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Em : RODOTÀ, STEFANO. El direito a tener derechos, etitorial Trotta.

DO SUJEITO A PESSOA - RODOTÀ

REALIDADE E ABSTRAÇÃO

Há um momento na reflexão dos juristas em que o sujeito abstrato, dada sua forma de formalização,
deixa de ser um instrumento para compreender a realidade. Converte-se em um impedimento, em
obstáculo, e não há abstração sem anulação do sujeito que perde se rosto e reconhecível, com sucede
nos quadros de Francis Bacon, o corpo está ali, visível, porém com um rosto desforme, borrado. Há uma
figura que permanece, sim. Porém o problema vem quando queremos por nele um rosto, fazer
reconhecível, leva-lo a realidade. Esta é a razão desse progressivo deslizamento de atenção que vai do
sujeito à pessoa. E a utilização preferencial desta última palavra em maior parte da literatura jurídica
recente. A Pessoa tende a ocupar o centro da cena quase com preponderância, com a força que lhe vem
de sua imediata capacidade para expressar a materialidade das relações.

Realidade contra abstração? De imediato se aprecia, ao menos se parecia, que aqui há um paradoxo.
“Pessoa, em linguagem do direito, e um termo que remete a um processo de abstração das condições
materiais, como bem poder ver na ficção que rege a pessoa “jurídica”. Como quere sua etimologia,
pessoa é prosopon, máscara, é dizer, um meio que oculta um rosto real e o substitui com uma
convenção, com um duplo jurídico que permite mover-se no mundo real com se nada lhe distinguisse do
demais, ou melhor, como se desta maneira sua própria naturalidade puder evitar-lhe formalmente as
seleções, as discriminações, as estigmatizações. E o preço é justamente o alijamento da realidade, por
não dizer a supressão, como o ator grego que, uma vez em que endossada a máscara, oferta e encena e
diz a todos que o é diferente da pessoa real que pode encontrar na cena ordem do mundo. E ao
contrário, quando a referência à pessoa se assume como conotação realista, a que a faz aparecer com a
realidade é, o discurso jurídico desaparece ante essa histórica ficção. Qual é pois o sentido dessa
separação do sujeito com respeito a pessoa? A máscara começa de onde a pessoa fica abolida. Observa,
Alessandro Pizzorno discutindo o mitos e morte. O problema, no mundo e nas relações com os outros, é
do conhecimento, o que implica a necessidade de definir o critério, a medida deste reconhecimento. O
ponto é crítico porque se trata de sair da prisão da abstração sem cair na prisão da própria carne. Há que
considerar, pois, quando se fala de pessoa, esse duplo registro e também a diversa fortuna da palavra.
Enquanto que no léxico jurídico emprego permanece mais ou menos estável. “a modernidade começa
com o eclipse deste termo, ofuscando pelo resprendor do novo astro nascente: o individual. De Resto,
durante muito tempo, a pessoa tem sido “o termo preferente para designar o ser humano”. Este é o
caminho que há de recorrer de novo? Qual é o valor adicionado da identidade individual que se
concentra o termo “pessoa”?

A aventura conceitual e linguística que leva a enfatizar a força realista da referencia a pessoa deve ser
reconstruída abandonado à simplificação polêmica que, com a ânsia de desmistificar as estruturas
jurídicas, havia desejado ao sujeito como matéria de puro desleixo, pronto para demolição. Se se pode
entender que, frente aos excessos da dogmática, havia esterilizado pouco a pouco a força histórica e
teórica da invenção do sujeito e o separava de todo contexto, se advertisse a necessidade de fazer
comparece na dimensão jurídica a vida com seus protagonistas, rechaçando a abstração e a
transcendência do sujeito que, em mais diversas sistematizações do conceitos, haviam cumprido uma
espécie de imaculada concepção (som das palavras empregadas por Langdell a propósito da teorização
estadounidense), ou dito de outra maneira, haviam intentado com superior empenho sua fundação
metafísica.

A crítica radical, pois, se manifesta no mais diversos ambientes culturais. Faz quase meio século, Ricardo
Orestano havia analisado este ponto para sublinhar que, ao querer reduzir toda a experiência a
“sistema”, se negava “umas vezes um aspecto da realidade histórica, outras vezes outras, para deixar são
e salvos os conceitos, construindo, amputando, sacrificando o concreto da vida – que é vida do homem
em sociedade e a sociedade do homem- em nome de um esquematismo rígido que pretendia suplantar a
realidade imolada ante as exigências de um pretendido “análise científica”. Porém a invenção do sujeito
de direito, a instituição do homem sujeito, não só no mundo jurídico, segue sendo um do grandes êxitos
da modernidade quando se compreende melhor suas características e sua função histórica. “A
modernidade concentra hoje suas críticas sobre uma construção jurídica muito antiga da que endossam
o peso de todos os males atribuídos a hipertrofia do sujeito”

Indagando sobre o sujeito nos adentramos em uma selva de signos, símbolos, relações. Se sua noção não
tem nada de natural então é no mínimo artificial, porém certo é que sua instituição está orientada
precisamente fazer o resgate do humano, a impedir um uso de dados da realidade que poderia prender
a todos numa espécie de jaula. O recorrido é largo e não pode banalizar-se: encontrar suas raízes
naquela apologia da dignidade do homem que dá título a La Oratio de hominis dignitade, de Pico dela
Mirandola, e nos leva, com uma progressiva laicização e secularização do conceito, até a Carta dos
direitos fundamentais da união europeia, de onde o preâmbulo se afiram que a união “situa a pessoa no
centro de suas ações” e o primeiro artigo estabelece que “a dignidade humana é inviolável” apesar de ,
entre a afirmação da dignidade do homem e a invenção do sujeito de direito” não há um recorrido
liberal linear sim uma descontinuidade na que se reflete a transformação da noção renascentista de
dignidade em outra, do século XVIII, do home como titular de direito. Todo isto há que se tê-lo presente
para evitar propostas de reconstrução do sujeito que em sua confrontação com a pessoa e olvidando
este giro da modernidade, o apresentam uma maneira simplista como “dócio instrumento do direito
objetivo, de poderes privados, estatais, internacionais sujeitos todos da globalização” e também para
não cair, em sentido contrário , na deformação de quem rechaça a noção de sujeito porque ver
encarnada nela as pulsão de um desejo ilimitado do individuo, de “sujeito-rei”

A afirmação da subjetividade é a maneira de atribuir plenitude a pessoa. Não é casual que Leibniz usara,
com moderna e forte intuição, a expressão “subjectum juris”, nem que escrevera que “subjectum
qualitatis moralis es persona”, porém “qualitas moralis pesonae” nos leva a Grozio, que assim é como
definia o direito. Ao mesmo tempo, a moderna “invenção” não nasce com o estigma do isolamento,
como polemicamente se tem querido dizer às vezes. Seu completo desenvolvimento levará depois a esta
categoria, em direção aos baixios do individualismo extremo que construirá a relação entre sujeito e
direito subjetivo como “tributo do homem isolado”, colocando assim a s premissas a uma crítica dirigida
a um a noção de sujeito portadora da abstração e isolamento porém na construção de Libniz já aparece
a necessária reciprocidade entre sujeito e os outro, de maneira que se pode dizer que estamos frente a
uma “primeira formulação de intersubjetividade jurídica”

Essa apelação nos serve para recorda que a construção do sujeito de direito como procedimento
abstrato não implica necessariamente o isolamento nem a interrupção da relação de intersubjetividade,
já que outorga ao direito à função de “incrementar a finalidade do outro” com mais propriedade deve
sublinhar que o sujeito designa um tempo ao indivíduo em si e ao fundamento universal que expressa.

De feito, se for possível libertar formalmente a pessoa da servidão da classe social, do ofício, da condição
econômica e da desigualdade, foi graças a construção do sujeito abstrato. E assim foi dito com acerto” o
sujeito de direito é uma invenção do mesmo código que dá igualdade; essa ideia que se nasce e se
permanece livre e iguais com que se fala. A declaração dos direitos do homem e cidadão e que
acompanhou o constitucionalismo dos estados unidos, não é o registro de um dado de natureza senão a
transposição de ordem jurídica da outra ideia do individuo. Precisamente por este motivo, na França da
terceira República, “república dos institutos”, impôs o uso de jaleco que cobria os signos de
desigualdade direta e visivelmente expressados por o modo de vestir. O privilegio não desaparecia
porém se fazia menos humilhante, o espaço escolar não refletia a vista as diferenças sociais,
obstaculizando dessa maneira a exposição das relações sociais a liberal de mesma do conhecimento. Se
converteria melhor em lugar no que se enterrava, ao menos de forma provisória, a neutralização dessas
diferenças. é justo, pois, destacar que “a vida do sujeito não consiste contem essas escuras cores de
decadência, de ouvido, de esquecido e de domínio no que alguém há querido encerra-la” Muito
oportunamente se há recordado.

A tematização do sujeito não é um procedimento previsto e constante; é por contrário,


um procedimento sumamente sensível a as variáveis histórico-culturais, apesar só é
presente em alguns momentos da parábola da cidadania. O discurso medieval não ignora
ao sujeito senão que, simplesmente, o capta em sua relação com corpo politico-social.
Falar do descobrimento ”moderno”(iusnaturalismo) do sujeito é uma expressão só
aceitável se quiserem abusar da brevidade, porém é confuso se se toma
demasiadamente sério; o jusnaturalismo não descobre o sujeito, descobre outro sujeito,
,elabora um esquema original, estranho a tradição aristotélica – tomista, para oferecer
imagens diferentes do individuo e de sua relação com a o pedido.

