Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O Direito Constitucional deverá ser entendido como tronco do qual emanam todos os restantes ramos
da árvore que unifica a ordem jurídica vigente num determinado território.
A resposta à questão apresentada envolve um destapar do “véu da ignorância” do leitor acerca dos
pressupostos axiológicos e as pré-compreensões subjacentes ao presente estudo.
1.2.3. Centralidade constitucional da pessoa humano ou do Estado? – O confronto entre Kant e Hegel
É verdade que importa ter presente a ideia de que a justiça, a liberdade e a segurança nunca podem
deixar de estar ao serviço do homem vivo e concreto e da sua inalienável dignidade. – Aqui reside a
razão de ser do fenómeno constitucional.
Tudo o que existe no Direito destina-se ao homem vivo e concreto. Tudo o que negar esta verdade não
será direito. O direito constitucional existe em função da pessoa humana e não do Estado. -Todo o
direito constitucional existe por causa do homem.
“Toda a pessoa humana é e deve ser o princípio, o sujeito e o fim de todas as instituições sociais”
Kant: Kant vem retomar uma idêntica questão formulada por S. Tomás de Aquino a propósito da
natureza do nome de pessoa. Faz da interrogação “O que é o Homem?” a síntese da sua filosofia,
transformando a antropologia filosófica a base do seu pensamento. Assumindo um modelo que faz da
dignidade humana a essência do imperativo categórico (“age só segundo máxima tal que possas ao
mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”), também o direito constitucional assume uma
postura antropocêntrica.
O paradigma da constituição não pode ser o Estado ou o Poder, antes radica no ser humano e na sua
dignidade inviolável.
Hegel: Por outro lado, fazer do Estado o centro da Constituição é prestar homenagem a uma linha de
pensamento transpersonalista de base hegeliana. Um ensino autónomo de um Direito constitucional
exclusiva e naturalmente centrado no Estado mostra-se ilustrativo de uma metodologia de fidelidade a
Hegel.
1. Uma conceção constitucional que defenda que o individuo só encontre a essência da sua
liberdade no Estado e que faça da integração do homem como membro do Estado o seu “mais
elevado dever”;
2. A ideia de que o homem deve tudo ao Estado e que só nele tem a sua essência.
A essência de cada constituição deve se encontrar numa busca incessante de um modelo de organização
político que vise a edificação de uma sociedade mais justa, mais segura e mais livre e que esteja ao
serviço do respeito e da garantia da dignidade Humana.
“O Estado e a Sociedade são por causa do Homem e não o Homem por causa deles”
O Estado e todas as restantes instituições políticas estão ao serviço da pessoa humana, sabendo que não
é o homem que existe para elas, antes são elas que encontram na pessoa humana o fundamento da sua
existência.
Homem que está em causa da Constituição não é uma simples realidade abstrata. Esta realidade
abstrata do homem é identificada na ideia universal de humanidade formulado por Kant: “Age de tal
maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e
simplesmente como fim e nunca simplesmente como meio”.
Contudo, no centro de cada constituição e de todo o Direito está cada Homem vivo e concreto. Esta
conceção valorizadora da subjetividade e da individualidade irredutível do Homem remete para o
contributo existencialista dos séculos XIX e XX.
No entanto, fazer do Homem vivo e concreto o eixo central do fenómeno constitucional não significa
que o Direito Constitucional tenha alcançado um modelo perfeito de organização política ou que sequer
o venha a alcançar. Trata-se de um processo sempre em evolução.
O ser humano é muito grande nos fins que o envolve e muito pequeno para os concretizar de forma
perfeita no tempo e no espaço.
A subordinação da realidade política, económica e cultural aos valores da pessoa humana aponta para
um personalismo constitucional. Este faz da dignidade de cada pessoa humana viva e concreta o
fundamento de validade de toda a ordem jurídica e a razão de ser do Estado.
É a dignidade da pessoa humana viva e concreta e os direitos fundamentais dela decorrentes que
justificam a existência do estado e da constituição e não o contrário. (Não é o estado ou a constituição
que justificam a dignidade da pessoa humana e os direitos humanos.)
Qualquer conceção que desloque a sua componente axiológica para uma diferente do valor da pessoa
humana e da sua dignidade, mostra-se metodologicamente desadequada:
(i) As teses republicanas ou neo-republicanas adotam uma postura metodológica que parte
da polis para a pessoa e não de cada pessoa para a polis, tornando-se uma forma de
transfiguração da dimensão ética da conceção hegeliana do Estado. Segundo Hegel, o neo-
republicanismo diz-nos que o cidadão só se realiza como cidadão na busca do bem comum
da comunidade, encontrando au o seu mais elevado dever;
(ii) O republicanismo, conferindo prevalência aos deveres em função do bem comum sobre os
direitos individuais, corre o risco de permitir um “totalitarismo de face humana”;
(iii) As teses neo-republicanas representam um retrocesso histórico e revelam desinteresse
pela raiz última do fenómeno constitucional: A universalização dos conceitos de pessoa
humana e de dignidade humana (que traduz o resultado de uma longa evolução jurídica)
(iv) As teses neo-republicanas esquecem que o ser humano, antes de ser cidadão é pessoa e,
nessa qualidade, tem direitos universais que são superiores e anteriores à participação e
comunidade política.
