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Adimplemento das

Obrigações
DIREITO CIVIL III
Adimplemento - Conceito
“O adimplemento da obrigação é o fenômeno pelo qual há a
satisfação do interesse do credor, mediante realização da
prestação, identificando, por isso, também causa de extinção da
obrigação.”
Miragem, p. 169.
Em relações de trato sucessivo, há uma continuidade de renovação de direitos e deveres.
•Satisfação do interesse útil do credor.
•Ato do devedor, fato natural, fato de terceiro.
• Demolição de uma casa.
Adimplemento e Pagamento
Adimplemento é gênero – satisfação do interesse do credor mediante o cumprimento de uma
prestação;

Pagamento é espécie – “realização voluntária da prestação, tal qual definida no conteúdo da


obrigação pelo devedor ou por terceiro, nos termos admitidos pelo direito.”
Adimplemento e Boa-fé
Deveres anexos ou instrumentais
◦ Objetivo de realização da finalidade da obrigação
◦ Cooperação, lealdade e respeito a legítimas expectativas
◦ Deveres de proteção
◦ Exemplo – dever de informar a contraparte sobre o conteúdo da prestação na fase pré-negocial, sobre o
estágio de cumprimento ou seus aspectos relevantes na fase de execução.
◦ Antes, durante e depois da execução da obrigação
◦ Deveres tanto do devedor quanto do credor
Adimplemento e Extinção das
Obrigações
Causa de extinção das obrigações – formas de extinção que afetam a eficácia da obrigação, fazendo com
que deixe de produzir efeitos, como que também afete a sua validade
◦ Adimplemento
◦ Pagamento
◦ Dação em pagamento
◦ Novação
◦ Compensação
◦ Confusão
◦ Remissão das dívidas

◦ Outras causas de extinção


◦ Causas Diretas e Indiretas
◦ Diretas – cumprimento da função jurídico-social da obrigação
◦ Indiretas – frustação do vínculo obrigacional: invalidade, declaração de nulidade ou anulação da obrigação, resolução, revogação, denúncia,
por impossibilidade de cumprimento sem culpa do devedor.
Pagamento
“Pagamento é o ato pelo qual o devedor cumpre, realiza a prestação [...] e também cumpre os
deveres anexos e instrumentais presentes na obrigação”.
Miragem, Bruno, p. 158.
- Cumprimento voluntário da prestação devida.
◦ Devedor ou terceiro.

Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se
opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.
Pagamento e Obrigações Sucessivas
“A compreensão atual da noção de adimplemento e satisfação do
interesse útil do credor permite que, em atenção às características
da obrigação, o pagamento se realize não como um ato isolado,
senão por comportamentos sucessivos e encadeados do devedor,
visando ao cumprimento.”
Miragem, Bruno, p. 175.
Princípios do Pagamento
Vários nomes diversos.
Miragem faz a opção por 3:
◦ Princípio da identidade (congruência ou pontualidade):
◦ O cumprimento do dever, ou o comportamento devido pelo devedor tem que observar os termos do objeto da obrigação.
◦ Prestação realizada no tempo devido e de acordo com os aspectos característicos da obrigação.
◦ Princípio da Integralidade:
◦ Pagamento deve ser feito por inteiro.
◦ Princípio da Boa-fé:
◦ Qualificação da conduta das partes e tutela do interesse legítimo na realização da prestação.
◦ Por exemplo, mitigando recusa de pagamento parcial e rejeitando exercício abusivo do direito de crédito.
Princípios do Pagamento
Identidade
◦ Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais
valiosa.

Integralidade
◦ Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a
receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou.
Natureza Jurídica do Pagamento
Natureza jurídica – modo de qualificação dos fenômenos relevantes para o direito
◦ Interpretação do instituto
◦ Definição de seus efeitos

Controvérsia
◦ Há a necessidade de vontade no comportamento que caracteriza o pagamento?
◦ Variação do conteúdo dependendo da prestação devida
◦ Mero fato -
◦ Ato jurídico stricto sensu – vontade relevante para a prática do ato, mas não para seus efeitos
◦ Negócio jurídico – vontade relevante para os seus efeitos
Natureza Jurídica do Pagamento
Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de
só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.
◦ Só vale quando ratificado pelo credor

Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que
não era credor.
◦ Vale quando feito a credor putativo

Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não
provar que em benefício dele efetivamente reverteu.
◦ Não vale quando feito ao credor incapaz de quitar

Segundo Miragem, a questão é de eficácia, e não de validade.


Natureza Jurídica do Pagamento
Pontes de Miranda
◦ Refuta o caráter negocial da obrigação.
◦ Para ele, não há a vontade de extinção, tampouco é necessária a aceitação.
◦ Seria um ato-fato jurídico.

“Nos atos-fatos, segundo a classificação exposta pelo próprio Pontes de Miranda, o direito não se ocupa da
finalidade ou motivação de determinado comportamento humano, que permanece apenas no plano da
realidade; juridicizado será apenas o resultado deste comportamento (o fato), ao qual o direito confere eficácia.”

“Em relação ao pagamento, desse modo, a consequência desta classificação resulta que não é relevante saber
por que o devedor pagou, ou mesmo se pagou contra a vontade, ou com erro. Se realizou o pagamento devido ao
credor, basta para que gere os efeitos devidos, no caso, eficácia liberatória e extintiva da obrigação.”
Miragem, p. 178.
Natureza Jurídica do Pagamento
Decisivo em relação ao pagamento é determinar-se se foi feito satisfazendo o interesse do
credor.
Em caso positivo, surte efeitos.
Exemplos:
◦ Pagamento foi feito por quem era incapaz, em nome do devedor revertendo em favor do credor.
◦ Há a satisfação do interesse e extinção da obrigação.
◦ Pagamento deve ser feito mediante celebração de negócio jurídico, porém é celebrado por alguém que
não possa vender.
◦ Não há a satisfação do interesse do credor.
◦ Exemplos – necessidade de outorga uxória; efeitos da falência, o bem não pertence a quem está realizando o negócio.
◦ Negócio inválido.
◦ Não há pagamento.
Natureza Jurídica do Pagamento
• Efeitos da Entrega de Bem Móvel
Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto
em que ele consistiu.
•Se Bem Móvel for Fungível
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e
consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la.
•Regra e Exceção Quanto à Tradição
Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, em
leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o
alienante se afigurar dono.
§ 1 o Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade, considera-se realizada a transferência desde o
momento em que ocorreu a tradição.

