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A NOVA

INTERNET:
MEU MINI GUIA SOBRE
WEB3 PARA NEGÓCIOS.

ESCRITO POR: TALLIS GOMES


SUMÁRIO

1 - Introdução pg.3

2 - O que é Web3 e no que ela difere da


internet que conhecemos. pg.6

3 - Sobre as DAOs - Organizações


Autônomas Descentralizadas pg.21

4 - Os efeitos da Web3 para os criadores:


mudando o destino do fluxo de capital
na internet. pg.26

5 - Como os mundos virtuais e os jogos


impactam o mercado. pg.32

6 - Quais iniciativas as marcas estão


fazendo para penetrar nos mundos
virtuais. pg.40

7 - Como as DAOs estão transformando


o mercado. pg.47

8 - Um futuro precisamente único. pg.53

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Meu Mini Guia sobre
Web3 para negócios
Em dezembro de 1997, o fundador de
uma companhia que havia recém-aberto
capital na bolsa, escreveu uma carta aos
seus acionistas. Nela, a internet era descrita
como “The World Wide Wait” - a grande
espera mundial - e, um trecho destacava o
momento que ali era vivenciado: “Nós só
estamos no dia 01 da internet…”

O autor era ninguém menos que Jeff Bezos,


fundador da Amazon, e a carta é conhecida
como a primeira Carta de Bezos aos
Shareholders, posteriormente anexada ano
a ano em todas as suas cartas que
se seguiram.

Nessa época, a internet tinha uma visão


dividida em dois extremos: os céticos e
os early adopters. Os analistas avaliavam
a internet como uma grande incógnita,
pouco tangível. Uma moda que possuía
uma experiência pouco intuitiva.

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Os early adopters, por sua vez, eram
indivíduos mais receptivos quanto à
adoção de novas tecnologias e produtos.

Eram compostos por dois perfis


diferentes: os geeks ou nerds, a
exemplo de jogadores de videogame
e usuários assíduos de computador; e
os desbravadores, pessoas que aderem
a tendências ao enxergá-las como
oportunidades, a exemplo de Bill Gates,
Steve Jobs e o próprio Bezos.

Qualquer semelhança com o cenário atual


não é mera coincidência quando falamos
de Web 3.0.

Adventos tecnológicos com grande


potencial para impactar o establishment
costumam gerar discussões.

E, se a internet demorou 30 anos para


atingir o modelo atual, para se desdobrar
em uma nova fase será muito mais rápido.
Acredito que, antes de julgar ou ignorar
uma tendência, devemos entender

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minimamente sobre ela e seus efeitos.
Essa humildade intelectual nos ajuda a
formular nossas próprias opiniões.

Esse é o objetivo deste guia:


compartilhar informações sobre a Web
3.0 adquiridas após imergir em opiniões
e análises de especialistas e do mercado
como um todo.

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2 - O que é Web3 e no
que ela difere da inter-
net que conhecemos
Antes de falar quais são as características
da Web 3.0 e como ela funciona,
é importante compartilhar o panorama
sobre as duas versões anteriores,
reforçando quais foram as transformações
geradas e o que muda com a terceira
geração.

(1995 - 2005) A WEB 1.0 chega para


democratizar o acesso à informação
Criada por Tim Berners-Lee em 1990,
a World Wide Web (WWW) tinha como

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principal objetivo democratizar o acesso à
informação.

De forma simplificada, a Web 1.0 permitia


a conexão entre diversos recursos
com base em links de hipertexto. Foi
nesse período em que as páginas da web
começaram a aparecer.

Nesse cenário, a internet era bem estática


quase como uma revista. Diversos
conteúdos disponibilizados eram
basicamente retirados do mundo offline
e passados para o online e eram feitos
primordialmente por desenvolvedores.

O consumo de informações via web era


restrito a àqueles poucos que detinham
acesso na época, assim como era uma via
de mão única, onde os usuários podiam
apenas ler os textos, sem fazer nenhuma
consideração ou criar algo próprio,
enquanto a produção de conteúdo era
proveniente quase que exclusivamente
de portais, a exemplo de UOL e Terra
aqui no Brasil.

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(2005-2020) A WEB 2.0 revoluciona
o modo como nos relacionamos,
permitindo a interação dentro da
internet
A interatividade e a viabilização de
produção de conteúdo feita por usuários
foi um salto da Web 1.0 para a 2.0.

As páginas estáticas ganharam vida,


já que muitas delas passaram a permitir
que o usuário fizesse comentários
e considerações sobre as informações
que ali constavam.

As redes sociais aceleraram o movimento


de interação e possibilitaram o
crescimento exponencial dos conteúdos
gerados pelo usuário, fazendo com
que a internet ganhasse mais acesso e
dinamismo. Diferente da WEB1, onde era
open source, as redes sociais acabaram se
desenvolvendo para um sistema fechado
onde o grande objetivo era gerar volume
de usuários dentro do seu domínio.

