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Wall Oliveira — 1ª Edição — 2019

Copyright

Copyright@2019 WALL OLIVEIRA

Capa: Crys Magalhães

Revisão: Amanda Bonatti

Diagramação Digital: Giuliana Sperandio, Help – Serviços Literários

Direitos imagens: © pngtree.com.

Está é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação das autoras. Qualquer semelhança entre
esses aspectos é mera coincidência.

Esta obra segue as regras da nova ortografia da língua portuguesa.

Oliveira, Wall

Doze garotas e eu

1ª edição – 2019/ 152 páginas

Ficção Brasileira

Romance

Subgênero

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

É proibido o armazenamento e/ou reprodução de qualquer parte dessa obra, através de


quaisquer meios – Tangível ou intangível – sem o consentimento por escrito das autoras.

Criado no Brasil.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9610/98 e punido pelo artigo
184 do código penal.
Sumário

Copyright

Prólogo

Capítulo 1 — O convite inesperado

Capítulo 2 — O baile

Capítulo 3 — A proposta

Capítulo 4 — Notícia Inesperada

Capítulo 5 — Casamento

Capítulo 6 — Minha vida de pernas para o ar

Capítulo 7 — Comemoração

Capítulo 8 — Viagem a Minas Gerais

Capítulo 9 — Além do planejado

Capítulo 10 — Verdade oculta

Capítulo 11 — A vida continua. E agora?!

Biografia

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Prólogo

“família é nossa base. Desde que haja diálogo e carinho uns com os outros.”

Ouvir seu pai falar sobre casamento de uma forma tão fria foi realmente estranho para
Heitor. Não imaginava que aquelas palavras pudessem ter sido proferidas por seu pai, o amável
esposo de Elizabeth, uma socialite conhecida por todos.

Seu pai era o único herdeiro da multimilionária empresa de marketing Damasceno,


conhecida mundialmente, e no Brasil a mais requisitada dentre todas as do ramo. Talvez fosse
esse status e toda a pressão de uma vida de negócios que fizesse com que o pai fosse tão rígido.

Heitor e seus dois irmãos mais jovens tinham suas vidas guiadas pelos pais, sendo assim,
não faziam nada que julgassem mais adequado para si mesmos, ou teriam a herança cortada.
Prova disso era o irmão do meio, que por medo havia se casado para satisfazer o desejo dos pais.
O mais novo deles era um incorrigível “galinha”, que já correra o risco de ser deserdado por duas
vezes em consequência de seus intermináveis escândalos amorosos.

Heitor estava cansado de voltar de suas longas e frequentes viagens a negócios e escutar
sempre as mesmas coisas:

“Está ficando velho, meu filho. Nenhuma moça irá querer um velho rabugento como
marido”.

Ou ainda:

“Na sua idade eu e sua mãe já estávamos pensando no nosso segundo filho. Cuidado, ao
ser pai muito velho perderá muito tempo que poderia ter com seus filhos”.

O sonho de
Heitor era poder direcionar sua própria vida, e não ser guiado por outras pessoas. Em pleno
século XXI era um absurdo ouvir falar em arranjos matrimoniais. Como dizem os jovens, seria o
maior mico... Absurdo

Definitivamente, não estava preocupado com casamento. Mesmo aos seus trinta e cinco
anos, só pensava na carreira profissional. Formar uma família era algo, talvez, para o futuro.
Achava desnecessário seu pai querer casá-lo com a primeira moça que aparecesse. O pior era que
parecia que todos estavam a favor do pai, principalmente sua mãe. Mas mesmo que eles
argumentassem, não desejava cair nas garras da sua louca família.

Como todo ano, na véspera da primavera, seus pais reuniam parentes e amigos para um
grandioso e muito famoso baile em sua residência. Claro, contavam com a presença da imprensa.
O baile dos Damasceno saía em várias revistas, jornais e programas de televisão por todo o
Brasil.

Dessa vez a mãe havia programado algo diferente dos demais eventos. Heitor não sabia o
que era, mas desconfiava, por causa da prévia de decoração do salão de festas de sua casa. A mãe
estava escolhendo a melhor decoração para o dia especial. Parecia que estava em meio ao País
das maravilhas. Sorrindo, foi encontrar-se com sua família a fim de saber mais sobre a tal festa.

— Mãe, ele não aceitará essa ideia. A senhora e o papai sabem da escolha dele e deveriam
respeitá-la... — dizia Roger, seu irmão.

— Vou fingir que não é sobre mim que estão falando. — Heitor suspirou e interrompeu a
conversa antes que sua mãe respondesse.

— Ah, querido! Quem sabe seja nesse baile que encontrará sua outra metade? — disse a
mãe com ares de sonhadora.

Não querendo aborrecer sua mãe, mas desejando colocar um ponto final naquele assunto,
Heitor concordou, sugerindo:

— Com certeza a senhora já convidou todas as suas conhecidas solteiras, não é? Por que
não convidar mais algumas que eu não conheça? Pode ser que eu me interesse por alguma, que
mal tem?! — respondeu com ar de inocência, mal acreditando que concordaria, mas frisando: —
É que não sou mais criança, eu cresci, porém a senhora e o papai parecem não compreender isso.

— Pode dar certo — Elizabeth olhou para seu marido que estava logo adiante e sorriu. —
Farei uma lista perfeita, querido, com doz

es garotas maravilhosas. Já estou até pensando em algumas — vibrou.

— Se acha que é o melhor, por mim tudo bem. — Para sua surpresa, seu pai também
concordou com a ideia.

Essa foi a única maneira que Heitor imaginou para conseguir escapar de seus pais, deixar
que a mãe convidasse todas as moças que desejasse, e que fizessem então o tal baile especial.
Conheceria todas e as descartaria logo em seguida, uma por uma em uma única noite, assim,
ficaria livre da insistência de seus pais por um bom tempo.

Alheia às ideias do filho, a mãe estava radiante! Sorriu e continuou olhando a pasta do
decorador da festa, escolhendo as flores, luzes e tudo o que tivesse requinte e abrilhantasse o seu
famoso baile.
Capítulo 1 — O convite inesperado

— Rose, não estou entendendo. — Manu estava tentando digerir o que sua prima lhe
contava ao telefone.

— É isso mesmo, fui convidada para o baile dos Damasceno. E pelo o que ouvi dizer, eles
estão à procura de uma noiva para o filho mais velho — explicou achando graça, rindo ao
telefone.

— Rose, isso não existe mais. Escolher a esposa do filho? — Manu também riu.

— Pois é! Como ele não se decidiu até hoje, os pais tomaram essa decisão. — Uma nova
gargalhada se fez ouvir.

Sempre que Rose ligava para a casa de Manu, contava novidades quentíssimas sobre a alta
sociedade. Manu ouvia atentamente, pois Rose era sua querida prima, mas eram sempre assuntos
alheios, que não eram da sua conta. Entretanto, ela insistia em contar mesmo assim.

Perdida em seus pensamentos, assustou-se quando ouviu sua prima chamá-la por duas
vezes seguidas.

— Manu? Emanuelle? Ainda está aí?

— Ops! Estava tirando a torta de dentro do forno, mas estava ouvindo sim — disfarçou. —
E você, vai ao tal famoso baile?

— É esse o motivo de ter ligado para você — informou com voz de suspense.

— Mas o que tenho eu a ver com isso? — Manu ficou em alerta.

— Enviaram dois convites e eu não quero ir sozinha. Sabe como fico nesses eventos.
Sinto-me deslocada. Preciso de você lá comigo, por favor.

Rose tinha fobia de lugares com muitas pessoas e era tímida ao extremo. Mesmo tendo
crescido em meio a eventos exuberantes que seus pais frequentavam, ainda não se sentia segura
em ir sozinha.

— Não estou acostumada com esse tipo de evento para escolha de esposas, nem roupa
apropriada tenho — argumentou Manu rindo.

— Ah, pare de inventar desculpas, sabe que isso não é problema. É só um baile, vamos...
— Rose choramingou. — Se você não for, o que irei fazer? Papai já confirmou nossa presença.

— Nossa presença?

— Uhum — afirmou risonha.

— Mas eu só fiquei sabendo agora.

— Por favor, Manu. Papai diz que se eu não arrumar um pretendente agora, ficarei sozinha
para sempre.

Isso era um absurdo para Manu. Seu tio não podia ameaçar sua prima assim! Ela tinha
apenas vinte e seis anos, ainda era muito jovem! Ou aquilo era apenas uma desculpa, uma
artimanha de Rose?

— Tio Afonso não pode falar isso, você ainda é jovem e já teve namorados — argumentou.

— Ele falou que os que namorei não serviam para nada na empresa, que eram apenas
playboys que viviam às custas dos pais.
— Nossa! Comece a ignorá-lo e vá viver sua vida, Rose.

— É o que estou tentando fazer. Só queria ir nesse baile, ficarei feliz em poder rever o
primogênito da família Damasceno. — O sorrisinho de Rose despertou a atenção de Manu.

— Você está mesmo querendo ir, não é?

— Sim, sim, muito. Tem um bom tempo que não vejo o Heitor.

— Está bem, vou acompanhá-la, mas tem um porém — salientou após uma pausa.

— Pode falar, qual é?

— Promete que não vai esconder-se nos cantos da festa e que vai interagir com outras
pessoas além de mim?

— Prometo.

— Então, perfeito!

Rose informou a data e horário do baile. Finalizou dizendo:

— Mamãe já está providenciando nossos vestidos para o baile.

— O quê? Vocês tinham absoluta certeza da minha resposta, né, Rose?

— Desculpe, Manu. Eu queria muito você comigo nesse baile. Sei lá, acho que é a única
que me entende e me conhece direito. Nos damos muito bem e me sinto mais confortável com
você ao meu lado.

Realmente Manu conhecia a prima muito bem. Ambas era muito unidas. As primas só não
tinham frequentado juntas as mesmas universidades e nem os mesmos colégios, devido a
diferença de idade, mas todos os finais de semana seu tio Afonso mandava o motorista ir buscá-
la para ela ficar com Rose. Rose, apesar de ser muito querida, era uma garota sozinha.

No dia do baile, pela manhã...


O baile aconteceria na mansão dos Damasceno, sendo assim, o pai de Rose fez questão de
reservar um quarto de hotel próximo ao evento, facilitando sua locomoção até a casa que ficava
em uma linda praia.

Manu só não esperava que fossem convidadas para o desjejum com a requintada família de
Heitor. As roupas que havia levado não pareciam apropriadas para o momento. Mesmo
trabalhando com moda, tinha personalidade simples e não ficava enchendo o guarda-roupa com
peças que não usaria.

No hotel onde estavam hospedadas, Manu e Rose encontraram outras pessoas que também
foram convidadas para o baile. No corredor ouvia-se risinhos e conversas aleatórias sobre o baile
e sobre os filhos do senhor Damasceno. Manu nunca tinha visto tantas mulheres fúteis em um só
lugar. Já estava arrependida de ter aceitado ir naquele evento! Nem as modelos com as quais
trabalhava eram complicadas como as mulheres que estavam ali.

Vendo que o final de semana seria tenso, comentou:

— Rose, vou andando pela praia até chegar à casa dos Damasceno.

— Nossa, é longe, Manu! — argumentou a prima.

— Está me dizendo que a preguiça não quer deixar você me acompanhar? — Emanuelle
perguntou rindo.

— Não é isso. Vamos demorar, é mesmo longe — contrapôs.

— Rose, será a melhor coisa a fazermos. Ainda está cedo, vamos conversando, vendo a
paisagem. Será legal! Vamos?

— Tudo bem, coloquei você nessa, então vou contigo.

— Assim que se fala, garota! — Emanuelle sorriu e calçou sandálias mais confortáveis.

Sentado na poltrona próxima à janela do seu quarto, Heitor observava todos que entravam
na mansão, desde amigos, parentes, garotas e suas acompanhantes. Já estava arrependido da ideia
de tê-las no baile, ainda mais se tratando de mulheres que possivelmente estariam interessadas
apenas em suas posses, e não na pessoa que ele era. Mas não podia negar que estava curioso para
saber o que elas iriam aprontar.

Conhecia algumas moças pessoalmente, mas com três delas não tivera nenhum contato, a
não ser de longe ou por conhecer seus pais. Nicole, por exemplo, era impossível quem não a
conhecesse. Era uma mulher linda, além de ousada, e jamais passava por algum lugar sem ser
notada. Diferente de Rose, que era uma garota tímida. Heitor lembrava-se de Rose ainda dos
tempos de escola. O pai dela era dono da empresa Belle´s.

