Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
GUIA DA
DISCIPLINA
2022
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Objetivo:
Promover o conhecimento, a reflexão e o debate sobre a ética e a cidadania;
favorecer a formação de pensamento crítico por parte dos futuros profissionais acerca da
realidade social e das organizações; enfatizar a ética como ciência que oferece parâmetros
para avaliação das escolhas e ações; desenvolver o conhecimento da cidadania como
conceito e prática da modernidade, resultado de um processo histórico, político e social.
Introdução:
A disciplina relaciona dois diferentes conceitos, Ética e Cidadania. Colocando-os
lado a lado refletimos uma noção hoje em dia amplamente divulgada de que a Cidadania,
para ser exercida de fato, não pode prescindir da Ética.
No entanto, esta relação nem sempre existiu da maneira como a entendemos hoje,
o que significa dizer que ela foi historicamente construída. Demonstrar como ela surgiu e
suas implicações será um dos objetivos de nossas aulas.
Ética é uma palavra de origem grega, derivada de ethos que significa “costumes”.
Em latim corresponde à palavra moris que quer dizer “moral”. No entanto, ao longo do
tempo, a Ética passou a significar “ciência da moral”. Mas este é um dos significados que
podemos atribuir à palavra.
Por exemplo, no Brasil escravocrata era muito pouco recomendável que pessoas de
um certo nível econômico e social se dedicassem a trabalhos braçais. Estes deveriam ser
realizados apenas pelos escravos ou pelos brancos pobres. As senhoras das classes mais
abastadas passavam a maior parte do seu tempo sentadas, rodeadas de mucamas que
executavam todo o serviço. Quando se deslocavam para alguma aparição pública, faziam-
no carregadas em liteiras pelos escravos. O sociólogo Gilberto Freyre relata em sua obra
“Casa Grande e Senzala” que não raro essas mulheres acabavam perdendo a mobilidade
Ética e Cidadania 1
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Estendendo tais conceitos para o âmbito profissional, nas últimas décadas do século
XX, tornou-se mais presente no contexto das organizações as práticas inicialmente
chamadas de Responsabilidade Social Empresarial que, mais tarde, assumiram o nome de
Responsabilidade Socioambiental nas Organizações. Tais práticas devem ser
compreendidas como resultado do desenvolvimento da Ética Empresarial e também do
conceito de Sustentabilidade. Atualmente, o que antes era chamado de Responsabilidade
Socioambiental passou a compor o que se chama ESG, a sigla em inglês para
Environmental Social Governance (meio ambiente, sociedade e governança) ,
considerados os três fatores chave para avaliar a sustentabilidade e os impactos éticos de
um investimento em um negócio ou empresa. Em nossa disciplina também trataremos
destes temas pretendendo promover uma percepção mais profunda do ambiente
organizacional.
Ética e Cidadania 2
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Este guia está organizado, portanto, em torno de três grandes eixos, um sobre Ética,
outro sobre Cidadania e o terceiro sobre ESG e Responsabilidade Socioambiental nas
Organizações, desenvolvidos em nove aulas-texto, seis videoaulas e três webs aulas. Além
da bibliografia básica e complementar apresentadas para o curso, você encontrará ao final
das aulas indicações de sites para estudo, vídeos e filmes referentes aos temas das aulas
e de obras sobre o assunto que constam da Biblioteca Virtual da UNISANTA e outras
indicações de leitura.
Durante o nosso curso você contará com o apoio do seu (sua) professor (a) -tutor
(a), que estarão a postos para esclarecimento de qualquer dúvida ou orientação que você
precise.
Ética e Cidadania 3
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Como colocado a Ética é a ciência que examina a ação concreta e livre dos sujeitos.
Isto quer dizer em primeiro lugar que a avaliação ética não incide sobre o pensamento ou
sentimento caso este não se expresse concretamente. Diferente das religiões que
estabelecem mandamentos aos quais os fiéis devem obedecer mesmo em pensamento, a
Ética julga apenas o que existe ou se manifesta na realidade concreta das coisas.
Em segundo lugar implica que a avaliação se dá para escolhas e ações que são
tomadas “livremente”, ou seja, conscientemente. Isto não quer dizer que tudo o que é
realizado pelos sujeitos após uma avaliação individual consciente seja lícito, moral ou justo.
Ou seja, é falsa a ideia de que “cada um é cada um e porque fulano/fulana acha que é bom,
certo e melhor para ele/ela” é necessariamente ético.
Ética e Cidadania 4
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
agiram como sujeitos autônomos dentro dos padrões morais que levam em consideração
o outro, a diversidade e a tolerância.
Sujeito moral é aquele que age autonomamente, que não é só um súdito, alguém
que só obedece sem refletir. É aquele que segue leis e normas caso as considere
efetivamente justas. Isto significa dizer que todo aquele que age sem refletir é imoral ainda
que o resultado de sua ação esteja de acordo com normas, lei e/ou princípios morais aceitos
pelo conjunto da sociedade.
O sujeito moral submete cada escolha a uma avaliação. Como coloca Aristóteles,
filósofo grego da antiguidade,
As questões relativas à conduta e às dúvidas sobre o que seja bom para nós
não têm regras fixas, não mais que as questões de saúde (...) Os próprios
agentes devem considerar a cada caso o que é apropriado na ocasião tal
como acontece na prática da medicina ou na arte da
navegação.(ARISTOTELES apud SANDEL, 2012, p. 246.)
Mas como julgar, quais critérios usar? Os critérios surgem com a nossa “prática” e o
pertencimento a uma “opinião pública julgadora”. Implicam também em preparo, educação,
que não é só a formal, e tolerância porque a modernidade possibilitou o surgimento de
“várias formas de moralidade”.
