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I.

INTRODUÇÃO:

O mundo passou por diversas mudanças tecnológicas nas últimas décadas por meio da
globalização onde possibilitou a expansão econômica, política e cultural em escala global e
dentro desse parâmetro o Direito está incluso onde o mesmo evolui e foi se adaptando a
sociedade devido ao advento das novas tecnologias.

O processo de globalização até chegar aos dias atuais só foi possível por conta da
terceira revolução industrial, a mesma também é chamada de Revolução
técnico-científica-informacional responsável por um avanço onde uniu indústria e ciência.
Tal evolução teve seu início em meados da década de 1950, pouco tempo após a segunda
guerra mundial, nesse momento diversas áreas tecnológicas e de conhecimento começaram a
sofrer mudanças devido a esse avanço onde ocorreu e maneira extremamente veloz, as
grandes indústrias responsáveis por desenvolver altas tecnologias começaram a ganhar ainda
mais notoriedade perante o mercado. Com o tempo áreas como robótica, informática,
genética e eletrônicos ganharam reconhecimento onde os estudos desenvolvidos nessas áreas
foram responsáveis por modificar completamente o cotidiano popular e como o Direito está
presente em todo o mesmo foi se adaptando as demandas geradas pelo avanço tecnológico. A
principal mudança tecnológica foi o início da internet, o que se disseminou e foi responsável
pelo estreitamento de informações de maneira global.

O Direito está presente na sociedade desde os primórdios da mesma, evoluindo junto a


medida em que as demandas vão aparecendo sempre buscando a maneira mais justa de se
viver e organizar tal sociedade, dentro dos ramos que compõe o extenso leque presente no
Direito está o sucessório, esse ramo está ligado a regulamentação da transferência do de cujus
ao herdeiro, objeto que será explorado no decorrer do presente paper com foco a sua evolução
e atribuição a esfera digital.

II- A EVOLUÇÃO DO DIREITO SUCESSÓRIO:

O Direito Sucessório passou por vários períodos da humanidade onde foi evoluindo
com o mesmo, como por exemplo, na última fase do Direito Romano, foi dito que os filhos
naturais gerados do seio de uniões concubinárias, teriam os mesmos direitos que os legítimos,
foi nesse período que surgiu a conceituação sucessória de relação de parentesco consanguíneo
em primeiro grau e em linha reta. Já na França no século XII, mais precisamente em 1804, o
titular de uma herança poderia ser homem ou mulher, independentemente da cor, raça, sexo
sem nenhuma distinção entre eles. A linha sucessória se inicia com os herdeiros
descendentes, ascendentes e colaterais privilegiados, e quando há ausência dos mesmos, se dá
a partir dos sucessíveis, seja por filhos tido coo naturais, o cônjuge que não era tido como
herdeiro necessário, e ao Estado. Já no caráter nacional, em 1916, os artigos 978 e 572,
traziam em seu texto que que os filhos concebidos fora do casamento eram tidos como
ilegítimos e logo não possuíam nenhum direito sucessório, já que para a época era constituída
somente diante o casamento legal e os filhos concebidos dentro do mesmo. Contudo a
Constituição Federal de 1988 vedou tal discriminação e positivou a filiação dos herdeiros
legítimos enquadrando todos no princípio da igualdade de filiação, seja eles concebidos fora
do casamento ou por adoção.

A herança são todos os bens que podem ser transmitidos após a morte do de cujus,
onde todos os bens, sejam propriedade, dinheiro, carros, se tornam uma única coisa formando
o valor total dos patrimônios do falecido e tudo é divido de maneira igualitária que se
sucedem aos herdeiros legítimos ou testamentários. A sucessão se dá a partir da morte do
titular, onde envolve um processo da prova de morte para que seja possível a transmissão dos
seus bens, seja ele qual for.

Com a evolução tecnológica já explanada, o direito sucessório não ficou de fora, com
a internet se tornando algo essencial no dia-a-dia tudo que a mesma oferece se tornou algo
consumido de maneira massiva e dessa forma muitas pessoas começaram a construir
verdadeiros impérios digitais, fazendo fortunas por meio das famigeradas redes sociais, tais
redes que foram responsáveis pela criação de um novo emprego, os digitais influencers que
tem como ideia central mostrar a sua rotina para milhares de pessoas buscando entreter as
mesmas ou até mesmo motiva-las, esses influencers conseguem reunir milhares de seguidores
e por meio disto conseguir alto engajamento o que faz com que grandes marcas o procurem
para fazer parcerias, se tornando realmente figuras públicas extremamente requisitadas e por
causa dessa alta demanda e seu alcance de milhões, as custas por uma publicação de
publicidade desses influencers costumam gerar muita receita, além de valores de incentivos
pagos muitas vezes pela própria plataforma digital que possibilita essa visibilidade.