Ao longe notou que duas garotas estavam caminhando na praia, em direção à sua casa.

"Será que elas vêm para cá? Que estranho não virem de carro”, pensou.

O mar estava calmo e a praia estava quase deserta. Sorrindo, Heitor resolveu ir
pessoalmente recebê-las. Mas ao iniciar o descer das escadas, Nicole o surpreendeu e o agarrou
pelo braço, cumprimentando-o:

— Que saudade eu estava de você, Heitor. Como tem passado, querido? — perguntou ela
com malícia. Estava vestida sedutoramente com um vestido justíssimo.

— Quanto tempo, Nicole. Estou bem. — Olhando-a de cima a baixo ele elogiou: — Vejo
que você está ótima.

— Obrigada! E vai ver como nesta noite estarei ainda mais maravilhosa para o seu baile.
— Nicole ficou toda empolgada e o provocou dando uma piscada de olho.

— Não tenho dúvidas — rindo, Heitor concordou.

Antes que conseguisse sair da sala, outras jovens foram entrando, impedindo-o de ir até as
garotas da praia. Estava curioso para saber quem eram e se realmente estavam vindo até sua casa.

Sua mãe entrou cumprimentando todas e levando-as para a tenda próxima à piscina, o
lugar preparado para acomodá-las. Ela já havia feito toda a programação de onde cada uma se
sentaria e quais deveriam ficar ao seu lado ou perto de Heitor. Porém, a cadeira ao seu lado
estava vazia e a de sua frente também. Onde estavam as garotas que deviam estar sentadas ali?

A mãe de Heitor ficaria na cabeceira da mesa, de onde tinha toda a visão das garotas.
Nesse momento ela pediu:

— Sejam bem-vindas, meninas. Sintam-se em casa. Quem trouxe roupas de banho, pode
aproveitar a piscina. Hoje é um dia muito especial. — Olhando as cadeiras vazias comentou em
voz baixa: — Nem sabem ser pontuais. Tolero apenas por que o pai tem investimentos no mundo
todo.

— Mamãe, não seja cruel — pediu Heitor. Sabia que a mãe estava falando de Rose.

Ele então aproveitou para observar o comportamento das convidadas, cada uma com seu
estilo. Uma chamou sua atenção, mas teria de conhecê-la melhor para afirmar se ela realmente o
interessava. Nicole e Diana eram magníficas, mas tinha a impressão que teria de dividi-las com
outros homens, pois ambas não pareciam querer compromisso com uma só pessoa, mas sim
apenas curtir. Deborah era uma nerd de pouca conversa, muito inteligente; ele teria de ficar
sempre puxando conversa com ela sobre coisas enfadonhas.

Beatriz estava de conversinha com Julia e ambas agiam de forma estranha desde que
chegaram, andando de mãos dadas o tempo todo. Sua mãe havia lhe contado que elas eram
grandes amigas.

No geral, as garotas pareciam bastante empolgadas, mas apenas Nicole e Diana haviam lhe
abordado para cumprimentá-lo de forma audaciosa, as demais agiam de forma discreta.

Uma risada tirou sua concentração e todos que estavam em volta da mesa de desjejum
voltaram-se para ver quem era a dona da gargalhada.

Sua mãe logo levantou-se e dirigiu-se ao encontro das garotas que entravam acompanhadas
por Joana, a governanta da casa. Heitor sempre ficava impressionado em perceber como sua mãe
conseguia disfarçar tão facilmente, mesmo quando estava contrariada com algo. No caso,
naquele instante era com o atrasado das meninas.

Reconheceu Rose, ela estava linda, sorrindo e com a pele corada. Heitor pensou que algo
devia ter acontecido, pois ela parecia estar muito feliz e era raro vê-la sorrindo abertamente,
afinal, era uma garota tímida.

Não conseguiu ver a acompanhante de Rose, sua mãe não saía da frente, estava com o
braço sobre os ombros de Rose e a levou para sentar-se ao seu lado. Rose rapidamente conseguiu
escapar, e puxando a moça atrás de si, a trouxe para perto de Heitor.

— Bom dia, Heitor, estou feliz em revê-lo. Essa é minha prima, Emanuelle —
cumprimentando-o a apresentou.

Foi então, que ele conseguiu vê-la. Ficaram por instantes olhando-se intensamente.
Pareciam presos um nos olhos do outro. Heitor analisou seu rosto, cabelos, os olhos. A
considerou a delicadeza em pessoa. E ao descer os olhos para observá-la melhor, notou que seus
pés e sandálias estavam com areias da praia. Não conseguindo evitar o sorriso, Heitor comentou:

— Vocês vieram até aqui caminhando? De onde vieram?

— Viemos do Hotel no centro aqui perto — respondeu Rose, soltando um risinho. — Ou


talvez nem tão perto, mas Manu ama caminhar. Já eu, nunca caminhei tanto assim na minha vida.

Foi então que Heitor percebeu que ainda segurava as mãos da prima de Rose e não
conseguia soltá-las. Na verdade, não queria soltá-la. Conhecia todas as mulheres presentes,
menos a prima de Rose, Emanuelle. Não soube o porquê, mas sentiu que ela era diferente das
demais garotas.

— Exagero dela, senhor Heitor. Olhe como lhe fez bem a caminhada. Ela está corada e
ainda mais linda. — Emanuelle sorriu e fez com que Heitor se encantasse ainda mais por ela, ao
pedir que olhasse para a prima.

Rose fez uma careta, pois tinha todos os olhares sobre si. Heitor, notando que ela estava
sem graça, convidou-as a sentarem-se. Ouviu Nicole e Diana cochichando sobre as garotas que
haviam vindo a pé e chegaram atrasadas.

— Que falta de classe... — Ele pôde escutar.

Rose foi acomodada ao seu lado e Emanuelle à sua frente. Ambas eram totalmente
diferentes em aparência, mesmo sendo primas. Passados alguns minutos, ele notou que no modo
de ser e agir, elas também pareciam dissemelhantes, Rose era mais calada, Emanuelle era mais
expansiva e parecia muito inteligente, conversava com Cristina ao seu lado e já pareciam velhas
amigas.

— Manu faz amizade fácil, por isso a trouxe comigo. O que seria de mim sem ela? — Rose
comentou.

— Pois acho que você também faz amizade fácil, porém no seu tempo, o que é diferente da
sua prima, que já inicia logo — disse Heitor, sorrindo.

— Sim, ela tem facilidade para fazer novos amigos — concordou. — Por que você andou
sumido, Heitor? — Rose mudou de assunto, olhou-o e perguntou.

— Estive estudando fora — suspirou e completou: — fugindo de casa.

— Percebi, mas mal voltou e já está pensando em casamento? — perguntou estreitando os


olhos. Jamais consideraria que aquela ideia pudesse ter vindo dele, ou que ele estivesse de
acordo.
— Rose, você a conhece. — Heitor se referiu à sua mãe, apontando com os olhos.

— Sim, sim. Entendo perfeitamente. O que está pensando em fazer com a situação? Sabe,
para fugir dela... — riu.

— Ainda não sei. Mas o que você achou da história do baile? — inquiriu.

— Uma loucura — Rose sorriu.

— Mas foi uma boa ideia para mamãe se acalmar por um tempo.

— Uma boa ideia? Está dizendo que a ideia foi sua? — Rose arregalou os olhos,
espantada.

— O baile já acontece todo ano. Esse foi o único jeito de fazer papai e mamãe me
deixarem decidir algo.

— Sei como é, vivo na mesma situação — Rose concordou suspirando.

Em pouco tempo o pai de Heitor se juntou aos jovens e logo se encantou com Emanuelle.
Quem não se encantaria? Ela era tão doce e inteligente.

— Então a senhorita é a secretária secreta dos Everdeen´s? — perguntou o senhor


Damasceno.

— Não sou secreta, senhor — sorrindo Emanuelle comentou. — Já nos falamos pelo
telefone diversas vezes.

A mãe de Heitor não estava satisfeita, pois sabia que o marido pretendia chamar a atenção
da moça só para si. Ele era um galanteador de primeira. Depois não sabiam a quem Roger havia
puxado!

— Garotas, venham — chamou ela, interrompendo. — Todas estão convidadas a usufruir


do SPA e piscina. Fiquem à vontade.

Todos começaram a se retirar, menos Emanuelle, que continuou sentada.

— E aí, o que vamos fazer? — perguntou Rose.

— O que você quiser. Estou aqui à sua disposição, esqueceu?

— Mas quero que se divirta também.

— E estou, não se preocupe — garantiu, tranquilizando-a, olhando para a imensa piscina


logo adiante.

Sem conseguir conter-se, sentindo-se atraído por Manu, Heitor aproximou-se delas.

— Estou indo à praia, se quiserem me acompanhar — convidou e viu os olhos de


Emanuelle brilharem. Ela parecia querer o passeio.

— Heitor, tenha pena de mim, amigo — Rose brincou. — Ela quase me matou pondo-me
para caminhar do hotel até aqui.

— O que quer fazer então? — Emanuelle perguntou sorrindo. — Podemos fazer outra
coisa...

Foi quando Cristina se aproximou deles, estava enrolada em uma toalha florida e vestida
com um lindo biquíni dourado.

— Emanuelle, você e Rose gostariam de ir comigo ao SPA? — convidou ela fazendo


charminho, corando diante de Heitor.

— Eu adoraria — Rose respondeu, e virando-se para Emanuelle falou: — Vá com Heitor


se quiser, eu vou ficar com Cristina no SPA.

— Tem certeza? — indecisa Emanuelle perguntou, mas ficou internamente feliz pela
prima estar se socializando.

— Claro, vá. Sei que está com vontade de ir. Você adora caminhar.

— Ah, é verdade. Bom, será uma maravilha! — Levantando Emanuelle brincou. —


Vamos, senhor Heitor?

— Por favor, pode me chamar apenas de Heitor — pediu, feliz por ela ter aceitado o
convite. Também desejava fugir um pouco do movimento da mansão.

— Sim, sim — concordou, e voltando-se para Rose pediu: — Divirta-se, por favor.

— Ela irá, pode deixar. — Puxando Rose pelo braço foi Cristina quem respondeu.

Então os dois ficaram a sós, parados olhando as meninas desaparecerem. Foram segundos
em que se sentiram um pouco constrangidos, haviam acabado de se conhecerem.

— Vamos? — Heitor chamou quase sussurrando.

— Ah, sim.
Caminharam em silêncio até chegarem à branca e quente areia da praia. Havia um banco
sob umas árvores. Heitor a convidou para sentarem-se ali, na sombra. Foram caminhando
silenciosos, o único som que escutavam era das ondas do mar e das meninas ao longe na mansão,
que pareciam crianças brincando na piscina.

Foi ele quem quebrou o silêncio. Precisa ouvir a voz de Emanuelle outra vez, saber se
causaria nele novamente aquela sensação diferente.

— Notei que não queria ficar junto com as demais — observou ele, esperando estar certo e
ter iniciado bem aquele diálogo.

— Não é isso. Ao conversar com Cristina, notei que ela é uma pessoa maravilhosa e com
quem Rose se daria bem. — Sentou-se no banco, olhou para as ondas e continuou: — Esse é o
meu dever hoje, fazê-la se juntar à outras pessoas e não ficar só comigo.

— Entendi. Realmente, Rose é uma garota fechada. Mas e você, ficará sozinha? —
perguntou.

— Não, agora mesmo estou com você — respondeu ela sorrindo.

Heitor achou impossível não sorrir ao ouvir aquela resposta e observar aqueles olhos
verdes incrivelmente intensos. Heitor gostou da resposta e da sinceridade. Era isso que parecia
tão fascinante nela, sinceridade.

— Então prometo ser a sua melhor companhia.

— A melhor pode ser, mas acho que não a única — Emanuelle respondeu olhando na
direção da casa.

Heitor se virou e viu seu irmão Roger já próximo a eles, indo em suas direções.

“Por que ele não podia ter apenas ligado?”, pensou. “Tinha que vir pessoalmente atrás de
mim?”

— Ultimamente anda complicado ficar isolado por aqui — disse Heitor para Manu,
brincando.

— Não se preocupe, o final de semana passará rápido. — Suavemente Emanuelle tocou-


lhe o braço. Sentia que Heitor também queria refugiar-se de todos.

O toque dela foi suave e delicado. Ele notou nela uma mulher madura, apesar da pouca
idade que aparentava ter. Antes que seu irmão se aproximasse, respondeu:
— Agora já não tenho tanta certeza se quero que passe rápido.

Talvez fosse audacioso dizer aquilo, mas era o que sentiu vontade de dizer. Ela apenas
sorriu.