-» O republicanismo mostra-se adepto da “soberania do povo” vista na ótica do Estado, segundo as suas
diferentes variações e consequências;
A palavra homem envolve, por si só, a ideia de dignidade. – Pufendorf, séc. XVII. (Não é pelo facto de ser
cidadão, que o homem goza de dignidade. É por ser homem por si só)
Neste sentido a interrogação Kantiana “O que é o Homem?” encontra, segundo uma ótica personalista,
três imediatas e simples respostas que a tradição republicana desvaloriza:
Só seria possível compreender todo o processo histórico de busca das raízes e evolução constitucional
através de um estudo assente no personalismo constitucional.
O centro da reflexão filosófica deixou de assumir uma preocupação cósmica para adotar uma reflexão
em torno do próprio ser humano. Tal refletiu-se numa grande revolução filosófica. Esta passagem de
reflexões foi particularmente visível na Grécia.
Apesar do pensamento pré-socrático ser ainda dominado por uma postura cosmológica de explicação
do mundo, fazendo do homem uma simples partícula de um todo mais vasto e subsidiariamente objeto
de reflexão, é nele que se encontra a primeira tentativa de explicação racional da origem do homem e
do próprio mundo.
Protágoras: Adota um “radical humanismo”, decorrente do poder da razão atribuído ao homem,
enquanto “ser de razão”.
A Grécia cria a razão humana e “o homem é a medida de todas as coisas, das que existem e das que
estão na natureza, das que não existem e da explicação da sua inexistência.”
Eurípedes: O homem é, por natureza, livre. “Os deuses criaram todos os homens livres; ninguém é
escravo por natureza”
Apresenta-se como defensor do igualitarismo uma vez que, sendo leal á democracia ateniense,
considera que o escravo comunga da inteligência global de todos os seres humanos.
É possível que tenha sido Heródoto o primeiro a utilizar o termo liberdade, encontra-se nele a primeira
referência ao conceito de democracia.
Contudo, uma tal liberdade não compreendia qualquer ideia de liberdade de vida privada, liberdade de
educação ou liberdade religiosa: O homem estava submetido ao estado. (Não havia, “de facto”,
liberdade.)
Na Grécia antiga, a liberdade é entendida como uma mera participação da pessoa na vida da cidade e
não como uma posição de autonomia do individuo perante o Poder. Neste sentido, não há qualquer
dimensão limitativa deste último.
Existem aqui dois exemplos antagónicos de exercício da liberdade da pessoa perante as leis injustas:
Sócrates: Escolhe não fugir (sendo lhe dada essa possibilidade), acabando por sofrer a morte, para que
se respeitem as leis. O homem aparece absorvido pela vontade do Poder, fazendo a segurança da
obediência prevalecer sobre a justificação da desobediência ao Direito injusto. Um homem pode morrer
pela liberdade de expressão, pela afirmação da liberdade de pensamento e pela sua própria dignidade,
tudo para obedecer à lei. OBEDECE À LEI INJUSTA.
Antígona: Escolhe a morte como preço por desobedecer à lei injusta. Representa uma proposta
revolucionária de não submissão do ser humano ao Poder: Há limites que, por natureza, mesmo sem
estarem escritos, se impõe ao poder político e aos seus titulares. Há um poder de desobedecer. NÃO
OBEDECE À LEI INJUSTA.
4 ideias nucleares com a revolução de Antígona:
Surge um relato argumentativo sobre a melhor forma de governo para os persas: monarquia, oligarquia
ou governo popular.
Regista-se na História de Heródoto, a defesa de uma forma de governo em que é o povo quem tem o
poder, mais tarde qualificada de “Constituição democrática”, apresentando 4 características:
i) Igualdade de direitos;
ii) Obtenção de cargos públicos por meio de sorteio;
iii) Controlo da ação governativa, verificando-se que o governo está sujeito a prestação de
contas;
iv) Todas as decisões são tomadas em comum, encontrando-se na maioria a fonte de todo o
Direito.
Em sentido contrário surge Magabizo: É contra tal governo popular, pois o povo pode comportar-se
como um rio impetuoso, insolente e sem capacidade de conhecimento. Vem defender uma forma
oligárquica, confiando o poder ao grupo dos melhores homens. “As deliberações dos melhores homens
são, sem dúvida, as melhores”.
Dário: Contesta o governo oligárquico (de Magabizo), pois este favorece as inimizades privadas. Defende
a monarquia: O comando de um só, desde que seja ótimo, é a melhor forma de governo.
Apesar de todas as críticas ao governo popular, nenhuma contestou a igualdade de direitos e a exigência
de prestação de contas dos governantes. A única critica, quer por Magabizo quer por Dário, apenas se
dirigiu à força decisória da maioria.