Ética e Cidadania 5
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Ética e Cidadania 6
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Mas o que seria “o bem”? Este também é um conceito que vai variar de um filósofo
para outro, de uma época para outra e que remete à ideia de felicidade. A noção de “bem”,
do que é belo, do que é justo, do que nos torna melhores do que nos torna felizes porque
“nos realiza” pode ter um sentido estritamente pessoal ou estendido à vida pública,
exclusivamente material e/ou espiritual.
Os seres humanos são os únicos seres vivos que têm consciência de que não
existirão para sempre. Esta seria a fonte de todos os nossos medos e aflições. Diminuir tal
angústia, pelo menos em parte, implicaria em buscar formas de que fôssemos lembrados
1
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=qTiqU580z1I . Acesso em: 24/06/22
Ética e Cidadania 7
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
mesmo quando já não existíssemos. A felicidade para os gregos estaria nisso, no alcance
dessa “imortalidade”. Portanto, tudo o que dissesse respeito a isto era considerado justo,
belo, bom, moral, ético.
Mas como a “felicidade” descrita nestes termos poderia ser usufruída por nós? Como
poderíamos avaliar se estamos de fato nos “imortalizando” diminuindo nossa angústia
essencial? Buscando na vida presente a “excelência”, o aprimoramento pessoal,
orientando-nos pelo “soberano bem” compreendido como aquele que diz respeito ao que é
“comum”.
Temos então que a felicidade para os gregos antigos seria a busca consciente da
felicidade na vida presente, dependendo de um esforço próprio de aprimoramento, o que
implicaria em nos livrarmos do “fatalismo”, ou seja, de que estaríamos “destinados” a isto
ou aquilo. O nosso único “destino” seria o da “vida boa e feliz”. Para tanto, deveríamos viver
de acordo com as virtudes.
“Virtudes” muitas vezes são definidas como qualidades que alguém tem. Esta é uma
definição limitada e que conduz a equívocos. Virtude não é alguma coisa com a qual se
nasça, ou que alguém porte “naturalmente”. É bem verdade que numa visão aristocrática
de mundo os “nobres” são aqueles que possuem “virtudes naturais”, ou seja, que surgem
no mundo já “virtuosos”. No entanto, mesmo na antiguidade grega em que este sentido
também existiu, foi deixado de lado e suplantado por uma outra noção, a de que virtudes
são adquiridas e desenvolvidas através de um esforço próprio. De acordo com este
raciocínio, todos nós teríamos a possibilidade de nos tornarmos virtuosos se assim de fato
o quiséssemos.
A busca individual pela excelência, este esforço dos sujeitos morais porque
autônomos, remete a um outro princípio importante na compreensão do sentido da Ética na
antiguidade grega e que ainda permanece em perspectivas mais contemporâneas, o de
que todos nós trazemos, naturalmente, as condições para o desenvolvimento das virtudes,
assim como do seu oposto, os vícios.
Ética e Cidadania 8
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
tanto servia para explicação de desastres naturais como terremotos, por exemplo, que
seriam resultado da fúria de um dos titãs aprisionados, mas também para explicar a
“paixões” tais como a ira, a inveja, o ciúme, o medo, a ganância, os desejos intensos que
carregamos dentro de nós.
Mas se as paixões podem desencadear “vícios”, por outro lado elas também podem
suportar “virtudes”. A nossa “inveja”, por exemplo, se controlada, pode nos levar a progredir.
Da mesma forma o nosso amor intenso à uma causa pode fazer com que desenvolvamos
a coragem.
Tal raciocínio parte do télos, palavra grega para “propósito”. Raciocinar deste modo
é então avaliar as concepções de justiça a partir do seu propósito. Em seu livro, “Justiça –
o que é fazer a coisa certa”, Sandel cita um exemplo (2012, p. 237-238). Ao colocar a
questão “quem tem o direito de ser admitido em uma universidade?”, que pode ser posta
na avaliação das políticas de ação afirmativa ou de “cotas”.
Ética e Cidadania 9
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
E em que medida isto se relaciona com a Ética? A “ideia de Justiça” tal como
apresentada por Sandel pode ser também compreendida como aquilo que entendemos
num sentido genérico como ético ou a “coisa certa”. Sendo assim, a avaliação aristotélica
da justiça, ou moralidade das ações, o quanto estas seriam éticas ou não, depende de
raciocínio teleológico.
Pólis é o termo grego para cidade. Vimos que uma das principais inquietações dos
pensadores gregos era buscar e oferecer respostas que pudessem diminuir nossa angústia
essencial, a percepção da mortalidade.
A pólis é o espaço público, o lugar de realização das ações que expressam nossa
excelência. Só assim, uma vez que tais ações sejam testemunhadas pelos demais, é que
poderemos ser lembrados mesmo quando não existirmos mais. A pólis é, portanto, dentro
desta perspectiva, o espaço para a nossa “plena realização”, o lugar para sermos felizes.
Ética e Cidadania 10
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Ética e Cidadania 11
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
3. ÉTICA NA MODERNIDADE
Mais importante do que estabelecer tal recorte histórico é enfatizar a distinção entre
antiguidade e modernidade. Uma das características que nos parece essencial do
pensamento dos autores ditos modernos é que estes não alimentavam muitas ilusões sobre
a natureza humana. Como bem sintetizou o economista e escritor Eduardo Giannetti da
Fonseca em sua obra “Vícios privados, benefícios públicos?”, enquanto os antigos
pensavam a realidade como “deveria ser”, os modernos buscaram refletir sobre o mundo
tal como ele é.
Ética e Cidadania 12
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Tais normas e regras não necessariamente foram estabelecidas por nós, a natureza
delas é “suprassensível”, ou seja, surgiram independente da nossa vontade ou opinião. No
entanto, o princípio moderno de que todos os homens são livres e iguais determina a nossa
“liberdade” em aceitar cumprir tais obrigações ou não.
Por outro lado, ainda que para o conjunto dos pensadores modernos o indivíduo
importe mais do que a comunidade, veremos que há diferenças entre eles no que tange à
avaliação moral das escolhas e ações humanas.
