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QUESTÃO 01

Item A

Todas as multas fixadas pelo juiz encontram seu fundamento legal em meio
às disposições legais do Novo Código de Processo Civil.

Com efeito, a multa de 2% por embargos protelatórios é prevista pelo artigo


1.026, § 6º, do CPC, que dispõe:

§ 6º. Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o


juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada, condenará o embargante a
pagar ao embargado multa não excedente a dois por cento sobre o valor
atualizado da causa.

Por sua vez, o artigo 77, § 2º do Código de Processo Civil, prevê a aplicação
de multa de até 20% do valor da causa nos casos em que for violada a conduta
prevista nos incisos IV e VI do mesmo artigo:

§ 2o A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à


dignidade da justiça, devendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis
e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa de até vinte por cento do
valor da causa, de acordo com a gravidade da conduta.

Com efeito, os incisos IV e VI preveem, respectivamente, o dever de "cumprir


com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar
embaraços à sua efetivação", e o dever de "não praticar inovação ilegal no estado
de fato de bem ou direito litigioso."

A penalização, neste caso, ao nosso ver, dá-se pela violação ao inciso IV, já
que a oposição de embargos de declaração protelatórios pode ser entendida como
uma tentativa de criar embaraços à efetivação da decisão proferida pelo juízo, no
sentido de determinar a produção de prova percial.

Além disso, o artigo 918, parágrafo único, prevê ser conduta atentatória à
dignidade da justiça o oferecimento de embargos manifestamente protelatórios

Assim, entendemos que a multa de 20% por ato atentatório está prevista no
artigo 77, §2º, cumulado com o inciso IV do mesmo dispositivo, e o parágrafo único
do artigo 918, todos do Código de Processo Civil.
A multa de 10% aplicada por litigância de má-fé, por seu turno, encontra
fundamentação legal no artigo 81 do Código de Processo Civil, que dispõe:

Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a


pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento
do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que
esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as
despesas que efetuou.

De acordo com o artigo antecedente, considera-se litigante de má-fé, dentre


outras hipóteses, aquele que opuser resistência injustificada ao andamento do
processo, o que se encaixa à hipótese retratada no enunciado.

A indenização fixada, por sua vez, é prevista pelo artigo 79 e 81 do Código de


Processo Civil, senão vejamos:

Art. 79. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como
autor, réu ou interveniente.

Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a


pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento
do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que
esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as
despesas que efetuou.

Contudo, uma ressalva há de ser feita. Entendemos que a fixação de


indenização pela prática de litigância de má-fé depende de comprovação dos
prejuízos sofridos pela parte contrária, já que o dispositivo é expresso em prever o
dever em indenizar a parte contrária pelos prejuízos sofridos em decorrência da
ação do litigante de má-fé. Aparentemente, tal demonstração não ocorreu no caso
retratado.

Por fim, acerca da possibilidade de cumulação das penalidades impostas pelo


Juízo, cabe faze as seguintes considerações.

Primeiramente, é de se observar que nos parece excessiva a penalização do


magistrado no caso retratado, já que a prática adotada pelo réu, apesar de
configurar conduta protelatória, não causou às partes ou ao processo dano algum,
parecendo-nos desproporcional a aplicação de todas as penalidades.

Feita essa observação, necessário assinalar que a questão acerca da


possibilidade de cumulação das multas depende da análise da natureza jurídica das
penalidades que se pretende cumular.
Isso porque, a referidas penalidades só não se poderão cumular caso tenham
a mesma natureza, vez que o ordenamento jurídico brasileiro veda o bis in idem.

Theotônio Negrão1 disserta acerca da possibilidade de cumulação de outras


multas com a multa de litigancia de má-fé:

(...) a multa prevista neste artigo é uma sanção punitiva. Para que ela
possa ser aplicada conjuntamente com outras sanções é necessário
que elas exerçam funções distintas (p.ex. Coercitiva ou reparatória).
Um mesmo comportamento não pode ser sancionado mais de uma
vez com a mesma finalidade.