A democracia ateniense, enquanto sistema em que o governo não depende de poucos, mas da maioria,
baseia-se nas ideias de igualdade e liberdade:
i) A igualdade é expressa no tratamento idêntico conferido pelas leis no âmbito dos seus
conflitos privados. A participação nos negócios públicos encontra-se aberta a todos na
circunstância de mérito pessoal e “não tanto pela classe social a que pertence”. A
alternância entre governantes e governados é um dos traços fundamentais da democracia.
ii) A liberdade envolve o direito de cada cidadão de se expressar na assembleia, dizendo
livremente a sua opinião sobre os negócios públicos. – A ausência de uma doutrina oficial
do Estado é um elemento nuclear da democracia.
Péricles, depois de reafirmar a não intervenção nas relações privadas (traçando uma linha limitativa
entre o poder em relação à esfera das pessoas), afirma: “Não infringimos a lei nos assuntos públicos.” –
Princípio da legalidade administrativa.
A obediência á lei é feita por um “temor de respeito” especialmente se estão em causa leis que foram
elaboradas para benefício dos que sofrem injustiça ou se se trata de leis não escritas. O seu
incumprimento é fonte de vergonha manifesta para o infrator.
A fraternidade entre os cidadãos é também postulada pela democracia ateniense, fazendo da tolerância
o primeiro elemento da humanidade e do acolhimento e assistência a favor dos oprimidos e mais
necessitadas manifestações de uma conceção de democracia que não seria apenas política, assumindo
também uma vertente social.
As ideias de tolerância e moderação vieram a ser desenvolvidas com o discurso de Diódoto perante a
rebelião de Mitilene (Página 73 para +)
Um modelo político que confia aos pobres e ao povo o poder da cidade (onde abunda a ignorância, a
falta de disciplina e maldade), traduz o governo dos piores.
Vem antecipar a ideia de que a sociedade tem sempre uma luta entre classes. Xenofonte configura a
democracia ateniense como um modelo político em que os pobres exploram os ricos, privando-os de
direitos cívicos, expropriando as suas fortunas, expulsando-os e condenando-os à morte. Mostra-se
claro partidário do sistema político de Esparta.
Sem prejuízo de afirmar a igualdade entre homens e mulheres, o modelo constitucional espartano
mostra-se revelador de um intervencionismo extremo do Estado na vida das pessoas.
Esparta é uma sociedade fechada, expulsa os estrangeiros e proíbe que se viaje para o estrangeiro. –
Regista-se uma completa diluição do individuo na coletividade.
Não há qualquer ideia de direitos das pessoas, apenas existem deveres em função da coletividade.
-Os que cumprem as leis é-lhes concedido, por igual, o direito de cidadania, sem se reparar nas suas
limitações físicas ou na sua pobreza.
-Os que não cumprem a lei ficam, automaticamente, considerados indignos de serem tratados como
iguais.
Platão foi um dos primeiros autores a conceber um modelo totalitário (controlar tudo na sociedade) de
sociedade política.
Apesar de entender que a lei deve ser norteada pelo propósito de realizar a felicidade de todos,
encontrando-se o legislador a agir sempre norteado no sentido de alcançar a melhor e mais justa
solução, Platão defende que a lei não deve existir para garantir a liberdade dos cidadãos fazerem o que
lhes agrada, mas para os levar a participar na fortificação do laço do Estado.
Parte de uma discriminação entre indivíduos superiores e indivíduos inferiores, sendo que é negada os
filhos destes últimos educação.
O individuo só existe dentro do Estado e para o Estado, é um modelo de ausência de qualquer noção de
direitos da pessoa humana.
Ao Estado compete:
Platão confia ao filósofo o governo do Estado, enquanto detentor de sabedoria e virtude. O governante
filósofo, vinculado a governar com justiça, está num patamar acima do das leis, e por isso, nunca por
elas limitado: O governo dos homens é preferível ao governo das leis.
2 importantes observações:
1. Platão acredita que o homem nunca escolhe o mal voluntariamente, e se o faz age por por
ignorância, incontinência ou por ambas as razões.
2. O seu propósito sempre foi descobrir um modelo de governo dirigido à busca da felicidade do
individuo.
Encontra-se uma crença ilimitada na motivação do homem, no filosofo-sábio como governante, mas ao
mesmo tempo, uma desconfiança na lei: Uma vez que os governantes não se encontram subordinados
ao Direito (sendo a pura antítese do fenómeno constitucional), o governo dos homens revela-se
fundante de modelos políticos ditatoriais e totalitários.
Mais tarde, Platão acaba por reconhecer a necessidade de existência de leis e de os homens lhe
obedecerem, sob pena de não se diferenciarem de animais ferozes.
A alma é identificada com o divino, o imortal, o inteligível e indissolúvel. Depois de Deus, é o que há de
mais divino e digno de honra.
Só depois da separação do corpo da alma (com a morte) é que se poderá obter o conhecimento e
chegar á verdade. É depois da morte que o homem adquire felicidade suprema: desprezo pela própria
vida humana.
