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DIREITO CIVIL E EMPRESARIAL

Empresário individual
O Código Civil de 2002 ora usa a palavra “empresário” para designar o
gênero (CC, art. 966), ora para designar a espécie – empresário individual
(CC, art. 1.150).

Por sua vez, empresário individual é aquele que, independentemente do


motivo, opta por desenvolver sua atividade econômica isolado, sem a
participação de sócios.

Sérgio Campinho chama a atenção para o fato de que o empresário individual


é a pessoa física titular de uma atividade empresarial, que por sua vez
não se confunde com o sócio da sociedade empresária. O sócio não é
empresário, mas, sim, integrante do quadro social de uma sociedade
empresária.

O indivíduo que exerce sozinho a atividade de empresário pode se inscrever na


Junta Comercial como comerciante individual, chamado de empresa individual,
é a pessoa física que, por ter aberto uma empresa individual, passou a ser uma
pessoa jurídica, sujeitando-se a exercer direitos e responder por obrigações.

Como já afirmado, o empresário é aquele que exerce profissionalmente


atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou
de serviços, de acordo com o art. 966 do Código Civil de 2002:
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de
bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o
concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
profissão constituir elemento de empresa.

Ao responder pelas dívidas, o patrimônio da empresa individual e da pessoa


física serão envolvidos, de forma ilimitada.

O código civil estabelece algumas vedações ao exercício individual de


empresa. Decorre de impedimentos legais (vedações) ou da incapacidade do
agente econômico. Estabelece o art. 972 do Código civil:

Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem


em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.
É correto afirmar que o empresário é um ativador do sistema econômico.
Ele é o elo entre os capitalistas (que têm capital disponível), os trabalhadores
(que oferecem a mão de obra) e os consumidores (que buscam produtos e
serviços).

Ainda pode-se dizer que o empresário funciona como um intermediário,


pois de um lado estão os que oferecem capital e/ou força de trabalho e de
outro os que demandam satisfazer suas necessidades.
Impedimentos:

Os impedidos estão entre aqueles que exercem funções consideradas


incompatíveis com a empresa. Os falidos e condenados por determinados
crimes, por exemplo, são considerados impedidos.

O art. 973 do Código Civil estabelece que “a pessoa legalmente impedida de


exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas
obrigações contraídas”.

Os casos de impedimento encontram-se em diversas leis esparsas. Temos os


seguintes exemplos:
(a) a CF traz o impedimento dos deputados e senadores, desde a posse no
art. 54, II, a;
(b) falido (art. 102 da Lei 11.101/2005);
(c) os que incorrerem na prática dos crimes conforme o §1.º do art. 1.011
do Código Civil, exemplificando prevaricação, concussão, peculato, crimes
contra a economia popular, crimes contra o sistema financeiro, defesa da
concorrência, crimes falimentares, entre outros;
(d) membros do Poder Executivo, Militares, Magistrados, entre outros,
conforme seus estatutos.

Inscrição e obrigações
Ao empresário é atribuída uma série de obrigações no Código Civil. A
primeira obrigação é a sua inscrição no Registro Público de Empresas
Mercantis (de acordo com o art. 1.150 do Código Civil, o Registro Público de
Empresas Mercantis está a cargo das Juntas Comerciais). Essa inscrição deve
ser feita no órgão da respectiva sede (Estado-membro) do empresário,
devendo ser realizada antes de o empresário iniciar sua atividade (CC, art.
967).

A inscrição deverá ser feita mediante requerimento (por meio de formulário


disponibilizado pela Junta Comercial). Esse requerimento deverá conter seu
nome, nacionalidade, domicílio, estado civil, regime de bens (se for casado),
firma (nome empresarial) com assinatura, capital (a ser empregado na
constituição), objeto e sede da empresa (CC, art. 968, caput, I a IV):

Art. 968. A inscrição do empresário far-se-á mediante requerimento


que contenha:
I - o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o
regime de bens;
II - a firma, com a respectiva assinatura autógrafa que poderá ser
substituída pela assinatura autenticada com certificação digital ou
meio equivalente que comprove a sua autenticidade, ressalvado o
disposto no inciso I do § 1 o do art. 4 o da Lei Complementar n o 123,
de 14 de dezembro de 2006 ; (Redação dada pela Lei Complementar
nº 147, de 2014)
III - o capital;
IV - o objeto e a sede da empresa.
§ 1º Com as indicações estabelecidas neste artigo, a inscrição será
tomada por termo no livro próprio do Registro Público de Empresas
Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os
empresários inscritos.
A Lei Complementar – LC n. 147/2014 alterou o inc. II do art. 968 do
Código Civil, o qual passa a dispor que a firma (assinatura autógrafa) poderá
ser substituída pela assinatura autenticada com certificação digital ou meio
equivalente que comprove a sua autenticidade, na forma estabelecida pelo
CGSIM – Comitê para Gestão da Rede Nacional para Simplificação do Registro
e da Legalização de Empresas e Negócios (respeitado o que prevê o inciso
I do § 1º do art. 4º da LC n. 123/2006 – Estatuto Nacional da Microempresa e
da Empresa de Pequeno Porte).

Cabe ressaltar que a inscrição do empresário será anotada no livro do


Registro Público de Empresas Mercantis e, além disso, quaisquer modificações
deverão ser averbadas (CC, art. 968, §§ 1º e 2º).
O empresário que desejar ter uma filial em outra jurisdição deverá
providenciar a sua inscrição no registro competente (localidade da filial),
comprovando a inscrição da matriz (CC, art. 969, parágrafo único).

Art. 969. O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar


sujeito à jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste
deverá também inscrevê-la, com a prova da inscrição originária.

