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6
O World of Warcraft Gold ou apenas WoW é a moeda de troca utilizada em um dos mais famosos jogos
virtuais já lançados, o World of Warcraft, que contava com 5.5 milhões de usuários ativos em 2016. Para saber mais:
http://www.usgamer.net/articles/activision-stops-reporting-wow-subscriber-numbers-at-55-million. Acesso em
27.04.2017.
7 Linden Dollar é a moeda do Second Life, plataforma que simula, de forma tridimensional, alguns aspectos da vida
real. Criado em 2003, o software virou febre mundial, mas logo caiu no esquecimento e hoje é utilizado apenas por um
grupo pequeno de usuários (se comparado a outros ambientes virtuais como o próprio World of Warcraft).
8 Foi uma espécie de moeda virtual usada pelo Facebook entre 2009 e 2013, que permitia a compra de itens na rede
social.
9 Forma de moeda utilizada pela Microsoft para as lojas online de jogos e serviços até o ano de 2013.
10 Disponível em https://coinmarketcap.com/all/views/all/. Acesso em: 27.04.2017
O objetivo do presente artigo, que se utilizou do método indutivo e da pesquisa bibliográfica
e documental, é descrever, de forma analítica, porém sucinta, tanto o funcionamento do mais
utilizado sistema de criptomoedas da atualidade, o Bitcoin, quanto algumas das principais questões
jurídicas que envolvem o tema, notadamente os desafios na tentativa de sua regulamentação.
O comércio virtual é uma realidade inafastável, com números que não param de crescer.
Contratos de toda sorte são firmados a todo momento através da internet. O pagamento de
transações dessa natureza também é feito virtualmente e, apesar de grande parte das instituições
financeiras do mundo disponibilizar de plataformas para operações virtuais, realizadas de acordo
com a legislação dos países onde estão sediadas ou têm filiais, o ciberespaço possibilitou o
surgimento de figuras atípicas, que desafiam tanto a ordem jurídica interna quanto a internacional:
as instituições que operam com as chamadas “moedas virtuais” (ou “criptomoedas”) e garantem o
anonimato das transações.
São essas, e não as instituições financeiras tradicionais, que geram arrepios nos juristas e
colocam em cheque o esforço dos Estados e seus ordenamentos jurídicos. Dentre as principais
moedas virtuais atualmente estão o Bitcoin, o Litecoin e o Ethereum. Pela complexidade do
sistema, importância e volume de transações, no entanto, opta-se aqui pelo exemplo do Bitcoin para
ilustrar o tema, apontando-se que, apesar das peculiaridades dos outros sistemas, a tecnologia
utilizada nas principais moedas digitais é semelhante, de forma que as observações,
questionamentos e inquietações propostas no presente artigo também lhes servem.
Com milhares de instituições pelo mundo que operam como verdadeiras corretoras de
câmbio, o Bitcoin movimenta diariamente mais de quatrocentos milhões de dólares e tem milhões
de usuários11. Assim como as moedas nacionais, tem sigla e cifrão - BTC ou XBT e ฿ e sua cotação
pode ser medida em quaisquer outras moedas, tais como dólar, euro ou real. Surgiu em 2009 e tem
por base um software de código aberto que permite ao usuário que o tenha instalado em seu
dispositivo cadastrar-se e começar a operar.
Essa tecnologia ficou mundialmente conhecida não apenas pela inovação, mas
principalmente por questões de direitos autorais. Em 1999, com a disseminação de softwares de
compartilhamento, principalmente o Napster, popularizou-se a formação de redes P2P, que
funcionam da seguinte forma: uma vez que mais de um usuário tenha o software de
compartilhamento instalado em seu dispositivo (computador, tablet, celular), esse usuário se torna,
ao mesmo tempo, receptor e fonte para a distribuição de arquivos. Os arquivos que já estão integral
ou parcialmente em seu dispositivo passam a ser distribuídos para outros usuários através da sua
máquina, numa verdadeira rede de distribuição recíproca. A tecnologia revolucionou o modo como
se baixavam arquivos da internet, tornando o processo infinitamente mais rápido porque se antes os
arquivos, para ser baixados pelo usuário, precisavam estar integralmente disponíveis em um site ou
programa, com essa tecnologia o arquivo é dividido em milhares de partes agrupadas em “pacotes”
de dados e à medida que cada usuário recebe esses pacotes, ele se torna também um distribuidor das
partes do arquivo.
Por meio desse processo, apesar de atuar virtualmente, o sistema de transferência de valores
funciona como se as transações fossem feitas ao vivo, no mundo real, sem qualquer interferência de
terceiros. Assim, se A vende seus produtos pela internet e aceita o Bitcoin como forma de
pagamento, para o cliente B utilizar essa moeda virtual é necessário apenas que ele tenha uma conta
de Bitcoins, a quantidade de Bitcoins que A pede pelo seu produto e o software P2P de
transferência. Ou seja, não há intermediários, é como se A pagasse em dinheiro vivo diretamente a
B – o que não ocorreria caso qualquer outra forma de pagamento virtual fosse escolhida por B,
como depósitos ou boletos bancários e cartões de débito ou crédito.