Na modernidade, sem embargo, os procedimentos abstratos, não se é do sujeito, haviam assumido a


deliberada finalidade da neutralização que se resolvia no uso de conceitos e de categorias jurídicas que
ocultava os conflitos, é dizer, a realidade. Porém, o marcado interesse pela, denúncia destas operações,
não justifica uma lacuna negativa de todo um acontecer histórico e conceitual, e menos a reavaliação
(como de fato aconteceu) da estrutura jurídica e social do antigo regime, expressiva certamente de
dados da realidade não ignorados, porém com a presença e prepotência afundavam a ordem que negava
liberdade e igualdade produzindo exclusão e impossibilidade de sair do buraco de um estatuto que
definia efetiva condição da pessoa. O realismo do Direito, naquela fase, se limitou a reproduzir e
sancionar a estratificação social.

É certo que no trânsito desde a figura abstrata e unitária do sujeito fazia sua concreta articulação no
mesmo sistema jurídico se advertia um desvio, uma contradição. A realidade arrancava a crosta fora e
apareciam algumas figuras subjetivas que amenizava a unidade e a compreensão da categoria. Durante

Largo tempo, o beneficiário único da plenitude da subjetividade foi o burguês macho, maior,
alfabetizado, proprietário. A subjetividade da mulher estava anulada já que se excluía ela da esfera
pública, com uma reduzida capacidade patrimonial da que estava casada e com a mortificação da sua
sexualidade. E a categoria dos atos próprios do comércio, ao sustar do código civil a parte mais
significativa a atividade econômica prejudicava em parte sua hegemonia, porém reforçava a figura do
comerciante, o que equivalia a romper a referência exclusiva a um sujeito jurídico cuja indiferença se
baseava nas atividades que efetivamente exercia. Veja-se nisso o desleixo de um “realismo” típico do
direito mercantil o sinal de uma larga controvérsia acerca da possibilidade de agrupar regulamentações
civis e comerciais nas mesmas normas, o certo é que o código de comércio italiano de 1882, por
exemplo, se apresentou como um instrumento mas adequado em um momento de liberação econômica
que reforçava as possibilidades da iniciativa autónoma do sujeitos mais ativos e dinâmicos. Ao mesmo
tempo, sem embargo, introduzia um elemento de disparidade, quando não desigualdade, desde o
momento em que o cidadão comum estava submetido a leis diferentes segundo tivesse relação com
comerciantes ou bem com outros cidadãos correntes, dando a vida assim aquela que foi rotulada uma
lei de classes. Que favorecia os interesses de uma categoria restringida em lugar dos da coletividade. E
que mostrava que a abstração do sujeito caia ante a lógica da economia.

Outros itinerários podem aparecer menos lineares. Na Alemanha de Bismark, enquanto se levava num
bom fim uma construção com a dos negócios liberais, categoria formal e abstrata que ocultava a
realidade das contradições, a legislação social desejada bem às claras à realidade das condições
materiais. A contradição se dissolvia, não obstante, tendo em conta o comum intento político daquelas
operações, tendentes todas ao mesmo fim de neutralizar os conflitos.

Estas dinâmicas vão indo revolucionando depois de diversas maneiras, não só ganhando paulatinamente
para a subjetividade dos muitos aspectos que estavam excluídos dela, o das mulheres em primeiro lugar,
sendo pesando por essa razão o problema da compatibilidade entre sujeito abstrato e reconhecimento
das diferenças. Se partirmos da conexão histórica entre sujeito abstrato e igualdade, o modelo
representa por art. 3 da Constituição italiana se apresenta como especialmente útil para resolver a
questão. Não se abandona a referencia a igualdade formal, com se diz em seu parâgrafo
primeiro ,descrita a necessária indiferença do sujeito com respeito a uma serie de dados que de outra
maneira o tratariam com formas discriminatórias, mas que se permite que, no marco da igualdade
formal, pode quebrar a realidade, representada pelos que no segundo parágrafo são definidos como
“obstáculos de fato” isto é, circunstancias materiais que põe a prova a adequação do esquema formal
respeito do resultado, não só substancial, que se querem obter. A subjetividade abstrata se confronta e
se mede desde a concreção do real. De aqui há necessidade de uma legislação desigual em nome da
realização efetiva da igualdade, ao passo é obrigado.

Não se trata de um expediente para salvar ao sujeito abstrato nem tão pouco fecha um parêntese da
modernidade. É o sinal, ao mesmo tempo da necessidade de um esquema e sua insuficiência. O sujeito
abstrato mantém sua função porém já não está em condições de compreender em sua integridade a
realidade a que se faz referencia.

Planta-se, pois, a questão sobre qual é o estatuto epistemológico do sujeito, que é algo que vai mais
além do discurso jurídico e que se conveniente em termo de reflexão filosófica e sociológica, da ética e
do psicanalise. O sujeito já não se apresenta com algo compacto, unificador, resolvido. Mas que
problema, é um enigma. Torna-se nômade. Expressa uma realidade móvel e quebrada. Não se trata de
uma aproximação mais de um processo.

A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DA PESSOA

O sujeito, que já não é a única e segura sujeição, deixa campo livre a uma investigação que não se limita
a desvenda a verdadeira natureza dos muitos sujeitos que ocupam agora o lugar de um, mas que deve
basear-se, mediando uma transição, na necessidade de dar aos dispersos membros da realidade uma
referencia que seja, a um tempo, explicação e fundamento. No discurso jurídico, o registro de um dado
deve ir acompanhado de uma reflexão acerca do sentido da transição fazia numa nova dimensão, isto é,
de uma tarefa necessariamente reconstrutiva.

Poderia pensar-se que a substituição de uma referencia por outro não deveria originar especiais
transtornos já que , no arsenal do jurista, sujeito e pessoa já conviviam. Porém o faziam justamente no
terreno da abstração. Em um famoso curso francês de direito civil do século XIX, o de Aubry y Rau, com a
mira posta evidentemente na discussão por então viva sobre o patrimônio do proletário, se escreve que
“toda pessoa tem necessariamente um patrimônio embora não tenha de fato nem um bem. Esta
afirmação poderia parecer insensata se não se tivesse em conta que a argumentação fala em termo de
capacidade jurídica e na que se faz patente uma ideia do sujeito como puro centro de imputação de
direito e de deveres que se traduzem na abstrata potencialidade de cada qual de acessar a qualquer
bem na condição formal, de atuar com pleno direito no mercado, sem as quais fere seus recursos
materiais. Outra visível e ingênua operação de neutralização que tratava de desativa-los cada vez mais
cadentes conflitos sociais.
Para sair desse impasse, havia que reinventar a pessoa. Se der uma olhada no sistema jurídico italiano
facilmente se compreenderá dificuldade de levar a bom porto este empenho. E, não obstante, o traço
personalíssimo esteve muito presente desde 1948 em normas especialmente significativas da
constituição republicana. Pronto aparece a pessoa na referencia atribuída ao livre desenvolvimento da
personalidade, contida em art. 2, de onde de imediato se adverte o distanciamento de toda abstração
dada a relevância atribuída ao nexo social, a “realidade das formações sociais” em cujo seio se produz a
construção da personalidade.

Esta nova dimensão ficou de novo ressaltada no sucessivo art. 3 com uma nova cor, por não dizer
ruptura do esquema de igualdade formal já que a dignidade ali mencionada é a social. E a importância da
pessoa, e a obrigação de respeita-la, aparece no segunda parte do artigo 32 dedicado ao direito a
saúde, cum uma intuição reveladora que destaca o relacionamento entre pessoa e corpo. A
inviolabilidade da dignidade da pessoa se materializa na inviolabilidade do corpo.

Haveria que esperar um tempo para que se entendessem estes importantes rasgos e para que se
aclarasse que a constituição, quando fala de pessoa, no se refere ao individuo abstrato, mas a “a pessoa
social”.

A inicial falta de atenção por não dizer o relaxo, desta indicação concorriam fatores políticos e sociais.
Muitos chegaram a identificar a importância atribuída à pessoa como uma concessão a uma parte
política. O católico, que se havia erigido em paladino da cultura personalíssima.

Alentava-se aí uma desconfiança justificada com o argumento do caráter contingente (duvidoso) dessa
referência, que a madureza histórica se encarregaria de redimensionar. Esta atitude mais propriamente
política, por não dizer ideológica, se convertia no suporte, talvez inconsciente, de uma cultura jurídica na
que categoria “sujeito” aparecia como uma referência quase natural, inevitável. Não é casual que a
primeira maneira de trata organicamente a posição do individuo no sistema constitucional, a de Paolo
Baribe, siga sendo titulada com a do sujeito. As referências diretas a pessoa virá de estudiosos do direito
civil, não todos propensos ao antiformalismo, como G. Geampiccolo e P. Rescigno.

Produz-se, pois, a transição do indivíduo a pessoa, do sujeito de direitos ao sujeito “de carne” que
permite dar progressiva relevância ao “destino da socialização da pessoa e ao destino de natureza” de
seu organismo. Porém não nos falamos frente a uma transição inspirada sempre na mesma lógica.

