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Jogada do Amor

Akira machado
Dedido a todas as minhas leitoras do wattpad e a todos aqueles que por algum motivo
estão a iniciar esta leitura. Espero que gostem.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, e acontecimentos descritos, são produtos
de imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Capa: disponível pelo pixabay.

São proibidos o armazenamento e reprodução desta obra sem o consentimento da autora.


Contato

Wattpad: Jennii2015
E-mail: Contatoautoramachado@hotmail.com
Instagram: AkiraMachadoo
A coragem não é ausência do medo; é a persistência apesar do medo.
Capítulo Um
— Não, não, não! De novo, Hanna. Esse salto Axel não está bom.

Hanna suspirou, o suor escorrendo sob seu corpo. Desde que as eliminatórias
nacionais começaram a se aproximar, Dalila, sua treinadora, não tem dado
trégua. Hanna começava seus treinos as oito da manhã e eles seguiam até as
quatro da tarde.

— 1,2, 3, valendo.

Volto para a posição inicial.


A melodia de Saber quem sou, de Any Grabrielly, começa a tocar e Hanna
rapidamente recomeça seus passos. Uma, duas, três, quatro vezes. Ela não
para até que todos os movimentos estejam sincronizados e perfeitos.

— Muito bem, menina! Por hoje já deu. Continuamos amanhã.

— Dalila, espere!

— Sim, querida?

— Você acha mesmo que tenho chance de ir para o Nacional esse ano?

Era visível que a preocupação exalava pelo rosto de Hanna. Ela estava
lutando há anos para conseguir entrar numa competição desse nível. Ela
almejava pelo dia que seria reconhecida internacionalmente.

A treinadora sorriu carinhosamente.

— Nosso foco não é o nacional, Hanna. Nós vamos para o mundial. Você é
perfeita.

A garota sorriu de forma triunfante. Seus olhos brilhavam. Seu sonho desde
menina estava prestes a se realizar.

****

— Ahhhh, mamãe! Corre aqui! Eu estou na final do Regional!


A menina dos cabelos loiros entrou correndo na casa, gritando, fazendo
bagunça. Ela havia conseguido o primeiro passo para concretizar o seu
sonho: Ser uma patinadora Mundial.

— Minha filha! Que alegria! Desculpe não poder estar presente em algo tão
importante.

A garota sorriu e enlaçou as mãos de sua mãe com as suas. A vida não estava
sendo fácil desde que seu pai faleceu, há dois anos. Sua mãe começou a
trabalhar dobrado para conseguir ajudar a pagar as aulas para ela. E Hanna se
sentia culpada. Não queria que sua mãe tivesse de se esforçar tanto.

Um dos grandes problemas da Patinação artística era esse: Alto investimento.


Treinadores, pista de patinação, roupas, cabelo. Era realmente muito caro.
Mas Rose se sentia feliz ajudando sua filha. Só de ver o brilho nos olhos da
menina, já estava recompensada.

— Está tudo bem, mamãe. Você acha que vai conseguir me assistir na final?

— Eu vou tentar, querida. Eu prometo.

****

O grande dia finalmente havia chegado. Ainda não era a final em que Hanna
gostaria de estar, mas era o primeiro passo entre três. Se conseguisse uma
vaga entre os três melhores, ela iria para o Nacional. E isso era uma coisa
grande.

Ela se olhou no espelho uma última vez. Estava muito bonita com seu
figurino que havia custado mil e quinhentos dólares. Um vestido preto com
um leve decote em v, todo em renda feito à mão, com algumas joias em prata
espalhadas pelo tecido. Seus cabelos louros estavam presos em um coque
feito por um dos melhores cabeleireiros de Toronto.

— Hanna, eu preciso que você se concentre no Flip, ok?

A garota sacudiu a cabeça, concordando. Estava nervosa. É claro que estava.


Quem não estaria? Havia milhares de pessoas na arquibancada, a observando.
Pessoas famosas, emissoras de televisão, pessoas influentes no ramo da
patinação.

A organizadora do evento começou a chamar os nomes para o aquecimento.


Isso significava que Dalila já não poderia mais lhe dar nenhuma dica. Todos
os anos de ensaio e aprendizagem teriam de servir.

— Hanna? — A instrutora chamou, antes de que ela desaparecesse pelo


corredor.

— Sim?

— Você consegue. Eu não estaria aqui hoje se não achasse que conseguiria.

Hanna assentiu, seguindo na fila junto com as demais garotas.

— Hanna Maddox, você é a próxima. Fique na posição de entrada por favor.


— A mulher de cabelos curtos e lisos anunciou. Ela estava segurando uma
prancheta e um microfone estava pendurado em sua orelha.

— Vamos lá, Hanna. Você consegue. — A garota repetiu para si mesma.

Hanna entrou na pista e escutou a multidão gritando e aplaudindo. Ela


lembrou-se dos conselhos de Dalila para focar em seus passos e esquecer as
pessoas que ali estavam. Precisava se concentrar. Depois que tudo corresse
bem, ela poderia procurar sua mãe e acenar.

Ela baixou a cabeça e ergueu os braços, conforme a coreografia. Só estava à


espera da música começar. Seu coração palpitava forte. Suas mãos estavam
suando frio. Apesar disso, Hanna sorriu. Estava exatamente aonde queria
estar e sentia-se preparada.

A música começou a tocar e Hanna rapidamente seguiu sua coreografia.


Cuidou para que todos os passos e saltos fossem realizados perfeitamente. A
cada manobra feita com sucesso, a plateia ia a loucura. De costas com o fio
interno do pé esquerdo, com o apoio do toe pick do pé direito, Hanna
encerrou sua apresentação com chave de ouro executando o Lutz, o segundo
salto mais difícil da patinação artística.

Muitos se levantaram para aplaudir Hanna. Sua apresentação tinha sido


impecável e todos os juízes cochichavam entre si o quanto ela foi cuidadosa e
delicada.

Feliz com o resultado, Hanna sorriu e reverenciou a plateia. Então, levantou


os olhos a procura de sua mãe.

No entanto, no meio da multidão, Hanna conseguiu enxergar apenas um par


de olhos azuis. Olhos estes que ela conhecia muito bem. Era ele. Mathew. O
cara que partiu seu coração.
Capítulo dois
Mathew terminava de assinar seu último contrato. Ele estava voltando para o
Brasil após sete temporadas jogando no melhor clube da Espanha.

Foram quatro anos longe de amigos e familiares. Apesar de Mathew evitar


falar sobre isso, ele também havia deixado no Brasil sua noiva Hanna.
Corrigindo, ex-noiva.

Os dois se conheceram na escola, no quarto ano e desde então não


desgrudaram. Foram cinco anos de amizade até perceberem que era muito
mais do que isso. No primeiro ano do colegial Mathew pediu Hanna em
namoro. Eles seguiram assim por cinco anos, até que Mathew escolheu ir
para a Espanha ao invés de se casar com Hanna. Pelo menos era dessa forma
que a garota pensava.

Mais tarde, Mathew seguiu para uma entrevista. A última em solo espanhol.
Mathew estava entre os três melhores jogadores do mundo, então era notável
que desse uma entrevista explicando o motivo de ir embora.

— Está ansioso para voltar? — Um dos jornalistas da frente perguntou.

Mathew sequer precisou pensar para responder. Ele amava a vida na Europa.
O clima, os preços, a cidade, a segurança. Mas ele não se sentia completo.
Estava faltando alguma coisa.
— Muito. Principalmente para comer uma feijoada.

Todos ao redor riram. Mathew Becker era extremamente adorado pelos


repórteres e paparazzis. Era engraçado, divertido e dificilmente fugia de
alguma polemica.

— Além do fato de estar indo jogar no Flamengo, há algum outro motivo


para o qual deseja tanto voltar? — Uma moça loira, quase na última fileira da
fila perguntou.

Mathew sorriu. Um sorriso de lado, que fazia muitas mulheres suspirarem.


Ele tinha sim outros motivos para desejar voltar para o Brasil. Mas ainda não
era o momento de revelar.

— Quero poder ficar próximo da minha família.

— Nenhuma chance de reatar com sua ex-noiva, Hanna Rivers?

— Estou focado na minha carreira e adaptação no Brasil no momento.

— Acho que a entrevista se encerra aqui, pessoal. — Robert, o assessor de


Mathew anunciou.

Ouve um murmúrio vindo daqueles que não foram respondidos, como sempre
acontece.

— Muito obrigado por tudo, pessoal. Espero que possamos nos encontrar em
breve.

*****
As cinco horas da manhã de uma terça-feira chuvosa, Mathew Becker estava
desembarcando no Aeroporto do Rio de Janeiro.

Como era de se esperar, haviam multidões de pessoas curiosas e fãs, alguns


segurando cartazes para Mathew. Mesmo cansado, o jogador fez questão de
atender a todos que o estavam nas dependências do aeroporto. Tirou foto, deu
autógrafos e rendeu boas fotos para os tabloides.

O jogador não tinha planejado sua chegada ao Brasil tão rapidamente à toa.
Mesmo distante, ele fazia questão de acompanhar a vida de Hanna. E ele
sabia que hoje era um dia importante para ela.

E ele estaria presente.

Três horas mais tarde, Mathew estava sentado na arquibancada juntamente


com seu segurança. Para diminuir o risco de ser reconhecido, ele estava
usando um boné e moletom escuro. Pensou em utilizar óculos escuros, mas
lembrou-se o quanto sua menina gostava de seus olhos. O risco valeria a
pena.

O jogador já estava cansado de esperar. Quatro apresentações já haviam se


passado e nada de sua Hanna. Não que ele não valorizasse a patinação
artística. Mas para Mathew, ninguém patinava de maneira tão doce quando
ela.

Então, ele a viu.

Linda como sempre. Ou talvez ainda mais linda do que da última vez que ele
a viu, há um ano atrás, quando decidiu tirar férias no Brasil. Mesmo de longe
Mathew conseguia ver o brilho nos olhos da garota. Sua garota. Estava linda
com seu vestido preto. E confiante. Com o nariz empinado, ela caminhou até
o centro da pista. Sua garota sabia o que estava fazendo.

O jogador sentiu vontade de gritar para todos: Essa garota é minha. Mas se
conteve. Ao invés disso, apenas incentivou o público a aplaudir. Ele a
aplaudiria pelo resto da vida. Não importava as circunstâncias.

Mathew ficou com os olhos presos a apresentação toda. Seu sorriso de


admiração e orgulho eram nítidos para qualquer um que o visse.

Como pude deixar minha menina escapar? - Pensou o jogador. Ela era a
coisa mais linda, delicada e amorosa que ele já tinha encontrado na vida.
Nenhuma das modelos que ele havia estado nesses últimos anos chegavam
aos pés da patinadora. Ela era incrível. Apesar da baixa estatura, com seus um
e cinquenta e nove de altura, ela era destemida e corajosa. Coisa que Mathew
não tinha sido.

Para ser bem sincero, o jogador se arrependeu de ter desistido de seu


casamento no segundo em que pisou os pés no avião rumo a Barcelona. Mas,
sabia que não tinha mais volta. Ele teria de cumprir o contrato, caso contrário
teria de pagar uma multa num valor ao qual ele não tinha.

Mesmo com um oceano inteiro os dividindo, Mathew não deixou de


acompanhá-la. Segui-a em todas as redes sociais e ficava feliz com cada
vitória alcançada por ela. Afinal, era a sua garota. Sempre seria.

Ele aplaudiu de pé e assoviou quando a apresentação chegou ao fim. Como se


um imã os atraísse, Hanna olhou diretamente para Mathew, quase no final da
arquibancada.

Será que ela estava sentindo a mesma coisa que eu? Pensou o jogador. O
coração acelerado, palpitando, mãos suando. Era uma euforia que ele não
estava acostumado. Algo que ele nunca havia sentido antes.

Quebrando o contato visual, a garota saiu da pista, indo rumo aos bastidores.

Ora, esse é o momento perfeito para eu ir atrás dela. E sem pensar duas vezes,
foi o que ele fez.

— Onde você vai? Está cheio de repórteres para todos os lados. — O


segurança alertou.

O jogador não estava nem aí. Tudo que ele queria era vê-la. Passou anos
tendo que observá-la apenas de longe.

Mas agora ela estava aqui, a sua frente. Ele faria de tudo para tê-la de volta. E
não havia nada nem ninguém para separá-los. Isso ao menos era o que ele
achava.
Capítulo três
— Onde o senhor pensa que vai? Você não pode entrar aqui.

Uma mulher alta, de cabelos escuros barrou a entrada de Mathew nos


vestiários.

O jogador retirou o capuz e o boné. Sorriu, tentando cativar a mulher


de olhos puxados.

— Sou Mathew Becker.

A moça devolveu o sorriso.

— Oh. Sei quem você é. Mas isso não muda o fato de que não pode
entrar aí dentro.

— Moça, minha noiva... Quero dizer, minha amiga está aí dentro e eu


não a vejo a muito tempo. Deixe-me apenas dizer um oi.

Mathew deu um passo à frente e a mulher o espalmou sua mão sob


seu peito.

— Você poderá falar com ela em outro momento. Aqui dentro só


entram patinadores. — Ela lançou um olhar de cima a baixo pelo jogador,
como se estivesse procurando por algo. — E pelo que vejo você não é um.

— Eu entendo o que está dizendo e...


