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LEI DE TERRA DE ANGOLA

Índice:
       Introducción.
       Capítulo 1. Disposições e Princípios Gerais
            Secção 1. Disposições Gerais
            Secção 2 Princípios Fundamentais.
                 Subsecção 1 . Estrutura Fundiária
                 Subsecção 2 Intervenção Fundiária
       Capítulo 2 Dos Terrenos e dos Direitos.
            Secção 1 Terrenos
            Secção 2 Direitos sobre Terrenos.
                 Subsecção 1 Domínios do Estado.
                 Subsecção 2 Direitos fundiários.
       Capítulo 3 Concessão de Direitos Fundiários
            Secção 1 Aquisição de Disposições Gerais
            Secção 2 Transmissão e Extinção dos Direitos Fundiários
            Secção 3 Competência Para as Concessões
       Capítulo 4 Disposições Finais e Transitórias
            Secção 0

Introducción.
Esta Lei tem por objecto o estabelecimento do sistema de ordenamento do território e do urbanismo da sua
acção política. A política de ordenamento do território e do urbanismo integra as acções promovidas pela
Administração Pública, visando assegurar uma adequada organização e utilização do território nacional, na
perspectiva da sua valorização em função dos instrumentos de ordenamento do território previstos na
presente Lei.

Capítulo 1. Disposições e Princípios Gerais


 

  Secção 1. Disposições Gerais

Capítulo 1. Disposições e Princípios Gerais


 

  Secção 1. Disposições Gerais


Artigo 1º. (Definições Gerais).

Para efeitos da presente lei, entende-se por:

a. Atravessadouros: os terrenos ou caminhos rurais que pertencendo quer ao domínio público do


Estado, ou das autarquias locais, quer ao domínio privado do Estado ou dos particulares,
estão colocados sobre um regime de servidão de passagem, ou integrados em terrenos
comunitários, segundo o direito consuetudinário, para acesso do gado a pastagens ou fontes
de água, e outras utilidades tradicionais das comunidades rurais, locais.
b. Aglomerados urbanos: as territoriais que abrigam aglomerados populacionais que estão
dotadas de infraestruturas urbanísticas, designadamente., redes de abastecimento de água e
de electricidade, de saneamento básico, e cuja estruturação se desenvolve segundo planos
urbanísticos aprovados ou, na sua falta, segundo instrumentos de gestão urbanística
legalmente equivalentes.
c. Cidades: os aglomerados urbanos dotados de estatuto especial para o efeito,
designadamente, o foral de cidade, e com um número mínimo de habitantes, definido por lei,
segundo as normas de ordenamento do território.
d. Grandes cidades: são os aglomerados que tenham mais de 100.000 habitantes.
e. Médias cidades: são os aglomerados que tenham de 10.000 a 100.000 habitantes.
f. Pequenas cidades: são os aglomerados urbanos que tenham até 10.000 habitantes.
g. Direitos fundiários: todos os tipos de direitos que recaem sobre a terra ou terrenos colocados
no regime de domínio privado do Estado, e de que as pessoas singulares ou colectivas de
direito privado ou público podem ser titulares, exercendo-os nos termos da presente lei.
h. Solo ou solos: a superfície ou camada de terra destinada a aproveitamento útil, rural ou
urbano, e objecto da propriedade originária do Estado, transmissível a terceiros através da
constituição ou concessão de um dos tipos de direitos fundiários previstos na presente lei.
i. Terra: o equivalente a solo ou solos.
j. Terreno: o extracto ou porção de solo com área delimitada, classificado em função do fim a
que está destinado, e autonomizado, em termos cadastrais e de registo predial, para efeitos
de incidência de um tipo de direitos fundiários com vista ao seu aproveitamento útil pelo(s)
respectivo(s) titular(s).

Artigo 2º (Objecto).

A presente lei estabelece as bases gerais do regime jurídico das terras, bem como os direitos que
podem incidir sobre as terras e o regime geral de concessão e constituição dos direitos fundiários.

Artigo 3º(Âmbito de Aplicação).

A presente lei regula os princípios gerais e fundamentais aplicáveis a tipologia de terrenos, a ocupação,
uso e aproveitamento de terras rurais e urbanos por pessoas singulares e pessoas colectivas de direito
privado ou de direito público, em função dos seus múltiplos fins, quer de interesse privado,
designadamente, agrários, silvícolas, mineiros, industriais, comerciais e de habitação ou edificação
rural ou urbana, quer de interesse público, designadamente, do ordenamento do território, da
protecção do ambiente, da defesa do território, da concessão de terrenos para o fomento do seu
aproveitamento efectivo e do desenvolvimento económico e social.

  Secção 2 Princípios Fundamentais.


 

  Subsecção 1 . Estrutura Fundiária


Artigo 4º (Princípios).

Os direitos fundiários que, nos termos da presente lei, se podem constituir em relação as terras
baseiam-se nos seguintes princípios fundamentais:

a. propriedade originária da terra pelo Estado sob domínio privado;


b. transmissibilidade do domínio privado do Estado;
c. aproveitamento útil e efectivo;
d. tipicidade;
e. respeito pelos direitos fundiários das comunidades rurais;
f. propriedade do Estado sobre os recursos naturais;
g. irreversibilidade das nacionalizações e confiscos;
h. expropriação por utilidade pública;
i. domínio público;
j. classificação.

Artigo 5º (Propriedade Originária da Terra pelo Estado sob Domínio Privado).

A terra é, por princípio geral, propriedade originária do Estado, em regime de domínio privado,
destinado por natureza, à concessão a terceiros, nos termos e limites da presente lei, para o seu
aproveitamento útil e efectivo.

Artigo 6º (Transmissibilidade do Domínio Privado do Estado)

1. A propriedade fundiária originária do Estado é, por natureza do seu regime, transmissível a


terceiros com vista a fomentar e assegurar o seu aproveitamento útil.
2. A transmissão prevista no nº1 é apenas consentida quando operada nos termos, limites e
com o eenchimento dos requisitos previstos na presente lei, para a concessão ou aquisição
de direitos fundiários.

3. diária originária do Estado, considerando-se, como tal, indisponível o domínio privado do


Estado, fora dos requisitos legais de constituição e concessão de direitos fundiários a
pessoas singulares e colectivas.

Artigo 7º (Aproveitamento Útil e Efectivo).

1. A propriedade fundiária originária, sob domínio privado do Estado, é por regra, destinada à
transmissão para aproveitamento útil, por via da alienação de direitos fundiários que
impliquem a transferência da propriedade ou da simples concessão de direitos fundiários
menores.
2. O Estado pode conceder poderes ou direitos de exploração da propriedade do Estado dos
recursos naturais no regime de domínio público, desde que não implique a transmissão da
propriedade.
3. A concessão de direitos fundiários pelo Estado a terceiros rege-se pelo cumprimento do
aproveitamento útil e efectivo do terreno a conceder, em função do fim a que está
destinado, nos termos da presente lei.
4. Os índices e demais requisitos impostos ao aproveitamento dos terrenos concedidos são
determinados em instrumentos de gestão territorial, nos termos da lei.

