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Revista da Faculdade de Direito – Universidade São Judas Tadeu

APONTAMENTOS SOBRE O MANDADO DE SEGURANÇA


COLETIVO: A SUBUTILIZAÇÃO DA PANACEIA CONTRA
SEÇÕES DO ARTIGO A ARBITRARIEDADE
1. Da origem do Mandado
de Segurança Rubens Ferreira Junior
Doutorando em Processo Constitucional Tributário, Mestre em Direito Administrativo pela Pontifícia Universidade
2. Da Evolução do Mandado
de Segurança Católica de São Paulo, Especialista em Direito Tributário pela COGEAE PUC-SP, Advogado e Professor Universitário.

3. Apontamentos Iniciais
Sobre o Mandado de
Segurança Coletivo
4. Direitos Tutelados pelo
Mandado de Segurança
Coletivo: Individuais
RESUMO ABSTRACT
Homogêneos, Coletivos em O presente artigo explicita todo o histórico do Mandado de Segurança This article explains the entire history of the Writ of Mandamus from its
Sentido Estrito e Difusos desde suas bases até sua atual conjuntura no ordenamento jurídico bases to its current situation in the Brazilian legal system, specifying the
4.1 D
 os Direitos Individuais brasileiro, especificando as vicissitudes de sua aplicação e a sua changes in its application and its evolution until the Collective Writ of
Homogêneos evolução até o mandado de segurança Coletivo. Também aborta as Mandamus. It also addresses the issues inherent in the legitimacy of the
questões inerentes a legitimidade do Mandado de segurança coletivo collective writ of mandamus against class actions, so reticent in Brazil,
4.2 D
 ireitos Coletivos
em Sentido Estrito frente às class actions, tão reticentes no Brasil, o qual importou which imported a figure without civil society being properly organized
figura sem que a sociedade civil estivesse devidamente organizada and developed, which raises doubts regarding the representativeness
4.3 D
 ireitos Difusos e desenvolvida o que ocasiona dúvidas frente a representatividade of this relevant measure in favor of rights. diffuse and collective.
5. Da Liquidez e Certeza no desta relevante medida em prol dos direitos difusos e coletivos. Finally, it addresses the issue of res judicata and raises an eventual
Mandado de Segurança: Por fim, aborda a problemática da coisa julgada e suscita eventual unconstitutionality of art.22 of the Collective Writ of Mandamus Law,
o Problema das Provas inconstitucionalidade do art.22 da Lei do Mandado de Segurança, o which seems to denote anti-republican precepts.
6. Da Representatividade qual parece denotar preceitos antirrepublicanos.
no Mandado de
Segurança Coletivo KEYWORDS
7. Da Coisa Julgada nos PALAVRAS-CHAVE Collective writ of mandamus. Res judicata. Class entities.
Ações Coletivas
Mandado de segurança coletivo. Coisa julgada. Entidades de classe. Representativeness.
8. Da Coisa Julgada Representatividade.
no Mandado de
Segurança Coletivo
9. Considerações Finais
Referências Bibliográficas
Notações

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1. Da Origem do Mandado de Segurança 2. Da Evolução do Mandado de Segurança


No Brasil, o mandado de segurança surgiu como substituto da chamada Com o advento do Estado Novo, o mandado de segurança criado
“ação sumária especial”, prevista na lei federal 221/1894, que visava em 1934 foi suprimido do texto constitucional de 1937, sendo que
assegurar direitos individuais diante de “lesão por atos ou decisão das sua regulamentação infraconstitucional pela lei 191/36 continuou
autoridades administrativas da União”, nos termos de seu artigo 1301, subsistindo, mas foi consideravelmente restringida pelo decreto-lei
através de um rito próprio chamado “processo summario especial”, previsto 6/37. Evidentemente, enquanto antídoto da ilegalidade, o mandado de
nesse mesmo diploma legal. segurança não seria bem acolhido pelos regimes totalitários que se
Antes de se aprofundar o tema, vale advertir que o mandado de sucederam, tanto que o próprio Código de Processo Civil de 1939, em
segurança não equivale ao writ of mandamus do Direito saxônico. Ainda seu artigo 32007 vedava sua aplicabilidade na seara tributária.
que ambos visem coibir a ilegalidade da autoridade coatora, o primeiro A retomada de seu status como garantia constitucional ocorreu
equivale a uma ação, um remédio constitucional hoje considerado, e em 1946, no artigo 141 § 2408, em que se nota a supressão do termo
o segundo consiste em mera ordem judicial e não ação propriamente “incontroverso”, mantido apenas o enunciado “direito líquido e certo”,
dita, geralmente proferida em processo em curso por ilegalidade da deixando de ser requisito a manifesta e incontestável ilegalidade;
primeira corte02. Ressalta-se, entretanto, a extrema importância do writ of bastaria que a ameaça a direito fosse provada documentalmente
mandamus, que passou a possibilitar de forma clara o controle dos atos de plano com os documentos acostados na inicial ou em poder de
da Administração Pública, como no famoso caso Malrbury vs. Madson03. terceiros que injustificadamente os retivessem. O posicionamento até
Entre 1926 e 1934, sem unanimidade, os tribunais admitiram a proteção hoje assentado nos tribunais09 é que a contestabilidade do direito não
liminar (possessória) de direitos individuais ofendidos pela Administração gera óbice à propositura do mandado de segurança.
Pública, mesmo que na ausência de uma ação própria e bem delimitada
para tanto, uma vez que o habeas corpus, de cunho personalíssimo, Após a Constituição de 1946 foi editada a lei 1.533/51, que vigorou por
restringia-se apenas ao direito de locomoção. mais de meio século, ao lado das leis 4.348/64 e 5.021/66, até ser revogada
pela lei 12.016/09, que disciplina o atual rito do mandado de segurança.
O mandado de segurança enquanto criação brasileira, surgiu na
Constituição de 193404 e foi regulamentado pela lei 191/36, com o escopo A Constituição de 1967 manteve a garantia do mandado de segurança
de tutelar direitos não amparados por habeas corpus, muito semelhante ao em seu artigo 150 §2110. Mesmo com a promulgação do Código de
judicio amparo mexicano, como observa Celso Agrícola Barbi05. Processo Civil de 1973, a antiga lei do Mandado de Segurança – Lei
1.533/51 – continuou válida, no entanto, foram editadas duas leis para
Como afirma Themistocles Brandão Cavalcanti, a “criação do mandado
adaptar o rito às especificidades do código processual recém vigente,
de segurança traduzia, por certa forma, não somente o clamor dos que
as leis 6.014/7311 e 6.074/73.
percebiam a imprescindibilidade de uma medida liberal para proteção dos
direitos primários do indivíduo, insuficientemente protegidos pelo habeas Finalmente com a Constituição de 1988, em paralelo ao acréscimo
corpus”06, ou seja, de controlar os atos da Administração Pública contrários de novas garantias como o mandado de injunção e o habeas datas,
a direitos e garantias individuais que estivessem além da liberdade de ampliou-se o alcance do mandado de segurança para abrigar a nova
locomoção já salvaguardada pelo habeas corpus. categoria do mandado de segurança coletivo, objeto deste artigo.