Para captar melhor o significado desta transição convém recordar que na tradição do direito positivo, é
dizer, da codificações civis sobre tudo , há variadas imposições e acentos. Junto a superposições do
termos, de maneira que sujeito e pessoa se entende como sinômimos, há outra maneira de ver o
problema que parte da definição da pessoa com “o homem considerado desde o ponto de vista do
direito.” Simplificando bastante, se poderia rastrear uma tradição de matriz alemã que faz prevalecer
uma noção abstrata do sujeito e que se atribui a pessoa jurídica. Distinção que mais tarde será dissolvida
no ponto de chegada, representando pela reflexão de Kelsen que trás haver sublinhado que “assim
chamada pessoa física” (...) um homem, de outa forma a unidade personificada da normas jurídicas que
atribuem deveres e direitos ao homem mesmo” concluem destacando que “ ela assim chamada pessoa
física é um pessoa jurídica”. Na tradição francesa emerge mais bem a consideração segundo a qual “há
que basear-se no corpo humano e na vida humana é o substrato da pessoa”.

A preferência por uma imposição de caráter abstrato há suposto a redução do sentido e do alcance de
noção de pessoa, isto é, uma despersonalização do sujeito” poderia definir-se a fase atual como aquela
em que se assiste uma radical inversão de tendência, a uma forte “personalização do sujeito” que
devolve a este ao ostracismo?

Dos recentes e significativas modificações de grandes codificações civis, a Alemanha e a francesa permite
captar as diversas inspirações, no fundo divergente, que podem guiar à transição do sujeito a pessoa. A
seção primeira do BGD, o código civil reformado, em relação às pessoas, dedica o título I `as “pessoas
físicas, consumidores e empresários”. A modificação é significativa e relevante já que testifica a visível
irrupção da realidade no texto que, em precedência, se ancora na tradição e só há referência as pessoas
físicas consideradas em sua abstração. Porém, a inovação afeta exclusivamente o homem econômico, de
maneira que a força renovadora do novo modo de referir-se a pessoa não vai à direção de abarcá-la em
sua plenitude. Opera melhor uma redução já que se fica na mera dimensão da produção e do consumo,
é dizer, do mercado. Este reducionismo econômico poderia resultar incluso mais perverso que a versão
puramente abstrata da subjetividade já que formaliza a existência de uma pessoa fragmentada.

Um reconhecimento explícito e intenso de esta nova visão jurídica e social se aprecia, pelo contrario, no
novo art. 16 do código civil francês. Aqui a referência, que provem das leis de 1994 sobre a bioética, fala
do “respeito ao corpo humano”: “a lei assegura a primazia da pessoa, proibido qualquer atentado conta
sua dignidade, e garantia do respeito ao ser humano dede o início de sua vida”. Esta linha se desenvolve
posteriormente no art. 16.1 de onde, junto ao direito ao respeito por o próprio corpo e por sua
inviolabilidade, se fala da proibição de fazer do corpo, de suas partes e de seus produtos, “objeto de
direito patrimonial algum”. Se adverte pois um nítido distanciamento da imposição Alemã, porém, sobre
todo, a aparição de outra ordem conceitual no que a importância reconhecida da pessoa plantado de
imediato a questão capital sobre que pode entrar e formar parte legítima do mercado e que, pelo
contrário precisamente por coerência com o novo modo de considerar, deve necessariamente ficar fora.

A pessoa se torna o traço , incluso formal, que permite realizar a materialidade da relações na que cada
qual se instala e dessas relações sociais que o caracterizam. Ao mesmo tempo, a realidade dessas
relações já não é percebida unicamente na dimensão do econômico, com havia sucedido com a brecha
aberta pela autonomia da figura do comerciante. Se o dado econômico segue assumindo
inevitavelmente relevância quando aparece a concretização da condição de cada qual, deixa de servir
com medida da pessoa e de sua existência.

Seguindo sempre com a trama constitucional, não só a Italiana, advertimos uma indicação de signo
oposto quando a pessoa e sua inviolável dignidade se convertem na medida jurídica da legitimidade da
ação econômica.

Não obstante, este processo não conduz a que uma nova figura unitária e conclusa em si mesma
substituía a precedente. Através da referência à pessoa entra na ordem jurídica e assume autônoma
relevância, outras figuras subjetivas que expressa a condição humana e que estar carregada, a seu modo,
de uma notável força disruptiva no sentido de que transferem as articulações e a contradições da
realidade a uma dimensão comum formalizada. A mais forte destas articulações da pessoa é a do
trabalhador, a que precisamente se atribui valor fundacional no art. 1 da constituição. Junto a este há
outros estatutos diferenciados, como o do consumidor, o pontual reconhecimento da vida mesma. Com
um caráter não previsto, mas expressivo de convicções que vão mais além do espirito dos tempos, a
Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, em seus arts. 24, 25 e 26, concedem importância ao
fato de ser menor, ancião, portador de deficiência, alijados do processo jurídico de construção da pessoa
,á indiferença pela realidade da condiciones materiais.

É de destacar o ponto de tensão entre igualdade e diversidade respeito ao que referencia a pessoa se
apresenta como um instrumento tanto de reconhecimento como de resolução. Graças a essa
multiplicação e a consolidação da referencias normativas, se confirma que estamos ante a uma
verdadeira “constitucionalização da pessoa”. E esta plena assunção na ordem constitucional reflete-se
nos diversos modos com os que a pessoa se manifesta em concreto.

Poderia dizer-se que se passa da consideração kelsiana do sujeito com “unidade personificada de
normas”, a pessoa com física resulta em “unidade de deveres e de direitos”, a pessoa com via para a
recuperação integral da individualidade e para a identificação do valores fundadores do sistema, isto é,
de uma noção que pregou indiferença e neutralidade a outra que exige atenção pela maneira com que o
direito entre na vida e o faz mediante um diferenciado conto de critérios de referencia. A superação
dessa concepção abstrata do sujeito implica também a dissolução de uma de sua função: a que um
crítico decidido, com Hans Kelsen, havia visto na garantia da propriedade.

Não resulta difícil ver a função ideológica de toda esta contraditória concepção do
sujeito jurídico com titular de direito subjetivo; serve para sustentar a concepção de
que o sujeito jurídico, titular de direito subjetivo, isto é, da propriedade privada, é
uma categoria transcendente, contraposta ao direito objetivo, és dizer positivo,
humano e mutante, uma instituição na que a determinação do conteúdo do
ordenamento jurídico encontra um limite insuperável (...) A ideia de um sujeito
jurídico, independente em sua existência do direito subjetivo, que não só é menos,
mas que possivelmente é mais “direito” que o direito objetivo, deve proteger a
instituição da propriedade privada para que no seja abolida pelo ordenamento
jurídico.

Livres da tirania e um sujeito que resolvia a garantia da liberdade na tutela da propriedade; nós
podemos ver agora uma realidade que já no se centra exclusivamente na ordem econômica do
mercado do que o direito se faz instrumento.

ENTRE LIBERDADE E DIGNIDADE

Chegamos a esse ponto há que retomar o fio da emergência da pessoa através de sua
“constitucionalização”. Já temos visto que este e um rasgo que pode rastrear-se no passado e que a
constituição italiana é testemunho visível dela.
Um testemunho, sem embargo, que se percebe melhor com os olho de hoje, não só porque estamos
livres do esquemas culturais que impedia sua plena compreensão , mas, e sobre tudo porque aquele
texto, cuja presbiopia, tem revelado com o tempo sua capacidade par ao compreender velhos e novos
dados da realidade. Na constituição não aparece o termo sujeito apesar que da “pessoa” há
referencias bastantes significativas(art.3, 32,11,119), ademais da referencias à personalidade (art. 2), à
liberdade “pessoal”(art. 13), à prestação “pessoal” (art. 23), à responsabilidade penal “pessoal” (art.
27). Neste reconhecimento merece uma atenção especial o fato de que o parágrafo quinto do novo
art. 119, como resulta da reforma constitucional de 2001, renova a atenção pela personalidade e por
seus direitos. Do que, diz há que favorece “ seu efetivo exercício’.

Na reconstrução do sistema constitucional, mais além do registro dos dados formais, a importância
atribuída a pessoa exige também em consideração da relação instituída com o principio de dignidade,
com se deduz em concreto dos art.s 3, 32,36 e 41. Hoje é possível uma leitura dos parágrofos do art. 3
que, assentados sobre tudo na dialética entre igualdade formal e substancial, mostram também um
desenvolvimento e uma integração que podem entender-se como referidos a pessoa.

Ao razoar assim não se pretende resta força política a um esquema ao que só engana que cumprira
com uma “revolução prometida”; se supunha que o legislador constituinte era consciente de que se
enfrentava a dois modelos de sociedade, uma que se apresentava como obstáculo que havia que
eliminar, e para nesta seção segundo fala do “critério ordenador da transformação social”. Em
substância, o ar. 3, nascido considerando “dois modelos contrapostos de estrutura socioeconômica e
sócio-institucional”, um para rechaçá-lo, outro par instaurá-lo”.