— Você acha mesmo que por que é um jogador famoso eu vou
permitir a sua entrada? Aqui dentro não importa quem você é, Sr. Retire-se
ou serei obrigada a chamar o segurança.

O jogador assentiu, derrotado. Parece que ele teria que fazer uma
visita a Hanna Rivers.

******

Hanna Rivers estava enrolada nos braços de Martin, seu namorado,


enquanto sua mãe terminava de assar uma lasanha de quatro queijos, prato
preferido da patinadora.

— Ainda não acredito que deixaram você em segundo lugar. Seu


Axel foi perfeito, no time perfeito.

A garota sorriu, depositando um beijo casto nos lábios do patinador.


Sim, seu namorado também era patinador. Martin já tinha estado duas vezes
no Nacional, mas nunca havia conseguido passar para o Mundial. Ele estava
extremamente orgulhoso de sua namorada.

— O importante é que estou no Nacional. — Ela deu um gritinho de


alegria. — Você consegue acreditar nisso?

— Claro que sim, linda. Você merece. Nunca vi ninguém tão


dedicada quanto você.

— Obrigada, Martin. Não sei o que seria de mim sem você.


O casal foi interrompido pela campainha.

— Você está esperando alguém, querida? Talvez algum amigo? — A


mãe de Hanna perguntou, jogando a toalha de prato em seus ombros. Em
seguida, correu para abrir a porta.

— Oh... Oh... Mathew... Que surpresa.

Assim que escutou o nome Mathew, Hanna ficou em alerta. Não.


Definitivamente não poderia ser ele.

Então, ela ouviu sua voz.

— Será que eu poderia entrar?

O quê? Ele estava ficando louco?

Rose lançou um olhar para a filha como se pedisse desculpas. Então,


voltou-se para o jogador com um sorriso fraco.

— É... Ahn... Tudo bem.

Hanna rapidamente se levantou e cruzou os braços, pronta para


mandar Mathew voltar para a Espanha.

— Está tudo bem, amor? — Martin perguntou vendo o estado da


namorada. Nesse mesmo instante, os tênis caros de Mathew cruzaram a
pequena sala, dando de cara com sua ex-noiva.
— Hanna... Ei.

O jogador parecia um pouco sem graça, sem jeito. Estava com as


mãos nos bolsos da calça jeans.

— O que você veio fazer aqui?

Antes que ele pudesse responder, foi interrompido por Martin.

— Puta merda. — Exclamou o namorado de Hanna. — Mathew...


Mathew Becker. É mesmo você?

O jogador sorriu, estendo a mão para o patinador.

— O próprio. E você, quem é?

— Sou o namorado da Hanna. E também um grande fã seu.

Uau. Então Hanna agora tinha um namorado?

Mathew o examinou de cima a baixo. Era alto, loiro, olhos azuis.


Exatamente o oposto de Mathew, que era moreno dos olhos negros. O
jogador deu uma olhada nas vestimentas do rapaz: Vestia suéter e jeans.

— Namorado, hein? — Ele sorriu sugestivamente e lançou um olhar


para a ex-noiva. — Não sabia que estava namorando.

— Talvez porque não seja da sua conta.


Math sorriu ainda mais. Por alguma razão desconhecida, ele adorava
quando ela o confrontava. Hanna sempre foi assim: durona. E isso o excitava
muito.

— Espera aí... Vocês se conhecem?

— Mathew e eu estudamos juntos. Éramos amigos.

O jogador jogou a cabeça para trás, gargalhando. Hanna era mesmo


uma dissimulada.

Oh, ela quer entrar nesse jogo? Tudo bem, gatinha. Você não quer
contar para o namoradinho que viveu um puta romance com um jogador.
Tudo bem. Vamos ver até onde isso vai dar.

— Sim, nós fomos grandes amigos. Muito próximos. — Ele sorriu


novamente, lançando um olhar para a garota que a deixou de pernas bambas.

— Linda, por que nunca me contou isso? Que incrível. Será que eu
poderia tirar uma foto com você?

— Claro, seria um prazer. Hanna, será que poderia tirar a foto?

A garota lançou um olhar fulminante para o ex. Idiota. Quem ele


pensava que era para entrar sem ser convidado?

— Pronto.
— Amor, tira uma também. Guarda de lembrança.

Já tenho muitas lembranças com esse idiota. Pensou, mas não disse.

— Ah, eu não gosto muito de tirar fotos...

— Vem, Hany. Vamos tirar uma foto. Pelos velhos tempos.

— Não gosto que me chamem de Hany e não, não tô afim de tirar foto
hoje.

— Qual é, amorzinho, para de ser mal educada com o seu amigo.

Hanna sentiu vontade de revirar os olhos. E fez. Será que Martin era
mesmo retardado ou estava só fingindo?

— Vem cá. — E sem que ela tivesse tempo para protestar, Mathew a
envolveu pelos braços, fazendo-a colar em seu corpo.

Deus! Oh, Deus! A sensação era exatamente como a de anos atrás:


Arrepio na espinha, coração palpitante, secura na garganta. Hanna não podia
negar que Mathew ainda abalava suas estruturas. Ainda mexia com o seu
consciente e inconsciente.

— Acho que agora você já pode me soltar.

— Eu não vou te soltar nunca mais, baby. — Ele sussurrou nos


ouvidos da garota, fazendo com que o arrepio da espinha subisse até sua
nuca. Mathew sorriu ao vê-la se contorcer levemente.
— Fique longe de mim. — Avisou, se desvencilhando de seu toque.
— Aliás, o que veio fazer aqui?

Ela correu para os braços do namorado, numa tentativa frustrada de


esquecer o quanto seu corpo se acendia perto dele.

— Vim parabeniza-la pelo desempenho hoje. E por ter ficado em


segundo lugar.

— Muito obrigada. Agora que já me parabenizou, poderia se retirar?

— Hanna! Por que está sendo tão grossa?

— Martin, não se intrometa, ok?

Hanna e Mathew se encararam como dois inimigos. O olhar furioso


da garota dizia muita coisa. O jogador entendeu, ela ainda estava magoada e
precisava de um tempo para absorver tudo. No entanto, ele não desistiria
dela.

— Tudo bem, ela deve estar cansada. Foi um longo dia. — O cantor
entregou dois ingressos para Martin. — Minha estreia no Flamengo é na
sexta. Adoraria se vocês fossem.

— Co... Como assim estreia no Flamengo?

Oh, doce Hanna, ainda não sabia das novidades?


— Eu vim para ficar. — Respondeu com os olhos cravados nela. —
Vim para reconquistar tudo aquilo que eu perdi no passado.
Capítulo quatro
Quando a sexta-feira chegou, Hanna já estava cansada dos pedidos de
Martin para irem ao estúpido jogo.

— Eu já disse que não, Martin. Qual o seu problema?

— Por que você não quer ir, hein? — Ele disse, pensativo. — Pera aí,
já aconteceu alguma coisa entre vocês dois?

A garota sentiu quando suas bochechas começaram a esquentar.

— O quê? Eu e Mathew? Não! Jamais!

O namorado ainda a encarava com certa dúvida.

— Então por que você o odeia tanto?

— Por que ele é egoísta, só pensa nele, mesquinho, exibido, entre


outras coisas.

— Então por que vocês eram amigos?

— Eu sei lá, Martin. Antes ele era diferente. O futebol e a fama


mudaram ele.

Hanna se segurou para não chorar na frente do namorado. Apesar de


já completarem três anos desde que ela e Mathew haviam terminado, ainda
doía. E ela evitava falar ou pensar sobre isso.

— Eu sinto muito se falei algo que não deveria, amor.

— Não, tudo bem. — Disse ela, limpando uma lágrima que escorria.
— É difícil perder um amigo assim.

Oh, se ele realmente soubesse o quão amigo eles já foram.

Martin envolveu Hanna em seus braços.

— Sinto muito, amor. Sinto muito.

— Quer saber? Nós vamos a esse jogo.

— Mas amor...

Mathew já havia tirado muita coisa de Hanna, inclusive sua felicidade


por muito tempo. E ela não permitiria que isso acontecesse novamente. Se
seu namorado queria ir no jogo, eles iriam. E ela estaria maravilhosa para
caso Mathew a visse.

****

À noite, por volta das oito da noite, o casal estava passando pela
entrada do Estádio da Gávea. Mathew havia os presenteado com ingressos no
camarote, com visão privilegiada.

— Você está linda hoje, amor. Maravilhosa.


Ela sorriu em resposta e o puxou pela mão, indo em direção as
cadeiras.

A verdade é que Hanna havia realmente se produzido um pouco mais


que o habitual para esta noite. Estava de jeans, um body preto de renda e tênis
all star. Havia feito uma maquiagem caprichada e este era o seu forte. Havia
aprendido muito desde que começou com a patinação. Afinal, ela precisava
estar sempre muito bem maquiada nas apresentações. Os cabelos louros
continuavam lisos e soltos.

— Aquele ali não é o Neymar? — Martin cochichou no ouvido da


garota e ela olhou imediatamente na direção. Puta merda. Era ele mesmo.

— Ai meu Deus! É ele mesmo!

— Vou tentar tirar uma selfie e ver se ele aparece atrás.

A garota sorriu. Homens...

Após o jogo, depois de passar no vestiário para se trocar, Mathew


subiu até o camarote. Ele não perderia a chance de vê-la por nada.

Havia pedido a um amigo, Jorge, para verificar se ela estava lá.


Passou boa parte do jogo olhando o camarote para ver se a via, mas sua visão
não era tão boa assim.

— Três gols na estreia? Você é o cara, meu chapa! — Um dos amigos


de futebol de Mathew o cumprimentou com tapinhas nas costas.
— Tô aqui para ser o artilheiro do Brasileirão, cara.

— É assim que se fala.

— Eu já volto.

O jogador caminhou em passos firmes e precisos em direção a ela.

— Que bom que vocês vieram.

Pegando Hanna totalmente desprevenida, Mathew a puxou para um


cumprimento com dois beijinhos no rosto. A garota inalou o perfume caro do
jogador. Ele tinha cheiro de... Homem. Másculo. E realmente era.

Mathew estendeu a mão para Martin, cumprimentando-o também.

— Mano, você joga muito! O que foi aquele drible com o goleiro?

— Estou apenas fazendo o meu trabalho. O que acha de conhecer meu amigo
Ney?

— Neymar? Puta merda! Consegue fazer isso?

— Ney! — Math gritou, chamando a atenção do jogador. — Chama esse cara


para a resenha, tá querendo trocar uma ideia.

— Opa, chega aí cara.


— Eu já volto amor. — Então, desapareceu no meio das pessoas.

E esse era o momento perfeito para conversar com Hanna.

— Ridículo isso que você fez, sabia?

O jogador esbanjou um sorriso pretencioso.

— Isso o que? Eu não fiz nada.

A patinadora revirou os olhos.

— Vê se me erra.

— Eu adoro esse seu jeito birrenta de ser, sabia? — Ele deu um passo
calculado para a frente. – Posso dizer todas as coisas que adoro em você,
Hanny?

– Não? Certo. Que tal apenas uma? Eu adoro quando você inclina o queixo
quando está usando sua fachada de indiferente. E a esse body de renda é
golpe baixo.

O jogador conseguiu arrancar um sorriso da garota. Hanna estava nervosa, e


Mathew havia notado o quanto ela mexia em seu cabelo. Isso fez com que ele
tentasse aliviar sua inquietude.

Vendo a curva arrogante em seus lábios, Hanna logo se recompôs,


removendo todos os traços de surpresa de seu rosto com um largo sorriso.
– Você deveria reparar mais nas modelos que estão por aí.

O efeito foi o esperado. O sorriso dele diminuiu, o brilho presunçoso em seu


solhos se transformou em um olhar de atenção. Hanna aproveitou o momento
para estudá-lo através das luzes. Seu corpo obviamente poderoso e forte
estava coberto por uma camisa preta e jaqueta de couro, que combinava com
seus olhos e destacava os cabelos castanhos arrumados com cuidado. Os
olhos não tinham a mesma claridade dos de Martin, mas um tom mais escuro
e profundo. Formavam um conjunto impressionante com a beleza sem igual
de seu rosto.

– Você está com ciúmes, Baby? – ele a desafiou com aquela deliciosa voz
rouca que se movia como seda áspera sobre a pele dela.

– Eu não ligo para quem você pega ou deixa de pegar, Mathew.

O jogador tinha o rosto de um anjo, um homem tão bonito que parecia quase
irreal. Ver aqueles olhos e ouvir aquela voz masculina podia fazer o cérebro
de uma mulher entrar em parafuso.

– Então, por que você está aqui hoje? – ele perguntou.

– E por que você voltou para o Brasil? – ela retrucou.

Ela o admirou enquanto se maravilhava com sua ousadia. Sentiu o estômago


dar um nó, mas escondeu esse efeito que ele provocou nela.

– Você logo vai descobrir o motivo. Venha comigo.

– Eu não vou a lugar algum com você.


– É rapidinho.

– Tenho certeza que percebeu que não vim sozinha.

Movendo-se tão rápido que a pegou desprevenida, Math agarrou sua cintura
nas mãos largas e a puxou contra seu corpo.

– Não parece que ele está sentindo muito a sua falta. Agora venha.

