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O que é blockchain?

Conheça a tecnologia que


torna as transações com
criptos possíveis
A Blockchain surgiu como um dos
pilares para tornar as transações com
criptoativos uma realidade. Entenda o
que é e como funciona!
14 out 2022 18h38

Criptos

Getty Images

O que é BLOCKCHAIN? Como funci…

A blockchain nasceu com o Bitcoin (BTC) e


continua sendo um dos pilares da primeira
criptomoeda do mundo. Com o tempo, no
entanto, também tomou vida própria e
começou a andar sozinha, explorando outros
mercados.

Hoje, a tecnologia torna possível não só as


transações com moedas digitais, mas abriu
caminho para outras aplicações, como a
criação de contratos inteligentes.

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Neste guia, o InfoMoney explica o que é a


blockchain, como ela funciona, quais os tipos
disponíveis no mercado, como essa tecnologia
surgiu e quais suas aplicações, além de
detalhar quais são os riscos envolvidos.

O que é a blockchain?
A blockchain é um grande banco de dados
compartilhado que registra as transações dos
usuários.

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A rede do Bitcoin, a primeira do mercado,


guarda informações como quantidade
de criptomoedas transferidas entre os
usuários; identificação (endereço digital) de
quem enviou e quem recebeu os valores; e
data e hora das transações.   

A diferença entre uma blockchain como a do


BTC e os bancos de dados “tradicionais” é que
ela não é controlada por autoridades, como
bancos, governos, empresas ou grupos. O
sistema foi construído de tal maneira que os
participantes (chamados de nós) são os
controladores e auditores de tudo – e tomam
as decisões sobre a rede.

Há uma cópia da blockchain nos


computadores de todos os envolvidos,
espalhados por todo o mundo. Portanto, cada
membro, esteja no Brasil, nos Estados Unidos
ou no Japão, vê a mesma informação quando
acessa o sistema. Nenhuma alteração pode ser
feita sem a aprovação da coletividade.

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Os dados também são imutáveis – ou seja, se


as transferências foram validadas e
registradas, são eternas e não podem ser
alteradas. Todo esse funcionamento, segundo
Rafael Nasser, doutor em Informática e
coordenador Técnico do Departamento de
Informática da PUC-Rio, é viável por causa de
mecanismos de consenso que, na prática, são
algoritmos que estabelecem algumas regras.

O algoritmo mais tradicional é o Proof-of-


Work (Prova de Trabalho, em português)
usado no Bitcoin. Esse protocolo estabelece
alguns passos, como o que fazer quando se
recebe uma informação, como estruturá-la em
determinado formato e como deve ser a
validação e a organização. Tudo isso
orquestrado por um sistema.

“Eu diria que a blockchain é uma engrenagem


que estabelece relações de confiança no
ambiente online, e essa confiança, por ser
descentralizada, viabiliza relações não só com
quem eu confio, mas com qualquer um, pois
eu confio na tecnologia e na rede que
sustentam essa distribuição”, disse Nasser.

Como funciona a blockchain?


Blockchain, em tradução livre, significa
“corrente de blocos”. Hoje, há diversos
modelos no mercado, mas a primeira foi
proposta junto com o Bitcoin, em 2008. Para
imaginar como a rede descentralizada do BTC
funciona, pense nela como um livro-razão
virtual (ficha onde são registradas
transferências) rodando em diversos
computadores espalhados pelo mundo, todos
trabalhando ao mesmo tempo.

Quando o usuário A envia um Bitcoin para o


B, essa transferência fica registrada na
blockchain dentro de um bloco de informação.
Esse bloco, assim que fica cheio de transações,
é “selado”, ganha uma espécie de carimbo
com data e hora, chamado de timestamp, e é
“empacotado” com um identificador, chamado
de hash. Para visualizar essa estrutura, imagine
um quadrado cheio de números e letras
aleatórias.

Já a corrente é formada da seguinte forma:

O usuário B, assim que recebeu o Bitcoin,


passou metade do valor da criptomoeda para
C, e essa transferência foi colocada em um
novo bloco criado na sequência do anterior.
Esse bloco também vai receber um
identificador próprio, mas com um detalhe:
ele tem um “pedaço” daquele que foi gerado
anteriormente na transação entre A e B.

Na prática, portanto, todo novo bloco criado


na blockchain guarda uma informação do
anterior, formando uma longa cadeia. Para
imaginar essa estrutura, dessa vez pense em
vários quadrados – preenchidos com data,
hora, números e letras – conectados um ao
outro por meio de correntes.