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3. A
 pontamentos Iniciais sobre o com a classificação quinária dos provimentos jurisdicionais, mais do que
Mandado de Segurança Coletivo condenatória, é dotada de comando impositivo e seu descumprimento
pode configurar crime. Apesar de ambos terem natureza mandamental,
Diferentemente do mandado de segurança individual, o mandado de
o provimento no mandado de segurança coletivo não se confunde com o
segurança coletivo intende salvaguardar os direitos difusos, coletivos e
individual, segue regras e princípios19 próprios do processo coletivo.
individuais homogêneos. Constitui instrumento necessário para tutelar
a chamada sociedade em rede12, prestigiando com maior efetividade o Desse modo, embora se aproximem enquanto provimento jurisdicional, até
Estado de Direito, uma vez que as tutelas individuais já não acompanham mesmo com aplicabilidade semelhante20, não há como considerar o mandado
as vicissitudes sociais típicas dessa sociedade. de segurança coletivo uma adaptação do instrumento individual para fins
coletivos, especialmente em função da sistemática processual distinta, com
A ausência de tutela jurisdicional adequada repercute tanto na celeridade
destaque para o que preveem os §§ 1º e 2º do artigo 22 da lei 12.016/0921.
quanto na abrangência da função judicante do Estado e afeta a persecução
de seu fim último, o interesse público, o que em uma sociedade em massa Sua natureza autônoma é corroborada, por exemplo, pelo fato de que,
pode acarretar danos catastróficos. diferentemente do mandado de segurança individual, o coletivo, assim
como as demais ações coletivas, não pode ser impetrado relativamente a
Seria de ingenuidade ímpar cogitar que toda e qualquer pessoa lesada
matérias tributárias, de modo a se “impedir o cabimento da tutela coletiva
em seus direitos recorreria ao Judiciário para garanti-los, por inúmeras
de interesses transindividuais em matérias que se poderiam voltar contra
razões, desde limitações de ordem cultural, como o descrédito do Judiciário,
o próprio governo”22, sob uma perspectiva que muito destoa das premissas
ou motivações políticas entre as quais o temor a represálias, bem como
relativas ao interesse público23.
limitações de ordem econômica que impossibilitam o indivíduo de arcar com
as custas de uma ação judicial, e ainda as razões de ordem educacional, a
refletir muitas vezes a completa ignorância sobre os direitos. A recorrente 4. D
 ireitos Tutelados pelo Mandado de
conduta de não se socorrer da tutela estatal diante de um ilícito não reparado Segurança Coletivo: Individuais Homogêneos,
consubstancia o que no Direito Penal recebe a denominação de cifra negra13. Coletivos em Sentido Estrito e Difusos
O mandado de segurança coletivo visa a “representação de interesses
4.1 Dos Direitos Individuais Homogêneos
difusos” 14 sob a perspectiva de uma “segunda ordem mundial de
acesso à justiça”, voltada não apenas ao acesso à justiça, mas à sua Os direitos individuais homogêneos não são direitos coletivos
universalização15. Sua criação abarca também veemente busca por propriamente ditos, sua criação e categorização visam prevenir demandas
eficiência e economia processual, principalmente no que diz respeito aos repetitivas, prestigiando assim a economia processual, por isso são
direitos individuais homogêneos ou “acidentalmente coletivos"16, assim considerados acidentalmente coletivos. Inspirados no class action for
chamados por implicarem direitos individuais que por razões políticas damage, de procedência norte americana, privilegia questões comuns sobre
são tratados como coletivos17. as individuais, desde que apresentem similaridade de direito e de fato24.
Assim como no individual, a natureza do provimento jurisdicional do Os requisitos para configurar a homogeneidade do direito seriam
mandado de segurança coletivo é mandamental18, ou seja, de acordo essencialmente o próprio dever (na debeatur), quem deve (quis debeat)

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e o que deve (quid debeatur)25, essenciais para a análise sob o viés do e extrapatrimonial, não há que se cogitar em individualização nem prévia
processo coletivo. nem póstuma do processo. “É o direito difuso o de cada um e de todos.
De todos e de cada um”29.
Não cabe aqui a hipótese de mandado de segurança coletivo preventivo,
dada a dificuldade (senão impossibilidade) de identificar os possíveis O mandado de segurança coletivo deve ter sua eficácia expandida,
lesados pela extensão do dano. sem sofrer restrições de nenhuma monta que venham a limitar direitos
difusos30. Nesse sentido, o artigo 5º, inciso LXIX31 da Constituição da
Outros aspectos fundamentais são que a tutela de direitos individuais
República é demasiadamente amplo de forma proposital, para abarcar
homogêneos deve abranger pessoas determináveis e a obrigação deve
o maior espectro de direitos difusos possível e assim propiciar ótima
ser divisível quando da sentença, mas não no transcorrer do processo de
eficácia dos direitos fundamentais32. No entanto, este entendimento é
conhecimento, até porque o legitimado extraordinário não poderia dispor
ainda objeto de discussão no STF33; como informa o ministro Barroso,
de direito alheio. Ressalta-se, entretanto, que caso ocorra o chamado fluid
ainda é questionável a utilização do mandado de segurança coletivo
recovery26, o direito volta a se tornar indivisível.
como instrumento de tutela de direitos difusos.