Hanna perdeu a fala por um momento com a ousadia do gesto e a grosseria


das palavras. Mesmo assim, o seguiu.

Quando se deu conta, Mathew estava trancando a porta do banheiro.

– Você está louco? – ela perguntou quase sem fôlego, respirando com
dificuldade.

A noite estava quente, mas não foi isso que enviou uma onda de calor
percorrendo sua pele. Assim como aconteceu antes, terminações nervosas se
acenderam dolorosamente com a sensação dos braços dele ao redor de seu
corpo.

– Me solte, Mathew! Pelo amor de Deus!

Então, sem dizer mais nada, ele a beijou. E quando ele a beijou, Hanna
também pôde sentir o sabor de sua excitação. Fechando os olhos, ela disse a
si mesma para ignorar a sensação dos lábios dele. Suaves, com um resvalar
da ponta da língua. Mas seu sabor era delicioso, como ela se lembrava. E
então ela se permitiu aproveitar, abrindo-se para ele, e foi recompensada com
seu leve gemido de aprovação.

Ele tomou a boca dela como se tivessem todo o tempo do mundo. Como se
houvesse uma cama próxima e ele pudesse cumprir as promessas feitas por
seu beijo. Havia algo sobre a maneira como ele a agarrava, com força e
suavidade ao mesmo tempo, que a afetava profundamente. Ele tomou o que
queria à força, mas com uma gentileza oposta à sua atitude. Por longos
momentos, Hanna permitiu ser intoxicada por ele, deixando suas sensações
entrarem em ebulição por trás de seus olhos fechados. O polegar dele
circulou demoradamente sua nuca, em uma carícia rítmica que fez suas costas
se arquearem e seus lábios tremerem. Suas mãos refletiam o estremecimento
em seu estômago, forçando-a a se apoiar no casaco dele para esconder a
reação. Então, ela recobrou a razão e o roubou de suas ilusões.

– Deixe-me em paz, Mathew. Por favor.


Capítulo cinco
Droga. Droga. Droga!

Hanna levantou-se depressa quando viu que o relógio marcava oito e meia da manhã.
Grande inferno. Dalila com toda a certeza a mataria.

– Bom dia, querida! – Sua mãe saldou assim que viu sua garotinha entrando
na cozinha.

– Mamãe! Por que não me acordou?

– Você chegou tarde em casa e eu achei que merecia descansar um pouco


mais.

A menina revirou os olhos, procurando uma banana na fruteira.

– A senhora precisa entender que o que estou fazendo não é brincadeira.


Preciso levar a sério e chegar no horário, como em qualquer outro trabalho.

*****

– Desculpe por não te atender ontem à noite. – Ana lamentou enquanto


deslizava a perna sobre o banco da mesa da lanchonete. Ela também estava
atrasada para o almoço.

Depois de ter chego atrasada para o treino, Dalila havia feito Hanna suar e
treinar até meia hora mais tarde, perdendo então uma parte do seu horário de
almoço.

– Então, me conta tudo sobre ontem à noite! – A japonesa parecia empolgada.


Depois de horas na pista de patinação, ela merecia um descanso. Hanna e
Ana se conheceram assim: Na lanchonete onde treinavam. As duas
compartilhavam do mesmo sonho, portanto, foi fácil para elas criarem um
vínculo.

Ontem à noite, a garota pensou. A primeira imagem que surgiu foi ela e
Mathew no banheiro. E então o beijo. A segunda coisa que veio a sua cabeça
foi o fato de ter se atrasado para o treino. Coisa que nunca havia acontecido
antes.

Pensou em esconder a verdade, mas Ana era sua melhor amiga.

– Mathew e eu nos beijamos. Quer dizer, ele me beijou.

A japonesa quase cuspiu o suco de abacaxi que estava em sua boca.

– Como assim? Conte-me tudo, cada mínimo detalhe.

E foi o que ela fez. Nos próximos vinte e oito minutos, Hanna detalhou cada
coisa que aconteceu na noite passada. Inclusive seu beijo com um dos
jogadores mais famosos do mundo.

****

– Então, nós nos vemos daqui duas horas, certo? – Ana perguntou
empolgada. Seu novo namorado, Bratt, era dono de um bar e ela queria muito
levar Hanna para conhecer o lugar.

– Eu não sei. Martin não vai poder ir e eu me sinto mal indo sozinha.

A amiga segurou as mãos de Hanna, fazendo-a olhar dentro de seus olhos.


– Pare de besteira, ok? Nós treinamos duro todos os dias, merecemos um
pouco de diversão. Prometo que nós não vamos ficar muito tempo.

Hanna revirou os olhos, assustada com o quanto Ana poderia ser convincente.

– Tudo bem. Me mande o endereço por mensagem.

– Isso! Eu te amo, xuxu. Você sabe.

– Você é extremamente falsa quando quer, Ana!

A japonesa depositou um beijo na bochecha de Hanna.

– As nove horas. Não se atrase.


Capítulo cinco
Hanna chegou ao The Role exatamente as nove da noite. Pontualidade era
algo que a garota presava muito. Por isso, sempre era uma das primeiras a
chegar. Por sorte, desta vez Ana já estava a aguardando.

– Xuxu, que bom que você veio!

Hanna sorriu em resposta, abraçando a amiga que parecia estar extremamente


feliz. Ana sempre foi do tipo que se apega rápido demais, por isso, sempre
que terminava com algum carinha, ficava por semanas trancada dentro de
casa chorando e comendo besteira.

Aparentemente, Bratt não era um desses babacas que iriam a abandonar daqui
há um mês. Ele parecia mesmo gostar de Ana. Já havia inclusive a levado
para conhecer os pais. Hanna ficou feliz vendo a forma carinhosa que ele a
tratava.

O lugar estava lotado. A festa já estava adiantada, muita gente bêbada. Muita
gente beijando, abraçando e dançando. Muita gente também com cara de que
adoraria estar fazendo isso, mas ainda não havia conseguido.

– O que você vai querer tomar, Hanna? Ana disse que você não é muito de
bebidas alcoólicas.

A garota deu de ombros. Então olhou curiosa para a taça da amiga.

– O que você está tomando?


– Se chama Sex on the Beach. – Respondeu Bratt. – É uma bebida feita com
vodka, schnapps de pêssego, suco de laranja, e suco de oxicoco.

– Parece ser bom.

– Vou fazer para você.

Quarente minutos mais tarde, Hanna e a amiga estavam não bêbadas, mas
levemente alteradas. Ana segurou nos punhos da amiga e a puxou sorridente
para a pista de dança.

– Vamos nos divertir.

As garotas levaram suas bebidas até a pista de dança e cumprimentaram o DJ,


que estava tocando um remix de Favela, de Alok.

She come from the favela-la


Hills of Santa Teresa
Underneath the Redeemer
And the sun in the sky
She come from the the favela-la
Ask me e aí beleza
Underneath the Redeemer
Where the hills come alive
Ela vem da favela-la
Morro de Santa Teresa
Debaixo do Redentor
E do sol no céu
Ela volta à favela-la
Me pergunta "e, aí, beleza? "
Debaixo do Redentor
Onde os morros ganham vida

As duas dançavam, riam, cantavam todas as músicas e voltavam ao bar para


beber.

Bratt surgiu do nada, do meio da multidão. Ele cochichou algo no ouvido de


Ana e ela sorriu concordando.

– Nós vamos dar uns amassos no banheiro. – Disse, empolgada. – Você vai
ficar bem?

– É claro. Eu vou me sentar um pouco e tirar esses saltos.

E se foram.

Hanna ficou sentada perto do bar, observando as pessoas dançando e


flertando. Outras mexendo no celular e gravando stories. As pessoas eram
realmente estranhas, pensou ela. Na frente das câmeras, as lutavam para
passar uma imagem falsa de felicidade. Cantavam, dançavam. Quando
desligavam os aparelhos, mal se olhavam. Alguns inclusive mostravam olhar
de tristeza.

Foi então que ela o viu.

No início, achou que era uma miragem ou que sua estupida mente estava
projetando seu rosto em outra pessoa.
Mas então ele estava na sua frente. E sua cara era de irritação.

Mathew Becker estava a sua frente. Por que diabos isso parecia tão
engraçado?

– O que é tão engraçado, Hanna? E o principal, o que está fazendo aqui


sozinha, bêbada?

– Você... Você é engraçado. – Ela respondeu com dificuldade. – E eu não


estou sozinha. Ana está ali.

Ela olhou ao redor, procurando a amiga. Mas fracassou. Sequer sabia para
que lado ela havia ido.

Mathew estava com vontade de dar uma bela bronca na garota por ser tão
irresponsável. Era extremamente perigoso ficar sozinha e bêbada num lugar
como aqueles. Porém, só o fato deles estarem juntos, sem a presença do
namorado engomadinho, o fez se acalmar.

– Por que eu sou engraçado?

– Quando eu mais precisei de você... Vo... Cê foi embora. – Ela riu, mas o
jogador pode sentir mágoa em sua voz. – E agora que eu estou bem... Muito...
Bem... Você fica me seguindo.

– Eu sinto muito, Hanna. Você não imagina o quanto. Deixe-me cuidar de


você.

Ele sumiu por um minuto no máximo e voltou com uma garrafa de água.
– Abra a boca.

– Eu... Não... N... ão... Preciso que cuidem de mim.

– Eu sei que não. Mas deixe-me fazer isso. Abra a boca.

Não sabendo exatamente o porquê, ela o obedeceu. Ela bebeu quase metade
da garrafa. Deus! Ela sequer sabia que estava com cede.

Alguns minutos depois, Hanna sentia-se melhor.

– Você está bravo?

– Não. – Ele abriu a garrafa de água e a levou à boca. Enquanto ele


bebericava, ela observava o movimento de sua garganta, admirava cada
engolida, via a forma como os tendões do pescoço se flexionavam sob a pele.
Suas pernas vacilaram um pouco.

– Você está me seguindo?

– Talvez. – Ele respondeu com tranquilidade. – Acho que está na hora de ir


embora.

– Como você faz isso, afinal? Rastreia as pessoas?

– Não é tão difícil. Mas, tenho alguém que faz esse trabalho para mim. – Ele
apontou para o segurança que estava há alguns passos de distância.

Foi então que ela percebeu que ele não deveria estar ali. Se alguém o
reconhecesse, seria um tumulto. Era muito arriscado.

– Acho que você não deveria estar aqui. – Disse a patinadora, tentando
empurrá-lo para longe. Mas foi em vão.

Seu olhar pousou sob os dela. Os olhos escuros e intensos de Math se


estreitaram quando deu um passo lento na direção da garota, como uma
espécie de gato gracioso, porém mortal, perseguindo sua presa.

– Estou exatamente onde deveria estar.

Assim, ele não se mexeu. Mas nem a garota recolheu sua mão. Não, ela meio
que a deixou ali, espalmada no peito largo, sentindo seu coração contra as
pontas dos seus dedos. Sob a camisa larga e fina, dava para sentir seu coração
batendo em um ritmo descontrolado.

Mathew não disse nada, não mexeu nenhum músculo. Simplesmente ficou
olhando para ela, sua respiração lenta e constante, a qual fazia seu peito subir
e descer sob o toque doce de Hanna. Aqueles olhos negros-de-tão-escuros
ardiam. Ele parecia pronto para rasgar suas roupas.

Hanna engoliu em seco, usando de toda minha determinação para permanecer


completamente imóvel, sabendo que um movimento errado ia destruir a
intensidade do momento.

Só quando sentiu os sapatos dele tocando os seus foi que Hanna entendeu por
que sua perna estava tão quente de repente. Era porque a perna dele estava
muito perto da sua, seu corpo irradiando calor.
Assim que o peito dele roçou em sua camisa branca de seda, seus mamilos se
enrijeceram e meus seios ficaram pesados.

Aquele leve roçar da camisa nas pontas dos seus mamilos foi mais sensual do
que qualquer carícia que ela já havia experimentado com Martin. Só fez
aumentar a expectativa. E a tensão. Ele ergueu o braço lentamente. Mathew
entrelaçou os dedos junto com os de Hanna e posicionou seu braço junto às
costas da menina, até que os dois estivessem tocando sua traseira.

Ela arfou com o contato.

Em seguida, ele pegou a outra mão e fez a mesma coisa, até imobiliza-la
totalmente. Ela não conseguia mexer os braços. Não conseguia recuar porque
o balcão bloqueava meu caminho. Não podia fazer nada, senão permanecer
ali, sorvendo-o.

– Não me lembrava de você ser tão estressadinha assim. – Rosnou ele.

Lambendo os lábios, Hanna balançou a cabeça e consegui sussurrar:

– Muita coisa mudou. Eu não sou mais a mesma menina de anos atrás.

– Eu sinto saudades, Hanny. Você não tem ideia do quanto.

Ela queria gritar. Dizer o quanto o odiava e que o sentimento não era
recíproco. Queria mostrar a Mathew que sua vida estava muito melhor sem
ele.

No entanto, não foi o que ela fez.


Amedrontada, excitada, ela simplesmente ficou parada ali, à espera. Então o
jogador a puxou, até que seu corpo foi esmagado contra o dele, e não houve
como não notar o cume da excitação pressionado contra sua virilha. Deus, ele
era grande. Rijo. Exatamente como ela se lembrava. Ela quase havia se
esquecido como era estar nos braços de Mathew.