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Com o lançamento do Smartphone
em 2007, o acesso via mobile ampliou
drasticamente tanto a base de usuários
quanto o tempo de uso da Web:
passamos do uso da internet durante
algumas horas por dia em nossos desktops
para um estado de full time connected
depois que o navegador, os sistemas
de busca, os aplicativos e notificações
estavam agora em nossos bolsos.

Em sua essência, a internet de hoje


permitiu uma conexão global por meio
de um conjunto de intermediários,
fornecendo uma camada de confiança
social digital para que estranhos interajam:
do Facebook, à Amazon.

Mas há um problema. Você acaba sendo


um produtor de conteúdo na plataforma
dos outros, ou um fornecedor dentro da
plataforma de outra empresa e a sua
operação fica à mercê das regras desse

intermediário, caso ele opte por aumentar


o fee ou resolva te tirar do jogo.

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Assim, culminamos em um cenário
onde nossos relacionamentos são
majoritariamente interligados por
intermediários e “cobra-se uma taxa alta”
para se estar ali.

Faz parte do mercado, ok… A pergunta é:


e se conseguíssemos criar relações
de confiança sem a figura dos
intermediários? Quanto de valor
permaneceria em nossas mãos? O
quanto de risco operacional seria
reduzido?

É exatamente sobre isso que se trata essa


nova fase que vem crescendo: a WEB3 -
um formato que propõe trazer o controle
do poder, dos dados e do capital para os
usuários, ao derrubar a necessidade da
figura do intermediário.

E, a história se inicia a partir do início


da blockchain.

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Uma breve introdução à crypto
Em 2009, Satoshi Nakamoto desenvolveu
o Bitcoin - uma grande disrupção, sendo
a primeira moeda que não possui emissor
ou controlador centralizado, tirando a
necessidade de um banco central para
regulá-la ou de um banco tradicional
para “guardar o dinheiro do portador” ou
servir como intermediário para assegurar
confiança entre os envolvidos da transação.

Isso só foi possível por conta da tecnologia


que suportava a moeda, a blockchain, que
permite um sistema inovador de consenso
entre as partes envolvidas na transação.

Apesar do Bitcoin ser admirado por muitos,


sem dúvida, a parte mais importante do
experimento foi a blockchain. A blockchain
funciona como uma lista vinculada de
transações armazenadas em uma rede
de computadores, que têm a capacidade
de garantir que o código irá operar como
foi configurado. Ela é:

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- Descentralizada: As transações
não ficam guardadas em um
local fixo, mas em uma rede de
computadores, não dependendo
da estabilidade de um servidor
físico;

- Imutável: As transações não


podem ser mudadas por ninguém
depois de validadas;

- Aberta: As transações podem ser


vistas por qualquer pessoa.

De uma forma simplificada, a blockchain


funciona como um livro digital imutável
e criptografado, que facilita o processo de
registro de transações e rastreamento de
ativos em uma rede de computadores e
protege os dados de invasões externas.

É análoga a um livro razão, utilizado na


contabilidade para rastrear e registrar
todas as transações realizadas em um
período, porém o registro é feito de forma
automática e é imutável.

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A sua estrutura exige consenso entre as
partes envolvidas para que a transação
ocorra, o que dá controle e segurança entre
os agentes envolvidos e dispensa a figura
de um intermediário (middleman), pois a
própria tecnologia garante a credibilidade
e segurança da operação.

Após realizada a transação, a blockchain


dá total transparência ao histórico,
visto que, é visível a todos da rede
e não pode ser alterada nem mesmo
por um programador.

WEB 3.0: a rede em blockchain


Conforme o Bitcoin (criptomoeda) foi
ganhando notoriedade e atenção devido à
sua tecnologia (blockchain), ele sofreu com
várias ondas de alta e picos de preço, como
ocorreu em 2011, 2014, 2017 e em 2021.

As altas foram gatilhos para atrair o


interesse de investidores e programadores,
que ao se aproximarem para investigar
o que estava acontecendo, enxergaram
oportunidades em relação ao blockchain,

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levando a tecnologia a uma série de outros
desdobramentos.

Assim, na última década, novos projetos


se desenvolveram, como o surgimento de
outras criptomoedas e soluções que as
extrapolam, levando à formação de um

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grande ecossistema denominado de Web
3.0 e por muitos chamado como a terceira
geração da internet.
v

Ben Horowitz é co-fundador da


Andreessen Horowitz, famosa Venture
Capital que possui Facebook, Airbnb,
Twitter e tantos outros investimentos de
sucesso em seu portfólio.