Roger era seu irmão mais jovem, cheio de si, galanteador, alto, moreno, sorriso e dentes
perfeitos. Seus cabelos crescidos garantiam a ele um estilo mais festeiro. Mas seu sorriso
aumentou mesmo foi quando viu Emanuelle, o que não deixou Heitor nada satisfeito. Ela estava
em sua companhia, então não queria dividir a atenção dela com seu irmão “galinha”. Os dois se
abraçaram e, para a contrariedade e surpresa de Heitor, Roger e Emanuelle sorriram um para o
outro com intimidade.

— Já faz tanto tempo, princesa. — Ouviu Roger dizer.

— Você me abandonou, Roger. Não foi justo de sua parte... — Ela o afastou para encará-lo
como se estivesse zangada.

— Eu sei, Manu, mas foi melhor assim.

— Vou fingir que entendo e te perdoo. — Fez-se magoada.

— Nossa, você está ainda mais linda — Roger a elogiou passando os olhos por todo seu
corpo.

— Não espere que eu diga o mesmo de você, pois já é convencido o suficiente — retrucou
ela.

Heitor, que até então só observava a tudo aturdido, resolveu falar:

— Hum, aleluia ouvir uma mulher falar isso sobre você — comentou tentando soar natural,
mas a voz saiu fria e indiferente.

— Cuidado, vindo dessa doce e delicada mulher, só irá ouvir verdades. — Roger comentou
Abraçando Emanuelle por sobre os ombros.

— Vocês já se conheciam? — raspando a garganta Heitor resolveu perguntar o óbvio que


tanto o incomodava. Sabia que não devia se sentir assim só por que eles se conheciam, mas não
pode negar que desejava que o irmão desaparecesse logo.

— Na verdade, já moramos juntos — ela respondeu, mas vendo que Heitor parecia
entender errado, corrigiu-se: — Estudamos na mesma faculdade e apenas dividimos o
apartamento na época que seu irmão.... Que ele esteve fora de casa — remendou. Aquele podia
ser um assunto delicado. — Você deve saber que seu irmão é um galinha de primeira linha, né?

— Sim. Ele não pode ver um rabo de saia. — Soltando uma risada Heitor confirmou,
aproveitando pra alfinetar Roger.

— Ih, nem vem. Eu não sou mais assim não — defendeu-se Roger. — Mas eu posso saber
o que fazem aqui, sozinhos na praia? — Olhando ao redor Roger perguntou.

Heitor e Emanuelle se olharam e foi ela quem respondeu:

— Viemos aproveitar este lindo dia aqui fora. Vim ao coquetel pela manhã mais por causa
de Rose, mas a deixei para que ela aproveitasse o dia longe de mim.

— Eu a vi. E ela está muito gostosa, por sinal — Roger sorriu ao dizer. — Ops, muito
bonita — corrigiu-se.

Emanuelle estreitou os olhos e deu beliscão de leve na barriga tanquinho de Roger.

— Se olhar novamente para ela com más intenções eu não sei o que sou capaz de fazer
contigo — ameaçou. — Comporte-se!

— Não. Sabe que eu jamais faria algo que Rose não quisesse, pelo contrário, sabe da
admiração que tenho por ela — respondeu sincero, levantando as mãos em sinal de paz.

— Ah, que bom — Manu acreditou nele. Era um bom rapaz.

Heitor só ficou observando os dois conversarem. Emanuelle conhecia seu irmão melhor do
que ele mesmo, ambos se davam muito bem. Aliás, pelo pouco que percebera dela, parecia se dar
bem com todos. A cada momento ficava mais curioso para descobrir mais sobre ela. Imerso em
seus pensamentos, foi Roger quem lhe chamou:

— Heitor, eu vou entrar. Vocês vão ficar aqui por mais tempo?

— Irei ficar, sim. E você, Emanuelle?

— Pode me chamar só de Manu — disse ela, e sorrindo para Roger avisou: — Vou ficar
também. Logo mais eu vou.

— Tudo bem, eu vou aproveitar e dar uma malhada — respondeu ele se afastando. — Está
mesmo uma chatice aquela casa cheia de mulher e nenhuma me dando bola — brincou.

Heitor e Emanuelle ficaram observando-o voltar para casa e riram do jeito de Roger falar.
— Não sabia que conhecia meu irmão — falou, dessa vez mais sério.

— Nossa, sim! Já faz algum tempo que dividimos o apartamento. Até havia me esquecido
que Roger é da família Damasceno. Foi uma época um pouco conturbada para Roger, você sabe,
ele não falava muito da família, e eu como amiga respeitava.

Heitor sentiu que ela mudara o tom de voz quando falou o sobrenome de sua família.
Parecia ressentida deles. Curioso perguntou:

— Você é prima de Rose por parte de pai ou de mãe?

— O pai de Rose é irmão de minha mãe. Ela faleceu em um acidente de carro com meu
pai.

— Nossa, eu sinto muito — disse verdadeiramente.

— Tudo bem. — Ela suspirou e ficou olhando o mar e as gaivotas ao longe.

— E sobre Roger, ele é um cara legal mesmo. E tem se esforçado a cada dia para ser uma
pessoa melhor — disse, elogiando de verdade o irmão. Ele já não era mais tão imaturo quanto
antes.

— Sim, fico feliz em saber disso. O seu irmão ficou no meu apartamento quando seu pai
decidiu que não o queria mais na família... Então fico feliz que hoje estejam se entendendo
melhor.

Heitor se assustou, pois poucas pessoas sabiam que seu pai queria expulsar Roger a todo
custo da família, porém sua mãe o ameaçara, intimidando-o a tomar tal decisão.

— Eu estava longe de casa nessa época, mas sei que foi tenso.

— Mas o que importa é que seu irmão mudou, né? Ele era apenas imaturo, jovem. Hoje ele
já parece ser outra pessoa, Heitor. Mesmo sendo um “galinha”, acredito que possa ter se
transformado. Agora cabe à família continuar dando-lhe o apoio necessário.

— Você parece conhecê-lo muito bem — observou ele. Ela apenas sorriu em resposta.

— Sim, gosto do seu irmão, ele foi um bom amigo pra mim. Hum, mudando de assunto,
posso perguntar como teve a coragem de marcar um baile para escolher uma garota para ficar
noivo? — Ela perguntou franzindo o nariz, não o censurando, mas achando graça.

Heitor não queria tocar no assunto, mas acabou confessando:


— Meus pais acham que já estou passando da hora de formar uma família. Não há outra
coisa de que falem. Meu pai irá se aposentar e quer me deixar na presidência da empresa. Então
sugeri convidar algumas moças e...

— Foi você quem deu a ideia do baile, de convidar as meninas?! — Emanuelle indagou
levando a mão à boca para reprimir o riso.

— Não precisa se segurar, sei que está rindo — riu também. — Na verdade só consenti e
pedi que acrescentassem mais algumas convidadas. Era o único jeito de entretê-los por um
tempo.

— Desculpe, não é da minha conta, mas você está bem crescido para ter os pais
direcionando suas escolhas, sua vida.

— É o que tento colocar na cabeça deles há algum tempo, mas quem disse que está dando
certo?

— Eu sei. — Pegando a mão dele e colocando entre as suas, Emanuelle o tranquilizou: —


Contudo, como disse, já deu um jeito de entretê-los.

Heitor olhou para a mão dela e pensou se ela tinha a ideia do que fazia a ele com um
simples toque. O silêncio entre eles tornou-se constrangedor. Ele apenas queria sentir aquele
toque por mais tempo. Seus planos não estavam mais coerentes como no início. E sobre noivar
com alguma moça, talvez não fosse tão cedo assim para querer formar uma família. Talvez os
pais estivessem um pouquinho certos. Em relação à Manu, não sabia muito sobre ela, mas estava
ansioso para saber mais.

— Ouvi você comentar com meu pai que trabalha na empresa dos Everdeen, mas achei
estranho, nunca vi você na empresa.

— É que viajo muito, é raro me ver em um lugar por mais de três dias. Estou sempre
viajando pelo mundo inteiro. Meu tio precisa saber como anda os negócios, os funcionários e
clientes.

— Você o representa então?

— Sim, sim. Ele está sempre ocupado com outros detalhes. — Dando de ombros
confessou: — E eu gosto assim, não me sinto sozinha.

— Sem falar que fica conhecendo vários lugares e pessoas diferentes, né? E a Rose?

— Ela gosta de trabalhar no setor de sistemas. Conseguimos convencer tio Afonso a deixá-
la atuar lá.

— Vocês duas são uma bela dupla. — Ele sorriu ao falar.

— Ela é como se fosse minha irmã mais nova. Aliás, a única.

Nesse instante o celular de Heitor tocou, e ao atender ele sentiu a irritação na voz da sua
mãe:

— Marcamos esse dia para que você possa conhecer melhor todas as garotas, e não apenas
uma. Aliás, ainda por cima está ao lado de uma que não possui nada que condiz com nossa
família, sem falar que ela é apenas uma acompanhante. Sabe o que estou querendo dizer, Heitor?
Que ela não é uma das doze garotas selecionadas!

— Mamãe, se está querendo pedir que eu volte, é só dizer de vez — disfarçou.

— Sim! Estamos aguardando você!

Emanuelle notou que as feições de Heitor havia mudado, ele não parecia nada satisfeito
com a ligação de sua mãe.

— Heitor... Acho que devemos voltar, principalmente você. — Levantando completou: —


Esse dia em questão é expressamente para você fazer uma escolha. Doze garotas estão a seu
dispor. Só não sairá casado desse evento se não quiser — sorriu ao ver a careta no rosto dele.

— Acho que é isso que me preocupa, de elas não serem a pessoa certa.

— Deixe para se preocupar com isso depois, hoje apenas conheça as garotas. — E
piscando para ele comentou: — Divirta-se! Viva o hoje sem estresse.

Heitor suspirou e observou que ela era uma mulher inteligente e gostava de dar conselhos,
e que sua maturidade ia além de sua idade e aparência. Juntos caminharam de volta para a casa e
cada um tomou seu rumo.

O restante do dia foi até divertido para Manu, apesar de não sentir-se bem-vinda ali.
Elizabeth demonstrava claramente que sua presença a incomodava. Desejou ter ido embora para
o hotel assim que voltou da praia com Heitor e foram surpreendidos pela anfitriã, que já os
aguardava na entrada da casa com uma expressão de poucos amigos.

Rose parecia bem diferente, sorria como se tivesse visto um passarinho verde. O semblante
era de contentamento e isso já era o bastante, pois se tratava de uma moça com poucos amigos.
Naquele instante, ao vê-la feliz, Manu sentiu-se satisfeita por ter ido.

— Manu, vamos voltar para o hotel? — Rose convidou depois de certo tempo.

— Tem certeza?

— Sim, temos de nos arrumar para o baile à noite. — Rose mexia as mãos, estava ansiosa.
— Com tanta mulher bonita aqui hoje, devo me ajeitar mais cedo para tentar ao menos ficar
elegante.

— Ah, deixa disso. Você ficará deslumbrante! Sua mãe comprou o vestido mais lindo que
já vi na Belle´s, e com esse seu rostinho meigo ficará perfeito. Sem falar das suas curvas
perfeitas.

— Você é muito gentil. — Rose sorriu agradecida.

— Não, você é que é linda de verdade.

Ambas saíram abraçadas, mas foram surpreendidas por Diana e Nicole na saída. Ambas as
garotas olharam com desdém para as primas.

— Usará moletom essa noite, Rose? — Virando-se para Rose, Nicole perguntou em tom de
deboche.

Rose corou e Manu não gostou daquela provocação. Quem elas pensavam que eram para
desdenhar de sua prima assim?

— Diferente de você, o moletom fica lindo nela. — Olhando-a com fúria foi Emanuelle
quem respondeu. — Agora em você, só se usasse uns dez quilos de maquiagem para ficar
aceitável. Rose é naturalmente bonita, independente do que use.

O taxi encostou e Rose entrou rapidamente, nunca conseguia se defender de pessoas


mesquinhas como Nicole. Ainda bem que Manu estava ali.

— Ela engolirá aquelas palavras. — Emanuelle prometeu sentando ao lado de Rose no


taxi.

Dando um sorrisinho apagado como resposta, Rose agradecia aos céus por ter sua prima
com ela. O motorista passou perto da orla da praia e elas viram Roger.

— Ele é lindo, mas é complicado. — Emanuelle notou a curiosidade de Rose e comentou.

— É, melhor eu esquecer...

