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ETICA CIDADANIA E MORAL

Ética Cidadania e Moral

A má distribuição de renda é um dos aspectos que devem ser lembrados quando ética, cidadania e
moral forem conceituados e refletidos. Moral seria a regra de conduta, a distinção que se faz entre o
que é bom ou ruim para nós e aos outros. Normalmente popularizado na assertiva cristã “fazer aos
outros somente o que queremos que nos façam”. A ética, estudos filosóficos dos valores e da con-
duta moral, busca tratar de questões relevantes, como: o que é a vida boa para os homens? E como
deveríamos nos comportar?

Já a ética e a moral é o comportamento que assumimos perante os demais, o padrão de comporta-


mento e valores que presidem nossa prática, a ciência que tenciona alcançar o puro e simples bem-
estar do homem, tendo por objetivo a perfeição dele através de sua livre ação.

Proposta para Diálogo:


- Ética, trabalho e cidadania;
- Ética, política e outra globalização;
- Ética e cidadania: a busca de novos valores humanos;
- Questões específicas no processo de mundialização;
- Dimensão ética na empresa;
- Ética profissional;
- Poder e responsabilidade ética na gestão do conhecimento.

Ética Pessoal
Ethos – ética, em grego – designa a morada humana. O ser humano separa uma parte do mundo
para, moldando-a ao seu jeito, construir um abrigo protetor e permanente. A ética, como morada hu-
mana, não é algo pronto e construído de uma só vez. O ser humano está sempre tornando habitável
a casa que construiu para si. Ética significa, segundo Leonardo Boff (2007), “tudo aquilo que ajuda a
tornar melhor o ambiente para que seja uma moradia saudável: materialmente sustentável, psicologi-
camente integrada e espiritualmente fecunda”.

Questionamentos Sobre Ética


A) O que é ética?
A ética não se confunde com a moral. A moral é a regulação dos valores e comportamentos conside-
rados legítimos por uma determinada sociedade, um povo, uma religião, certa tradição cultural, etc.
Há morais específicas, também, em grupos sociais mais restritos: uma instituição, um partido político.
Há, portanto, muitas e diversas morais. Isto significa dizer que uma moral é um fenômeno social parti-
cular, que não tem compromisso com a universalidade, isto é, com o que é válido e de direito para
todos os homens. Exceto quando atacada: justifica-se dizendo-se universal, supostamente válida
para todos.

Mas, então, todas e quaisquer normas morais são legítimas? Não deveria existir alguma forma de jul-
gamento da validade das morais? Existe, e essa forma é o que chamamos de ética. A ética é uma re-
flexão crítica sobre a moralidade. Mas ela não é puramente teoria.
A ética é um conjunto de princípios e disposições voltados para a ação, historicamente produzidos,
cujo objetivo é balizar as ações humanas. A ética existe como uma referência para os seres humanos
em sociedade, de modo tal que a sociedade possa se tornar cada vez mais humana.

A ética pode e deve ser incorporada pelos indivíduos, sob a forma de uma atitude diante da vida coti-
diana, capaz de julgar criticamente os apelos críticos da moral vigente. Mas, a ética, tanto quanto a
moral, não é um conjunto de verdades fixas, imutáveis. A ética se move, historicamente, se amplia e
se adensa. Para entendermos como isso acontece na história da humanidade, basta lembrarmos
que, um dia, a escravidão foi considerada “natural”. Entre a moral e a ética há uma tensão perma-
nente: a ação moral busca uma compreensão e uma justificação crítica universal, e a ética, por sua
vez, exerce uma permanente vigilância crítica sobre a moral, para reforçá-la ou transformá-la.

B) Por que a ética é necessária e importante?