Portanto, em algumas situações, mesmo que a pessoa que realizou o pagamento não poderia tê-lo realizado, ainda assim os efeitos
do pagamento irão ocorrer.
Legítimo proprietário poderá demandar quem realizou o pagamento, exceto se o credor estiver de má-fé.
Condições Subjetivas do Pagamento
De quem deve pagar
- Arts. 304 a 307
A quem se deve pagar
- Arts. 308 a 312
De quem deve pagar
Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o
credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.
Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em
nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.

•Pagamento por pessoa titular de interesse jurídico na extinção da dívida


•Pagamento por pessoa sem interesse jurídico na extinção da dívida
Pagamento por pessoa titular de interesse
jurídico na extinção da dívida
•Devedor – quem deve cumprir a prestação
•Terceiro interessado – não participam da relação, porém podem sofrer as repercussões da
existência e inadimplemento da obrigação
• Exemplos: quem ofereceu garantia da dívida – fiador, proprietário de imóvel gravado por hipoteca,
sublocatário, quem tenha direitos a exercer contra o devedor, e lhe queira preservar o patrimônio.
• Terceiro interessado deve possuir condições de cumprir com a prestação.
• Se houver recusa do credor, terceiro interessado pode utilizar consignação em pagamento.
• Há sub-rogação.
• Obrigação personalíssima não pode ser paga por terceiro, a não ser que o credor consinta
• Desnatura a obrigação originária.
Pagamento por pessoa titular de interesse
jurídico na extinção da dívida
Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:
III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou
em parte.
Pagamento por pessoa sem interesse
jurídico na extinção da dívida
Não há interesse jurídico de terceiro na realização do pagamento
◦ Pai que paga dívida do filho, ou filho que paga a dívida do pai.

Efeitos distintos, dependendo se paga “em nome e à conta do devedor” ou “em seu próprio
nome”
◦ Em nome e à conta do devedor – o faz com a intenção de liberar o devedor da dívida.
◦ Pode utilizar dos meios conducentes à exoneração do devedor, por exemplo, usando a consignação em pagamento.
◦ A possibilidade de oposição do devedor é controversa.
◦ Parte da doutrina entende que a disposição é ineficaz – havendo o pagamento, há a liberação. Único meio hábil de evitar seria a
realização do pagamento pelo próprio devedor.
◦ Tendência é reconhecer a possibilidade de oposição se houver justo motivo, mesmo que moral.
◦ Dívida não exigível (não vencida ou prescrita); possibilidade de compensação.
◦ Como é uma liberalidade aplicam-se as regras sobre doação.
Pagamento por pessoa sem interesse
jurídico na extinção da dívida
Efeitos distintos, dependendo se paga “em nome e à conta do devedor” ou “em seu próprio
nome”
◦ Pagamento de terceiro não interessado em seu próprio nome.
◦ Não pode utilizar os mesmos meios que o devedor para realizar o pagamento;
◦ Credor não pode ser constrangido a aceitar o pagamento;
◦ Terceiro tem direito ao reembolso, porém sem sub-rogação;
◦ Não são mantidos os privilégios e garantias existentes;
◦ Direito a restituir o que pagou, para que não haja enriquecimento ilícito (actio in rem verso)
◦ Eficácia liberatória perante o credor originário, mas não perante o pagador.
◦ Se há desconhecimento ou oposição do devedor em relação ao pagamento, não há a obrigatoriedade de reembolso, desde que
houvesse meios para ilidir a cobrança.
◦ Existência de exceções como compensação, prescrição e até mesmo quanto à própria constituição regular do crédito e validade
da obrigação.
◦ Se os meios de ilidir eram parciais, o reembolso será devido quanto a diferença.
Pagamento por pessoa sem interesse
jurídico na extinção da dívida
Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não
obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.

Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito
por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu.
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor
que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la.
A Quem se Deve Pagar
•Credor
•Representante do Credor
•Alteração do Credor após a constituição da obrigação
A Quem se Deve Pagar
•Credor
• Credor é quem é o titular do crédito na data do pagamento
• Se vários os credores, necessidade de verificação da solidariedade;
• Se houver solidariedade, paga-se a qualquer um dos credores;
• Se não houver solidariedade, o pagamento pode ser feito a cada um, de maneira proporcional;

•Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de
só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.
• Pagamento ao credor;
• Pagamento ao representante do credor;
• Necessidade de comprovação
• Pagamento feito a terceiro, que deverá ser ratificado pelo credor.
• Ou demonstrado que reverteu em proveito do credor.
A Quem se Deve Pagar
Representação: Legal ou Convencional - Art. 115. Os poderes de representação conferem-se por
lei ou pelo interessado.
◦ Legal
◦ Exemplos: pais em relação a filhos menores; tutores e curadores em relação aos respectivos tutelados e curatelados; administrador
em relação da massa na falência; inventariante em relação ao espólio.
◦ Portador da quitação (art. 311)
◦ Mandato tácito – presunção relativa, em face das circunstâncias negociais
◦ Convencional
◦ Mandato
A Quem se Deve Pagar
Pagamento realizado a terceiro que não é credor
◦ Regra geral – não será eficaz
◦ Quem paga mal, paga duas vezes

Em algumas situações pode ocorrer a eficácia do pagamento a terceiro que não é credor
◦ Proteção da confiança legítima – boa-fé a partir da teoria da aparência
◦ Se alguém, em razão das circunstâncias, se apresenta e faz crer que é o legítimo representante do credor, pode ocorrer o
pagamento mediante a crença em critérios objetivos que a legitimam.
◦ Sem instrumento de quitação e sem mandato.
◦ Necessidade de diligência do devedor.
◦ Exemplo: herdeiro aparente – porém aparecem outros herdeiros depois.
◦ Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor.
◦ Credor deverá buscar a satisfação de seu crédito com quem recebeu, com base na vedação ao enriquecimento ilícito.
A Quem se Deve Pagar
Pagamento realizado a terceiro que não é credor
◦ Regra geral – não será eficaz
◦ Quem paga mal, paga duas vezes

◦ Pagamento feito a terceiro que não era credor, desde que ratificado por este, ou se demonstre que o
pagamento reverteu em seu proveito.
◦ Pagamento realizado ao filho do credor; ao transportador da coisa vendida.
◦ Proveito direto – o dinheiro é repassado ao credor;
◦ Proveito indireto – o dinheiro é empregado para despesas que o credor poderia responder;
◦ Neste caso pode haver a consideração de ineficácia do pagamento, em razão da violação à liberdade do credor de disposição do
próprio patrimônio.
A Quem se Deve Pagar
Pagamento realizado a credor incapaz
Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não
provar que em benefício dele efetivamente reverteu.
◦ Capacidade de fato para exercer pessoalmente os atos da vida civil
◦ Poder de disposição sobre o crédito
◦ Exemplo: não há poder de disposição sobre o crédito quando é objeto de penhora; o credor não tenha legitimidade para receber,
como nos casos de credor falido.