— Não digo esquecer, mas ir com calma. Acho que ele pode ter mudado nos últimos
anos... — remendou Manu.

— Ah, esqueci que vocês dividiram apartamento. Você o conhece melhor do que eu —
disse Rose.

— Faz muito tempo. Naquela época ele era diferente. — Olhando Roger pela janela,
relembrou: — Nunca pensei que uma família que se diz exemplar pudesse fazer o que fizeram
com ele. Expulsaram-no de casa, não lhe dirigiam sequer a palavra. Foi duro para Roger.

Ambas ficaram em silêncio, cada uma com seu pensamento. Logo chegaram ao hotel,
pagaram o taxi e seguiram caminho. Era um hotel pequeno, mas requintado, e por coincidência
Cristina e outras garotas selecionadas estavam hospedada ali também. Emanuelle sabia que
mulheres eram competitivas, mas naquele dia teve certeza.

— Ah, se eu soubesse que estávamos hospedadas no mesmo hotel, poderíamos ter vindo
juntas da mansão. — Cristina aproximou-se delas.

— Não irá faltar oportunidade. A que horas você irá para o baile? Podemos ir juntas —
Rose falou animada.

Cristina bateu palmas de alegria e confidenciou:

— A noite promete. Conversei um pouco com Heitor à tarde e ele pareceu ser uma pessoa
maravilhosa. Demonstrou interesse quando contei sobre meu novo negócio...

Já dentro do elevador, Rose olhou para Emanuelle através do espelho. Cristina continuava:

— Sei que a mãe dele quer uma pessoa como você, Rose, mas se ele escolher uma de nós
duas, ficarei feliz assim mesmo.

Rose ficou pálida com o que Cristina dissera, contudo recompôs-se.

— Sabe, Cristina, não aceitei o convite com o propósito de arrumar um casamento, ainda
mais com uma pessoa que é meu amigo. — Saindo do elevador completou: — Pode ficar com
ele para você, boa sorte!
— Nossa, você é uma amiga de verdade! Obrigada, até mais tarde — Cristina despediu-se
feliz.

— Credo, realmente as meninas vieram atrás de casamento, Manu — Rose observou. —


Que malucas!

— Sim, mas o importante é nos divertirmos — Emanuelle falou mais pra si do que pra
Rose. Não era impressão sua, Rose estava caidinha por Roger. E, pior, ele também pareceu bem
interessado nela.

Manu terminava de arrumar o cabelo de Rose quando o celular tocou. Ela viu no visor que
era uma mensagem de Roger.

O que ele queria que não podia esperar?

Roger: Manu, posso buscá-las no hotel?

Era só o que faltava! Roger realmente estava a fim de Rose. Teria de ficar de olho pra ver
se ele realmente tinha mudado.

Manu: É longe demais, Roger. Pode deixar que chamaremos um taxi mesmo. Mas se
quiser nos aguardar na entrada da casa, ficaremos gratas.

Roger: Você é uma estraga prazeres, sabia?

Manu: Sei sim, mas você pode mesmo assim nos esperar?

Roger: Certo! Ficarei esperando vocês. Avise-me quando estiverem perto.

Manu: Claro! Então até mais! Tenho agora que terminar de arrumar uma princesa.

Roger: Hum, estou louco para revê-la.

Manu: Há! Sabia que tinha interesses pessoais ao se oferecer para nos buscar. Seu
perigoso!
Roger: Confesso, estou encantado por Rose. Juro que vou me comportar com ela.

Manu: Então está bem, segura firme que daqui a pouco a verá!

Emanuelle voltou a mexer no cabelo de Rose, sorrindo. Sua prima, curiosa perguntou:

— O que a deixou feliz assim?

— Ah, é a Cristina... — disfarçou. — Ela já está pronta.

— Poxa, já? Ela está confiante então — observou.

— Ela é carismática, bonita e alegre, além de rica — comentou finalizando o penteado que
estava fazendo no cabelo da prima: — Formarão um belo casal — acrescentou.

A verdade é que Manu não considerava que Cristina fosse assim tão perfeita a ponto de ser
a escolhida de Heitor. Faltava algo nela. Algo que em Heitor sobrava. Era o brilho nos olhos, a
espontaneidade.

— Você conhece bem as pessoas, pois trabalha com várias. Nesse ponto eu concordo com
você, entretanto acho que ela está criando muita expectativa, não acha?

— Quem, a Cristina? — Manu distraiu-se.

— Sim, estamos falado dele, não é?

— Pronto, você está linda, minha princesa — Manu tentou mudar o assunto, puxando a
prima para o meio do quarto e sorrindo ao colocá-la em frente ao espelho.

Rose estava radiante, parecia como as modelos que trabalhavam na Belle´s. Sentia-se outra
pessoa, não mais a Rose tímida, sem graça e que usava só moletom. Via uma mulher refletida no
espelho. Sua mãe havia escolhido um vestido vermelho-escuro que moldava suas curvas e
brincos de pérolas. A maquiagem que Emanuelle fizera era neutra e combinava com seus olhos.

— Obrigada, Manu. O que seria de mim sem você? — falou abraçando Emanuelle.

— Imagina! Você já é linda, só precisa abandonar seus moletons — respondeu rindo. —


Realçar sua beleza com peças que a valorizem mais.

— Tem razão, Manu, a partir de agora os usarei somente em casa. E você, ainda não está
pronta?!

— Vá com Cristina, logo estarei lá. Roger está aguardando você na festa — disse de
pronto.

Rose paralisou.

— Está? Mas, Manu, eu não conseguirei ser legal sem você por perto — Rose ficou
insegura.

— Tire essas coisas de sua cabeça, Rose. Hoje vi o quanto se divertiu sem mim por perto.
Fique tranquila, Cristina descerá agora com você. Eu prometo que estarei lá dentro de uma hora.
Só preciso verificar um arquivo que o tio Afonso me enviou.

— Ah, não! Papai prometeu que não enviaria nada para você durante esse final de semana.
Era apenas um final de semana e ele não a deixa em paz!

— Sim, ele prometeu, mas o conhecemos. Ademais, parece ser urgente. Agora trate de ir,
ou se atrasará.

— Não quer que eu a espere?

— Não, quero que vá. Roger está à sua espera na porta da mansão.

Assim que Rose saiu, sorridente pela promessa de encontrar Roger, Emanuelle tratou de
abrir o arquivo para ver o que era de tão importante e que não podia esperar pra depois. Conhecia
seu tio.

Sentou-se na cama, pegou seu notebook e abriu o e-mail. Conforme o lia seu coração batia
mais forte e seu corpo gelava. No final do e-mail, ele pedia para que ela mantivesse segredo
sobre aquilo até resolverem a situação.

Não podia acreditar que estava acontecendo! Era surreal!

Levantou-se e começou a andar de um lado para o outro do quarto. Nada a abalava, porém
aquela notícia a deixou desorientada. Tomou um banho rápido, afinal, teria de ir ao baile. A vida
deveria continuar, nada mudaria... Era o que ela pensava.

Trajou-se com o vestido azul-caribe, longo e com um fenda na frente e alças que
valorizavam seu busto. Calçou as sandálias italianas que havia ganhado de presente da tia e que
por sinal eram muito confortáveis. Deixando os longos cabelos soltos, prendeu apenas a parte de
cima.
Capítulo 2 — O baile

Na porta da mansão havia várias pessoas entrando e pousando para os fotógrafos de


revistas e TV’s. Aquela família era conhecida por seus bailes inesquecíveis, Manu só não
imaginava que um dia faria parte de um deles.

Assim que desceu, o repórter Sérgio veio abordá-la sobre sua participação no baile tão
esperado.

— Sérgio! — Emanuelle sorriu, beijando-o no rosto. — Querido, acabei de chegar.

— Você está estonteante, Manu! Se eu gostasse da fruta, arrastaria você para longe desse
baile — brincou.

Emanuelle soltou uma risada. Ele era uma pessoa muito divertida, mesmo que fizesse
algumas matérias de fofocas de vez em quando.

— Tenho certeza que logo achará alguém... — disse ela.

— Aguardarei ansioso por esse dia, amiga. — Ele sorriu.

Havia muito requinte no salão de festas, arranjos de flores, lustres de cristais e uma
pequena orquestra. Do outro lado do salão, um DJ ajeitava sua mesa de som, pois mais tarde
tocaria músicas recentemente lançadas no mercado da música e que os jovens amavam.

Ao longe viu Roger e Rose juntos. Eles estavam rindo como dois bobos. Sua prima não
conseguia disfarçar o quanto tinha gostado dele. Roger parecia tão fascinado quanto ela.
Aproximou-se e ouviu Roger a elogiar:

— Emanuelle, você está linda.

— Obrigada, Roger.

— Roger tem razão, Manu, você está magnífica — Rose acrescentou sorrindo docemente.

A pista de dança foi liberada e uma deliciosa música da orquestra preencheu os ouvidos
dos convidados. O som os convidava a voltar no tempo, para outra década. Elizabeth aproximou-
se e, observando-os, desafiou:

— Emanuelle! Já ouvi tanto seu nome nessa casa hoje... Seja novamente bem-vinda. Bem,
a pista de dança foi liberada. Não sei se domina a arte de valsear, mas será que nos daria o ar de
sua graça na pista?

Antes que ela respondesse, Roger a pegou pela mão, e passando por sua mãe comentou:

— A senhora desafiou a pessoa errada, mamãe. Não tem nada que Emanuelle faça que seja
imperfeito. — E a arrastou para longe.

— O que há com ela? Nem a conheço para vir com essa liberdade — Manu reclamou. —
Ela parecia estar me desafiando, como se eu não pudesse dançar uma simples valsa.

— Mamãe não gosta que outras pessoas tomem o lugar dela, que ganhem mais destaque
que ela. E desde que você entrou nessa casa todos só falam de você.

— De mim? Por quê? — preocupou-se. Quem estava falando tanto dela a ponto de
incomodar Elizabeth?

— Esqueça. Está pronta para dar um show e deixar mamãe com a boca aberta e furiosa? —
Roger segurou-a pela cintura e perguntou.

— Certo, com o maior prazer. — Rindo ela concordou. Não seria rebaixada de jeito
nenhum.

Os músicos começaram a tocar e os pouquíssimos pares iniciaram seus passos, mas


diminuíram o ritmo, pois queriam assistir o casal que estava dando o show.

As garotas estavam deslumbrantes com seus vestidos, cada uma com seu jeito tentava
roubar a atenção de Heitor, embora apenas uma garota pudesse fazer isso, justamente aquela que
estava nos braços de seu irmão, dançando com ele. Todos os convidados pararam de dançar para
observá-los. Heitor nunca, até então, tinha visto uma pessoa deslizar na pista como ela.

Aproximou-se de Rose, que orgulhosa assistia a prima dançar. Emanuelle era uma diva na
arte da dança, e também em tirá-la de alguns incômodos. Ela sorriu ao ver seu amigo se
aproximar e comentou:

— Eles são bons! Roubaram a cena. Hoje era você quem deveria ser o centro das atenções
— disse ela.

Heitor era a única pessoa com a qual Rose não tinha vergonha de conversar. Sentia-se à
vontade com ele, pois ele era uma pessoa que passava confiança e não era de julgamentos.

— Não me importo com isso, de ser o centro das atenções — disse verdadeiramente. —
Você está linda, Rose — elogiou em seguida.
— Obrigada Heitor, você também está muito elegante no seu smoking — elogiou também.
— Bem, sua mãe desafiou Emanuelle, e Roger aceitou o desafio como um cavalheiro, guiando
Manu para a pista.

Heitor voltou sua atenção para o casal na pista, realmente Emanuelle estava linda. Queria
uma oportunidade para dançar com ela e poder sentir o perfume dela novamente, isso sem falar
em poder tocar suas mãos mais uma vez. Sentia uma energia maravilhosa quando a tocava.

Naquele instante a música acabou, Roger e Emanuelle fizeram uma pequena reverência
diante dos aplausos. Heitor olhou para sua mãe e viu a raiva em seu rosto, algo impossível de não
notar. Por que tanta raiva assim?

— Somos o casal mais deslumbrante do baile. — Virando-se para Rose ele brincou.

— Será que somos mesmo?! — Rose perguntou, mostrando Nicole e o primo de Heitor.

— Aquele casal está exagerado demais — retrucou rindo. — Exibidos!

Iniciaram mais uma música, e dessa vez Heitor convidou Rose para dançar com ele.
Tempos depois, Cristina agarrou-lhe o braço, querendo parecer que eram um casal, e arrastou-o
para dançar com ela. Ele assustou-se, mas consentiu, foi quando viu novamente Roger e
Emanuelle, nem sequer havia notado que eles voltaram para a pista de dança. Houve então um
momento de trocas de casais e Heitor pôde finalmente tê-la em seus braços.