A ética tem sido o principal regulador do desenvolvimento histórico-cultural da humanidade. Sem
ética, ou seja, sem a referência a princípios humanitários fundamentais comuns a todos os povos, na-
ções, religiões etc., a humanidade já teria se despedaçado até à autodestruição. Também é verdade
que a ética não garante o progresso moral da humanidade. O fato de que os seres humanos são ca-

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pazes de concordar minimamente entre si sobre princípios como justiça, igualdade de direitos, digni-
dade da pessoa humana, cidadania plena, solidariedade etc., cria chances para que esses princípios
possam vir a ser postos em prática, mas não garante o seu cumprimento.

As nações do mundo já entraram em acordo em torno de muitos desses princípios. A “Declaração


Universal dos Direitos Humanos”, pela ONU (1948), é uma demonstração de o quanto a ética é ne-
cessária e importante. Mas a ética não basta como teoria, nem como princípios gerais acordados pe-
las nações, povos, religiões etc. Nem basta que as Constituições dos países reproduzam esses prin-
cípios (como a Constituição Brasileira o fez, em 1988).

É preciso que cada cidadão e cidadã incorporem esses princípios como uma atitude prática diante da
vida cotidiana, de modo a pautar por eles seu comportamento. Isso traz uma consequência inevitável:
frequentemente o exercício pleno da cidadania (ética) entra em colisão frontal com a moral vigente...
Até porque, a moral vigente, sob pressão dos interesses econômicos e de mercado, está sujeita a
constantes e graves degenerações.

C) Por que se fala tanto em ética hoje no Brasil?


Não só no Brasil se fala muito em ética, hoje. Mas, temos motivos de sobra para nos preocuparmos
com a ética no Brasil. O fato é que, em nosso país, assistimos a uma degradação moral acelerada,
principalmente na política. Ou será que essa baixeza moral sempre existiu? Será que hoje ela está
apenas vindo a público? Uma ou outra razão, ou ambas, combinadas, são motivos suficientes para
uma reação ética dos cidadãos conscientes de sua cidadania.

O tipo de desenvolvimento econômico vigente no Brasil tem gerado, estrutural e sistematicamente,


situações práticas contrárias aos princípios éticos: gera desigualdades crescentes, injustiças, rompe
laços de solidariedade, reduz ou extingue direito, lança populações inteiras a condições de vida cada
vez mais indignas. E, tudo isso, convive com situações escandalosas, como o enriquecimento ilícito
de alguns, a impunidade de outros, a prosperidade da hipocrisia política de muitos etc. Afinal, a hipo-
crisia será de todos se todos não reagirem eticamente para fazer valer plenamente os direitos civis,
políticos e sociais proclamados por nossa Constituição:

Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre,
justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e redu-
zir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (Art. 3º da CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988).

Visitando um antigo cemitério, impressionou-me a inscrição, na lápide de uma mulher, de um epitáfio


colocado por sua família. Dizia: ‘Ela fez o que pôde’. Acho que não existe melhor resumo para uma
vida bem vivida, uma vida eticamente vivida. Ela fez o que pôde. Mais não fez, porque mais não po-
dia fazer. Mas, e principalmente, isso: não fez menos do que podia fazer. Com o quê, ganhou o res-
peito, a admiração e afeto de sua família e, certamente, de muitas outras pessoas. Somos éticos
quando fazemos, pelos outros, tudo o que podemos fazer tudo o que está ao nosso alcance. Ética é
isso, é a prática do bem até o limite de nossas forças. Quando atingimos esse limite, temos a satisfa-
ção do dever cumprido. Que é a primeira condição para chegarmos à felicidade.

D) Por que e a quem a falta de ética prejudica?


A falta de ética mais prejudica a quem tem menos poder (menos poder econômico, menos poder cul-
tural, menos poder político). A transgressão aos princípios éticos acontece sempre que há desigual-
dade e injustiças na forma de exercer o poder. Isso acentua ainda mais a desigualdade e a injustiça.
A falta ou a quebra da ética significa a vitória da injustiça, da desigualdade, da indignidade, da discri-
minação. Os mais prejudicados são os mais pobres, os excluídos.