E incapacidade em razão da idade?


◦ Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a
ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.
◦ Exclusão da exceção da idade
◦ Se não houve dolo, ou se o pagamento se deu em relação à absolutamente incapaz, em regra o pagamento não produz efeitos.
◦ Apenas será eficaz se comprovado que o pagamento reverteu em seu proveito – ônus do devedor.
◦ Dinheiro chegou ao representante legal, ou foi utilizado para aquisição de bens ou quitação de dívidas.
A Quem se Deve Pagar
Pagamento realizado a credor cujo crédito foi penhorado
◦ Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da
impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger
o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor.
◦ CPC Art. 855. Quando recair em crédito do executado, enquanto não ocorrer a hipótese prevista no art.
856, considerar-se-á feita a penhora pela intimação:
◦ I - ao terceiro devedor para que não pague ao executado, seu credor;
◦ II - ao executado, credor do terceiro, para que não pratique ato de disposição do crédito.

◦ Penhora
◦ Reivindicação do crédito por terceiro
Condições Objetivas do Pagamento
Objeto da obrigação é a prestação.
◦ Pagamento – realização integral da prestação: identidade e integralidade do pagamento.
◦ Exato cumprimento da prestação.
◦ Aliud pro alio invite creditore solvi no potest.
◦ Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais
valiosa.
◦ Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a
receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou.
◦ Porém, em caso de vários devedores de obrigação divisível, é possível o pagamento pro rata.
◦ Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas
obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.
◦ Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua
natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.
Condições Objetivas do Pagamento
Possibilidades de ajuste ou alteração da obrigação
◦ Boa-fé objetiva
◦ Usos e costumes
◦ Oferecida prestação superior, a recusa para reclamar perdas e danos pode ser considerada abuso de
direito. Exemplo – oferecimento de vaga na classe executiva para viajante no mesmo voo.
◦ Recusa a cumprimento parcial sem motivo sério também pode ser causa de abuso de direito.

Aceitação do cumprimento da obrigação parcial não altera a obrigação e nem implica novação.
◦ Se a prestação não for completada, há a possibilidade de configuração de inadimplemento absoluto.
Condições Objetivas do Pagamento
Obrigações pecuniárias e pagamento
◦ Dívidas de dinheiro – prestação consistente na entrega da moeda, em seu valor nominal
◦ Dívidas de valor – conferir ao credor prestação que configure uma situação patrimonial – quantia monetária é uma representação
parcial.

Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o
disposto nos artigos subseqüentes.
Moeda
◦ Reserva de valor
◦ Medida de valor
◦ Meio de pagamento

Em dívidas de dinheiro, a moeda é valor e meio de pagamento. Em dívidas de valor, a moeda é só meio de pagamento.
Assim, as dívidas de valor são, inicialmente, ilíquidas.
◦ Porém, nem toda dívida ilíquida será de valor.
◦ Exemplo, necessidade de cálculo de juros em dívida de valor.
Condições Objetivas do Pagamento
Obrigações pecuniárias e pagamento
◦ Exemplo de dívida de valor – indenização
◦ Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
◦ Avaliação econômica do dano
◦ Em algumas situações, será compensação de dano irreparável

Princípio do nominalismo – pagamento em moeda corrente, pelo valor nominal.


◦ Exceções
◦ Quando a lei admite a constituição de obrigações em moeda estrangeira
◦ Possibilidade de atualização monetária de modo a preservar o valor real da obrigação
◦ Mudança da moeda de curso legal entre o momento da constituição da obrigação e de seu pagamento.
Condições Objetivas do Pagamento
Pagamento em outras moedas – Legislação Antiga
Dec-Lei 857/69 – Legislação sobre moeda de pagamento de obrigações exequíveis no Brasil

Art 1º São nulos de pleno direito os contratos, títulos e quaisquer documentos, bem como as obrigações que exeqüíveis no Brasil,
estipulem pagamento em ouro, em moeda estrangeira, ou, por alguma forma, restrinjam ou recusem, nos seus efeitos, o curso
legal do cruzeiro.

Art 2º Não se aplicam as disposições do artigo anterior:


I - aos contratos e títulos referentes a importação ou exportação de mercadorias;
II - aos contratos de financiamento ou de prestação de garantias relativos às operações de exportação de bens e serviços
vendidos a crédito para o exterior;
III - aos contratos de compra e venda de câmbio em geral;
IV - aos empréstimos e quaisquer outras obrigações cujo credor ou devedor seja pessoa residente e domiciliada no exterior,
excetuados os contratos de locação de imóveis situados no território nacional;
V - aos contratos que tenham por objeto a cessão, transferência, delegação, assunção ou modificação das obrigações referidas no
item anterior, ainda que ambas as partes contratantes sejam pessoas residentes ou domiciliadas no país.
Condições Objetivas do Pagamento
Lei 14.286/21 – dispõe sobre o mercado de câmbio brasileiro
Art. 13. A estipulação de pagamento em moeda estrangeira de obrigações exequíveis no território nacional é admitida nas seguintes
situações:
I - nos contratos e nos títulos referentes ao comércio exterior de bens e serviços, ao seu financiamento e às suas garantias;
II - nas obrigações cujo credor ou devedor seja não residente, incluídas as decorrentes de operações de crédito ou de arrendamento
mercantil, exceto nos contratos de locação de imóveis situados no território nacional;
III - nos contratos de arrendamento mercantil celebrados entre residentes, com base em captação de recursos provenientes do exterior;
IV - na cessão, na transferência, na delegação, na assunção ou na modificação das obrigações referidas nos incisos I, II e III do caput deste
artigo, inclusive se as partes envolvidas forem residentes;
V - na compra e venda de moeda estrangeira;
VI - na exportação indireta de que trata a Lei nº 9.529, de 10 de dezembro de 1997;
VII - nos contratos celebrados por exportadores em que a contraparte seja concessionária, permissionária, autorizatária ou arrendatária nos
setores de infraestrutura;
VIII - nas situações previstas na regulamentação editada pelo Conselho Monetário Nacional, quando a estipulação em moeda estrangeira
puder mitigar o risco cambial ou ampliar a eficiência do negócio;
IX - em outras situações previstas na legislação.
Parágrafo único. A estipulação de pagamento em moeda estrangeira feita em desacordo com o disposto neste artigo é nula de pleno direito.
Inflação no Brasil
Condições Objetivas do Pagamento
Correção monetária – atualização o valor original da obrigação.
Risco de perda do valor da moeda é do credor, até o vencimento.
Após o inadimplemento, o risco passa a ser do devedor.
◦ Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Cláusula de Escala Móvel – “estabelece uma revisão, pré-convencionada pelas partes, dos
pagamentos que deverão ser feitos de acordo com as variações de preço de determinadas
mercadorias ou serviços.”
◦ Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas.
◦ Limites
Condições Objetivas do Pagamento
Limitações à Cláusula de Escala Móvel
CF
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de
sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com
reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

