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Superior Tribunal de Justiça

AgInt no CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 157.969 - RS (2018/0092876-9)

RELATOR : MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA


AGRAVANTE : SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS IND. METALÚRGICAS,
MECÂNICAS E DE MATERIAL ELÉTRICO E ELETRÔNICO DA GRANDE
PORTO ALEGRE
ADVOGADO : LAURO WAGNER MAGNAGO - RS022276
AGRAVADO : STEMAC S/A GRUPOS GERADORES E OUTROS
ADVOGADOS : THOMAS BENES FELSBERG - SP019383
FABIANA BRUNO SOLANO PEREIRA - SP173617
THIAGO DIAS COSTA - SP292344
LUCIANO JUNQUEIRA DE ALMEIDA PRADO - SP394088
SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DA VARA EMPRESARIAL RECUPERAÇÃO JUDICIAL
E FALÊNCIAS DO PRIMEIRO JUIZADO DE PORTO ALEGRE - RS
SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO DA 3A VARA CÍVEL DE ITUMBIARA - GO
EMENTA

AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RECUPERAÇÃO


JUDICIAL. PRINCIPAL ESTABELECIMENTO DO DEVEDOR.
1. Esta Corte, interpretando o conceito de "principal estabelecimento do
devedor" referido no artigo 3º da Lei nº 11.101/2005, firmou o entendimento de
que o Juízo competente para processamento de pedido de recuperação judicial
deve ser o do local em que se centralizam as atividades mais importantes da
empresa.
2. Hipótese em que o grupo empresarial transferiu-se para a cidade de Itumbiara -
GO, onde centralizou suas principais atividades empresariais, não havendo falar
em competência do local da antiga sede estatutária - Porto Alegre-RS - para o
processamento do pedido de recuperação judicial.
3. Agravo interno não provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a
Segunda Seção, por unanimidade, negar provimento ao agravo interno, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Marco Buzzi, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, Nancy
Andrighi, Luis Felipe Salomão, Raul Araújo e Maria Isabel Gallotti votaram com o Sr. Ministro
Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino.

Brasília (DF), 26 de setembro de 2018(Data do Julgamento)

Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA


Relator

Documento: 1756813 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/10/2018 Página 1 de 4
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AgInt no CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 157.969 - RS (2018/0092876-9)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (Relator):


SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS IND. METALÚRGICAS, MECÂNICAS E DE MATERIAL
ELÉTRICO E ELETRÔNICO DA GRANDE PORTO ALEGRE, na qualidade de terceiro
interessado, interpõe agravo interno contra a decisão (fls. 778/782 e-STJ) que conheceu do
conflito para declarar competente o JUÍZO DE DIREITO DA 3ª VARA CÍVEL DE ITUMBIARA - GO
para processar o pedido de recuperação judicial de STEMAC S.A. GRUPOS GERADORES E
OUTROS.
O agravante alega que o grupo empresarial que ajuizou o pedido de recuperação
judicial junto ao JUÍZO DE DIREITO DA 3ª VARA CÍVEL DE ITUMBIARA - GO tem um enorme
passivo trabalhista na cidade de Porto Alegre - RS.
Defende que o juízo competente para o processamento da recuperação judicial é
o da capital gaúcha por ser o local de sede do grupo empresarial, de onde emanam as
principais decisões de gestão e no qual se localiza o maior volume de credores.
É o relatório.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (Relator): O recurso


não merece prosperar.
Esta Corte, interpretando o conceito de "principal estabelecimento do devedor"
referido no artigo 3º da Lei nº 11.101/2005, firmou o entendimento de que o Juízo competente
para processamento de pedido de recuperação judicial deve ser o da comarca onde se
centralizam as atividades mais importantes da empresa.
A propósito:

"CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO DE


RECUPERAÇÃO JUDICIAL AJUIZADO NA COMARCA DE CATALÃO/GO POR
GRUPO DE DIFERENTES EMPRESAS. ALEGAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE GRUPO
ECONÔMICO. DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA PARA A COMARCA DE
MONTE CARMELO/MG. FORO DO LOCAL DO PRINCIPAL ESTABELECIMENTO
DO DEVEDOR. ARTIGO 3º DA LEI 11.101/05. PRECEDENTES.
1. Trata-se de conflito de competência suscitado pelo JUÍZO DE DIREITO DA 2A
VARA DE MONTE CARMELO - MG em face do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE GOIÁS, nos autos de pedido de recuperação judicial formulado por
quatro empresas, em litisconsórcio ativo, com a particularidade de que cada uma
delas explora atividade empresária diversa e de forma autônoma, inclusive com
estabelecimentos próprios.
2. A circunstância de as recuperandas não terem impugnado a decisão
declinatória proferida pelo relator do agravo de instrumento (n.º
348379-48.2015.8.09.0000) no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás não
interfere no conhecimento do incidente, pois a norma constante do artigo 3º da
Lei 11.101/05 encerra regra de competência absoluta, afastando eventual
alegação da existência de preclusão quanto à suscitação do conflito.
3. O art. 3º da Lei n. 11.101/05, ao repetir com pequenas modificações o
revogado artigo 7º do Decreto-Lei 7.661/45, estabelece que o Juízo do local do
principal estabelecimento do devedor é o competente para processar e julgar
pedido de recuperação judicial.
4. A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, respaldada em
entendimento firmado há muito anos no Supremo Tribunal Federal e na
própria Corte, assentou clássica lição acerca da interpretação da expressão
'principal estabelecimento do devedor' constante da mencionada norma,
afirmando ser 'o local onde a 'atividade se mantém centralizada', não sendo,
de outra parte, 'aquele a que os estatutos conferem o título principal, mas o
que forma o corpo vivo, o centro vital das principais atividades do
devedor'.'(CC 32.988/RJ, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de
04/02/2002).
5. Precedentes do STJ no mesmo sentido (REsp 1.006.093/DF, Rel. Ministro
ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, DJe de 16/10/2014; CC
37.736/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, DJ de
16/08/2004; e CC 1.930/SP, Rel. Min. ATHOS CARNEIRO, SEGUNDA SEÇÃO,

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DJ de 25/11/1991).
6. Todavia, a partir das informações apresentadas pelas autoridades envolvidas e
também das alegações das partes interessadas, a controvérsia estabelecida não
está relacionada propriamente ao critério escolhido pelo legislador, mas na sua
aplicação à específica hipótese dos autos.
7. Considerando o variado cenário de informações que constam dos autos,
notadamente a de que a ELETROSOM S/A é a maior sociedade do grupo, e que
sua atividade é pulverizada pelo país, deve ser definido como competente o juízo
onde está localizada a sede da empresa, ou seja, o juízo da Comarca de Monte
Carmelo/MG.
8. Conflito conhecido para declarar a competência do juízo da 2ª Vara da
Comarca de Monte Carmelo/MG."
(CC 146.579/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 9/11/2016, DJe 11/11/2016 - grifou-se)

"PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE RECUPERAÇÃO


JUDICIAL AJUIZADO NO DISTRITO FEDERAL. DECLINAÇÃO DA
COMPETÊNCIA PARA O RIO DE JANEIRO - RJ. PRINCIPAL
ESTABELECIMENTO. ARTS. 3º E 6º, § 8º, DA LEI N. 11.101/2005. VIOLAÇÃO
NÃO CARACTERIZADA. INDISPONIBILIDADE DE BENS E INATIVIDADE DA
EMPRESA. POSTERIOR MODIFICAÇÃO DA SEDE NO CONTRATO SOCIAL.
QUADRO FÁTICO IMUTÁVEL NA INSTÂNCIA ESPECIAL.
ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA DO STJ.
1. O quadro fático-probatório descrito no acórdão recorrido não pode ser
modificado em recurso especial, esbarrando na vedação contida no Enunciado n.
7 da Súmula do STJ. Em tal circunstância, não produzem efeito algum neste
julgamento as alegações recursais a respeito da suposta atividade econômica
exercida nesta Capital e da eventual ausência de citação nos autos do pedido de
falência referido pela recorrente, aspectos que nem mesmo foram enfrentados
pelo Tribunal de origem.
2. A qualificação de principal estabelecimento, referido no art. 3º da Lei n.
11.101/2005, revela uma situação fática vinculada à apuração do local onde
exercidas as atividades mais importantes da empresa, não se confundindo,
necessariamente, com o endereço da sede, formalmente constante do
estatuto social e objeto de alteração no presente caso.
3. Tornados os bens indisponíveis e encerradas as atividades da empresa cuja
recuperação é postulada, firma-se como competente o juízo do último local em
que se situava o principal estabelecimento, de forma a proteger o direito dos
credores e a tornar menos complexa a atividade do Poder Judiciário, orientação
que se concilia com o espírito da norma legal.
4. Concretamente, conforme apurado nas instâncias ordinárias, o principal
estabelecimento da recorrente, antes da inatividade, localizava-se no Rio de
Janeiro - RJ, onde foram propostas inúmeras ações na Justiça comum e na
Justiça Federal, entre elas até mesmo um pedido de falência, segundo a
recorrente, em 2004, razão pela qual a prevenção do referido foro permanece
intacta.
5. Recurso especial improvido."
(REsp 1.006.093/DF, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA
TURMA, julgado em 20/5/2014, DJe 16/10/2014 - grifou-se)