4.2 Direitos Coletivos em Sentido Estrito

Os direitos coletivos em sentido estrito, previstos no §1º do artigo 22 da 5. D


 a Liquidez e Certeza no Mandado de
Lei do Mandado de Segurança, foram inspirados no artigo 81 do Código Segurança: o Problema das Provas
de Defesa do Consumidor. É possível determinar seus titulares, assim O mandado de segurança é a ação de rito mais célere e que admite a prova
como ocorre em relação aos direitos individuais homogêneos, mas com preconstituída, obstada a dilação probatória nesse contexto. Será mesmo?
estes não se confundem, posto que seu requisito é a existência de uma
Considerando que os apontamentos acerca do mandado de segurança
relação jurídica prévia e única da qual seus titulares fazem parte, essa
individual aplicam-se igualmente ao processo coletivo e, conforme Celso
relação jurídica base comporta necessariamente os titulares entre si27 ou
os titulares e a parte contrária28. Agrícola Barbi aponta, os conceitos de liquidez e certeza implicam condição
básica para a impetração de mandado de segurança34, os fatos devem ser
Diversamente dos individuais, os direitos coletivos em sentido estrito são
comprovados, sem qualquer chance de dúvida, através de prova unicamente
indivisíveis e têm estrutura unitária, não passíveis de cisão, mas poderiam
documental e auferível de plano. Consoante Grecco, “o direito líquido e
eventualmente ser fruídos individualmente, porém jamais de modo exclusivo,
certo no mandado de segurança diz respeito à desnecessidade da dilação
a exemplo dos direitos dos membros de uma determinada associação.
probatória para a elucidação dos fatos em que se fundamenta o pedido”35.

4.3 Direitos Difusos Na mesma direção, Leonardo Carneiro da Cunha assevera:


Quando se diz que o mandado de segurança exige a comprovação de
Os titulares dos direitos difusos são completamente indetermináveis em
direito líquido e certo, está-se a reclamar que os fatos alegados pelo
quaisquer fases do processo, existe uma indivisibilidade plena do objeto, impetrante estejam, desde já, comprovados, devendo a petição inicial vir
que aproveita a todos sem exceção e, a contrario sensu, sua ignorância a acompanhada dos documentos indispensáveis a esta comprovação. Daí
todos prejudica. Ou seja, por se tratar de um direito indivisível, transindividual a exigência da prova no mandado de segurança, ser pré-constituída36.

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Este posicionamento deve ser radicalmente revisto, pois retrata uma da outra parte (no caso, a autoridade coatora) poderá e deverá ser anexada
linha de raciocínio alheia ao Estado de Direito. É evidente que o mandado ao processo e sua ausência no momento de impetração do mandado de
de segurança não dá lastro a provas periciais, testemunhais ou mesmo a segurança não caracteriza ausência dos pressupostos processuais ou de
olvidada inspeção judicial, porém é plenamente admissível a juntada de condições da ação.
provas documentais das mais diversas, ainda que não apresentadas em
Conforme já mencionado, não há que se falar em dilação probatória,
sede de liminar no mandado de segurança.
apenas a prova pré-constituída é admitida no mandado de segurança.
Não são raros os problemas de juntada documental referentes ao Comporta exceção, entretanto, o incidente de falsidade documental previsto
ato coator ou ilegal para o lastro probatório no mandado de segurança, no artigo 43045 do Código de Processo Civil, devendo ser instaurado sem
porém, seguindo a sistemática do ônus dinâmico da prova nos termos prejuízo do rito do mandado de segurança. Prestigia-se a segurança jurídica,
do §2º do artigo 37337 do Código de Processo Civil, uma vez identificada a justiça da própria decisão, sem ferir a celeridade processual e sem fadar
a impossibilidade, ou mesmo a dificuldade, da parte em juntar prova do o processo ao fracasso, não sendo devida a remessa às vias ordinárias46.
ato coator, caberia ao magistrado ordenar que a própria Administração
Caso a prova produzida no mandado de segurança seja insuficiente,
o fizesse, a fim de possibilitar a cognição exauriente do writ. Inúmeros
duas são as consequências possíveis: ou o mandado de segurança deverá
argumentos de ordem constitucional justificam esta posição, desde o direito
remeter as partes à via ordinária, ou a decisão não será tutelada pela
de informação previsto no artigo 5º, inciso XIV38, uma garantia constitucional
coisa julgada material (a decisão não será imutável), hipóteses a serem
inquestionável conferida ao particular, bem como o mandamento do artigo
detalhadas adiante, após a abordagem acerca dos legitimados no mandado
3739 caput, que obriga a própria Administração Pública, com fundamento
de segurança coletivo.
no princípio da publicidade, a informar todos os seus atos, e de outra forma
não poderia ser, haja vista as premissas do princípio republicano, sensíveis
à luz do artigo, 34, inciso VII, alínea “a” 40-41 – da Constituição da República. 6. Da Representatividade no Mandado
Dinamarco com clareza explica que provas pré-constituídas são “as provas
de Segurança Coletivo
emprestadas e os documentos em geral, que já foram formados e existem De natureza jurídica diversa do individual, o mandado de segurança
antes e fora do processo”42, ou seja, se o documento existe, porém o acesso coletivo é inspirado nos critérios das Class Actions norte americanas,
ao mesmo é obstado injustificadamente, é plenamente cabível a via do quando comprovado que consistem na melhor opção para representar a
mandado de segurança para coibir ou suprimir ilegalidade. Corroborando este classe em juízo, em termos de condições técnicas jurídicas e financeiras47,
entendimento, o Código de Processo Civil também informa em seu artigo sendo que até mesmo os advogados devem demonstrar capacidade para
6º 43 que existe precipuamente o dever de cooperação entre as partes, em desenvolver tais ações – haja visto que essa condição também repercute
nome dos primados da boa-fé objetiva44 e da supremacia do interesse público. nas chances de sucesso na persecução dos interesses do grupo –, de modo
a caber sua impugnação pelos indivíduos a serem tutelados, justamente
Já tivemos a oportunidade de nos manifestarmos a respeito da boa-fé
para evitar má condução processual48.
objetiva como corolário da moralidade na seara da Administração Pública,
incluindo o dever de prestação de informações dos entes públicos como No Brasil, também se vale da ótica da representatividade adequada, ainda
anexo à boa-fé objetiva . Sob esse viés, a prova já produzida, mas em poder que de forma tênue. Vale destacar que no contexto nacional, em termos de