Mas o que há de revolucionário no sistema Bitcoin, que o fez crescer tão rapidamente em
números e importância? De acordo com BRITO et al. 13, antes da sua introdução, em 200914, as
13 BRITO et al., op. cit. p. 149.
14 O primeiro anúncio formal sobre o Bitcoin foi feito em novembro de 2008, quando um artigo intitulado “ Bitcoin: A
Peerto-Peer Electronic Cash System” foi publicado online com autoria atribuída a Satoshi Nakamoto, que se
acredita ser apenas um pseudônimo para uma obra de autoria coletiva. O documento detalhava a proposta do
sistema de pagamentos peer-to-peer e deu origem ao atual sistema de mesmo nome. Para saber mais:
transações de valores online requeriam necessariamente um terceiro intermediário confiável. Por
exemplo, se A desejasse enviar determinado valor a B através da internet, isso só seria possível
através de um intermediário como o Paypal ou MasterCard, responsável pelo serviço financeiro15.
O importantíssimo papel desempenhado pelo terceiro, nesse caso, seria debitar o valor da conta de
A e creditar na conta de B. Sem esse intermediário, não havia nenhuma garantia de que a moeda
digital, que, no fundo, nada mais é do que um arquivo de computador, não seria gasta diversas
vezes. Ou seja, não havia nenhuma garantia de que A não enviaria o mesmo arquivo (ou moeda
digital) para vários destinatários ao mesmo tempo, já que a moeda digital não seria
automaticamente apagada do computador de A. Conhecido na Ciência da Computação como o
problema do “duplo-gasto” ou da “dupla-despesa” (double-spending problem), até a invenção do
sistema Bitcoin, essa questão só poderia ser resolvida através de um terceiro intermediário.
Para os mesmos autores, o sistema é revolucionário porque permitiu, pela primeira vez, a
solução do problema do “duplo-gasto” sem a necessidade de um terceiro. Utilizando-se do sistema
P2P, o Bitcoin cria um banco de registro ou banco de dados distribuído (distributed ledger system).
Todas as transações que ocorrem na rede Bitcoin são registradas nesse banco de dados, chamado de
block chain ou “cadeia de blocos”, numa tradução literal. Novas transações são verificadas em
relação a esse banco de dados para garantir que os mesmos bitcoins não tenham sido gastos
anteriormente, eliminando assim o problema da dupla utilização.
Funciona da seguinte forma: a rede global peer-to-peer, composta por milhares de usuários,
substitui o intermediário através tanto da interação entre os usuários quanto da chamada
“criptografia de chave pública” ou “criptografia assimétrica”. A criptografia de chave pública
requer que cada usuário seja designado com duas "chaves": uma privada, que funciona como uma
senha e é mantida em segredo pelo usuário; e uma pública, que pode ser compartilhada com
qualquer pessoa. É através da relação matemática entre uma determinada chave pública e a chave
privada correspondente que se permite aos usuários verificar a propriedade do bitcoin16.
Assim, se “A” quer transferir um bitcoin (1 BTC) para “B”, “A” deve criar uma mensagem
para a rede, chamada de "transação", afirmando que gostaria de transferir 1 BTC de seu endereço
público para o endereço público de “B”. “A” então "assina" com sua chave privada e transmite a
mensagem pela rede. Ao olhar para a chave pública de “A”, qualquer pessoa pode verificar se a
transação foi de fato assinada com sua chave privada e conferir sua autenticidade, além de verificar
também que “B” é o novo proprietário do valor transferido. A transação - e, portanto, a transferência
NAKAMOTO, Satoshi. Bitcoin: a Peer-to-peer Eletronic Cash System. 2008. Disponível em:
https://bitcoin.org/bitcoin.pdf. Acesso em 27.04.2017.
15 MEREDITH, Michael W; TU, Kevin V. Rethinking Virtual Currency Regulation in the Bitcoin Age. Washington
Law Review. Vol 90:271. 2015. Disponível em: http://ssrn.com/abstract=2485550. Acesso em 27.04.2017.
16 BRITO et al., op. cit. p. 150-151
de propriedade dos bitcoins - é registrada, datada. e exibida em uma cadeia de blocos (block chain),
ou banco de dados distribuído, atualizado a cada dez minutos por voluntários chamados de
“mineradores”, que ajudam a manter o sistema funcionando. Com isso, os dados que circulam
através da tecnologia P2P são criptografados e verificados por cada “nó” da rede, o que torna o
sistema mais seguro e protegido contra fraudes, permitindo a confirmação da titularidade do
detentor da moeda e evitando a dupla utilização.
No que tange aos custos, taxas, e velocidade das transações, a explicação se deve à ausência
de intermediários; quanto ao anonimato, o Bitcoin, assim como outras moedas virtuais, não exige
que seus usuários forneçam qualquer informação pessoal antes de fazer uma compra e, como tal,
pretende limitar o risco de roubo de identidade ou fraudes; já no que se refere aos menores riscos
para os comerciantes, entende-se que o sistema também serve para proteger os comerciantes de
fraudes de consumidores, já que as transações Bitcoin não são reversíveis. Essa seria uma
vantagem, por exemplo, para quem experimenta alto volume de requisição fraudulenta de estorno
das transações.
