a presente intervenção se faz necessária


justamente para afastar eventuais dúvidas que possam surgir quanto à aplicação dos efeitos
prospectivos da tese nos casos em que há decisão judicial favorável aos associados da
Requerente, mas ainda não transitadas em julgado.

Por todas essas razões, demonstrada a relevância da questão


discutida e a adequada representatividade da Requerente, requer-se a sua participação no

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feito na qualidade de amicus curiae, nos termos dos artigos 138 e 1.038, inciso I, do CPC,
com o consequente conhecimento dos embargos de declaração a seguir opostos.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – NECESSIDADE DE


ACLARAMENTO DO IMPACTO DA MODULAÇÃO DOS
EFEITOS DA TESE NA HIPÓTESE EM QUE HÁ DECISÃO
JUDICIAL SUSPENDENDO A APLICAÇÃO DA LEI
FEDERAL 13.954/2019 – ARTIGO 138, INCISO I C/C COM O
ARTIGO 1022, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Esta Corte proveu os embargos de declaração opostos pelo


IPREV para modular os efeitos da tese fixada no Tema 1.177, “a fim de que sejam
consideradas válidas todas as contribuições realizadas com fundamento na referida lei
federal até 1º de janeiro de 2023”.

O estabelecimento da eficácia prospectiva da tese visou


prestigiar os princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da boa-fé objetiva. A
propósito, retira-se das razões de decidir:

Como argumentei no julgamento do Recurso Extraordinário


661.256- ED-segundos, Redator para o acórdão Min. Alexandre
de Moraes, a modulação temporal de efeitos de decisões
judiciais confere efetividade aos princípios da segurança
jurídica, da confiança legítima e da boa-fé objetiva, todos
consectários do Estado Democrático de Direito e do devido
processo legal. A modulação traduz a exigência de
previsibilidade e estabilidade do ordenamento jurídico,
espelhando uma forma de tutela dos direitos fundamentais dos
jurisdicionados, de sorte que as decisões não despertem
surpresas injustas ou preconizem rupturas na confiabilidade do
sistema.
(...)
Por outro lado, os dados apresentados demonstram que a
atribuição de efeitos ex tunc à declaração de
inconstitucionalidade do artigo 24-C do Decreto-Lei 667/1969,
incluído pela Lei 13.954/2019, implicaria elevado impacto no

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equilíbrio financeiro-atuarial dos entes federativos que tiverem
de devolver as contribuições recolhidas a maior dos militares
inativos e de seus pensionistas, desde o início dos
recolhimentos efetuados com base na lei federal.
Acresça-se, nessa ordem de ideias, a insegurança jurídica
causada pela existência de normativos distintos, federal e
estadual, com sobreposição do primeiro sobre o modelo
contributivo dos Estados e do Distrito Federal, afastando-se,
inconstitucionalmente, as alíquotas então previstas pelas
legislações estaduais. Ademais, dois aspectos ressaltam, a
fortiori, essa instabilidade jurídica: ( i) a Lei federal 13.954/2019
proibia os entes federativos de alterarem, por lei própria, as
alíquotas de contribuição nela previstas, até 1º de janeiro de
2025, nos termos do § 2º do artigo 24-C do Decreto-Lei
667/1969 e (ii) a regulamentação federal entrou em vigor na
data de sua publicação (artigo 29), com forte ruptura na
autonomia dos Estados e do Distrito Federal de disporem sobre
os valores devidos a título de contribuição para a inatividade e
pensões de seus militares

A leitura conjugada da fundamentação acima transcrita, aliada


à parte dispositiva da decisão que deu provimento aos embargos de declaração para
“preservar a higidez dos recolhimentos da contribuição de militares, ativos ou inativos, e de
seus pensionistas, efetuados nos moldes inaugurados pela Lei 13.954/2019, até 1º de
janeiro de 2023” (grifou-se), leva à conclusão de que a eficácia prospectiva da tese não
alcança os casos em que a alíquota da lei federal foi afastada, e, por consequência, não
houve o referido recolhimento.

Vale dizer, os militares que recolheram as contribuições


previdenciárias com base na alíquota da Lei Complementar Estadual 412/2008 não serão
obrigados a pagar as diferenças com base na aplicação da Lei 13.954/2019.

De todo modo, considerando os milhares de praças


beneficiados pelas ações coletivas ajuizadas pela Requerente e o risco de haver
interpretações equivocadas sobre a abrangência do efeito prospectivo da tese, convém que

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haja o aclaramento da questão para evitar possíveis discussões que possam trazer
prejuízos aos associados.