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representatividade, as ações coletivas praticamente dependem da sociedade De fato, nada garante que as associações constituídas com propósito
civil organizada para promover direitos transindividuais, já que o senso de específico sejam os legitimados mais adequados para as ações coletivas,
coletividade a organização e o espírito publicista em nossa sociedade não todavia há de se convir que é um indício bem razoável sobre a sua capacidade
são denominadores comuns a todo e qualquer cidadão brasileiro. de estar em juízo, e se de fato uma associação pode desvirtuar-se de seu
fim, mesmo sendo de propósito específico, chance maior assiste a uma
Esta conclusão trágica e triste acaba por limitar as class actions dentro do
associação que se configure como legitimado universal.
cenário brasileiro, o que se deve em grande parte ao fato de que os direitos
na sociedade brasileira, de maneira geral, foram instituídos de cima para Assim, não corroboramos com o posicionamento do autor mencionado.
baixo e não através da luta de classe impulsionada por uma sociedade A despeito da impossibilidade de presumir-se má-fé, a lei deve comportar
conscientizada sobre seus direitos e sobre a importância de tutelá-los. a devida cautela – ao menos minimamente – para evitar que seus
instrumentos de tutela sejam usados com propósitos insidiosos. Cautela
Direitos outorgados e não conquistados perdem seu vetor axiológico para
esta, que seria demasiadamente atenuada ao se permitir a formação de
a população. No reverso de Shakespeare49, somente através do sofrimento e
associações que não comportem propósitos específicos das tutelas as
da busca incessante de seus objetivos é que não se esvazia o valor inerente
quais pretende assegurar.
a uma conquista, como é o caso dos direitos fundamentais – inclusive os
direitos de terceira dimensão –, garantidos em sua maioria pelas ações A coisa julgada secundum eventum litis51, a nosso ver, mostra-se
coletivas. Ou seja, direitos concedidos sem prévia conquista popular ou razoável, haja vista tratar-se de legitimidade extraordinária por substituição
sem a devida valorização social podem se esgotar nulos na prática. processual52 (uma exceção do sistema que deve ser analisada com cautela);
impor ao particular os efeitos de eventual sentença da qual sequer teve
A pertinência temática entre a entidade representada e o que se pretende
conhecimento seria desarrazoado e contrário aos ditames da adequada
tutelar, respeitadas opiniões díspares, é requisito indispensável para a atuação do Poder Judiciário.
validade da propositura do mandado de segurança coletivo, de modo que,
por exemplo, pela especificidade dos objetivos de uma dada associação, Por se tratar de uma exceção, compreendemos que o rol de legitimados
não seria razoável pressupor que outra, de propósito distinto, possuiria no mandado de segurança coletivo deve ser considerado taxativo53, não
mais capacidade técnica para o intento da impetração, caso contrário a cabendo no que tange à legitimidade interpretação extensiva, o que delegaria
própria noção de class action cairia por terra. Sobre este tema Marcos a outros legitimados não contemplados pelo legislador maiores poderes,
Vinícius Pinto explana que: situação reprovável em um Estado de Direito demasiadamente preocupado
com o abuso de prerrogativas e com a relativização do interesse público54.
O legislador brasileiro elegeu, a priori, quais seriam os legitimados para as
ações coletivas, o que não significa que serão representantes adequados. A necessidade de autorização dos membros do grupo, categoria e classe
Nada garante que os órgãos legitimados tenham a expertise técnica, para validar sua legitimação passou por grandes questionamentos tendo
lastro econômico e até o conhecimento jurídico para a adequada defesa,
por base o próprio artigo 5º, inciso XXI55 da Constituição da República, bem
em juízo, dos interesses da coletividade. (...) Não são desconhecidas
como o artigo 2º-A (incluído pela medida provisória 2.180-35/2001) da lei
demandas ajuizadas por associações que, embora preencham
formalmente os requisitos legais, perseguem, em verdade interesses 9.494/9756. Ambos dispositivos legais induziriam à conclusão de que seria
exclusivo de seus fundadores e diretores sob a roupagem camuflada de necessária a autorização expressa como condição para a propositura da
legitimados coletivos.50 ação, como defendido por Lucia Valle Figueiredo57, contudo o próprio STF

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em outros tempos entendeu de forma diversa, acompanhado de grande 7. Da Coisa Julgada nos Ações Coletivas
parte da doutrina58.
A sentença no mandado de segurança poderá ser declaratória, constitutiva
A doutrina e a jurisprudência, neste sentido, têm traçado veredas tão ou condenatória, esta última poderá ser ainda mandamental ou executiva
labirínticas que fariam inveja a Ícaro e Dédalo. As diversas opiniões díspares lato sensu. Para o aludido remédio, a coisa julgada tem fundamento na lei
e a jurisprudência têm se posicionado de forma conflitante. 12.016/09, em seus artigos 6º, 6º§6º e 19, baseados na antiga lei 1.533/51.
Em síntese, antes do RE 573.232/SC, o STF entendia tratar-se de A coisa julgada nas ações coletivas será secundum eventum litis e
representação extraordinária e, assim sendo, seria desnecessária a assume duas vertentes: na primeira, a coisa julgada forma-se em relação
autorização dos membros da organização, que agiria em nome próprio na a terceiros – vítimas ou sucessores – apenas se a ação for procedente;
defesa do interesse de outrem, o que ensejou a Súmula 62959. Posteriormente na segunda, a insuficiência de provas não gera coisa julgada, ao que se
ao mencionado recurso, ficou assentado que se trata de representação denomina secundum eventum litis vel probations.
processual, e não de legitimidade extraordinária como antes se propunha,
passando-se a exigir a filiação do indivíduo à associação até a data do No primeiro caso, com base no artigo 103, inciso III64 do Código de Defesa
ajuizamento da demanda (critério temporal) e a fixação de residência do do Consumidor, a coisa julgada favorece a todos, ainda que não tenham
associado no âmbito da jurisdição do órgão julgador (critério territorial). participado do processo, mantida a possibilidade de propositura de ação
em caso de improcedência. Todavia, se a parte interveio como litisconsorte
O critério temporal pretende coibir a mercancia associativa, a na ação coletiva, no que tange a direitos individuais homogêneos previstos
competição entre associações para a representação em juízo, no artigo 81, parágrafo único, inciso III65 do CDC, neste caso a coisa julgada
predestinando-se os fins inerentes a uma das organização (o foco
opera pro et contra, ou seja, a coisa julgada vincula a parte independente
passa a ser a representação em juízo), já que antes não se exigia a lista
do resultado ser benéfico ou não.
nominal do rol de beneficiados. Os tribunais superiores60 manifestaram
razoabilidade ao exigir a lista nominal apenas nas ações ajuizadas No segundo caso, coisa julgada secundum eventum litis vel probationis,
após o novo entendimento, evitando assim demasiada instabilidade a prevista tanto na ação civil pública (artigo 16 da lei 7.347/8566), como na ação
confrontar os primados da segurança jurídica. popular (artigo 18 da lei 4717/6567) e no Código de Defesa do Consumidor
(artigo 103, incisos I e II68), poderá o juiz julgar improcedente a ação por falta
O critério territorial fundamenta-se no recente Recurso Extraordinário
de provas sem implicar em formação de coisa julgada material.
(RE) 612.043/PR61, que contemplou o entendimento de que com base no
artigo 2º-A62 da lei 9.494/97 e nas regras de competência jurisdicional do Em regra, se o juiz não possui cognição exauriente a respeito da
controle difuso de constitucionalidade não se poderiam beneficiar a título demanda, não há como pronunciar-se de forma non liquet69, escusando-se
coletivo os indivíduos residentes fora do Estado de propositura da ação, do julgamento, haja vista o próprio princípio da inafastabilidade do Poder
ressalvados os casos em que a ação fosse proposta no Distrito Federal, Judiciário, ressalvados os casos de direitos difusos e coletivos em sentido
em face da União. Conforme o permissivo constitucional previsto no estrito. Nestes, a coisa julgada pauta-se no sucesso da prova, qualquer
artigo 109, §2º63 da Constituição da República, todos os beneficiários legitimado com acesso a novas provas poderá reingressar com a demanda
indistintamente têm direito sobre as demandas propostas no Distrito coletiva, sob a justificativa de que a cognição anterior não se mostrou
Federal em face da União. verdadeiramente exauriente, a refletir diretamente o princípio da supremacia