— Até que enfim tenho a mulher mais linda desta noite em meus braços — elogiou
enquanto dançavam.

— Você falou isso para todas — provocou Manu sentindo as bochechas arderem. Corou
violentamente. Não era de ficar embaraçada, mas foi pega de surpresa pelo elogio tão
empolgado.

Antes que ele pudesse responder, Cristina novamente grudou em seu braço, significando
que deveriam voltar aos parceiros de início. Depois, notou que Emanuelle estava séria enquanto
estava em algum assunto com Roger.

A música mal parou e Heitor deu um jeito de voltar para perto de Rose, ao vê-la sozinha,
mas reparou quando Roger e Emanuelle passaram por eles, muito apressados. Resolveram ir
atrás, pois não sabiam o que estava acontecendo.

— Se você ousar machucar os sentimentos dela, Roger, eu te mato, fique sabendo disso...
— Ao longe Heitor conseguiu ouvir.
— Já falei que com ela é diferente... — dizia Roger.

— Está acontecendo alguma coisa? — Heitor perguntou.

— Oi, não, estamos apenas descansando um pouco. — Emanuelle tentou disfarçar com um
sorriso e brincou: — Roger pensa que tenho a mesma idade que ele.

— Aproveitando o momento, quer dançar comigo, Rose? — Roger pegou a mão de Rose e
a puxou de leve.

Rose, surpresa com o convite e sem saber o que dizer, olhou para Heitor e depois para
Emanuelle, em dúvida.

— Vá, prima, está tudo bem. — Emanuelle falou. — Tenho certeza de que Roger cuidará
de você — acrescentou com um olhar rígido.

— Será apenas uma dança, eu prometo — disse ele. Rose assentiu com a cabeça e segurou
a mão de Roger. O coração estava aos pulos.

— Acho que começo a entender o que aconteceu aqui — disse Heitor sorrindo travesso.
Era um sorriso de tirar o fôlego.

— Pois é, mas ele não é doido de brincar com ela! — falou Manu, alterada.

— Estou certo que não, depois da bronca que a vi dando nele.

— Foi só um alerta — sorriu, depois olhou para Heitor, sentindo um palpitar estranho no
peito. É que ele era tão lindo!

— Querido, o procurei por toda parte. Venha comigo... — interrompeu a mãe de Heitor,
levando-o para a pista de dança onde Nicole o aguardava.

Emanuelle começou a se irritar com Elizabeth. Era como se ela estivesse com medo de
Heitor se interessar por ela, estragando assim os planos para o futuro do filho. Que mulherzinha!

Percebia que estava em meio a uma família que se preocupava primeiro com dinheiro e por
último com os sentimentos dos filhos. Quase tinham arruinado Roger, e agora era Heitor quem
estava nas garras deles. Ou quase, porque ele parecia bem esperto para deixar-se conduzir.

As meninas que foram convidadas especialmente para o baile se juntaram ao lado de


Heitor e pousavam para fotos. Os fotógrafos autorizados a entrar na festa pareciam urubus na
carniça.
Manu sorriu ao ver Rose ao lado de Heitor e das dozes garotas selecionadas. Parecia que
todas queriam sair na foto ao lado de Heitor. Algumas empurravam-se discretamente.

Foi quando Manu notou que era observada por ele o tempo todo, e que seus olhares se
encontravam não tão por acaso. Sentiu que de todas aquelas garotas, nenhuma seria escolhida por
ele. Não naquela noite!

Sorriu para ele movendo os lábios delicadamente, para que só ele entendesse, e desejou:

— Boa sorte!

Ele lhe sorriu divertido e voltou a se concentrar na foto com as garotas.

Sem que percebesse, Elizabeth via ao longe a troca de olhares entre o filho e Manu. Sentiu
muita raiva, queria seu filho longe daquela secretária da família Everdeen. Ela não aceitaria de
jeito nenhum que ambos se envolvessem. Era o cúmulo!

Antes o filho se interessasse por Rose! Mas, não, pelo visto era Roger quem estava
caidinho pela tímida Everdeen, uma menina tão diferente das demais mulheres da família.

Pensou então que Nicole talvez fosse a pessoa certa, sendo única herdeira das empresas de
advocacia Sousa e Silva, além disso, era bonita e sensual, seu filho ao menos teria uma mulher
fogosa na cama, pensou.

Ao ver seu marido conversando com Emanuelle, sentiu seu sangue parar. Quem ela
pensava que era? Teria de colocar aquela garota no lugar dela, mas antes que chegasse perto
deles, ouviu-o dizer:

— Você é fiel à Cassandra, sei que ela não contará a ninguém sobre nós — dizia ele.

— O senhor está equivocado! Tem em casa uma esposa maravilhosa e fica em busca de
aventuras? Deveria se envergonhar — repreendeu Manu.

— Elizabeth não tem o mesmo pique de antes, apesar de ainda ser um pouco fogosa —
continuou ele com escárnio.

— Será que a culpa é dela, senhor? — Emanuelle disse irritada, e saiu deixando-o
desconcertado.

Ambos não perceberam que Elizabeth havia escutado a conversa deles.


O jantar foi servido em um espaço separado do grande salão. Cristina, Emanuelle, Rose e
as demais garotas haviam ficado próximas à família anfitriã.

Roger se juntou a elas contra a vontade de sua mãe. Gostava muito de Emanuelle e estava
começando a enxergar em Rose uma mulher linda e atraente. Havia humor nela, achava-a
inteligente, estava cansado de mulheres vazias, como as que estava habituado a sair. Junto com
ela, percebia que sexo não era tudo, e se sentia solitário.

A companhia dela lhe despertava um interessa além de sexo, mas sim companheirismo,
amizade, carinho. Definitivamente, estava completamente admirado com seus sentimentos por
ela. Nunca pensou que pudesse sentir algo assim em tão pouco tempo de convivência com uma
mulher.

Na época que morara com Emanuelle, não tivera oportunidade de conhecer Rose
pessoalmente. Mas ouvia as duas conversarem pelo Skype. Elas ficavam horas a fio
conversando, pondo “o papo em dia”, como Manu costumava dizer.

Contudo, a decepção, o abandono de seus pais, o fizeram ficar um tanto afastado das
pessoas. Na época, a única que conseguiu se manter ao lado dele foi Emanuelle. Lembrou-se que
no dia que tentou acabar com sua própria vida, foi ela quem entrou por engano no banheiro
masculino e o ajudou. Ele estava com um canivete na mão, prestes a cortar os pulsos.

Alguns colegas da Universidade se juntaram a ela para tentar persuadi-lo a desistir da


ideia. Era como se ela fosse seu anjo da guarda. No momento que começou a falar com ele, sua
voz, suas palavras, o fizeram abrir os olhos para uma escolha: devia se reerguer e mostrar a seus
pais o quanto estavam equivocados. Desde então esforçava-se para ser uma pessoa melhor. Não
esperava que tivessem orgulho dele, mas ele mesmo queria sentir-se orgulhoso de suas decisões.

Por isso, ver sua mãe maltratar Manu, como estava fazendo no baile, o tirava do sério,
porém ela não gostava de confusões e enquanto durasse o baile a respeitaria. Ademais, Rose e
seu irmão Heitor não tinham nada a ver com aquela situação.

— Toc-toc. — Emanuelle brincou, trazendo Roger para a realidade.


— Quem é?

— Banana. — Ela riu da careta dele.

— Só vocês dois mesmo. — Rose riu diante da brincadeira.

Cristina estava indignada por não ter sentando junto de Heitor. Com pena da garota, e para
deixar sua mãe irritada, Roger disse:

— Vai lá, sente-se no meu lugar. Não é ao lado de Heitor, mas estará por dentro da
conversa.

— Ah, eu vou mesmo. — Olhou para as meninas na mesa perguntou: — Claro, se vocês
não se importarem.

— Jamais, pode ir, fique à vontade — disseram elas com uma pontinha de inveja.

— Obrigada, beijinhos.

— Depois dessa, tenho certeza que Heitor saíra daqui casado. — Emanuelle soltou um
risinho, brincando.

— Penso o mesmo, Manu. — Rose ria, concordando.

— Acho que nem ele imaginou que tudo seria mais complicado — Roger comentou.

— Quem será a escolhida?! — Olhando em volta Rose analisava: — Tirando o


temperamento de cada uma, são mulheres bonitas e ricas. O que me assusta é ele escolher uma
delas, ser aceito e viverem em um casamento sem amor.

— Exato. Conviver entre família já é complicado, imagina com alguém que você escolheu
em um reality. — Emanuelle disse, um tanto contrariada em ver como o ser humano era
interesseiro. Ou, talvez, um pouco enciumada de imaginar Heitor casado com alguma daquelas
dondocas.

— Você teria interesse de se tornar amigo de uma pessoa, para então se conhecerem
melhor... E depois aceitar namorá-la? — perguntou Roger do nada.

Rose e Emanuelle trocaram olhares. Do que ele estava falando? Rose estava muda, foi
Emanuelle quem perguntou:

— Por acaso isso é uma proposta para Rose, Roger?

— É sim, Manu. Estou louco para conhecer Rose melhor.


— Rose, o gato comeu sua língua?! — Emanuelle brincou.

— Claro que não. Só estou pensando em como sou totalmente diferente de qualquer outra
garota que já conheceu, Roger — disse ela, tomando coragem. O coração batia desenfreado. Ele
dizia o que pensava com tanta desenvoltura!

— E é por isso que eu gostaria de conhecê-la melhor. Você é uma companhia adorável,
além de linda e inteligente. — Vendo-a arregalar os olhos, ele completou: — Estou farto de
mulheres interesseiras e fúteis.

— Não se esqueça do que conversamos, tá, amiguinho? — Emanuelle bateu no ombro de


Roger. Depois, levantando-se avisou: — O papo está bom, porém já vou voltar para o hotel.

— Ainda não, senhorita. — Heitor estava próximo, ouviu o assunto e adiantou-se. — Não
tive o prazer de sua companhia na pista de dança.

— Teve sim, na troca de pares. — Ela lembrou.

— Mas não conta como uma dança completa — retrucou ele.

— Tem razão, vamos lá. — Sorrindo Emanuelle concordou.

Ao passarem pela mesa em que Elizabeth se encontrava, viram-na fazer ar de pouco caso.
Mas Manu não deixaria de ser amiga de Heitor e Roger por causa dela, estava decidida.

Emanuelle conhecia muita coisa que podia colocar a vida da família de Elizabeth, inclusive
a imagem dela, na lama. Contudo, não era uma pessoa vingativa e achava um absurdo quem
pagava o mal com outras maldades. Decidiu ficar na sua.
Capítulo 3 — A proposta

Nos dois meses que se seguiram ao baile Manu só conseguia pensar na mesma coisa: o
bendito e-mail que o seu tio lhe enviara naquela fatídica noite. Agora tinha que tomar alguma
atitude imediatamente. E precisava ser rápida.

Tudo lhe sugeria a mesma coisa. E sim, podia parecer loucura, mas era a única saída. Não
se importava com bens materiais, mas se desistisse de tudo, muitos funcionários seriam
dispensados na empresa. Seu tio não gostava de se envolver em questões pessoais com
funcionários e mal conhecia os que trabalhavam no escritório, muito menos os que trabalhavam
externamente. Os demitiria sem dó. Já Manu, os estimava e tinha uma relação de amizade com a
maioria deles. Precisava defendê-los, fazer algo por eles e por si mesma.

Lembrou-se de Heitor. Ele, aparentemente, estava na mesma. Então podiam juntar o útil ao
agradável, pensou. Apesar de não vê-lo há mais de dois meses, achava que podia tentar, pois
sabia que ele ainda continuava sozinho. Não tinha escolhido ninguém no baile das doze garotas.

Decidiu-se, iria até ele. Ligou e agendou um horário.

Conforme passava pelo saguão e pela recepção, via muitas cabeças virarem-se para olhá-la.
Será que estava suja ou malvestida? Já estava ficando sem jeito, principalmente com os olhares
dos homens que pareciam nunca ter visto uma mulher antes.

Jéssica, secretária de Heitor, veio ao seu encontro sorrindo e se apresentou:

— Seja bem-vinda, Emanuelle. Sou Jéssica. O senhor Heitor pediu para acompanhá-la ao
escritório. Ele está a aguardando.

— Obrigada, Jéssica, que gentileza de sua parte.