Lei n. 10.192/01
Art. 2o É admitida estipulação de correção monetária ou de reajuste por índices de preços gerais, setoriais ou que
reflitam a variação dos custos de produção ou dos insumos utilizados nos contratos de prazo de duração igual ou
superior a um ano.
§ 1o É nula de pleno direito qualquer estipulação de reajuste ou correção monetária de periodicidade inferior a um ano.
§ 3o Ressalvado o disposto no § 7o do art. 28 da Lei no 9.069, de 29 de junho de 1995, e no parágrafo seguinte, são
nulos de pleno direito quaisquer expedientes que, na apuração do índice de reajuste, produzam efeitos financeiros
equivalentes aos de reajuste de periodicidade inferior à anual.
Condições Objetivas do Pagamento
Limitações à Cláusula de Escala Móvel
Contratos de Financiamento de Imóvel
Lei 10.931/04
Art. 46. Nos contratos de comercialização de imóveis, de financiamento imobiliário em geral e nos de
arrendamento mercantil de imóveis, bem como nos títulos e valores mobiliários por eles originados, com
prazo mínimo de trinta e seis meses, é admitida estipulação de cláusula de reajuste, com periodicidade
mensal, por índices de preços setoriais ou gerais ou pelo índice de remuneração básica dos depósitos de
poupança.
Condições Objetivas do Pagamento
Cláusula de renegociação
◦ Estabelecem condições nas quais poderá haver a renegociação e modificação do objeto da obrigação.
◦ Comum em contratos de comércio internacional e no direito empresarial.
◦ Cláusula de Hardship – dever de renegociação em razão de alteração de circunstâncias.
◦ Não são fatos imprevisíveis - há a antecipação do que pode ocorrer.
◦ Dever de procedimento, e não a obtenção de um resultado determinado.
◦ Técnica de alocação de riscos negociais.
Condições Objetivas do Pagamento
Revisão Judicial do Objeto da Obrigação
◦ Justiça contratual
◦ Equilíbrio entre obrigações comutativas
◦ Cláusula rebus sic stantibus (enquanto as coisas permanecerem as mesmas)
◦ Identificar existência de causas de invalidade
◦ Nulidade (integral ou parcial)
◦ Anulação do negócio
◦ Ente externo – judiciário

Mecanismos
◦ Teoria da imprevisão
◦ Teoria da onerosidade excessiva
◦ Teoria da base do negócio jurídico
◦ Revisão do objeto da obrigação e exceção da ruína
◦ Desproporção manifesta – art. 317
Condições Objetivas do Pagamento
Teoria da Imprevisão
◦ 1 Guerra Mundial – Companhia de Gás de Bordeaux
◦ Contrato com a cidade com o preço do gás
◦ Em razão da guerra, o custo aumentou
◦ O Conselho de Estado acolheu a pretensão da Companhia para o reequilíbrio do contrato em razão da imprevisibilidade da
situação.
◦ Requisitos
◦ Fato superveniente
◦ Desproporção das prestações
◦ Imprevisibilidade no momento da constituição da obrigação
◦ “Imprevisível é o que não é possível, segundo regras ordinárias e de comportamento diligente e probo das partes, antecipar o
conhecimento sobre sua ocorrência.” (Miragem)
◦ Se é previsível, está no risco do negócio realizado.
Condições Objetivas do Pagamento
Teoria da onerosidade excessiva
◦ Permite, em contratos de execução continuada ou periódica, a resolução do contrato caso a prestação de uma das partes
se torne excessivamente onerosa em razão de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis.

◦ Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente
onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o
devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
◦ Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato.
◦ Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja
reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.

◦ Porém – há a possibilidade de manutenção da obrigação


◦ Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do
momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor
real da prestação.
Condições Objetivas do Pagamento
Teoria da base do negócio jurídico
Karl Larenz – “o conjunto de circunstâncias e estado de coisas cuja existência ou subsistência é objetivamente necessária
para que o contrato, segundo o significado que ele dá a ambos os contratantes, possa subsistir como uma relação dotada
de sentido.”
- Possibilidade de, em situações dramáticas, adaptar o contrato à realidade
- Exemplo – fator de ordem econômica, social ou política cuja alteração tenha ocorrido de forma a alterar a finalidade útil do contrato para ambas as
partes.
- CDC art 6º, V
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem
excessivamente onerosas;

Efeitos
◦ Possibilidade de intervenção judicial para a revisão de prestações, visando à preservação do equilíbrio e o atendimento
da finalidade útil do contrato.
◦ Sendo impossível (agravamento da situação de uma das partes não corresponde a um ganho da outra, abre-se a
possibilidade de resolução).
Condições Objetivas do Pagamento
Revisão do objeto da obrigação e exceção da ruína
◦ Derivação da teoria da base objetiva do negócio jurídico
◦ Resposta do direito à alteração das circunstâncias que implique ruína de uma das partes contratantes no cumprimento do contrato,
ou ainda, em razão do desequilíbrio causado por esta mudança na realidade fática, a própria frustração do fim do contrato não
apenas a determinado contratante, senão a todos aqueles que se vinculem ao mesmo contratante, em relação de interdependência
contratual.

◦ Dever de adaptação dos contratos à nova realidade, sem quebra do sistema


◦ Excepcionalidade
◦ Risco de ruína do próprio sistema contratual no qual se integra
Condições Objetivas do Pagamento
Revisão do objeto da obrigação e exceção da ruína
◦ Derivação da teoria da base objetiva do negócio jurídico
◦ Resposta do direito à alteração das circunstâncias que implique ruína de uma das partes contratantes no cumprimento do contrato,
ou ainda, em razão do desequilíbrio causado por esta mudança na realidade fática, a própria frustração do fim do contrato não
apenas a determinado contratante, senão a todos aqueles que se vinculem ao mesmo contratante, em relação de interdependência
contratual.