Finalmente, como outras moedas virtuais, o sistema Bitcoin também é visto por alguns como
menos suscetível à inflação e manipulação artificial quanto ao valor da moeda. Segundo
MEREDITH e TU18, quando o artigo de Nakamoto foi publicado, em 2008, a confiança na
capacidade dos governos e bancos para administrar a economia e as oscilações inflacionárias
estavam em seu menor nível. O governo dos EUA estava distribuindo dólares às empresas de Wall
Street e às empresas de automóveis de Detroit. O Banco Central norte-americano (Federal Reserve)
imprimia dinheiro para estimular a economia e tentar controlar mais uma crise econômica. Ou seja,
a interferência do Estado no sistema monetário era maciça e as soluções propostas, repetidas em
outros momentos de recessão, não dava respostas.
E como funciona esse processo? Antes que um bloco possa ser adicionado à cadeia de
blocos (block chain), o computador de um mineiro precisa resolver corretamente um problema
matemático crucial para o sistema, chamado de “protocolo prova de trabalho” (proof-of-work ou
PoW). O PoW, na criptografia, significa, para o executor da ação (nesse caso, o “mineiro”), a
capacidade de provar que ele, de fato, executou determinada tarefa.
Superado o PoW, a dificuldade do algoritmo se ajusta de tal forma que, em média, um novo
bloco é criado a cada dez minutos19. Esse processo de “mineração” limita a quantidade total de
moeda que entra no mercado Bitcoin e torna impossíveis flutuações fora do mercado. Os novos
bitcoins só entram no mercado após a adição de um novo "bloco" à cadeia de blocos (block chain).
E um bloco nada mais é do que o registro de uma recente transação Bitcoin. Sua criação, no
entanto, ocorre a uma taxa previsível e isso é assegurado pela dificuldade crescente da PoW
necessária antes que um “bloco" seja adicionado.
Assim, tem-se como uma certeza matemática a taxa pela qual novos blocos serão criados.
Isso porque quando um novo bloco é adicionado à cadeia de blocos (block chain), uma quantidade
predeterminada de novos bitcoins entram no mercado como um prêmio para quem submeteu o
bloco. E de acordo com o sistema previsto por NAKAMOTO 20, o tamanho da recompensa em
bitcoins previsto para cada bloco deve se dividir a cada 210.000 blocos - primeiro de 50 Bitcoins
para 25, depois de 25 para 12.5, e assim por diante até que o limite pré-determinado de 21 milhões
de Bitcoins seja atingido. Assim, em teoria, isso tornaria a moeda imune à inflação e à manipulação
política. Para muitos, isso representa um sistema mais previsível e confiável do que o sistema
monetário tradicional.
Não obstante o que foi exposto, MEREDITH e TU21 assinalam que a fim de ascender de
Desde então, o sistema cresceu e hoje abriga uma base de milhares de usuários 24, dentre
comerciantes, prestadores de serviço e consumidores que aceitam a moeda em suas transações.
Como o sistema ainda é novo, no entanto, o número de comerciantes que aceitam bitcoins em troca
de bens ou serviços é reconhecidamente pequeno quando comparado à moeda tradicional. Não
obstante, como o Bitcoin foi projetado para facilitar o comércio na Internet e a transferência de
fundos online, não surpreende que a maior taxa de adoção ainda seja no comércio virtual 25 e que
alguns varejistas online tenham um modelo comercial baseado na aceitação da criptomoeda como
método exclusivo de pagamento26. Outros, no entanto, aceitam tanto os meios tradicionais quanto o
meio virtual.
No início, a maioria dos varejistas online que optaram por aceitar a moeda eram provedores
de bens e serviços virtuais, como, por exemplo, a EZTV (um provedor de serviços transmissão
online de canais de televisão), o Reddit (fórum de mensagens), Wordpress (uma plataforma de
blogs), Namecheap (um serviço de registro de domínio), Lumfile e meag.co.nz (serviços de
armazenamento on-line), e Zygna (uma empresa de jogos móveis). Com o fortalecimento do
blockchain, porém, algumas grandes empresas dos Estados Unidos como a Overstock.com (rede
varejista de móveis e artigos de decoração), a Dell (empresa de informática e tecnologia), a Expedia
(agência de viagens online) e a Dish Network (provedor de televisão por satélite) anunciaram, já em
2014, que passariam a receber pagamentos em bitcoin. Daí por diante, a adesão ao sistema passou a
crescer promissoramente no mundo inteiro.
Após isso, em 2 de maio de 2013, a primeira troca de moeda virtual por moeda física,
impressa, foi realizada sob a forma de um caixa eletrônico de Bitcoin. Semelhantemente a um caixa
eletrônico tradicional, ele permite que as pessoas troquem o Bitcoin por dinheiro ou depositem
dinheiro para comprar mais Bitcoin, transferindo fundos para ou de uma carteira virtual em seus
smartphones. Desde então, mais de dez desenvolvedores de caixas eletrônicos entraram no mercado
e em maio de 2014, entrou em operação o primeiro caixa eletrônico comercial a operar trocas em
reais28., instalado na zona sul de São Paulo.