Artigo 8º (Princípio da Tipicidade).

Sobre os terrenos sujeitos ao regime de domínio privado do Estado só podem ser constituídos os
diversos tipos de direitos fundiários, fixados e regulados na Secção II do Capítulo II da presente lei, e
aplicáveis a terrenos, quer rurais, quer urbanos.

Artigo 9º (Respeito pelos Direitos Fundiários das Comunidades Rurais).

É assegurado o respeito dos direitos fundiários, que segundo os usos e costumes, assistem as
comunidades rurais, consagradas nos termos da Constituição e da lei.

Artigo 10º (Propriedade do Estado sobre os Recursos Naturais).

1. Os recursos naturais são propriedade do Estado sujeita ao regime do seu domínio público e
da concessão de poderes e direitos de exploração, nos termos da respectiva legislação
especial aplicável em razão do tipo e natureza do bem natural.
2. A aquisição por terceiras pessoas da propriedade ou de qualquer outro direito fundiário
sobre terrenos não implica a aquisição por acessão de outros recursos naturais.

Artigo 11º (Irreversibilidade das Nacionalizações e Confiscos).

São irreversíveis os efeitos de transferência da propriedade para o Estado operados pelas


nacionalizações e confiscos que tenham tido por objecto unidades empresariais abandonadas e
quaisquer direitos fundiários sobre os respectivos terrenos.

Artigo 12º (Expropriação por Utilidade Pública).

1. O Estado e as autarquias locais podem expropriar terrenos de que necessitem para a


realização de fins de interesse público nos termos da lei.
2. O estabelecido no número anterior não prejudica o direito a indemnização aos particulares
lesados, nos termos da lei.

Artigo 13º (Domínio Público).

O Estado pode sujeitar determinados bens fundiários ao regime excepcional de domínio público, nos
termos da presente lei.
Capítulo 2 Dos Terrenos e dos Direitos.
 

Secção 1 Terrenos
Artigo 19º (Classificação dos Terrenos).

1. Os terrenos são classificados em função dos fins a que são destinados e do regime jurídico a
que estão sujeitos nos termos da lei.
2. Os terrenos do Estado classificam-se em concedíveis e não concedíveis.
3. Os terrenos concedíveis classificam-se para efeitos do seu uso e aproveitamento, pelas
pessoas singulares e colectivas, em dois tipos:
a. Terrenos urbanos;
b. Terrenos rurais;

4. São terrenos não concedíveis os integrados no domínio público, bem como os terrenos
comunitários.
5. Os terrenos urbanos são os situados dentro dos forais ou das áreas delimitadas dos
aglomerados urbanos e destinam-se aos fins de ocupação e edificação urbana.
6. Os terrenos rurais são os situados fora dos aglomerados urbanos, e destinam-se aos mais
diversos tipos de aproveitamento económico e social, adequados à suas aptidões, ou regime
de ocupação consuetudinário, designadamente fins agrários, de implantação de instalações
industriais, comerciais ou de exploração mineira, bem como de ocupação habitacional, uso e
fruição agro-pecuária e florestal pelas comunidades rurais.
7. A declaração ou qualificação específica dos terrenos compreendidos nas alíneas deste Artigo é
feita pelos planos gerais de ordenamento do território, e na sua falta, casuisticamente, por
decisão das diferentes autoridades competentes em razão da matéria, nos termos da
presente lei e regulamentos.

Artigo 20º (Terrenos Concedíveis).

 
1. São concedíveis os terrenos que não tenham entrado definitivamente no regime de
propriedade privada, e estão integrados na propriedade originária do Estado, destinando-se a
ser transmitidos a pessoas singulares e colectivas que o requeiram para o seu
aproveitamento, segundo os diferentes tipos de direitos fundiários e demais termos previstos
na presente lei.
2. Os terrenos concedíveis seguem o regime de domínio privado do Estado ou das autarquias
locais, sendo-lhes aplicáveis as normas e limites especiais constantes no Artigo 7º. da
presente lei, os limites excepcionais da sua imprescritibilidade e o disposto no Artigo 1304º do
Código Civil.
3. Os terrenos concedíveis podem ser transferidos da titularidade do Estado para à das
autarquias locais através da concessão de foral ou título legal equivalente.

Artigo 21º (Terrenos Urbanos).

Os terrenos urbanos classificam-se em função dos fins urbanísticos e dos respectivos regimes jurídicos
específicos, em:

a. terrenos urbanizados aqueles cujos fins concretos estão definidos pelos planos de detalhe
urbanísticos, ou como tal qualificados por decisão das autoridades locais competentes,
designadamente, para implantação de edifícios, vias de comunicação, parques e demais
infraestruturas de urbanização;
b. terrenos de construção, os terrenos urbanizados que estando abrangidos por uma operação
de loteamento aprovado, tenham obtido licença para construção de edifício; pela competente
autoridade local;
c. terrenos urbanizáveis os que ainda que compreendidos no foral ou perímetro urbano
equivalente, estão qualificados pelo plano director municipal, ou equivalente, como reserva
urbana de expansão.
Artigo 22º (Terrenos Rurais).

Os terrenos rurais classificam-se em função dos seus fins e respectivos regimes jurídicos específicos,
em:

a. Terrenos rurais comunitários os ocupados pelas famílias das comunidades rurais locais, para
fins habitacionais e de exercício da sua actividade familiar; e outros reconhecidos sob o
regime consuetudinário e os termos da presente lei e dos respectivos regulamentos;
b. Terrenos Agrários os que são declarados aptos para cultura, designadamente, para o exercício
de actividades agrícolas, pecuárias e silvícolas, ao abrigo do regime de concessão de direitos
fundiários previsto na presente lei;
c. Terrenos florestais, os qualificados como aptos para a reserva ou exploração de florestas
naturais ou artificiais, nos termos dos planos de ordenamento rural;
d. Terrenos de instalação, os destinados à implantação de instalações mineiras, industriais ou
agro-industriais, nos termos da presente lei e da respectiva legislação aplicável ao exercício
de actividades mineiras, petrolíferas e dos parques industriais;
e. Terrenos viários os declarados como afectos à implantação de vias terrestres de comunicação,
redes de abastecimento de água, electricidade, drenagem pluvial e de esgotos.

Artigo 23º (Terrenos Rurais Comunitários).

Os terrenos rurais comunitários, são delimitados nos termos de disposições regulamentares, em função
de uma determinada área utilizada por uma comunidade rural regido segundo normas
consuetudinárias, devendo compreender, sempre e conforme for o caso, áreas complementares ou
corredores de tansumância para a agricultura itinerante e a identificação dos atravessadouros em
regime de servidão ou não, para acesso do gado às fontes de água e pastagens.