Esta tensão introduzida no sistema político-institucional permanece todavia hoje, porém não por isso
se agora o alcance do art. 3 em seu conjunto. Já se tinha dito que na primeira seção do artigo aparece
uma novidade, por não dizer uma ruptura, quando a dignidade é qualificada como “social”. Tal
qualificação não pode ser interpretada em anseio reducionista, como si só se tratasse de ressaltar as
condições materiais da existência, pois o certo é que nos falamos frente a uma modalidade essencial da
situação da pessoa no seio de um sistema conjunto de relações na que opera, é dizer, ante sua mesma
qualificação jurídica.

Bem pode dizer-se, pois que esta formulação pode ler-se como o trâmite fazia uma tomada de posição
mais marcada, a contida na segunda seção, em que se falam os sujeitos da igualdade.

A relação entre os da seção do art.3 vai em uma direção que por uma parte confirma a importância e
os limites da igualdade formal para a constituição do sujeito e, por outra, saca à luz das condições
materiais da existência da pessoa concreta. As modalidades de uma transição desde o sujeito para a
pessoa são perfeitamente definidas ao atribuir a República a tarefa de “suprimir os obstáculos de
ordem econômica e social que, ao limitar de fato a liberdade e a igualdade dos cidadões, impedem o
pleno desenvolvimento da pessoa humana.

A conexão com o que prevê o art. 2 é evidente. As constituições da segunda metade do século XX
começar a falar sobre o direito a livre construção da personalidade. O disse com claridade o art. 2.1 da
lei fundamental alemã, o Grundgesetz, afirmando que “cada qual tem direito ao livre desenvolvimento
da própria personalidade sempre que não viole os direitos dos demais e não agrida o ordenamento
constitucional e a lei moral” menos direta, e em muitos aspectos mais significativas, é a linha indicada
no artigo 2. Da constituição italiana: “a Republica reconhece e garante os direitos invioláveis do homem
,quer como ser individual, quer nas formações social onde se desenvolve a sua personalidade e requer
o cumprimento dos deveres inderrogáveis de solidariedade política, econômica e social”.

O clima e o espaço jurídico definidos nesses textos são bastante diferentes. Na norma alemã se aprecia
o isolamento e na italiana um poderoso nexo social, essa ideia de “conexão” expressada depois com
especial força no pensamento das mulheres. A “não violação” da que fala no grundgesetz parece
construir o desenvolvimento dos demais. O art. 2 da Constituição italiana fala de um diálogo entre
associados, de um individuo social no que a alternativa e a separação entre direito e deveres se
superam (e se englobam) com o nexo entre direitos invioláveis e principio de solidariedade”. A
República “reconhece e garante os direitos” e, demais, “reclama o cumprimento do deveres
inderrogáveis de solidariedade” A referencia Kantiana à lei moral se resolve aqui numa textura mais
analítica do poderes e das responsabilidades de cada qual. Se pode concluir, pois , que sobressai nítido
o nexo individualidade/sociabilidade. A reflexão antropológica nos ajuda reforçar esta suposição. “é
aqui onde se decide se a pessoa é uma realidade individual, não divisível (como assim o consideramos
os outros”, ou se pelo contrário é composta dividida, formada , por exemplo, mediante as relação com
as que a pessoa está estruturada.

Uma posterior confirmação da importância que a constituição concede a os dados da realidade na


consideração da pessoa e das redes de relações nas que esta se instalada, pode ver-se no art. 36 de
onde se afirma o desenvolvimento do trabalhador “a uma retribuição proporcional a quantidade e
qualidade de seu trabalho, em qualquer caso suficiente para assegurar, ao mesmo e a sua família, uma
existência livre e digna” o alcance geral desta previsão, sobre tudo depois de ser rejeitada uma
interpretação redutora que queria limita o alcance da norma à simples garantia da sobrevivência
biológica, é bastante significativa e vai mais além do específico âmbito do artigo, justamente porque o
trabalho está assinalado no art. 1. Como fundamento da República, isto, como constitutivo da relação
social.

A constituição não se detém no dado material, não se contenta com dar alívio a qualquer forma de
existência, mas a da plenitude à liberdade e a dignidade. Nós falamos frente a um complexo não
Gordiano, na frente de um jogo de toma-la da cá que não só proíbe a abstenção das condições
materiais, mas que estabelece uma relação necessária entre existência, liberdade,
dignidade( individual, mas “social”) desenvolvimento da personalidade(em uma dimensão assinalada
pela igualdade) seguindo este trenó, a vida já não é “desnuda” pois encontra no léxico jurídico as
palavras que podem ajudar a capta seu sentimento, pese a que a organização do trabalho volta-se a
promover com força umas condições que convertem o home em um ser flexível, precário.

Ao mesmo tempo, no artigo 36 há uma preciosa indicação sobre como afronta a questão da relação
entre liberdade e dignidade, que a vocês pareces como algo inalcançável, com a primeira como
portadora do valor da autonomia da pessoa, enquanto que a dignidade seria como um veiculo de
imposições autoritárias do valores que limitam a autonomia. Como se falará mais adiante, a dignidade
pode escapar ao risco de sua redução como instrumento de imposição autoritária, justamente com sua
explícita associação com a liberdade da pessoa.

Ao longo deste caminho encontramos também o art. 32, no que o tema da constitucionalização da
pessoa se manifesta com singular intensidade. Considerado a saúde como direito fundamental do
individuo, se prevê que os tratamentos obrigatórios só podem ser previstos por lei, se bem “nem um
caso” poderão violar o limite imposto à intervenção do legislador se traduz em uma renovada
declaração de habeas corpus e abre a via a uma mais intensa consideração da autodeterminação da
pessoa que assume desta maneira as características de direito fundamental.

Este processo de constitucionalização encontra confirmação eloquente na carta dos direito


fundamentais da UE. Já se há recordado aqui varias vezes que em seu Preâmbulo se afirma que a União
“situa a pessoa no centro de sua ação”, que o princípio da dignidade se encontra no inicio do texto e
que se concede plena relevância as condições particulares da existência, com são as das crianças, a dos
anciões, as dos menos validos. Porém e uma nova dimensão do corpo a que da especial alívio ao modo
com que a pessoa entre na dimensão do direito, com a afirmação conjunta do principio do
consentimento e do respeito à integridade da pessoa.

O reconhecimento da importância da pessoa seria incompleto se se limitasse a corroborar e a colocar


no determinado contexto da inovação cientifica e tecnologia a não divisível condição ente corpo e alma
olvidando a dimensão do “corpo eletrônico”. Enquanto que resulta redutivo e perigoso afirmar que
“somos nossos dados”, o certo é que nossa vida é hoje um constante intercambio de informação, que
vivemos em um fluxo ininterrupto de dados, de maneira que construção, identidade e reconhecimento
da pessoa dependem de modo inseparável de como se conceder o conjunto de dados que afetam. Aqui
não há abstração do real, atração pela pura virtualidade, na dinâmica das relações sociais e também na
percepção de um mesmo, a verdadeira realidade é a definida por um conjunto das informações que
nos afetam, organizadas eletronicamente, este é o corpo que nos situa no mundo.

A evolução é bem visível na Carta dos Direito Fundamentais de onde se adverte uma distinção entre o
tradicional direito” ao respeito da própria vida privada e familiar” (art. 7) e o “direito a proteção do
dados pessoais” (art.8), que se configura com um direito fundamental novo e autônomo. O problema
não é só o de uma pessoa que quiser proteger de interferência externas uma fechada esfera privada. O
problema expressa em não confiar exclusivamente a construção de nossa pessoa a outro que querem
organizar nossos dados segundo seus próprios fins, expropriando do direito a manter o controle sobre
este novo corpo. Já não encrustado nos confins da fisicidade e o secreto do psíquico, mas realmente
dissociado, entregado aos infinitos bancos de dados que dizem ao mundo quem somos. O fato de que
outros possuam legitimamente uma cota maior ou menor de nossos dados não os concede o oder de
dispor deles livremente. A soberania sobre o corpo se concreta no direito a acessar a os próprios
dados, este de onde estar, em exigir para eles um tratamento conforme a alguns pricipios(necessidade,
finalidade, pertinência, proporcionalidade), em poder obter sua retificação, seu cancelamento, sua
integração. O corpo eletrônico e sua gestão pertencem a esfera jurídica da pessoa. Por outra parte,
precisamente na referencia a pessoa não faltam alguns vínculos legislativos quando os dados tratados
o são “para fins exclusivamente pessoais” (art. 5.3, Código em amteria de proteção de dados pessoais,
decreto legislativo de 30 de junho, n.196) ou quando algumas violações da propriedade intelectual são
realizadas “por um usuário privado para fins pessoais, não de lucro” (art. 2.b, “Posição do Parlamento
Europeu acerca da diretiva 20027 relativa as medias penais tendentes a assegura o respeito do direitos
de propriedade intelectual”.

A constitucionalização da pessoa se cumpre pois, na importância atribuída a um corpo reconstruído na


sua unicidade,justamente para que a pessoa fique garantida em sua plenitude. Não nos falamos frente
a uma simples regra de convivência entre tr~es dimensões – física, psíquica, eletrônica. O que se
delimita é um substrato que atua sobre a construção mesma da noção de pessoa.