Ainda nessa linha, os desenvolvedores também começaram a lançar aplicativos móveis para
facilitar o uso do Bitcoin. O primeiro deles, conhecido como Bitpay, lançado em 29 de junho de
2011, foi comercializado como a primeira “carteira virtual” de smartphone para Bitcoins e permitiu
aos usuários enviar e receber a moeda usando apenas o smartphone. Após isso, vieram outras
“carteiras virtuais” e hoje já existem “carteiras físicas”, um espécie de pendrive criptografado que
guarda as chaves privadas da moeda.
Outro fator que torna o Bitcoin atraente para o capital especulativo é o constante lançamento
de novas moedas digitais que se baseiam na mesma ideia do blockchain: são as chamadas
altcoins31. Como já mencionado anteriormente, o sistema pioneiro abriu caminho para a criação de
outras criptomoedas que se baseiam na tecnologia peer-to-peer. Assim como o Bitcoin, essas
moedas são lançadas com valores irrisórios, custando frações de dólares e com potencial de
valorização que pode chegar aos 15.000% em alguns meses (quando o seu valor passa de uma
fração de dólar para alguns dólares. A exemplo, temos o Dash, que passou de 0,87 dólares em maio
de 2014 para impressionantes 150 dólares por unidade em junho de 2017; ou o Monero, que saltou
de 0,47 dólares em janeiro de 2015 para 52 dólares em junho de 201732.
34 HACKET, Robert. Big Business Giants From Microsoft to J.P. Morgan Are Getting Behind Ethereum.
Disponível em: http://fortune.com/2017/02/28/ethereum-jpmorgan-microsoft-alliance/. Acesso em 14.06.2017
35 CHRISTIN, Nicolas; MOORE, Tyler. Beware the Middleman: Empirical Analysis of Bitcoin-Exchange Risk. In:
SADEGHI, Ahmad-Reza (Ed.). Financial Cryptography and Data Security. Revised Selected Papers. Okinawa:
Springer, 2013, p. 45.
36 ENGLAND, Bank of. Quarterly Bulletin, Q1. Vol. 54 No. 1. Londres: 2014a, p. 262. Disponível em:
http://www.bankofengland.co.uk/publications/Documents/quarterlybulletin/2014/qb14q1.pdf. Acesso em 10.03.2017
37
Por questões operacionais e econômicas, como a maioria das transações contemporâneas já é feita apenas
uma autoridade central.
Uma vez que o sistema ainda é muito recente e promissor, e exatamente por isso, porém, o
debate jurídico sobre o tema é incipiente, quando não inexistente. Apesar disso, no entanto, muitas
questões a ele relacionadas desafiam (e o futuro certamente estenderá esses desafios) o Direito. Ora,
se o sistema carece de uma autoridade central para controlá-lo, certamente não se submete ao
ordenamento jurídico de nenhum Estado ou a normas do Direito Internacional, mas somente às
regras do mercado. Ocorre que a Economia tradicional, atrelada a instituições oficiais (nacionais e
internacionais), tem sua atividade regulamentada através da vasta legislação que viabiliza o
funcionamento minimamente equilibrado do sistema, incluindo questões que vão desde a reserva do
lastro monetário até a prevenção e punição de ilícitos civis, penais e administrativos na área
financeira.
O sistema de criptomoedas descentralizadas, por sua vez, não se submete a nenhuma
legislação dessa natureza e continua operando livremente, sem que qualquer Estado ou instituição
possa regular o seu funcionamento, já que a inexistência de uma ou mais autoridades controladoras
torna impossível o rastreamento das transações, que ocorrem de forma irreversível e com garantia
de anonimato. Segundo TSUKERMAN38, a partir daí uma série questões de Direito Tributário,
Financeiro, Econômico e Administrativo podem ser levantadas.
Como aponta DE FILIPPI39 as criptomoedas constituem uma ameaça potencial para a
soberania nacional, pois escapam ao alcance de muitas políticas governamentais. Em sua opinião, a
tributação é provavelmente a questão mais relevante a ser discutida, pois, dado o anonimato das
transações e ausência de intermediários, é praticamente impossível para qualquer governo monitorar
ou controlar como a moeda está sendo usada. Mesmo que todas as transações sejam transparentes
para o público, o anonimato inerente à sua rede torna as plataformas criptografadas as melhores
candidatas ao posto de paraísos fiscais. Ademais, em virtude do seu caráter distribuído, não existe
uma única entidade encarregada de estabelecer a taxa de juros global para qualquer uma dessas
moedas. Assim, se as moedas fossem amplamente adotadas, os Estados-Nação poderiam perder a
sua capacidade de regulamentar a Economia por meio das políticas monetárias tradicionais.
Outro ponto que já preocupa sensivelmente é a utilização de criptomoedas para lavagem de
dinheiro proveniente de atividades ilícitas. Como aponta BÖHME at al. 40, o sistema do Bitcoin tem
virtualmente, não há necessidade de impressão do papel moeda, basta apenas o registro digital controlado pelas
autoridades dos países.
38
TSUKERMAN, Misha. The Block is Hot: A Survey of the State of Bitcoin Regulation and Suggestions for the
Future. Berkeley Technology Law Journal. Vol. 30. 4 ed. Disponível em:
http://scholarship.law.berkeley.edu/btlj/vol30/iss4/19. Acesso em 27.04.2017.