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do interesse público, uma vez que direitos coletivos estrito senso e difusos direitos fundamentais devem ser dada eficácia máxima, ainda mais dentro
salvaguardam o interesse público, não sendo, portanto, disponíveis70. da perspectiva do Estado em rede72.

Entendemos parcialmente inconstitucional o artigo 22 em referência, por


8. Da Coisa Julgada no Mandado limitar o alcance das sentenças coletivas quando sequer a própria Constituição
de Segurança Coletivo o faz, de modo a impor mitigação indevida dos direitos dos particulares sem
o esperado delineamento dos direitos na seara constitucional, não obstante
A coisa julgada no mandado de segurança coletivo fundamenta-se no
as falhas do nosso sistema, como apontado no item 3.
artigo 2271 da lei 12.016/09, de cuja simples leitura se depreende uma
sistemática diferenciada da prevista para as sentenças das demais ações Assim, a despeito de não ser este o entendimento hodierno dos tribunais
que versam sobre direitos coletivos. Há de se cogitar antinomia, pois as superiores, entendemos que os efeitos da decisão do mandado de
sentenças nas ações coletivas possuem um tratamento que prestigia a segurança devem ser considerados erga omnes e não inter partes, nos
sistemática da sociedade em rede, ao passo que a lei do mandado de termos já aduzidos, beneficiando apenas os que ingressaram com a
segurança estabelece os efeitos da coisa julgada apenas em relação aos ação coletiva enquanto substitutos processuais, com o fito de prestigiar a
substitutos processuais. sistemática própria das ações coletivas em detrimento de norma individual
que possa corroborar notórios abusos da autoridade coatora.
Referida antinomia não se evidencia a partir da análise literal do dispositivo:
atribuindo-se simplesmente os efeitos da coisa julgada aos substitutos
processuais, restaria superada a questão, pois os particulares poderiam em 9. Considerações Finais
outra oportunidade fazer uso de seu acesso ao Judiciário, se considerado
Sem cansar o leitor com a repetição das conclusões já mencionadas
como verdade que todos os cidadãos possuem plena cognição de seus
neste texto, buscaremos elucidar a importância do mandado de segurança
direitos e efetivas condições de ingresso em juízo. Nada mais absurdo.
coletivo na esteira constitucional vigente.
Já vai longe o tempo em que as interpretações se apoiavam exclusivamente
Não há dúvidas de que o mandado de segurança é um avanço, ainda
na legalidade estrita, como propugnava a escola da exegese. Cabe aqui a
que apresente certas lacunas no que diz respeito às tutelas coletivas e a
questão: poderia o Judiciário neste caso promover uma interpretação
persecução do tão almejado interesse público. Trata-se de verdadeira panaceia
contra legem sem que isso resvalasse em patente ativismo judicial? Parece-
contra anos e anos de abusos perpetrados pelas autoridades públicas.
nos que a única possibilidade seria a declaração de inconstitucionalidade
do artigo 22 em comento, por seu aparente descompasso com o sistema Já nos manifestamos em outro trabalho73 a respeito das mazelas do
previsto para a as ações coletivas. patrimonialismo e de como este encontra-se enraizado na sociedade
brasileira, criando obstáculos tanto para a organização da sociedade civil
As ações coletivas, em especial o mandado de segurança coletivo,
quanto para o desenvolvimento pleno do cidadão em seu sentido mais estrito.
a ação popular e mesmo a ação civil pública, guardadas as devidas
proporções, possuem natureza jurídica de remédio constitucional, ou seja, O mandado de segurança intende atenuar reiterados abusos do Estado.
consubstanciam um meio para a efetivação de direitos fundamentais, Embora comporte exceções, a razão de ser do mandado de segurança
dentre eles os de terceira dimensão. Como exposto anteriormente, aos decorre da atecnia do agente público e ou da inobservância do espírito

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publicista, compreendendo abuso no trato da res publica. A espécie coletiva A limitação imposta pelo artigo 22 da lei 12.016/09 caracteriza
visa tutelar os interesses individuais homogêneos, coletivos stricto sensu e irresponsabilidade do Estado frente ao particular, em evidente violação
difusos (apesar dos questionamentos quanto a este último), em correlação ao princípio republicano, já que o réu nesta ação seria necessariamente
direta com o interesse público. entidade pública ou de caráter público. Por esta razão, contrariando
Merecem especial atenção os efeitos subjetivos da coisa julgada no a manifestação dos tribunais superiores, compreendemos que esse
mandado de segurança, em especial no que tange à espécie coletiva, tendo dispositivo legal comporta ao menos constitucionalidade duvidosa, em
em vista que neste caso a coisa julgada atingiria apenas os substitutos frontal dissonância com o princípio republicano.
processuais. Mas por que este tratamento diferenciado? É imprescindível – e urgente – que o cidadão abandone sua condição
Existem duas possíveis respostas para essa questão. A mais tênue leniente e assuma o papel ativo de titular da coisa pública, buscando a
afirma que esse tratamento existe para que os substitutos processuais, responsabilização das entidades e principalmente dos agentes públicos que
legitimados do mandado de segurança coletivo, não interfiram de forma cometem abusos de poder –essencialmente a maior ameaça à democracia.
abrupta na seara de direitos dos particulares. A mais crítica, a denotar O remédio constitucional do mandado de segurança, mais do que uma
patente utilitarismo do legislado sob viés economicista, esclarece que garantia, constitui verdadeira ponte para se alcançar a estabilização do
com a limitação dos efeitos da coisa julgada no mandado de segurança Poder através da compreensão de que o Estado e seus agentes nenhum
coletivo, atenuar-se-iam eventuais prejuízos aos cofres públicos, posto que poder possuem senão os que lhe foram delegados pelo epicentro desse
a eficácia meramente inter partes afastaria execuções individualizadas. mesmo poder: o cidadão.