A Web 3.0 é uma rede que tem como


fundamento ser aberta, provida de
relacionamentos de confiança e sem a
necessidade de permissão.

Aberta, pois funciona em open source


construído por uma comunidade acessível
e colaborativa de desenvolvedores;

Provida de relacionamentos de confiança,


pois a rede possibilita que os participantes
interajam publicamente ou privadamente

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sem a necessidade de intermediários
para garantir confiança nas transações ou
acordos;

Sem necessidade de permissão, já que


usuários e fornecedores podem participar
da rede, sem a necessidade da aprovação
de uma entidade.

Formada por comunidades e indivíduos


portadores de ativos digitais, a rede possui
o token como um de seus elementos
centrais. O token é o elemento que
registra a propriedade que o usuário tem
sob um ativo.

Os tokens podem ser fungíveis


(intercambiáveis), como as criptomoedas;
ou não fungíveis (únicos) - NFTs, que
funcionam como peças de propriedade
única, a exemplo de peças de arte, fotos,
códigos, música, texto, objetos de jogo e
passes de acesso. As NFTs são um desses
ativos criados a partir da evolução da
rede e possuem como base a blockchain
Ethereum.

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Muitos de vocês já devem ter percebido a
grande visibilidade que a mídia vem dando
aos NFTs atualmente.

Como veremos mais à frente na sessão de


“economia dos criadores”, eles já foram
responsáveis pela movimentação de
bilhões de dólares transacionados em 2021,
com a compra e venda de propriedades
virtuais (terrenos digitais, arte, iates de luxo
e outros ativos) – o que justifica tal atenção.

Fonte: Benedic Evans Presentation

Nós estamos falando de um número


relevante de criadores vendendo itens
digitais (NFTs) e lucrando dezenas de
milhares de dólares dessa forma, uma
realidade inexistente até poucos anos atrás.

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Outro desdobramento originado da
evolução do uso da blockchain foi a criação
de contratos inteligentes ou smart contracts.

O smart contract é a automação de


contratos em código que garante
que regras previamente definidas
entre as partes, sejam cumpridas
a partir de condições imutáveis definidas
em código – tudo feito via blockchain.

Por exemplo, hoje já é possível definir


termos de pagamento de um seguro-
viagem, definir as condições de poder
de voto dos membros dentro de uma
organização na Web3 ou combinar um
determinado valor de pagamento de
serviço, caso determinada meta seja batida
pelo contratado, sem dar brechas para
desacordos.

Isso só é possível por conta da tecnologia,


que garante que após as regras serem
firmadas, sejam colocadas em código
e, a resultante seja cumprida de forma
automática e intransponível, realizando,

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por exemplo, o pagamento de uma
contratante à uma contratada.

Isso é, literalmente, uma revolução na


forma como pessoas e instituições se
relacionam.

A possibilidade de certificar a garantia


que o combinado no início seja cumprido
ao fim de acordo com o smart contract,
o fortalecimento da confiança entre
terceiros, dispensa a existência de
instituições intermediárias, como bancos
ou advogados, aumentando a eficiência
da operação, e promovendo um ambiente
mais colaborativo.

Fonte: IBM

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Isso muda totalmente o fluxo de capital
dentro da internet.

Com tal capacidade de fortalecimento


da confiança entre os indivíduos e uma
relação peer-to-peer que viabiliza maiores
ganhos entre os membros, a organização
da rede logo se estruturou socialmente
em comunidades abertas, jogos e, por fim,
em organizações 100% dentro da estrutura
crypto, entre elas, os DAOs – Organizações
Descentralizadas Autônomas, que vêm em
um crescimento exponencial.

De acordo com a pesquisa da Aragon, as


organizações autônomas descentralizadas
provavelmente estão evoluindo mais
rápido do que qualquer indústria na
história. Há 12 meses atrás, elas detinham
coletivamente US$500 milhões e agora
comandam mais de US$11 bilhões.

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3 - Organizações Autô-
nomas Descentraliza-
das (DAO)

Organizações Autônomas Descentralizadas


ou DAOs são negócios nativos digitais
governados pelo consenso de seus
membros, em vez de em uma liderança
centralizada.

Na governança corporativa tradicional, as


empresas possuem estatutos que ditam as
políticas a serem seguidas, como a forma de
eleição do conselho. Um DAO é regido pelas
regras redigidas em um smart contract, que
executa o protocolo de forma automática
e autônoma através de seu código.

Portanto, DAOs costumam evitar contratos


legais, se apoiando nas regras definidas
e colocadas em código. Em comparação
com as entidades legais existentes, os
DAOs apresentam certas eficiências
operacionais e atualmente são usados ​​por

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organizações que gerenciam mais
de US$500 milhões em ativos.