Artigo 24º (Terrenos Comunitários).

1. Os terrenos agrários devem, através de regulamentos próprios dos órgãos competentes, ser
tecnicamente qualificados em função do tipo de cultura da respectiva aptidão predominante,
com vista ao controle da melhor aptidão dos solos, conservação e protecção da capacidade de
regeneração e outros fins de interesse geral.
2. A qualificação prevista no nº 1 é condicionante dos fins que cada concessão de terreno e
respectivo projecto agrário deve conter.
3. Os terrenos de cultura pertencentes a um mesmo proprietário, podem, nos termos legais e
regulamentares, ser objecto de emparcelamento com o fim de pôr termo à sua divisão e
dispersão e a melhorar a produtividade dos mesmos.

Artigo 25º (Terrenos de Instalação).

1. Sem prejuízo da conformidade com as directivas gerais constantes dos instrumentos de


ordenamento do território ou simplesmente transmitidas pela respectiva autoridade, a
qualificação dos terrenos de instalação, é essencialmente determinada pela contiguidade ou
adequada proximidade com o local da mina ou da fonte de matéria-prima ou de eixos viários
que aconselhem a localização de uma instalação mineira ou industrial.
2. São competentes para a aprovação da qualificação de terrenos de instalação mineira e
petrolífera, as entidades que superintendem essas áreas.
3. A aprovação da qualificação de um terreno de instalação industrial, é da competência
conjunta dos órgãos que superintendem o ordenamento do território e a indústria, com o
parecer do órgão que superintende o Ambiente.
4. A qualificação e afectação aprovada nos termos dos números anteriores deve ser comunicada
aos órgãos competentes, para efeitos de controle do ordenamento territorial e cadastral.

Artigo 26º (Terrenos Viários).

1. A qualificação dos terrenos viários compete aos órgãos competentes, através dos respectivos
instrumentos, devendo ser ouvidos os organismos que superintendam as áreas de obras
públicas, água e electricidade e os Governos em cujas províncias se integrem as vias ou redes
viárias visadas.
2. A afectação ao domínio público dos terrenos viários do domínio privado do Estado quando
destinados a vias públicas é da competência dos órgãos competentes que superintendem as
áreas de obras públicas e transportes.
3. É aplicável aos terrenos viários o disposto no nº 4 do artigo 25º da presente lei.

Artigo 27º (Terrenos Reservados).

1. Terrenos reservados ou reservas são os excluídos do regime geral de ocupação ou uso pelas
pessoas singulares ou colectivas, em razão de estarem afectos total ou parcialmente, à
realização de fins especiais que determinam a sua constituição.
2. As reservas são estabelecidas por Diploma do Governo tanto podem abranger terrenos do
domínio privado do Estado, ou das autarquias, como do seu domínio público, ou mesmo
terrenos que já tenham entrado no regime de propriedade privada.
3. As reservas podem ser totais ou parciais:
4. As reservas totais têm por fim principal a protecção dos elementos naturais do ambiente,
defesa e segurança nacionais, protecção de monumentos ou locais históricos, afectação ao
povoamento ou repovoamento e outros fins comunitários ou de interesse público, não sendo
nelas permitido qualquer ocupação ou uso, salvo o que se refira à sua conservação ou gestão
para efeitos de protecção do interesse público regulados no diploma constitutivo.
5. As reservas parciais são aquelas em que só são permitidas formas de ocupação ou uso que
não colidam com os fins visados pelo diploma constitutivo, compreendendo, designadamente:
a. o leito das águas interiores do mar territorial e da zona económica exclusiva;
b. A plataforma continental;
c. a faixa da orla marítima e no contorno de ilhéus, baías e estuários, medida da linha
das máximas preia-mares até 100 metros para o interior do território ;
d. a faixa de 100 metros confinante com as nascentes de água;
e. a faixa de terreno no contorno de barragens a albufeiras até 250 metros;
f. os terrenos ocupados pelas linhas férreas de interesse público e pelas respectivas
estações com uma faixa confinante de 50 metros de cada lado do eixo da via;
g. os terrenos ocupados pelas auto-estradas e estradas de quatro faixas, instalações e
condutores aéreos, superfícies, subterrâneas e submarinos de electricidade, de
telecomunicações, petróleo, gás e água com uma faixa confiante de 30 metros de
cada lado bem como os terrenos ocupados pelas estradas com uma faixa confinante
de 30 metros para as estradas provinciais e de 15 metros para as estradas
secundárias e terciárias;
h. a faixa de dois quilómetros ao longo da fronteira terrestre;
i. os terrenos ocupados por aeroportos e aeródromos com uma faixa confinante de
100 metros;
j. a faixa de terreno de 100 metros confinante com instalações militares e outras
instalações de defesa e segurança do Estado.

6. Quando se não justifique a sua manutenção, as reservas podem ser levantadas pela
autoridade que as constituiu.
7. A inclusão de propriedades privadas nas reservas pode ser efectuada através de expropriação
por utilidade pública ou pela constituição de simples servidões administrativas.
8. Os particulares abrangidos pela expropriação ou restrições nos termos desta lei, além do
direito às correspondentes indemnizações, têm a faculdade de optar pela participação, como
accionistas ou sócios, nas sociedades comerciais que vierem a constituir-se para exploração
de actividades relacionadas com o terreno reservado.

  Secção 2 Direitos sobre Terrenos.


 

Subsecção 1 Domínios do Estado.


Artigo 28º (Domínios do Estado).

 
1. O Estado, por força dos princípios fundamentais previstos nos artigos 4º e 12º da presente
lei, pode ser titular de direitos sobre bens fundiários segundo os seguintes regimes:
a. Domínio público cujas normas aplicáveis são as constantes dos artigos 7º n.º 2,
9º , 13º e 29º da presente lei;
b. Domínio privado, cujas normas aplicáveis são as dos artigos 5º, 6º e 7º, n.º 1, nº
3º e nº 4, o artigo 8º , os artigos 20º a 25º e os artigos da subsecção II seguinte.
2. O disposto no nº 1 é aplicável às autarquias locais, como pessoas colectivas territoriais de
direito público.

Artigo 29º (Domínio Público do Estado).

1. Pertencem ao Domínio público do Estado:


a. As águas interiores, o mar territorial, a plataforma continental, a zona económica
exclusiva, os fundos marinhos contíguos, incluindo os recursos vivos e não vivos
neles existentes;
b. O espaço aéreo nacional;
c. Os recursos minerais;
d. As estradas e os caminhos públicos, as pontes e linhas férreas públicas;
e. As praias e a orla costeira, numa faixa fixada pelos forais, ou por diploma do
Governo, conforme estiverem integradas ou não em perímetros urbanos;
f. As zonas territoriais reservadas à defesa do ambiente;
g. As zonas territoriais reservadas aos portos e aeroportos;
h. As zonas reservadas para a defesa militar;
i. Os monumentos e imóveis de interesse nacional, como tais classificados e
integrados no domínio público;
j. Outros bens administrados por lei, ou afectados por acto administrativo ao
domínio público.