39 DE FILIPPI, Primavera. A regulatory nightmare do a libertarian dream. Internet Policy Review. Université Paris
II. 3(2). p. 4. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2468695. Acesso em:
27.04.2017.
40 BÖHME, Rainer; BREUKER, Dominic; MÖSER, Malte. An Inquiry into Money Laundering Tools in the
levantado suspeitas de facilitação dessa espécie de crime, em virtude das seguintes características:
1) anonimato (ou semi-anonimato) e irreversibilidade das transações, que uma vez realizadas não
podem ser desfeitas, pois ocorrem em tempo real; 2) sua popularidade no mercado negro, sendo a
forma de pagamento mais utilizada; 3) sua associação a diversos casos de fraude financeira41.
O anonimato ou semi-anonimato do Bitcoin funciona da seguinte forma: cada usuário, ao
criar uma conta, não se utiliza de sua identidade real, mas de um pseudônimo, e uma vez que o
mesmo usuário pode abrir diversas contas com pseudônimos distintos, pode tornar impossível sua
identificação no mundo físico. Na verdade, as transações com Bitcoins não são exatamente
anônimas, já que ficam registradas nos bancos de dados distribuídos e são de livre acesso ao
público; o anonimato reside, de fato, na impossibilidade de rastrear os reais detentores dos
pseudônimos (e, consequentemente, proprietários de contas de Bitcoins). E aí fica claro que uma
moeda que não sofre regulamentação de nenhum ordenamento jurídico nacional, sendo dotada de
normas próprias e flexíveis, e cujas transações dão aos seus usuários uma espécie de “garantia de
anonimato”, acabou se tornando um grande atrativo para criminosos42.
Nesse sentido, as criptomoedas tornaram-se o meio financeiro por excelência na chamada
Deep Web. Como o nome já sugere, a Deep Weeb é a camada mais “profunda” da internet, também
conhecida como Invisible Web ( Rede Invisível) ou Hidden Web (Rede Escondida), composta por
endereços eletrônicos “não indexados”, inacessíveis através dos mecanismos de busca e
navegadores tradicionalmente utilizados para o acesso à rede. É como se os sites acessados
normalmente pelas pessoas (sites de busca, jornais, bancos, lojas, blogs, universidades, etc.) fossem
apenas a ponta de um imenso iceberg, ou, como os especialistas de TI costumam dizer, a Surface
Web, ou seja, numa livre tradução, a “Superfície da Rede”. SUI et al. 43 apontam que esse mundo de
sites “não indexados” é estimado em 400 a 500 vezes o número de sites indexados. Ou seja, para
cada site que aparece em mecanismos de busca como o Google, existem cerca de 400 a 500 que não
aparecem.
A existência da Deep Web em si não é ilegal e retrocede aos anos 1990. Qualquer possuidor
de um domínio pode, ao publicar seu site, escolher, por diversas razões, não indexá-lo aos
Bitcoin Ecosystem. Münster Bitcoin Conference (MBC). Münster: 2013, p. 1. Disponível em: https://www.wi.uni-
muenster.de/sites/default/files/public/department/itsecurity/mbc13/mbc13-moeser-paper.pdf. Acesso em: 10.03.2017
41
Para saber mais: MICK, J. Pirateat40 Makes Off 5.6M USD in BitCoins From Pyramid Scheme, 2012.
Disponível em: http://www.dailytech.com/pirateat40/article25538.htm. Acesso em: 20.04.2017; M. Santora, W. K.
Rashbaum, and N. Perlroth. Online currency exchange accused of laundering $6 billion, Maio de 2013. Disponível
em: http://www.nytimes.com/2013/05/29/nyregion/liberty-reserve-operators-accusedof-money-laundering.html?
pagewanted=all&_r=0. Acesso em: 20.04.2017.
42
BÖHME, Rainer; BREUKER, Dominic; MÖSER, Malte. Op. cit. p.4.
43 SUI, Daniel; CAVERLEE, James; RUDESILL, Dakota. The Deep Web and the Darknet: a look inside the
internet massive black box. Science and Technology Innovative Program. Wilson Center. Washington: 2015.
Disponível em: https://www.wilsoncenter.org/sites/default/files/stip_dark_web.pdf. Acesso em 17.04.2017
mecanismos de busca tradicionais. Assim, a Deep Web, tal qual a Surface Web, comporta todo tipo
de conteúdo (legal e ilegal); a grande diferença, no entanto, é que enquanto os sites indexados são
facilmente rastreáveis, boa parte do conteúdo não indexado geralmente se perde na escuridão e no
anonimato144.
Por esse motivo, cresce rapidamente dentro da Deep Web o que os estudiosos chamam de
Darknet45, os sites e redes de computadores que trafegam em total anonimato, compartilhando todo
tipo de conteúdo e informações de forma anônima e praticamente irrastreável. Um mundo
desconhecido de grande parte das pessoas e principalmente das autoridades estatais, que apenas
nessa década começaram a voltar seus olhos ao que acontece ali.