Nessa estrutura toda ainda existem os


mineradores, cuja função é validar as
transações dos usuários. Para autenticá-las,
eles precisam competir um com o outro para
resolver problemas matemáticos complexos.
Depois que finalizam o cálculo, eles
apresentam o resultado para toda a rede, e se
os outros membros disserem “ok, está
correto”, o novo bloco é adicionado à cadeia, e
então começa uma nova competição pela
verificação do bloco seguinte, e assim por
diante.

Como pagamento por pela prestação de


serviços, os mineradores ganham Bitcoin
como recompensa. Tudo isso é coordenado
pelo algoritmo da plataforma. Esse “trabalho”
de mineração, apesar de na teoria parecer
tranquilo, é bem disputado.

Como surgiu a tecnologia


blockchain?
A blockchain surgiu junto com o Bitcoin em
31 de outubro de 2008. Naquele dia, Satoshi
Nakamoto, pseudônimo da pessoa – ou
pessoas – por trás da criptomoeda, publicou
o white paper (guia) do BTC, intitulado
“Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”
(Bitcoin: Um Sistema de Dinheiro
Eletrônico Peer-to-Peer).

Cabe ressaltar, no entanto, que Nakamoto não


usa exatamente a palavra “blockchain” no
documento. Ao longo das nove páginas do
material, ele cita apenas os termos “block” e
“chain” separados. O termo blockchain,
portanto, é um tipo de buzzword (palavra da
moda) criado pelo próprio mercado.

Outro adendo é que discussões sobre


tecnologias de registro distribuído (DLT, na
sigla em inglês), categoria na qual a
blockchain se enquadra, ocorrem desde 1991.
Naquele ano, o matemático Stuart Haber e o
físico W. Scott Stornetta publicaram um artigo
sobre o assunto. O trabalho dos dois
pesquisadores inclusive é citado por
Nakamoto no white paper.

Antes do Bitcoin, portanto, não há registros


de casos de uso para a tecnologia. O BTC foi a
primeira grande aplicação da blockchain.

O primeiro bloco da cadeia foi minerado no


dia 3 de janeiro de 2009. Chamado de Gênese,
ele contém uma mensagem criptografada
deixada por Nakamoto, que diz o seguinte:
“The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of
second bailout for banks” (Chanceler à beira do
segundo resgate aos bancos, em tradução
livre).

A mensagem faz alusão à manchete do jornal


britânico The Times daquele dia. Naquele
período, a economia mundial sofria com a
crise financeira dos Estados Unidos, uma das
piores da história.

O surgimento dos smart contracts

Cinco anos após o lançamento do BTC, o


mercado viu que uma blockchain poderia ser
usada em outras frentes, não apenas na
criação de moedas digitais.

“As pessoas começaram a perceber o seguinte:


caramba, olha quanto dinheiro está sendo
resguardado por uma tecnologia, e não tem
um banco nem ninguém controlando, e é
totalmente descentralizada. Então a tecnologia
evoluiu, e surgiu um monte de outros
projetos”, disse Nasser.

O primeiro grande projeto depois do Bitcoin


foi o Ethereum, lançado pelo programador
russo-canadense Vitalik Buterin, em 2015.
Essa nova blockchain, apesar de seguir parte
dos princípios da rede do BTC, oferecia aos
usuários um diferencial: a possibilidade de
criar smart contracts (contratos inteligentes).

Na prática, esses contratos são programas


guardados na blockchain que se executam
conforme regras pré-estabelecidas, sem o
envolvimento de um intermediário para
controlar.

Exemplo: quando você quer alugar uma casa,


há uma série de etapas que precisam ser
cumpridas, como envio de documentação para
a imobiliária, análise dessa documentação,
pagamento da caução (ou indicação do fiador),
depósito do primeiro aluguel e assinatura do
contrato. Em um smart contract, todos esses
procedimentos estariam programados, e não
seria preciso uma imobiliária para intermediar
e garantir o negócio. Assim que você incluísse
os documentos no smart contract – e tudo
estivesse de acordo com o que foi acordado – e
fizesse o primeiro pagamento, o contrato da
locação seria enviado para assinatura. Você só
precisaria buscar a chave. 

Hoje, de acordo com Nasser, há 100


plataformas que implementam os conceitos da
blockchain de maneiras distintas. No geral,
disse, as principais diferenças estão no
algoritmo de consenso usado, na estrutura de
dados e no modelo de sustentação de
economia estabelecida.