Adam Smith foi um filósofo da moral do século XVIII. Muito embora também seja
referenciado como um “economista”, sendo uma das suas obras mais conhecidas “A
História da Riqueza das Nações”, clássico que traz princípios importantes para
compreensão da economia capitalista, é em outra obra, “Teoria dos Sentimentos Morais”,
também essencial para compreensão do pensamento de Smith, que iremos encontrar
elementos para uma melhor compreensão do que é Ética na modernidade.
Em Smith o egoísmo surge como parte de nossa condição e é essencial para a nossa
sobrevivência. É porque naturalmente nós queremos mais a nós mesmos do que aos outros
que conseguimos sobreviver.
Para melhor compreender o que isto significa, tomemos um exemplo prático. Uma
pessoa que tenha um familiar, alguém próximo, muito doente sob seus cuidados. O que
muitas vezes ocorre é que o cuidador, tão envolvido que está com o outro, esquece-se de
si mesmo. Não raro o cuidador adoece, ou mesmo perece, e aquele ou aquela que recebeu
os cuidados sobrevive. Isto mostra o quanto o “egoísmo” pode ser importante para nossa
sobrevivência.
Mas Smith enxergava ainda no nosso “egoísmo natural” uma fonte de virtudes. O
fato de nos querermos mais que aos outros faz com que desejemos que os demais nos
amem e/ou admirem na medida em que consideramos que devemos ser
amados/admirados. Para tanto, é preciso mostrar aos outros que eles teriam razões de
sobra para isso. De modo geral, portanto, nos esforçaríamos o tempo todo em mostrar as
nossas melhores qualidades, evitando expor nossos defeitos e vícios, o que, ao final,
possibilitaria mais harmonia e civilidade na vida em sociedade.
Ética e Cidadania 13
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Voltando à maneira como gostamos de parecer aos olhos dos outros. O nosso
esforço em mostrar o melhor de nós só ocorre à medida que tememos o juízo dos outros.
Smith coloca a seguinte questão: “Quem continuaria agindo da maneira como age se
tivesse certeza absoluta da impunidade, ou de que não seria julgado pelos outros?”
Isto quer dizer que, se deixados à sua própria vontade, sem nenhum “juízo externo”,
os homens agiriam no sentido de apenas e tão somente atender aos seus desejos,
impossibilitando a vida em sociedade. Seria o cenário descrito por Thomas Hobbes,
pensador inglês dos séculos XVI e XVII, da “guerra de todos contra todos”.
Mas Smith, dentro da tradição iluminista que toma o individualismo como causa,
aponta para o fato de que tais regras, formais ou não, devem existir, mas não a ponto de
tolher ou impedir o exercício da individualidade. Quer dizer, nenhuma regra deve
impossibilitar o meu direito de existir com as minhas liberdades e direitos. Um exemplo, a
minha liberdade de ir e vir deve ser preservada tanto quanto a liberdade do outro. Parar em
fila dupla impedindo a passagem de outros carros é tomar dos demais, ainda que “por um
minutinho”, um de seus direitos como indivíduos.
Ética e Cidadania 14
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Tanto este conflito será maior quanto mais adverso for o ambiente externo. Num
ambiente de escassez de recursos, numa epidemia de fome, por exemplo, ou em
sociedades que sofrem com a guerra e a violência, o que se vê? Saques, assassinatos,
famílias que se dividem, vizinhos que se atacam. A adversidade dá lugar ao caos, à já
mencionada “guerra de todos contra todos”, em que cada um quer fazer valer a sua própria
vontade.
De novo entra em cena o “egoísmo” que pode nos impedir de chegar a extremos. O
nosso “enorme e desmedido amor” por nós mesmos, de acordo com Adam Smith, dá
origem a uma nobre virtude, a solidariedade. Quando vemos alguém que consideramos
semelhante a nós numa situação de sofrimento, o nosso “egoísmo” faz com que, nem que
seja por alguns segundos, coloquemo-nos no lugar desse nosso semelhante. E, ainda que
por um breve momento, pensamos, “Se fosse eu, estaria sofrendo muito agora, nem sei se
suportaria”. Nesse instante, e por essa razão, nos solidarizamos.
Ética e Cidadania 15
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
No entanto, é preciso detalhar melhor o que quer dizer esta avaliação calculada do
“caminho para a felicidade”. Os pressupostos utilitaristas tal como extraídos de Sandel
(2012) são:
1- Moral consiste em pesar custos e benefícios e uma avaliação ampla das
consequências;
2- o mais elevado objetivo da moral é maximizar a felicidade (utilidade das coisas
está em quanto de prazer e felicidade elas produzem);
3- utilidade pensada em termos de benefícios para o maior número o que pode levar
a conflitos com os direitos dos indivíduos.
Para compreender melhor tais pressupostos e suas implicações, vejamos o que
apresenta Sandel sobre o pensamento de Bentham:
Ética e Cidadania 16
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Como se pode ver, não é uma “ética do vale-tudo”, muito embora, como outras
perspectivas para avaliação moral das nossas escolhas e ações comporte algumas falhas.
No caso do utilitarismo estas diriam respeito, principalmente, ao desrespeito aos “direitos
individuais”.
Embora seja possível encontrar quem defenda a tortura, de modo geral, e como um
princípio fundamental, a sociedade global a rejeita.
Ética e Cidadania 17
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
O pai de Stuart, James Mill, era amigo, colega e discípulo de Bentham. Stuart,
educado na tradição utilitarista pelo próprio pai em casa, tornou-se um revisor crítico de
parte dos pressupostos utilitaristas.
Neste ponto é importante ressaltar que para Mill a avaliação das consequências só
pode ser feita por sujeitos livres de fato. Daí a insistência dele na defesa das liberdades,
incluindo a de pensamento e expressão. Ou seja, também para Mill só os sujeitos morais,
aqueles que refletem sobre escolhas e ações, é que são capazes de avaliar as suas
consequências.