Será mais vantajoso um Estado ser governado por um homem eminente de virtude ou por ótimas
leis?
Aristóteles encontra uma resposta em sentido contrário a Platão: valorizando o papel da lei, defende
que o governo justo é o governo das leis, pois estas são isentas de paixões e emoções. É percursor da
ideia de um Estado de Direito e, neste sentido, do próprio fenómeno constitucional.
A lei, podendo ser escrita ou não escrita, é mediadora da justiça. Apenas a lei garante a justiça política
na regulação das relações entre os homens. Corre-se o risco de se cair na tirania caso seja um humano a
governar.
A limitação dos governantes pelo Direito torna-se uma ideia nuclear no pensamento aristotélico: o
governo das leis representa a limitação do poder e dos seus titulares através de normas jurídicas,
traduzindo a essência do fenómeno constitucional.
Desta forma, toda a legalidade é de algum modo justa pois exclui sempre a arbitrariedade das paixões
do decisor. Esta ligação estabelecida entre e a lei e a justiça lança as bases dos princípios da justiça e da
equidade.
_____________________________________________________________________________________
Justiça
Justiça distributiva: relação entre o Estado e os súbditos, traduz uma “proporção de igualdade
geométrica”.
Justiça corretiva: incide sobre as relações entre os indivíduos, traduz uma “igualdade aritmética”.
Equidade
O Estado rem como fim que os homens vivam bem, segundo critérios de igualdade e justiça. Um
governo justo é aquele em que os governantes procuram apenas a felicidade geral.
Apesar das diferenças com o modelo de Platão, em Aristóteles o individuo continua a ser visto como
algo pertencente ao Estando e só no Estado se podendo realizar. O principal dever dos cidadãos é
contribuir para o bem do Estado, inexistindo direitos da pessoa humana ou qualquer ideia de liberdade
individual.
A escravatura é entendida como uma instituição natural, há homens feitos para a liberdade e outros
para a escravidão. Uns para mandar, outros para obedecer.
A democracia é o sistema onde governam as pessoas livres, existindo igualdade de alternância entre
governantes e governados. Há democracia quando os homens livres e pobres constituem a maioria, são
donos do Estado. A igualdade entre ricos e pobres permite a todos participar na governação- elemento
da democracia. Contudo, verifica-se aqui o risco de o Estado cair nas mãos de uma multidão indigente: o
povo, desprezando as leis, torna-se déspota (tirano) e o seu governo nada diferente da tirania.
Só o respeito pelo Direito, limitando sempre a atuação dos governantes, se mostra passível de evitar o
despotismo e a tirania.
A filosofia estoica vem desenvolver as ideias humanidade, de igualde entre todos os homens e o
entendimento de que cada homem é um homem.
Vem firmar a ideia de que existe, em todos os homens, uma liberdade interior de natureza inalienável.
(incluindo os escravos) - O estoicismo marca uma rotura com o pensamento grego clássico.
A alma é livre e comunga do divido (seguindo a tradição de Sócrates e Platão) e, por isso, nunca poderá
sofrer o exilio ou ser dominada pela violência- Aqui reside o alicerce da liberdade interior de cada
homem.
Afirma-se o desprezo pelos bens materiais, uma vez que são considerados a maior fonte de miséria
humana, devendo o homem não se deixar corromper.
A existência de uma igualdade natural entre todos os homens, conduz a escola do estoicismo antigo ao
repúdio de qualquer ideia aristotélica de escravatura por natureza, antes a mesma se revela como uma
instituição artificial.
Séneca: Os escravos também são homens- Eles têm uma natureza igual à nossa e devem ser tratados
com moderação, sendo-lhes reconhecidos direitos. Desenvolve as virtudes do rei: Não é o castigo cruel
que faz a glória do um rei, a clemencia é o que maior honra proporciona ao rei, nada lhe confere mais
dignidade do que salvar vidas de cidadãos.
Princípio da igualdade dos homens: “Há um direito comum a todos o ser vivente”, que resulta da
natureza do homem: é na essência do homem que reside o fundamento do direito natural.
Cícero centrará a sua reflexão no tema do direito natural e nas suas relações com o homem.
Defende que existe uma lei natural conforme á natureza que, sendo comum a todos, é imutável, eterna
e universal, não podendo ser substituída ou derrogada. Todos devem obediência a essa lei, sob pena de
atentarem contra a própria natureza do homem.
Neste sentido, a lei natural, sendo “razão soberana”, tendo como autor Deus, encontra-se gravada na
natureza de todos os homens. É o homem que, nascido para a justiça, tendo sido criado por Deus e
tendo pela alma uma ligação celestial, participa através da razão no divino.
No pensamento judaico reside a “descoberta” da noção basilar de pessoa, enquanto criatura humana
criada à imagem e semelhança de Deus.
É o por isso que temos dignidade enquanto pessoas humanas, pois há uma validação divina. Esta
conceção do judaísmo apresenta-nos o fundamento teológico da dignidade humana.