A falta de ética prejudica o doente que compra remédios caros e falsos; prejudica a mulher, o idoso, o
negro, o índio, recusados no mercado de trabalho ou nas oportunidades culturais; prejudica o traba-
lhador que tentar a vida política; prejudica os analfabetos no acesso aos bens econômicos e culturais;
prejudica as pessoas com necessidades especiais (físicas ou mentais) a usufruir da vida social; preju-
dica com a discriminação e a humilhação os que não fazem a opção sexual esperada e induzida pela
moral dominante etc.

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A atitude ética, ao contrário, é includente, tolerante e solidária: não apenas aceita, mas também valo-
riza e reforça a pluralidade e a diversidade, porque plural e diversa é a condição humana. A falta de
ética instaura um estado de guerra e de desagregação, pela exclusão. A falta de ética ameaça a hu-
manidade.

Ética e cidadania são dois conceitos fulcrais na sociedade humana. A ética e cidadania estão relacio-
nados com as atitudes dos indivíduos e a forma como estes interagem uns com os outros na socie-
dade.

Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais. A palavra ética é derivada
do grego, e significa aquilo que pertence ao caráter. A palavra “ética” vem do Grego “ethos” que signi-
fica “modo de ser” ou “caráter”.

Cidadania significa o conjunto de direitos e deveres pelo qual o cidadão, o indivíduo está sujeito no
seu relacionamento com a sociedade em que vive. O termo cidadania vem do latim, civitas que quer
dizer “cidade”.

Um dos pressupostos da cidadania é a nacionalidade, pois desta forma ele pode cumprir os seus di-
reitos políticos. No Brasil os direitos políticos são orquestrados pela Constituição Federal. O conceito
de cidadania tem se tornado mais amplo com o passar do tempo, porque está sempre em construção,
já que cada vez mais a cidadania diz respeito a um conjunto de parâmetros sociais.

A cidadania pode ser dividida em duas categorias: cidadania formal e substantiva. A cidadania for-
mal é referente à nacionalidade de um indivíduo e ao fato de pertencer a uma determinada nação. A
cidadania substantiva é de um caráter mais amplo, estando relacionada com direitos sociais, políticos
e civis. O sociólogo britânico T.H. Marshall afirmou que a cidadania só é plena se for dotada de direito
civil, político e social.

Com o passar dos anos, a cidadania no Brasil sofreu uma evolução no sentido da conquista dos direi-
tos políticos, sociais e civis. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer, tendo em conta os
milhões que vivem em situação de pobreza extrema, a taxa de desemprego, um baixo nível de alfa-
betização e a violência vivida na sociedade.

A ética e a moral têm uma grande influência na cidadania, pois dizem respeito à conduta do ser hu-
mano. Um país com fortes bases éticas e morais apresenta uma forte cidadania.

A ética é a casa do homem, diziam os primeiros filósofos gregos no século VI a. C. Ética surge do
grego ethos que significa "modo de ser" ou "caráter". Para eles, o ethos agia e acolhia os indivíduos-
cidadãos, aqueles responsáveis pelos destinos da polis (cidade). Nesta permanência os homens sen-
tiam-se em segurança. Isto significa que, vivendo de acordo com as leis, os cidadãos poderiam tomar
a sociedade melhor e também encontrar nela seu cuidado. A ética surgiu como consequência
das leis edificadas pelos hábitos e das virtudes e hábitos gerados pelo caráter dos homens. As práti-
cas apontam o conjunto de normas e regras adquiridas por hábito. O ethos refletem à palavra mos
(moris) da língua latina, da qual se origina o termo moral. Ética e moral são, do ponto de vista etimo-
lógico, sinônimos. Todavia, hoje podemos assegurar uma diferença entre um e outro, porque a ética
se coordena como uma parte da filosofia que trata da moral ou da moralidade do ser humano. Isto é,
a moral se apresenta nos dias de hoje como um objeto da ética. A iniciar pelas origens do pensa-
mento grego, o mundo do ethos envolve a coletividade (intersubjetividade) e a individualidade (subje-
tividade) dos indivíduos favorecidos de sentimento e razão.