◦ Dever de adaptação dos contratos à nova realidade, sem quebra do sistema


◦ Excepcionalidade
◦ Risco de ruína do próprio sistema contratual no qual se integra
Condições Objetivas do Pagamento
Revisão do objeto da obrigação e exceção da ruína
PLANO DE SAÚDE. MANUTENÇÃO DE EX-FUNCIONÁRIO EM PLANO COLETIVO EMPRESARIAL (ART. 31 DA LEI Nº
9.656/98). REESTRUTURAÇÃO DO PLANO. Disposição legal que visa garantir aos ex-funcionários a mesma
assistência e valores (com a ressalva do pagamento integral) dos funcionários atualmente ativos. Alteração e
reestruturação do plano pode atingir os funcionários inativos, sendo que o prêmio "poderá variar conforme as
alterações promovidas no plano paradigma, sempre em paridade com o que a ex-empregadora tiver que custear,
evitando assim o colapso do sistema (exceção da ruína), porém, desde que não haja onerosidade excessiva ao
consumidor e a discriminação ao idoso" (REsp 1558456/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, 4ª T., j. 15/09/2016).
Razoabilidade em implantação de plano dos funcionários do Banco Itaú Unibanco S.A. que reúne ativos e inativos
e é dividido por faixas etárias. Autora que se encontra na mesma faixa estaria desde a implantação do novo
plano. Ausência de discussão acerca da legalidade de reajustes aplicados ao plano da autora. Ação improcedente.
Recurso desprovido.
(TJSP; Apelação Cível 1025358-14.2018.8.26.0100; Relator (a): Mary Grün; Órgão Julgador: 7ª Câmara de Direito
Privado; Foro Central Cível - 31ª Vara Cível; Data do Julgamento: 12/08/2019; Data de Registro: 12/08/2019)
Condições Objetivas do Pagamento
Desproporção manifesta – art. 317
Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do
momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real
da prestação.
◦ Desproporção manifesta
◦ Motivos imprevisíveis

Necessidade de utilização conjunta do 421A – Lei da Liberdade econômica


Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença de elementos concretos
que justifiquem o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido
também que:
I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das cláusulas negociais e de seus
pressupostos de revisão ou de resolução;
II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e
III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada.
Condições Objetivas do Pagamento
Desproporção manifesta – art. 317
Miragem:
◦ Alteração de circunstâncias por motivos imprevisíveis não compreende a modificação da situação
subjetiva do devedor, mas sim a impossibilidade objetiva de cumprir tal prestação como pactuada.
◦ Desproporção deve decorrer de fator externo às partes.
◦ Toma-se em consideração a legítima expectativa das partes por ocasião da constituição da obrigação, e
sua frustração a um desequilíbrio manifesto das prestações.
◦ Desequilíbrio não pode ser imputado ao comportamento do prejudicado;
◦ Não pode decorrer da álea normal do contrato.
◦ Imprevisibilidade não se avalia em relação aos fatos em si, mas de sua repercussão.
◦ Juiz deve corrigi-la para assegurar, tanto quanto possível, o valor real da prestação.
Condições Objetivas do Pagamento
Ação de obrigação de fazer - Contrato bancário - Financiamento de veículo -
Pedido fundamentado na paralisação da atividade profissional do autor em
decorrência da pandemia do vírus corona (Covid-19) - Prestação de serviços
de transporte escolar - Aplicação da Teoria da Imprevisão - Incidência do art.
317, do CC - Suspensão do pagamento das parcelas contratuais determinada
- Recurso não provido. 

(TJSP;  Apelação Cível 1003326-84.2020.8.26.0022; Relator (a): Miguel


Petroni Neto; Órgão Julgador: 16ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Amparo - 1ª Vara; Data do Julgamento: 12/05/2022; Data de Registro:
12/05/2022)
Condições Objetivas do Pagamento
APELAÇÃO. AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO C/C COBRANÇA DE ALUGUÉIS E ACESSÓRIOS DA LOCAÇÃO. Locatária
contestou e reconveio. Justificou o inadimplemento nas dificuldades financeiras enfrentadas durante a pandemia de COVID-19
e, em seu favor, requereu que a última atualização monetária das prestações se dê pelo IPCA. Desocupação no curso do
processo. Pedido de cobrança julgado procedente. Despejo e pleito reconvencional dados por prejudicados. Insurgência da
locatária. Parcial cabimento. SUBSTITUIÇÃO DO ÍNDICE. A entrega das chaves não tem o condão de prejudicar a pretensão
revisional da ora recorrente, na medida em que as prestações locativas ainda são devidas até a desocupação. Advento do
aniversário do contrato e, consequentemente, do reajuste anual, no curso da demanda. Conquanto a correção monetária não
revele abusividade, já que visa apenas manter o poder aquisitivo da moeda, é cediço que o IGP-M apresentou elevação
inesperada e desproporcional a partir de 2020. Alteração da base objetiva do contrato. Aumento que supera, em muito, a
evolução dos índices inflacionários. O fator de correção monetária acarretaria extrema vantagem econômica para a locadora,
em um cenário em que as dificuldades econômicas de inúmeras classes sociais, categorias de trabalhadores e atividades
profissionais vêm se agravando significativamente. Inteligência do art. 317 do Código Civil. Prestações vencidas de setembro de
2021 a dezembro de 2021 deverão ser recalculadas com a aplicação do IPCA. Descabimento do desconto pretendido, pois
reservado à hipótese de adimplemento pontual das prestações, o que já não ocorria antes mesmo do ajuizamento da ação.
Sentença reformada em parte. SUCUMBÊNCIA. Redistribuição do ônus. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

(TJSP; Apelação Cível 1010177-42.2021.8.26.0625; Relator (a): Rosangela Telles; Órgão Julgador: 31ª Câmara de Direito
Privado; Foro de Taubaté - 4ª Vara Cível; Data do Julgamento: 26/04/2022; Data de Registro: 26/04/2022)
Condições Objetivas do Pagamento
Ação revisional de contrato - contrato de fornecimento de energia elétrica na modalidade
demanda contratada - autora que atua no ramo de shopping center - notório desequilíbrio
econômico decorrente da crise financeira instaurada com a pandemia do vírus Sars-CoV-2 - arts.
317, 478, 479 e 480 do Código Civil - ordenamento jurídico que ampara a pretensão -
possibilidade de revisão contratual - cobrança que deve observar o regime da demanda
efetivamente consumida - observância da tarifa aplicada ao aludido regime - recurso
parcialmente provido para esse fim.