[Kant vai procurar libertar, através da Ética deontológica e do imperativo categórico o Homem da ideia
de dignidade teológica, que se assume como irracional e metafísica];
-Ao longo desta busca acaba por formar-se o estado judaico, que tem a liberdade como valor
fundamental para o próprio. Na génesis, a liberdade aparece como um conceito tão forte e de tamanha
importância que Deus impôs limitações no jardim de Éden, a Adão e Eva, com o fruto proibido. Ao
incorrerem em pecado, incorrem em desobediência. A liberdade assume assim uma preponderância
nuclear do pensamento judaico-cristão;
É um componente moralista pedagógico, principalmente na resposta que Caim dá a Deus: “por acaso
sou o guarda do meu irmão?”. Esta interrogação retórica é a chave do Direito Social e do Estado de
Direito Democrático.
O valor da solidariedade é uma exigência do Estado Social, pois a sua existência deve-se à proteção dos
mais desfavorecidos (que também inspirou o Wellfare-State e o New Deal americano a partir da Escola
Keynesiana, personificada pelo próprio John Keynes). No fenómeno constitucional, o Estado Social
inspirou a normatização da solidariedade.
Há uma evolução do pensamento e agora a dignidade presente no ser humano exige liberdade, o que
são tidos como direitos inatos, adquiridos por sermos pessoas, mesmo que contra o Estado, por isso o
mesmo está à disposição do cidadão e não o contrário.
- Jesus Cristo morreu por todos, por isso somos todos iguais.
Santo Agostinho:
Foi o primeiro doutrinador e pensador político da Igreja. Afirma a unidade da espécie humana.
É na razão e na inteligência humana que reside o ponto de contacto entre Deus e os homens e,
neste sentido, o alicerce da dignidade do homem.
Sublinha o arbítrio da vontade humana: se é certo que Deus conhece todos os acontecimentos
antes de eles se verificarem, não deixa de ser verdade que fazemos voluntariamente tudo o
que sabemos e temos consciência de que o fazemos apenas porque queremos. Desta forma,
valoriza a vontade humana, identificando o livre arbítrio com a liberdade: a vontade livre é um
bem que Deus nos deu.
O fundamento último da liberdade humana reside no respeito de Deus pelo Homem.
A propósito da escravatura, Santo Agostinho chama a atenção que Deus ao criar o homem lhe
conferiu o poder de dominar os seres irracionais e não que o homem dominasse o homem,
razão pela qual a escravatura não é uma instituição natural, antes tem a sua origem no pecado.
Identifica a justiça como “a virtude que dá a cada um o que lhe pertence” - É o fundamento e o
fim da ação governativa. Não existe verdadeiro Estado sem a justiça no seu governo: Onde não
há justiça, não há Estado. Em St. Agostinho descobre-se uma das primeiras formulações que faz
da justiça o fundamento da validade do Direito.
Nega que se possa chamar Direito ás instituições humanas iniquas.
Resumo:
Considera que a diferença entre o homem e a mulher radica na força e na debilidade do corpo;
Dupla configuração do ser humano: “Há um homem interior, que é a alma; e um homem
exterior, que é o corpo.”
A razão é o fundamento da lei escrita: “Será lei tudo o que seja garantido pela razão”;
A lei tem de estar de acordo com a religião, e não poderá ser ditada para benefício particular,
antes terá de ser feita com vista à realização do bem comum dos cidadãos.
A vida humana encontra-se subordinada á lei, está moderada pelo prémio ou castigo que a lei
estabelecer. A perda de liberdade do homem livre reconduz-se à categoria de escravo- a sanção
mais cruel.
Se a lei se afasta da razão, torna-se iníqua, negando-se a si mesma como lei, tal como não merece o
qualificativo de lei aquela que é injusta.
3. A lei deve distribuir os encargos pelos súbditos com igualdade proporcional e em função do bem
comum
O homem não é reconduzido a uma simples peça de engrenagem do Estado, nem se deixa por ele
diluir, antes goza de autonomia perante o poder: O ser humano não pode ser esmagado ou absorvido
pelo Estado: Daqui resulta a origem do reconhecimento e da garantia dos direitos do Homem perante
o Estado.
Resumo:
Ideias a reter:
1. Sublinha a exigência de ações que promovam o nem comum e o de cada individuo: A cidade
(ou o reino) é uma comunidade cuja existência e organização tem como vista o bem viver das
pessoas, podendo dizer-se que a sua finalidade consiste em viver bem e com dignidade ;
2. As pessoas encontram se irmanadas por vínculos de sangue e sociais, existindo entre elas uma
obrigação de prestarem auxílio recíproco- Princípio de solidariedade. Este envolve também a
obrigação de todo o ser humano em não praticar atos injustos contra terceiros bem como
impedir outras pessoas de praticarem atos injustos;
3. Revela a contestação(negação)do poder eclesiástico, negando à igreja qualquer faculdade
jurídica de tipo coativo: Princípio geral da liberdade religiosa. “Neste mundo, cristão ou infiel,
pode ser coagido sob castigo ou suplicio a observar os preceitos da Lei Evangélica;
4. Vem desenvolver o entendimento aristotélico que encontrava nas leis (e não no arbítrio dos
homens) o melhor governo. Marsílio reconhece a existência de limitações ao legislador e, por
isso, limita o exercício do poder pela lei. “Todos os governantes devem exercer o seu cargo de
acordo com a lei e não além do que ela determina”;
5. Define como atributos do governante: a prudência, a bondade moral, a virtude e especialmente
a justiça. Sublinha-se que o governante deverá ordenar o que é justo e honesto.