Com efeito, a possibilidade de cumulação da multa por litigância de má-fé e


indenização em perdas e danos é prevista pelo próprio CPC, que, em seu artigo 81,
prevê a aplicação de multa, fixação de indenização e pagamento dos honorários
quando configurada a conduta. Aqui, as penalidades tem claramente natureza
distinta, já que uma tem natureza punitiva, e a outra reparatória. Além disso, esse é
o entendimento adotado pelo STJ no julgamento do Recurso Especial nº 1.250.739-
PA, que, apesar de anterior à vigência do presente Códex processual, encontra-se
perfeitamente aplicável, conforme vê-se abaixo,

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS
DE DECLARAÇÃO COM INTUITO MANIFESTAMENTE PROTELATÓRIO.
CUMULAÇÃO DA MULTA PREVISTA NO ART. 538 DO CPC COM
INDENIZAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ, PREVISTA NO ART. 18, § 2º,
DO MESMO DIPLOMA. CABIMENTO, POR SE TRATAR DE SANÇÕES
QUE TÊM NATUREZAS DIVERSAS. 1. Para fins do art. 543-C do CPC: A
multa prevista no artigo 538, parágrafo único, do Código de Processo Civil
tem caráter eminentemente administrativo - punindo conduta que ofende a
dignidade do tribunal e a função pública do processo -, sendo possível sua
cumulação com a sanção prevista nos artigos 17, VII e 18, § 2º, do Código
de Processo Civil, de natureza reparatória. 2. No caso concreto, recurso
especial não provido.2

Ademais, a possibilidade de cumulação da multa por embargos protelatórios e


por litigância de má-fé, da interpretação extraída do parágrafo único do artigo 918,
do CPC, também é possível pois, conforme preceitua o dispositivo, a oposição de
embargos manifestamente protelatórios é considerada conduta atentatória à
dignidade da justiça - o que enseja na aplicação de multa.
1
NEGRÃO, Theotônio; GOUVÊA. José Roberto F. Código de Processo Civil e Legislação Processual em vigor, 39ª
edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2007, p.145
2
STJ – REsp nº 1.250.739 - PA (2011/0090177-3), Relator: MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUE, Data de
Julgamento: 04/12/2013, Data da Publicação: DJE 17/03/2014.
Quanto à possibilidade de cumulação da multa de litigância de má-fé com
àquela por ato atentatório, não há, no código, qualquer disposição que a proíba ou a
autorize. Nada obstante, entendemos que, por se tratarem de penalidades de
natureza distinta, aplicadas em prol de sujeitos distintos, não há empecilho para sua
aplicação simultânea.

Apesar de ambas as multas terem caráter punitivo, em virtude da gravidade


do ato atentatório, o legislador prevê a possibilidade de cumulação da multa com
demais penalidades, ao dispor que deve o juiz, "sem prejuízo das sanções criminais,
civis, e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa de até vinte por cento do
valor da causa".

Portanto, entendemos pela possibilidade de cumulação das penalidades,


apesar de aparentemente excessivas no caso em tela, nos termos acima expostos.

Item B

A indenização fixada pelo juízo, conforme já demonstrado no item acima,


encontra previsão nos artigos 79 e 81 do Código de Processo Civil.

Contudo, entendemos que não seria aplicável no caso em tela, haja vista a
ausência de prejuízos à parte contrária, já que os embargos foram opostos em face
à negativa do juiz ao pedido de produção de prova pericial pelo réu, ou seja, não foi
causada situação alguma que pudesse colocar o autor em posição de desvantagem,
tampouco de prejuízo.

Caso houvesse razão para a aplicação da indenização, necessário ainda


fazer as seguintes considerações. Nos termos do artigo 81, o magistrado estaria
autorizado a fixar indenização em favor do autor mesmo sem requerimento deste,
contudo, haja vista o princípio odo contraditório e da vedação à decisão surpresa,
contidos no artigo 10 do Código de Processo Civil, seria necessário que houvesse
intimação do réu para que ele pudesse se manifestar a respeito.

Dessa forma, entendemos que a aplicação da indenização, neste caso, não


seria cabível e, ainda que fosse, o juiz não adotou o melhor entendimento, já que
teria de intimar o réu para manifestar-se a respeito.
Item C

A decisão que aplicou as multas e a indenização, no caso em tela, trata-se de


decisão interlocutória. Contudo, por não consistir em hipótese contida no rol taxativo
do artigo 1.015, do CPC, entendemos que não pode ser impugnada através de
agravo de instrumento.