2. Os bens do domínio público são propriedade do Estado inalienável, imprescritível e


impenhorável.

Artigo 30º (Direitos de Exploração do Domínio Público).

A concessão de direitos de pesquisa, exploração e produção de recursos minerais e outros recursos


naturais do domínio público é regulada pela demais legislação especial aplicável a cada tipo de
recurso natural.

Artigo 31º (Classificação e Desafectação).

1. A classificação ou a desafectação de determinados bens naturais ou construídos do domínio


público é, conforme os casos, declarada ou constituída por diploma do Governo, ou pelo
diploma que aprovar planos gerais de ordenamento do território.
2. A classificação declarada nos termos do nº 1. vale como declaração de utilidade pública
para os efeitos legais aplicáveis do processo de expropriação por utilidade pública que possa
implicar.

Artigo 32º (Transferência e Regime do Domínio Público Autárquico).

1. O Estado pode, por diploma próprio do Governo, ou por foral, conforme os casos, transferir
bens do seu domínio público para as autarquias locais, com o fim de descentralizar a sua
gestão.
2. Com as devidas adaptações e sem prejuízo de disposições regulamentares, é aplicável ao
domínio público das autarquias locais o regime do domínio público do Estado.

Artigo 33º (Terrenos Reservados e Direitos das Comunidades Rurais).

Estado assegura às comunidades rurais residentes nos perímetros dos terrenos reservados:

a. A tempestiva execução de políticas de reordenamento territorial, tendo em vista o seu bem-


estar e a promoção económica e social e a garantia de preservação das áreas de prática dos
sistemas tradicionais de aproveitamento da terra;
b. A compensação de terrenos por elas possuídos e fruídos que tenham sido afectados pela
constituição de novas reservas;
c. O direito de preferência, em igualdade de capacidade e de condições, na ocupação de
cargos e funções remuneradas em todas as actividades exercidas nos parques de reservas;
d. A afectação a despesas de promoção de bem-estar local, de uma percentagem no valor das
taxas cobradas, relativamente ao acesso aos parques, à caça ou pesca, ou à exploração de
outras actividades turísticas relacionadas com as reservas.

  Subsecção 2 Direitos fundiários.


Artigo 34º (Tipos de Direitos Fundiários, Regime e Limites).

1. São os seguintes os tipos de direitos fundiários que as pessoas singulares e colectivas


podem constituir nos terrenos concedíveis integrados no domínio privado do Estado:
a. Propriedade privada;
b. Domínio útil consuetudinário;
c. Domínio útil civil;
d. Direito de ocupação precária;
e. Direito de superfície.

2. . A constituição ou concessão dos tipos de direitos fundiários previstos no nº 1. rege-se


pelas disposições e limites da presente lei e seus regulamentos.

Artigo 35º (Propriedade Privada).

1. O regime de propriedade fundiária privada é integrado pelas disposições gerais contidas no


artigos 1302º a 1384º do Código Civil e pelas disposições especiais da presente lei e seus
regulamentos.
2. A constituição da propriedade fundiária privada é admissível a favor de pessoas singulares e
colectivas nacionais, nos termos e limites da lei, e apenas quando incidir sobre terrenos
urbanos.
3. A transmissão da propriedade fundiária privada pode ser feita a estrangeiros através de
pessoas colectivas participadas maioritariamente por nacionais.

Artigo 36º (Propriedade Privada de Terrenos Urbanos).

1. A propriedade privada de terrenos urbanos do domínio privado do Estado ou das autarquias


locais pode ser constituída desde que compreendidos nos planos de urbanização ou
instrumento legalmente equivalente e tenham loteamento aprovado.
2. A propriedade privada de terrenos urbanos do domínio privado do Estado ou das autarquias
pode ser adquirida por contrato de compra e venda ou por arrematação em hasta pública,
ou por remição do foro enfitêutico, segundo processo de concessão regulado por
disposições regulamentares da presente lei.
3. A transmissão da propriedade de terrenos urbanos, que já entraram no regime de
propriedade privada é livre, desde que respeitado o disposto no nº 3 do artigo anterior.
4. Os poderes de uso e transformação de propriedade privada de terrenos urbanos estão
sujeitos às restrições inerentes ao fim urbanístico a que se destinam designadamente as
resultantes das normas contidas nos planos urbanísticos.

Artigo 37º (Domínio Útil Consuetudinário).

1. São reconhecidos às famílias que integram as comunidades rurais, os direitos de posse ou


ocupação, uso e fruição sobre os terrenos rurais comunitários, por elas testimunhados,
autogeridos e regidos segundo os costumes.
2. A autoridade competente para o reconhecimento emite titulo que corporiza os domínios
úteis consuetudinários, nos termos a regulamentar.
3. Os terrenos rurais comunitários afectos ao domínio útil consuetudinário, enquanto não
desafectados do seu regime, não podem ser objecto de concessão, salvo acordo negocial
compensatório ou de garantia de concessão de novos terrenos alternativos, ouvidas as
instituições do Poder Tradicional.
4. A desafectação de terrenos rurais comunitários só pode ter lugar desde que livremente
desocupados pelos seus titulares em função dos costumes e da sua mobilidade possessória
ou excepcionalmente nos termos regulamentares.
5. O exercício do domínio útil consuetudinário é gratuito estando isento do pagamento de
taxas ou foros de qualquer espécie.
6. O domínio útil consuetudinário é perpétuo, sem prejuízo das causas de extinção nos termos
dos usos de transumância e das normas consuetudinárias aplicáveis à livre desocupação ou
ao desuso.
7. O domínio útil consuetudinário é passível de hipoteca, apenas nos casos excepcionalmente
consentidos pelo nº 3. do artigo 61º, para garantir empréstimos bancários, sendo-lhe
aplicáveis os termos da alínea c) do artigo 688º do Código Civil.
8. Na omissão das normas costumeiras quanto a determinada questão são subsidiariamente
aplicáveis, com as devidas adaptações, as regras da enfiteuse previstas nos artigos 1491º e
seguintes Código Civil, salvo quanto ao pagamento de foros, considerando-se o Estado o
titular do domínio directo e as famílias as titulares do domínio útil.

Artigo 38º (Domínio Útil Civil).