Como resposta, a tal Jéssica apenas a olhou de cima a baixo. Que merda estava
acontecendo?!
Teve esperanças de que no elevador houvesse um espelho para ver o que havia de errado.
Porém ao se mirar, não achou nada de diferente, era a mesma Emanuelle de sempre.

Pararam no décimo segundo andar, depois acompanhou Jéssica até a sala de Heitor. Mal
entrou no escritório dele e já desabou na poltrona à sua frente, suspirando forte, tentando criar
coragem.

— Olá, está passando bem, Emanuelle? — preocupado ele perguntou. Era bom revê-la.
Depois do baile, chegou a pensar em procurá-la e só não o fez por estar ocupado demais com o
trabalho e com a mãe que ainda não tinha desistido de importuná-lo.

— Acho que sim... — Ela levantou-se e o cumprimentou. — Tem algum problema


comigo? — indagou Manu.

— Aparentemente não, pelo contrário, você está linda. Por quê? — Heitor a observava sem
entender. Ela estava corada, os lábios rosados se arquearam em um sorriso perfeito.

— Obrigada, sei que foi sincero. — Ela levantou-se e indo até ele o abraçou, aliviada.

Heitor, pego de surpresa retribuiu o abraço. Sentiu-se atraído por aquele perfume delicioso
que ela usava. Era uma das coisas que sempre se lembrava do dia do baile, o sorriso e o perfume
de Manu,

— Pode ser mais clara e dizer o que aconteceu? — resolveu perguntar de vez, embora lhe
fosse custoso separar-se do abraço dela.

— É que enquanto eu passava pelo saguão, para vir até aqui, fui sugada por olhares de
todos os lados. Não sou de me preocupar com aparência, mas fiquei preocupada se estava suja,
malvestida, com pasta de dente no rosto ou algo do tipo — disse ela voltando para a sua cadeira.

Ambos riram.

— Pois você está perfeita. — Heitor a tranquilizou. — É que as pessoas daqui não estão
habituadas a presenciar uma mulher bonita e bem-vestida entrando no meu escritório — disse ele
sentando-se também. — Bem, claro que tem minha mãe, mas como você é raro.

— Bom, sinto-me lisonjeada. Embora tenha vindo aqui por causa de outro assunto.

— Claro. Estou curioso, há tempo que não nos vemos. Desde o baile...

— Sim, sim. — Endireitando na poltrona Emanuelle perguntou: — Você já decidiu com


quem ficará noivo?
— Não... — Estreitando os olhos Heitor sentiu-se confuso. — Por quê?

— Então continua solteiro? — perguntou ainda.

— Sim...

— Então se casaria comigo?

Opa! Como? Um sinal de alerta soou na mente de Heitor. Que maluquice era aquela?

Não era todos os dias que uma mulher atraente e perfeita fazia a ele uma proposta de
casamento, ainda mais sendo Emanuelle! Precisava entender o motivo daquilo. Quase riu
achando que era uma piada, mas ela continuava séria esperando a resposta.

— Para quem estava indignada com casamentos arranjados, parece que você já anda
aceitando melhor a opção... — brincou para aliviar o clima. Ela estava falando sério mesmo?
Será?

— Engraçadinho — retrucou ela. — Seus pais querem que você se case, não é? Pois eu
preciso me casar antes de fazer meus trinta e dois anos, ou perco tudo.

Ah! Não era por interesse nele que ela lhe fazia tal proposta, mas sim por um negócio! O
que mais podia esperar? Claro que não era por interesse. Se conheciam há dois meses, onde
tiveram apenas dois momentos juntos.

Mas o que Emanuelle perderia, afinal? Do que ela estava falando? Resolveu assimilar a
situação de ambos.

— Espera, está propondo um casamento onde ambos não percamos nossas heranças? É
isso?

— Sim! — Emanuelle assentiu.

Heitor olhou-a curioso. Que herança era essa que ela tinha a receber e que queria sustentar
a base de um casamento arranjado?

— É muito importante para mim assegurar o meu emprego, Heitor. A única coisa que
posso lhe adiantar, é que não exigirei nada de você, só preciso de uma certidão de casamento. E
você está na mesma — acrescentou.

— Até que não, por hora papai e mamãe estão me dando uma trégua — brincou e sorriu,
mesmo que não fosse exatamente a verdade. Mas vendo que ela estava desesperada, comentou:
— Não é uma brincadeira? Está decidida a isso mesmo?
— Heitor, infelizmente não é brincadeira. Você é a única pessoa para quem eu faria essa
proposta. Sei que parece loucura... Sei que Roger até poderia me ajudar, mas não quero estragar
o relacionamento dele com Rose. Eles estão se dando bem...

Heitor sentiu um calafrio percorrer seu corpo só de imaginar seu irmão casado com
Emanuelle. Mesmo sendo por aparências, ele daria um jeitinho para se aproveitar. Sentiu-se
confuso, fora pego de surpresa. Olhou para Manu, estava atônito.

— Posso dar a resposta mais tarde? — perguntou sem saber o que dizer. Quem sabe mais
tarde ela tivesse mais juízo naquela cabecinha linda e repensasse aquela loucura de proposta.

— Claro, sem problemas. Meu advogado já tem toda a documentação pronta, caso você
queira posso lhe enviar por e-mail também.

Uau! Então ela tinha advogado particular e já estava tudo no papel? Vendo-a levantar-se,
ele ergueu-se também.

— Pode enviar, sim — falou no automático, entregando a ela o seu cartão com o e-mail.

— Eu já tenho seu e-mail, Heitor, e acabei de enviar — falou fechando o celular.

— O caso é sério, então?! — arregalou os olhos.

— Sim, mas não se preocupe, sua liberdade será intocada. — Sorrindo ela garantiu.

— Não é o que me preocupa, Emanuelle — falou ele, sentia seu coração vibrar só de estar
perto dela.

E era isso que o preocupava, só aquela pequena visita ao seu escritório já tinha virado sua
cabeça, imagina estar casado com ela e não poder tocá-la. Ela saiu, deixando-o pensativo.

Leu o contrato que ela tinha enviado e quase riu. Era simples, porém muito claro, inclusive
com a parte do sexo, que estava bem especificado no contrato. Ela era doidinha! Ele adorava isso
nela.

Manu estava ansiosa com a resposta de Heitor. Ele teria que pensar rápido ou seu tio
descobriria a verdade sobre ambos. Seria um casamento tranquilo, pensou. Heitor teria liberdade,
e como quase sempre estava viajando, quase não se veriam. Passaria toda agenda para ele ficar
por dentro de quando estivesse em casa, e também datas especiais que tanto ela quanto ele não
poderiam esquecer.

Sabia que ele aceitaria, estavam na mesma situação... Claro, faria o máximo para ser uma
boa companhia, afinal, era uma garota sociável.

Estava prestes a fazer trinta e dois anos e sentia-se muito jovem, mas no testamento estava
claro que para manter as aparências, formar uma família antes dos trinta era primordial. Era uma
cláusula que ela não podia ignorar.

Manu mal podia acreditar que em pleno século XXI ainda existissem casamentos
arranjados e testamentos como aqueles. Por sorte, tanto ela quanto Heitor poderiam continuar
agindo como bem desejassem, porém, claro, sem prejudicar a farsa dos dois.

Sentada na sua sala, Manu deu um pulo quando o celular tocou. Era Heitor. Apreensiva,
atendeu-o:

— Por que demorou tanto para retornar? Sou uma opção tão ruim assim? — brincou.

— Posso ir à sua casa hoje à noite? — Foi o que ele disse.

— Claro, que horas? — Manu concordou rapidamente.

— Sairei da empresa sete da noite, passo em casa e vou depois.

— Espero você às oito horas então. Posso pedir algo para comermos?

— Fique à vontade.

— Combinado, aguardo você. Vou mandar o endereço no seu celular.

Heitor nunca tinha ido à casa dela, mas pensou que seria como de boneca, pois ela se
parecia com uma, linda e delicada.

A princípio Heitor se preocupou com sua mãe, pois infelizmente ela não havia simpatizado
com Emanuelle, apenas pelo fato de ela ser sobrinha de Afonso, e não a filha. Elizabeth tinha a
mente fechada e pensava que ricos só deviam manter laços com outros ricos. Mas para Heitor o
principal era o caráter, e por isso aceitaria a proposta de Emanuelle. Só de ter cuidado de Roger,
sendo ele insuportável, sentia que devia muito a ela.

— Senhor, seu pai o aguarda na sala dele. — Jéssica informou Heitor: — Sua mãe está
com ele.

Heitor olhou-a assustado, pois sua mãe quase nunca aparecia na empresa. Levantou sem
cerimônia e foi ao encontro deles. O rosto de sua mãe estava com marcas de preocupação.

— Aconteceu algo, mamãe? — Foi até ela e lhe beijou a face.

— Comprei as passagens, mas seu pai não quer me acompanhar. — Sua mãe falou.

Heitor cruzou os braços sobre o peito, já sabia do que se tratava.

— É quando a viagem? — perguntou.

— No final desse mês — disse ela, e fazendo cara de choro continuou: — Ele só vai se
você pegar a presidência da empresa.

— Acho que já falamos sobre isso antes, mamãe, e ainda continuo com a mesma decisão.

— Sabe, meu filho... — Seu pai lhe dirigiu a palavra: — Acho estranho que com tantas
mulheres aos seus pés, você ainda tenha dúvidas. No baile as garotas estavam eufóricas para
serem escolhidas... Não havia nem uma com a qual pudesse se casar, mesmo que apenas para
desfrutar de sexo? Ou, pode ser que você não goste de mulheres e estejamos enganados —
provocou.

Elizabeth revirou os olhos, mas concordava com seu marido, sem pensar duas vezes
perguntou:

— Filho, você é gay?

Heitor balançou a cabeça, indignado com a atitude e pergunta dos pais. Sarcasticamente
respondeu:

— E se fosse, qual o problema? Eu teria a mesma liberdade de escolher o momento e a


pessoa certa.

Elizabeth se aproximou:

— É claro, meu querido, você tem toda a razão, mas já não aguento viajar sozinha. Ficar
em casa sozinha, sendo que seu pai só sairá da empresa depois que você estiver no comando.

— Percebo que a felicidade de vocês é diferente da minha. Mas já que querem uma noiva,
vocês terão, mas será da minha escolha — anunciou.

— Verdade? Vai escolher alguém? — Elizabeth ficou feliz e bateu palmas de felicidade,
beijou a face do filho. — Sei que fará a melhor escolha, meu querido — disse ela.

— Isso, meu filho, mostre sua capacidade. — Seu pai foi até ele e bateu a mão em seu
ombro.

Heitor saiu da sala, deixando os dois comemorando a pequena vitória, mas será que depois
de saberem da sua escolha, receberiam a notícia com tanta alegria como agora? Tinha suas
dúvidas.

Foi até a sua sala, pegou suas coisas e foi embora. Estava louco para encontrar Emanuelle.
Se antes achava tudo aquilo uma loucura, agora só esperava que ela não tivesse mudado de ideia.

— Venha aqui para casa, Manu. Eu e Roger vamos assistir TV e comer pipoca
amanteigada, aquela que você ama — dizia Rose ao telefone.

— Hoje não, Rose, tenho um jantar de negócios — disse Manu, disfarçando.

— Sei que, se quiser, pode cancelar essa reunião — Rose insistia.

— Se não fosse importante eu cancelaria, mas infelizmente é inadiável.

— Na próxima você não escapará de mim.

— Logo teremos um programa juntos, prometo, beijos.

— Beijos.

Assim que Rose desligou, Roger se aproximou e a beijou.

— Manu gosta muito de trabalhar, assim como Heitor, é impressionante — disse ele.

Rose ficou ouvindo Roger falar das semelhanças entre os dois e sorriu.

— Imagine os dois juntos! Seria muito bom, não é? — falou ela, empolgando-se.

— Vamos marcar algo para nós quatro, o que me diz? — Roger sugeriu.

— É, pode dar certo sim. Seríamos a flecha do amor — brincou.


— Flecha do amor, mas repletos de fogo. — Agarrando-a pela cintura Roger a beijou
intensamente.

Rindo, ela sentou-se no colo de Roger. A noite seria maravilhosa! Estava empolgada com o
rumo que sua vida havia tomado. Roger estava sendo um parceiro único, e ela sentia-se outra
pessoa, cada vez mais especial. As noites nunca mais foram tediosas desde que ficaram juntos.

Emanuelle resolveu fazer ela mesma o jantar: uma macarronada ao molho branco e
almôndegas, serviria com vinho suave e de sobremesa sorvete de creme com Petit Gateau.
Queria causar uma boa impressão no futuro noivo. Já estava tudo pronto quando o escutou
batendo na porta. Havia deixado autorizado com o porteiro a entrada dele no prédio.