O homem já não é um ser descrnado senão um ser reconduzido para as múltiplas valências que se
atribuem seu ser em sociedade, começando por a física. Se confirma assim que a pessoa remete a um
sistema de relações e talvez a melhor clareação sobre este ponto a encontamos em uma pagina de
Jung de onde se diz que “ a pessoa deve entender-se com uma necessa´ria mediação entre a existência
individual e a coletiva”(...). A pessoa representa para o individuo a dupla tarefa de separá-lo da
imagens coletivas e, ao mesmo tempo, a incrementada capacidade para sabe-las gerir e controlar”
Entramos assim decididamente no tem da autonomia e da responsabilidade, que implica as questões
sobre o que não se pode dispor nem decidir por parte do interessado mesmo. Reconstruída na sua
unidade e recuperada sua completude, a pessoa encontra suas confines, os limites de sua liberdade de
ação.

A SOBERANIA SOBRE O CORPO

A situação que acabamos de descrever não é um assunto próprio nem exclusivo da cultura jurídica. Se
assim fosse, não se explicaria o fato de que umas matérias constitucionais presentes no nosso sistema
desde 1948 tiveram que esperar até tempos relativamente recentes para adquirir um desenho que lhes
dê sentido e nova força e uma capacidade dissolvente de categorias antigas que antes não teriam. Não
era só a presbiopia do juristas a que ocluia no passado leituras que vieram na Constituiçaõ uma
perspectiva mais compreesiva e rica do tem do sujeito e da pessoa. A realidade er outra e otras eram a
sculturas com as que devia ser medido o sentido das normas constitucionais. O encrostamento de
todas as potencialidades esperava nova mudureza.

Três tem sido a fraturas que paulatinamente temtrocado o contexto e se tem manifestado no terreno
do estado de bem estar, em que a tecnologia e a ciência, e no pensamento da mulheres. O sujeito
abstrato encontrou um poderoso suporte no bem estar universalista, já que a concessão de uma serie
de prestação passava por alto situações particulares nas que podia encontrar-se o cidadão concreto. A
prestação era generalizada. Porém no momento em que o Estado, como consequecia de sua “crise
fiscal”, passou a um bem estar seletivo no que as concessões eram cada vez mais dindividualizadas,a
materialidade da condições se converteram no critério de legitimação para cessar elas.

A unicidade do cidadão do bem estar caem em pedaços e em seu lugar comparece uma classificação
que incide, com forte ênfase social, na concreta diversidade da “carências” do sujeito., EM lugar do
bem estar inclusivo o que importa é por limites a exclusão. Desta maneira a abstração do sujeito se
dissolve na concreção das necessidades de uma pessoa “singular”, carregada com as dificuldades da
existência e subjetividade incapaz de afrontar os obstáculos que a organização social lhe põe a frente.
Por demais, nem se quer a redução, o incluso no desaparecimento do bem estar, tem impedido que se
vejam, com olhos universalistas, as condições das pessoas. Este é o significado que tem hoje o art. 3. Da
constituição, e em especial seu inovador e agitado parágrafo segundo de onde o universalismo fica
desenganchado da abstração e de onde aparece uma condição geral, encarnada por todos aqueles para
os que a República, tem o dever de eliminar os obstáculos que impeçam o pleno desenvolvimento da
pessoa humana.

A fórmula de linguagem constitucional merece ressaltar-se uma vez mais já que a referência a “pessoa
humana” aparece com um vínculo duplamente importante. Como meta para a ação pública, que deve
assegurar seu desenvolvimento. Como limite infranqueável para ação legislativa que “em nem um
caso” pode ignorar o respeito que lhe é divido (art. 32).

Este principio se traduz depois nas indicações especificas.

Aparecem nos “indigentes”, aos que devem garantir cuidados gratuitos (art. 32); “Os que tem
capacidade e méritos” que, hão carecimento de meios, “tem direito a alcançar os mais altos graus do
estudos” (art. 34). A mãe e a criança, os que há que segurar a devida proteção(art.37). As poliédricas
caras da existência daõ importância a umas condições particulars que concorrem à comum finalidade
de reconhecer a pessoa em toda sua plenitude, mais além do elemento diferencial que não deveria
sevir para diferenciar a uma cidadania igual(é a lógica que inspiram as normas, já recordadas, da carta
do direitos fundamentais da união europeia sobre os direito das crianças, do anciãos, dos
descapacitados). Traz a esteira de uma materialidade das condições, que nem a mais radical das crises
nem o rechaço do bem-estar pode já alejar o horizonte do direito, se opera uma nova conceitualização

da universalidade que leva à construção de catergorais gerais, apesar já não abstratas.

O ponto de vista adotado na carta do direitos, sem embargo, não deve confundir-se com as posicionses
de quem, desde a difernciaçaõ dos corpos, extraem argumentos para a atribuição dos direitos de
intensidade decrescente. Negando, por exemplo, o acessoa a determinados bens a quem hão superado
uma determinada idade. A explicita conssideraçaõ da carta das divesars”condições persoais” tedde
melhor impedir leituras classistas com uma imposição que proíbe, no artigo 3. Da constituição, a
discriminação da pessoasi justamente por suas especificas condições. A constitucionalizça´~ao da
pessoa sai, pois, de todo o elo posteriormente reforçada.

As inovações cientificas e tecnológicas produzem uma posterior, e a um mais visível, fratura. A


possibilidade de resolver o sujeito nas abrastrção da capacidade jurídica falada um decidido suporte
externo no fato de que algumas situações da vida, essenciais e diversificadas, tnha sua própria regra na
natureza, o sujeito, que carecia de poder sobre elas, não podia ser qualificado a partir delas. Quando o
nascer, o viver ou morrer sem resultado de opções possíveis e no assunto dependente da qualidade do
destino; quando o corpo mesmo se decompõe na multiplicidade de suas partes, a proteção natura se
debilita e a tradicional construção do sujeito tem que vê-las com uma realidade profundamente
transformada. A invasão da artificialidade jurídica do sujeito, porém, de novo, a relevância atribida a
pessoa em quanto tal, não produzem, na dimensão jurídica, nem uma dissolução de referencias, mas
um desprezamento da atenção fazia categorias construída sobre dados que expressam a nova
realidade, com são o consentimento informado, a integridade da pessoa, sua irredutibilidade ao
mercado.

Mas radical ainda é a fratura determinada pelo pensamento feminista. O rechaço do sujeito abstrato é
total. No só se vê um instrumento tendente substancialmente a cancelar a diferença de gênero, isto é,
a total ocultação da verdadeira realidade do mundo. A pessoa se ver imersa no fluxo da relaç~eos que
é de onde pode encontrar sua plenitude e uma garantia não centradaa exclusivamente na “gramatica
dos direitos”. Este benéfico questionamento da atifude do direito de regular a existência em seu
conjunto, que há chegado muito longe, levava explicito um risco de impor a crítica do sujeito abstrato
fazia uma anti-histórica recuperação de situações anteriores à formalização do sujeitomoderno, como
podiam ser aquelas típicas do antiguo regime. A atitude daquel sistema jurídicao, que fez evidentes as
modalidades concretas da existência, exige agora uma valoração das suas características reais que são
as de uma organização social que em aparência se preocupaba pelas relações entre as pessoas, tecido
com era de deveres para com os superiores e súditos, mas que em sustância era hierárquica e
constritiva em aquela jaula do status, em cujo centro se falava uma propriedade privada cosntituida
em magistratura familiar e social.

Liberadas destas correntes, a crítica à abstração, nonome de ma diferente descriçaõ do mundo, faz
emergir a pecualiaridade do corpo feminino que impõe o fato de dar importância ao corpo considerado
em si mesmo; transfere ao terremp da relações o que ants estava preso na consideração do sujeito
como entidade separada; delimita também o campo do direito mesmo que não pode doblar a sua
lógica qualquer aspecto da existência; enriquece, em fim, os instrumentos que permitem ver a pessoa
em sua complexidade e consciente numa reflexão mais madura sobre o papel mesmo do sujeito
abstrato.

Na origem de toda esta complexa vicissitude da reconstrução d da pessoa sobre novos fundamentos se
situa, como passagem decisiva a cArta de Nurmberg de 1946, que se abre com as palavreas “o
consentimento voluntário do sujeito humano é absolutamente necessário. Nos falamos qnte um giro
copernicano radical com o abandono da histórica subordinação da pessoa ao poder médico,
deslegitimado em sua autonomia pelo uso que dele tinha feito os médicos nazistas. Mediante o
consentimento informado a pessoa fica investida da soberania sobre seu próprio corpo, através de um
processo que puxa a maneira de estrutura a relação entre pessoa e quem trata seus dados. Relação
esta modificada também radicalmente ao atribuir diretamente a pessoa de governar suas próprias
informações.

Considerando o conjuto destas relações se deduzem as dinâmicas que fizeram possivel este difícil
trânsito:

- O sujeito como mero centro de imputação de situaç~çeos juridicad à pessoa como via para a
recuperaça~ço integra da individualidade e para a identificação do valores fudacinais do sistema;

- de uma noção que pregada indiferença, mais que neutralidade, a outra que realizava a partir de dados
da realidade;
_ de um conceito forjado de uma vez por todas n uma estrutura jurídica que acompanha o
desenvolviemnto da personalidade

_ de uma noção situação de separação a outra de compartilhamento;

De uma fundação metaísica a outra sediada na realidade.

ENTRE A IGUALDADE E A DIVERSIDADE

A observação do mudo nos restitui Num sujeito desarticulado, mas uma pessoa reconhecível pela
maneira concreta de posicionar-se e de ser considerada. Esta última referência é essencial. O fato de
que o sujeito abstrato já não seja reconhecido como o único protagonista do jurídico não tem como
consequência que o direito se posicione, frente ao modo com que a realidade penetra e estrutura a
pessoa, com uma atitude ao estilo Duchamp, com si se tratara de transferir a dimensão jurídica, sem
intermediações, uma espécie de ready-made, um dado já definitivamente estruturado no exterior.