Com tanto dinheiro girando ao redor dessa nova realidade, o Direito buscou se adaptar
da melhor maneira possível para abastecer as demandas necessárias, entre essas demandas se
encaixa a sucessão, afinal, o principal bem desses influencers são suas contas nessas redes
sociais, a mesma que movimenta muito dinheiro. Esses ativos digitais já são tidos como algo
comercial, sendo muitas vezes negociadas, o que referenda a ideia de a mesma se suscetível a
própria sucessão, contudo, pode haver uma problematização em respeito à reserva de
intimidade do de cujus, pois os herdeiros teriam acesso a todas as contas pessoais, endereços
eletrônicos e muitos outros arquivos digitais, além de como será a política das plataformas
digitais a respeito de transmissão de conta do falecido.

Esses perfis por movimentar muito dinheiro e por ser considerados extremamente
valiosos nos dias atuais, devem ser tidos como bens e ser cominados como tais, já que os
mesmos é se tornaram o normal dentro da realidade de hoje, por exemplo, segundo pesquisa
do blog Opinion Box, a rede social Instagram possui cerca de 1 bilhão de usuários. A
popularização do mesmo é notória o que torna ainda mais imprescindível a atribuição da
mesma dentro do Direito brasileiro, já que é uma demanda necessária. Há muitas lacunas
acerca do assunto dentro do cenário jurídico brasileiro, um bom começo é o projeto de Lei
1.689/2021 que tem como objetivo alterar a Lei 10. 406 de 10 de janeiro de 2002, e assim
dispor sobre perfis, páginas, contas, publicações e dados pessoais do falecido incluindo assim
seu tratamento por testamento e codicilos. Sendo esse um passo importante dentro do
parâmetro jurídico para a introdução da herança digital no cotidiano.

III - DIREITO SUCESSÓRIO DIGITAL E A LACUNA NA JURISDIÇÃO


BRASILEIRA.

A tecnologia no decorrer dos anos se tornou elemento fundamental para o ser


humano, na atualidade é inimaginável a vida sem a utilização de meios eletrônicos de
comunicação, ocorre que a constante integração dos meios digitais ao modo de viver do ser
humano, surge a necessidade do acompanhamento por parte do Direito, o qual até o momento
é omisso no tocante aos bens digitais e como consequência o direito sucessório do referido
bem.
Como já abordado no presente paper, as redes sociais e posteriormente sua viralização
permitiram a existência de novos conceitos esfera jurídica, a ascendência dos ditos
‘’influencers digitais’’ acarretaram na enorme valorização de suas contas nas redes, sites
como Youtube, Instagram e Tik Tok acarretam perfis com milhões de seguidores, gerando
uma vultosa monetização, definidos por Jones Figueirêdo Alves ,desembargador decano do
Tribunal de Justiça de Pernambuco, como as fortunas não visíveis, conceito o qual esbarra no
pertinente questionamento, como quantificar e posteriormente testar os bens digitais ?
O Código Civil de 2002 não faz menção aos bens mencionados, e apesar do advento
da Lei Federal nº 12.965/2014 ( Lei do Marco Civil da internet) e a Lei Geral de Proteção de
Dados Pessoais, Lei nº 13.709/2018, nenhuma aborda ou normatiza a herança digital, razão
pela qual é presumida a utilização das normas costumeiras já utilizada para a sucessão, tendo
o planejamento sucessório como um meio de destaque em decorrência da lacuna jurídica,
visto que poderá ser delimitado como serão geridos os bens digitais da pessoa.
Atualmente está em tramitação na câmara dos deputados o projeto de Lei 1.689/2021
de autoria da Deputada Alê Silva, objetivando fixar normas e regras para provedores de
aplicações de internet tratarem perfis, páginas, contas, publicações e dados pessoais de
pessoas mortas, dessa forma suprindo as lacunas no Direito acerca do tema, afinal a herança
digital trata-se de um tema em destaque no cenário atual, rico em detalhes vez que a
mensuração desse patrimônio assim como seu regimento e controle após a morte do
proprietário vislumbra-se em um novo território jurídico, vez que dando ênfase nos perfis de
rede sociais, tratam-se de perfis com caráter influenciador, os quais poderão acarretar em
disputas dos herdeiros acerca do controle e utilização assim como conteúdo a ser realizado,
razões que apenas evidenciam a necessidade de legislações regulamentadoras para o bens
digitais.