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Revista da Faculdade de Direito – Universidade São Judas Tadeu

Referências Bibliográficas
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coletivo (art. 81 a 104 e 109 a 119). v. II. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
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comparado. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

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Revista da Faculdade de Direito – Universidade São Judas Tadeu

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Revista da Faculdade de Direito – Universidade São Judas Tadeu

Notações
01. “Art. 13. Os juízes e tribunaes federaes processarão e julgarão as causas que se fundarem 12. “ Em nossa sociedade, que conceptualizei como uma sociedade em rede, o poder é
na lesão de direitos individuaes por actos ou decisão das autoridades administrativas multidimensional e se organiza em torno de redes programadas em cada domínio da
da União”. atividade humana, de acordo com os interesses e valores de atores habilitados. As redes
02. “ A writ or order of mandamus is an extraordinary court order because it is made without the de poder o exercem sobretudo influenciando a mente humana (mas não apenas) mediante
benefit of full judicial process, or before a case has concluded. It may be issued by a court as redes multimídia de comunicação de massa. Assim, as redes de comunicação são
at any time that it is appropriated, but it is usually issued in a case that has already begun. fontes decisivas de construção do poder” (CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e
Generally, the decisions of a lower-court made in the course of a continuing case will not be esperança: movimentos sociais na era da internet. São Paulo: Zahar, 2013, p. 19).
reviewed by higher courts until there is a final judgment in the case.” (Writ of Mandamus. 13. “A cifra negra representa a diferença entre aparência (conhecimento oficial) e a realidade
(n.d.) West's Encyclopedia of American Law, edition 2, 2008. Disponível em: <https:// (volume total) da criminalidade convencional, constituída por fatos criminosos não
legal-dictionary.thefreedictionary.com/wr it+of+mandamus>. Acesso em 16/11/2017). identificados, não denunciados ou não investigados (por desinteresse da polícia, nos
03. M
 ARSHALL, John. Decisões Constitucionais de Marshall. Trad. Américo Lobo. Brasília: crimes sem vítima, ou por interesse da polícia, sobre pressão do poder econômico e
Ministério da Justiça, 1997, p. 1-29. político), além de limitações técnicas e materiais dos órgãos de controle social” (SANTOS,
Juarez Cirino. A Criminologia Radical. Curitiba: IPCP, Lumen Juris, 2006, p.13).
04. “Art. 113 – A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual 14. C
 APPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Porto Alegre: Fabris, 1988, p. 49.
e à propriedade, nos termos seguintes: [...] 33) Dar-se-á mandado de segurança para
15. G
 RINOVER, Ada Pellegrini; WARANABE, Kazuo; NERY JUNIOR, Nelson. Código de Defesa
defesa do direito, certo e incontestável, ameaçado ou violado por ato manifestamente
do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto: processo coletivo (art. 81 a 104
inconstitucional ou ilegal de qualquer autoridade. O processo será o mesmo do habeas
e 109 a 119). v. II. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 27.
corpus, devendo ser sempre ouvida a pessoa de direito público interessada. O mandado
não prejudica as ações petitórias competentes. [...]”. 16. M
 OREIRA, José Carlos Barbosa. Tutela Jurisdicional dos Interesses Difusos e Coletivos.
05. B
 ARBI, Celso Agrícola. Do Mandado de Segurança. 11ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, In: Temas de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 195-197.
p.32. 17. B
 usca-se evitar as demandas em massa que abalroariam o Judiciário e implicariam
06. C
 AVALCANTI, Themistocles Brandão. Do Mandado de Segurança. 1. ed. Rio de Janeiro: enorme contingente de processos.
Freitas Bastos, 1934, p. 39. 18. “ Por mandamental entende-se a deliberação do juiz em que não apenas se reconhece
07. “Art. 320. Não se dará mandado de segurança, quando se tratar: [...] IV – de impostos ou a obrigação de realizar certa prestação, mas se dispõe, como ordem de autoridade
taxas, salvo se a lei, para assegurar a cobrança, estabelecer providências restritivas da competente, o comando impositivo de certa conduta. Assim, o seu descumprimento
atividade profissional do contribuinte [...]”. equivale à desobediência ou resistência à ordem legal de autoridade pública (crimes
capitulados nos arts. 329 e 330 do Código Penal)” (THEODORO JR, Humberto. Curso de
08. “Art 141 – A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
Direito Processual Civil. v. I. Forense: Rio de Janeiro, 2014, p.263).
a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança individual e
à propriedade, nos termos seguintes: [...] § 24 – Para proteger direito líquido e certo não 19. A
 penas a título de exemplo, Daniel Amorim Assumpção Neves toma como referência
amparado por habeas corpus, conceder-se-á mandado de segurança, seja qual for a os princípios do acesso à ordem jurídica justa, da participação, economia processual,
autoridade responsável pela ilegalidade ou abuso de poder. [...]”. interesse no julgamento do mérito, incluindo aí o princípio do ativismo judicial, o qual,
09. S
 úmula STF 625: “Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de somos diametralmente contrários. (Cf. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de
Mandado de Segurança”. Processo Coletivo. Forense: Rio de Janeiro. Método: São Paulo, p. 182-265).

10. “Art. 150 – A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 20. C
 f. ZANETI JR. Hermes. O “novo” mandado de segurança coletivo. Salvador: Juspodium,
inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, 2013, p. 67-68.
nos termos seguintes: [...] § 21 – Conceder-se-á mandado de segurança, para proteger 21. “Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente
direito individual líquido e certo não amparado por habeas corpus, seja qual for a autoridade aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante. [...] § 1º. O mandado de
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder. [...]”. segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da
11. A
 lei informou que o recurso cabível da sentença denegatória seria apelação, alterando coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistência
o artigo 12 da lei 1533/51; alterou o artigo 13, informando que, em caso de suspensão de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada
da sentença concessiva da ordem pelo Presidente da República, dessa decisão caberá da impetração da segurança coletiva. § 2º. No mandado de segurança coletivo, a liminar
agravo e, por fim, o artigo 19 informa serem aplicáveis, de forma supletiva, as normas do só poderá ser concedida após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica
CPC concernentes ao litisconsórcio. de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas [...]”.