6. Frisa a importância da vontade consensual dos súbditos e do seu respeito pelo soberano na
edificação da verdadeira monarquia real. Prefere a monarquia eletiva, sendo cada monarca
eleito e não escolhido com o direito à sucessão hereditária nos seus descendentes.
7. Encontra no povo (o conjunto de cidadãos ou a sua parte preponderante que o representa) o
protagonista do poder legislativo. Se se confiasse o poder a uma só pessoa o poder de fazer as
leis, isso poderia conduzir à tirania. Sendo a lei a vontade do povo, a obediência à lei torna-se
mais pacifica.
8. Defende, portanto, a soberania popular, fazendo da globalidade dos cidadãos o único soberano
legítimo- Torna-se precursor de Rosseau.
Resumo:
Foi a favor da Rutura do Estado e da Igreja e pôs em causa a res publica cristiana e a autoridade
do papa, por meio do reconhecimento da liberdade religiosa como um direito que está na base
do pensamento democrático.
Admite que a república existe para que as pessoas tenham uma boa vida, com dignidade e
para isso estabelece uma ideia de solidariedade.
O poder da república está limitado pela lei (como Aristóteles), pois a lei deve ser a expressão da
maioria do povo.
Quando os portugueses e os espanhóis depararam-se com a questão dos índios das américas, constatam
que surgem problemas civilizacionais, mas também de legitimidade do uso da força e do direito.
No âmbito de defesa da posição dos índios das Américas, à luz de um contexto em que “a única fé
expressa dos conquistadores é a ganância e o seu único deus é o ouro”, quatro nomes merecem especial
destaque:
Começa por afirmar que todos os serem humanos nascem por natureza livres, tendo Deus a
todos concedido idêntica liberdade. A servidão não tem, deste modo, uma causa natural;
Condena o sistema espanhol das “encomiendas” - Doações régias de parcelas de terras e dos
índios que aí habitavam a favor de um conquistador;
Vem defender que todos os índios são por natureza pessoa livres e não perdem essa liberdade
por passarem a ter o rei de Espanha como “universal senhor”;
Condena as muitas violações e crueldades dos espanhóis contra os índios, tudo pela ambição.
Sublinha que para se aceitar e receber a fé se exige que todos gozem de uma vontade ou de um
querer livre;
Defende a liberdade natural dos índios contra o jugo iniquo dos espanhóis, existindo o dever de
restituir tudo o que foi usurpado e roubado aos índios;
Um povo considerado superior não pode conquistar ou submeter outro povo, envolvendo a
perda de liberdade deste último. Nesta situação, se o Estado agressor viola os direitos naturais
do povo mais atrasado, este goza do direito de se defender e castigar aquele.
Formula uma critica severa á colonização espanhola nas Américas, defendendo os direitos dos
índios.
Inicialmente interrogou-se com o problema dos espanhóis que queriam batizar os nativos a
força, por isso, a questão que colocou foi: “Será legítimo impor a fé?”
Ele responde que não! Pois a fé é parte da liberdade religiosa. Os espanhóis não têm o direito
de impor a civilização cristã se os índios a recusarem, mostra-se ilegítimo obriga-los a obedecer
a Deus, a declarar-lhes guerra pelo facto de eles a recusarem ou a espolia-los dos seus bens.
Outra pergunta que veio a responder foi: “Os índios devem reger-se por leis próprias ou pelas
leis espanholas?”
A sua resposta foi que acima das leis de cada estado, há normas que são aplicadas aos
indivíduos, independentemente da sua nacionalidade e a isso chama-se Direito Internacional
Comum Público. Os índios têm o direito de continuar a governar-se pelas suas próprias leis e
instituições.
A contradição existente entre um poder político confessional, nos termos de uma matriz cristã, e uma
prática política que continuava a negar alguns dos valores mais sagrados de cada pessoa humana
reconhecidos pelo Cristianismo, não pode deixar de encontrar um significativo contributo nas ideias de
soberania e de Estado desenvolvidos durante a Idade Moderna e que conduziram na Europa Continental
a um modelo absolutista do poder real. (Enquanto na Europa dominava o absolutismo régio, dominava
no reino unido uma emancipação dos cidadãos, pela liberalização do Estado e do Poder político).
Analisa-se a teoria e a ideia da soberania. Assume a ideia de que não há nenhum poder superior ao
poder do Estado: põe um ponto final na respublica cristã, rejeitando a supremacia e a hegemonia do
papa no controlo dos Estados privados. Assume-se que não há nenhuma força superior à do Estado,
muito menos a de um poder centralizado num ente corpóreo que professa ideários de fé. Se na
perspetiva externa não há nenhuma força superior à do Estado, na perspetiva interna não há nenhuma
força superior à do Rei e da sua vontade régia – ideia da soberania que abre caminho ao absolutismo
régio.