(TJSP; Apelação Cível 1042410-52.2020.8.26.0100; Relator (a): Coutinho de Arruda; Órgão


Julgador: 16ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 18ª Vara Cível; Data do Julgamento:
14/04/2022; Data de Registro: 14/04/2022)
Do Lugar do Pagamento
Local onde será realizada a prestação pelo devedor
Relevância
• Despesas para a realização do pagamento
• Normas tributárias

•Lugar do pagamento é diferente de foro do contrato


•Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem
diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.
•Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.
Do Lugar do Pagamento
Local onde será realizada a prestação pelo devedor
Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a
imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem.
◦ Prestações relativas ao imóvel – obrigações de fazer sobre o imóvel
◦ Não são prestações referentes ao pagamento de preço
Do Lugar do Pagamento
Classificação
◦ Quérable ou quesíveis – pagamento se dá no domicílio do devedor.
◦ Ir ou mandar buscar

◦ Portables – cumprimento da obrigação em local do credor (onde deve ser recebida a prestação pelo
credor)
◦ cabe ao devedor levar ou enviar, por sua conta e risco, o objeto ao credor ou cumprir a obrigação

◦ Mista - envio
Do Lugar do Pagamento
Despesas para pagamentos de dívidas de envio e remessa
Várias combinações
Incoterms – usos e costumes internacionais

7 para qualquer meio de transporte

4 para transporte marítimo

INCOTERMS 2020 – tabela resumo - Siscomex


Do Lugar do Pagamento
Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado,
poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor.

Motivo grave decorre:


◦ Do devedor – ele assume os custos
◦ Do credor - ele assume os custos
◦ Caso fortuito ou força maior – os custos são divididos

Motivo sério que inviabilize a adequada realização da prestação no local originalmente definido,
sob pena de comprometer a segurança ou o patrimônio das partes envolvidas e o sacrifício de
seus interesses legítimos.
Do Lugar do Pagamento
Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor
relativamente ao previsto no contrato.

Supressio.
Do Tempo do Pagamento
Quando o pagamento deve ser realizado
◦ Data específica
◦ Até certa data
◦ Até certa hora

Se definidos, o elemento tempo integra a prestação.


Do Tempo do Pagamento
Obrigações:
◦ Puras: não se define prazo para pagamento
◦ Condicionas: submetidas a evento futuro e incerto, cujo implemento torna exigível a prestação
◦ A termo: determinado instante temporal que fixa o prazo
Do Tempo do Pagamento
Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento,
pode o credor exigi-lo imediatamente.
◦ Interpretação do momento do cumprimento conforme os usos
◦ Natureza da obrigação pode exigir que se protele a exigência.
◦ Contrato de empréstimo sem prazo.

Interpelação – ato de exigência do cumprimento da obrigação pelo devedor.


Do Tempo do Pagamento
Art. 332. As obrigações condicionais cumprem-se na data do
implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste
teve ciência o devedor.
◦ Contrato de seguro
Do Tempo do Pagamento
Obrigações a termo
◦ Data específica para o pagamento
◦ Ou pagamento até o vencimento

◦ Art. 133. Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do
devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se
estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os contratantes.

◦ Quando o pagamento é até o vencimento, o credor não é obrigado a estar à disposição do devedor a todo
o momento. A mora do credor só ocorrerá se o devedor notificar o credor com prazo razoável para o
recebimento.

◦ Quando o pagamento é em data específica, não poderá o devedor realizar a prestação em momento
anterior.
Antecipação da Exigibilidade da
Prestação
Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no
contrato ou marcado neste Código:
I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;
II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor;
III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e
o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.
Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se
reputará vencido quanto aos outros devedores solventes.
Da Prova do Pagamento
Quitação – ato praticado pelo credor que declara o recebimento da prestação
Termo de quitação – modo pelo qual será realizada a quitação.
Recibo – declaração do credor que recebeu.
Garantia do devedor.
Cuidados:
◦ Que tenha sido emitida pelo credor ou seu representante
◦ Que permita identificar qual seja a dívida e a declaração de que foi satisfeita regularmente
Da Prova do Pagamento
Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento,
enquanto não lhe seja dada.
Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor
e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar
do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante.
Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus
termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida.
Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o
devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido.
Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até
prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores.
Da Prova do Pagamento
Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos.
Art. 324. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento.
Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta
dias, a falta do pagamento.
Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se
ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida.
Art. 326. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das
partes, que aceitaram os do lugar da execução.
Da Prova do Pagamento
Art. 225. As reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos e, em geral, quaisquer
outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova plena destes, se a parte,
contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão.

CPC
Art. 422. Qualquer reprodução mecânica, como a fotográfica, a cinematográfica, a fonográfica ou de
outra espécie, tem aptidão para fazer prova dos fatos ou das coisas representadas, se a sua
conformidade com o documento original não for impugnada por aquele contra quem foi produzida.

§ 1º As fotografias digitais e as extraídas da rede mundial de computadores fazem prova das imagens
que reproduzem, devendo, se impugnadas, ser apresentada a respectiva autenticação eletrônica ou,
não sendo possível, realizada perícia.
Modalidades Especiais de Pagamento
Pagamentos diretos: realização da prestação pelo devedor ao credor
Pagamentos indiretos: intercorrências no programa original da obrigação
(a) o pagamento em consignação;
◦ Entrega da prestação em depósito judicial

(b) o pagamento com sub-rogação;


◦ transfere a posição de credor àquele que realiza a prestação em favor do titular originário do crédito

(c) imputação do pagamento e


◦ Direcionamento do pagamento quando existem diversas dívidas

(d) dação em pagamento


◦ Oferta de outra prestação que não a original
Pagamento em Consignação
Pretensão do devedor
◦ Terceiro interessado ou não interessado poderá realizar o pagamento em consignação, nas mesmas
condições do pagamento normal