A economia do Bitcoin, por exemplo, é


baseada em parte na escassez da criptomoeda.
Já a lógica por traz da economia do Ethereum
é o valor da plataforma, que permite a criação
dos contratos inteligentes.  

Como minerar Bitcoin?


Nos primeiros anos do Bitcoin, bastava pegar
um computador (com uma placa de vídeo
razoável), conectá-lo à rede do BTC e deixá-lo
ligado resolvendo os cálculos matemáticos
para minerar a criptomoeda.

Hoje, no entanto, “fabricar” Bitcoin por meio


de um PC é praticamente impossível. Por
causa da quantidade de participantes na rede,
os cálculos ficaram mais difíceis, e a exigência
de poder computacional necessário para
resolvê-los aumentou drasticamente.
Atualmente, é preciso dispor de hardwares
específicos para a função, chamados de
circuitos integrados de aplicação específica
(ASIC).

O mais comum, nos dias de hoje, é que


fazendas de mineração com milhares de
equipamentos se dediquem à tarefa. E por
essa atividade ser complexa e demandar alto
investimento, esses locais costumam se
organizar em pools (conjuntos) de
mineradores que trabalham juntos para
competir pela validação das transações.

Quando encontram os resultados dos blocos,


eles dividem as recompensas. Hoje, o valor
para cada bloco minerado é de 6,25 BTC, o
que dá pouco mais de R$ 2,1 milhões,
conforme a cotação da criptomoeda do dia 28
de outubro de 2021. Esse “prêmio” foi
definido pelo protocolo do BTC, e ele é
reduzido pela metade a cada 210 mil blocos
minerados, em um evento chamado halving.
Isso ocorre, em média, a cada quatro anos.

Na prática, esse corte na recompensa, que já


aconteceu três vezes desde a criação do BTC, é
feito para garantir que a criptomoeda seja
emitida de forma estável. Lembrando que só
21 milhões de Bitcoins podem ser minerados.
A estimativa é que o último BTC seja
minerado só em 2140. 

Leia também: O que é ETF de


Criptomoeda?

Como minerar criptomoedas?

Apesar de a mineração de Bitcoin ter se


tornado algo praticamente inviável para se
fazer em casa, é possível minerar outras
criptomoedas com computadores comuns,
desde que sejam relativamente potentes,
segundo Denny Torres, um dos principais
especialistas sobre mineração caseira do
Brasil.

“Na prática, o procedimento para minerar


criptomoedas é o seguinte: comprar um
equipamento compatível com placa de vídeo
potente de última geração; verificar qual é a
moeda mais rentável em sites como o
Whattomine; escolher um pool de mineração
em sites como o Miningpoolstats; e, por fim,
baixar um aplicativo de mineração da pool
escolhida”, falou.

De acordo com Torres, a criptomoeda mais


rentável atualmente ainda é o Ethereum
(ETH). Segundo ele, com seis placas de vídeo
Nvidia RTX 3060 TI, que podem ser
encontradas por um preço médio de R$ 6 mil
(investimento de R$ 36 mil, portanto), seria
possível ter uma rentabilidade bruta de US$
20 (R$ 112) por dia com a mineração de ETH.
Em segundo lugar, no quesito rentabilidade,
aparece a criptomoeda FLUX,
um fork (atualização) da criptomoeda Zcash,
com a expectativa de US$ 19,75 (R$ 110) por
dia. Os cálculos são de 28 de outubro de 2021.

Mas, ainda há outro ponto a ser considerado: a


energia elétrica.

“A conta de energia é a principal despesa do


minerador de criptomoedas, por isso também
deve ser levada em consideração. A mineração
de Ether com as seis placas de vídeo citadas
acima consumiria 780w por mês,
considerando uma tarifa média de 1,2
R$/Kwh (de Macaé/RJ, onde moro), o que
daria um gasto mensal de energia de R$ 674”,
disse Torres.

Valor bruto: R$ 3.360.

Valor líquido (descontado a energia): R$


2.686.

Retorno do investimento: 14 meses

Quais são os tipos de blockchain


Apesar de existirem centenas de modelos de
blockchain, há dois grandes grupos básicos da
tecnologia: as públicas e as privadas.

Nas blockchains públicas, qualquer um pode


entrar. Além disso, todos podem ver as
movimentações, e não há uma entidade
central, como empresa, banco ou governo
controlando as informações e ditando as
regras. As redes do Bitcoin e do Ethereum se
enquadram nessa categoria.