Ética e Cidadania 18
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Além de Smith e dos utilitaristas há muitos outros pensadores modernos nos quais
encontraremos reflexões sobre a Ética e moral. Mas não nos será possível tratar de todos
eles, e também fugiria aos objetivos de nosso curso. No entanto, para encerrar esta
introdução à questão da Ética na modernidade, trataremos no próximo tópico de mais uma
perspectiva.
Ética e Cidadania 19
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Vejamos o seguinte exemplo. Uma criança de cinco anos que ainda não conhece as
operações matemáticas básicas vai à padaria com uma nota de R$20,00. Faz uma compra
de R$6,00. Vamos supor que o (a) proprietário (a) do estabelecimento esteja no caixa. Ele
(a) poderia dar o troco errado que a criança não notaria. No entanto, não o faz porque teme
que alguém veja, ou que os pais da criança percebam ameaçando sua reputação. O (a)
proprietário (a) ao dar o troco certo faz o que deveria ser feito, mas pela motivação “errada”,
ou seja, o resultado é certo, mas a ação, avaliada do ponto de vista da motivação, não é
moral.
Ética e Cidadania 20
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
correto que as pessoas se atrasem para seus compromissos porque não estão muito
dispostas. Se considerarmos que esta é uma razão justa, aplicável a todos e não só a nós,
então a tomaremos como moral. Mas se entendermos que universalmente ela não seria
aceitável, tampouco o será para nós.
Para terminar de ilustrar que a moral em Kant é “fazer a coisa certa, porque é o certo
a fazer”, tomemos um trecho do professor Renato Janine Ribeiro em palestra proferida no
Congresso de Educação para a Cidadania, organizado pelo Serviço Social do Comércio de
São Paulo.
Kant tem uma ideia muito boa, (…), que é a seguinte: quando eu ajo, eu devo agir de
modo tal, que a minha ação constitua uma máxima universal. Vamos tentar ver um pouco o
que isto quer dizer. Isto quer dizer que se eu passo no sinal vermelho estou fazendo que essa
minha ação constitua uma máxima universal, ou seja, eu estou declarando para toda
Humanidade que é bom, que é correto e até recomendável passar no sinal vermelho. Se eu
mato uma outra pessoa, eu estou proclamando que é recomendável matar outras pessoas,
idem furtar, roubar, etc. Não há ação então que eu possa caracterizar como sendo apenas
minha, como sendo meu privilégio. Toda ação que eu pratico, por ela eu autorizo outras
pessoas a praticarem iguais, é óbvio que, dito os exemplos que eu elenquei, já decorre que
é impossível convivência desse jeito. Se nós agirmos assim, então se eu passar no sinal
vermelho, autorizando todos outros a passarem no sinal vermelho, vou acabar sendo batido.
Ética e Cidadania 21
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
4. ÉTICA E POLÍTICA
Mas dentro destes dois grupos, nos quais encontramos teóricos diversos, há outras
divisões. As teorias monísticas se dividem em monismo rígido e o flexível, as dualísticas
em dualismo aparente e o real.
Para Kant, como vimos, o princípio que orienta minha ação, qualquer que ela seja, é
o mesmo que considero que deve orientar a de todos os outros. Então, se considero que
mentir é errado, assim considerarei para qualquer um e em qualquer situação. Por exemplo,
vamos supor que você seja um (a) dirigente do Banco Central do Brasil. Você sabe que nos
próximos dias deverá ocorrer intervenção na instituição financeira X. Numa coletiva de
imprensa alguém lança a pergunta: “Senhor (a) dirigente, é verdade que o Banco Central
intervirá na instituição X?” Se você se orientar pelo monismo rígido de Kant dirá a verdade
ainda que isto implique em consequências terríveis, como por exemplo uma corrida dos
correntistas daquela instituição para sacar o dinheiro, gerando inúmeros problemas. Esse
é um exemplo que implica consequências terríveis.
Ética e Cidadania 22
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Já o monismo rígido em Hobbes e outros pode ser bem diferente. Neste caso o que
vale é o que determina o Estado. Então se a lei ou aquele que representa o Estado
considera que é lícito matar pessoas que atentem contra a propriedade privada, também
na dimensão individual e cotidiana assim será. No entanto, se o Estado considerar que
pessoas que atentam contra a propriedade privada devem ser condenadas à morte, mas
que a execução da pena cabe exclusivamente aos agentes do Estado, então na dimensão
pessoal consideraremos que a pena de morte deve ser aplicada nestes casos, mas que
nós, cidadãos comuns, não podemos de forma alguma executá-la. De acordo com esta
perspectiva, o cidadão só tem autonomia para fazer suas próprias escolhas e de acordo
com os seus próprios princípios sobre aquilo que o Estado cala.
Uma outra situação para ilustrar melhor a questão. A tortura é nos dias de hoje, de
modo geral, uma atitude condenável tanto aos olhos dos indivíduos quanto também dos
sistemas que regem os Estados. Mas, de acordo com o monismo flexível, em certas
situações e em nome de um “bem maior”, como por exemplo proteger as pessoas de uma
ameaça terrorista, considera-se que por uma “razão de Estado” a tortura para extrair
informações com vistas a proteger os cidadãos possa ser praticada. Uma “lei especial”
derroga uma “lei mais geral”.
De acordo com Bobbio, esta “derrogação” é a base para as Éticas profissionais. Tais
códigos ou sistemas de normas por vezes dispõem condutas mais rigorosas ou mais
Ética e Cidadania 23
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Neste ponto você deve estar se perguntando em que isto seria diferente do “monismo
flexível”. A diferença está em que o dualismo aparente considera que existem dois
sistemas, embora um seja mais importante que o outro. O monismo flexível não reconhece
duas éticas, só uma. Mas leva em conta o fato de que no exercício de determinadas
Ética e Cidadania 24
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
funções, exigências maiores, ou de outro lado, normas mais flexíveis podem ter lugar. Mas
só naquele momento, para aquela situação muito específica.
