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ÉTICA, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE

Ética e Cidadania

Em nosso segundo tópico, discutiremos dois conceitos básicos para uma


sociedade mais justa: ética e cidadania. De partida, propomos uma pergunta.
Pense nisto por alguns instantes:

Para você, o que é ser cidadão?

Podemos imaginar várias respostas a essa pergunta. Ser cidadão é ser


correto; é votar; é cumprir com suas obrigações legais; é ser honesto; é ser
solidário etc. Mas, afinal de contas, o que é cidadania?

O conceito tradicional, jurídico, de “cidadania” dispõe que ser cidadão é fazer


parte de um Estado-nação soberano (um país independente), no qual você
pode votar e ser votado. Então, é preciso pertencer a esse Estado e ser
reconhecido por ele como cidadão.

Foi a partir desse conceito jurídico, por exemplo, que se criou a categoria dos
apátridas. As pessoas que nascem em um país que não as reconhece como
cidadãs porque seus pais são imigrantes (é o que se chama de jus sanguinis –
a cidadania é passada pelas gerações) e que, por outro lado, também não
podem ser reconhecidas como cidadãs do país de origem de seus pais porque
não nasceram lá (é o direito de jus solis – a cidadania é concedida a qualquer
pessoa que nasça em território nacional, a exemplo do que ocorre no Brasil)
acabam não tendo a sua cidadania reconhecida em nenhum dos dois países e,
por isso, são denominadas apátridas. No conceito jurídico, isso pode
acontecer, mas é justamente aí que entra outro conceito bastante importante,
que foi visto na última aula: os direitos humanos. Esses direitos são
estendidos a todos os seres humanos, independentemente do país de
nascimento, e resguardados por uma série de organizações internacionais.

Portanto, a cidadania diz respeito à ordem jurídico-política dos países,


e suas atribuições devem ser garantidas pelas Constituições desses
países. Não se trata, portanto, de direitos universais, uma vez que são fixos
ao país; os direitos e deveres de cidadãos brasileiros, uruguaios, angolanos,
japoneses e irlandeses, por exemplo, serão diferentes.

As decisões políticas de cada país podem modificar os direitos e


os deveres ligados à cidadania, como, por exemplo, alterando a
idade mínima para votar ou dirigir, ou alterando o código penal
ou civil, estabelecendo deveres relativos ao serviço militar ou à
obrigação dos pais em relação aos filhos.
ÉTICA, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE

Tudo isso diz respeito à cidadania. Embora sejam direitos específicos de cada
país e não universais, em muitos casos (como o do Brasil), sobretudo nas
sociedades democráticas, os direitos humanos universais já estão
incorporados na própria Constituição.

Revolução Francesa: exemplo de luta pelos direitos humanos.

Lynn Hunt, em A Invenção dos Direitos Humanos — Uma História,


mostra que os direitos humanos, hoje valores universais, não são um
produto da natureza, mas uma construção histórica e social.

Falar que os direitos humanos são universais significa dizer que o que é
considerado como direito humano em um lugar também o será em outras
partes do mundo. Eles são mais amplos do que a cidadania. No contexto
da sociedade internacional, esses direitos foram debatidos e construídos
sobretudo ao longo do século XX, como vimos na aula passada.

Mas, voltando à cidadania, vimos o seu conceito jurídico: ser reconhecido por
um Estado-nação e poder usufruir de seus direitos políticos.

Mas será que a cidadania é só isso?

Essa definição não dá conta da complexidade da sociedade,


abrindo espaço para a exclusão. É por isso que é preciso falar de
uma cidadania também de direitos sociais e econômicos. E
mais: a cidadania deve incluir a materialização da justiça social, de
práticas de igualdade, do direito de ter voz e de ser ouvido, da satisfação de
condições necessárias ao desenvolvimento humano, entre outros.
ÉTICA, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE

Agora, vamos pensar na cidadania a partir das nossas práticas diárias, em


casa, no trabalho, na faculdade, na rua. É preciso aprender a ser cidadão.

O que significa isso?

Significa agir a partir de valores de ética, democracia, direitos humanos e


inclusão social; agir com respeito, responsabilidade, justiça, solidariedade e
não violência, comprometendo-se com o que acontece na sua comunidade e
no país.

Mas o que é essa tal de ÉTICA?