Hanna mal conseguia permanecer de pé.

Mathew baixou a cabeça. Não sabendo exatamente o que estava fazendo, a


patinadora inclinou a cabeça também, fechando os olhos e entreabrindo os
lábios. Quando ele a beijou, porém, não foi o encontro ávido, profundo e
apaixonado da noite anterior. Em vez disso, ele fez algo completamente
chocante. Ele capturou seu lábio inferior entre os dele, sugou e mordiscou.
Levemente. Porém deliberadamente.

Ondas quentes de prazer irradiaram o corpo de Hanna, subindo num frenesi


para então latejar entre as suas pernas, que já estavam muito fracas. Como se
soubesse disso, Mathew a puxou para mais perto, seus dedos apertando seu
bumbum enquanto ele a içava, até ela estar praticamente montada naquela
ereção imensa.

Por Deus, ela queria gritar. Haviam pessoas ao redor. Muitas pessoas. E ela
tinha namorado. Será que ele não temia que alguém os visse daquele jeito?

Ele lambeu o local onde havia a mordido, como se para aliviar uma dor
inexistente. Sua língua era absolutamente deliciosa, deslizando sobre seu
lábio. Ela queria ter forças para pará-lo. Sabia que era errado. De mil
maneiras possíveis, tudo aquilo que estavam fazendo era errado.

O que diabos ela estava fazendo?


Martin.

Isso a fez ter forças para soltar suas mãos e dar um passo para trás.

Os olhos do jogador estavam tempestuosos, sua carranca, feroz, como se eu


tivesse sido a agressora e roubado um abraço dele.

– Você não deveria estar aqui. – Murmurou ela. – Na verdade, você deveria
ficar bem longe de mim, como fez todos esses anos.

– Eu não vou a lugar algum. – Ele respondeu com veemência. Seu olhar era
sério. – É melhor terminar com o seu namorado, Hanna, se não quiser
machucá-lo. – Falou, passando o polegar pelos lábios inchados da garota. –
Eu não vou embora. O único motivo para eu ter voltado para o Brasil é você,
Hanna Rivers.

– O quê? – Ela não parecia estar entendendo. Em que momento Mathew


havia batido a cabeça?

– Eu voltei para reconquistá-la, baby. Acostume-se com a minha presença.


Capítulo seis
Sábado era o dia oficial da faxina. Era o dia em que Hanna ajudava sua mãe a
limpar o pequeno, porém aconchegante apartamento.

– Então, filha, como andam as coisas com Martin?

– Ué, tudo ótimo. Por que a pergunta?

A mãe parou por um momento e colocou a vassoura em um dos pilares do


apartamento. Limpou uma gota de suor e olhou séria para a filha.

– Desde que Mathew voltou eu não vi mais o seu namorado aqui em casa.
Vocês não marcam de sair, parece que...

– Não parece nada, mamãe. – A filha a cortou rapidamente. Da onde estavam


vindo essas ideias? – Nós dois estamos extremamente ocupados, você sabe.
Dalila também não me dá descanso um minuto sequer.

– E por que ele não veio hoje?

A garota mordeu os lábios. De fato, toda sexta-feira Martin dormia na casa


dela para que eles pudessem maratonar alguma série. Mas, desde o seu último
encontro com Mathew, Hanna estava se sentindo muito mal. Havia beijado
outro homem. Seu ex-noivo. Duas vezes.

Como ela deveria contar isso a ele?

É por isso que tem fugido constantemente de seu namorado. Ignorando suas
mensagens e ligações.
– Martin foi pescar com o pai dele. – Mentiu descaradamente. – É só por isso
que ele não veio.

Rose estreitou os olhos para a filha, analisando se era verídico o que ela
estava dizendo.

– Então amanhã ele vem para o almoço? Pensei em fazer as panquecas que
ele tanto gosta.

– Eu não sei quando ele volta, mamãe. Mas eu te aviso.

****

Mathew estava bebericando um gole do seu Whisky canadense e pensando na


próxima jogada.

O jogador sabia que era muita coisa para sua ex-noiva absorver. E ainda
havia o fato de que ela tinha um namorado e suas apresentações estavam
prestes a começar. Então, sim, ele podia ser razoável, maduro e paciente a
respeito disso. Podia esperar até depois das competições nacionais e então
telefonar para ela em algum momento de janeiro para dizer um olá e ver se
ela gostaria de encontrá-lo. Mas depois de sentir seus lábios doces outra vez,
não dava. Ele não poderia esperar.

Era por isso que estava as oito da manhã em plena segunda-feira esperando
Hanna começar seus treinos.

Oh, não o julguem. Na era da internet é muito fácil ter acesso a localização
das pessoas. E como a patinadora quase todos os dias postava fotos do seu
treino, só foi jogar o endereço no Google.

Não demorou muito para que ele a visse, usando um collant e calças pretas.
Para Mathew, Hanna poderia estar com a roupa mais feia do mundo e ainda
sim estaria linda para ele.

Haviam outras patinadoras na pista e outras pessoas na arquibancada, por isso


Hanna não notou a presença de seu ex-noivo de primeira. Na verdade, ela
apenas o viu três horas mais tarde, quando Dalila a deixou descansar.

Assim que o viu, um misto de sentimentos tomou conta de seu corpo. Ela não
sabia se o mandava a merda por estar perseguindo-a, ou se o beijava por ser
tão lindo.

– Eu já estou cansada de fazer a pergunta “O que você está fazendo aqui”. –


Ela disse, revirando os olhos enquanto ele terminava de descer os degraus da
arquibancada.

– Então pare de perguntar.

Arggg! Mathew a irritava muito.

– É sério, cara, por que você está aqui? Você não tem medo não de ser
reconhecido?

Hanna começou a andar em direção a lanchonete, pois não tinha muito


tempo. Seu tempo de almoço era corrido e ela não estava a fim de ficar sem
comer até o fim do dia.

– É por isso que eu uso boné, baby. E marcos está aqui para qualquer
incidente.

Como resposta, a garota apenas revirou os olhos.

Mathew se sentou no lugar mais afastado da lanchonete, de costas. Dessa


forma, se as pessoas sentassem ali por perto, só conseguiriam vê-lo por trás.
Ele aguardou Hanna fazer seu pedido e se sentar ao seu lado.

– Lasanha... Isso é tão errado. Você não deveria comer só coisas leves e
saúdaveis?

– Vê se para de encher o saco, Mathew. Não faça eu me arrepender de ter


sentado com você.

O moreno levantou os braços em sinal de rendição.

– Não está mais aqui quem falou.

– Então, você não trabalha não? – A garota perguntou enquanto levava uma
saborosa fatia de massa a boca.

– O campeonato só começa daqui há algumas semanas. Até lá, estou meio


que dê folga. Só fazendo exercícios.

– Entendi.

– Seu namorado... Ele também é patinador?

A patinadora parou de comer um segundo para fitá-lo.


– Sim, ele é.

– E como se conheceram? Há quanto tempo vocês namoram?

– Nós nos conhecemos em uma competição, há um ano e meio. Por que quer
saber, hein?

– Você foi bem rápida né.

A pulsação de Mathew estava acelerada. As mãos fechadas em punho


embaixo da mesa. Ele estava com raiva. Com raiva de Hanna. De Martin.
Mas principalmente, dele mesmo. Mathew sabia que a culpa de os dois não
estarem mais juntos era completamente dele. Mas doía no fundo do seu
coração saber que ela o havia superado e seguido em frente. Pois ele não
deixou um dia sequer de pensar nela.

– O quê? – Respondeu ela, atordoada.

– Para alguém que dizia que nunca iria me esquecer você foi bem rápida
achando um substituto.

Ora, que cretino! Ele não tinha o direito algum de cobrá-la dessa forma.

– Para alguém que jurou passar o resto da vida comigo você foi bem rápido
aceitando uma proposta pelas minhas costas e indo embora, né?

Uau. Aquilo foi um soco no estômago do jogador.


Ele abriu e fechou a boca diversas vezes, sem saber como responder.

– Eu acho que nós precisamos sentar e conversar. Em algum lugar reservado.


Esclarecer as coisas...

– Para que, Mathew?

– Para tentarmos nos entender e...

– Nós terminamos há muito tempo. – Rebateu ela. – Não há o que conversar.

Ele assobiou.

– O que foi?

– Você ainda está realmente brava comigo.

Ela aprumou aqueles ombros magros e empinou o queixo.

– Isso é ridículo. Eu não nutro mais nenhum tipo de sentimento por você.

Hanna obviamente estava tentando ostentar um olhar fulminante, porém, com


aquele tamanho pequeno e as bochechas levemente coradas, ela só conseguia
ficar adorável.

Mathew não conseguiu evitar erguer uma das mãos e tocar seu rosto, a ponta
de seus dedos roçando na pele macia da bochecha dela. Hanna encolheu
como se tivesse sido tocada por ferro quente.
– Não.

– Jesus Cristo, mulher, você me odeia? – sussurrou ele, percebendo pela


primeira vez que aquilo podia não ser mera birra. Será que era possível que,
durante os últimos três anos, enquanto ele estava sentindo-se péssimo, ela o
estava odiando?

– É claro que não odeio você – disse ela, soando irritada. Como se estivesse
falando a verdade, mas não estivesse exatamente feliz por tal fato. Então ela
queria odiá-lo?

– Podemos por favor tomar um café em algum lugar que eu não precise me
preocupar em ser descoberto? Eu prometo que fico aqui até acabar o treino,
quietinho.

A expressão melancólica cruzou o rosto dela, como se Hanna também


estivesse se lembrando do primeiro encontro deles de verdade em uma
cafeteria no norte da barra.

– Não posso – murmurou ela. – Preciso ir ao mercado comprar algumas


coisas que estão faltando.

– Eu vou até lá com você.

– Não, obrigada.

– Por favor. Eu preciso mesmo comprar umas verduras. Só tenho comido


porcaria nos últimos dias.

Ela bufou.
– Você continua persistente, não é?

– Só quando é importante.

– E quando foi que me tornei importante para você?

– No dia em que nos conhecemos.

– Olha, Mathew, juro que não estou guardando rancor – disse ela.

– Então você não precisa ficar fugindo de mim o tempo todo.

– E você não precisa ficar me perseguindo o tempo todo.

– Eu só… Droga. Senti saudade de você. Muita.

– Faz muito tempo, Mathew. Você deveria parar com isso.

– Você está me dizendo que não sentiu a mesma coisa? – Se ela dissesse que
não, ele se convenceria a acreditar. Ele a deixaria em paz.

Hanna não respondeu de imediato. Sem querer que ela passasse batido sobre
aquela história, respondesse sem pensar, Math levantou uma das mãos. Havia
algumas mechas dos cabelos sedosos dela caídas no rosto. Ele passou os
dedos nelas, sentindo o calor subir por todo seu braço. Ela fechou os olhos, os
cílios escuros em contraste à pele clara. E ele pôde jurar que ela chegou a
aninhar o rosto na mão dele por um instante.
Capítulo sete
– Tem certeza de que é seguro vir ao super mercado?

– Eu sei me infiltrar como ninguém. – Ele disse, baixando a aba do boné. –


Então, o que vamos comprar?

Hanna arqueou as sobrancelhas.

– Nós?

– Achei que estivéssemos aqui para comprar as coisas para o nosso jantar.

A garota gargalhou. Mathew era realmente muito insistente.

– Sem chance.

– Tudo bem então. Vou comprar congelados e morrer de tanto comer gordura
trans.

– Você é desnecessariamente exagerado.

O que era uma simples ida ao mercado, virou uma festa total. Os dois
conversaram, riram, Mathew colocou Hanna sob o carrinho e saiu pelo
mercado a empurrando. Pareciam dois adolescentes. Pareciam o mesmo casal
de anos atrás.

– Acho que o guardinha ali não gostou muito de você me empurrando.


– Na verdade, acho mesmo é que ele está com inveja.

– Inveja do que? De você?

Mathew assentiu, colando seus rostos.

– Sim. A mulher mais linda de todo o Rio de Janeiro está do meu lado, rindo
comigo.

Ignorando o olhar surpreso do guarda, que era a única pessoa no saguão,


Mathew se inclinou para Hanna e roçou os lábios nos dela, delicadamente,
exigindo nada além de uma chance.

Ela hesitou pelo mais breve dos instantes, então derreteu ao encontro dele.
Ele ficou satisfeito ao descobrir que ela ainda se encaixava perfeitamente no
corpo dele, como sempre. As curvas delicadas acolheram os ângulos rijos
dele, os pés se separando um pouco quando ela roçou as pernas nas dele e
arqueou para ele. A doçura chamejou para o desejo, exatamente como tinha
acontecido na primeira vez que se beijaram.

O jogador pôs as mãos nos quadris dela e a puxou para mais perto. Varrendo
a boca de Hanna com a língua, ele ousou ir mais além. Ela, é claro, aceitou a
ousadia, recebendo o que ele oferecia e arriscando mais ao erguer os braços
para enlaçar o pescoço dele. As línguas investiram juntas, quentes, lânguidas
e profundas, fazendo Mathew pensar em como jamais ao menos imaginara
que beijar outras mulheres poderia ser tão bom quanto beijar esta.

Tudo em sua menina era tão inebriante agora quanto tinha sido. Talvez até
mais, porque Hanna não era mais a garota doce com cara de estudante. Ela
agora era mulher, em cada centímetro. E ele tivera o imenso privilégio de
transformá-la naquela mulher.