Neste sentido, o exercício do bem ou da razão estaria relacionada ao respeito às leis da polis (hetero-
nomia) e ao pensamento individual (autonomia) de cada pessoa. Isto significa que há ressalvas inter-
nos e externos que determinam o papel dos sujeitos sociais. Porém, a boa maneira poderia também
ser determinada pela educação (Paideia). O meio educacional permitiria assim as regras e ensina-
mentos capazes de apresentar os juízos e decisões dos indivíduos no polo de sua comunidade.
Desde os gregos, desta maneira, a educação se caracteriza como um elemento fundamental para a
constituição da sociabilidade. Dessa forma, durante os costumes determinariam as normas e valores
a serem utilizados ou transmitidos pelos sujeitos morais, a educação iria se estabelecer como um im-
portante instrumento para o desenvolvimento moral da pessoa. Isto porque na sociedade da polis as
virtudes que elucidam a perfeição moral dos responsáveis sociais poderiam ser transmitidas por meio
dos ensinamentos.

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A educação estaria, pois, no suporte da organização do indivíduo bom e do cidadão exemplar. A for-
mação do cidadão em suas particularidades projeta também a formação do animal político, como di-
zia Aristóteles. A ética não apenas representa o equipamento fundamental para a instauração de um
viver em conjunto, como serve de base à construção do espaço da política.

Disso se entende que, para os gregos, ética e política são instâncias indissociáveis, realidade que se
adicionam. A necessidade de cada homem respeitar os hábitos e os preceitos da sociedade mostra
revela a importância que a ética tem em suas vidas. Nesta ocasião, observamos que os melhores filó-
sofos gregos elaboraram o conceito conforme a qual nenhuma comunidade humana pode sobreviver
sem o mínimo de regras e padrões de conduta, isto é, sem um código de norma. Tal regulamento re-
cebe os ensinamentos que orientam a nossa ação e dizem como devemos nos comportar no mundo
e, principalmente, agir em face do outro. A moral trata deste modo, da atitude do homem, da relação
entre sua vontade e o compromisso de seguir uma diretriz, do que é o bem e de onde vem o mal, do
que é certo e errado, da liberdade e da obrigação de cuidar do próximo. As regras morais mostram
que nossas atitudes resultam em repercussões na coletividade, que cada homem dever ser autô-
nomo e zelar por suas atitudes. A imcubência se forma como parte crucial da vida ética do indivíduo.

Na realidade, o homem só pode ser moralmente responsável pelos atos cuja natureza estranha e cu-
jas influencias pode prever. Também, para que ele possa ser responsável por alguma coisa é neces-
sário que sua ação se realize na falta de colocação externa ou interna. A responsabilidade moral re-
quer, portanto, a necessidade de o homem decidir com autonomia e agir livremente. Porém o pro-
blema da responsabilidade moral depende das aproximações naturais que determinam o comporta-
mento humano (impulsos, desejos, paixões) e da autonomia da vontade. Como o homem é, ao
mesmo tempo, natureza e liberdade, a ética auxiliaria para regular as vontades humanos e controlar
as suas vontades por meio do uso da razão (lagos).