Questões de democracia, direitos humanos e inclusão social serão tratadas


em aulas posteriores, mas é importante falar sobre ética antes de tudo, já
que é um conceito fundamental para a construção da cidadania num sentido
amplo, conforme visto acima.

O conceito de ética está intrinsicamente presente no pensamento de cada um,


mas de forma equivocada, já que ele é facilmente confundido com o conceito
de moral. Apesar de serem conceitos relacionados, é importante saber a
diferença entre eles.

Moral: do latim morales, significa “o que relativo aos costumes”. A


moral trata sobre regras auto-aplicadas no cotidiano e usadas
continuamente por cada cidadão, que norteiam ações e
julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom
ou mau.

Isso significa que não existe uma única moral. O que é considerado imoral
em uma determinada cultura ou região pode ser moral em outra. Um exemplo
bastante claro é o código de vestimenta restrito para as mulheres em alguns
países árabes. Lá o uso, por exemplo, de biquíni por mulheres é algo
completamente absurdo. Você consegue pensar em mais algum
exemplo?

Embora muitos associem à ética essas normas culturais, ela é um conceito


muito mais amplo que isso.

Ética: do latim éthos, significa o que é “relacionado ao caráter”. A


ética é um estudo ou investigação do comportamento
humano que busca explicar as regras morais de forma racional,
fundamentada, científica e teórica.

Ou seja, a ética trata do estudo da moral independentemente de cultura. Em


suma, seu objetivo é facilitar a realização das pessoas. Ela se ocupa com e
pretende a perfeição do ser humano.
ÉTICA, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE

Mas quem define o que é ético ou anti-ético?

Essa é uma pergunta bastante complexa, pois sua resposta pode acabar
gerando mais mal do que bem. A verdade é que é muito difícil obter uma
definição geral sobre todos os comportamentos e situações. Em virtude disso,
a ética precisa ser constantemente questionada e debatida, algo que vamos
tratar de fazer ao longo do semestre.

A construção de uma sociedade realmente democrática passa pelo


reconhecimento da diversidade e pelo estabelecimento de padrões de
respeito, de ética e da garantia de direitos sociais. São esses os valores
que vamos trabalhar nesta disciplina!

Buscaremos nesta disciplina contribuir para a “formação de uma


cultura de respeito à dignidade humana através da promoção e da
vivência dos valores da liberdade, da justiça, da igualdade, da
solidariedade, da cooperação, da tolerância e da paz. Isso significa
criar, influenciar, compartilhar e consolidar mentalidades,
costumes, atitudes, hábitos e comportamentos que decorrem,
todos, daqueles valores essenciais citados – os quais devem se
transformar em práticas.”

Acesse no ambiente virtual os textos complementares 1 e 2

Referências

ARAÚJO, Ulisses R. et. al. Relações étnico-raciais e de gênero. Programa


Ética e Cidadania. Construindo valores na escola e na sociedade. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/ pdf/Etica/1_rel_etica.pdf>. Acesso
em: 20 nov. 2013.

BENEVIDES, Maria Victória. Direitos humanos: desafios para o século XXI. In:
SILVEIRA, Rosa Maria Godoy et alii. Educação em Direitos Humanos:
Fundamentos teórico-metodológicos. João Pessoa: Editora UFPB, 2007.
Disponível em: <www.redhbrasil.net/educacao_ direitos_humanos.php>.
Acesso em: 20 nov. 2013.

BENEVIDES, Maria Victória. Cidadania e Direitos Humanos.


Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. [20-].
Disponível em: <http://institutoelo.org.br/site/app/webroot/files/
ÉTICA, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE

publications/4b2cc583e37de38a31983ddb3f7861d0.pdf>. Acesso em: 20 nov.


2013.

BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. Cidadania: Condição de Exercício dos direitos


humanos. Revista Panóptica, n.1, set. 2006. Disponível em:
<http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/eduardobittar/bittar_
cidadania_exerc_dh.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2013.

GOMES, Nilma Lino. Educação e Diversidade Étnico-cultural. In: ARAÚJO,


Ulisses R. et. al. Relações étnico-raciais e de gênero. Programa Ética e
Cidadania. Construindo valores na escola e na sociedade. Brasília: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Etica/1_rel_etica.pdf>. Acesso
em: 20 nov. 2013.

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