1. Para efeitos da presente lei, considera-se domínio útil civil o conjunto de poderes de uso e
fruição do terreno como se fosse coisa sua, e demais direitos reconhecidos ao enfiteuta nos
termos do artigo 1501º do Código Civil designado simplesmente por domínio útil ou
enfitêutico.
2. Ao regime do domínio útil fundiário previsto no presente artigo são aplicáveis as disposições
especiais da presente lei e seus regulamentos, e subsidiariamente, os artigos 1491º a
1523º do Código Civil do regime geral da enfiteuse, em que se integra.
3. A concessão de domínio útil é aplicável quer a terrenos rurais, quer a terrenos urbanos.
4. O domínio útil fundiário é concedido por contrato de concessão entre o Estado ou
autarquias locais titulares do domínio directo e o concessionário, titular do domínio útil, não
podendo ser constituído por usucapião.
5. O contrato de concessão por aforamento é aplicável quer a terrenos rurais, quer a terrenos
urbanos, e é precedido de um processo de concessão regulado por disposições
regulamentares da presente lei.
6. O foro é calculado segundo tabelas fixadas por regulamentação complementar, em função
da importância e grau de desenvolvimento de cada zona ou região.
7. O foro é pago anual e adiantadamente, em dinheiro, nas Tesourarias das Finanças Públicas
e é devido a partir da data de concessão.
8. A remição do foro para efeitos do disposto no nº 2 do artigo 34º pode ser feita a
requerimento do interessado e sob prova do aproveitamento integral e efectivo do terreno,
e da existência de construções indispensáveis ao perfeito funcionamento da empresa que
explora a actividade respectiva.
9. O domínio útil é passível de hipoteca nos termos da alínea c) do artigo 688º do Código Civil.

Artigo 39º (Direito de Superfície).

1. O aproveitamento de terrenos quer rurais, quer urbanos do domínio privado do Estado ou


das autarquias locais pode ser concedido em regime de direito de superfície, a requerentes
nacionais ou estrangeiros.
2. Ao regime do direito de superfície são aplicáveis as normas especiais e princípios da
presente lei e seus regulamentares bem como, subsidiariamente, as normas gerais dos
artigos 1524º e seguintes do Código Civil.
3. O superficiário paga uma prestação anual, em dinheiro, calculada segundo tabelas fixadas
por regulamentação complementar.
4. O direito de superfície é passível de hipoteca nos termos da alínea c) do artigo 688º do
Código Civil.
Artigo 40º (Direito de Ocupação Precária).

1. Sobre os terrenos rurais e urbanos do domínio privado do Estado e das autarquias locais
pode ser concedido, por licença especial, um direito de ocupação precária para implantação
de instalações de carácter não definitivo e por tempo determinado, destinadas,
nomeadamente, a apoiar:
a. construções de edifícios de carácter definitivo;
b. actividades de prospecção mineira de curta duração;
c. actividades de investigação científica;
d. actividades de estudos e protecção da natureza;
e. outras actividades previstas nos regulamentos autárquicos.

2. A ocupação precária é concedida por licença especial que determinará a área e localização
do terreno a que disser respeito.
3. É também concedido por licença especial o direito de uso e ocupação precária de bens
fundiários do domínio público, cuja natureza o permita.
4. O ocupante tem o dever de levantar as instalações deixando o terreno livre e limpo, no
termo final do prazo de ocupação, sem direito a qualquer indemnização.
5. A taxa de ocupação é única ou periódica, calculada, por tabelas, em função da área e dos
meses de duração requeridas, a fixar por disposição regulamentar.

Capítulo 3 Concessão de Direitos Fundiários


 

Secção 1 Aquisição de Disposições Gerais


Artigo 41º (Infraestruturas Urbanas).

1. A constituição de direitos fundiários sobre terrenos urbanizáveis depende das condições de


execução administrativa ou concertada dos planos urbanísticos ou directivas equivalentes, e
designadamente, nos casos de execução concertada e garantia de execução das obras de
urbanização.
2. A contrapartida da alienação de terrenos urbanizáveis ou urbanizados só pode ser aplicada,
pelo Estado, na aquisição de novas formas de património.

Artigo 42º (Legitimidade para Adquirir Direitos Fundiários).

1. Podem adquirir ou requerer a concessão de direitos fundiários sobre terrenos concedíveis:

  a. Os angolanos;
b. Os estrangeiros e empresas estrangeiras, salvas as limitações constitucionais e da
presente lei;
c. As pessoas colectivas angolanas de direito público, com capacidade de gozo de
direitos sobre imóveis;
d. As pessoas colectivas angolanas de direito privado, designadamente, as instituições
com fins culturais, religiosos e de solidariedade social, constituídas e regidas pela
legislação angolana, com capacidade de gozo de direitos sobre imóveis;
e. As empresas públicas angolanas e as sociedades comerciais angolanas, como tal
definidas nos termos da presente lei;
f. As entidades estrangeiras de direito público, quando assim o estabeleçam acordos
internacionais ou nos respectivos países seja dada reciprocidade a entidades
angolanas congéneres e que possuam a capacidade de gozo de direitos fundiários;
g. As instituições internacionais que estatutariamente sejam dotadas de capacidade de
gozo de direitos sobre imóveis.

Artigo 43º (Princípio da Precedência).


Nenhuma pessoa singular ou colectiva pode obter nova concessão de terrenos sem que esteja provado
e aceite o aproveitamento da concessão anteriormente lhe tiver sido dada por igual título e para o
mesmo fim.

Artigo 44º (Princípio da Capacidade Adequada).

1. As pessoas singulares e colectivas que pretendam obter títulos de concessão de direitos


fundiários ao abrigo da presente lei devem provar capacidade de realização do
aproveitamento sustentável, nos termos regulamentares.
2. Aos projectos de aproveitamento agrário de pequena dimensão podem ser dispensadas
provas da capacidade técnico e financeira, nos termos regulamentares da presente lei.

Artigo 45º (Tipos de Contratos de Concessão).

1. As aquisições ou concessões de terrenos concedíveis revestem sempre a forma e regime de


contrato, variável em função de cada tipo de direito fundiário transmitido, nos termos
seguintes:
a. Contrato de compra e venda ou requerimento de exercício do direito de remição do
foro enfitêutico para a aquisição da propriedade privada;
b. Contrato de aforamento, para a concessão do domínio útil;
c. Contrato especial de concessão para o direito de superfície;
d. Contrato especial de arredamento para a concessão do direito de ocupação precária.

2. Os contratos de concessão fundiária, regem-se pelas disposições especiais da presente lei e


seus regulamentos, e subsidiariamente pelas disposições respectivamente aplicáveis do
Código Civil.
3. As autarquias locais podem, através de Diploma próprio, regulamentar o conteúdo dos
contratos de concessão de terrenos do seu domínio privado.

Artigo 46º (Onerosidade das Concessões).

1. Todas as aquisições ou concessões de direitos fundiários são onerosas, salvo as concessões


de domínios úteis consuetudinários e as concessões gratuitas, previstas na presente lei para
acautelarem os casos das pessoas que provarem ser economicamente pobres, nos termos
regulamentares da presente lei.
2. As tabelas de fixação das taxas, foro ou outras prestações devidas, nos termos do nº 1 são
estabelecidas em função dos critérios estabelecidos nos artigos precedentes para cada tipo de
direito fundiário a conceder.
3. O preço para a venda de terrenos urbanos do domínio privado das autarquias locais é o
resultante do processo em hasta pública tendo por base de licitação a determinada pelos
índices de preços vigentes na província ou centro urbano da respectiva localização ditados
pelas regras do mercado e dos respectivos regulamentos municipais.