Um dos principais benefícios de uma


organização autônoma descentralizada
é que ela possui o balanço em uma
blockchain pública com o descritivo de
todo o histórico de transações, portanto,
é completamente transparente, o que
reduz significativamente o risco de
corrupção e censura.

Ao unir essa transparência ao smart


contract, que garante o cumprimento das
regras estabelecidas, como por exemplo,
o poder de voto nas decisões ou em
executar determinada regra para a
distribuição de lucros, chegamos ao valor
mais importante dessa estrutura:
uma relação de confiança entre
membros, mesmo que estes não se
conheçam pessoalmente.

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O DAO por definição, possui capital
interno e os seus ativos podem ser
controlados pelas partes interessadas
diretamente por meio de um token.

As partes interessadas podem ser


pseudônimos e sediadas em qualquer
lugar do mundo, além disso, elas podem
alocar os ativos de um DAO para diferentes
fins, inclusive para contratações.

As responsabilidades costumam
ser divididas entre os membros e,
normalmente, qualquer transação precisa
ser aprovada por consenso, a não ser que
a pessoa seja a única responsável pela
tomada daquela decisão.

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Os princípios podem ser aplicados a
uma ampla variedade de organizações,
incluindo organizações sem fins lucrativos,
coletivos, cooperativas e fundos de
investimento.

Essa estrutura costuma ser acessível e


sem altas barreiras de entrada.

Da mesma forma, dada sua transparência


e menores barreiras, tende a ser uma
organização mais dinâmica, tendo a saída
de membros, caso discordem das regras e
ações tomadas pelo grupo, sendo inclusive
normal a migração de membros para
DAOs que compartilham de uma missão
semelhante.

Isso só é possível dada a facilidade de saída


de cada indivíduo. Caso ela não faça mais
sentido para ele, ele pode receber de volta
toda ou uma parte dos seus ativos que
foram depositados na estrutura. Alguns
smart contracts inclusive, permitem que o
membro saia e saque os seus ativos com
apenas alguns cliques, dando controle ao

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indivíduo sob todos os seus ativos alocados
em DAO e minimizando os seus riscos
colaterais.

Existem várias ferramentas que funcionam


como um facilitador para se criar
e coordenar um DAO, entre elas, Aragon,
DAOStack, DAOhaus, Llama e MyCo,
para que os membros não precisem criar
tudo do zero.

Um dos DAOs mais conhecidos é


chamado de “The DAO”, lançado em abril
de 2016 como um fundo de capital de
risco descentralizado, onde os membros
contribuem com ETH (criptomoeda Ether)
e recebem tokens DAO em troca, que
podem ser usados ​​para votar em quais
projetos os fundos devem ser alocados.

Assim como esse exemplo, há outras


organizações com foco em investimentos,
com teses específicas.

A “Moloch DAO”, por exemplo, busca


promover iniciativas que incentivam o

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crescimento do ecossistema Etherium,
enquanto outras têm foco específico em
investir em aplicativos descentralizados
ou em investir em artes (NFTs), onde os
membros podem votar nas decisões.
Mas as possibilidades e oportunidades
vêm se ampliando, indo além de fundos de
investimento.

Falarei mais sobre alguns eventos ao


final do material.

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4 - Os efeitos da Web3
para os criadores:
mudando o destino
do fluxo de capital na
internet.

Saindo um pouco da esfera das organizações


autônomas descentralizadas, que deixaram
de ser entidades burocráticas para se
tornarem entidades regidas pelo algoritmo.
É fundamental abordar a transformação
da realidade de um outro agente desse
ecossistema: os artistas.

Quem conhecia algum artista, pôde


acompanhar o quanto fotógrafos,
pintores e músicos foram prejudicados
financeiramente durante a pandemia.

Com a falta de oportunidades no mundo


offline, grande parte da fonte de renda
desses profissionais foi limitada,
por conta da falta de eventos presenciais.

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Por outro lado, quando propunham-se
a gerar receita online nos mecanismos
tradicionais (WEB2), recebiam no final do
processo apenas uma fração do lucro, a
exemplo de um músico que disponibiliza
a sua obra no Spotify, por exemplo - e
recebe em média US$0,004 dólares por
reprodução.

Porém, para vários daqueles que migraram


para a WEB3, a realidade passou a ser
totalmente diferente.

Na rede crypto, os criadores ganharam


a possibilidade de transformar as suas
obras em virtuais em NFTs - configurando
autenticação e finitude do item criado.

A forma de vender também mudou, com


acesso às comunidades, mundos ou jogos
virtuais onde pôde realizar uma venda peer-
to-peer, sem um gatekeeper para pegar
grande parte do seu lucro.

Isso ocorreu tanto para obras de arte,


músicas, livros, objetos ou itens de jogo,

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onde o criador passou a vender diretamente
para o seu fã, invertendo a lógica de
mercado e unindo uma ponta a outra.