Assistimos mais bem, com já se já assinalado, a forma diversas de conceituar e de construção das
categorias que vão mais além do jogo da representação simbólicas, como sucede com os objetos de
Marcel Duchamp. Nós falamos enfrentando um repensar da relação entre abstração, generalidade e
universalidade, e ademais em um contexto profundamente marcado pela inevitável tensão entre
igualdade e diversidade, entre uma artificialidade necessária e uma realidade que não se pode
cancelar. Poe isso não existe uma medida única, mas uma medida objetiva, que faz emergir a
generalidade da regra, com uma medida subjetiva, que consiste a concreção. Um processo, este último,
no que o interessado quem toma a palavra exercendo liberdade e responsabilidade. Porem esta
maneira de instituir um rosto a uma identidade desfigurada não se almeja ao jogo que encontramos
nos parques de atrações de onde uma inerte silhueta sem roso permite, a quem queira colocar o seu
próprio buraco correspondente, deixar-se fotografar dando-se a si mesmo e ao símbolo uma
subjetividade só diversa em aparência. Se trata melhor de um constante troca que permite que o
dispositivo da pessoa permaneça no pleno controle de cada interessado.

A consideração jurídica da pessoa passa através da atribuição de algumas qualidades, com a dignidade
ou a humanidade, declaradas invioláveis e assistidas de um vínculo que impõe o absoluto respeito;
através do surgimento da materialidade da existência, que nada tem que ver com um fundamento
naturalista, mas que compreende as novas artificialidades que acompanham o que estrutura o corpo; a
traves de diferentes conformações de institutos jurídicos tradicionais. Assim por exemplo, a violência
sexual, com evidente influência do pensamento feminista, já não é tratada no parágrafo que o código
penal dedica os “delitos contra a moralidade e os bons costumes, mas no delito contra as pessoa. O
sistema da responsabilidade civil tem saído de uma prisão patrimonial, alargando seus horizontes
glaciais ao principio constitucional da solidariedade, para inserir-se no capitulo “danos a pessoa” como
categoria geral, especificando-se posteriormente como dano ”biológico”, ou no capitulo “relações de
vida” assumindo a função de instrumento geral de tutela da saúde.

A progressiva marcha fazia o sistema jurídico do direito à saúde pode considerar-se como o sinal talvez
mais evidente de outro modo diverso de ver a pessoa. Isto não tem sucedido só por mostra a
insustentabilidade das teses de quem criticava a pertinência do direito a saúde, igual que outros
direitos sociais, à categoria dos direitos fundamentais. Para eles se tem compreendido três operações e
todas significativas. A reconstrução da unidade da pessoa em torno a sua identidade física e
psíquica(que tem sua mais recente adereço no art. 3. Da carta dos direitos fundamentais, já
recordado). A consideração da saúde, não como ausência de enfermidade, porém como “estado de
completo bem estar físico, psíquico e social”, segundo a definição da organização mundial de saúde,
recebida no nosso sistema e nos outros: isso se aplica o passado de uma condição excepcional a outra
de normalidade na vida da pessoa. A eliminação da discricionariedade do legislador na hora de
determinar categorias diferenciadas para o ressarcimento do dano, sempre que “entre em
consideração situações subjetivas constitucionalmente garantidas. Como é o direto à saúde
reconhecido no parágrafo primeiro do artigo 32 da constituição”. Estamos, pois frente a um interesse
positivo por uma proteção ativa da total vida psicofísica do homem”, mas que um “mero interesse
negativo pela intangibilidade da simples integridade física”. Uma operação como esta tem sido possível
pelo abandono do puro dado da fisicalidade , residual no contexto conotado pela abstração do sujeito,
em benefício de um conceito de pessoa compreensivo de todos seus componentes.

Mas antes, onde pode ou deve levar uma coação de pessoa tão construída? A questão planta com
maior intensidade e com bem concretas intenções quando se trata do embrião, com se a novidade da
referencia a pessoa encerra quase inevitável. O certo é que foi precisamente a abstração do sujeito a
que permitiu admitir coo centro de imputação de situações jurídicas a qualquer entidade à que o
direito reconhecia esta atitude. De fato, tanto o concepto como o não concebido são objeto de atenção
no código civil (art. 1 e 462). Esta previsão não é generalizada porque responde unicamente à lógica da
transmissão do patrimônio, a uma capacidade para herdar que fica subordinada ao fato de nascer,
excluindo precisamente a paridade do concepto (embrião, feto) com a pessoa. E sem embargo, contém
uma indicação útil no sentido de que mostra que é possível satisfazer determinadas exigências
derivadas da irredutibilidade do embrião a um simples amontoado de células atribuindo um estatuto
jurídico que não deve coincidir necessariamente com o geral da pessoa.

Nem se queira a tão discutida inovação introduzida na lei sobre a procriação clinicamente assistida (lei
19 de fevereiro de 20024, nº 40) pode ser considerada como um obstáculo instransponível nesta
direção, apesar de se proponha uma paridade entre o concepto com os outros sujeitos considerados.
No art. 1, de fato, se afirma que a lei “ assegura os direito de todos os sujeitos implicados, incluindo o
concepto”, mas esta afirmação, uma vez despojada de sua pesada carga ideológica, abre o problema de
quais são os direito concretamente reconhecidos ao concepto. Dado que eles são os direitos
concretamente reconhecidos ao concepto. Dado que é evidentemente impossível atribuir a este último
o conjunto das situações juridicamente relevantes que afetam as pessoas já nascidas, resulta
confirmada a legitimidade, incluso a necessidade, de levar um estatuto diferenciado.

Este modo de afrontar o específico problema da subjetividade do embrião, em qualquer caso, nada
tem que ver com o uso da referência à pessoa como dispositivo de exclusão, adotando uma lógica
análoga a que recorrem, por exemplo, Peter Singer ou Tristram Engelhardt para trazer o conflito entre
pessoa e não pessoa. Pois enquanto que esta distinção trata de reduzir a área de reconhecimento da
pessoa, justamente com uma lógica de exclusão do que já estava incluído, no caso do embrião se trata
de explorar a possibilidade de ir mais além dos limites traçados.

A experiência histórica não tem mostrado que incluso a referência ao sujeito tem tido fortes
conotações como dispositivo de exclusão. A abstrata capacidade jurídica, formalmente unificador e
igualitária, se tem mostrado inadequada como instrumento efetivo de tutela frente às novas e terríveis
pretensões de regimes que discriminam e se apoderam brutalmente do corpo mesmo das pessoas, no
art. q do código civil, durante o período fascista, junto ao reconhecimento da capacidade jurídica se
adicionava a possibilidade de limita-la pela “pertinência de determinadas razões”, a lógica que o
regime nazista levou a suas mais extremas consequências, em Auschwitz, ademais de Deus, muitas
outras coisas morreram, e o a ordem jurídica conheceu uma de suas mais extremas perversões . o
sujeito tem sido frágil tela quando, por meio de norma jurídicas, quiserem realizar formas radicais de
exclusão, como sucedeu por exemplo com as leis raciais que despojaram as pessoas “dos diversos
aditamentos jurídicos que as convertiam em sujeitos de direitos”. Se poderia afirma que a delimitação
de uma categoria de “não sujeito” podem trazer efeitos excludentes mais radicais que os da
qualificação de “não pessoa”, posto que fica eliminado qualquer “critério objetivo” de controle. Se o
sujeito não é mais que uma “unidade personificada de normas”, isso equivale a dizer que não é mais
que o conjunto de deveres jurídicos e de direitos subjetivos dos que são titulares; portanto, é evidente
a impossibilidade de buscar para ele uma fundação diferente da que resulta da variabilidade de
critérios, de vez em quando assumidos para proceder a atribuição de direitos, e assim, na figura e na
etimologia do sujeito se elevar a sujeição da uma norma mais eu a atribuição de uma soberania.

Uma estreita associação entre pessoa e biologia, como algo exilado implica sempre riscos de exclusão.
Uma renovada reflexão sobre a pessoa deve, pois assumir a simples naturalidade do individuo, de
maneira que dentro desta área nem uma exclusão seja possível na virtude da associação, já
mencionada, com o código da igualdade.

CONTRA O REDUCIONISMO

As tecnologias submetem o conceito da pessoa a oscilações cruzadas de dilatação e compressão. A


eletrônica leva a conclusão de que “somos nossas informações”; a genética por sua parte insiste em
que somos nossos genes. Haverá uma mitigação da ênfase tecnológica para evitar que a biologia
engula a biografia e que a virtualidade arrastre a pessoa por novos caminhos da abstração. A pessoa
sempre será algo mais que o conjunto de dados físicos e virtuais que a compõe.