Com efeito, a Requerente ajuizou ações coletivas com o


escopo de combater a aplicação da alíquota da Lei Federal nº 13954/2019, quais sejam as
de nº 5057193-72.2020.8.24.0023, 5061989-09.2020.8.24.0023, 5065799-
89.2020.8.24.0023, 5068754-93.2020.8.24.0023, 5074094-18.2020.8.24.0023, 5075919-
94.2020.8.24.0023, 5077408-69.2020.8.24.0023, 5004332-75.2021.8.24.0023, 5019201-
43.2021.8.24.0023, 5028661-54.2021.8.24.0023, 5039148-83.2021.8.24.0023, 5044677-
83.2021.8.24.0023, 5052527-91.2021.8.24.0023, 5056486-70.2021.8.24.0023, 5064835-
62.2021.8.24.0023, 5086161-78.2021.8.24.0023, 5086374-84.2021.8.24.0023 e 5092206-
98.2021.8.24.0023.

Nestas demandas, o Juízo aplicou a jurisprudência


pacificada por esta Suprema Corte para entender presente a probabilidade do direito
e, assim, deferir tutela de urgência para o fim de determinar ao IPREV que se
abstenha de aplicar o art. 24-C do Decreto-Lei 667/1969, com redação dada pela Lei
Federal 13.954/2019. A propósito, retira-se da decisão proferida na ação nº 5065799-
89.2020.8.24.0023 (inteiro teor anexo):

Trata-se de ação declaratória e condenatória ajuizada pela


Associação de Praças do Estado de Santa Catarina (Aprasc)
em face do Instituto de Previdência do Estado de Santa
Catarina (IPREV), em que requer:
1. Seja concedida a tutela antecipada de urgência inaudita
altera parte, com a finalidade de suspender a cobrança da
contribuição previdenciária, chamada de contribuição social dos
militares, na alíquota de 9,5% sobre o total dos proventos e
pensões dos representados (militares inativos e pensionistas
de militares e militares inativos e pensionistas de militares com
doenças graves), haja vista que a mesma padece de
ilegalidade visto que proferida contra os comandos
constitucionais, bem como em razão da inexistência de lei
específica do ente estadual, para determinar que seja
restabelecida a regra anterior de 14% calculado sobre o valor
dos proventos e pensões dos representados que excede ao

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teto do RGPS ou que excede o dobro do teto para os casos
dos representados com doenças graves. (evento 1/1, p. 26).
A concessão da tutela de urgência exige o preenchimento dos
requisitos previstos no art. 300, caput, e § 3º, do CPC: a)
probabilidade do direito; b) perigo de dano ou risco ao resultado
útil do processo; e c) reversibilidade dos efeitos da decisão.
No caso concreto, ressai dos autos que o IPREV, diante da
inclusão do art. 24-C no Decreto-lei n. 667/1969, realizado pela
Lei n. 13.954/2019, passou a exigir o recolhimento
da contribuição previdenciária na alíquota de 9,5% incidente
sobre os proventos auferidos pelos representados, militares
inativos portadores de doença incapacitante, consoante
demonstra os contracheques adunados à petição inicial (evento
1/1, p. 6-8). A norma em voga possui a seguinte redação:
Incide contribuição sobre a totalidade da remuneração dos militares
dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, ativos ou inativos, e
de seus pensionistas, com alíquota igual à aplicável às Forças
Armadas, cuja receita é destinada ao custeio das pensões militares e
da inatividade dos militares.
Doutro lado, o inciso XXI do art. 22 da Constituição Federal,
com a redação dada pela Emenda Constitucional (EC) n.
103/2019, dispõe que compete privativamente à União legislar
sobre "normas gerais de organização, efetivos, material bélico,
garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões
das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares".
Por conta disso, remanesce aos Estados a competência
suplementar para dispor sobre as inatividades e pensões das
polícias militares e dos corpos de bombeiros militares. (...)
Ainda, observa-se que o § 1º do art. 149 da CF, com a redação
dada pela EC n. 103/2019, enuncia que "a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios instituirão, por meio de lei,
contribuições para custeio de regime próprio de previdência
social, cobradas dos servidores ativos, dos aposentados e dos
pensionistas, que poderão ter alíquotas progressivas de acordo
com o valor da base de contribuição ou dos proventos de
aposentadoria e de pensões".