Com efeito, em outubro de 2013 o desafio da Deep Web veio à tona quando o FBI conseguiu
prender, nos Estados Unidos, Ross Ulbricht, também conhecido como Dread Pirate Roberts, o
criador e administrador de uma das maiores redes de contrabando de artigos ilegais e tráfico de
drogas da Darknet, o site Silk Road, que operava livremente no submundo da rede e até julho de
2013 estima-se ter movimentado mais de 1,2 bilhões de dólares através de seus mais de 4.000
vendedores e 150.000 consumidores, todos anônimos, espalhados por todo o mundo e usuários, em
grande parte, do sistema de criptomoedas46.
Apesar de conseguir identificar o criador e mantenedor do site, a operação do FBI foi
bastante controversa porque teria utilizado técnicas ilegais de rastreamento (hacking) por parte do
Estado, já que a questão envolvia também a jurisdição de outros dois países, Alemanha e Islândia,
onde estavam localizados os servidores que permitiam o tráfego de dados do Silk Road47. Além
disso, mesmo tendo cessado as atividades do site, tanto os vendedores quanto os consumidores
espalhados pelo mundo, que também cometeram diversos crimes segundo a legislação da maior
parte dos países ocidentais e orientais, continuam impunes e anônimos e certamente já retomaram
suas atividades em outros sites da Darknet, utilizando-se, em sua grande parte, do anonimato
permitido pelo sistema virtual das criptomoedas. E a probabilidade de os Estados conseguirem
cessar essas atividades individualmente é nula, já que as redes criminosas operam na Deep Web com
44
Como a definição de Deep Web comporta tudo aquilo que não está na Surface Web, os endereços eletrônicos
que exigem nome de usuário (login) e senha para completo acesso (tais como contas de bancos, sites de pagamentos, e-
commerce, e-mails, contas de redes sociais e sites com conteúdo pago, etc.), bem como aplicativos de mensagens e
chats virtuais são computados como parte dessa rede anônima (SUI et. al. Op. cit. p.8).
45
Ou ainda Darkweb, Dark Net, Dark Internet, todos com o mesmo significado: “Rede Escura”.
46
SUI et. al. Op. cit. p.5.
47
Para saber mais: The Silk Road: who was the real Dread Pirate Roberts?
http://www.theguardian.com/news/video/2015/may/26/deep-web-who-was-the-real-dread-pirate-roberts-video. Acesso
em 19.05.2017; Feds hacked silk road without a warrant? http://www.wired.com/2014/10/feds-silk-road-hack-legal/,
Acesso em 19.05.2017;
muita sofisticação e alto nível de desenvolvimento tecnológico.
Através de softwares como o Tor, Freenet, Tarzan, Morphmix e etc., navegar na Darknet
pode ser mais seguro que navegar na Surface Web, e completamente anônimo porque esses
programas garantem a criptografia dos dados e se utilizam de uma tecnologia chamada onion
routing481. Por ela, se “A” deseja se comunicar com “B”, em vez de o computador “A” se conectar
diretamente ao computador “B”, a conexão entre ambos é feita em camadas, como numa cebola, e
nenhum computador participante da rede conhece o caminho completo da conexão. Assim, para
“A” se conectar a “B”, a mensagem passará por “C”, “D” e “E” antes de chegar a “B”.
A eficácia desses softwares é tamanha em manter o anonimato e a criptografia das
comunicações que eles tiveram grande importância durante a Primavera Árabe e são utilizados com
frequência pelos administradores do Wikileaks e por internautas chineses que querem burlar as
limitações impostas pelo governo chinês. SUI et al. (2015, p. 10) afirmam que a emergência da
Deep Web e da Darknet, aliada à versatilidade e alcance mundial do sistema de criptomoedas,
criaram um novo “ecossistema” econômico, social e político que foi inteiramente projetado para
existir e funcionar além do controle de qualquer ordenamento jurídico.
Assim, ainda é muito difícil quantificar e qualificar os danos. Se crimes como tráfico de
drogas e lavagem de dinheiro já são difíceis de se identificar, investigar e punir quando os
criminosos usam moedas reais, pessoas físicas e jurídicas e o sistema financeiro institucionalizado,
o que dizer quando ele é praticado pelo meio virtual, através de contas irrastreáveis? Com um
sistema próprio de normas e ausência de regulamentação, as criptomoedas certamente são um dos
desafios mais enigmáticos para o Direito da atualidade.
5 Regulamentação
No início da popularização da internet, algumas comunidades virtuais se formaram com o
intuito de clamar por uma espécie de “imunidade jurisdicional” para a rede. A ideia não prosperou
mas, embora os dias de “separatismo” na internet tenham esvanecido, isso não significa a
inexistência de uma ambiente independente e com normas próprias.
Como demonstra REINDENBERG49, nos primeiros casos levados a julgamento perante os
judiciários nacionais, empresas de TI como o Yahoo! Inc. clamavam por imunidade jurisdicional
para não ser obrigadas a se submeter às limitações legislativas de cada Estado em que seus
conteúdos eram veiculados50. Com o tempo, no entanto, a questão parece ter sido atenuada, já que
48
“roteamento cebola”, numa livre tradução.