Em razão disso, entendemos que o recurso cabível para combater a decisão


proferida, tanto pelo réu - para desaplicação, quanto pelo autor – para majoração, é
o recurso de apelação, ou em contrarrazões de apelação.

Com efeito, prevê o artigo 1.009, § 1º, do CPC:

§ 1o As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a


seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas
pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação,
eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.

Veja que pouco importa se a parte foi ou não sucumbente na ação, já que seu
interesse recursal está fundado na possibilidade de discussão da decisão
interlocutória em sede recursal, fator este desvinculado do teor da sentença
proferida.

Nesse diapasão, entende-se que a decisão proferida no caso retratado pode


ser impugnada tanto pelo autor, quanto pelo réu, em sede de recurso de apelação
ou em contrarrazões, restando suspensa a preclusão até o momento da prática dos
referidos atos.

Item D

No caso, ao arbitrar o magistrado as multas em alusão aos aclaratórios


considerados protelatórios, com cumulação de multas, temos que, estão são
divididas quanto a seus credores. Senão vejamos.

Com relação à litigância de má-fé, prevista no artigo 81 3 do código processual


civil, é cabível a cominação da multa e da indenização em favor da parte contrária,
3
Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser
superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária
pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou.
assim como a multa de 2% em razão dos embargos de declaração terem sido
considerados manifestamente protelatórios.

Art. 1.026.
§2o: Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o
juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada, condenará o embargante
a pagar ao embargado multa não excedente a dois por cento sobre o valor
atualizado da causa.

Neste diapasão, evidentemente pela letra da lei é incumbência do


embargante pagar ao embargado, ou seja, à parte contrária, os valores a título de
multa por aclaratórios considerados protelatórios.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL.


REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. ART. 538, § ÚNICO DO CPC.
MULTA. EMBARGOS PROTELATÓRIOS.
Os embargos de declaração não têm o condão de rediscutir a
matéria vertida no acórdão embargado, devendo se enquadrar
nos estreitos parâmetros do art. 535, CPC. Inexistindo as
dúvidas apontadas, impõe-se a aplicação de multa
pecuniária em razão do cunho protelatório do recurso.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS COM
IMPOSIÇÃO DE MULTA. UNÂNIME. (Embargos de Declaração
Nº 70046478616, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS).

Em relação ao ato atentatório à dignidade de justiça, o credor seria o Estado,


e o pagamento dar-se-á mediante execução fiscal, conforme preleciona o artigo 77
§3º4 do CPC/15.

Assim, tem-se que a multa por litigância de má-fé, por embargos protelatórios
e a indenização serão pagas em favor da parte contrária, enquanto a multa por ato
atentatória à dignidade da justiça será direcionada ao Poder Público.

Item E

4
Art. 77§ 3o Não sendo paga no prazo a ser fixado pelo juiz, a multa prevista no § 2 o será inscrita como dívida
ativa da União ou do Estado após o trânsito em julgado da decisão que a fixou, e sua execução observará o
procedimento da execução fiscal, revertendo-se aos fundos previstos no art. 97.
Na ocorrência do reconhecimento de litigância de má-fé pelo Tribunal, e não
sendo possível mensurar os danos a serem indenizados, entendemos que a melhor
alternativa seria a liquidação em sede de cumprimento de sentença.

É esta a exegese do artigo 81 §3º do CPC vigente:

Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a


pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por
cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos
prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com
todas as despesas que efetuou.
§ 3o O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja
possível mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo procedimento
comum, nos próprios autos.

Neste ângulo, podemos mencionar que liquidação por arbitramento,


prevista no artigo 509, inciso I, do Código de Processo Civil, nas palavras de Fredie
Didier Jr.:

(...) é aquela em que a apuração do elemento faltante para a completa


definição da norma jurídica depende apenas da produção de uma prova
pericial. (...). Por fim, deve-se proceder à liquidação por arbitramento,
quando assim o exigir a natureza do objeto da liquidação, é dizer, quando a
perícia mostra-se como meio idôneo.5
Por sua vez, a liquidação por procedimento comum, prevista no artigo 509,
inciso II, do CPC, antiga liquidação por artigos, ocorre quando existe a necessidade
de comprovação de fatos novos, ligados ao quantum debeatur.

