Nos termos da alínea b) do art.º 19°1, outra obrigação especial
que recai sobre os empresários comerciais, é escriturar as operações ligadas ao exercício da empresa comercial.
Em que consiste a escrituração mercantil? Consiste em registar
todas as actividades feitas pelo empresário comercial em livros próprios que a lei impõe e pretende-se com ela, dar a conhecer a situação empresarial e financeira do património do empresário comercial70.
Chama-se escrituração mercantil o processo de lançamentos dos
actos relativos a empresa nos livros que para aqueles fins os comerciantes são obrigados a adoptar, ou seja, o lançamento em livros adequados das diversas operações relacionadas com a exploração mercantil do empresário comercial ou afectam o seu património para permitir o domínio de todos os interessados quando tal seja necessário.
A escrituração mercantil é obrigatória e deve-se efectuar em
livros adequados tais como, o diário, o livro de inventário e balanço, e outos livros que a lei fixa-os designando de livros obrigatórios.
Deste modo, ao empresário é imposto o dever de fazer o
registo dos livros obrigatórios dando-lhe a possibilidade de usar outros livros que permitem o conhecimento do seu código.
1 Cfr al. b) do artigo 16º do código comercial actualmente
vigente. 70 Op. cit. Pág. 566. Modernamente fala-se de métodos mais sofisticados de registo, compreendendo os computadores, armazenamento da informação em disco-duro, em softwares apropriados.
FUNÇÃO DOS LIVROS OBRIGATÓRIOS
Vide artigo 169 e artigos 170 e seguintesda do Código comercial
a) O livro-diário: serve para lançar individual e
diariamente, todos os actos relacionados com a actividade empresarial, isto é, o diário sugere a ideia de lançamento das actividades quotidianas em termos de actos singulares pelo empresário comercial.
b) Inventário e balanço: Serve para lançar
detalhadamente a situação inicial da empresa e outros tantos balanços que o empresário comercial é obrigado por lei2.
c) Livros de actas: º 169° C. Comer: Este livro está
associado à ideia de existência de pessoa colectiva e no caso em concreto, sociedade comercial.
Serve para lavar as actas das reuniões e sócios ou
associados, de administradores e do órgão de fiscalização, devendo cada uma delas expressar sem prejuízo do disposto em disposições especiais, o seguinte: a data da realização da reunião, os nomes dos participantes ou referência à lista de presenças autenticadas pela mesa, os votos emitidos, as
2 DE VASCONCELOS, Pedro Pais, Direito Comercial: parte geral, Almedina
Editora, Coimbra 1995. deliberações tomadas e tudo que possa servir para as reconhecer e fundamentar a assinatura pela mesa e na existência desta, pelos participantes.
O livro de acta assegura que toda informação relativa as
reuniões dos órgãos sociais a compreensão dos procedimentos e decisões tomadas na sociedade. É por isso que, relativamente ao direito à informação que assiste os sócios pode consultar por exemplo, os livros de acta da assembleia geral nos termos da alínea a) do n° 1) do art. 122° ou consultar os livros de presença nos casos em que existam porque não havia a mesa constituída.
IMPORTÂNCIA DA ESCRITURAÇÃO MERCANTIL
O empresário passa a conhecer sua
situação patrimonial, direitos e deveres;
Serve de meio de prova dos factos
registados nos litígios entre empresários;
Serve como meio de verificação da
regularidade da conduta do empresário comercial;
Quando se está perante uma suspeita
de razões da falência pode-se recorrer à escrituração para saber se a falência é real ou fraudulenta; Serve de base para a liquidação de impostos e fiscalização do cumprimento de normas tributárias entre outras funções.
FORMA DE ESCRITURAÇÃO
A escrituração deve ser efectuada pelo empresário ou por
qualquer outra pessoa devidamente autorizada, devendo se presumir que aquele que efectuou a escrituração tinha autorização para o efeito. É uma presunção iures tantum e por isso, pode ser ilidida mediante prova em contrário, por um lado.
Se estabelece também a obrigação do uso de língua e moeda
oficial, a necessidade de individualização e clareza da escrituração e deve ser cronológica. A escrituração é secreta, porque pretende assegurar o desconhecimento em termos públicos o património comercial para se evitar a cobiça alheia, e se deve indicar em que as circunstâncias em que se tornam necessárias a consulta de livros inclusive dos auxiliares que são possíveis de exibição e exame, por outro lado.
Há o dever da parte do empresário de prestar informações a
favor dos sócios, dos credores e das autoridades administrativas. Nos termos da alínea 170 ° C.Com, qualquer dos sócios tem o direito de consultar os livros em circunstâncias especiais. O tribunal determinará o interesse, no sentido de permitir que os livros sejam consultados quando tal se justifique. REGISTO COMERCIAL
Os empresários comerciais quer seja pessoa singular ou
colectivas, ou as sociedades civis sob forma comercial, são obrigados a inscrever no registo os actos a ele sujeito. Em conformidade com art.º 58° e 59° C.Com, e o regulamento do registo de entidades legais aprovados pelo Decreto-Lei n° 1/2006 de 3 de Maio, existe um elenco de actos susceptíveis, ou melhor, que carecem de registo pelo empresário comercial3.
O registo comercial tem por fim publicar os actos que
compreendem a descrição e identificação do empresário e todos os actos relevantes que como tal a lei só qualifica e por isso sujeito a registo. A vantagem do registo esta na publicidade, pois através do registo publicam-se as actividades do empresário comercial para o conhecimento, não só daquele que contrata com empresário comercial, como também do público em geral.
No entanto, o registo comercial não trata somente da
actividade jurídico-mercantil dos empresário, é extensivo ao registo dos navios, relativamente aos quais embora tratando-se de bens móveis pode existir paralelismo entre o registo de bens objecto de propriedades visando dar publicidade como condição de eficácia relativamente a terceiros, não apenas a sua transmissão como também em relação a certos ônus que recaiam sobre esses bens.
3 MUALEIA, Fernanda e VALE, Sofia, Guião Prático de Direito comercial, pg.