49
REIDENBERG, Joel R. Technology and Internet Jurisdiction. University of Pennsylvania Law Review. Vol. 153.
n. 6. Filadelfia: 2005. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/4150653. Acesso em: 10.05.2017
50
companhias importantes de TI como a própria Yahoo! Inc., Google, Facebook, etc., para viabilizar o
acesso irrestrito a pessoas de todo o mundo e, com isso, alavancar seus valores de mercado, tiveram
que se adaptar (voluntária ou compulsoriamente) às restrições jurídicas de cada Estado51.
Não obstante, o maior desafio para o Estado de Direito não são as grandes empresas nem
aqueles que desejam agir de acordo com o ordenamento jurídico, mas os usuários menos idealistas e
mais inclinados a tratar o espaço virtual como um playground em que as normas jurídicas, morais e
éticas do mundo físico podem ser deixadas de lado.
Aqueles que querem fugir ao ordenamento jurídico dos Estados, criando normas próprias,
não poderiam ter encontrado ambiente mais favorável do que a internet, pois, à medida que se
multiplicam os usuários e com a velocidade que as informações trafegam na rede, torna-se
praticamente impossível rastrear, identificar, tipificar e punir todos os atos que estejam em
desacordo com a legislação de um Estado. Além disso, tendo em vista as diferenças normativas
entre os países e as consequências aterritoriais inerentes ao mundo virtual, o controle de aplicação
das normas depende de acordos de cooperação jurisdicional que, quando existem, demandam um
longo e custoso processo judicial e diplomático.
Para alguns autores, a internet deveria ser a terra dos “netizens”52, ou seja, um ambiente livre
de normas jurídicas estatais, já que o ciberespaço não tem limites territoriais e qualquer tentativa de
regulamentação feita por Estados soberanos estará inevitavelmente fadada ao fracasso. Além disso,
uma vez que o ciberspaço está em todos os lugares e em nenhum lugar ao mesmo tempo, não se
submete a nenhuma jurisdição, e assim nenhum Estado seria mais ou menos merecedor de exercer
sua soberania. O que tem prevalecido, no entanto, é a visão tradicional segundo a qual os países
devem ter normas próprias para regular o mundo virtual. Assim, cada Estado exerce sua soberania
nessa área e cria normas específicas destinadas a regular a vida civil e punir eventuais ilícitos civis,
penais e administrativos53.
Em um dos casos mais famosos, o Estado francês processou o Yahoo! Inc. por permitir o acesso na versão
francesa de seu site (www.fr.yahoo.com) a um link que redirecionava os usuários para a versão americana do site que,
por sua vez, dava acesso a conteúdo nazista vedado pela legislação francesa. No processo, o Yahoo! Inc. alegou, sem
sucesso, que os tribunais franceses não poderiam exercer sua jurisdição sobre a companhia norte-americana e conteúdos
que, embora disponíveis em seu território, estariam armazenados em sites baseados em outro território. A companhia
norte-americana perdeu a lide tanto nos tribunais franceses, quanto nas cortes estadunidenses, às quais recorreu após ser
derrotada na França.
51
O maior exemplo dessa “adaptação” é a China, que apesar de permitir aos seus cidadãos o acesso à internet,
exerce rígida censura sobre o que circula na rede. Empresas como Google e Facebook, por exemplo, têm parte de seus
produtos e conteúdos bloqueados pelo governo chinês. Para saber mais: KING, Gary; PAN, Jennifer; ROBERTS,
Margaret E. How censorship in China allows government criticism but silences collective expression. American
Political Science Review. Harvard, 2013. Disponível em: http://gking.harvard.edu/files/censored.pdf. Acesso em
11.05.2017.
52
A palavra é um neologismo obtido cruzando-se as palavras em inglês “net” (de internet ou “rede”) e “citizens”
(cidadãos) (SEGURA-SERRANO, Antonio. Internet regulation and the role of International Law. Max Planck
Yearbook of United Nations Law. v.10. Leiden: Martinus Nijhoff Publishers, 2006)
53
Nesse sentido, as moedas virtuais ainda são um ambiente nebuloso para o Direito na maior
parte dos países, com os primeiros (e pequenos) passos regulatórios nacionais surgindo apenas a
partir de 2013. Nos Estados Unidos, a FinCEN - Treasury Department’s Financial Crimes
Enforcement Network emitiu orientação, em março de 2013, informando que as casas de câmbio de
Bitcoin e outras empresas relacionadas eram qualificados como money trasmitter54 nos termos da
Lei de Privacidade bancária (Bank Secrecy Act)55. Como resultado, tais empresas são obrigadas a se
registrar no FinCEN como empresas de serviços monetários (MSBs) em cada estado em que
operam. Eles também devem cumprir as regras aplicáveis ao setor, criar programas robustos contra
a lavagem de dinheiro e arquivar relatórios de atividades suspeitas. Em janeiro de 2014, o
Departamento de Serviços Financeiros de Nova York realizou dois dias de audiências para discutir
sobre como as empresas de Bitcoin deveriam ser licenciadas e passou a considerar a possibilidade
de uma espécie de BitLicense adaptada especificamente para moedas virtuais.