Uma outra tecnologia que permitiu gerar


ainda mais resultados para o criador é a
possibilidade de aliar smart contracts à sua
NFT, sendo possível configurar o ganho de
royalties sob o valor total de cada revenda do
seu item.

Isso é feito através de código; não é


necessário que o artista precise confiar em
alguém para que lhe dê a sua parte.

Cada vez que a obra for revendida, irá


retornar um percentual em forma de royalty
automaticamente (10% em cima do valor
total da revenda - por exemplo), o que muda
completamente o retorno que muitas vezes
ganhava em uma tacada só e em um valor
reduzido. Do ponto de vista do consumidor
que adquire uma propriedade colecionável,
ele ainda tem o benefício de potencializar o
seu status.

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Quando se trata de uma obra física,
por exemplo, um quadro, o potencial
de visibilidade é bastante limitado,
considerando que o anfitrião levará no
máximo centenas de pessoas à sua casa.

Já no caso de uma NFT, milhões poderão


ver que aquela obra de arte foi comprada
por ele e é de sua propriedade.

Com isso, o nível de demanda aumenta


consideravelmente para o artista e o de
oferta continua restrito, valorizando ainda
mais o trabalho do criador.

A Creator Economy refere-se a


comunidades emergentes de criadores,
artistas, músicos e desenvolvedores de jogos
- que se conectam diretamente com seus
apoiadores e colaboram sem intermediários,
permitindo-lhes desenvolver fluxos de renda
independentes.

O artista de longa data, Matt Kane,


costumava vender suas pinturas a óleo em
galerias locais; ano passado, ele vendeu uma

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obra de arte digitalmente pelo equivalente a
US$100.000.

O fotógrafo Justin Aversano ganhou mais de


US$130.000 vendendo 100 retratos de seu
“Twin Flames” como NFTs.

Além disso, temos os smart contracts,


permitindo receber royalties das revendas,
o que configura um potencial desmedido.
Por exemplo, o artista de 21 anos, Robbie
Barrat vendeu uma obra de arte digital em
2018 por US$176; quando foi revendido em
2021 por 100 ethereum, ele ganhou cerca
de US$11.000 - mais de 62 vezes o que ele
ganhou na primeira venda.

Esses são só alguns exemplos pontuais.


Para se ter uma ideia do que já
é transacionado hoje, segundo a Forbes
Tech, o mercado de NFTs totalizou cerca
de US$ 24.9 bi de dólares em negociações
no ano de 2021, tendo um aumento
expressivo de transações no segundo
semestre.

31
Fonte: DappRadar

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5 - Como os mundos
virtuais e os jogos
impactam o mercado
O contexto que fortaleceu o crescimento
da economia criativa foram os games em
mundos abertos e a criação de mundos
virtuais. A antiga forma de jogar era
comprar um videogame, comprar um jogo
e jogá-lo, uma forma de consumir que
ainda existe em larga escala.

Então, iniciou-se um novo modelo de


jogo em mundo aberto e gratuito, como o
Fortnite. Nele, para adquirir o jogo, bastava
baixá-lo de graça, possibilitando alta
adoção e focando a monetização em cima
da compra de itens depois que o usuário
está no jogo.

Os itens não te deixam mais “mais forte”,


pois assim desengajaria os menos providos
e comprometeria a integridade do jogo.

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Ao invés disso, os itens são comprados para
deixar o personagem/avatar personalizados
e mais ‘cools’, seja com uma skin única
(a aparência do personagem em si), uma
roupa ou outros itens. Entenda, no caso
do Fortnite, entre 2017 a 2020, o número
de jogadores foi de zero a 350 milhões de
jogadores.

Atualmente, esse modelo se tornou uma


indústria de US$40Bi - só com a compra
de bens virtuais. Porém, o dinheiro
continuou indo para a indústria de jogos.

Recentemente, surgiu um novo formato


baseado em WEB3, os cryptogames, como
o Axie Infinity, que funciona muito mais
como um modelo peer-to-peer, onde você
compra diretamente de outro usuário e
a organização responsável pelo jogo fica
apenas com um pequeno percentual, de
3%. Fazendo com que o modelo funcione
como se fosse um marketplace entre
players e creators e empoderando os
usuários, como é a lógica da nova rede.

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Há os usuários que desenvolvem e
melhoram as NFTs e aqueles que
possuem mais dinheiro do que tempo e
compram das pessoas que desenvolvem.
Atualmente, o Axie Infinity, por exemplo, já
possui mais de 2MM de jogadores.

O jogo não está na App Store, pois não é de


interesse nem da Apple promover a WEB3,
nem do Axie Infinity ter a sua margem
repartida. Aliás, a Apple cobra de 30% sob
a receita dos aplicativos ali disponíveis,
configurando o problema já comentado
da Web2.