IV- O PERIGO A VIOLAÇÃO DA ‘’ PRIVACIDADE’’ E INSEGURANÇA


SOCIAL NA HERANÇA DIGITAL

A proposta da Herança acerca dos bens digitais embora seja inevitável, se faz
necessária a reflexão no tocante ao condicionamento que as contas e perfis de redes sociais
podem exercer perante a sociedade, a sucessão acerca do presente tema contempla em sua
grande maioria, pessoas de grande influência midiática que por sua vez atraem milhões de
seguidores diariamente, seria a opção mais ‘’segura’’ dar o controle de plataformas tão
poderosas a herdeiros ?, assim como até onde se dá o direito à privacidade ?
Conforme destaca a diretora nacional do IBDFAM, ‘’a proposta pode causar
insegurança social e um retrocesso nas garantias que vêm sendo concebidas e construídas no
tocante aos dados pessoais e à privacidade, em geral‘’ , a utilização de redes sociais assim
como o acesso a históricos de conversas e pesquisas causam um grande questionamento
acerca da privacidade, de forma a ferir dois dos grandes direitos humanos, a intimidade e à
privacidade.

Nesse diapasão a Lei 12.965/17 em seu Art 7º, inc. I, II e III, aborda sobre a
inviolabilidade da privacidade na internet:

Art. 7º O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário


são assegurados os seguintes direitos:

I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e


indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet,


salvo por ordem judicial, na forma da lei;

III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas,


salvo por ordem judicial;

O objetivo do presente paper não é discutir a necessidade da herança digital, mas sim
abordar e expor a evolução que se faz necessária ao Direito, todavia que deve ponderar as
referidas restrições.
As redes sociais nos tempos atuais caracterizam verdadeiros impérios, o poder de
persuasão é tamanho, a utilização das contas pelo não titular poderá gerar a desvirtualização
da proposta anterior que possuía, conduzindo multidões a interesses divergentes dos quais a
pessoa possuía, levando apenas o interesse dos herdeiros em questão, na tentativa de cercear
essa conduta seria a adoção de que a permissão de utilização das contas nas redes sociais
seriam permitidas apenas em caso de autorização expressa testamentária, medida a qual seria
conciliada ao pilar direito à privacidade.
Portanto deve observar-se a necessidade a proteção da privacidade assim como o
poder e cunho social que a rede social possui ao debater o tema herança digital,
diferentemente dos demais bens, os digitais atingem diretamente e indiretamente milhões de
indivíduos os quais tinham afeição ao falecido, assim devendo ser observado o caráter social
assim como a preservação da intimidade e imagem ao de cujus.

V- CONCLUSÃO:

O mundo globalizado trouxe a presença da tecnologia como parte fundamental ao


desenvolvimento do ser humano, a popularização da internet permitiu a sociedade estar
conectada com qualquer parte do mundo a qualquer momento, em decorrência houve a
popularização das redes sociais, as quais movem bilhões diariamente.
Com a iminência do patrimônio digital foi surgindo a necessidade de leis para sua
normatização, em especial a herança, todavia o Brasil possui uma lacuna acerca do tema
atual, sendo de maneira urgente a criação e aprovação de uma norma que dite os
procedimentos a serem seguidos no caso em questão, visto que o mundo vem tornando-se
cada vez mais digital.
Contudo a criação de lei e normas devem observar o cunho social que essa herança
perfaz, o caráter doutrinário deve ser tratado com atenção assim como a preservação da
intimidade do falecido, em razão de que trata-se de direito básico à privacidade.

VI- REFERÊNCIAS:

ALVES, Ones Figueirêdo. A herança digital como instituto de Direito Sucessório


e a doutrina zenista. 2021. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2021-out-03/heranca-digital-instituto-direito-sucessorio-dout
rina-zenista. Acesso em: 18 maio 2022.

IBDFAM (org.). Herança digital é tema de projeto de lei que trata do destino de
perfis em redes sociais após a morte. 2021. Disponível em:
https://ibdfam.org.br/noticias/8765/. Acesso em: 20 maio 2022.

D'ANGELO, Pedro. Pesquisa sobre o Instagram no Brasil: dados de


comportamento dos usuários, hábitos e preferências no uso do Instagram. 2022.
Disponível em: https://blog.opinionbox.com/pesquisa-instagram/
SILVA, Alê. PL 1689/2021. 2021. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2280308.
Acesso em: 20 maio 2022

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