Também nos ensinamentos de Fredie Didier Jr:

Fato novo é aquele relacionado com o valor, com o objeto ou,


eventualmente, com algum outro elemento da obrigação, que não foi objeto
de anterior cognição na fase ou no processo de formação do título. O novo
não diz respeito necessariamente ao momento em que o fato ocorreu, mas
ao seu aparecimento no processo.6

Assim, caso não fosse possível mensurar os danos decorrentes da litigância


de má-fé, caberia ao juiz determinar a liquidação dos danos, seja através da
modalidade por arbitramento, ou pelo procedimento comum.

5
DIDIER JR, Fredie. e Sarno Braga ,Paula e Oliveira ,Rafael. Curso de Direito Processual Civil - Vol. 2. 1° Ed.
Salvador: Juspodovim, 2007.
6
Ibidem.
Questão 02

Item A

Analisando o enunciado da questão, verifica-se que o Magistrado condenou o


réu e seu advogado, solidariamente, ao pagamento de multa por litigância de má-fé
e indenização, a qual fora arbitrada em 50% do valor da causa.

Contudo, entendemos que o Magistrado não agiu com acerto, vez que o
artigo 79 do Código de Processo Civil é claro ao determinar que “responde por
perdas e danos aquele que litigar de má-fé, como autor, réu ou interveniente”. Deste
modo, nota-se o referido dispositivo legal informa quais são os sujeitos suscetíveis a
punição e, em momento algum, abrange os advogados das partes.

Cumpre informar que o STF – no julgamento da ADI n.º 2.652 – determinou


que a multa por litigância de má-fé, prevista no artigo 14 do CPC/1973 e 81 do
CPC/2015, não se aplica aos advogados, independentemente do regime jurídico a
que estiverem submetidos.

Ressalta-se, inclusive, que o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do


Brasil solicitou ao Supremo Tribunal Federal autorização para ingressar como
assistente na Reclamação Constitucional n.º 17.315, interposta pelo Estado de
Minas Gerais em face de decisão proferida pela 1ª Vara Cível da Comarca de
Uberaba, a qual ofendeu o entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI n. º
2.652, aplicando multa por litigância de má-fé ao advogado público.

Ademais, esta não é a primeira Reclamação Constitucional julgada pelo STF,


cujo fundamento envolva a ADI n.º 2.652, vejamos:

RECLAMAÇÃO. PROCURADOR FEDERAL. MULTA PESSOAL. SANÇÃO


DISCIPLINAR. DESCUMPRIMENTO DA AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE N. 2.652/DF. 1. Os procuradores federais
estão incluídos na ressalva do parágrafo único do art. 14 do Código de
Processo Civil, não sendo possível, assim, fixar-lhes multa em razão de
descumprimento do dever disposto no art. 14, inc. V, do Código de
Processo Civil. 2. Sem discutir o acerto ou desacerto da condenação por
litigância de má-fé - prevista no art. 17, inc. V, do Código de Processo Civil
-, imposta pela autoridade reclamada, tem-se que a condenação pessoal
do Procurador do Instituto Nacional do Seguro Social ao pagamento de
multa processual é inadequada porque, no caso vertente, ele não
figura como parte ou interveniente na Ação. 3. Reclamação julgada
procedente. (Rcl 5133, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno,
DJe de 20/8/2009)

Neste sentido, tem-se também entendimento pacificado do Superior Tribunal


de Justiça, em que afirmam que eventuais danos causados pela conduta do
advogado deverão ser aferidos em ação própria para esta finalidade, vedando a
condenação do advogados nos autos do processo em que supostamente fora
praticada a conduta. Vejamos:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO (ART. 544 DO CPC) - AÇÃO REIVINDICATÓRIA - ACÓRDÃO
DESTE ÓRGÃO FRACIONÁRIO NEGANDO PROVIMENTO AO AGRAVO
REGIMENTAL.
1. "A pena por litigância de má-fé deve ser aplicada à parte, e não ao
seu advogado, nos termos dos arts. 14 e 16 do Código de Processo
Civil." (REsp 1247820/AL, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA
TURMA, julgado em 28/06/2011, DJe 01/07/2011).
1.1. O advogado não pode ser penalizado nos autos em que supostamente
atua como litigante de má-fé, ainda que incorra em falta profissional.
Eventual conduta desleal do advogado deve ser apurada em processo
autônomo, nos termos dos arts. 14, § único, do CPC, e 32 do Estatuto da
Advocacia (Lei 8906/94).
2. Embargos declaratórios acolhidos, para prestar esclarecimentos, sem
efeitos modificativos.
(EDcl no AgRg no AREsp 6.311/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA
TURMA, julgado em 06/02/2014, DJe 19/02/2014)

Portanto, não há que se falar em condenação de advogados por litigância de


má-fé, tendo em vista que não atua como parte ou interveniente no processo e
possui procedimento própria para análise de sua conduta no exercício de sua
profissão.