Ao abrir a porta deparou-se com um o gato chamado Heitor. Seu coração mais uma vez
bateu forte. Ele era maravilhoso. É, não seria nada penoso casar-se com ele.

— Chegou na hora certa. Venha comer enquanto está quente — falou ela dando passagem
para ele entrar, depois de receber um beijo no rosto.

— Já pediu o jantar? O cheiro está ótimo — elogiou.

— Resolvi fazer eu mesma, hoje cheguei mais cedo — contou ela.

— Opa, você quem fez o jantar?

“Uau! Além de linda, faz a própria comida!”, pensou Heitor.

Geralmente mulheres que tinham vidas corridas como ela compravam comidas prontas.

— Vamos ver se já pode casar — brincou para aliviar o constrangimento.

— É simples, nada de especial. — Rindo Emanuelle o levou até a mesa e o serviu. —


Gosto de cozinhar, quando vou à casa de Rose, deixo um estoque na geladeira para ela.

— Acho que vou querer ter esse estoque, pois está uma delícia o macarrão. — Heitor
elogiou ao dar a primeira garfada.
— Obrigado. Será um prazer — respondeu servindo-se também.

Eles conversaram sobre o trabalho e outras amenidades, até que na hora da sobremesa ele
contou:

— Hoje fui abordado por meus pais novamente sobre o assunto de casamento. Eles não
desistem.

— Então não terá como fugir de mim, a não ser que tenha recebido outra proposta mais
interessante — Emanuelle brincou.

— Vejo que não vou fugir de um casamento arranjado — disse Heitor.

— O cerco está fechado para você. — Ela soltou uma gargalhada.

— É, não terá jeito — Heitor sorriu desconcertado, mas concordou: — Se sua proposta
estiver de pé, eu aceito casar contigo.

— Oh, Heitor! Você me fará a mulher mais feliz desse mundo aceitando casar-se comigo.
— Levando a mão no peito teatralmente Emanuelle brincou, mas por dentro ficou mexida com
aquele sim. O coração saltava e saltava.

— Você é inacreditável, Manu — disse ele olhando-a intensamente.

— Brincadeira, mas você leu o contrato?

— Li, e confesso que é bem direto.

— Pois é — disse ela, muito sem graça, pois lembrou da parte do sexo. — Quer que altere
algo ou aumente?

— Por mim está perfeito. Você está certa disso, Manu? É algo sério, mesmo que seja só
por um ano...

— Estou sim, não posso arriscar, Heitor, mas e você está convicto que aceita?

— Pelo que vi hoje, não vejo saídas, Manu. — Olhando ao redor perguntou: — Você tem
uma caneta aí?

— Sério! Tenho!

Emanuelle foi até a escrivaninha e pegou a caneta, ambos assinariam o contrato que
mudaria a vida deles a partir daquele momento.
— Mas antes, queria lhe fazer uma pergunta — disse Manu.

— Claro, fique à vontade.

Ela estava sem graça, mas tinha que tocar naquele assunto, era primordial.

— O sexo... — falou. Percebeu que Heitor mudou ao falar a palavrinha mágica, mas
continuou: — Será um ano, é um tempo longo. Sei que pode acontecer de nos envolvermos,
sabe... De sentir desejos. Sendo assim, se acontecer, não me oporei de ter relações contigo
durante esse período, mas caso tenha alguém, fique à vontade, só peço que seja discreto, para que
nosso trato não seja descoberto.

Heitor arregalou os olhos. Era um assunto estranho para falar assim tão abertamente. Era
algo íntimo demais. Sentiu que ela não queria que ambos se envolvessem com mais ninguém
durante o tempo solicitado no contrato. Um ano!

— Tudo bem, o mesmo digo para você, pois não há ninguém na minha vida — falou
sincero.

— Meu querido Heitor, qual é o homem que teria interesse em uma mulher que mal se vê,
que vive viajando? — Ela assinou e passou para ele. — Não tenho ninguém também.

“Quê? Todos queriam uma mulher como ela! Só ela parecia não perceber”, pensou Heitor.

— Prontinho, a partir de agora já somos noivos. — Heitor levantou e tirou uma caixinha do
bolso, depois entregou-a para ela. — Espero que goste.

Sério? Manu ficou de queixo caído.

— Você pensou em tudo! — Estava encantada. Abrindo a caixinha Emanuelle pegou o


anel, examinou a pedra e exclamou: — Nossa, como é lindo! Prometo cuidar dele enquanto
estiver comigo.

“Um ano...”, ambos pensaram.

— Eu sei que vai, Manu.

Heitor colocou o anel no dedo dela e ficou feliz ao ver que ela havia gostado, e ainda mais
feliz depois do abraço que recebeu.

— Mais uma vez, Heitor, muito obrigada por estar me ajudando.

Abraçado a ela, Heitor agradeceu a Deus internamente por ser ela a sua companheira de
negócios. Linda, agradável, e acima de tudo cheirosa.

— Ah, sábado teremos um jantar em minha casa, então se prepare, pois mamãe lhe
bombardeará com perguntas — disse quando ela o soltou.

Ele a seguiu até o sofá, onde se sentaram. Ainda achava surreal o que tinham acabado de
fazer, mas não desistiria.

— Vamos ter de convencê-los que realmente estamos apaixonados — falou ela.

— Poderei beijá-la? — Raspando a garganta ele perguntou. O simples imaginar o deixou


com água na boca.

— Hum, sim, senão ficará estranho. — Emanuelle não tinha se lembrado disso.

Manu olhou o anel em seu dedo e não soube explicar, mas o que sentiu ao ver o anel de
noivado era mais do que podia imaginar. Nunca havia passado por sua cabeça usar um, muito
menos em uma farsa. Mesmo assim estava feliz. Era estranho, mas estava muito feliz!

— Teremos de conhecer um ao outro — disse ele deitando-se no sofá.

— Certo. O que mais gosta de fazer nas horas vagas?

— Gosto de ler, nadar, fazer longas caminhadas.

— Então já temos algo em comum, tirando o nadar, amo ler e fazer longas caminhadas...
Ah, e cozinhar! — disse ela.

— Hum, acho que vou passar bem — Heitor sorriu.

Ficaram em silêncio por segundos, cada um tentando adivinhar o que passava na cabeça do
outro.

— Algo a preocupa? — vendo-a pensativa ele perguntou.

— Tenho medo de não convencer ninguém. Não sou boa com mentiras.

— Fique tranquila. Já que vamos fazer isso, seremos uma dupla perfeita. — Sentando se ao
lado dela ele segurou sua mão e a acalmou.

Conversaram mais um pouco e Emanuelle mais uma vez agradeceu por ele ter aceitado a
proposta, depois despediram-se com um abraço e um beijo no rosto. Acabavam de noivar e
despediam-se como amigos... Manu achou graça.
O que mais desejava era que ambos não saíssem machucados dessa história.
Capítulo 4 — Notícia Inesperada

A vida é uma caixa de surpresas. Quando menos esperamos surge uma


novidade.

Estava noivo! Agora deveria enfrentar Dona Elizabeth Damasceno, sua mãe. Sabia que
seria loucura acreditar que ela aceitaria sua escolha, mas uma coisa era certa, seus pais não
poderiam negar que seus desejos se concretizariam. Enfim se casaria. Não era isso que tanto
desejavam?

Sabia que sua mãe esperava por Nicole ou Diana, entretanto, pela primeira vez algo tinha
saído do controle de Elizabeth. Era até engraçado, precisava admitir.

O celular tocou, era uma mensagem de Emanuelle avisando que acabara de chegar à casa
dele para o jantar com sua família. Não ia ser fácil contar a novidade, mas Roger lhe ajudaria
quando visse quem era sua noiva.

Estava ansioso para revê-la. Ela era uma pessoa carismática, amiga e educada. Heitor
desceu para encontrá-la com uma animação interior que não sabia ainda definir. Estava
empolgado.

Ao vê-la ele sorriu, como ela estava linda! Ficou imaginando se algum dia a veria
desarrumada, acabando de acordar ou saindo do banho. Com certeza seria perfeita do mesmo
jeito. Sorriu ao se dar conta que sim, provavelmente a veria em tais condições, se casaria com
ela.

— Pontual, senhorita — saudou-a observando.


— Ansiedade, senhor, me faz antecipar ações.

— Bom saber... — Dando-lhe o braço ele brincou: — Pronta para enfrentar sua futura
sogra?

— E como estou — disse ela aceitando o braço que ele lhe oferecia. Percebeu que ele
estava preocupado, sendo assim, o tranquilizou: — Heitor, já trabalhei com pessoas muito mais
complicadas que sua mãe, vamos nos dar bem, sei que vamos.

Emanuelle observou que a casa deles era moderna e requintada. Tinha que concordar que
Elizabeth possuía muito bom gosto. Moravam em dos mais conceituados condomínios de
Florianópolis. Quadros com fotos da família estavam espalhados pela sala, mostrando o quanto
ela gostava de exibir sua família aos visitantes.

— Manu?! — Roger pareceu surpreso ao vê-la.

— Olá, querido Roger.

Ele encarava o casal de braços dados como se não acreditasse no que estava diante de seus
olhos. Será que estava vendo bem?

— Eu e Emanuelle estamos noivos. — Heitor contou.

— Quê? Uau... — Roger balançou a cabeça concordando, mas ainda encarando-os


aturdido. Aquela era uma notícia surpreendente.

— Algum problema, Roger? — Emanuelle perguntou preocupada que ele não aprovasse,
que seu relacionamento com Heitor causasse algum desconforto.

— Não, desculpe, só não esperava que fossem se arranjar tão rápido. — Logo sorriu,
comentando: — Era o que eu e Rose esperávamos, porém não tão rápido assim.

— Pois é, irmão, e vamos enfrentar a fera agora.

— Não vejo problema algum, Heitor. Eles queriam que você tivesse alguém na vida. Se
sua escolha foi a Manu, terão de aceitar, cara... — Abraçou o irmão e depois Manu. — Parabéns
pelo noivado, cuide dessa gatinha, hein?

— Fala sério, que drama, Roger — resmungando Emanuelle retribuiu o abraço do amigo.

— Qual o motivo de alegria aqui, meu povo? — Rose perguntou aproximando-se deles.

— A noiva do Heitor é a Manu — Roger se adiantou e respondeu.


— Está brincando?! — E foi a vez de Rose ficar paralisada, de boca aberta olhando
fixamente para Emanuelle.

Para disfarçar Emanuelle abraçou Heitor que, entendendo a ação dela, fez o mesmo.

— Algum problema conosco? — Heitor indagou.

— Claro que não, mas Manuuuu... Eu sempre conto a você tudo sobre mim — Rose estava
sorrindo, mas indignada por não ter sido avisada.

— Queríamos fazer surpresa — explicou-se Manu, torcendo para a prima entendê-la.

— E fez sim, viu? Vem cá, me dá um abraço. Você sabe que Elizabeth aguardava outra
pessoa, né? — Rose cochichou no ouvido de Emanuelle.

— Sei, sim, mas ela não vai ter sempre tudo o que quer não, Rose — Emanuelle respondeu
tranquilamente.

— Ah, ainda bem que você é durona e já está acostumada a lidar com pessoas como ela —
Rose disse, aliviada.

— Acho melhor nos juntarmos aos demais, ou mamãe virá nos buscar — disse Heitor.

— Tem mais pessoas aqui?

— Essa casa não para, Emanuelle, é mais movimentada do que meu escritório.

Emanuelle riu de Heitor, ele parecia estar confiante. Esperava que sim, mas à medida que
iam até a mãe dele, sentia algo estranho, um certo nervosismo que crescia dentro dela.

A primeira pessoa que viu foi Tonny Damasceno, pai de Heitor. Assim que bateu os olhos
no casal ele sorriu, era como se já esperasse vê-los juntos.

— Doce Emanuelle, que prazer recebê-la em minha casa. — Ele levantou-se, foi ao
encontro dela e beijou-lhe o dorso da mão. — É sempre bem-vinda aqui, querida.

— O prazer é meu, senhor Tonny. — Sorrindo, Manu agradeceu.

— Nada de senhor, já que fará parte da família, diga apenas Tonny. Venha, junte-se a nós.
— Voltando-se para o filho ele parabenizou: — Perfeita a sua escolha, meu filho.