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Notações
22. M
 AZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 37. “Art. 373. O ônus da prova incumbe: […] § 1º. Nos casos previstos em lei ou diante de
2012, p. 773. peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de
23. “ Existe enfim, uma natureza ontológica pública de bem, que daria maior densificação ao cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do
princípio da supremacia do interesse público, atrelada à vontade geral. A análise de um fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por
dever cívico de solidariedade a um único interesse público ontológica e organicamente decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir
considerado passa por diversas acepções de interesses públicos em cadeia” (FERREIRA do ônus que lhe foi atribuído […]”.
JR, Rubens. Estruturação da Administração Pública frente ao Regime de cargo: Novos 38. “Art. 5º. […] XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da
parâmetros para uma antiga ideia. 252 f. Dissertação de Mestrado (Direito). Pontifícia fonte, quando necessário ao exercício profissional; […]”.
Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2017, p.147).
39. “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
24. G
 RINOVER, Ada Pellegrini. Da class action for damages à ação de classe brasileira: os Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
requisitos de admissibilidade. In: Estudos & Pareceres. 2. ed. São Paulo: DPJ, 2009, p. 238-265. impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: […]”.
25. Z
 AVASCKI, Teori Albino. Processo Coletivo. 5. ed. São Paulo: RT, 2011, p. 146-147. 40. “Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: […] VII –
26. A
 pós a sentença condenatória, os interessados podem se habilitar ou mediante assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana,
execução própria promoverem a reparação do dano, todavia, se os interessados não se sistema representativo e regime democrático; […]”.
habilitarem, poderá ocorrer a chamada “fluid recovery” prevista no artigo 100 do CDC,
41. E
 xiste certa discussão se o princípio republicano seria ou não cláusula pétrea, uma vez
a execução por um dos legitimados no mandado de segurança coletivo, destinando
que após o artigo 2º do ADCT ter definido a forma de governo, esta não poderia ser
o quantum debeatur a um fundo.
alterada novamente, em uma espécie de vedação implícita do poder constituinte de
27. C
 omo, por exemplo, os membros de uma entidade de classe. reforma, o que possibilitaria a plena responsabilidade dos governantes na prestação de
28. C
 omo, por exemplo, contribuintes de um tributo específico (cf. GRINOVER, Ada Pellegrini; contas e informações.
WARANABE, Kazuo; NERY JUNIOR, Nelson. Código de Defesa do Consumidor comentado 42. D
 INAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. v. III. 6. ed. São
pelos autores do anteprojeto: processo coletivo (art. 81 a 104 e 109 a 119). v. II. 10. ed. Rio Paulo: Malheiros, 2009, p. 590.
de Janeiro: Forense, 2011, p. 75).
43. “Art. 6º. Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em
29. F
 IGUEIREDO, Lucia Valle. Mandado de Segurança. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 32. tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”.
30. G
 RINOVER, Ada Pellegrini. Mandado de Segurança Coletivo: legitimação, objeto e coisa 44. F
 ERREIRA JR, Rubens. A boa-fé como elemento das sanções nos contratos administrativos.
julgada. Revista de Processo, São Paulo, ano 15, n. 58. Abril/junho 1990, p. 76-77. In: ROCHA, Silvio Luis Ferreira da (org.). O contrato administrativo e os princípios da boa-fé,
31. “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos justiça contratual e função social do contrato. 1. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017,
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, p. 159-176.
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: […] LXIX – Conceder-se-á
45. “Art. 430. A falsidade deve ser suscitada na contestação, na réplica ou no prazo de 15
mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus
(quinze) dias, contado a partir da intimação da juntada do documento aos autos. Parágrafo
ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
único. Uma vez arguida, a falsidade será resolvida como questão incidental, salvo se a parte
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; […]”.
requerer que o juiz a decida como questão principal, nos termos do inciso II do art. 19”.
32. “ […] cabe aos Poderes Públicos conferir eficácia máxima e imediata a todo e qualquer
preceito definidor de direito e garantia fundamental” (PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos 46. C
 f. PINTO, Marcos Vinicius. O mandado de segurança coletivo como instrumento de tutela
e o direito constitucional internacional. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 91). coletiva. 2014. 245f. Dissertação de Mestrado (Direito). Universidade de São Paulo. São
Paulo, 2014, p. 59.
33. M
 S 34196 / DF – 2016.
47. G
 IDI, Antonio. A class action como instrumento de tutela coletiva de direitos. São Paulo:
34. B
 ARBI, Celso Agricola; SOUZA, Bernardo Pimentel. Do Mandado de Segurança. 12. ed. Rio RT, 2007, p. 33-50.
de Janeiro: Forense, 2009, p. 49-57.
48. M
 ULLENIX, Linda. Trends in standing and res judicata in collective suits. In: GRINOVER,
35. G
 RECCO, Leonardo. A teoria da ação no processo civil. São Paulo: Dialética, 2003, p.44. Ada Pellegrini; WATANABE, Kazuo. MULLENIX, Linda. Os processos coletivos nos países
36. C
 UNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. 10. ed. São Paulo: Dialética, de civil law e common law. Uma análise de direito comparado. 2. ed. São Paulo: Revista
2012, p. 485. dos Tribunais, 2011, p. 282.