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A interpretação conjunta dos arts. 22, XXI, e 149, § 1º, da
Constituição Federal, conduz à conclusão de que é
competência exclusiva dos Estados definir a alíquota e a base
de cálculo das contribuições previdenciárias dos inativos
militares e dos respectivos pensionistas.
Esse intelecção foi desenvolvida pelo Min. Luís Roberto
Barroso em decisão unipessoal que deferiu pedido de tutela de
urgência em Ação Cível Originária quando determinou "[...] que
a União se abstenha de aplicar ao Estado do Rio Grande do
Sul qualquer das providências previstas no art. 7º da Lei nº
9.717/1998 ou de negar-lhe a expedição do Certificado de
Regularidade Previdenciária caso continue a aplicar aos
policiais e bombeiros militares estaduais e seus pensionistas a
alíquota de contribuição para o regime de inatividade e pensão
prevista em lei estadual, em detrimento que prevê o art. 24-C
do Decreto Lei nº 667/1969, com a redação da Lei nº
13.954/2019". A decisão contém a seguinte ementa:
DIREITO ADMINISTRATIVO. AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. ALÍQUOTA
DE CONTRIBUIÇÃO PARA INATIVIDADE E PENSÃO. POLICIAIS E
BOMBEIROS MILITARES ESTADUAIS. 1. Ação cível originária por
meio da qual o Estado do Rio Grande do Sul pretende não ser
sancionado caso aplique aos militares estaduais a alíquota de
contribuição para o regime de inatividade e pensão prevista na
legislação estadual (14%), em detrimento de lei federal que
determinou que se aplicasse a essa categoria a mesma alíquota
estabelecida para as Forças Armadas (atualmente, 9,5%). 2.
Plausibilidade jurídica da tese de que a União, ao definir a alíquota de
contribuição previdenciária a ser aplicada aos militares estaduais,
extrapolou a competência para a edição de normas gerais sobre
“inatividades e pensões das polícias militares e dos corpos de
bombeiros militares” (art. 22, XI, da Constituição, com a redação dada
pela Emenda Constitucional nº 103/2019). 3. A interpretação
sistemática da Constituição fortalece o argumento de que alíquota da
contribuição previdenciária devida por militares estaduais deve ser
fixada por meio de lei estadual que considere as características dos
regimes de cada um desses entes públicos (arts. 42, § 1º, 142, § 3º, X

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e 149, § 1º, da Constituição). 4. A edição de atos normativos cuja
aplicação implicará a redução das alíquotas de contribuição
praticadas pelo Estado revela comportamento contraditório da União
– que, de um lado, exige dos demais entes públicos que assegurem o
equilíbrio de seus regimes próprios de previdência, e de outro,
restringe os meios para o alcance desse objetivo. 5. Existência de
perigo na demora, já que o descumprimento da legislação federal
sujeita o Estado à aplicação das consequências jurídicas previstas no
art. 7º da Lei nº 9.717/1998 e à negativa de expedição do Certificado
de Regularidade Previdenciária, com prováveis prejuízos à execução
de políticas públicas. 6. Medida cautelar deferida. (Ação Cível
Originária n. 3.350 MC/DF, j. 19.2.2020).
No mesmo sentido, o Min. Alexandre de Moraes, em
19.5.2020, na Ação Cível Originária n. 3.396, proposta pelo
Estado do Mato Grosso, reconheceu a competência exclusiva
do ente para fixar a alíquota da contribuição previdenciária.
Nessas circunstâncias, entende-se presente a probabilidade do
direito, consistente na inaplicabilidade da disposição contida no
art. 24-C do Decreto-lei n. 667/1969, pois deve prevalecer o
que estabelece o art. 61, caput, da Lei Complementar estadual
n. 412/2008.
A seu turno, o periculum in mora também se faz presente, pois
a adoção de forma distinta para o cálculo da contribuição
previdenciária acarreta o recolhimento de valor superior ao
realmente devido, importando, pela via reflexa, na diminuição
de rendimentos que têm de natureza eminentemente alimentar.
Destarte, a concessão da tutela provisória é a medida que se
impõe.
1. Isto posto, defiro o pedido de tutela provisória (CPC, art.
300) para o fim de determinar ao IPREV que se abstenha de
aplicar o art. 24-C do Decreto-Lei n. 667/1969, com redação
dada pela Lei n. 13.954/2019, para o cálculo da contribuição
previdenciária, restaurando a eficácia do disposto no art.
17 da Lei Complementar estadual n. 412/2008 em favor dos
militares inativos e pensionistas representados pela
associação autora (evento 1/8), e no art. 61, caput, do

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mesmo Diploma Legal, aos segurados que gozam da
isenção especial prevista no referido dispositivo.

Tais decisões beneficiaram 7.476 praças e bombeiros inativos


e pensionistas do Estado de Santa Catarina, conforme se infere das listas anexas que
instruem as referidas ações.