Artigo 47º (Contrato de Compra e Venda).

1. A venda de terrenos nos termos e para os efeitos do disposto na alínea a) do nº 1 do artigo


45º e n.º 3 do artigo anterior é feita em hasta pública.
2. O contrato de venda é resolúvel se, no prazo de três anos a contar da data de adjudicação, o
comprador não fizer provas de aproveitamento do terreno adquirido, revertendo para o
Estado todas as benfeitorias, sem direito a indemnização, salvo a restituição exclusiva do
preço pago.
3. A venda de terrenos anteriormente aforados ou concedidos em regime de direito de
superfície, efectua-se com dispensa de hasta pública, desde que preenchidos e provados os
pressupostos legais de prazos e tempo de aproveitamento efectivo e integral do terreno.
4. É aplicável com as devidas adaptações ao contrato de compra e venda o disposto no artigo
seguinte.
Artigo 48º (Contratos de Concessão).

1. Os contratos de concessão previstos nas alíneas b) a d) do nº 1 do 45º devem ser reduzido a


escrito, sob forma de contrato-tipo, que deve constar no verso do Título de concessão, nos
termos das disposições regulamentares.
2. Os contratos de concessão, para além da menção dos demais elementos essenciais, deve
identificar os deveres dos concessionários, as sanções pelo seu incumprimento e causas de
extinção.

Artigo 49º (Concessões Gratuitas).

1. O Estado ou as autarquias locais podem conceder gratuitamente terrenos dos seus domínios
privados às:
a. pessoas ou conjunto de pessoas desfavorecidas que desejem integrar projectos de
povoamento ou repovoamento de zonas menos desenvolvidas do País;
b. instituições com fins desportivos, culturais, religiosos, e de solidariedade social, com
reconhecida utilidade pública.

Artigo 50º (Limites dos Terrenos Comunitários).

1. A delimitação das áreas das comunidades rurais e a definição do uso e afectação dos terrenos
comunitários, para garantia e nos termos do disposto nos artigos 9º, 22º e 37º da presente
lei, é da responsabilidade das autoridades competentes, sem prejuízo da conformidade com
as directivas gerais constantes dos instrumentos de ordenamento do território ou que lhe
sejam transmitidas.
2. Para efeitos da delimitação prevista no nº 1. a autoridade competente deve ouvir
obrigatoriamente as autoridades administrativas e Instituições do Poder Tradicional, bem
como as respectivas famílias abrangidas pela comunidade rural.

Artigo 51º (Limites das Áreas de Terrenos Urbanos).

Os limites dos terrenos urbanos em geral e dos terrenos de construção em particular são os que
resultam, em geral, da aplicação das normas dos forais e das directivas e restrições dos planos
urbanísticos e em particular das operações de loteamento aprovados, sob prova de aproveitamento
efectivo.

Artigo 52º (Foral).

1. O foral delimita o território do domínio publico do Estado concedido as autarquias para gestão
autónoma e desanexada do domínio publico do Estado.
2. Os forais podem ser concedidos por iniciativa do Governo ou sob proposta fundamentada do
Governador da província onde se situa o centro urbano cujo foral se solicita.
3. Os forais são aprovados por diploma do Governo.

Artigo 53º (Loteamento).

1. Considera-se loteamento a divisão dos terrenos urbanizáveis, em fracções ou unidades


definidas em função do seu destino de construção e autonomia de aproveitamento
urbanístico, obedecendo às normas e directivas dos planos de urbanização, ou na sua falta
pelas decisões dos órgãos autárquicos competentes.
2. Designa-se por lote a unidade ou fracção autonomizada de terreno, resultante da operação de
loteamento.
3. O loteamento pode ser de iniciativa pública municipal ou a requerimento dos particulares,
consoante os terrenos abrangidos pela operação do fraccionamento pertencerem ao domínio
privado da autarquia ou forem propriedade privada de pessoas de direito privado.
4. O loteamento a requerimento dos particulares deve ser aprovado por alvará emitido pela
autarquia local nos termos das suas competências e da legislação sobre de planeamento e
licenciamento urbanístico e respectivos regulamentos.

Artigo 54º (Duração das Concessões).

1. A duração das concessões de direitos fundiários é a seguinte:


a. Perpétua para o direito de propriedade privada, salvo causa resolutiva do contrato
de compra e venda, nos termos previstos na presente lei.
b. Perpétua para o domínio útil consuetudinário, reconhecido, sem prejuízo da
caducidade ou extinção por causas costumeiras, designadamente o abandono ou o
desuso definitivo, por migração ou mudança de área ocupada nos termos da
presente lei e dos regulamentos.
c. Perpétua para a propriedade privada adquirida;
d. Perpétua ou limitada a 50 anos para o domínio útil civil concedido;
e. 45 anos para o direito de superfície concedido.
f. 1 ano para o direito de ocupação precária.

2. > Os prazos previstos no nº 1 são tácita e automaticamente renováveis por iguais períodos
sucessivos, salvo se ocorrer ou for denunciada alguma das causas de extinção previstas na
presente lei.
3. Os prazos de duração limitada previstos no nº anterior podem ser alterados por Diploma do
Governo.

Artigo 55º (Deveres dos Concessionários).

Os adquirentes de direitos fundiários, estão sujeitos aos seguintes deveres integrados na respectiva
relação contratual de:

a. pagamento regular e tempestivo, das taxas e prestações em dinheiro a que, conforme o caso,
estiver obrigado;
b. aproveitamento útil, efectivo e integral do terreno concedido, de acordo com os índices e
prazos de aproveitamento mínimo regulamentarmente estabelecidos;
c. se abster, salvo competente autorização, de usar o terreno para fim diverso daquele a que
está destinado, bem como de explorar o terreno contra as regras do ordenamento do
território, do planeamento urbanístico, da utilização racional e regeneração dos solos e
recursos naturais e da protecção do ambiente.
d. exercer o seu direito fundiário adentro dos limites previstos no artigo 17º, não prejudicando
os direitos de terceiros;
e. respeito pelos direitos fundiários das comunidades rurais, designadamente garantindo o
exercício das servidões de passagem a que, a título de atravessadouros, os seus terrenos
estiverem, porventura, afectados, nos termos da presente lei.
f. informar as autoridades competentes sobre a evolução do aproveitamento e outros aspectos
relativos ao terreno e de solicitar a aprovação das alterações ao título de concessão que
legalmente dela careçam;
g. cumprimento em geral das normas, princípios e garantias fundamentais consagradas na
presente lei, e seus regulamentos.

Artigo 56º (Processo de Concessão).