Eis o motivo ela surge quando o homem supera a sua natureza instintiva e se toma membro de uma
coletividade controlado por leis racionais. Apesar disso os processos históricos constatam que tais
leis mudam, quer dizer, a realidade moral. Na qual a sociedade é justa torna-se possível criar um
clima de solidariedade e entendimento recíproco entre os indivíduos. A semelhança deve estar sem-
pre atual em nossas vidas, porque é ela que nos autoriza um viver solidário, responsável e fraterno.
Na medida em que a justiça deixa de ser praticada, os indivíduos ficam expostos à violência, a hostili-
dade e à guerra. A lei é antes de qualquer coisa um valor moral, isto é, um valor que diz respeito aos
princípios morais. Os princípios morais nos ensinam que a justiça é a principal utilidade da vida em
sociedade. A equidade não é algo que exclusivamente se pratica nos tribunais, nos juizados, nos fó-
runs judiciários, mas deve existir no dia a dia de todos nós. Praticar a lei significa favorecer a paz e
respeitar as normas morais.

Assim sendo, não se pode supor que um dia alcançaremos o domínio da paz se não lutarmos para
minimizar as injustiças sociais efetivas na nossa sociedade. A paz é, pois, peça da justiça. A lei é
uma qualidade que deve ser praticada por todo sujeito moral. A ética e a cidadania são o caminho
para a vida indicado pela paz, pelo respeito mútuo, pela independência, pela justiça, pela tolerância,
pela valorização do homem.

A cidadania pode ser visualizada sob diferentes ângulos.

Sob o aspecto normativo implica no respeito às leis em geral. Cada pessoa é livre para agir de forma
que melhor atenda seus interesses, desde que suas ações não violem os limites da legalidade.

Sob aspecto político, implica no direito ao voto em representantes públicos, que cria oportunidades
para cada pessoa influir na condução da administração do Estado. A atual Constituição Brasileira, por
exemplo, torna explícita essa concepção em seu primeiro artigo ao declarar que “A República Federa-
tiva do Brasil tem entre seus fundamentos a cidadania”.

Mas é sob o aspecto social que se encontra a visão mais difundida. Nesta, a cidadania é concebida
como relação de direitos protegidos pelo Estado e disponíveis para todos os sujeitos partes de uma
Nação. Aqui, cidadão é personagem abstrato, formal e legalmente membro de uma nação estado so-
berana.

A noção de cidadania centrada no Estado é uma “invenção da Revolução Francesa. A delimitação

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formal da cidadania; o estabelecimento da igualdade civil, que possibilita o compartilhamento de direi-


tos e obrigações; a institucionalização de direitos políticos; a racionalização legal e separação ideoló-
gica entre cidadãos e estrangeiros; a articulação doutrinária da soberania nacional, que correlaciona
cidadania e nacionalidade; o surgimento das relações diretas e sem intermediários entre o cidadão e
o Estado; são conceitos gerados pela Revolução Francesa de 1789 e que, pela primeira vez na Histó-
ria, abarcam a Nação como um todo” (Brubaker, página 35).

A limitação na concepção de cidadania enquanto direito subjetivo é que representa uma visão indivi-
dualista, onde o papel do outro é mitigado. Na efetivação dos direitos trava-se uma luta de natureza
concorrencial, com apelo ao Judiciário em muitos casos, e cujo objetivo é satisfazer as próprias pre-
tensões sem maiores considerações, desde que nos limites legais, pelo impacto dessa satisfação so-
bre o bem estar coletivo. Esquece-se que direitos são, em larga escala, oponíveis contra o Estado, e
que o Estado, por sua configuração gerencial dos recursos sociais, não produz renda, mas confisca-a
da sociedade. Nessa visão, direitos representam transferências indiretas da produto social para os
beneficiados e livres de ônus para estes. Em certos casos podem representar efetivação de justiça
social e em outros casos meros privilégios.

À visão de cidadania enquanto direitos sociais hegemônicos opõem-se a visão de cidadãos en-
quanto agentes morais. Este modelo funda-se no dualismo agente intencional, ou que exerce deter-
minada ação, e o agente que sofre os efeitos da ação. Tanto o agente intencional quanto o agente
que sofre os efeitos da ação devem ser considerados em um contexto moral e seus correlacionados
aspectos valorativos. A ação do agente intencional voltada para atender objetivos e metas subjetivas
não pode ter como resultado impedir ou levantar obstáculos à ação do outro, nem extrair injustamente
riqueza social da esfera deste (o confisco de riqueza social dá-se por sua apropriação a partir de cri-
térios baseados em desequilíbrios nas relações de poder).