Por consequência, os associados da Requerente mantiveram o


recolhimento da contribuição previdenciária com base na alíquota prevista no art. 17 da Lei
Complementar Estadual nº 412/2008, usufruindo uma economia de R$ 50.167.511,25,
conforme se infere dos cálculos anexos.

A propósito, não é demais sublinhar que o ajuizamento das


ações coletivas pela Requerente para afastar a aplicação da Lei Federal 13.954/2019
se escorou justamente na confiança depositada na jurisprudência desta Corte sobre a
questão e que foi confirmada pela tese fixada no Tema 1.177.

Como se viu, foi também a previsibilidade e segurança jurídica


geradas pelo reiterado entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre o tema que
fundamentou a concessão da tutela de urgência nas ações coletivas para suspender a
aplicação da Lei Federal 13.954/2019, gerando economia de dezenas de milhões de reais
para os associados beneficiados pelas referidas decisões.

Trata-se, pois, de benefício legítimo, escorado na boa-fé


objetiva e na confiança que o jurisdicionado depositou no papel desta Corte de trazer
estabilidade jurídica ao sistema e que precisa ser preservado em respeito ao
consectários do Estado Democrático de Direito e do devido processo legal.

Não é possível, neste contexto, impor aos militares


beneficiados por decisões judiciais o recolhimento das diferenças das contribuições
decorrentes das alíquotas previstas pela Lei Federal 13.954/2019 e pela Lei
Complementar Estadual 412/2008, sob pena de se gerar grave injustiça e distorção no
sistema jurídico.

Como muito bem dito pela decisão que proveu os embargos de


declaração interposto pelo IPREV, a modulação temporal de efeitos de decisões judiciais

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“traduz a exigência de previsibilidade e estabilidade do ordenamento jurídico, espelhando
uma forma de tutela dos direitos fundamentais dos jurisdicionados, de sorte que as decisões
não despertem surpresas injustas ou preconizem rupturas na confiabilidade do sistema”.

E é justamente pela necessidade de se preservar a confiança


no sistema que deve ser mantida a eficácia das decisões judiciais que suspenderam a
aplicação da Lei Federal 13.954/2019, de modo a não frustrar expectativas legítimas e
causar prejuízo aos jurisdicionados.

É importante ressaltar ainda que a interpretação ora defendida


vai ao encontro dos pressupostos que fundamentam a fixação de efeitos prospectivos à tese
aplicada na presente demanda, notadamente a manutenção do equilíbrio financeiro-atuarial
dos entes federativos, pois não implica na restituição de contribuições recolhidas a maior
pelos militares inativos e de seus pensionistas com base na lei federal, mas apenas na
manutenção dos recolhimentos feitos com base na alíquota estabelecida pela
legislação estadual.

Vale dizer, a ressalva das decisões proferidas nas ações


em curso não trará qualquer prejuízo aos Estados, pois os militares beneficiados por
tutelas de urgência fizeram o recolhimento das contribuições previdenciárias de
acordo com a tese fixada no Tema 1.177.

O que não se pode é defender interpretação no sentido de que


os militares beneficiados por decisões judiciais com eficácia imediata devem recolher as
diferenças decorrentes da aplicação da lei federal até 1º de janeiro de 2023, sob pena de
impor grave dano ao jurisdicionado que confiou na tutela do Estado.

Diante do exposto, requer-se o provimento dos presentes


embargos de declaração para esclarecer que a modulação dos efeitos da tese fixada no
Tema 1.177 não atinge as decisões judiciais que suspenderam a aplicação da Lei Federal nº
13.954/2019, que devem ser mantidas hígidas, de modo a confirmar a legalidade do
recolhimento das contribuições previdenciárias com base na legislação estadual.

REQUERIMENTOS

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Diante do exposto, requer-se:

a) A admissão da Requerente no feito na qualidade de amicus


curiae, nos termos dos artigos 138 e 1.038, inciso I, do CPC.

b) O provimento dos presentes embargos de declaração para


esclarecer que a modulação dos efeitos da tese fixada no Tema 1.177 não atinge as
decisões judiciais que suspenderam a aplicação da Lei Federal nº 13.954/2019, que devem
ser mantidas hígidas, de modo a confirmar a legalidade das contribuições previdenciárias
recolhidas com base na alíquota da legislação estadual.

Termos em que, pede deferimento.

Brasília/DF, 15 de setembro de 2022.

GRACE SANTOS DA SILVA MARTINS NATALIA ALVES DA SILVA


OAB/SC 14.101 OAB/SC 59.286

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