Por fim vejamos o dualismo real que, na perspectiva de Norberto Bobbio, parece ser
o que melhor descreve a natureza da relação entre Ética e Política.
O dualismo real, ou seja, a teoria que considera que há dois sistemas distintos, um
que diz respeito à vida cotidiana e privada dos homens, ou dos cidadãos comuns, e outro
que orienta os que governam, tem suas origens no pensamento de Nicolau Maquiavel.
Este pensador, como já mencionado, florentino dos séculos XV e XVI, viveu numa
das “cidades-república” da região que hoje compõe a Itália e é considerado um dos
fundadores do pensamento político moderno.
Ética e Cidadania 25
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Uma outra situação. É consenso que mentir é errado e que devemos falar sempre a
verdade. Voltemos a um exemplo já dado, o que se refere à posição de um (a) dirigente do
Banco Central quando inquirido (a) sobre a possibilidade de intervenção numa instituição
financeira que ele (a) sabe que ocorrerá. Se falar a verdade certamente provocará uma
corrida aos bancos, não só ao que sofrerá a intervenção, pois a desconfiança pode
comprometer a sensação de segurança que os investidores todos precisam. Portanto, a
“virtude” da franqueza, da honestidade, de nunca faltar com a verdade que é adequada e
aprovada para o homem comum, não o seria para aqueles que ocupam uma posição no
comando de uma instituição que é parte da “ordem”.
Max Weber, pensador alemão dos séculos XIX e XX, identificou no agir humano
quatro tipos de ação:
1- A ação racional com relação a um valor (princípio);
2- A ação racional com relação a um fim (objetivo);
3- A ação orientada pelos afetos (instintos);
4- A ação orientada pela tradição.
Ética e Cidadania 26
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Note que as duas últimas não são consideradas racionais. Se considerarmos que as
ações éticas são próprias dos “sujeitos morais” que agem com autonomia e, portanto, de
acordo com a razão, veremos que só poderão ser consideradas “éticas” de acordo com
Weber as duas primeiras.
Vamos supor que um amigo tenha se envolvido num acidente que testemunhei e a
responsabilidade seja de fato dele. Esse amigo pede que eu minta em juízo em seu favor
porque pode ser punido. Se eu tenho por princípio não mentir, orientado por esta minha
convicção, independente das consequências que isto possa ter para ele, direi a verdade.
Weber conclui a respeito das “duas Éticas” que o homem verdadeiramente sábio
e/ou grande político não age de acordo só com uma ou só com a outra. Segundo ele, como
Ética e Cidadania 27
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
parte da conclusão de sua obra “Ética e Política, duas vocações”, os que se orientam
exclusivamente pelas convicções são os “fanáticos”, e os orientados exclusivamente pelos
fins são os cínicos”.
Mas, se assim for, como saber qual a melhor forma de agir? Caberá a cada um
avaliar o quanto a flexibilização de um princípio pode afastá-lo ou não de sua identidade,
ou de uma causa à qual esteja ligado. Da mesma forma julgar se o fim que pretendemos é
legítimo e quanto nossas ações de fato colaboram para que ele seja alcançado, ou se elas
o colocam em risco. Para concluirmos este tópico, imaginemos o seguinte: Quando alguém
adultera o balanço da empresa para evitar que ela perca mercado, poderíamos considerar
que o fim último, assegurar o valor da empresa é um objetivo legítimo. No entanto, mentir
sobre sua situação financeira, maquiá-la, pode, se a operação for descoberta, comprometer
para sempre sua imagem, portanto, uma ação que, no limite, ameaça o fim.
Ética e Cidadania 28
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
5. ÉTICA EMPRESARIAL
Para retomarmos esta noção, lembremos que “nem tudo que é ético é lei, nem tudo
que é lei é ético.” A Ética corresponde a normas formais ou informais e que dizem respeito
aos valores, princípios, a uma certa ideia de felicidade, de justiça aderidos e compartilhados
por indivíduos e sociedades.
As leis muitas vezes remetem a tais princípios e ideias, mas não necessariamente.
Há leis que podem determinar direitos que reproduzam ou levem a injustiças. Por exemplo,
uma legislação que seja tolerante ou flexível quanto ao uso da mão de obra infantil, ou no
que se refere ao estabelecimento dos limites para as jornadas de trabalho, pode levar a
situações de exploração do trabalho de crianças, ou à submissão de trabalhadores à
intensa exploração.
Existem ainda outras razões que fizeram com que, nos últimos anos, aumentasse a
cobrança a respeito da Ética nas organizações e muitas delas empenharam esforço e
tempo a fim de corresponder a tais expectativas. Não que esta nunca tenha sido uma
preocupação na maioria das organizações. Afinal, a preocupação com o “agir ético” como
vimos até aqui é uma constante nas sociedades.
Sob este aspecto, algumas coisas mudaram no âmbito das organizações nas últimas
décadas do século XX e na primeira deste. Com uma atuação mais global, num mundo em
que as informações são cada vez mais compartilhadas em tempo real, a ocorrência de um
escândalo numa empresa, ou o seu envolvimento em algum episódio que provoque
desgaste à imagem tem sempre uma rápida e grande repercussão, produzindo abalos não
só na confiança ou percepção que consumidores têm de suas marcas, mas, principalmente,
abalando a confiança de mercados e investidores.
Ética e Cidadania 29
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Mas nem todos compartilham de tal consenso. Autores como Solomon, Giannetti,
Sen e outros entendem que não nos movemos exclusivamente por critérios objetivos e que,
ainda que consideremos o auto interesse como principal motivação, este não é sempre e
todo o tempo o único. Um exemplo destacado na obra “Vícios privados, benefícios
públicos?”, de Eduardo Giannetti, está no depoimento de Akio Morita ex-presidente da
Sony.