Deus conferiu ao homem aquilo que tinha dado às restantes criaturas, mas dotou-o com mais um
elemento. Um elemento único da sua natureza: uma capacidade soberana de se autodeterminar
segundo o seu próprio LA.
Desta forma, dotando-o de razão e liberdade, concedeu-lhe o poder de obter tudo aquilo que
deseja e de ser aquilo que quiser ser. O homem aparece como um Deus.
Resumo:
-De acordo com a conceção de Mirandola, a pessoa humana surge dotada de um valor próprio
que decorre da razão e da liberdade da sua vontade, gozando, por conseguinte, uma dignidade
que surge como qualidade natural, inalienável e incondicionada.
3.4.3. Maquiavel
-Adota uma posição oposta à de Mirandola.
Maquiavel defende que a crueldade pode ser boa, desde que se exerça uma única bem por
necessidade de segurança e que dela resulte benefício para os súbditos. Em casos de invasão e
ocupação de um pais, o príncipe deve pensar em todas as crueldades que precisa de fazer e
praticá-las imediatamente, de uma só vez.
Os fins justificam sempre os meios (daí a crueldade poder ser boa, se os meios forem cruéis,
mas desses meios resultar benefícios para os súbditos (o fim) então os meios são justificados
por esse mesmo fim), preferindo um modelo de organização de concentração singular de
poderes.
Maquiavel abandona a conceção agostiniana que fazia da justiça o fundamento do Estado.
Para o príncipe manter a sua posição, tem de aprender a não ser bom e a servir-se disso, sendo
a “crueldade humana” do príncipe uma condição de unidade e eficácia de exercício.
Adverte que o “fazer-se odiar nunca foi bom para nenhum príncipe”. Sublinha que o príncipe se
deve sempre abster de tocar nos bens dos particulares, para evitar ser odiado. “Os homens
esquecem mais depressa a morte do pai do que a perda do seu património”
Valorizam-se os direitos de conteúdo patrimonial, evidenciando-se um completo desprezo por
todos os direitos que são dotados de uma natureza estritamente pessoal, tanto que a
“crueldade humana” pode ser admissível. Os direitos das pessoas são uma realidade
completamente inexistente.
Apesar do príncipe dever obediência á lei, é admissível que o mesmo não cumpra a sua palavra,
que vá contra a caridade, a humanidade e a religião.
Nega a existência de quaisquer valores fundamentais limitativos da ação dos governantes,
sendo válido tudo o que o príncipe fizesse, desde que justificado por um fim político.
Os protestantes vêm procurar fazer a síntese da conceção advogada por Martinho Lutero.
Vem-se determinar que deve existir:
1. Liberdade religiosa (como outros pensadores tal como Marcílio de Pádua assume-se contra a
Respublica e contra a hegemonia do papa). O rei deixa de estar submetido ao papa, por
inerência o Estado deixa de estar submetido à vontade do papa (rei enquanto chefe de estado);
O rei só tem de responder a Deus e é dotado de poder divino. Desta forma é evidente e forçoso
perceber que não há limites para a sua ação, o que poderia conduzir ao absolutismo régio (em
vez de Direitos de todos existem privilégios de alguns).
Depois do contributo de Marsílio de Pádua no século XIV, A Utupia de More é talvez a obra que
mais antecipou a modernidade, podendo dizer-se precursora do pensamento de Rosseau, do
socialismo dos séculos XIX e XX ou até mesmo da doutrina social da Igreja.
Procura descrever um modelo ideal de sociedade existente numa ilha imaginária, fazendo uma
critica severa à iniquidade de todas as sociedades em que “os que falam de interesse geral só
posem no próprio”, pois os ricos diminuem todos os dias de uma ou de outra maneira o salário
dos pobres.
Coloca-se a seguinte questão: “Não será iniqua e ingrata a sociedade que cumula de tantos
benefícios os que chama nobres, joalheiros, os ociosos ou esses artificies de luxo (…)
quando, por outra parte, não mostra coração nem cuidado para com o lavrador, o
carvoeiro, o operário, o carroceiro, sem os quais não subsistiria o agregado social?”
3.6.2. Hobbes: uma modernidade entre direitos inalienáveis do homem e um poder ao serviço da
segurança?
Hobbes vai assumir uma postura constitucional diferente de More. Hobbes vai debater-se com
o conflito entre a garantia dos direitos inalienáveis do Homem e a necessidade de o estado
controlar a mesma, em defesa do valor supremo da segurança.
Hobbes vem propor que o homem tem direitos fundamentais, materiais e inalienáveis,
decorrentes da sua condição humana, adquirida aquando do nascimento (Direitos
Constitucionais e Civis).
Faz da justiça, equidade e honra a síntese de todo o tipo de virtudes.