Condição De Vida E Cidadania

A principal razão psicológica que induz mudanças na situação de vida das pessoas apresenta-se nas
condições particulares em que estão mergulhadas e precisam enfrentar na luta pela sobrevivência.
Se essas condições são inadequadas e exigem transformações estruturais, e se sufoca-se o grito por
tais mudanças elimina-se no nascedouro as possibilidades de aprendizado, pela experiência, do sig-
nificado da expressão “interesses pessoais legítimos”.

Na configuração dos interesses pessoais legítimos, autonomia é conceito que ultrapassa a liberdade
de ação individual e exige respeito à iniciativa do outro, com clara delimitação da área de atuação de
cada um em condições de igualdade social.

Delimitação de área de atuação, condição de igualdade e liberdade social são, antes de tudo, práticas
que os sujeitos experimentam, compreendem e atribuem significado durante seus percursos de vida.
Se ficam confinadas apenas no plano abstrato, então não adquirem a força e a eficácia derivados do
enfrentamento das situações diárias postas pela vida e que, pela autorreflexão, apontam para a ne-
cessidade da racionalidade no agir humano.

É no pensar sobre as atitudes, as escolhas e ações empreendidas e nos resultados e objetivos alcan-
çados que se modela a mais adequada forma de ação e se estabelece o padrão de hábitos que com-
põem as rotinas que resultam em melhores condições de vida. Isso é responsabilidade.

Com a incorporação da responsabilidade como prática rotineira, pelo desenvolvimento do hábito da


iniciativa e pela incorporação de novas necessidades decorrentes do ato de existir, elementos esses
englobados no conceito de “autonomia”, identificam-se os requisitos dos processos evolutivos que
fornecem condições para o desenvolvimento sustentável das famílias, dos grupos, das comunidades
e, em visão abrangente, da própria sociedade.

Por outro lado, quando se tutela algum comportamento ou situação na vida de uma pessoa, as possi-
bilidades de escolha de ação são retiradas da esfera do tutelado e transferidas para a responsabili-
dade do tutor. A incorporação da racionalidade na formação psicológica do sujeito que resulta da
compreensão dos méritos e perdas das diferentes escolhas que se apresentam no decurso da experi-
ência é negada. O modelo cognitivo é imposto externamente na tentativa de estabilizar e tornar previ-
síveis os comportamentos do tutelado, restando a este a experiência da conformação.

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Cidadania, Democracia e Agentes Morais

Não basta votar e esperar resultados: o voto é apenas um elemento do sistema democrático. É pre-
ciso mostrar explicitamente aos eleitos o que se espera deles e demonstrar que a natureza de seus
cargos não equivale a empregos bem remunerados. Se não têm condições de desempenhar o papel
a que se propuseram, que renunciem. A velha e surrada frase “donos do poder” já não encontra lugar
em sociedades democráticas, pois pressupõe súditos e não cidadãos ativos.

Também não é factível esperar que qualquer governo, por melhor estruturado e moralmente correto
que seja, resolva todos os problemas políticos, econômicos e sociais das sociedades complexas con-
temporâneas, entre elas o Brasil.

Requer-se que o cidadão participe ativamente da construção social e no funcionamento das Institui-
ções, reinventando a si mesmo, transformando as deficiências e planejando os caminhos a serem se-
guidos. Tal fenômeno exige a expansão do conceito de cidadania em agente moral, no qual o sujeito
racionalmente conhece, age e muda o perfil da sociedade de modo a aumentar o nível de satisfação
e bem-estar geral

A Invenção Da Cidadania

Em algum momento da história humana alguém teve a ideia de que o enfrentamento das necessida-
des de sua comunidade não era necessariamente uma obrigação dos grandes proprietários de terras,
dos economicamente mais abastados, dos chefes militares, dos líderes tribais mais influentes ou
mesmo dos chefes das grandes famílias. Em outras palavras, dos líderes comunitários “naturais”.