Pressupostos
◦ (a) a própria característica da prestação e a possibilidade de que seja realizada sem a cooperação do
credor e, nesta linha, que seja passível de depósito;
◦ (b) que tenha sido consignada a totalidade da prestação e não apenas parcialmente;
◦ (c) a legitimação do devedor (ou terceiro interessado) para consignar, e daquele contra quem propõe a
consignação, seja o credor ou quem o represente;
◦ (d) liquidez e certeza.
Pagamento em Consignação
Alegações do Credor na Contestação
•I) não houve recusa ou mora de sua parte;
•II) a recusa foi justa;
•III) o depósito não foi efetuado no prazo ou no lugar do pagamento; e
•IV) o depósito não é integral, hipótese em que deverá indicar o montante que entende devido.
Pagamento em Consignação
Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário
da coisa devida, nos casos e forma legais.
Art. 335. A consignação tem lugar:
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;
(mora do credor)
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; (mora do credor)
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de
acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.
Art. 336. Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao
objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento. (extinção da obrigação)
Pagamento em Consignação – Juros e
Risco
Art. 337. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para
o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente.
Pagamento em Consignação –
Levantamento do Depósito
Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o
devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação
para todas as conseqüências de direito.
Art. 339. Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, embora o credor
consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores.
Art. 340. O credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito, aquiescer no
levantamento, perderá a preferência e a garantia que lhe competiam com respeito à coisa
consignada, ficando para logo desobrigados os co-devedores e fiadores que não tenham anuído.
Pagamento em Consignação
Art. 341. Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar onde
está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada.
Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado para esse fim, sob
cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha
pelo devedor, proceder-se-á como no artigo antecedente.
Art. 343. As despesas com o depósito, quando julgado procedente, correrão à conta do credor, e, no
caso contrário, à conta do devedor.
Art. 344. O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar a
qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento.
Art. 345. Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente
excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação.
Pagamento com Sub-rogação
Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias
do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores.
Pagamento com Sub-rogação
Transferência de determinada qualidade de uma pessoa a outra ou de uma coisa a outra.
◦ Sub-rogação subjetiva – pessoa
◦ Sub-rogação objetiva – coisa
◦ Não é objeto do presente capítulo

Sub-rogação e cessão de crédito:


◦ Sub-rogação – a transferência de posição se dá com o pagamento
◦ Cessão de crédito – a transferência de posição se dá com o negócio jurídico de transmissão

A cessão é sempre convencional – a sub-rogação pode ser legal ou convencional.


Diferenças entre cessão de crédito e sub-rogação:
◦ Na sub-rogação legal pelo pagamento, o limite é o que foi desembolsado pelo novo credor;
◦ Garantia do cedente ao cessionário quanto a existência e exigibilidade do crédito não existe na sub-rogação,
salvo convenção entre as partes.
Pagamento com Sub-rogação
Sub-rogação parcial: possibilidade
◦ Preferência do credor originário

Art. 351. O credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub-rogado, na


cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não chegarem para saldar inteiramente o
que a um e outro dever.
Pagamento com Sub-rogação
Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:
I - do credor que paga a dívida do devedor comum;
II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que
efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel;
III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.
◦ I – pluralidade de credores
◦ Evitar execução e prejudicar a possibilidade de recebimento do credor
◦ II – Pagamento de credor que tem como garantia imóvel hipotecado
◦ Nesse caso a hipoteca se extingue
◦ Passa a ser titular do crédito com os demais acessórios
◦ III – Terceiro interessado
◦ Passa a ter os direitos e garantias que o credor primitivo dispunha
Pagamento com Sub-rogação
Art. 347. A sub-rogação é convencional:
I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os
seus direitos;
II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a
condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.
◦ I – pagamento e transferência são contemporâneos
◦ Regras da cessão de crédito – art. 348
◦ Discussão quanto aos limites da sub-rogação – art. 350
◦ Caracterização como cessão de crédito?
◦ Decisão do TJSP – se há terceiro interessado realizando pagamento, prevaleceria a natureza de sub-rogação legal, com os limites do
art. 350.
Pagamento com Sub-rogação
AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL –
Insurgência em face da decisão que determinou a substituição do polo ativo,
em razão da cessão do crédito exequendo – Execução deve prosseguir pelo
valor desembolsado pelo codevedor ao adquirir (com deságio) o crédito que
militava em seu desfavor, por se tratar de sub-rogação legal, nos termos do
artigo 346, inciso III, c.c. art. 350, ambos do Código Civil – Decisão mantida
– RECURSO DESPROVIDO 

(TJSP;  Agravo de Instrumento 2168535-91.2019.8.26.0000; Relator


(a): Ana Catarina Strauch; Órgão Julgador: 37ª Câmara de Direito Privado;
Foro Central Cível - 37ª Vara Cível; Data do Julgamento: 11/08/2020; Data
de Registro: 11/08/2020)
Pagamento com Sub-rogação
Art. 347. A sub-rogação é convencional:
II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a
condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.
◦ Necessidade de existência de negócio jurídico válido entre devedor e terceiro.
◦ Negócio jurídico deve ser antecedente ao pagamento.
Imputação do Pagamento
Devedor possui mais de uma obrigação vencida com o devedor, porém não tem condições de realizar o
pagamento de ambas de maneira simultânea.

Imputação do pagamento – é o mecanismo pelo qual se identifica quais obrigações estão sendo pagas.

Requisitos:
◦ (a) que se trate de pluralidade de débitos;
◦ (b) que estes vários débitos tenham um mesmo credor e um mesmo devedor;
◦ (c) que sejam débitos da mesma natureza, líquidos e vencidos; e
◦ (d) que o pagamento feito pelo devedor seja suficiente para adimplir ao menos um dos débitos, mas insuficiente
para extinguir todos eles.
Miragem, p. 237.
Imputação do Pagamento
Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar
a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos.

Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se
aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando
haver ele cometido violência ou dolo.

Art. 354. Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no capital, salvo
estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital.

Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará
nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a
imputação far-se-á na mais onerosa.
Dação em Pagamento
Regra geral – credor não é obrigado a receber prestação diversa, ainda que mais valiosa (art. 313)
◦ Limites da boa-fé e do abuso de direito

Porém, credor pode consentir em receber coisa diversa.

Dação em pagamento – “ato de substituição da prestação originalmente definida para a obrigação, mediante consentimento
do credor, de modo que a outra prestação seja realizada em lugar daquela.” (Miragem, p. 240)

Negócio jurídico bilateral – “devedor oferece e credor aceita receber prestação diversa daquela originalmente devida, dando
causa aos efeitos liberatório e extintivo, próprios do pagamento.”