Talvez fosse isso que tornasse esse beijo diferente do primeiro. Antes, havia
curiosidade e surpresa, navegando em uma onda de pura atração. Agora eles
sabiam o que poderiam ser um para o outro. Conheciam o prazer que eram
capazes de criar juntos. Sabiam como era estar nus, excitados e grudados
enquanto a sanidade recuava e o desejo tomava conta de cada pensamento
consciente. E de muitos sonhos.

– Olha lá, é o Mathew Becker! – Uma mulher gritou e outras pessoas que
passavam ali também olharam.

– Me dê sua mão, Hanna. Vamos precisar correr agora.

Não demorou muito para que o mercado virasse uma confusão e os dois
tiveram que sair correndo de lá, sem as compras.

– Prometo que amanhã eu mando virem entregar suas coisas. E novamente,


sinto muito pela confusão.

A garota depositou uma mecha solitária atrás de sua orelha e sorriu.

– Não precisa se preocupar. Eu me viro.

– Então... Até mais. Foi muito bom estar com você hoje.

Ela assentiu. Também havia gostado muito de estar com ele, mesmo que não
fosse admitir em voz alta.

– Nos vemos por aí.


Mathew virou-se para ir embora, mas Hanna segurou o seu braço,
surpreendendo-o.

– Quer jantar aqui em casa? Já que não deu para comprar seus congelados e
tal.

O jogador abriu um sorriso vitorioso.

– Seria uma honra.


Capítulo oito
Quando a voz da Taylor Swift cantando “Lover” começou a tocar no celular
que Hanna havia deixado ao lado do travesseiro, quase rolou da cama para o
chão na pressa de desligá-lo.

Ela se sentia péssima, em parte porque quase havia dormido, mas,


principalmente, porque passava o dia todo a espera de uma mensagem de
uma pessoa em especifico. E não, definitivamente não era seu namorado.

A garota levantou, correu para o banho. Tomar um banho quente de manhã


sempre a ajudava a relaxar. E ela estava precisando. Vestiu seu collant e calça
legging, pegou uma banana e saiu correndo. De jeito nenhum queria levar
mais uma bronca de Dalila.

– Você está dois minutos atrasada. – Disse a treinadora.

– O quê? – Exclamou assustada a patinadora. – Mas eu conferi no meu


relógio e...

– Chega de reclamar, mocinha. Para a pista. Agora.

Quando já não aguentava mais de tanto cansaço, Dalila decidiu dar uma
pausa.

– Voltamos em vinte minutos.

Hanna imediatamente olhou para a arquibancada, a procura de Mathew, mas


ele não estava. Também não havia mandado mais nenhuma mensagem e nem
a perseguido nos últimos três dias. Será que havia acontecido alguma coisa?
Será que ele havia desistido ou encontrado alguém melhor?
– Hanna! – Ela virou para trás, perdida em seus pensamentos.

– Martin! – Ela correu até seus braços. – O que você está fazendo aqui?

Carinhosamente, ele depositou um beijo um beijo em sua testa. Depois,


segurou sua mão.

– Vim te ver.

– E o que mais?

Hanna sorriu. Ela sabia que seu namorado deveria estar treinando e não aqui.
O fato dele ter cruzado a cidade para estar ali significava que tinha algo
importante para dizer.

– Será que podemos nos sentar?

Ela assentiu com a cabeça, pensativa. Será que Martin havia visto ela com
Mathew? O pior, será que algum repórter tinha visto os dois e publicou
alguma matéria?

– Eu vou ser bem direto, Hanna. Não quero enrolar.

– Tudo bem. Fale logo.

– Eu recebi uma proposta de Londres. Eles querem que eu faça parte de um


time de patinadores e como eu tenho cidadania britânica...
– Você poderia participar do mundial com eles.

Ele assentiu.

– Quando você vai? – Perguntou a garota, segurando as lágrimas. Não iria


chorar na frente dele. Não iria.

– Depois de amanhã.

– Já?

– Faltam seis meses para o mundial, Hanna. Eu preciso me preparar.

– É isso mesmo que você quer?

– Você está perguntando de nós?

– Não existe mais “nós”, Martin. Você escolheu a patinação. Tudo bem.

– Não é bem assim... Nós podemos tentar a distância e...

– Chega de “es”, Martin. Não há como isso dar certo. Melhor terminarmos de
uma vez, ok? – Ela disse, se levantando. Não acreditava que estava passando
por isso outra vez. – Desejo tudo de mais incrível na sua vida e espero
mesmo que você consiga o Mundial. Agora, eu realmente preciso voltar a
treinar.

– Hanna...
– Adeus, Martin.
Capítulo nove
Os dias passaram rapidamente. Hanna tentava não pensar muito na
partida de Martin ou em Mathew. Estava tentando se concentrar nas
competições que estavam cada vez mais perto.

Mas, ficava vez mais difícil. Era quase impossível não pensar que
todas as pessoas que ela amava a deixavam. Escolhiam suas profissões ao
invés dela. E o pior, sem pensar duas vezes. Desde que partiu, Martin não
havia mais mandado mensagem. Era como se ela não existisse, como se
nunca tivesse significado nada para ele.

Deitada, com seu travesseiro entre as pernas, Hanna chorou.

Por que ela não tinha sorte no amor?

Quando apaga a luz do quarto, Hanna volta a pensar na única coisa


que vem ocupando meus pensamentos ultimamente. Mathew. Mathew
Becker.

– Não sei o que terei que fazer para esquecê-lo. – Fala para si mesma.
– Acho que preciso desistir do amor.

Às seis da manhã, acorda sobressaltada. Sonhou com Mathew.

– Que grande inferno! Nem em sonhos consigo tirá-lo da cabeça! É


de matar!

Por que, quando estamos obcecados por alguém, o dia e a noite se


resumem a pensar nessa pessoa o tempo inteiro? Irritada, sem conseguir
pegar no sono, Hanna decide fazer o que mais tem feito nos últimos dias:
Procurar notícias do jogador no Google.

Uma em específico havia lhe chamado a atenção.

Mathew Becker é visto com a modelo Caroline Ross no camarote


Ledux na noite de sexta-feira (13). Confira mais fotos clicando no link
abaixo.

Filho. Da. Puta. É claro que tudo que ele havia falado era mentira. Traidor!

Hanna não terminou de ver a notícia. Não iria ficar se torturando. Ela tinha
coisas mais importantes para pensar e se preocupar.

Na quinta-feira à tarde, quando estava fazendo compras no supermercado,


Mathew lhe mandou mensagem.

O que está fazendo? ??

Ela revirou os olhos, colocando a massa de tomate em sua cesta.

Responder ou não responder? Eis a questão. Por fim, a curiosidade bateu


mais forte. Também queria saber o que ele estava fazendo.

No supermercado. Fazendo compras. E você?

A mensagem veio quase que imediatamente.

Droga, por que não me chamou para esse role romântico? Eu estou
levando o meu cachorro para passear. Ps. é um poodle.

Hanna não conseguiu evitar uma risada. Era engraçado pensar em Mathew
passeando com um poodle.

Ela não respondeu. Era melhor para o seu psicológico se ela se afastasse.

Mas, parece que os planos de Mathew eram outros.

— Parece que você está precisando de ajuda para carregar essas sacolas.

A patinadora deu um grito, jogando as sacolas para o alto.

— Mathew... Pelo amor de Deus! O que está fazendo aqui?

— Você me disse que estava fazendo uma das coisas que eu mais gosto. Por
isso, decidi vir te ajudar.

— Fala sério, Mathew. Você sempre odiou ir ao supermercado.

Os dois rapidamente pegaram as sacolas que caíram no chão.

— Que bom que ainda lembra coisas a meu respeito. — Ele diz sorridente.
Então, faz uma carranca. — Isso aqui está pesado pra caramba, precisa cuidar
da sua coluna.

— Já estou acostumada a fazer isso.


— Pois desacostume-se. Vou vir com você todas as vezes a partir de agora.
Entre no carro.

— Mathew, eu...

— Entre no carro ou eu mesmo vou te colocar lá dentro.

Sem forças para protestar e cansada do treino exaustivo, Hanna apenas


assentiu com a cabeça e fez o que o jogador mandou.

— Sua mãe está em casa?

— Está no trabalho. Por que?

— Ótimo. Vou te levar a um lugar.

Fraquejei. Fraquejei e estou de novo com ele. Era só isso que Hanna
conseguia pensar.

Sua cabeça não para, tentando entender o que está fazendo. Ela presta a
atenção na estrada. Pensava que estavam indo em um restaurante ou algo
parecido, mas foi surpreendida ao entrar num condomínio na Barra da tijuca.
Depois que o portão metálico se fecha, observa a linda casa ao fundo e
murmura:

— O que fazemos aqui?

Mathew a olha.
— Precisamos ficar sozinhos.

Ela concorda. Não quer nada mais que isso.

Assim que desembarcam, Mathew puxa a mão de Hanna e a agarra com


força, possessivo, e entram na casa.

Móveis modernos. Paredes lisas e brancas. Uma televisão de plasma enorme.


Uma lareira por estrear. Tudo, absolutamente tudo, é novo.

Surpresa, Hanna olha para o jogador. Observa que ele liga o som e, antes que
ela possa dizer qualquer coisa, explica:

— Comprei esta casa.

— Uau, Mathew! É realmente incrível. Adorei.

Ela é sincera. De fato, na casa há tudo que ela gosta: Paredes brancas, pisos
de porcelanato, lareira e uma cozinha americana.

— Você realmente gostou? — Ele pergunta interessado. Na verdade, parece


preocupado.

Mathew coça a nuca e Hanna o encara desconfiada.

— É maravilhosa, Mathew. Só achei um pouco grande para um cara que


mora sozinho.

A menos que ele estivesse indo morar com alguém.


— Eu comprei para você.

Hanna perde o ar por alguns segundos.

— Pra mim?

— Sim, baby. Essa é a forma de dizer que te amo e que quero ter uma linda e
extensa vida ao seu lado.

Espantada, olha ao redor.

— Mathew, isso é loucura.

— Venha — diz o jogador pegando em sua mão com doçura. — Precisamos


conversar.

A música envolve a sala, está tocando Kiss me, de Ed Sheeran.

Mathew não consegue deixar de admirar como ela está bonita e elegante,
mesmo com roupas simples. Ele pede que ela se sente em um tapete peludo
diante da lareira crepitante.

— Está muito bonita com esse vestido — O jogador afirma, sentando-se ao


lado da garota.

— Obrigada.

Depois de um gesto de concordância, passeia seu olhar por seu corpo,


enviando arrepios por toda a coluna de Hanna.

De repente, ela se da conta de que toca uma canção de que gosta muito.
Mathew sabia, pois era da época em que os dois ainda estavam juntos. Os
dois se encaram de novo como rivais, ao som de Perfect.

Eu encontrei um amor para mim


Amor, entre de cabeça e me siga
Bem, eu encontrei uma garota, linda e doce
Ah, eu nunca soube que era você quem estava esperando
por mim

Porque éramos apenas crianças quando nos apaixonamos


Não sabíamos o que era
Eu não vou desistir de você dessa vez
Mas, amor, apenas me beije devagar
Seu coração é tudo o que eu tenho
E, em seus olhos, você está segurando o meu

Querida, eu estou dançando no escuro


Com você entre meus braços
Descalços na grama
Ouvindo nossa música favorita
Quando você disse que estava feia
Eu sussurrei bem baixinho
Mas você ouviu
Amor, você está perfeita esta noite
Bem, eu encontrei uma mulher
Mais forte que qualquer pessoa que conheço
Ela compartilha dos meus sonhos
Eu espero que um dia eu compartilhe seu lar
Eu encontrei um amor
Para carregar mais do que apenas meus segredos
Para carregar amor, para carregar nossos filhos

Ainda somos crianças, mas estamos tão apaixonados


Lutando contra todas as possibilidades
Eu sei que ficaremos bem desta vez
Amor, apenas segure minha mão
Seja minha garota, eu serei seu homem
Eu vejo meu futuro em seus olhos

Querida, eu estou dançando no escuro


Com você entre meus braços
Descalços na grama
Ouvindo nossa música favorita
Quando eu vi você naquele vestido
Estava tão linda
Eu não mereço isso
Amor, você está perfeita esta noite

A música reflete exatamente a história dos dois. Mathew sabe disso. Hanna
sabe disso.
— Hanny... Sinto muito por tudo que aconteceu. Eu era imaturo, estava
tentando crescer na minha carreira e acabei esquecendo a peça chave da
minha vida, a coisa que mais me importava no mundo todo: Você.

— Math...

— Deixe-me falar tudo, baby.

— Eu me arrependi de ter te deixado no segundo que parti. Acho que antes


disso. Mas, você sabe que eu não teria dinheiro para bancar a multa que eu
teria que pagar. Antes de ter ido embora, querida, já tinha me dado conta da
minha grande besteira.

— Eu te mandei mensagem, você lembra. Eu queria que você tivesse ido


comigo.

— Eu não podia...

— Eu sei. Você tinha a sua carreira. E eu não queria ser o homem que iria
interferir nisso. Sei o quanto você lutou e luta para estar onde está hoje.

— Mas depois disso, você nunca mais me ligou. Mandou mensagem...