Não existe um ingrediente secreto ou fórmula oculta responsável pelo sucesso das
melhores empresas japonesas. Nenhuma teoria ou plano ou política de governo fará
de um negócio um sucesso. Isso só pode ser feito pelas pessoas. A mais importante
2
Disponível em: https://revistas.unifacs.br/index.php/rgb/article/view/716 Acesso em: 24/06/22.
Ética e Cidadania 30
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
A este depoimento devemos acrescentar um outro relato, este de Vabo Jr, sobre a
empresa Amazon em artigo para o site Endeavor:
Friedman e outros representam o grupo que coloca a questão do lucro como sendo
a única responsabilidade das organizações. Deste modo, elas não estariam erradas em
considerar a Ética como um instrumento e não como um fim.
3
6 lições que aprendi na sede global da Amazon. Endeavor, 19/11/14. Disponível em:
https://blog.panrotas.com.br/b2btech/2014/12/03/6 -licoes-que-aprendi-na-sede-global-da-amazon/Acesso
em: 24/06/22
Ética e Cidadania 31
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Para terminar este tópico, citemos um outro prêmio Nobel de economia, o indiano
Amartya Sen, sobre o quanto as liberdades que interessam ao desenvolvimento não são só as
de mercado, enfatizando desse modo que as reflexões morais devem incidir também sobre as
questões econômicas a fim de promover não só o lucro dos acionistas, mas a prosperidade de
todos.
4
A este respeito e sobre práticas antiéticas de outras empresas e investidores há uma série, “Dirty
Money”, de 2017, disponível para os assin antes de um serviço de streaming.
Ética e Cidadania 32
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Encerramos este tópico concluindo que a Ética tem hoje nas organizações
empresariais, seja pela razão que for, uma centralidade muito maior do que há décadas
atrás. Por isso, torna-se muito importante refletir sobre ela no contexto das empresas e das
ações dos profissionais que nelas atuam.
Ética e Cidadania 33
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
6. CIDADANIA
Mas quais seriam exatamente os direitos e liberdades que o cidadão tem? A noção
moderna de Cidadania envolve direitos de três diferentes grupos, os civis ou individuais, os
políticos e os sociais. Tais direitos não surgiram todos de uma vez. Como ensina Norberto
Ética e Cidadania 34
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Bobbio em sua obra “A Era dos Direitos”, eles surgiram determinados por condições e
circunstâncias históricas ao longo do tempo.
Ética e Cidadania 35
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Considerando o que está posto no final da citação, note-se que todos os países
signatários do Documento, seus governos e cidadãos, estão comprometidos a não usar o
argumento da falta de desenvolvimento e do atraso para o não cumprimento e garantia dos
Direitos Humanos.
Ética e Cidadania 36
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Existem ainda outros fatores que comprometem a fruição da Cidadania como os que
dizem respeito à etnia. A moderna Ciência refletindo os resultados alcançados com o
avanço da Genética, rejeita o conceito de raça. Conforme revelaram as pesquisas acerca
do DNA, as diferenças entre os grupamentos humanos de fenotípica distinta são tão
pequenas que não cabe dizer que existem “raças humanas”. No entanto, o termo
Ética e Cidadania 37
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Preconceito é, como coloca Norberto Bobbio, algo que todos temos, “não existe
preconceito pior que acreditarmos que não temos preconceito.” (2002, p. 122). No entanto,
nem todos os preconceitos têm natureza étnica ou racial e nem todos nós praticamos a
discriminação.
Ética e Cidadania 38
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Por exemplo, é possível que alguém tenha preconceito contra grupos que se
alimentam de carne de cachorro e por isso evite frequentar a mesma região ou restaurantes
que eles. Mas se escreve, ou dirige a eles frases ou palavras ofensivas, se não permite que
eles ingressem num lugar, ou limita suas oportunidades de trabalho em razão de seus
hábitos alimentares, então os discrimina.
Uma vez que a discriminação se traduz em ações concretas, pode ser sim julgada
tanto pelas leis quanto pela Ética, além de poder ser controlada por políticas públicas. Ao
conjunto das políticas públicas e privadas usadas para combater a discriminação e garantir
às minorias direitos historicamente negados e sua inclusão chama-se ação afirmativa.
Ética e Cidadania 39
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Pode-se dizer então que desde a proclamação da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, em 1948, base para noção de Cidadania, a Ética contemporânea ganhou um
“metro”. Garantir a fruição dos direitos que compõem a Cidadania por todos, sem exceção,
é fundamento da Ética, parte da “estética da existência” e da ideia de felicidade
contemporâneas.
Ética e Cidadania 40
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Mas tal posição foi perdendo espaço à medida que o próprio ideário liberal passou a
ser questionado quando, nos anos 20 do século XX, crises econômicas abalaram os
mercados, culminando com a quebra da Bolsa de Nova York em outubro de 1929 e a
depressão dos primeiros anos da década de 30. Nesse contexto foram ganhando espaço
ideias e políticas que defendiam uma participação maior do Estado nas questões sociais e
econômicas, colocando em xeque princípios do livre mercado, defendendo uma maior
regulação das atividades econômicas e financeiras.
Ética e Cidadania 41
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
6
filantrópicas. Desse modo passou-se a considerar que, se a filantropia empresarial não
era estranha ao universo das organizações, a responsabilidade social também não o seria.
Nessa perspectiva, a Responsabilidade Socioambiental das organizações se desenvolveu
a partir de uma evolução natural do que já ocorria nas empresas, ainda que influenciada
pelo ambiente externo.
O que explica o sucesso extraordinário da RSE? Por que uma ideia anteriormente
associada a poucos excêntricos se tornou predominante? A resposta mais simples
é a gestão da reputação. As sociedades anônimas, sempre provocaram profundas
suspeitas com base no fato de que permitem todos os direitos dos indivíduos sem
qualquer das responsabilidades. (…).