Ao contrário, a sobrevivência e o bem-estar comunitário podem ser obtidos de forma mais eficaz se
os assuntos que lhes são afetos forem conduzidos por uma classe de sujeitos que, em função de
qualidades e habilidades pessoais, sejam úteis e valiosos para a comunidade como um todo.

Nasceu, assim, a ideia de cidadania. (Ulrich K. Preuss – O significado difuso de cidadania).

A Cidadania Sitiada

Carente de autorreflexão e diferenciação, a sociedade fragmenta-se em grupos que espelham as ne-


cessidades da divisão do trabalho, sem projeto de Nação. Alguns poucos, em simulacros da expres-
são de liberdade, se engajam em protestos que lembram esforços narcisistas na perspectiva de com-
bater a angústia de vidas sem sentidos. Macunaíma, de Mário de Andrade, é “herói sem nenhum ca-
ráter”.

Talvez encarnemos Macunaímas, pois a corrupção endêmica que assola a vida pública atrai menos
interesse do que a vida de alguém na mídia. A penúria do sistema de educação se seculariza e não é
valorado como meio eficaz para disseminação do que seja vida em sociedade ou, no mínimo, forma
de ascensão social.

Na base de transferência de responsabilidade do privado para o público, pois nos vemos sem respon-
sabilidades sociais além daquelas que atendem eminentemente nossos interesses, contemporizamos
nossa alienação: até que aprendamos o significado de cidadania, o Estado que tutele nossos proble-
mas! Se para cada conduta inadequada for possível criar uma válvula de escape, como nova lei que
simbolicamente ataque a questão, apoiamos sem qualquer constrangimento.

A história mostra a inadequação dessa visão (a educação, desde a época do Império Brasileiro, pa-
dece dos mesmos males de baixa qualidade e inadequação social).

Ignoramos que a solução encontra-se em nós mesmos, em nossa idealização do que seja a pessoa
representada no cidadão.

Não é fácil ou de resultados imediatos e requer entendimento e esforço na mudança de atitudes, ou


incorporação da autonomia como fundamento de vida. Pois cidadania é caracterização psicológica
em que o sujeito compreende e aceita o fato de que vive em sociedade e possui responsabilidades
sociais na medida em que seus comportamentos e valores influenciam outras existências, da mesma
forma que é influenciado.

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Comportamentos e atitudes cidadãs são conquistas que se efetivam no engajamento, no estudo, na


crítica consequente e no agir prudente.

Cognitivamente, é capacidade de diferenciar ações e comportamentos essencialmente privados da-


queles que propiciam ganhos sociais qualitativos. Aqui, dá-se a diferenciação entre cidadania e direi-
tos: direitos são capacidades constitucionalmente asseguradas com o intuito de concretizar a igual-
dade e a liberdade (ambos conceitos morais). Direitos se contrapõem à violações na autonomia e são
eficazes somente em ambientes eticamente embasados pela ideia de participação na construção so-
cial fundada na responsabilidade e justificação de atos. Senão, são apenas formas disfarçadas de pri-
vilégios juridicamente exigíveis de acordo com a posição social de quem os requerer.

A Cidadania Regulada

Foi no Estado Novo de Getúlio Vargas, com a criação e tutela da cidadania de natureza corporativa,
que o cientista política Wanderley Guilherme dos Santos forjou o termo “cidadania regulada”, que de-
signa a condição em que o Estado unilateralmente decide e implementa constitucionalmente os direi-
tos dos cidadãos trabalhadores. O exemplo típico desse período é o início dos direitos de natureza
trabalhista, modelados na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), até hoje prevalente no Brasil.

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