— Eu estava sofrendo, Hanna. Por não tê-la por perto. E fui um idiota
achando que me afastar ajudaria a te esquecer.

— Não ajudou? — Ela perguntou num sussurro.


— É óbvio que não. Senão eu não estaria aqui hoje.

— Você voltou mesmo por...

— Sua causa. O único motivo para eu ter voltado para o Brasil. Eu juro.

— É muita coisa para absorver, Mathew. Eu não sei bem o que pensar.

— Apenas deixe-me te mostrar que eu quero ficar com você. Só você. Que
estou disposto a absolutamente tudo para ter o que tínhamos antes.

— Me convença...

— Farei isso todos os dias da minha vida — sussurra, aproximando o nariz


no pescoço da patinadora.

O coração da pobre moça dispara. O cheiro de Mathew, sua proximidade, sua


confiança, começam a atingir, e ela só consegue desejar que ele tire sua roupa
e a possua. Ele, assim pertinho, era irresistível.

Surpreendo-a, Mathew se lavanta e estende a mão para a menina.

— Venha, vou levá-la para a casa.

A patinadora faz cara de confusão.

— Quero fazer as coisas da maneira certa com você. Mas ainda sim, gostaria
que você e sua mãe viessem morar aqui imediatamente.
Capítulo dez
No dia seguinte, Hanna e sua mãe estavam se mudando para a grandiosa casa
na Barra da Tijuca.

Hanna até havia cogitado recusar a oferta de Mathew, mas ele insistiu e
muito. Além disso, ele falou que só se mudaria para lá quando Hanna
estivesse pronta para perdoa-lo. Antes disso, ele continuaria em seu
apartamento, próximo dali. Era uma forma de demonstrar que não forçaria a
barra em momento algum.

O coração da garota ficou quentinho. Ela ficou feliz em saber que ele havia se
lembrado até se sua mãe e teve a preocupação de mantê-la por perto. Isso fez
com que ele ganhasse mais uns pontinhos.

Hanna não era do tipo interesseira. Nunca tinha sido. E Mathew sabia disso.
Ele ficou extremamente feliz quando Hanna e sua mãe aceitaram o presente.
Como ele não tinha família, seus pais morreram em um trágico acidente
quando ele era pequeno, ele daria tudo para Hanna e Rose. Elas seriam sua
família agora.

Mais tarde, quando tudo já estava organizado, Hanna viu sua mãe passar pela
cozinha com uma mala.

— Mamãe! O que a senhora está fazendo.

— Sua vó não está muito bem. Decidi que vou passar uns dias com ela.

— O quê? O que ela tem?


— Coisas de velho, minha querida. Eu só preciso dar uma atenção a ela e
tudo ficará bem.

— Precisa que eu vá junto?

— Não. É claro que não. Aproveite e passe um tempo a sós com Mathew.
Você sabe o que eu quero dizer.

— Mamãe!

— Compre uma lingerie nova. Ele vai gostar.

— Mamãe!

***

Depois do treino, seguindo os conselhos de sua mãe, Hanna foi até uma loja
de lingerie. Apesar do namoro com Martin, fazia muito tempo que ela não
comprava peças intimas. Para ser bem sincera, sua vida sexual com o ex-
namorado não estava lá grande coisa.

— Boa tarde, Srta. Em que posso ajudá-la?

Hanna mordeu os lábios. Por algum motivo desconhecido, ela sempre se


sentia tímida quando ia comprar lingeries.

— Eu queria uma lingerie preta, talvez de renda.


A moça de cabelos longos sorriu.

— Nós temos várias peças. Seria para alguma ocasião importante?

A patinadora corou de mil maneiras possíveis. Por Deus! Por que as


vendedoras tinham que perguntar essas coisas?

— Bom... É para usar com o meu namorado.

Namorado? Ela sequer sabia o que Mathew era dela agora. Isso a fez parar
para refletir por um instante.

— O que acha desse?

Era uma espécie de body, de renda preta, muito delicado. Uma calcinha fio
dental fazia conjunto.

Deus, ela só queria que Ana estivesse ali com ela para ajudar a decidir.
Maldita hora que resolveu sair com o namorado.

— Acha que vai ficar legal?

— Esse é o conjunto que mais vendemos. Os caras adoram!

— Eu vou levar!

***
– Como vai, baby?

– Bem. – Ela respondeu apenas. Estava nervosa.

Depois de três anos, ela seria de Mathew outra vez.

– Só bem?

– Muito bem.

– Tem alguma coisa errada, Hanna? Você está quieta. E com as mãos
geladas. – Me diga.

– Eu não sei. Você me deixa nervosa as vezes e eu não sei o que dizer.

Olhou para ela e tocou seu pescoço nu. Seu cabelo estava preso naquela
noite. Seus ombros também estavam nus, exceto por duas tiras fininhas.
Mathew deslizou a mão pelo pescoço dela, depois por seus ombros nus.

– Às vezes, é difícil acreditar que você seja de verdade – disse.

Hanna engoliu em seco. Ele a beijou ainda de forma mais gentil.

– Talvez... fosse melhor entrarmos no carro – sugeriu, olhando para as janelas


da casa.

– Certo.
Ele abriu a porta. Havia flores no banco do carro. Eram tulipas. As preferidas
de Hanna.

– Estou tentando provar para você. – Ele disse.

– Estou vendo. São lindas. Obrigada por isso.

Olhando-a de cima a baixo, como se estivesse memorizando-a. Então, beijou-


a na testa e segurou as rosas para que entrasse no carro.

– Então... Essa festa vai ser muito chique? – Perguntou a garota. Mais cedo,
Mathew havia a convidado para uma festa de aniversário de um amigo, para
onde estavam indo agora.

– Que nada. Não se preocupe com isso. E você está perfeita.

Enquanto Mathew dirigia, falaram dos seus planos sobre o futuro. Era
estranho depois de três anos, mesmo que já tivessem sido noivos, falar sobre
a vida daqui há alguns anos. Mathew pretendia trabalhar mais uns dez anos,
apenas para ter dinheiro para se manter pelo resto da vida. Hanna, no entanto,
queria continuar com a patinação por muito tempo. E quando não pudesse
mais patinar, gostaria de ser professora.

Mathew dirigia pela estrada sinuosa com uma mão na direção e outra
segurando a dela, como se ela fosse fugir.

– Eu adoraria ir ao Canadá. – Comentou, surpreendendo-o

– Canadá? Por que não Paris?


Ela deu de ombros.

– Sempre foi meu sonho conhecer Quebec. Você iria até lá comigo?

– Eu vou para onde você for, baby. Acostume-se.

Entreolharam-se e, por um momento, não conseguiam desviar o olhar.

– É melhor eu não olhar pra você e dirigir ao mesmo tempo.

– Então pare de dirigir – Disse ela, atrevida. Da onde estava vindo toda essa
coragem?

Ele olhou para ela rapidamente e ela colocou a mão na boca. As palavras
tinham escapado de sua boca e agora sentia-se tímida e envergonhada.

– Vamos nos atrasar para a festa – disse ela.

– É melhor irmos.

Pouco tempo depois, estavam passando pelos portões altos de um


condomínio luxuoso.

– Você disse que não era nada chique.

– E não é baby, eu juro.

Tristan deu a volta para abrir a porta para Hanna.


– Um belo cavalheiro.

– Estou tentando provar de todas as formas, baby.

Ela olhou para ele e depois mordeu os lábios.

– Isso não é um jogo. Eu amo você, Hanna Rivers, e um dia você vai
acreditar em mim. Ela deu-lhe um abraço bem apertado. Surpreendendo-o,
ela também disse as palavras:

– Te amo, Mathew Becker – sussurrou em seu ouvido.

Depois de apresentar sua garota para todos os seus amigos, os dois sentaram-
se a uma mesa reservada. Serviram-se com vinho tinto da Itália. Mathew
queria ter Hanna só para ele e já tinha se arrependido de ter ido a aquela festa.

Depois do jantar, a sala de Jorge, amigo de Mathew, vira uma verdadeira


pista de dança. As pessoas dançam, cantam, riem e bebem. O casal
apaixonado não havia sentido vontade de quebrar a bolha em que estavam,
mas, quando uma música apaixonada começa a tocar, Mathew não resiste.

— Quer dançar comigo?

— É sério?

— A menos que você esteja com vergonha de dançar comigo.

— Jamais.
A garota sorri e passa as mãos ao redor de seu pescoço. Ele chega meu corpo
mais perto do seu, enquanto a voz de Adele diz:

Mas você não se lembra?


Você não se lembra?
A razão pela qual me amou antes?
Amor, por favor lembre-se de mim mais uma vez

Quando foi a última vez que você pensou em mim?


Ou você me apagou completamente da sua memória?
Eu frequentemente penso sobre onde eu errei
E quanto mais eu faço, menos eu sei

Mas eu sei que eu tenho um coração inconstante e amargo


E um olho errante, e um peso em minha cabeça

Eu te dei espaço para que você pudesse respirar


Eu me afastei para que você pudesse ser livre
E espero que você encontre a peça que falta
Para trazer você de volta para mim

— Eu te amo, pequena. Que tal se agora eu e você formos fazer nossa própria
festa?

Nesse instante, chega um lindo ator famoso, cujo nome Hanna não se recorda
e a pegando pela mão, convida-a para dançar com ele. Mathew suspira, e ela
lhe joga um beijo, divertida.

Na pista as pessoas estão dançando feito loucos. De longe, ela observa


Mathew com uma carranca, bebendo um gole de Whisky. Ele não tira os
olhos dela. Em momento algum.
— Estou apenas provocando seu namorado. Ele sempre falou muito sobre
você.

Isso a pega de surpresa. Não imaginava que Mathew havia falado sobre ela
para seus amigos famosos.

— Espero que coisas boas.

— Ele te ama, linda. — Sussurra em seus ouvidos, deixando Mathew louco


de ciúmes. — Não o deixe escapar.

— Eu não vou.

Quando termina a música, em meio a risos, Hanna se afasta do ator e se joga


nos braços de Mathew, que a abraça contente, beija seu pescoço e murmura:

— Podemos ir agora?

— Com certeza.

Em meio a beijos e a propostas indecentes, o casal de pombinhos chegam à


impressionante suíte, e quando Mathew fecha a porta, Hanna se jogo em seus
braços e enfia a língua em sua boca em busca de paixão.

Ela o quer. Muito.


Capítulo Onze
Os cabelos louros da garota pendiam ao redor da face, e Mathew que estava
em pé perto dela afastou uma mecha suavemente de seu rosto, abaixando-se
para beijá-la, antes de se afastar e passar as mãos sobre a curva de sua bunda.
Havia ternura na maneira como ele a tocava.

O desejo se agitou entre as coxas de Hanna.

Ela precisava dele.

– Você sempre pode decidir parar, baby. Depende de você.

Ela balançou a cabeça, concordando. Mas, de maneira alguma, ela iria parar.

Ele sorriu.

O jogador pegou a mão dela e sentiu que estava tremendo. Estaria nervosa
por estar com ele? Ela era incrivelmente linda, com aquela massa selvagem
de cabelos ao redor do rosto pálido, os olhos pequenos, porém brilhantes.

Ele pegou o seu celular do bolso e colocou uma música para que Hanna
pudesse relaxar. Ela sorriu em resposta.

– Apenas relaxe, baby.

Ele a ajudou a descalçar os sapatos de saltos altíssimos, depois desceu o zíper


de seu vestido, fazendo com que descessem pelos quadris. Ela ficou sem
nada, exceto a calcinha o body de renda e a calcinha. Ela ficou sem nada,
exceto o poder do desejo.
– Ah... eu adoro isso... Você comprou isso para mim? – A garota assentiu. –
Tão linda, a renda em contraste com sua pele. Mas vamos ter que tirá-lo
também.

Ela aguardava. Paralisada. Mathew Sorriu pra ela. Ele não tinha ideia do que
provocava nela quando sorria assim. Ou talvez tivesse.

As mãos dele passando sobre seus braços, depois pelos quadris. Ele as
deslizou para trás e segurou sua bunda, suavemente a princípio e, em seguida,
puxando-a para perto. Ela podia sentir a sólida ereção contra sua barriga
através da trama densa de seu jeans.

Bom. O hálito dele era quente em seus cabelos, bem perto da orelha, quando
sussurrou:

– Vou cuidar de você, baby. Prometo.

Ela sabia que ele faria isso.

Ele só queria ela. Fora de controle, como alguns hormônios adolescentes.


Queria ela de uma forma que nunca tinha desejado outra mulher antes.
Depois de todos estes anos. Era só ela.

Ele tomou sua mão, envolvendo seus dedos ao redor dela.

– Você não tem ideia o quanto eu quero tocar em você, Hanna.

A honestidade foi contundente como uma espécie de afrodisíaco selvagem.


Isso e o jeito que ele estava olhando para ela, como um predador. Então, ele a
beijou novamente. O homem sabia beijar. Não há dúvida sobre isso.

Ele era tão alto, e ele estava segurando-a tão perto, ela teve de inclinar a
cabeça para trás para olhar nos olhos dele. Seus olhos estavam cheios da
necessidade que ela sentiu em seu corpo.

Formigamento. Arrepio.