Necessidade de realização da prestação substitutiva para a configuração como dação em pagamento.


◦ Cuidado para não confundir com a alteração do objeto da prestação, a ser realizada em momento posterior.
Dação em Pagamento
Art. 356. O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida.

Art. 357. Determinado o preço da coisa dada em pagamento, as relações entre as partes regular-
se-ão pelas normas do contrato de compra e venda.

Art. 358. Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará em
cessão.

Art. 359. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação
primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros.
Novação
“Extinção de uma obrigação em razão de uma nova obrigação, que ocupa o seu lugar.”
Miragem, p. 246.
Historicamente – era o mecanismo para a transferência de obrigações. Extinguia-se a antiga, e
criava-se a nova.
◦ Hoje existem outros meios de transmissão de obrigações.

Efeitos
◦ Constitutivo de nova obrigação
◦ Extinção da obrigação anterior
◦ A causa da obrigação nova será a obrigação anterior
◦ Bilateral – contrato
◦ Unilateral – emissão de título de crédito para extinguir obrigação anterior
Novação
Requisitos
•(a) a existência de uma obrigação anterior;
• Pode ser obrigação natural
• Não pode ser obrigação decorrente de negócio jurídico nulo

•(b) a criação de uma obrigação nova;


•(c) o elemento novo (aliquid novi) presente na obrigação nova, que justifique a substituição;
•(d) o ânimo de novar (animus novandi).
• Cuidado – importante deixar expresso no instrumento, sob pena de não ocorrer a novação, e sim uma
garantia da dívida originária.

Miragem, p. 247
Novação
Continuidade da obrigação antiga em relação à obrigação nova:
Súmula 286 do STJ: “A renegociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a
possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores”
Novação
Objetiva (real) – novo objeto
Subjetiva – alteração da(s) parte(s)
◦ Novação por expromissão – sem concordância do devedor
◦ Novação por delegação – concordância do devedor
◦ Delegante – devedor da obrigação original
◦ Delegatário – credor da obrigação original
◦ Delegado – quem assumirá o dever de realizar a prestação na nova obrigação

Mista – alteração objetiva e subjetiva


Novação
Art. 360. Dá-se a novação:
I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior;
II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor;
III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o
devedor quite com este.
Art. 361. Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda obrigação
confirma simplesmente a primeira.
Art. 362. A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de
consentimento deste.
Novação
Art. 363. Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o
primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição.
Art. 364. A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação
em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se
os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação.
Art. 365. Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens
do que contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros
devedores solidários ficam por esse fato exonerados.
Art. 366. Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal.
Art. 367. Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações
nulas ou extintas.
Compensação
“Compensação é modo de extinção das obrigações em razão de serem as mesmas pessoas,
reciprocamente, credora e devedora, uma da outra. As dívidas se contrapõem uma à outra, de
modo que a mesma pessoa é credora em uma e devedora em outra, e a outra devedora naquela
e credora nessa.”
Miragem, p. 254
Facilitação da satisfação de créditos.
Compensação
Espécies:
• Legal
• Convencional
• Judicial
Compensação Legal
•Preenchidos os requisitos, basta alegação do interessado
• Direito potestativo

•Requisitos
• Reciprocidade de dívidas
• Liquidez, exigibilidade e fungibilidade da dívida
• Manifestação do interessado em compensar
• Discussão doutrinária quanto à necessidade
• Miragem entende pela necessidade, porém com efeitos ex tunc – retroagem a data do preenchimento das demais condições
• Relevância?
Compensação Convencional
Convenção das partes
◦ Autonomia privada
◦ Possível a compensação de dívidas que não sejam líquidas, exigíveis ou fungíveis
◦ Pode ser pactuada até mesmo a compensação de créditos futuros, que ainda venham a se constituir
Compensação Judicial
“A compensação judicial é aquela em que havendo a reciprocidade de dívidas, uma delas não é
líquida ou exigível, sendo declarada pelo juiz que a líquida suspende a condenação.”
◦ Oferecimento de reconvenção em uma ação judicial
◦ Sustenta pretensão devida pelo autor da ação;
◦ Uma vez sendo reconhecida pelo juízo, torna líquida e exigível uma dívida que o réu é credor com o
autor da ação
◦ Jurisprudência no sentido da desnecessidade de reconvenção, podendo ser feita na contestação - STJ,
REsp 1524730/MG

Não é possível a compensação após realização de penhora do crédito.


Compensação
Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas
obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.
Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.
Art. 370. Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não
se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada no contrato.
Compensação
Art. 371. O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador
pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.
Art. 372. Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação.
Art. 373. A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto:
I - se provier de esbulho, furto ou roubo;
II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos;
III - se uma for de coisa não suscetível de penhora.
Compensação
Art. 375. Não haverá compensação quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia prévia
de uma delas.
Art. 376. Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever.
Art. 377. O devedor que, notificado, nada opõe à cessão que o credor faz a terceiros dos seus direitos, não pode
opor ao cessionário a compensação, que antes da cessão teria podido opor ao cedente. Se, porém, a cessão lhe não
tiver sido notificada, poderá opor ao cessionário compensação do crédito que antes tinha contra o cedente.
Art. 378. Quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem dedução das
despesas necessárias à operação.
Art. 379. Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no compensá-las, as
regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento.
Art. 380. Não se admite a compensação em prejuízo de direito de terceiro. O devedor que se torne credor do seu
credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exeqüente a compensação, de que contra o próprio
credor disporia.
Confusão
“No direito das obrigações, esta reunião em uma mesma pessoa das qualidades de credor e devedor se
deve, sobretudo, a algum acontecimento posterior à constituição da obrigação, o qual faz com que a
pessoa que, originalmente, detinha a qualidade de credora, também passe a ostentar a qualidade de
devedora, ou o inverso.”
Miragem, p. 267.
Fusão ou incorporação de sociedades
Sucessão hereditária

Eficácia típica será a extinção da obrigação.


◦ Perda da finalidade da obrigação constituída
◦ Ex: Locador e locatário
◦ Porém, necessário averiguar os interesses específicos
Confusão
Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de
credor e devedor.

Art. 382. A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela.

Art. 383. A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a
concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a
solidariedade.

Art. 384. Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação
anterior.
Remissão
Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro.

Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração
do devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir.

Art. 387. A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a
extinção da dívida.

Art. 388. A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente;
de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o
débito sem dedução da parte remitida.

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