Aplicando-se tal entendimento à hipótese em comento, não há como se concluir


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que o núcleo vital do grupo empresarial seja o da antiga sede de Porto Alegre - RS.
Conforme as informações apuradas pelo próprio Juízo suscitante, é no enorme
parque fabril, transferido desde o ano de 2014 para a cidade de Itumbiara - GO, que foi
centralizado o maior volume de negócios nacionais e internacionais do grupo, restando à sede
gaúcha atividades meramente administrativas.
Aliás, nem mesmo há provas de que as supostas atividades administrativas que
restaram na sede gaúcha envolvam as principais decisões estratégicas e negociais do grupo,
conforme alega o agravante.
Assim, considerando que na cidade de Itumbiara - GO atualmente se localiza o
parque fabril - principal ativo do grupo empresarial -, onde foi centralizada toda a sua produção
e de onde emanam todas as suas relações negociais, não se pode vislumbrar, na hipótese, que
a sede localizada em Porto Alegre - RS ainda possa ser considerada como a que desempenha
as atividades empresariais mais importantes.
Desse modo, não se tratando de atividade empresarial uniformemente
pulverizada em localidades distintas, a antiga sede estatutária não atrai a competência para
processamento da recuperação judicial, haja vista a notória reestruturação havida em 2011 e
concretizada em 2014.
Esclareça-se, por oportuno, que não se ignora a alegação do agravante de que a
maior parte dos credores do grupo se encontram na Comarca de Porto Alegre - RS, onde há,
inclusive, um enorme passivo trabalhista. No entanto, tal fato não tem o condão de alterar a
competência instituída no artigo 3º da Lei nº 11.101/2005.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo interno.
É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO

AgInt no
Número Registro: 2018/0092876-9 PROCESSO ELETRÔNICO CC 157.969 / RS

Número Origem: 51770587920188090087

PAUTA: 26/09/2018 JULGADO: 26/09/2018

Relator
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER

AUTUAÇÃO
SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DA VARA EMPRESARIAL RECUPERAÇÃO JUDICIAL
E FALÊNCIAS DO PRIMEIRO JUIZADO DE PORTO ALEGRE - RS
SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO DA 3A VARA CÍVEL DE ITUMBIARA - GO
INTERES. : STEMAC S/A GRUPOS GERADORES E OUTROS
ADVOGADOS : THOMAS BENES FELSBERG - SP019383
FABIANA BRUNO SOLANO PEREIRA - SP173617
THIAGO DIAS COSTA - SP292344
LUCIANO JUNQUEIRA DE ALMEIDA PRADO - SP394088

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Empresas - Recuperação judicial e Falência

AGRAVO INTERNO
AGRAVANTE : SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS IND. METALÚRGICAS,
MECÂNICAS E DE MATERIAL ELÉTRICO E ELETRÔNICO DA GRANDE
PORTO ALEGRE
ADVOGADO : LAURO WAGNER MAGNAGO - RS022276
AGRAVADO : STEMAC S/A GRUPOS GERADORES E OUTROS
ADVOGADOS : THOMAS BENES FELSBERG - SP019383
FABIANA BRUNO SOLANO PEREIRA - SP173617
THIAGO DIAS COSTA - SP292344
LUCIANO JUNQUEIRA DE ALMEIDA PRADO - SP394088
SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DA VARA EMPRESARIAL RECUPERAÇÃO JUDICIAL
E FALÊNCIAS DO PRIMEIRO JUIZADO DE PORTO ALEGRE - RS
SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO DA 3A VARA CÍVEL DE ITUMBIARA - GO

SUSTENTAÇÃO ORAL
Consignado pedido de preferência pelo agravado Stemac S/A Grupos Geradores e Outros,
representado pela Dra. Nayara Fonseca Cunha.
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CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Seção, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Marco Buzzi, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, Nancy Andrighi,
Luis Felipe Salomão, Raul Araújo e Maria Isabel Gallotti votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino.

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