Onde eu quero chegar. A internet


sempre foi sobre conectar pessoas e o
aumento da convergência entre as vidas
sociais e mundos abertos virtuais vêm
crescendo.

Alguns exemplos de mundos que rodam


em WEB3 e geram receitas em bens
virtuais são o Sandbox, a Decentraland e a
CryptoVoxels.

35
Segundo a Grayscale Investments, o
mercado de bens virtuais deve crescer de
US$180B em 2020 para ~U$400Bi em 2025:

Porém, o que acontece é que muitas das


opções disponíveis funcionam no modelo
da WEB2. Com isso, os jogadores gastam
horas desenvolvendo itens de jogos, mas não
conseguem vendê-los para monetizar para o
mundo real, pois os jogos não permitem.

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Os cryptogames acabam com esse problema,
conseguindo que o creator consiga monetizar
seu tempo e esforço, traduzindo isso em
dinheiro para o mundo real e formando
uma tendência para o mercado: mais
desenvolvedores dedicados à WEB3.

Sobre o Metaverso
O metaverso é um universo ainda em
construção que contempla muito mais do
que games, mas também eventos virtuais,
social commerce, serviços, anúncios,
hardware e creators economy.

Vários desses elementos estão sendo


explorados com sucesso em mundos já
existentes como o Fortnite (Web2), Roblox

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(Web2/3) e Decentraland (Web3).
Embora a previsão para a maturidade da
Web Espacial, uma internet totalmente
integrada, seja de 5 a 10 anos, segundo
estimativas da Accenture; muitos
aplicativos em fase embrionária já
estão se destacando.

Por exemplo: a ConsenSys, empresa de


desenvolvimento de software focada
na tecnologia blockchain fundada pelo
cofundador da rede Ethereum, criou a
MetaMask, uma extensão do Chrome
que permite interagir facilmente com
aplicativos descentralizados (DApps).

Atualmente, conforme indicou a empresa,


a MetaMask tem cerca de 21 milhões de
usuários ativos mensais, sendo que eles
se dividem entre as verticais de aplicações
de finanças descentralizadas (DeFi) e
outras aplicações da Web3, como NFTs
e jogos em blockchain, organizações
autônomas descentralizadas (DAOs) e
metaversos.

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Após ter um aumento de 420% de usuários
em sete meses, a empresa captou US$200
milhões (R$1,1 bilhão), elevando o seu
valor de mercado para US$3,2 bilhões -
demonstrando o potencial desse universo
que permeia entre comunidades
e soluções descentralizadas.

Sobre o Metaverso da Meta, antigo


Facebook, cabe a nós mantermo-nos
informados de como irá operar, já que é
uma organização advinda do modelo 2.0
e costuma cobrar um grande pedágio
como intermediária.

O quanto ela irá centralizar a operação?


Provavelmente, as suas economic units
seguirão a mesma tese. Você irá querer
participar de um metaverso na qual ela é
a proprietária ou irá olhar para as da WEB3
onde você é um owner?

Outro ponto importante: se o Facebook,


uma das maiores empresas do Mundo,
vem acompanhando o movimento a

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ponto de mudar o nome para Meta e está
direcionando toda a sua operação para tal:
É seu dever como empreendedor
acompanhar os próximos passos e se
aprofundar.

Aliás, vou além, não basta acompanhar.


Várias marcas começaram a realizar
iniciativas em mundos virtuais
a menos de seis meses.

40
5 - Quais iniciativas as
marcas estão fazendo
para penetrar nos
mundos virtuais

Para nós, como empresários, é mandatório


entender como nossos negócios irão se
posicionar em um mercado ainda mais
nativo digital.

Mais do que isso, como iremos gerar valor,


atender melhor os clientes, conquistar
crescimento e, obviamente, não ficar para
trás e fracassar?

Por conta da transformação do


comportamento do consumidor, algumas
organizações de diversos segmentos -
mesmo aquelas que não eram ligadas
a games - já começam a criar iniciativas
específicas para se aproximar do
consumidor e a buscar resultados.

41
Samsung – De abertura de loja virtual à
lançamento de TV com capacidade de
compra de NFTs

A Samsung anunciou na primeira semana


de janeiro de 2022, uma parceria com a
Descentraland – mundo virtual com base
na Etherium e com 300.000 usuários ativos.

Trata-se de uma versão virtual com


referência à sua famosa loja física,
localizada na Washington Street 837, em
Nova York.

No palco da loja 837X, os convidados


vivenciaram uma festa com realidade
mista, que foi comandada pelo

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DJ Gamma Vibes diretamente da loja
física da Samsung 837.

Na loja, os clientes também foram


convidados a participar de desafios
e os vencedores ganharam três itens
da marca em NFT.