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Revista da Faculdade de Direito – Universidade São Judas Tadeu

Notações
49. “ Um amor que se conquista é bom, mas um amor que nos é dado sem pedir é ainda 58. T
 UCCI, José Rogério Cruz e. “Class action” e mandado de segurança coletivo (diversificações
melhor” SHAKESPEARE, Willian. Noite de Reis. (Ato III – Cena I: Olívia). Tradução de Beatriz conceptuais). São Paulo: Saraiva, 1990, p. 42; GRINOVER, Ada Pellegrini. Mandado de
Viégas-Faria. São Paulo: L&PM Pocket. 2004, p. 70. segurança Coletivo: Legitimação, objeto e coisa julgada. Revista de Processo, São Paulo,
ano 15, n. 58. p. 77.
50. P
 INTO, Marcos Vinicius. O mandado de segurança coletivo como instrumento de tutela
coletiva. 2014. 245f. Dissertação de Mestrado (Direito). Universidade de São Paulo. São 59. A
 impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos
Paulo, 2014, p. 77. associados independe da autorização destes.
51. “ Rigorosamente, a coisa julgada nas ações coletivas do direito brasileiro não é secundum 60. “ Todavia, diante das expectativas geradas por entendimento anterior, existente inclusive
eventum litis. Seria assim, se ela se formasse nos casos de procedência do pedido, e não no STJ, no sentido da desnecessidade da autorização expressa e diante da natureza da
nos de improcedência. Mas não é exatamente isso o que acontece. A coisa julgada sempre ação coletiva que congrega interesses de partes que normalmente não poderiam vir
se formará, independentemente de o resultado da demanda ser pela procedência ou pela diretamente ao Judiciário, revela-se razoável conceder à associação autora a oportunidade
improcedência. [...] O que diferirá com o ‘evento da lide’ não é a formação ou não da coisa de excepcional emenda da inicial após a citação do réu e mesmo após a sentença
julgada, mas o rol de pessoas por ela atingidas. Enfim, o que é secundum eventum litis para regularização da sua legitimidade ativa mediante a apresentação de autorização
não é a formação da coisa julgada, mas a sua extensão ‘erga omnes’ ou ‘ultra partes’ à assemblear e relação de associados” (AgRg no REsp 1424142⁄DF, Rel. Ministro HERMAN
esfera jurídica individual de terceiros prejudicados pela conduta considerada ilícita na BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe 04⁄02⁄2016).
ação coletiva” (GIDI, Antônio. Coisa Julgada e Litispendência em Ações Coletivas. São
61. “A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação coletiva, de rito ordinário,
Paulo: Saraiva, 1995, p. 73-74).
ajuizada por associação civil na defesa de interesses dos associados, somente alcança os
52. D
 e forma sumária, Barbosa Moreira divide a legitimidade extraordinária em subordinada filiados, residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, que o sejam em momento
e autônoma, esta última divide-se em exclusiva e concorrente, que por sua vez se divide anterior ou até a data da propositura da demanda, constantes de relação juntada à inicial
em primária e subsidiária (Cf. MOREIRA, José Carlos Barbosa. Apontamentos para um do processo de conhecimento”.
estudo sistemático da legitimação extraordinária. Revista dos Tribunais: São Paulo, ano
62. “Art. 2º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade
58, v. 404, p.10-16).
associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os
53. N
 o mesmo sentido, diversos autores expõem a taxatividade do instituto (Cf. MEIRELLES, substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência
Hely Lopes; WALD, Arnoldo; MENDES, Gilmar Ferreira. Mandado de segurança e ações territorial do órgão prolator. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)”.
constitucionais. 36 ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p. 67-78 e CÂMARA, Alexandre Freitas.
63. “Art. 109 [...] § 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção
Manual do Mandado de Segurança. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 384-385).
judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que
54. T
 anto é assim que vários autores em matéria de Direito Administrativo tendem a relativizar deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal”.
o princípio da supremacia do interesse público, em uma tentativa de esvaziá-lo ou relegá-lo
64. “Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
à discricionariedade do governante, o que não se sustenta na persecução dos interesses
[...] III – erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as
sociais. Humberto Ávila explica que a supremacia do interesse público não seria princípio
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81. [...]”
nem postulado, e que sua utilização seria meramente argumentativa e esvaziada, já que
não admite ponderação nem concretização habitual. (ÁVILA, Humberto. Repensando o 65. “Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
“princípio da supremacia do interesse público sobre o particular”. RERE – Revista Eletrônica exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva
sobre a Reforma do Estado. n. 11, Salvador, set/out/nov 2007. Disponível em: <http:// será exercida quando se tratar de: [...] III – interesses ou direitos individuais homogêneos,
www.direitodoestado.com/revista/RERE-11-SETEMBRO-2007-HUMBERTO%20AVILA. assim entendidos os decorrentes de origem comum. [...]”
pdf>. Acesso em 08/09/ 2016).
66. “Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência
55. “Art. 5º. [...] XXI – as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência
têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; [...]” de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico
(grifos nossos). fundamento, valendo-se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997)”.
56. “Art. 2º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade 67. “Art. 18. A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível "erga omnes", exceto no caso
associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas de haver sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova; neste caso, qualquer
os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da cidadão poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova”.
competência territorial do órgão prolator”.
68. “Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
57. F
 IGUEIREDO, Lúcia Valle. Mandado de Segurança. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 33-71. I – erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,

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Revista da Faculdade de Direito – Universidade São Judas Tadeu

Notações
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento 71. “Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente
valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81; II – ultra aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante. § 1º. O mandado de
partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da
insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistência
no inciso II do parágrafo único do art. 81; [...]”. de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada
da impetração da segurança coletiva”.
69. K
 OATZ, Rafael Lorenzo-Fernandez. A proibição do non liquet e o princípio da inafastabilidade
do controle jurisdicional. Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro, v. 270, p. 171- 72. “ Os interesses difusos representam um fenômeno típico e de importância crescente
205, set. 2015. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/ da sociedade moderna, caracterizado pela passagem de uma economia baseada
view/58741/5 7534>. Acesso em: 12 Dez. 2017. principalmente em seus relatórios individuais para uma economia em cujo trabalho,
produção, trocas e consumo, mas também educação, turismo, comunicação, assistência
70. “A indisponibilidade dos interesses públicos significa que, sendo interesses qualificados
social e previdência, etc., são fenômenos “de massa”” (CAPPELLETTI, Mauro. O acesso
como próprios da coletividade – internos –, não se encontram a livre disposição e quem
à justiça e a função do jurista em nossa época. Revista de Processo. São Paulo: Editora
quer que seja, por inapropriáveis o próprio órgão administrativo que os representa não
Revista dos Tribunais, ano 16, n. 61, jan./mar. 1991, p. 150).
tem disponibilidade sobre eles, no sentido de que lhe incumbe apenas curá-los – o
que é também um dever – na estrita conformidade do que predispuser a intentio legis” 73. F
 ERREIRA JR. Rubens. Estruturação da Administração Pública frente ao Regime de cargo:
(BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio. Curso de Direito Administrativo. 32. ed. São Paulo: Novos parâmetros para uma antiga ideia. 252f. Dissertação de Mestrado (Direito). Pontifícia
Malheiros, 2015, p. 76). Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2017. (não publicado).

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