Com efeito, a aplicação da lei nos Estados Unidos até o momento centrou-se basicamente
em ações contra a lavagem de dinheiro e transferência ilegal de recursos. Em maio de 2013, agentes
federais apreenderam 5 milhões de dólares de contas pertencentes ao Mt. Gox, a maior bolsa de
bitcoins do mundo à época56. De acordo com o mandado de apreensão, a empresa não havia se
cadastrado no FinCEN como prestadora de serviços monetários. Em janeiro de 2014, agentes
federais detiveram Charlie Shrem, CEO da BitInstant 57. De acordo com a denúncia criminal, Shrem
ajudou um revendedor de bitcoin a trocar dólares por bitcoins para serem usados no mercado negro
anônimo da Silk Road, mencionada no tópico anterior.
O episódio envolvendo a Mt. Gox teve repercussões também em outros países, pois a
empresa, sediada em Tóquio, que lidava com setenta por cento de todas as transações da Bitcoin um
ano antes, suspendeu as atividades e acabou abrindo falência e levando consigo cerca de 450
milhões de dólares dos seus usuários. Apenas em abril de 2017, no entanto, três anos depois do
colapso da Mt Gox, o Japão finalmente conseguiu promulgar legislação para proteger os usuários de
um colapso semelhante, oficializando as moedas virtuais como um meio de pagamento reconhecido
Ao Direito Internacional, do qual se poderia esperar maiores iniciativas nessa área, coube um papel
coadjuvante. De acordo com SEGURA-SERRANO (Op. cit., p.11)) suas inserções se restringiram a temas como a
colisão entre liberdade de expressão e o combate a conteúdo agressivo; questões relativas à escolha da lei aplicável;
proteção da privacidade dos usuários contra a atuação de empresas de TI e, por último, a questão mais sensível: a
proteção da propriedade intelectual. Apesar disso, no entanto, os marcos normativos utilizados ainda são muito antigos e
a doutrina tem feito esforço para adequá-los à nova realidade. A exemplo disso, veja-se que o Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos, de 1966, principal instrumento normativo em âmbito mundial para a proteção desses direitos,
tem sido adaptado para tornar possível sua aplicação ao mundo virtual.
54
Espécie de “corretora de valores” responsável pela transferência de valores dentro e fora do território nacional, nos
moldes da conhecida Western Union.
55 BRITO et al., Op. cit., 2014, p.156.
56 TOOR, Amar. US seizes and freezes funds at biggest Bitcoin exchange. The Verge. May 15, 2013. Disponivel
em: https://www.theverge.com/2013/5/15/4332698/dwolla-payments-mtgox-halted-by-homeland-security-seizure-
warrant. Acesso em: 14.05.2017.
57 BRITO et al. Op. cit. 2015, p.154
pelo Estado58.
No Reino Unido, as criptomoedas, apesar de já difundidas, ainda tem status jurídico bastante
confuso. De acordo com REES, a regulamentação ainda é quase inexistente e se limita a leis
genéricas sobre lavagem de capitais e banco de dados dos clientes59. No Brasil, a situação
regulatória também é nebulosa e ainda não há normas específicas para o mercado de criptomoedas.
Em maio de 2017, no entanto, o Brasil deu seus primeiros passos na tentativa de regulamentação do
tema, através da instalação de uma comissão especial da Câmara dos Deputados para discutir a
regulamentação, pelo Banco Central, de negociações com moedas virtuais e programas de
milhagem de companhias aéreas.
O tema é abordado no Projeto de Lei 2303/15, que propõe a fiscalização das moedas virtuais
pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) na tentativa de reduzir os riscos contra
a estabilidade financeira da economia, diminuir a possibilidade de envolvimento das moedas com
atividades ilícitas e proteger o consumidor contra eventuais abusos60.
Considerações Finais
58 REES, Tom. Regulating Bitcoin: how new frameworks could be a catalyst for cryptocurrencies. Londres: The
Telegraph, 2017. Disponível em: http://www.telegraph.co.uk/business/2017/04/16/regulating-bitcoin-new-
frameworks-could-catalyst-cryptocurrencies/. Acesso em: 15.06.2017.
59 REES, Tom. Ibid.
60 Para saber mais: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/ECONOMIA/535524-INSTALADA-
COMISSAO-ESPECIAL-PARA-ANALISAR-NEGOCIACOES-COM-MOEDAS-VIRTUAIS.html. Acesso em
15.06.2017.
permitem a formação de uma comunidade global de usuários. Interligados através da internet e do
protocolo peer-to-peer, os usuários das criptomoedas não se limitam aos territórios de seus países,
atuando transnacionalmente. Assim, da mesma forma que esses sujeitos da sociedade internacional
se reúnem para discutir questões climáticas, questões de direitos humanos e outras tantas relativas
ao crime organizado transnacional61, deveriam reunir-se para discutir um tema que pode
revolucionar o sistema financeiro contemporâneo e trazer repercussões que certamente não se
limitam ao mundo virtual.
É certo que toda tentativa de normatização, seja nacional ou internacional, sempre terá de
enfrentar a perplexidade comum a um tema tão novo, cuja natureza jurídica os especialistas sequer
conseguem definir. Seja como moeda, commodities ou uma nova classe de ativo financeiro, no
entanto, a necessidade de regulamentação é óbvia, já que cada dia mais pessoas se envolverão em
fatos jurídicos relacionados ao sistema.
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61 Veja-se, por exemplo, a união de esforços para assinar a Convenção de Palermo, em 2003, e seus protocolos
adicionais.
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