Parágrafo único. Em qualquer caso, a constituição do estabelecimento


secundário deverá ser averbada no Registro Público de Empresas Mercantis
da respectiva sede.

O empresário individual somente pode adotar firma que deverá ter como base
o seu nome civil, podendo ser abreviado ou não na composição do nome
empresarial, não podendo abreviar o último nome, agregando-se ou não o
ramo de atividade do mesmo.

Inscrição – finalidades:
É preciso ter em conta o fato de que a inscrição do empresário tem como
finalidade:

a) tornar pública a sua atividade, bem como sua finalidade empresarial e suas
disposições do ato constitutivo;
Conforme os arts. 29 e 30 da Lei n. 8.934/94, qualquer pessoa, sem precisar
demonstrar a razão, pode consultar os registros existentes nas Juntas
Comerciais desde que pague o preço fixado pelo órgão, podendo assim
requerer a expedição de certidões.

b) efetuar o cadastro do empresário, o que gera um número de matrícula


conhecido como NIRE – Número de Inscrição no Registro de Empresas – que,
entre outras coisas, servirá para a obtenção do CNPJ – Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica – junto à Receita Federal;

c) proteger sua identificação e seu nome empresarial, o que é garantido pelo


princípio da anterioridade, ou seja, quem primeiro registrar aquele nome goza
de
proteção;
Além da inscrição, o Código Civil prevê outras obrigações ao empresário,
que estão no capítulo da escrituração:

1) a escrituração uniforme de livros mercantis (CC, art. 1.179, caput, 1ª parte)


significa que a escrituração deve ser feita respeitando os princípios da
Contabilidade, como a ordem crescente de datas em dia, mês e ano;
2) o levantamento anual do balanço patrimonial e do resultado econômico
(CC, art. 1.179, caput, 2ª parte). O balanço patrimonial reflete todo o histórico
da empresa, ativo, passivo e patrimônio líquido. Já o balanço de resultado
econômico mostra apenas as receitas e as despesas de determinado período,
por exemplo, o último ano de exercício;

3) a adoção de livros obrigatórios (CC, art. 1.180, caput) – o Diário é


obrigatório
para todos os empresários; porém, dependendo da circunstância, existem
outros livros obrigatórios, como o Livro de Registro de Duplicatas para
empresários que emitem duplicatas;

4) a boa guarda da escrituração, da correspondência e dos demais


documentos
concernentes à atividade empresarial (CC, art. 1.194) – a conservação deve
ocorrer pelo período mínimo dos prazos de prescrição e decadência,
dependendo de cada tipo de obrigação.

Tipos de empresários
Vale ressaltar que o conceito de empresário, a princípio, compreende a
figura do empresário individual (uma só pessoa física) e da sociedade
empresária (pessoa jurídica com dois ou mais sócios), que também pode ser
denominada de empresário coletivo.

Ainda temos as figuras da ME (Microempresa), a EPP (Empresa de Pequeno


Porte), o MEI (Microempreendedor Individual), o empresário rural e o
empresário irregular, mas que não são enquadráveis perfeitamente como
espécies de empresário, uma vez que podem se encaixar como empresário
individual, sociedade empresária ou empresa individual de responsabilidade
limitada.

A respeito, afirma o art. 968, §§ 4º e 5º:


§ 4º O processo de abertura, registro, alteração e baixa do
microempreendedor individual de que trata o art. 18-A da Lei Complementar
nº 123, de 14 de dezembro de 2006 , bem como qualquer exigência para o
início de seu funcionamento deverão ter trâmite especial e simplificado,
preferentemente eletrônico, opcional para o empreendedor, na forma a ser
disciplinada pelo Comitê para Gestão da Rede Nacional para a Simplificação
do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios - CGSIM, de que trata
o inciso III do art. 2º da mesma Lei. (Incluído pela Lei nº 12.470, de 2011)

§ 5º Para fins do disposto no § 4º, poderão ser dispensados o uso da firma,


com a respectiva assinatura autógrafa, o capital, requerimentos, demais
assinaturas, informações relativas à nacionalidade, estado civil e regime de
bens, bem como remessa de documentos, na forma estabelecida pelo
CGSIM. (Incluído pela Lei nº 12.470, de 2011)
A respeito do empresário rural, afirma o art. 970 e 971 e parágrafo:
Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e
simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à
inscrição e aos efeitos daí decorrentes.

Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal


profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968
e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de
Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de
inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário
sujeito a registro.

Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo à


associação que desenvolva atividade futebolística em caráter habitual
e profissional, caso em que, com a inscrição, será considerada
empresária, para todos os efeitos. (Incluído pela Lei nº 14.193, de
2021)

Transformação de individual para sociedade

É pertinente apontar que o empresário individual pode admitir sócios,


neste caso solicitará ao Registro Público das Empresas Mercantis a
transformação de sua inscrição como empresário individual para sociedade
empresária (CC, art. 968, § 3º):
§ 3º Caso venha a admitir sócios, o empresário individual poderá
solicitar ao Registro Público de Empresas Mercantis a transformação
de seu registro de empresário para registro de sociedade empresária,
observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste
Código. (Incluído pela Lei Complementar nº 128, de 2008)

Neste caso deverá ser respeitada a regra firmada pelo DREI – Departamento
de Registro Empresarial e Integração (antigo DNRC – Departamento Nacional
de Registro do Comércio), em especial a Instrução Normativa n. 10, de 5 de
dezembro de 2013 (Anexo 5), que fixa regras para a transformação de registro
de empresário individual em sociedade empresária, contratual, ou em empresa
individual de responsabilidade limitada e vice-versa, e dá outras providências.

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