O apartamento estava escuro, mas havia claridade leve o suficiente vindo da


cidade abaixo para iluminar as silhuetas da mobília. Mas ela não teve tempo
para olhar, não estava realmente interessada. Mathew tinha as mãos sobre ela,
foi empurrando-a contra a porta da frente. E tudo o que podia pensar era, sim.
Agora, como ele abaixou a cabeça e beijou-a.

A boca era duro e macio de uma só vez. Lábios macios, língua molhada
empurrando em sua boca. As mãos dela foram os ombros, sua mente agitada.
Ela estava fraca com o desejo, com as pernas balançando imediatamente. Ele
continuou beijando-a, beijando-a, e ela apoiou as mãos na porta atrás dela
quando ele pressionou contra ela. Seu corpo era todo músculo rígido: suas
coxas fortes, seu peito, seus ombros largos e um duro cume pressionando em
sua barriga. Duro e grande. Puta merda.

– Mathew...

– Shh. Eu sei o que você precisa, Hanna. Basta ficar parada, deixe-me olhar
para você. Tocar em você. Eu vou fazer o resto.

*****
Hanna acordou com os pequenos raios de sol reluzindo contra sua face.
Virou-se para o lado e sorriu. Não, não havia sido um sonho. Ela e Mathew
haviam dormido juntos. E tinha sido ainda melhor do que se lembrava.

Ela se remexeu na cama, tentando encontrar uma posição confortável para


voltar a dormir.

– Isso me excitou.

Hanna se virou para encará-lo. O jogador estava com um sorriso nos lábios.

– Qualquer coisa excita você, aparentemente.

– Não – ele argumentou, enfiando suas mãos por entre as pernas da garota. –
Tudo em você me excita.

Ela ergueu uma sobrancelha e gemeu baixinho, quando o polegar ágil de


Mathew atingiu o lugar certo.

Baixando a mão para esfregar a dura extensão de seu membro, ele disse:

– Aqui está um sinal. Prova de que meu interesse é apenas por você.

– Eu quero cortejá-la, quero ganhá-la, quero impressioná-la.

– Como você consegue ser tão bruto num instante e tão atraente no momento
seguinte? – ela perguntou.

– Oh, baby, irei lhe mostrar exatamente como sou bruto. – Ele virou o rosto
da patinadora com fervor, de modo que ele pudesse beijá-la.

– Eu quero beijá-la até você esquecer de qualquer outro beijo que já recebera
na vida. – segurando sua nuca possessivamente, ele seguiu o contorno
aveludado de seu lábio superior com a ponta da língua

– Eu não escovei os dentes. – Ela tentou avisar. Mas Mathew não parecia
muito preocupado com esse pequeno detalhe.

Ele mordiscou seu macio lábio inferior, depois chupou ritmicamente,


fechando os olhos ao sentir o sabor lascivo de Hanna.

– Estou reconstruindo você. Estou reconstruindo a nós dois. Quero ser o


único homem de cujos beijos você se lembra.

Deslizando a mão sobre a curva de suas nádegas, ele a puxou para mais perto.
Com os braços cheios de uma suavidade sedutora, o nariz cheio do aroma de
flores exóticas, a boca cheia com seu rico sabor, o jogador não tinha dúvida
alguma de que amava Hanna mais do que qualquer coisa.

Aquilo era diferente de tudo que sentira por qualquer pessoa, e o deixava
feliz de um jeito que nada em sua vida podia se comparar.

****

Os dias passaram rapidamente e Hanna e Mathew estavam cada vez mais


apaixonados e felizes. Agora estavam em sua casa, deitados no chão. Mathew
respirou fundo. Podia sentir o cheiro de baunilha mesclado ao aroma de sexo
que o envolvia.
Alheia aos pensamentos do jogador, Hanna mantinha o rosto encostado no
seu ombro e cantarolava alegremente. A perna dela repousava pouco abaixo
do umbigo de Mathew, enganchada em seu quadril, e o calcanhar pressionava
a bunda dele. Mathew deslizou a mão pela cabeça de Hanna, passando pelos
cabelos, até a pele úmida e quente do ombro.

Ele sorriu e roçou os lábios na sua testa suada, sentindo o cheiro dela. Nunca
estivera tão contente na vida. E ele queria isso para sempre. Por isso, estava
há dois dias tentando planejar o momento certo para pedi-la em casamento.

Os dedos pequeninos de Hanna dançaram sobre os poucos pelos do peito


dele, fazendo-o suspirar, satisfeito. Ele abriu os olhos aos poucos. Ele levou a
mão de sua amada aos lábios e deu um beijo delicado no dedo onde em
breve, um anel de diamantes estaria. Ao menos, era o que ele esperava.

– Você é lindo – sussurrou ela, a voz levemente rouca de tanto que gritara de
prazer vinte minutos antes.

– Você é perfeita – disse ele, e a beijou, porque o que mais poderia fazer?
Math o segurou pela nuca e o puxou para si. Os dois rolaram até ele ficar por
cima, aninhado entre suas coxas.

Hanna ergueu a cabeça, buscando a língua dele com a sua.

– Eu te amo.

– Não tanto quanto eu, baby – murmurou ele, beijando-lhe o pescoço,


deleitando-se com o tesão e a paixão provocados pelas palavras dela.

Mathew pressionou os quadris contra o corpo de Hanna, impulsionado pelo


anseio e desejo que sempre sentia por ela.
– Linda – grunhiu ele enquanto lambia seu pescoço, prendendo as mãos
sôfregas dela no chão. Curvando o pescoço, Hanna soltou um suspiro
devasso. Ele sorriu.

– Estou duro de novo. O gemido dela foi a resposta de que Mathew precisava
para mergulhar mais uma vez em seu corpo.
Capítulo doze
O dia do nacional finalmente havia chegado. E com isso, o nervosismo e
ansiedade de Hanna.

— Baby, você vai se sair muito bem. Apenas relaxe.

— E se eu não conseguir?

— Você vai, baby. — Ele olhou no fundo dos olhos dela. — Você confia em
mim?

— Com todas as minhas forças.

— Então acredite quando digo que você consegue. — Ele deu um tapa em
suas nadegas, fazendo a garota soltar um gritinho. — Agora vamos. Não
podemos nos atrasar.

Assim que chegou ao Estádio onde uma imensa pista de gelo havia sido
instalada. Tudo para receber a maior competição de patinadores do país.
Pessoas de todos os estados e cidades do Brasil e até mesmo da américa
latina, estavam ali.

As arquibancadas estavam lotadas. Felizmente, Mathew tinha um lugar


reservado e com uma visão privilegiada da pista. Ele sentou-se, nervoso e
aguardou. Lembrou-se da primeira vez que viu sua doce menina patinando.
Eles deveriam ter uns quinze anos. Hanna ainda estava aprendendo a se
movimentar sob o gelo. Caia várias vezes. Mas, ainda sim, Mathew sabia que
ela seria uma excelente patinadora. Isso porque conseguia ver o brilho nos
olhos da pequena menina toda vez que ela conseguia acertar um passo.
Ela tinha nascido para patinar.

É por isso que quando Hanna pisou os pés na pista de gelo, Mathew gritou
feito louco.

— Puta que pariu! Essa é a minha mulher. Vamos lá, baby. Você consegue.

Ele sequer se importou se alguém ali o reconheceria. Desde que voltou para o
Brasil atrás de Hanna, ele parecia estar meio atônico, desligado. Sequer
pensava no perigo que poderia estar correndo se algum fã louco o visse.

Ignorando os gritos de seu namorado, Hanna seguiu a coreografia que estava


ensaiando a meses. Ela correu sob o gelo, pulou, girou. Ao final da música,
lágrimas escorreram sob seu rosto. Ela tinha conseguido. Tinha executado
sua coreografia perfeitamente. E tudo que ela conseguia pensar agora era em
correr para os braços de Mathew e comemorar essa vitória com ele.

Quando estava no vestiário, uma voz que a patinadora conhecia muito bem a
chamou:

— Hanna!

Ela virou-se rapidamente, deixando sua bolsa no chão.

— Martin? O que está fazendo aqui?

— Eu vim ver sua apresentação. Não poderia perder por nada.


— Você veio de Londres para isso? — Ela perguntou surpresa.

— É claro. Achou mesmo que eu perderia esse show? Você foi incrível,
Hanna. Com certeza ficou com o primeiro lugar.

— Obrigada, Martin. Estou muito feliz.

Então, pegando-a desprevenida, Martin a beijou.

Quando percebeu o que estava acontecendo, a menina logo se afastou,


assustada. E quando olhou para a porta, viu Mathew segurando um buquê de
rosas.

Não. Não. Não. Não. Isso só poderia ser um pesadelo.

— O que você está fazendo? — Ela gritou para Martin, enquanto Mathew
desaparecia pelos corredores.

— Eu ainda amo você, Hanna.

— Eu estou com Mathew, Martin. Eu o amo.

O patinador assentiu, derrotado. No fundo, acho que ele sempre soube que
isso aconteceria.

— Eu sinto muito, Hanna. Espero que ele a faça feliz. Estarei torcendo por
você. Adeus.

— Adeus, Martin.
Então, ela correu. Ainda com as roupas chamativas e brilhantes, ela percorreu
por todo o estádio em busca do seu amor. Seu homem. Não demorou muito
para encontrá-lo, em frente ao seu carro, um Pagani Huayara BC cinza.

— Mathew... Por que você fugiu?

— E eu deveria ficar lá olhando você se pegando com o seu ex? Ou será que
ele ainda é seu atual?

— Não diga besteiras, Mathew. Você sabe que eu te amo.

— Eu preciso saber de uma coisa, Hanna.

— O quê? — Ela fica confusa com a forma como foram de dias incríveis para
essa desconfiança toda.

— Você ainda ama Jegue loiro?

— Jegue loiro? — Suas sobrancelhas sulcam quando fala... Mathew não fala
mais nada, esperando por sua resposta.

— Ele esteve presente em momentos importantes da minha vida. Me ajudou a


superar sua ida. Me ajudou a voltar a sorrir. Mas, não acho que sequer que
cheguei a amá-lo um dia. Ao menos, não da forma como eu te amo, Mathew.

Sua resposta parece satisfazê-lo, mas a tensão em seu rosto só desaparece por
alguns segundos. Então, ela está de volta.
— Eu não gosto de ver vocês dois parecendo tão íntimos. Muito menos,
metendo a língua na sua boca.

— Nós somos amigos... E ele não sabia que nós estávamos juntos. Agora
sabe.

— Eu vejo a maneira como ele olhava para você. Ele te ama.

— Tanto faz. Eu amo você.

— Isso é bom.

Ele tem aquele sorriso orgulhoso no rosto. Então, agarra a cintura de Hanna e
a puxa para si, colando seus lábios.

— Nunca mais o deixe tocar em seus lábios. Eles são apenas meus.
Entendido?

— Com certeza, Sr. Becker. Assim como os seus são apenas meus.

— Com certeza. — Ele responde. — Agora venha, baby. Nós estamos indo
comemorar.
Capítulo treze
Depois de passar horas na estrada, os dois seguem por um caminho longo, ou
talvez seja uma rua particular, fica difícil dizer com a escuridão. Mas Mathew
dirigiu por um tempo e não há mais nenhuma casa. Há uma luz ao longe e
com curiosidade, Hanna pergunta:

— Onde estamos?

— Em uma casa no lago. Era dos meus pais.

— Eu não poderia nem mesmo dizer que há um lago de tão escuro que é aqui.

— É atrás da casa. Amanhã, durante o dia, vou mostrá-lo a você.

Mathew finalmente estaciona em frente à casa e dá para ver que a luz que
estava piscando à distância era na varanda. Mas a varanda parece enorme,
rodeando toda a casa. Há cadeiras de balanço a e pequenas mesas dispostas
em vários lugares que eu Hanna consigo ver no escuro.

Mathew abre minha porta para ajudar a patinadora a descer do carro. Os dois
seguem até as poucas escadas da varanda e o jogador abre a porta da frente
com uma chave de seu chaveiro. Com os faróis apagados, é escuro como
breu, exceto pela única luz fraca vinda da varanda.

— Fique aqui.

Mathew solta sua mão e ela mal pode ver o que ele está fazendo, apenas uma
ligeira mudança no nível de escuridão mostra que ele está se movendo pela
casa. Poucos segundos depois, ele volta segurando uma espécie de lampião.

— Hum... Acabou a luz? D

Mathew ri e se aproxima de Hanna, a vela fornecendo luz suficiente para vê-


lo mais claramente.

— Não há eletricidade aqui.

— O que quer dizer com não há eletricidade aqui? — Sua voz sai quase
chocada, porque por um segundo ela realmente ficou.

— Sem telefone, sem eletricidade, sem sinal de celular. Nem vizinhos.

Mathew envolve seus braços ao redor da cintura da patinadora enquanto fala


e a puxa para perto, contra o seu corpo, tornando mais fácil digerir o que ele
está dizendo. Tudo parece fácil quando pressionada contra ele. Mathew a faz
perder meu juízo, seu limite, seu bom senso.

— Você me trouxe a um lugar sem eletricidade e sem sinal de celular?

— Sim. — Sua boca pecaminosa encosta em seu ouvido, onde suas palavras
são ditas em voz baixa, mas elas viajam através de garota e acordam cada
molécula do seu corpo. Os pelos em sua nuca respondem, enviando um frio
que irrompe por todo o corpo em arrepios.