A discussão sobre a clonagem tem permitido repudiar a inadmissibilidade mística do DNA e impedindo
que o gene seja um “ícone cultural”. A total identificação do indivíduo com seu patrimônio genético
choca com uma evidencia científica que mostra que a construção da personalidade é o resultado de
uma completa interação entre dados genéticos e dados ambientais, de maneira que a situação de
direito e a correspondente garantia deveriam atender mais bem este aspecto e não a simples
salvaguarda de um dado biológico. A preeminência da biografia sobre a biologia garantiria a autônoma
e a unicidade da pessoa.
Mas unicidade não equivale a identidade. Esta se manifestaria “de maneira visível” através da
aparência do corpo e do rosto”. No caso da clonagem, sem embargo, “ o valor simbólico do corpo e do
rosto humano, considerado como suporte da pessoa em sua unicidade, tenderia a desaparecer” e o
consequente giro nas relações entre identidade genética e identidade da pessoa afetaria aos direito e a
dignidade do home convertendo-se em um obstáculo para a personalidade.

Seguindo este raciocínio, sem embargo, vemos que se sobrepõe, com pouca propriedade, questões
distintas: a instrumentalização da pessoa com a igualdade entre nascidos com diferente modalidades, a
percepção de si mesmo com a percepção que os demais tem de um. Esquematizando bastante poderia
decidir-se que Jonas se centra na percepção que o individuo clonado tem de si mesmo; fala de fato de
“um direito da esfera subjetiva, no da objetiva”. Atlan, sem embargo, parece atribuir maior importância
ao reconhecimento, por parte do demais, do individuo como único, é dizer, a sua percepção social: não
é casual que a referencia não seja a de um dado subjetivo, o direito de ignora, mais de um objetivo, o
conjunto de corpo e rosto, neste último caso se poderia concluir que a atenção se centra mais nas
condições de direito que podem favorecer a acepção social da pessoa “duplicada” que em uma pura
hipótese de inibição, como a que se deduz da posição de Jonas. Porém assim, a identidade, e em
consequência a pessoa, será melhor o resultado de uma operação na que só os demais os que jugam a
parte principal, será uma construção baseada na maneira que tem os demais de virmos e de
definirmos: “o jurídico depende da opinião dos demais para exercer uma profissão, para exercer seus
direitos, para viver” Por outra parte, o problema da duplicação se planta hoje mais na dimensão da
virtualidade que no biológico, nesse espaço ocupado pelas redes sociais, que com excessiva ênfase,
logo desmentida pelos fatos, foi definido, em um caso singular, como second life: a construção de
duplas pessoas virtuais de avatar, aos que se queria reconhecer direito próprios com um específico bill
of rights.

A referência à clonagem se apresenta não só como um exercício intelectual estimulante para repensar
a definição de pessoa e os novos sistemas de relação nos que pode ver-se implicado, de outra forma
com uma ocasião para interrogar-se sobre a relação entre sujeito e pessoa: A proibição amplamente
generalizada da clonagem reprodutiva de humanos tem levado a falar de seres ilegais, em referencia
aqueles houverem de nascer mediante este procedimento proibido. É evidente que definições deste
tipo só podem ter sentido se estão referidas a uma subjetividade resulta de uma abstração do dado
material, enquanto que as estruturas jurídicas da pessoa, conotada como está (outro forma de
conceptualização conexa com a igualdade, faz que seja impossível definir como ilegal ao mero ser no
mundo. O violento proibicionismo da lei italiana acerca da procriação assistida, por exemplo, se
derruba ante o fato de que o nascimento de um pessoa , ou que seja, produzido através da violação de
alguma das normas, não a excluem de ter os mesmos direito que os nascidos “legais”.

Há, pois, dados concretos que impõem reflexões mais diretas sobre os mecanismos sociais que podem
ativar-se com o uso “popular” da genética, mediante múltiplas provas, em concreto da paternidade.
Disto pode extrair-se uma reconfortante intepretação. Depurado desagradáveis prejuízos, o recurso
das provas que certifica a paternidade permitiria resolver melhor as múltiplas controvérsias judiciais
desta difícil matéria e, mais em geral, dariam um sólido fundamento a verdade biológica às relações
entre pai e filhos.
Porém esta deslumbrante luz biológica é portadora de um inconveniente: a irrupção na relações sociais
da “mística do DNA” o reducionismo biológico que cancela legitimidade de qualquer relação não
baseada nisso que antes se chamava os “laços de sangue”. A biologia quer cancelar a biografia com
uma perigosa regressão cultual e social.

Em anos passados se tem afirmado com grandes fadigas uma cultura das relações interpessoais e da
organização familiar eu se centrava na lógica dos afetos, na paciente construção das relações baseadas
na vontade de querer estar juntos, na recíproca dedicação. Maternidade e paternidade “sociais” o “dos
afetos” não eram somente palavras novas. Era o fundamento de profundas mudanças na legislação dos
países mais diversos, testemunhadas, por exemplo, com as reformas acerca da adoção.

Hoje estamos testemunhando uma vingança da fisicalidade que quer encurralar, em nome da certeza
biológica, relações que se tem construído a base de anos, substituindo com a nua trama dos genes.
Uma “limpeza genética” argumentada com a circularidade do direito para conhecer a própria origem,
pode cancelar relações nas que se encarnam a comunidade de vida e a incessante e fecunda
renovação das razões para estar juntos.

Podem levar a um dramático empobrecimento: encontrar-se só com a própria história genética mas
não já na relação com os outros. A verdade biológica a toda prova é uma conquista ou uma prisão?

De novo a pessoa e seu sistema de relações que não podem prescindir dos dados genéticos, é certo,
mas que tampouco deve ver em eles um vínculo invencível. Estas reflexões apenas esboçadas revelam
a importância da mediação jurídica na construção de uma pessoa não entregada cegamente ao registro
que propõe uma nova aliança entre natureza e ciência. Mediação tanto mais necessária por quanto os
dos genéticos não põe frente a realidade das pessoas estruturalmente “conectadas” pelo o fato de
compartilar justamente um patrimônio constituído por “caracteres genéticos transmissíveis no âmbito
de um grupo de indivíduos ligados por vínculos de parentesco”.

O tema da condição se manifesta com idêntica evidência quando se considera o corpo eletrônico, a
pessoa virtual, não só dispersa em tantos lugares quantos são os bancos de dados que tratam as
informações pessoais, porém exposta também no ataque do reducionismo, de uma prepotência do
dado eletrônico que assumiria em si mesmo qualquer caráter da existência. Estamos ante fenômenos
que nos mostra o risco de uma progressiva perda, não só do controle de nós mesmos, mas de sua
mesma construção. A pessoa virtual, de fato, é a que resulta de uma incessante intervenção dos
sujeitos diferentes aquele a quem se referem às informações. A disseminação em uma multiplicidade
de lugares não só de uma irremediável fragmentação.

Esta exagerada imagem se cruza com frequência com o uso cotidiano da tecnologia. Imprecisões e
representações parciais, incluso autênticas falsificações, é uma característica constante de muitas
biografias livremente construídas por sujeitos diferentes ao interessado, que logo encontram a fazer
parte de complexos informativos socialmente acreditados “como wikipedia”. Entramos ademais ante
uma identidade “dispersa” pelo fato de que as informações que afetam uma mesma pessoa estão
contidas em bancos de dados diferentes e de onde cada um deles oferece só uma parte ou um
fragmento da identidade. Arriscamos entra no tempo da identidade “irreconhecível” por parte do
interessado, deslocada como está de lugares de árduo, quando não de impossível acesso, dos que
desconhecemos incluso sua existência mesma.

Nossa identidade é, pois, o resultado de uma operação na que só outros os que levam a voz cantante
no processo de elaboração ou difusão constante, “Estamos frente a uma identidade” instável, a mercê
de humores estrangeiros, de preconceitos ou de interesses de quem pegar, conserva ou difunde os
dados da pessoa. Se cria assim uma situação de dependência que determina a construções de uma
identidade “externa” com formas que reduzem e poder de controle por parte do interessado. Tantas
pessoas quanto são os sujeitos que utilizam nossos dados?

De novo topamos com a vida em seu aspecto mais poliédrico, na multiplicidade das imagens, apesar
articulados de maneiras diferentes, segundo o ponto de vista do observador, da seleção das noticias
utilizadas. A identidade e, junto a ela, a pessoa se declinam em plural. Justamente por que somos essa
multiplicidade, porque a vida é um movimento multiforme, não podemos exercer um poder de
redução desta complexidade que se transforma na imposição a todos o modo único com que nos
vemos ou com o que queremos ser vistos. O que teremos direito a pedir é que os diversos modos de
representarmos não se transforme em uma espécie de montagem desconjuntada de fragmentos de
nossa história. A projeção fazia fora da vida privada deve respeitar um critério fundamental: no ser
julgado e representado fora do contesto. Desta maneira, a pessoa trata de voltar a entrar em si mesma
retirando a tirania da “exterioridade”.

A PESSOA

Mais a possível construção de um a pessoa por parte de outros sujeitos não se detém aqui. Este poder
é a cada dia mais ousado à medida que se concretam as possibilidades de estruturar os corpos segundo
um projeto predeterminado ou, dito de outra maneira, a capacidade de reprojetar os seres humanos.
Dirigimos nossa atenção para as pessoas futuras e nos questionamos acerca da legitimidade de umas
intervenções que podem liberá-las do risco de transmissão de uma enfermidade genética: não é o
“filho perfeito” o que se persegue, mas a possibilidade de entender as possibilidades que oferece a
inovação científica, seguindo a lógica habitual da hora de recorrer a medicina e a cirurgia. Porém a
lógica de uma normalidade inspirada em uma ideia de perfeição, ou de uma continua e radical melhora
ao menos, se topa com uma atitude oposta que concede valor a uma diferença que se expressa como
deficiência física. É célebre uma causa que teve como protagonista a das lésbicas surdas que graças à
doação de sêmen de um amigo, também surdo, tivera uma filha surda. Explicam esta decisão dizendo
que sem o nascimento de uma pessoa que sente é já uma benção, a de uma pessoa surda é uma
benção “dupla”, porque vá encontrar uma comunidade presta a colher com uma intensidade que no
mundo “normal” no existe.