A lei natural só deve vincular a consciência dos homens e não ser normatizada juridicamente,
pois é universal.
Afirma que a liberdade é natural ao ser humano e que deve ser providenciado um “mínimo de
existência” para as pessoas humanas (adotado em princípios constitucionais a partir do Sec.
XX).
Os direitos inalienáveis e fundamentais (portanto constitucionais) que Hobbes defende são:
1.Todos os Homens são iguais por natureza, tendo todos eles, também por natureza, iguais
direitos;
2.Todo o Homem tem o direito de se preservar da morte e da dor. São nulos qualquer tipo de
pactos que renunciem ao direito á vida e á sua defesa;
3.Não é possível renunciar o direito de resistir contra aquele que ataca pela força, com o
propósito de tirar a vida. Tem-se como lícito que o individuo faça de tudo para conservar o seu
corpo.
4.Há liberdade para desobedecer ao soberano que ordena atentar contra uma pessoa ou lhe
impõe não resistir a quem o agride;
5.Todo o homem tem o direito de julgar sobre a necessidade dos meios para se defender;
6.Ninguém é obrigado a confessar um crime que cometeu, salvo se obtiver com a confissão
perdão;
7.Todo o Homem tem, no estado de natureza, direito a possuir, empregar e desfrutar de todas
as coisas que deseje e possa. Porém, a propriedade privada, surge com o aparecimento do
Estado: “Onde não existe Estado, não existe propriedade privada”.
8.Há coisas sobre as quais todos os homens conservam direitos, independentemente da
existência do Estado, como sucede com o respeito pelo próprio corpo, a servir se do fogo, da
água e do ar
9.Num cenário de agressão natural do homem, a todos é reconhecido o direito de resistir
contra-ataques;
10.Extrai-se um princípio de liberdade religiosa;
11.É apenas admissível e justificável restringir a liberdade natural se tal resultar para o bem da
república;
12.Aquilo que o homem faça de acordo com a sua vontade nunca poderá ser considerado como
uma injuria para o próprio.
Apesar destes direitos naturais, a verdade é que os homens no estado de liberdade natural se
encontram em permanente guerra. Hobbes parte de uma visão pessimista das pessoas e diz
que o homem é mau e conflituoso por natureza, o que leva ao entendimento de que as guerras
e conflitos surgem da génese malévola do homem, por isto, é necessário a criação de um
estado.
A conceção de Hobbes resume-se a uma abdicação do direito de cada um em resistir, isto é, a
opor-se às decisões do soberano, deixando de ser legalmente admissível a desobediência.
Cada um dos homens deve abdicar de alguns dos seus direitos para reforçar o poder do estado,
no controlo, na prevenção. Por isso, afirma que o ideal é a garantia da segurança em detrimento da
liberdade.
Hobbes vai valorizar mais substancialmente a autoridade e minorar a liberdade privativa, como
resposta ao debate e conflito entre a necessidade de ser garantida a segurança e assegurar os direitos
constitucionais e civis dos cidadãos. É o terror que o poder do Estado inspira que é capaz de convocar a
vontade de todos os súbditos para a paz.
Este modelo político de Hobbes assenta num paradoxo: é o poder criado para garantir a segurança
numa situação de liberdade insegura que, por sua vez, acaba por gerar insegurança de uma situação de
segura ausência de liberdade.
Começa por afirmar que, por muito que se engane, nunca poderá deixar de reconhecer que,
por pensar, existe. Define-se como “uma coisa que pensa”. É no interior de cada homem que
Descartes encontra o próprio homem e o valor da sua existência.
O homem não está apenas alojado no corpo, o eu é composto de corpo e alma (ou espírito). O
corpo é sempre divisível, enquanto o espírito é totalmente indivisível: Conceção dualista da
natureza humana.
Se se deixasse totalmente de pensar, deixar-se-ia, ao mesmo tempo de existir.
O eu, é para Descartes uma coisa “incompleta e dependente”, dotada de uma natureza débil e
limitada- Motivo pelo qual existem coisas que excedem a nossa limitada capacidade de
entendimento.
Há no homem um LA ou uma vontade de que é muito ampla e perfeita, não se encontrando
limitada. É esta liberdade de arbítrio que permite reconhecer que o homem foi concebido á
imagem e semelhança de Deus, é por isto que o homem possui uma liberdade ampla e perfeita.
Esta liberdade, convertendo cada um de nós em sujeitos de imputação, responsabilidade e de
direitos, surge como elemento da dignidade humana.
A liberdade mostra-se essencial na dúvida metódica, é nesta que reside a chave de todo o
saber.
A natureza criou o homem como realidade pensante e livre, dotada de um corpo, apensar de
ser no espírito ou na alma que reside a sua essência. O homem cartesiano sintetiza-se em dois
elementos: razão (pensamento) e vontade (LA)
A reflexão filosófica de Descartes vai estar presente e vai dominar o fenómeno constitucional
dos séculos seguintes: um constitucionalismo centrado na razão e na garantia da liberdade.
O constitucionalismo moderno é, assim, de raiz cartesiana.