Item B

A responsabilidade civil do advogado deve ser apurada através de Ação


Autônoma, nos termos do artigo 32 do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos
Advogados do Brasil, a fim de que o advogado possa exercer seu direito ao princípio
do contraditório e da ampla defesa.

Art. 32. O advogado é responsável pelos atos que, no exercício


profissional, praticar com dolo ou culpa.
Parágrafo único. Em caso de lide temerária, o advogado será
solidariamente responsável com seu cliente, desde que coligado com
este para lesar a parte contrária, o que será apurado em ação própria.

Deste modo, caso à parte entenda que o advogado praticou atos que lhe
trouxeram prejuízos, poderá ajuizar ação autônoma indenizatória, a fim de apurar a
conduta e responsabilidade do advogado, bem como ressarcir-se dos danos sofridos
no curso no processo.

Além disso, ressalta-se que a responsabilidade do advogado também é


apurada pela Ordem dos Advogados do Brasil, mediante processo disciplinar,
independentemente da existência de ação judicial indenizatória, tendo em vista a
sua competência para fiscalizar o exercício profissional da advocacia e aplicar
sanções àqueles que atuarem em confronto aos princípios éticos e processuais.

Portanto, conclui-se que o réu pode representar o advogado na Ordem dos


Advogados do Brasil, provocando o início de processo disciplinar para apurar a
conduta profissional do causídico, e, ainda, pleitear seu direito através de ação
judicial indenizatória, a fim de obter certa recompensa pelos prejuízos suportados.

Item C

Entendemos que o Magistrado antes de aplicar as sanções por litigância de


má-fé ou ato atentatório à Justiça deve intimar as partes, notificando-as sobre o
caráter desleal da conduta e, ainda, concedendo prazo para se manifestarem quanto
a possível interpretação equivocada ou deturpada.

Dessa forma, a atuação do Magistrado estaria em consonância ao artigo 10


do Código de Processo Civil, o qual traz a vedação a decisão-surpresa como norma
fundamental do processo, vejamos:

Artigo 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com
base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às
partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria
sobre a qual deva decidir de ofício

Nota-se que esta decisão pode beneficiar a parte que pretende protelar, mas
impedir que as partes participem do processo, apresentando argumento capazes de
influir o resultado da demanda, ofenderia princípios fundamentais e inerentes ao
processo, como: princípio do contraditório, da cooperação e da boa-fé.

Neste sentido, Fredie Didier Jr. é enfático em sua doutrina:

Mais condizente com essa visão do princípio do contraditório é o art.


772, II, do CPC, que impõe ao juiz que, em qualquer momento da fase
executiva, advirta o executado que seu procedimento constitui ato
atentatório à dignidade da justiça. Ora, antes de punir, adverte sobre o
comportamento aparentemente temerário, para que a parte possa se
explicar.
Também deve ser assim a aplicação da multa do art. 77, § 2º, CPC.
Deverá o Magistrado, ao expedir a ordem ou o mandado para
cumprimento da diligência, providenciar advertir esses sujeitos (partes ou
terceiros) de que o seu comportamento recalcitrante poderá resultar na
aplicação de mencionada multa. [...] 7

Conclui-se, portanto, que a parte ou terceiro interveniente precisa saber quais


as consequências de sua conduta, a fim de se defender diante possível equívoco ou,
ainda, evitar que pratique novamente condutas desleais.

QUESTÃO 3

Item A

O Código Processual Civil brasileiro possui princípios que garantem o bom e devido
funcionamento do processo. Entre esses princípios está o da boa-fé processual, que
consiste no dever das partes e de todos os operadores do direito em reger da melhor
maneira os atos processuais.

No caso em tela, a atitude do advogado que, ressalta-se, age em nome da parte, é


totalmente reprovável, pois vai de encontro exatamente a este princípio da boa-fé que se
encontra no artigo 5º do Códex Processual.