— Vamos lá, é legal aqui e dá até para fazer uma fogueira.

Mathew a libera e a garota fica frustrada por perder o contato tão cedo. Ele
segura sua mão e a orienta pela casa escura em direção a uma sala na parte de
trás. Depois que ele acende o fogo, Hanna consegue ver a enormidade da
lareira.

— Uau, é... incrível. — As palavras não são o suficiente para descrevê-la. A


luz da lareira lança um brilho suave pela sala, deixando-a com um ar
aconchegante e rustico.

Mathew ainda está de pé, ao lado da lareira observando sua garota enquanto
ela aprecia a beleza da lareira.

— Jesus, você parece um anjo parada aí.

Ela sorri para o seu elogio, nunca foi boa em aceitar elogios, mas, com
Mathew, o jeito que ele fala com ela, a garota simplesmente acredita em cada
palavra que ele diz. Nenhum dos dois se move. Então, seus olhos se
encontram e tudo o mais desaparece... a escuridão, a lareira, a sala, tudo.
Nada disso existe mais. É um daqueles momentos na vida em que você sente
a mudança. Como se tudo o que você fez antes de chegar a esse ponto e tudo
o que acontece a partir deste ponto em diante vai ser diferente.

Hanna não sabe como ou porque, mas está tão certa disso como nunca esteve
em toda a sua vida. Ela está apaixonada por Mathew Becker, um dos
melhores e mais requisitados jogadores de futebol de todo o mundo. E por
incrível que pareça, esse pensamento não a assusta.

Mathew caminha até ela, lentamente, seus olhos nunca deixando os dela. Ele
para quando a alcança. Estão tão perto que Hanna pode ouvir o bater de seu
coração.

Ele levanta uma de suas mãos grandes e suavemente coloca uma mecha dos
cabelos loiros atrás da orelha. Seu toque é tão suave e gentil. Lentamente, ele
abaixa a cabeça e ela aguarda por um beijo, seu rosto está tão perto do seu
que eu pode sentir sua respiração em seus lábios. Mas ele não a beija. Ele
para, de modo que não perdem o contato de seus olhos.

— Eu te amo, Hanna.

Ela não precisa pensar sobre a sua resposta. Porque nunca houve nada em sua
vida que tivesse mais certeza.

— Eu também te amo.

Então ele a beija. Docemente. Suavemente. Apaixonadamente. Realmente a


beija... de uma forma que ela nunca foi beijada antes.

Não é um prelúdio para o sexo ou preliminares. É amor. Puro e simples. É o


amor que derrama entre os dois se conectando em um beijo. No momento em
que os dois se separam para tomar ar, Hanna está se segurando em seus
ombros, a fim de se manter em pé. Sem seus braços a segurando com tanta
força, eu seria uma poça no chão.

As lágrimas rolam de seus olhos e não ela não consegue impedir que elas
caiam quando ele a olha desse jeito. Ela já tinha ouvido as pessoas dizerem
que choraram lágrimas de felicidade antes, mas Hanna nunca tinha achado
isso possível. Mas é isso o que acontece quando elas começam a cair. Fluindo
dos meus olhos enquanto ela sorri para o homem por quem é loucamente
apaixonada.

Ele sorri de volta e enxuga as lágrimas dos seus olhos.

— Você está sorrindo e chorando.


— Eu sei, eu sei. É que estou tão feliz que sinto vontade de chorar.

Mathew sorri antes de se abaixar diante de Hanna e tirar do bolso uma


caixinha de veludo preta.

— O que você está fazendo? Pelo amor de Deus, se for o que eu estou
pensando, acho que vou ter um treco aqui.

— Baby, meu amor. Sei que já estive ajoelhado assim antes. Sei que você
depositou sua confiança em mim uma vez e eu falhei miseravelmente com
você. Eu fui imaturo. Fui burro ao não perceber que a única coisa que eu
precisava era você.

— Mathew...

— Eu te amo exatamente como eu te amava há anos atrás. Na verdade, acho


que eu te amo mais. A distância e os anos que ficamos longe só me fizeram
perceber que você é a minha melhor escolha. Sempre. E eu não posso mais
viver um dia sequer sem você, princesa.

Nessa hora, os dois já estavam chorando. Hanna tremia tanto que podia sentir
seus dentes batendo. Mathew abriu a caixinha, revelando um lindo anel de
diamante.

— Hanna Rivers, você aceita ser minha mulher e passar o resto da sua vida
comigo?

Ela sequer precisava pensar para responder.


Com a mesma paixão da primeira vez, ela sussurrou:

— Sim, eu quero me casar com você.


Capítulo quatorze
— Meu Deus! Seu vestido está ficando maravilhoso, amiga! — Ana disse
animada assim as amigas saíram da loja de uma das estilistas mais famosas
do mundo, Carolina Herrera.

Era sua última prova do vestido e estava realmente nervosa.

Mas Hanna tinha que concordar, seu vestido era um único e exclusivo
modelo feito sob medida. Uma fortuna, mas já havia parado de me preocupar
com isso há algum tempo.

“Dinheiro não era problema”, dizia Mathew, que estava com um sorriso de
orelha a orelha querendo ajudar sua noiva em cada detalhe. E Hanna estava
adorando esse lado de Mathew. Os dois escolheram tudo juntos, desde a
decoração à comida.

Desde que seu casamento foi reservado para ser celebrado em um dos hotéis
mais imponentes do Rio de Janeiro, o Copacabana Palace, os jornalistas não
haviam mais saído do seu pé. Por isso, Hanna estava sendo escoltada por dois
seguranças.

— Ainda tenho a impressão que vou acordar e tudo isso não passou de um
sonho — Ana riu e a abraçou.

— Sua boba. Acho que é tudo muito real e é melhor se acostumar. Logo você
será uma mulher casada. E sua lua-de-mel será em Pequim, no seu primeiro
mundial. O quão mágico pode ser?

Hanna havia conseguido conquistar o primeiro lugar na competição nacional,


fazendo com que ela se classificasse para o mundial, que seriam daqui há
algumas semanas. Sabendo de tudo isso e o quanto a competição era
importante para Hanna, Mathew propôs que para que não precisassem adiar a
lua-de-mel, ela seria em Pequim, onde aconteceria o mundial. Depois,
poderiam partir para outro destino na Ásia.

— Isso é realmente incrível, amiga. E obrigada por estar sempre comigo.

— É para isso que as amigas servem.

*****

— Você está pronta?

— Acho que nasci pra esse momento, mamãe — A garota sorriu nervosa.

— Parece que sim.

Estavam em frente ao Copacabana Palace e em apenas alguns minutos Hanna


se tornaria Hanna Rivers Becker.

— Tudo pronto para sua entrada. Vamos? — Sua mãe disse do lado de fora
da limousine.

— Vamos.

Rose a ajudou a sair do carro e Hanna pode observar que seu casamento era o
evento do ano. Milhares de repórteres, fotógrafos e curiosos se espremiam
diante do cordão de isolamento colocado pelos seguranças, uma equipe
contratada e apoio policial. Às vezes ela perdia um pouco a noção de como
Mathew era famoso e querido para a maioria da população, entretanto era
nítido esse sentimento ali.

Hanna acenou para todos e adentrou ao saguão do hotel sendo amparada por
sua mãe. Para alguns, aquilo poderia não parecer normal. Mas sua mãe foi
quem a criou. Teve o papel de mãe e pai. Por isso, nada mais justo que
entrasse ao lado dela no dia mais importante de sua vida.

As portas se abriram e a marcha nupcial começou a tocar. Hanna conseguia


apenas pensar em um rosto. Mathew. Ele andava de um lado para o outro no
altar, tentando sem sucesso, arrumar a manga da sua camisa. Quando o som
da marcha nupcial ecoou pela catedral, ele automaticamente olhou na direção
da porta, abrindo seu sorriso mais lindo. O mais sincero. Ele estava feliz…
Hanna estava feliz.

Estavam ali consagrando uma união de mais de dez anos de puro amor e
aprendizado. E agora, eles tinham algo a mais. Sim, Hanna estava grávida e
aguardava ansiosa pelo momento em que revelaria a notícia a Mathew. Ela o
amava mais que tudo e sua vontade naquele momento era pular todas as
etapas protocoladas e correr até ele, jogando-se em seus braços. Mas se
controlou.

Rose a segurou e Hanna pode sair do seu transe e olhar para os lados sorrindo
sem parar diante de muitas lágrimas. Era uma emoção única! Ser entregue
por sua mãe aos braços do amor da sua vida inteira e agora, pai do seu filho.

— Cuide bem dela — Mathew sorriu assim que Rose, em um gesto singelo,
entregou a mão da filha a ele.

— Cuidarei mais que minha própria vida.


— Eu amo você — ele beijou a testa da sua garota, emocionado.

— Eu também amo você, princesa — Mathew deu o braço a sua noiva e


começaram a caminhar para o altar, juntos. Para sempre juntos.

— Você está magnífica.

— Você também — ele tentou em vão secar as lágrimas que insistiam em


cair dos olhos de Hanna.

Estamos todos reunidos nessa maravilhosa cerimônia, para o casamento de


Mathew Becker e Hanna Rivers. Essas duas almas que Deus uniu para formar
uma linda e abençoada família. E hoje, pedindo humildemente sua bênção,
eles estão oficializando essa que já é uma linda união — o padre começou
falar, mas a única coisa que Hanna conseguia enxergar diante de suas
lágrimas era o perfeito rosto de Mathew, que estava tão emocionado quanto
ela.

Mas, o momento mais lindo e emocionante de todos foi quando Hanna, no


meio de seus votos, revelou que estava grávida do primeiro filho do casal.

— Nós vamos ter um bebê.

A plateia toda ficou em silêncio, inclusive Mathew. Então, quando ele,


contrariando as normas do padre, agarrou e beijou sua mulher, todos
aplaudiram e gritaram.

— Eu amo vocês — ele disse emocionado, colando sua testa na dela.

— Nós também amamos você.


Capítulo quinze
Você é a minha escolha. E eu nunca acertei tanto como quando eu disse
“sim”. E eu nunca quis tanto continuar dizendo “sim” todos os dias, para a
mesma pessoa, o resto da minha vida.
UM ANO DEPOIS...

Hanna preparava o jantar, e Mathew terminava de limpar o apartamento.

Ele acabara de voltar de um jogo fora do estado, e suas coisas estavam


espalhadas por todos os cantos da sala de estar.

— Você é um bagunceiro. No mínimo, jogue a roupa suja no banheiro —


disse Hanna, parada diante do fogão.

— Tudo bem. Vou jogar no banheiro. — Mathew sorriu, revelando as


covinhas de suas bochechas.

Hanna conseguiu conquistar o título de campeã mundial de patinação


artística, em Berlim. Foi um dos dias mais emocionantes da sua vida. Perdeu
apenas para o dia do seu casamento e para o dia do nascimento de Beatrice.
Isso foi há alguns meses atrás. Desde então, ela decidiu que se ausentaria da
carreira por uns meses, até a pequena conseguir se alimentar com a
mamadeira. Depois disso, Hanna seguiria como treinadora da equipe de
patinação do Brasil. Era uma grande conquista.

Mathew estava crescendo cada vez mais dentro do Flamengo. Por isso foi tão
difícil para ele decidir tirar um ano sabático para ajudar a cuidar da filha. Ele
queria estar presente em todos os momentos importantes da pequena. E
poderia retornar a sua carreira depois.

Os torcedores tentaram bisbilhotar a casa do casal mais de uma vez. E só


pararam quando viram o rostinho doce e delicado de Beatrice através da
sacada de vidro. Ao que parece, ela também seria muito querida por todos.
— Já arrumei toda a bagunça. Feliz? — Mathew se pôs atrás de Hanna,
passou os braços ao seu redor e a beijou na nuca.

— Sim. Obrigada. — Ela se virou, colocando o pano de prato nos ombros e


ele a beijou na boca com muita paixão.

— Sua mãe está bem?

— Mais do que bem, eu diria.

Rose havia começado a namorar um advogado e há pouco mais de um mês,


havia se mudado para um apartamento próximo com ele. Isso fez com que a
vida sexual de Hanna e Mathew só se intensificassem ainda mais.

Enquanto servia o macarrão, Hanna observou através da babá eletrônica se


estava tudo bem com Beatrice. Felizmente, ela dormia feito um anjo.

— Não vejo a hora de termos o nosso segundo bebê. — Mathew puxou


Hanna pela cintura e a beijou. Ela deu um tapa forte em seu ombro.

— Você está louco.

— Estou falando sério.

— Você é maluco se acha que eu vou engravidar agora. Mal superei aquela
dor.

— É... Eu mal superei os apertões na mão que você me deu. — Mathew


enrolou a massa em seu garfo. — Mas mal posso esperar para ter todo um
time de jogadorezinhos de futebol correndo em volta desta mesa.
Mathew colocou a mão sobre a coxa de sua esposa e, em seguida, foi para
cima, de modo sedutor.

— Devagar, senhor Becker! — Hanna deu uma palmada em seu ombro.

— Ai! Por favor, Sra. Becker. Vamos começar agora...

Sem dar tempo para ela responder, Mathew jogou sua mulher por cima de
seus ombros e a levou até o quarto, onde se amaram a noite toda.

E assim seria para o resto das suas vidas.


FIM

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