Com o boom das criptomoedas, empresas e


governos se interessaram pela tecnologia. Eles
criaram blockchains privadas, que têm uma
entidade central controlando quem pode
participar, bem como as informações e as
regras. Esse modelo, portanto, faz mais
sentido para aqueles que querem utilizar parte
dos benefícios da tecnologia, mas precisam de
privacidade. Empresas, como IBM e JBS, e
entidades públicas, como a Receita Federal do
Brasil e os governos do Ceará e do Paraná,
utilizam o sistema em seus projetos.  

Blockchain é segura?
A segurança de uma blockchain varia
conforme sua força computacional. Ou seja,
quanto maior o volume de servidores
conectados à rede e quanto mais distribuída
ela for, mais difícil fica violar a sequência de
blocos registrados.

A blockchain do Bitcoin é formada por blocos,


e cada um precisa estar conectado com o
anterior, formando uma corrente. Esse
mecanismo impede que hackers façam
alterações na rede e modifiquem valores, pois
uma mudança em qualquer um dos pontos
afetaria toda o sistema e não seria aceita pelos
participantes.

Exemplo: a blockchain do Bitcoin tem pouco


mais de 700 mil blocos, segundo o explorador
de blockchain Blockchain.com. Se alguém
entrar na rede e mudar as informações do 60º
bloco da fila, os hashs de todos os blocos a
partir do 61º também mudariam. Mas essa
alteração não teria efeito algum, pois a
blockchain é descentralizada e há uma cópia
da cadeia verdadeira nos computadores de
todos os participantes. Portanto, se surgir uma
versão diferente daquela que está nos
computadores dos outros participantes, ela é
desconsiderada, visto que não coincide com as
outras cópias.

“Para você hackear um computador


centralizado é uma dificuldade. Agora,
conseguir hackear milhares ou milhões de
computadores ao mesmo tempo, como é o
caso da blockchain do Bitcoin, é praticamente
impossível. Portanto, elas são altamente
seguras”, explicou José Artur Ribeiro, CEO da
corretora Coinext.

Nasser concorda com Ribeiro. Segundo ele, a


maioria dos ecossistemas existentes hoje em
dia têm segurança robusta. No caso do BTC,
falou, uma prova da solidez do sistema é que
até hoje ninguém conseguiu atacá-lo. “Quanto
essas redes são a prova de ataques? Pega como
exemplo o Bitcoin: temos um valor muito
grande de dinheiro que ninguém nunca
conseguiu burlar o algoritmo”.

Riscos da blockchain

A estrutura descentralizada de uma


blockchain como a do Bitcoin dificulta o
trabalho de hackers. No entanto, existe uma
forma de o sistema ser burlado: o ataque 51%.
Esse tipo de investida virtual ocorre quando
alguma organização – seja um grupo de
pessoas, empresas ou governos – consegue o
controle de mais da metade do sistema.

Na prática, se isso ocorresse, os invasores


conseguiram modificar as transações deles
próprios. Poderiam gastar duas vezes o
mesmo recurso (gasto duplo), algo que o
algoritmo do BTC, funcionando da forma
como foi planejado, não permite. Apesar
disso, os malfeitores não teriam poder
suficiente para modificar as transações de
outras pessoas, ou mesmo criar novas
criptomoedas.

Portanto, embora exista essa possibilidade, a


chance de isso ocorrer é mínima, segundo
Ribeiro. “Esse tipo de ataque demandaria
muito dinheiro para pessoa fazer, e não seria
economicamente viável. É muito mais caro
você tentar agir mal do que usar do mesmo
recurso para o bem validando a rede e
ganhando com isso uma recompensa, que é o
Bitcoin”, falou.

O BTC, por causa de sua robustez, está mais


protegido, mas a realidade pode ser diferente
para outras criptomoedas. O Bitcoin SV
(BSV), que é um fork do Bitcoin Cash (BCH),
sofreu um ataque 51% em agosto deste ano.
Na ocasião, outras versões da blockchain da
moeda foram criadas. No final, a própria rede
conseguiu se reorganizar, marcando as cadeias
de blocos fraudulentas e reconhecendo apenas
uma como verdadeira. O ataque, no entanto,
mostrou que alguns sistemas não são
infalíveis.

Diferenças entre blockchain,


token e criptomoeda
A blockchain é o nome da tecnologia que
registra as transações dos usuários. Os tokens,
por sua vez, são representações de ativos
“reais”, como dinheiro, contratos e
propriedades, que rodam nessa rede. Já as
criptomoedas são um tipo específico de token.
Na prática, portanto, toda criptomoeda é um

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