1. O processo de concessão é impulsionado por requerimento do interessado e compreende as


fases de demarcação provisória e definitiva, de apreciação e de aprovação.
2. O desenvolvimento do processo de concessão é estabelecido pelo Regulamento da Lei de
Terras.

Artigo 57º (Título de Concessão).

De cada concessão de um direito fundiário sobre um terreno concedível atribuído a uma pessoa
singular ou colectiva é emitido, pela autoridade competente, um Título de concessão com as menções
obrigatórias e os modelos fixados pelo Regulamento de Lei de Terras, em função da natureza urbana
ou rural do terreno, do tipo de direito fundiário concedido, prazo da concessão e da autoridade
competente para o emitir em razão dos diferentes tipos de terrenos.

Artigo 58º (Registos Cadastral e Predial).

1. O Regulamento da Lei de Terras regula e harmoniza as competências e articulação de


cadastro com os serviços das autoridades concedentes e dos registos prediais.
2. A aquisição ou concessão de direitos fundiários, bem como todos os factos modificativos e
extintivos da relação contratual de concessão estão obrigatoriamente sujeitos a registo
predial, sob pena de não produzir efeitos em relação a terceiros.
3. Na inscrição das transmissões os Conservadores de Registo Predial devem recusar o registo
se não for exibido o despacho de autorização.
4. O processo do registo é objecto de regulamentação, devendo ser oficioso o registo dos factos
constitutivos, modificativos, ou extintivos que dependam da aprovação de autoridades
públicas, cobrando estas, adiantadamente, os competentes emolumentos e taxas aplicáveis.
5. Enquanto não existir uma integral organização e articulação dos serviços de registo predial, as
autoridades competentes para a aprovação da concessão devem manter um registo
transitório em livros próprios de todos os actos de concessão e arquivo dos respectivos
processos e documentos que servem de base para a oportuna realização ou reconstituição dos
competentes registos.
6. Os registos operados nos termos do nº 4 mantêm a sua validade e eficácia em relação a
terceiros, até que sejam operados os registos prediais pelas conservatórias competentes.

  Secção 2 Transmissão e Extinção dos Direitos Fundiários


Artigo 59º (Transmissão).

1. Os direitos fundiários sobre terrenos são transmissíveis inter vivos e mortis causa,
respeitados os termos e limites gerais e especiais constantes da presente lei em relação a
cada tipo de direitos, e em particular nos artigos 34º a 37º.
2. A transmissão de direitos inter vivos, a título gratuito ou oneroso, deve ser comunicada à
respectiva autoridade concedente, para autorização e só pode ter lugar cinco anos após a
data da concessão respectiva.
3. As autorizações referidas no nº 2 caducam decorrido o prazo de um ano sobre a data de
comunicação do despacho respectivo.
4. Os notários não podem lavrar escrituras públicas donde resulte a transmissão, sem lhes ser
presente o despacho que a autoriza.
5. Nas transmissões inter vivos, o Estado goza de direito de preferência.
6. São nulas e de nenhum efeito as transmissões de direitos fundiários feitas em violação dos
limites, restrições ou requisitos previstos em disposições imperativas da presente lei.
7. A transmissão legalmente admitida e autorizada, faz-se por endosso do título registado por
inscrição do nome do novo titular.

Artigo 60º (Alteração da Concessão).

1. São aplicáveis a outros tipos de alterações no título de concessão, designadamente, as


emergentes de execução judicial, de fraccionamento ou emparcelamento do terreno ou
terrenos concedidos, as disposições do artigo anterior.
2. Nos processos judiciais de que resulte transmissão ou alteração análoga, a sentença não é
pronunciada antes de o despacho de autorização ter sido obtido oficiosamente ou a
requerimento do interessado.

Artigo 61º (Intransmissibilidade Relativa das Concessões Gratuitas).

1. São intransmissíveis os direitos concedidos a título gratuito nos termos do artigo 48º, salvo
autorização da autoridade concedente que só pode ser quando o transmissário seja entidade
da mesma natureza que a do transmitente;
2. Os domínios úteis consuetudinários só são transmissíveis, inter vivos e mortis causa nos
termos das normas costumeiras aplicáveis, não o sendo ao abrigo de normas legais, salvo nos
casos excepcionais e para efeitos do disposto no nº 2 e nº 3 do artigo 37º, sendo nulos os
contratos celebrados com violação da presente disposição.
3. Os terrenos de concessões gratuitas sobre os quais incidam domínios úteis consuetudinários
são impenhoráveis salvo se tiverem sido objecto de hipoteca para garantir empréstimos
assumidos pelos respectivos titulares.

Artigo 62º (Causas de Extinção da Concessão).

1. Os direitos fundiários contratualmente concedidos e titulados caducam, sem direito a qualquer


indemnização, quando se tenha verificado qualquer dos seguintes factos:
a. Termo do prazo de concessão sem que tenha sido renovado;
b. Cessação da actividade para a qual o terreno foi concedido;
c. Aplicação e exploração do terreno para fins diferentes dos constantes da autorização
da concessão;
d. Falta de aproveitamento do terreno, segundo o plano de exploração e nos prazos e
segundo os índices e demais termos regulamentares;
e. Exercício ilegítimo do direito fundiário para além dos limites legais, previstos no
artigo 18º.

Artigo 63º (Sanções).

Os titulares de direitos fundiários sobre terrenos que não cumprirem os respectivos deveres, normas e
princípios da presente lei ficarão sujeitos à aplicação das sanções estabelecidas nos regulamentos da
presente lei.

  Secção 3 Competência Para as Concessões


Artigo 64º (Competência do Conselho de Ministros).

1. Compete ao Conselho de Ministros:


a. Autorizar a concessão de ocupação, uso e utilização do leito das águas territoriais,
da plataforma continental, a zona económica exclusiva e de bens fundiários do
domínio público do Estado;
b. Autorizar a concessão de terrenos rurais de área superior a 10.000 hectares.
c. Autorizar a transferência para a titularidade das autarquias locais de terrenos do
domínio público e privado do Estado;
d. Autorizar a concessão de forais aos centros urbanos.
e. Aprovar o estabelecimento de reservas totais e parciais;
f. As demais competências sobre matéria fundiária, previstas na lei e nos
regulamentos.

2. As competências previstas no nº 1 podem ser delegadas no órgão que tenha a seu cargo a
superintendência do cadastro.
3. Compete ao órgão do governo que tenha a tutela e a superintendência do cadastro autorizar
a concessão de terrenos rurais de áreas de 1000 hectares a 10.000 hectares.

Artigo 65º (Competência do Órgão Central para Gestão de Terras).