Art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-


se de acordo com a boa-fé.

7
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil – Introdução ao Direito Processual Civil, PARTE Geral e
Processo de Conhecimento. 13ª edição. 2018. Salvador/BA. Editora Jus Podivm.
A conduta praticada por é caracterizada como conduta de litigância de má-fé, nos
termos do artigo 80, inciso V, já que consiste em prática temerária.

Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:


V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;

A jurisprudência não se destoa desse entendimento, conforme se verifica do


entendimento do E. TJSP, in verbis:

SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT. AÇÃO DE COBRANÇA DE DIFERENÇA


DE INDENIZAÇÃO. LITISPENDÊNCIA RECONHECIDA PELO
AJUIZAMENTO DE ANTERIOR DEMANDA IDÊNTICA. INFORMAÇÃO
TRAZIDA PELA SEGURADORA E CONFIRMADA PELO AUTOR.
LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ VERIFICADA. CONDENAÇÃO MANTIDA.
REDUÇÃO DA MULTADEVIDA. EXEGESE DO ART. 81 DO CPC. Nos
termos dos arts. 5.º e 77 do CPC é dever das partes agir conforme os
ditames da boa-fé e da cooperação processual. A parte que provoca o
Poder Judiciário por mais de uma vez com fundamento no mesmo
acidente de trânsito, formulando o mesmo pedido, sem motivo
relevante, age como litigante de má-fé. Pela disposição do art. 81 do CPC
a multa por litigância de má-fé deve ser limitada a 10% do valor corrigido da
causa. Recurso parcialmente provido. (TJSP – Apelação nº 1005269-
93.2016.8.26.0114, 35ª Câmara de Direito Privado, Relator Des. Gilberto
Leme, Julg: 24/04/2017).

APELAÇÃO COM REVISÃO ação de obrigação de fazer extinção do


processo sem apreciação do mérito litispendência ocorrência distribuição de
nova ação idêntica sem extinção da precedente motivação indeferimento de
antecipação da tutela - litigância de má-fé configuração - sentença mantida
Recurso não provido. (TJSP – Apelação nº 0038721-67-2012.8.26.0562, 17ª
Câmara de Direito Privado, Relatora Des. Claudia Sarmento Monteleone,
Julg: 05/08/2015).

Dessa forma, por descumprir a parte o dever de boa-fé processual, deve


responder por seu ato.

Item B
O caso exposto, conforme aduzido anteriormente, a conduta é reprovável e
necessita de uma sanção, em razão deste ser ato de litigância de má-fé.

O entendimento pacífico para esse tipo conduta é o da imposição de uma


multa por litigância de má-fé no valor superior a 1% e superior a 10% sobre o valor
da causa, devendo o magistrado se atentar à gravidade do fato para estabelecer o
percentual a ser aplicado.

A previsão para a aplicabilidade desta sanção está no artigo 80 do Código de


Processo Civil:

Art. 81.  De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a


pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por
cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos
prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com
todas as despesas que efetuou.

§ 1o Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará


cada um na proporção de seu respectivo interesse na causa ou
solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária.

§ 2o Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser


fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo.

§ 3o O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível
mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos
próprios autos.

Portanto, com o intuito de evitar a repetição de ato repreensível, em um


primeiro momento a forma de punição adequada é a imposição de multa por
litigância de má-fé em prol da parte contrária.

Além disso, caso entenda o magistrado que a conduta do advogado viola os


preceitos do Código de Ética e Disciplina da OAB, também poderá, mediante
processo administrativo, representar perante o Tribunal de Ética e Disciplina da OAB

Item C

Ocorre no caso retratado o fenômeno da litispendência, já que foram


distribuídas duas ações idênticas, encaixando-se na hipótese do artigo 337, § 1º, do
Código de Processo Civil.
Dessa forma, deve ser declarado prevento o juízo onde ocorreu
primeiramente a distribuição da petição inicial, conforme estabelece o artigo 59 do
Código de Processo Civil:

Art. 59.  O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo.

Desta maneira, em razão do juízo prevento ser àquele em que primeiramente


foi distribuída a petição inicial, deve ser ele o juízo competente para impor a sanção,
qual seja, a aplicação da multa por litigância de má-fé.

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