(…). As pessoas comuns esperam padrões cada vez maiores de suas grandes
companhias. Uma pesquisa feita pela McKinsey, em 2007, descobriu que 95% das
empresas sentiam que a “sociedade” tinha expectativas maiores do que há cinco
anos. Acadêmicos, denunciantes, jornalistas, ONGs e profissionais descontentes,
todos têm prazer em expor os malfeitores da grande riqueza. (…).
A RSE é uma forma de contra-ataque, uma maneira de gerenciar sua reputação em
uma época em que se rasgam reputações. É uma campanha publicitária e uma
apólice de seguro em uma coisa só. (2012, pp 32-33.)
6
Tais práticas não devem ser confundidas com as de Responsabilidade Social. A chamada Filantropia Empresarial é muitas
vezes marcada por ações eventuais, sem relação com o planejamento estratégico da organização. É também filantropia empresarial a
que se caracteriza pela criação de fundações por parte dos empresários, mas que não mantêm relação com a corporação. As fundações
são entidades separadas que recebem aportes dos fundadores e de outros parceiros, sem fins lucrativos.
Ética e Cidadania 42
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Ambiental
Social Econômica
Institucional
Nesse novo modelo, devemos então entender que a responsabilidade das empresas
consiste em minimizar os aspectos negativos de suas ações e maximizar os positivos. Tal
Responsabilidade assim definida, nos aproxima do princípio utilitarista do cálculo da “maior
felicidade para o maior número”, um princípio moral.
7
Esta perspectiva se refere à dimensão da preservação dos direitos e liberdades individuais. Isto
significa dizer que cabe às organizações atuarem no sentido de promover tais garantias, seja junto ao
público externo, como também internamente, adotando práticas, por exemplo, de promoção de diversidade
no ambiente da organização, combatendo a discriminação.
8
O índice Dow Jones de Sustentabilidade é o índice da bolsa de Nova York em que são negociados
ações e títulos de empresas consideradas sustentáveis, o que implica a responsabilidade socioambiental.
Para ter papéis negociados em tal mercado, as empresas devem apresentar certificados, relatórios e índices
Ética e Cidadania 43
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Nesta linha, Kotler et al. (2012), apresentam seis caminhos divididos em dois grupos:
que atestem o seu compromisso e ações com as dimensões que compõem o novo conceito de organização.
O equivalente nacional é ISE B3.
Ética e Cidadania 44
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
É para garantir que tal relação se mantenha que não só nas organizações como
também entre organismos globais, governos e nações, considera-se cada vez mais a ideia
da Governança construída em torno do objetivo da Sustentabilidade, nossos próximos
assuntos.
Ética e Cidadania 45
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
8. GOVERNANÇA
Essa pretensão pode ser observada mesmo em períodos anteriores ao século XXI.
Por exemplo, quando do fim da Primeira Grande Guerra a Liga das Nações foi formada
como uma organização para estabelecer princípios e compromissos compartilhados de
preservação da paz mundial. Como se sabe, tal organização foi incapaz de impedir a
Segunda Grande Guerra, tendo, portanto, fracassado nos seus intentos.
A Governança Global ganhou fôlego após o fim da Guerra Fria com o colapso do
chamado “bloco soviético”, o que possibilitou a ampliação do espaço nas relações
internacionais para o diálogo e práticas de fato globais.
Mas, além disso, o fim da ordem mundial, surgida no final da Segunda Grande
Guerra e que durou até os primeiros anos da década de 90 do século XX, permitiu também
Ética e Cidadania 46
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
uma abertura muito maior de mercado, negócios e oportunidades, dando início ao processo
de globalização recente. As novas oportunidades geraram novas exigências para as
organizações como garantir a confiança, qualidade e produtividade em qualquer lugar e
setor que atuassem.
No entanto, foi principalmente na busca por novos investidores para permitir o seu
crescimento, que muitas organizações abriram o seu capital. A corrida por shareholders ou
acionistas implicou em garantias de fato da sustentabilidade econômica e capacidade da
organização. A confiança, também nos negócios, é a base de qualquer relação. Aliás, para
muitos, sem confiança não há negócio. Confiança exige transparência e fidedignidade das
informações. Investidores só se mostram dispostos a investir e correr riscos se tiverem
alguma base para tomada de decisões.
Naturalmente que isto não impediu e continua não impedindo que muitas
organizações tentassem/tentem ludibriar o mercado, apresentando dados que não refletem
de todo a realidade das organizações, fazendo uso da chamada contabilidade criativa9, ou
por vezes contrariando mesmo a lei.
Observe que o item três remete aos stakeholders, o que nos leva a estabelecimento
de relação entre prática da Governança Corporativa e a teoria do tratamento a ser
dispensado aos “diversos públicos com os quais a empresa se relaciona” (ASHLEY, 2005.),
ou seja, stakeholders. Esta teoria parte da premissa de que: “as pessoas, a sociedade como
9
A contabilidade criativa é a utilização de normas contabilísticas aceitas de forma flexível, em
razão das omissões ou ambiguidades que podem estar presentes em tais normas. Esta prática não é,
portanto, necessariamente contra lei, não se constituindo, a princípio, em f raude. Mas pode levar a, já que,
a contabilidade criativa impede que o público tenha uma real visão da saúde financeira da organização,
maquiando a realidade.
Ética e Cidadania 47
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
um todo, o meio ambiente com nossos descendentes, de múltiplas maneiras são atingidos
pelo agir de uma empresa. Quanto maior a empresa, mais longe se estendem seus efeitos.”
(ASHLEY, 2005.)
Observe que também esta teoria nos conduz ao novo conceito de empresa colocado
no item anterior e que considera que, nas suas ações, as empresas sociais e
ambientalmente responsáveis devem considerar quatro dimensões: a econômica, a social,
a ambiental e a institucional.