Compete ao Órgão Técnico Central da Gestão de Terras:

a. Organizar e conservar o tombo geral da propriedade, por forma a permitir a identificação de


cada prédio, não só quanto à sua situação, como quanto aos actos jurídicos sujeitos a registo
nas Conservatórias respectivas;
b. Estudar, organizar e executar os trabalhos técnicos respeitantes à demarcação de concessões,
reservas e povoações;
c. Estudar, organizar e executar o reconhecimento cadastral e a demarcação de propriedades
para efeitos do cadastro geométrico da propriedade, bem como organizar e assegurar o
respectivo serviço de conservação;
d. Estudar e submeter à aprovação superior da programação geral da cartografia do País e das
suas actualizações, bem como da distribuição das responsabilidades pela respectiva execução.
e. Executar, no que diz respeito às zonas rurais, as directivas dos Planos de Ordenamento do
Território;
f. Executar as demais competências sobre a matéria fundiária, prevista na lei e nos
regulamentos.

Artigo 66º (Competência do Governo de Província).

1. Compete ao Governo de província, relativamente aos terrenos integrados na respectiva área


territorial:
a. Autorizar a concessão de direitos fundiários sobre terrenos rurais, agrários e
florestais nos limites até 1000 hectares;
b. Autorizar a concessão de terrenos urbanos, de acordo com os planos urbanísticos, e
os loteamentos aprovados nos termos regulamentares da presente lei e do
ordenamento do território;
c. Autorizar a concessão de licenças de ocupação precária sobre terrenos do domínio
público e privado do Estado nos termos a definir por regulamento;
d. Submeter ao Conselho de Ministros propostas de transferência de terrenos do
domínio público para o domínio privado do Estado;
e. Submeter ao Conselho de Ministros propostas de concessão de forais a centros
urbanos que preencham os requisitos legais;
f. Administrar o domínio público e privado fundiário do Estado;
g. Fiscalizar o cumprimento da presente lei e dos seus regulamentos;
h. As demais competências atribuídas por disposição legal ou regulamentar.

Artigo 67º (Taxas).

Os titulares do direito de ocupação, uso e transformação da terra estão sujeitos ao pagamento de


taxas, cujo valor é determinado tendo em conta a localização dos terrenos, a sua dimensão e a
finalidade do seu uso e aproveitamento, a saber :

a. taxa de autorização;
b. taxa anual, a qual poderá ser progressiva ou regressiva, de acordo com os investimentos
realizados.

Capítulo 4 Disposições Finais e Transitórias


 

  Secção 0
Artigo 68º (Situações Transitórias).

1. As concessões de direitos de uso e aproveitamento, atribuídas, sob regime de direito de


superfície, ao abrigo da Lei n.º 21-C/92, de 28 de Agosto e seu Regulamento de Concessões
aprovado pelos Decretos n.º 32/95, de 8 de Dezembro e 46/92 de 9 de Setembro e demais
regulamentos locais ou especiais, permanecem válidas e eficazes e sob regime de concessão
de direito de superfície, salvo se outra for a vontade do concessionário.
2. Os concessionários de direitos de superfície, sobre terrenos rurais agrários ou florestais
adquiridos nos termos do n.º 1, podem requerer a conversão da sua situação em concessão
de domínio útil civil, devendo os respectivos títulos de concessão serem alterados em
conformidade e nos termos contemplados pelos Regulamento Geral e Regulamentos locais e
especiais aplicáveis, no prazo de três anos, contados da entrada em vigor daqueles diplomas
regulamentares.
3. Os concessionários de direitos de superfície sobre terrenos urbanos e rurais do domínio
privado do Estado ou das autarquias, podem requerer junto dos Governos da área de
localização dos terrenos, a conversão prevista no n.º 2 e dentro do mesmo prazo de três anos
contados a partir da entrada em vigor dos Regulamento local aplicável.
4. Os concessionários de direitos de uso e aproveitamento sobre terrenos rurais de instalação
mineira devem requerer, junto das respectivas autoridades concedentes, a regularização da
sua situação, nos termos da presente lei e no prazo de três anos contados a partir da entrada
em vigor dos Regulamento especial aplicável.
5. As concessões definidas por aforamento, arrendamento e outras propriedades de terreno,
dadas antes de 11 de Novembro de 1975 e que não hajam sido nacionalizadas, confiscadas
ou intervencionadas por abandono, são válidas sob o regime de direito de superfície, se tal
resultar da aplicação Lei n.º 21-C/92, de 28 de Agosto, nos termos do nº2 do artigo 66ºdo
Regulamento aprovado pelos Decretos n.º 32/95, de 8 de Dezembro, , e 46/92 de 9 de
Setembro e a sua regularização tenha sido feita antes da entrada em vigor da presente lei.
6. Às concessões referidas no n.º 5 que não tenham sido regularizadas nos termos e prazos aí
previstos e que permaneçam injustificadamente abandonadas o Órgão Competente, promove
os processos para os efeitos e nos termos da leis aplicáveis ao confisco de bens abandonados.
7. Os requerentes de concessões com processos pendentes devem requerer a alteração do
pedido, segundos os tipos de direitos fundiários e demais termos aplicáveis da presente lei,
no prazo de um ano a contar da publicação do Regulamento Geral ou especial que, conforme
o caso, lhe for aplicável.
8. Enquanto não forem constituídas as autarquias locais, as atribuições e competências destas
serão exercidas pelos órgãos locais do Estado.

Artigo 69º (Regularização dos Títulos de Ocupação).

1. Os serviços do Estado e demais pessoas colectivas de direito público que ocupam, sem título,
terrenos do Estado ou dos domínios público e privado das províncias ou autarquias locais
devem, organizar o processo para a sua regularização, em termos de cadastro e de emissão
de título de concessão, nos termos aplicáveis aos particulares e no prazo de um ano a contar
da data de publicação do Regulamento Geral ou especial aplicável, conforme for o caso, sob
pena do não reconhecimento da situação, por inexistência jurídica.
2. As pessoas físicas ocupantes de terras sem título devem requerer a concessão de direitos
fundiários nos termos da lei. Nos centros urbanos, o processo de regularização fundiária das
áreas de ocupação espontânea densamente constituídas fica condicionada a prévia aprovação
do parcelamento e de normas especiais de uso e ocupação das terras.

Artigo 70º (Regulamentação).

1. A presente lei será regulamentada em função das matérias especificas e dos fins rurais ou
urbanísticos a que os terrenos estão destinados.
2. Para a perfeita execução da presente lei o Governo aprova o Regulamento de concessões de
terrenos, no prazo de seis meses, a contar da entrada em vigor da presente lei.
3. Os Governos de Província farão aprovar os seus Regulamentos locais de Concessão de
Terrenos dos domínios privado de cada Província, no prazo de um ano a contar da entrada em
vigor do Regulamento Geral previsto no n.º 2.

Artigo 71º (Vigência).

A presente lei entra em vigor a partir da data da sua publicação.

Vista e aprovada pela Assembleia Nacional, em Luanda, aos ...... de 2002.

O PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL.


ROBERTO ANTÓNIO VICTOR FRANCISCO DE ALMEIDA.
Promulgada em .. de 2002.
Publique-se.
O PRESIDENTE DA REPUBLICA JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.

webmaster@gloobal.net

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