Alguns estudiosos avaliaram essa atitude: que em casos de diagnósticos pré-natais que revelam alguma
deficiência, em três de cada dez casos a aceitação vem determinada por o fato de que essa deficiência
se correspondia com características de um ou de ambos os progenitores.
Por esta nova circunstância de reprojetar a um ser humano no afeto só aos que tem de vim. Afeta
também as pessoas existentes; por exemplo, para recupera funções perdidas, para superar deficiências
para controlar debilidades físicas mediante implantes eletrônicos no corpo. Aqui a pessoa topa com a
concreta possibilidade de beneficiar-se de enormes oportunidades, mas também com a concreta
possibilidade de ficar encurralada em formas que incidem a fundo sobre sua autônoma e que podem
levá-la mais além das fronteiras do humano. Faz-se, pois evidente a necessidade de definir as
condições de legitimidade jurídica destas intervenções e estabelecer intervenções e estabelecer com
precisão quem pode legitimamente governa-las. A primeira e essência questão tem que ver com uma
eventual situação de dependência irreversível, como poderia suceder, por exemplo, com o implante no
cérebro de um dispositivo eletrônico; com a finalidade terapêutica, si, mais governada por completo
desde o exterior. Pode uma maior bem estar intercambiar-se com a expropriação da liberdade e da
humanidade mesma?

Voltemos a um do atributo da pessoa que hoje se declina em término de pós-humano e de


transumano. Como se dirá mais adiante ao analisar justamente a perspectiva pós-humana, se torna
problemática amaneira de afrontar a definição mesma da pessoa, incidida entre continuidade e
descontinuidade, perguntando-nos se, o trânsito à condição de pós-humano e transumano deverá
trazer consigo uma nova articulação dos direitos da pessoa ou sí, ao contrario, marcará um declínio
inevitável do que tem sido chamados até agora de direitos “humanos”. Porém a media do humano não
pode ser só a naturalista nem tão pouco a meramente tecnológica. Falar que busca-la através da
dimensão jurídica na nova reconstrução que nela encontra suas referências, é dizer, na possiblidade de
projetar neste incerto futuro os principio de igualdade, autônoma e dignidade, fazendo que a pessoa
no tenha que separa-se de si mesma, irremediavelmente incidida entre atributos antigos e uma
humanidade perdida.

RESPONSABILIDADE COM O FUTURO E “PATRIMÔNIOS DA HUMANIDADE”

Para afrontar o conjunto destes e outros problemas, que retém com força e constância a referência
naturalista, se tem intentado fabricar um novo paradigma que instituía à natureza com sujeito de direito,
evocando ulteriores subjetividade a que pode imputar interesses e necessidades cada vez mais
formuladas em termos de direitos. Aparecem assim direitos de “última geração”, com os da tutela global
do meio ambiente o de genoma humano, classificados como objetos que constituem o patrimônio de
uma humanidade à que se lhe imputa incluso o poder/dever de exercer uma ingerência, justamente
“humanitária”. O pós-humano não se circunscreve só à dimensão da integração tecnológica do corpo
físico, mas como expansão de uma subjetividade que querem abarcar a todos os seres vivos.

A que sujeitos podem referir-se estes outros direitos, estas situações? Retornam as entidades abstratas
e desencarnadas: a humanidade, as geração futura, a natureza, o mercado. Mais quem fala em seu
nome? Uma vez que a conquistada concreção da pessoa feita perfeitamente identificável aos atores da
história do direitos, nos chega agora o risco de uma de uma recaída na abstração que poderia
desencadear assuntos a sujeitos que se apropriem do poder de representar a humanidade ou a natureza.
As perseguições do autoritarismo são evidentes. Já se havia manifestado quando, para tutelar o meio
ambiente, erigiram à natureza como sujeito moral e, ante o risco de catástrofes ecológicas, se pediu
explicitamente o abandono da lógica democrática e adoção de medidas urgentes, forma quem fosse os
sujeitos e os procedimentos que as fariam concretas.

Subjetividade e legitimação são dois problemas imbricados. Com a sugestiva pergunta sobre si “as
árvores podem atuar em juízos”, tratava-se de faze possível uma legitimação geral, uma ação popular
pela tutela da biosfera que superara o esquema clássico da relação entre quem atua em juízo e seu
interesse atual e direto. O fato concreto de que este “novo sujeito” se manifestava, remitia-se a inciativa
dos sujeitos tradicionais, depositários sem embargo de um novo poder e investido de uma ulterior
responsabilidade. Já no falam por si, mas para todos, encarnam mais que um interesse coletivo e
estendido, o da humanidade inteira, fazendo desta maneira mais complexa a figura mesma do sujeito
pela maneira de instruir sua relação com o mundo. A pessoa e sua ação se projetam para uma
compreensão do mundo, que exalta sua dimensão social, enriquecida pela ampliação do interesse dos
que se fazem portadora , mas também dilatada nessa transição que vai desde a consideração da outras
pessoas para o conjunto de entidades que constituem todo o vivo.

Mesclam-se palavras antigas com outras novas. A permanente e reformada referencia as gerações
futuras, junto a ampliação da noção de humanidade, aparece alijar-nos da concepção da pessoa para
mete-nos de novo na abstração. Porem, ao arrazoar sobre estas categorias propriamente na dimensão
propriamente jurídicas, vemos que só nas aparências desvanece a forte referencia à pessoa, porque a
dimensão realista, na que se chega até o mais fundo, a define como portadora desses direitos e deveres,
unidos a possibilidade de fazer passar essas categorias da consideração abstrata à garantia concreta.

O que não significa que há que restar valor a força simbólica de cada uma destas novas referencias que
reestruturam a ordem jurídica e repropõe a questão da subjetividade. Não obstante, a consideração
analítica das diversas situações mostra que não nos falamos em presença, como se tem dito, de “novos
direitos para novos sujeitos”, mas ante a emergência de direitos e bens que podem em dela de juízo o
modo mesmo com que o sujeito tem sido historicamente construído, exigindo não só uma diferente
entidade de referência, justamente a pessoa , mas também um modo diferente de construir os critérios
de imputação. A insistência, pois, em falar de humanidade ou de generalizações futuras não pede
apresentar-se como um renascimento ou uma re- legitimação da categoria sujeito.

UM DESAFIO PARA A PESSOA

Diremos, pois, que a força dessas coisas, mais que a da argumentação, impõe concluir que o original
esquema do sujeito abstrato não esta mais em condições de compreender uma realidade que por um
lado evoca com insistência e por outra lado a questão diferente e realista referência à pessoa? O
realismo é o oposto a fixação e por isso a pessoa está constantemente desafiada por este modo sujo de
ser por sua íntima atitude a fazer-se mediador da complexidade da existência e dos critérios de
valoração que a ela se referem.

Porém, a pessoa, com já se tem visto, é uma noção fortemente construída e tem uma artificialidade que
lhe impede apresentar-se com os desnudos atributos da naturalidade, que lhe negariam autonomia. É
um ponto de convergência de valores reconhecidos, não através da intuição ou do consenso social, mas
baseado na importância que esses valores assumem no contexto constitucional que vai mais além das
fronteiras nacionais e que se prolonga as tutelas oferecidas, pois estão não no atributo do “cidadão” só:
descende, melhor, do catálogos de direitos e deveres reconhecidos justamente ao ser pessoa. Por isso, a
pessoa aparece como irredutível a essa media de “normalidade” que acompanha o sujeito abstrato,
incapaz de enfrentar-se à variabilidade individual e social necessitado de regularidade para chegar a uma
série de referencias que pretendem ser objetivas, por quanto seriam o reflexo de uma média estatística
ou de um sentir comum, como um bom pai de família ou o comum sentido do pudor, mas que em
concreto se converte em mediadoras de um reducionismo que querem impor um filtro único para a
consideração dos dados da realidade.

A constatação da artificialidade que acompanha a pessoa não deveria servir para chega à conclusão de
que, assim, não é que se haja abandonado o sujeito, mais que simplesmente se tem construído outro,
também conotado por o fato de presentar-se com uma unidade de direitos e deveres, por mais a
consideração deste outro se chega através de procedimentos e generalizações que, como já se tem
recordado, distinguem modalidades de construção da pessoa diferentes às que , na modernidade , tem
fundado o sujeito. Como a vicissitude histórica ensina, a transição de um paradigma a outro não deve
estar dominada pela observação da descontinuidade, mas deve ter uma atitude capaz de entender a
troca como o que realmente é. Sendo sempre consciente de que uma hipertrofia na relação com a
pessoa pode conduzir a um rechaço análogo ao conhecido por o sujeito, determinado desta maneira
uma “crise paradoxal” justamente no momento em que o instrumento pessoa se presenta como
especialmente adequado para a compreensão de fenômenos e, ademais, para a construção da dimensão
jurídica a eles referida.

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