Ética e Cidadania 48
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
9. SUSTENTABILIDADE
Sustentabilidade é um termo que, na sua atual acepção, surgiu de uma outra noção,
a do Desenvolvimento Sustentável. Muito embora tal conceito venha se desenvolvendo
desde os anos 70, como se pode depreender da leitura de Andrés Ribeiro (in PADUA, 2009,
pp. 64-116.), é no Relatório da Comissão Brundtland, relatório da ONU publicado em 1987,
que encontramos uma síntese mais amadurecida e que veio a conformar a nossa
compreensão do que é a Sustentabilidade.
Observe que o conceito não determina o congelamento das ações humanas no que
se refere ao desenvolvimento, ou seja, Sustentabilidade não significa a preservação da
natureza em detrimento das necessidades humanas. Mas implica, isto sim, na consideração
e no compromisso com a “qualidade de vida”.
Mas o que afinal se entende por “qualidade de vida”? Para responder a esta questão,
observemos o que o Relatório, em 1987, considerou sobre as ações que os governos
deveriam tomar no sentido de promover o Desenvolvimento Sustentável:
a) Limitação do crescimento populacional;
b) Garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo;
c) Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;
d) Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso
de fontes energéticas renováveis;
e) Aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em
tecnologias ecologicamente adaptadas;
f) Controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades
menores;
g) Atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia).
Pela interpretação dos itens elencados, é possível concluir que qualidade de vida
significa a garantia das necessidades, num ambiente equilibrado, limpo, que preserve a
Ética e Cidadania 49
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
saúde e a dignidade das pessoas e, uma vez que é um relatório da ONU orientando o que
os governos devem fazer, podemos dizer que das pessoas do mundo todo.
• Direitos Humanos
1. Apoiar e respeitar a proteção dos direitos humanos internacionais dentro de seu
âmbito de influência.
2. Certificar-se de que suas corporações não sejam cúmplices de abusos em
direitos humanos.
• Trabalho
1. Apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à
negociação coletiva.
2. Apoiar a eliminação de todas as formas de trabalho forçado e compulsório;
3. Apoiar a erradicação efetiva do trabalho infantil.
4. Apoiar o fim da discriminação relacionada a emprego e cargo.
• Meio Ambiente
1. Adotar uma abordagem preventiva para os desafios ambientais.
2. Tomar iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental.
3. Incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias ambientalmente
sustentáveis.
Percebe-se pela análise de que cada um dos pontos acima, o quanto, a partir do
mencionado pacto, espera-se que as empresas se comprometam, por exemplo, com o
combate ao trabalho escravo; a preservação dos direitos dos trabalhadores e das minorias;
o uso racional dos recursos naturais; a promoção de políticas de diversidade no âmbito da
organização.
Ética e Cidadania 50
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Ética e Cidadania 51
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
ALENCASTRO, Mario Sérgio C. Ética empresarial na prática: liderança, gestão
e responsabilidade corporativa. 2 ed. Curitiba: Intersaberes, 2016. (Biblioteca
Virtual Pearson)
ANTUNES, M.T.P. (org). Ética. 2 ed. São Paulo: Pearson, 2020. (Biblioteca
Virtual Pearson)
PINSKY, Jaime (org.) Práticas de Cidadania. São Paulo: Contexto, 2004.
(Biblioteca Virtual Pearson)
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BERAS, Cesar. Democracia, cidadania e sociedade civil. Curitiba: Intersaberes,
2013. (Biblioteca Virtual Pearson)
CALDAS, Ricardo Melito (org.). Responsabilidade Socioambiental. 2 ed. São
Paulo: Pearson , 2019. (Biblioteca Virtual Pearson)
CARVALHO, Ana Paula C. de. Desigualdades de gênero, raça e etnia. Curitiba:
Intersaberes, 2012 (Série Temas Sociais e Contemporâneos). (Biblioteca
Virtual Pearson)
FREITAS, Marcílio de; FREITAS, Marilene Corrêa da S. A Sustentabilidade como
paradigma: Cultura, ciência e cidadania. Petrópolis: Vozes, 2016.
NODARI, Paulo César; CALGARO, Cleide; SIVERES, Luiz. (org.). Ética, direitos
humanos e meio ambiente: reflexões e pistas para uma educação cidadania,
responsável e pacífica. Caxias do Sul-Rs: 2017. (Biblioteca Virtual Pearson)
NA REDE
A Corporação. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Zx0f_8FKMrY. Acesso em: 24/06/22
Alternativa berço a berço. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=DkWG09ZRXUk. Acesso em: 24/06/22
Blog Conversa Corporativa – Ética Empresarial com Clóvis Barros Filho.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=smAOyQ-Ce3c. Acesso
em: 24/06/22
Café Filosófico – Ética no Cotidiano com Mário Sérgio Cortella e Clóvis de
Barros Filho. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=zMNyqVGHTRs Acesso em: 24/06/22
Ética – Episódio 1: Ética e Corrupção (apres. Renato Janine Ribeiro). Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=U9kvKeqLlWk. Acesso em: 24/06/22
O lado negro do chocolate. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Z3C3ujf4MJY. Acesso em: 24/06/22
PPGHHIS-TV. José Murilo de Carvalho-1964- 50 anos do Golpe. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=aVYblmXvgAA Acesso em: 24/06/22
Rede Brasil do Pacto Global. Disponível em:
https://www.youtube.com/channel/UCuAgAFLt-TKdV2s0BX3zGLA. Acesso
em: 24/06/22
Ética e Cidadania 52
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
REFERÊNCIAS
APPIAH, Kwame Anthony. O Código de Honra: Como ocorrem as Revoluções
Morais? São Paulo: Cia das Letras, 2012.
ASHLEY, Patricia (coord). Ética e responsabilidade social nos negócios. 2. ed.
São Paulo: Saraiva, 2005
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
Ética e Cidadania 53