Na mesma semana, a marca apresentou,


durante a CES 2022, uma das maiores
feiras de tecnologia do mundo, em Las
Vegas, uma linha de Smart TVs compatível
com games e que permite a compra e
exposição de NFTs – apontando o histórico
da arte adquirida.

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Nike - Nikeland e outras iniciativas da
marca para penetrar no digital.

No dia 18 de novembro, a Nike oficialmente


anunciou a Nikeland, uma parceria com a
Roblox – plataforma de games que possui
quase 50 milhões de usuários ativos diários.

44
A “Nikeland” projeta um espaço virtual
formado por campos, arenas e quadras
para jogos e produtos showrooms de
sapatos virtuais e roupas para vestir o
avatar. Embora a Nikeland seja gratuita
para os usuários, a marca alcança grandes
objetivos de marketing de experiência,
conectando-se com a geração mais jovem
e com o recebimento de feedback em
tempo real.

No dia 13 de dezembro de 2021, a Nike foi


um passo além, ao anunciar a aquisição
do fabricante de calçados NFT, a Artifact
Studios (RTFKT). Acelerando a entrada da
marca para a produção de calçados virtuais.

Lembrando que os ativos virtuais são


limitados, de acordo com um número de
desejo do criador. Imagine o potencial
que isso tem em NFTs com edições
limitadas. Fora a possibilidade de ganhar
com o mercado secundário na forma de
royalties, ao atuar num mundo baseado
em blockchain e garantir uma recorrência
ad eternum.

45
Outras parcerias de sucesso incluem: Louis
Vuitton x League of Legends; Balenciaga
x Fortnite e Gucci x Roblox. De fato, uma
bolsa virtual da Gucci foi vendida por quase
US$800 a mais do que sua versão física.
O preço: US$4.115 no Roblox.

Esse parece um movimento natural, uma


vez que o mundo do e-commerce continua
evoluindo, mas a versão atual apresenta-se
muito estática.

Com isso, as marcas estão se


movimentando para envolver de maneiras
mais significativas o consumidor a partir
de um comércio imersivo, onde produtos
ganham vida e utilidade em jogos.

Ao conceder aos compradores o acesso


à história da sua marca, conteúdos dos
bastidores ou eventos conforme eles
acontecem ao vivo, as empresas podem:

• Criar vínculos mais fortes


com seus clientes ao fornecer
conteúdos exclusivos;

46
• Permitir que compradores vejam
seus produtos através de uma
experiência em, por exemplo,
realidade aumentada, ao invés de
simplesmente ver esses mesmos
produtos em uma prateleira
digital;

• Vender NFTs como creators em


busca de melhores retornos

47
6 - Como as DAOs
estão transformando o
mercado.
Se internet sempre foi sobre conectar pessoas,
a Web 3.0 emergiu como uma forma de
ressignificar essa estrutura, colocando os
indivíduos no centro e trazendo novas formas
mais colaborativas de relacionamento, na
forma de comunidades onde os próprios
membros são donos delas.

Apropriando-se dessa filosofia de


colaboração, as Organizações Autônomas
Descentralizadas cresceram de forma
independente e vertiginosa em 2021,
formadas por pessoas em prol de objetivos
em comum. Mas quais são os seus fins e
quem são elas.

Asset Management
A gestão de ativos é uma das principais
atividades entre as DAOs. Nesse modelo,
as decisões sobre onde alocar recursos é
coletiva, contemplando os insights e os

48
votos de vários agentes independentes.
Como toda DAO, ela é transparente, o que
favorece a gestão de ativos e como o fundo
está sendo utilizado.

Assim, todas as partes interessadas podem


acompanhar de perto os gastos
e investimentos da organização.
Entre exemplos, de DAO de gestão
de ativos está a BitDao, que levantou
recentemente US$230 milhões, com
investidores como Peter Thiel, Pantera
Capital e Dragonfly Capital. Outros
exemplos são a DecentralizeWSB
e a PieDAO.

Venture Capital
As vantagens de ter uma Venture Capital
sob uma DAO são as mesmas que a de
uma gestora de ativos.

Um exemplo de Venture Capital nesse


modelo é a VentureDAO, uma sub-
DAO do ecossistema MetaCartel que se
distingue das empresas tradicionais de
VC, oferecendo rodadas de investimento

49
relativamente pequenas com foco em
projetos nativos de criptomoedas.
Até agora, levantaram rodadas
de pré-seed, seed e series A num
total de 120 investimentos.

Um outro exemplo é a DuckDao, que


possui 25.000 membros que apoiam
diversos investimentos não só com capital,
mas funcionando também como uma
incubadora.

Um outro exemplo é DecentralizeWSB,


uma tentativa nascente de estruturar
o movimento r/WallStreetBets em um
DAO, onde as estratégias de investimento
podem ser votadas e executadas. Até
agora, cerca de 20.000 signatários
registraram seu interesse.

Seguros
Um outro segmento que tem criado novas
soluções através de DAOs é o dos seguros.
As seguradoras tradicionais não são
transparentes. Através da transparência
das DAOs e de smart contracts, o mercado

50
de seguros tem potencial para entregar
soluções mais claras para os contratantes.
Por conta disso, a proposta da Aigang DAO
Insurance Protocol é disponibilizar seguros
de curta duração para carros, propriedade
e qualquer objeto de posse do segurado,
com regras claras sobre como o prêmio
é calculado, como avaliar um dano
e todos os detalhes relacionados às
políticas de seguro.

Outro exemplo do segmento é a Uno Re,


que se propõe a dar acesso à ferramenta
de resseguro para seguradoras menores,
um serviço tipicamente de acesso dos big
players, permitindo que as seguradoras
desenvolvam produtos de seguros
inovadores adaptados às necessidades
da comunidade. Além de na outra ponta,
ofertar aos traders a negociação desses
ativos de risco.

Coletivos de desenvolvedores
Os desenvolvedores são os principais
responsáveis pela construção da

51
infraestrutura Web3 e, foram responsáveis
pela construção de várias DAOs.
Naturalmente, eles possuem as suas
próprias organizações.

A Gitcoin é um exemplo de coletivo


e tem por objetivo construir a Web3.
A organização é composta por mais
de 300.000 desenvolvedores ativos e já
levantou mais de U$50MM, atendendo
a mais de 1600 projetos. Outros exemplos
de DAOs de desenvolvedores são a API3
e a BadgerDAO, sempre em busca de
fornecer soluções tech para o ambiente
da Web3.

Outros
Além desses segmentos, há DAOs
relacionados à compra de artes,
comunidades coletivas beneficentes
com teses própria de causa, como a
Womens’DAO composta só por mulheres
e outras iniciativas.

No caso da Decentraland, metaverso da


Web 3.0, por exemplo, a uma DAO que

52
funciona para votar as políticas permitidas
dentro do mundo virtual, definindo questões
como que tipos de itens são permitidos na
Decentraland e regras sobre moderação de
conteúdo.

Em termos gerais, as DAOs têm crescido


muito em número, formas e objetivos,
demonstrando um ecossistema
organizacional em constante evolução.

O mesmo vem ocorrendo com a capacidade


dos smart contracts, permitindo novas
fronteiras de organização.

O meu objetivo aqui não foi detalhar todo o


ecossistema, mas apresentar novas formas
de estrutura que vem surgindo a partir do
ambiente crypto.

53
7 - Um futuro
precisamente único

Cases, dados, opiniões de especialistas,


empresas emergentes e o comportamento
do consumidor apontam para um futuro
da internet diferente do que vimos até
agora, tanto em relação a mundos virtuais,
como para uma bifurcação que sugere um
destino descentralizado, empoderando o
indivíduo.

Apesar do futuro ser incerto, dada a


aceleração das transformações, um ponto
já é claro: a forma como conhecemos a
internet agora, vai mudar e há muita gente
e capital dedicados a isso nesse instante.

Nosso papel enquanto líderes, é manter


a postura investigativa e proativa que te
trouxe até aqui.

O caminho foi aberto há pouco, mas a


velocidade foi vertiginosa nos últimos

54
dois anos, mesmo que ainda tenha um
tamanho incipiente quando comparado
com a Web 2.0, lembre-se:

“Nós só estamos no dia 01”

A opção é sua: vai ser um cético ou um


early adopter?

55
Fontes sugeridas:
- Sobre Web 3.0:
Curious Beginner’s Guide to Crypto
- by Peter Yang

What Is Web 3.0 & Why It Matters


- by Fabric Venture

The Web3 Landscape


- by a16z

Composability is Innovation
- by Linda Xie

# 542: Chris Dixon and Naval Ravikant -


“The wonders of Web 3”, “How to Pick the
Right Hill to Climb”, “Finding the Right
Amount of Crypto Regulation”, “Friends
with Benefits, and the untapped potential
of NFTs”

- Sobre blockchain:
Introduction to Bitcoin and Existing
Concepts - by Ethereum

56
How does Ethereum work, anyway?
- by Preethi Kasireddy

- Sobre DAOs:
A beginner’s guide to DAOs - by Linda Xie

The Rise of Decentralized Autonomous


Organizations: Opportunities and
Challenges - Stanford Journal of
Blockchain Law & Policy

Strategic lens on DAOs

- Sobre metaverso
Goldman Sachs Research - Framing the
Future of Web 3.0 | Metaverse Edition

2021 Grayscale Metaverse Report - Web 3.0


Virtual Cloud Economies

Web3/Metaverse Chat With Mark


Zuckerberg

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