Ao longe Elizabeth se contorcia como uma cobra raivosa, estava nítido em seus olhos a
contrariedade, mas ela sabia disfarçar, ou ao menos pensava que sim. Sorrindo encaminhou até
Emanuelle.
— Seja bem-vinda, querida — cumprimentou.

— Obrigado, senhor...

— Apenas Elizabeth — foi interrompida —, vamos deixar a formalidade de lado.

— Obrigada, Elizabeth.

Rose pegou-a pela mão, levando-a para junto das mulheres sentadas tomando drinks. Havia
alguns homens jogando baralho, outros sinuca. Manu se sentia estranha, deslocada.

Em pleno sábado, dia de estar com a família, e aquela casa estava repleta de amigos. Bom,
teria de se acostumar se quisesse que o plano desse certo.

Descobriu que a mãe de Nicole era amiguíssima de Elizabeth, com certeza a veria muitas
vezes por ali. Sentando-se ao lado de Rose as duas deixaram aquelas desconhecidas de lado e
tentaram colocar a conversa em dia. Fazia alguns dias que não se falavam, pois às vezes a vida
de Emanuelle era uma loucura, de tão agitada.

Sem que percebesse, deixou a prima tagarelando e pôs-se a observar os demais ali na casa,
os únicos que pareciam envolvidos na conversa eram Heitor e Tonny. Elizabeth se aproximou e
falou algo. Eles levantaram e saíram da sala. Nesse momento Rose parou de falar e ficou em
silêncio, alguns minutos depois comentou:

— Ela precisava de uma reunião logo agora?

— Não existe hora certa para se falar entre familiares, Rose. Deve ser algo que não
poderiam deixar para depois. Nesse ponto entendo Elizabeth.

— Isso é verdade.

Ficaram caladas por um longo tempo, depois Emanuelle perguntou:

— Onde é o banheiro, Rose?

— Vou lhe mostrar. — Ambas se levantaram e saíram juntas da sala.

— Essa casa é enorme e linda, agora entendo as revistas de decoração quererem tirar fotos
daqui. — Rindo brincou: — Estou imaginando eu morando em um lugar como esse, faríamos
festa do pijama todo final de semana.

— E convidaria as doze garotas?!

— Ai — fazendo careta balançou a cabeça, negando: — E ter de dividir nossos gatos com
elas?! Não, vamos brincar sozinhas... — Ambas riam diante da brincadeira.

Antes que entrassem no banheiro escutaram Elizabeth falando, sua voz mostrava o quanto
estava nervosa, as palavras eram um tanto incoerentes, contudo, sabiam de quem ela estava
falando.

— Ela briga por causa de tudo, mas logo se acostumará — Rose tentou disfarçar. Passou a
mão no ombro da prima e apontou o banheiro.

— Sei de quem ela está falando, Rose. Já vim preparada. Ela não me afeta nem um pouco,
pelo contrário.

— Você é forte, Emanuelle. Se fosse comigo, eu estaria perdida. Ela já teria me colocado
no porta-malas do carro e me jogado no mar.

Manu balançou a cabeça, indignada com as palavras de Rose. Entrou no banheiro e pensou
na confusão que aquilo ia dar. Sua prima estava enganada, era mais frágil do que podia imaginar.
Contudo, não deixava que ninguém visse o quanto palavras podiam afetá-la, principalmente por
sua posição financeira.

Lutaria até o fim e obteria sua vitória, Elizabeth teria de engolir aquelas palavras. Não era
uma pessoa rancorosa, mas sabia que muita coisa mudaria na sua vida.

Saiu do banheiro e notou que Rose não a esperava mais. Foi quando ouviu vozes, parecia
uma discussão. Seguindo na direção de onde antes viera, parou em frente a uma porta fechada e
pôde ouvir Elizabeth falar:

— Como foi possível que isso acontecesse? Com tantas mulheres solteiras nesse mundo!
Fiz uma seleção das doze mais belas que eu conhecia. Sem falar na questão financeira! E você
fica noivo justamente da sobrinha do Afonso? — Houve um silêncio, mas ela continuou: — Se
bem que seu irmão foi muito mais esperto, está namorando com Rose, que é filha do dono de
todo o império da Belle´s. Ele sim deveria ser o herdeiro, não você!

— Se é o que a senhora quer, por mim pode deixá-lo à frente da empresa, sem
ressentimentos. — Escutou a voz de Heitor, rebatendo.

— E causar um escândalo ainda maior? Jamais! Seu irmão não está preparado para isso.—
Não deixaria jamais a minha empresa nas mãos do Roger. — Ouviu Tonny interrompê-los. —
Então, Elizabeth, Heitor tem minha benção e aprovação para se casar com Emanuelle.

— Obrigado, pai. Já que falamos o bastante, vou me juntar com os demais e comemorar
meu noivado. Com licença.

Ao notar que tinham acabado a conversa, Emanuelle afastou-se dali para que ele não
percebesse que ela havia escutado parte da fervorosa reunião em família. Chegando à sala
sentou-se ao lado de Rose e logo em seguida Heitor entrou. Ele parecia chateado. Manu sorriu
para tranquilizá-lo de que estava tudo bem.

Mas Manu achou bom saber que Elizabeth não queria uma nora que não fosse rica, assim
saberia melhor como lidar com ela no futuro. Tomou o suco que Rose lhe serviu e encarou
Elizabeth, quando ela e Tonny retornaram à sala e juntaram-se a eles. Notou que sua futura sogra
era boa em disfarçar raiva ou contrariedade. Teria de aprender a lidar com ela o mais rápido
possível, ou os seus planos e de Heitor iriam por água abaixo.

Elizabeth não podia acreditar que seu filho tinha ficado noivo da sobrinha, e não da filha
de um milionário. Onde ele estava com a cabeça? Podia haver algo por trás dos interesses da
garota! Emanuelle era muito inteligente e estava à frente dos negócios do tio no mundo todo. Ela
podia ser uma interesseira ardilosa.

Por outro lado, ela também poderia ser herdeira da empresa dos Everdeens.

O casamento seria discreto e simples, Emanuelle concordou com muitas ideias de


Elizabeth, menos algumas coisinhas exuberantes demais. De fato, era uma mulher que entendia
de festas. Não se esquecia de nenhum detalhe, até mesmo sobre o vestido quis dar palpite,
mesmo sem vê-lo. Entretanto, Emanuelle fez questão de que esse detalhe ficasse apenas entre si e
a costureira, uma antiga amiga de sua mãe.
A mídia estava louca pra saber de todos os detalhes do casamento do primogênito
Damasceno com a sobrinha dos Everdeens.

A tia de Emanuelle fez questão da sobrinha sair na capa da Revista Belle´s, cujo dono era
um antigo amigo de faculdade de moda em Paris. Era uma famosa revista voltada apenas para
noivas, onde apresentavam vestidos, decorações, tendências e profissionais de primeira mão.

Por respeito à sua tia, Emanuelle aceitou o desafio. Não era fácil tornar-se alvo de
publicidade e modelo da noite para o dia.

No dia da tão aguardada coletiva de imprensa de ambas as empresas, Heitor e Manu


conseguiram enganar a todos sobre o que realmente acontecia no noivado deles. Emanuelle tinha
que admitir, estavam se saindo muito bem. Ninguém duvidava da sintonia e do “amor” deles.

Faltavam exatamente duas semanas para o casamento e ainda não haviam decidido onde
iriam morar. Tonny havia oferecido uma casa no Residencial Floratta, mas Emanuelle não se
sentia à vontade para aceitar, a casa era exageradamente grande e iriam se perder nela. Ademais,
não se imaginava dentro de um lugar todo decorado por outras pessoas. Decidiram-se por outro
apartamento, no condomínio Orquídea. Tanto ela quanto Heitor sentiram-se mais confortáveis
com a decisão, mesmo que fosse um casamento por aparências, ficariam próximos do centro da
cidade e facilitariam a ida para seus trabalhos.

Os dois foram ao apartamento com Rose e Roger, conferir o que faltava para que o mesmo
se tornasse habitável. Ela optou por uma decoração simples, mas com classe. As cortinas e
móveis tinham cores claras, dando um ar neutro ao ambiente. Na presença de Roger e Rose eles
decidiram qual seria a suíte do casal, mas depois, sabendo dos dois quartos de hóspedes
disponíveis, disfarçadamente Heitor apontou para um deles, para que Manu soubesse que ele
dormiria no quarto ao lado do seu.

— Podíamos marcar de uma vez por semana jantarmos juntos ou assistir a um filme, algo
assim. — Empolgada Rose sugeriu.

— Amei a ideia, Rose — concordou Emanuelle. — Só que vamos deixar para combinar
quando eu estiver sem viagens marcadas.

— Ih, então vai demorar. É, Heitor, terá de aproveitar quando sua futura esposa estiver
casa. Ela anda sempre muito ocupada — disse Rose.— Sim... Mas não irá faltar momentos bons
entre nós — garantiu Heitor, aproximando-se de Emanuelle e abraçando-a. Precisava ser
convincente, mas o simples abraço mexeu com ele. Não tinha como ser indiferente a uma mulher
tão bonita.

— É verdade, vamos ajustar nossas agendas para ficar mais fácil — disse Manu, sentindo o
coração bater mais forte. Soltou o ar devagar dos pulmões e sorriu.

Rose estava feliz com tantas mudanças, tanto na sua vida quanto na de sua prima. Era um
grande passo que estavam dando.

Já a sós no apartamento, Heitor estava encantado com as escolhas feitas por Emanuelle.
Admirou a simplicidade e bom gosto dela, o apartamento havia ganhado mudanças nos lugares
certos, estava aconchegante e belo. Considerou que aquela proposta saísse melhor do que tinha
imaginado. Para melhorar, ela havia preparado até mesmo um almoço para eles.— O que a
preocupa, Emanuelle? — Heitor perguntou depois do almoço, quando saíram do apartamento e
já estavam no carro.

— Nunca menti para Rose. É estranho vê-la tão empolgada e não poder contar que é tudo
uma mentira. Isso me deixa mal. — Não se aflija agora. Vamos achar a melhor oportunidade e
contar tudo para ela, sei que ela irá entender perfeitamente — prometeu ele, tirando a mão do
volante e tocando sua face.— Obrigado por tudo que está fazendo por mim, Heitor. — Sorriu
agradecendo.

— Nós dois devemos estar agradecidos, pois precisávamos de uma saída e você conseguiu
a melhor maneira.

Heitor voltou atenção para o trânsito. Aquele era um horário de grande movimento. Sorriu,
sentindo-se um homem de sorte. Teria uma pessoa maravilhosa como esposa, uma perfeita
profissional e ainda uma amiga. Seria por um ano... Não seria nenhum sacrifício.

Ultimamente estava ficando complicado morar sozinho, não ter com quem conversar ou
planejar algo. Ao menos no tempo em que estivessem juntos, poderiam aproveitar tais momentos
e serem amigos.
Capítulo 5 — Casamento

“Amor é uma palavra pequena, mas é a libertação na vida de muitos!”

Infelizmente a vida nos leva a lugares que jamais imaginamos que colocaríamos os pés,
mas que, no fim, é necessário. Desde que Cassandra havia sido presa, Manu nunca tinha ido
visitá-la, contudo, os últimos acontecimentos fizeram com que finalmente fosse até ela. Precisava
saber de muita coisa. Apesar de tudo que passaram, devia sua vida a ela.

Depois de tanto tempo sem se verem, ambas ficaram paradas sem saber como iniciar
aquela conversa, até que Cassandra apontou para um banco e ali se sentaram.

— Confesso que me assustei quando fui informada que você viria me visitar. Está tudo
bem?! — Cassandra perguntou, preocupada.

— Vou me casar. — Emanuelle contou sem delongas. Apesar da surpresa, Cassandra a


olhou feliz, satisfeita com a notícia.

— Bom então, devo parabenizá-la, desejo que tudo seja lindo e que...— Com Heitor
Damasceno — Emanuelle a interrompeu, observando bem o rosto dela.

Cassandra mudou completamente suas expressões.

“Estou ouvindo direito?”, pensou.

— Com tantos homens no mundo, com tanta gente para conhecer nessas suas viagens e
você vai se casar justo com um Damasceno? — criticou.
— Pelo que sei, são homens maravilhosos e disso a senhora sabe melhor do que eu —
Emanuelle não desviava os olhos dela. — Mas vim aqui por outro motivo, afinal, o que existe na
fundação da Belle´s que vocês nunca me contaram?

— Não estou entendendo, Emanuelle. Sabe que seu tio Afonso comprou a parte de seu pai.

— Só isso? — indagou, insatisfeita com a resposta. — Não sabe de mais nada? —


perguntou novamente.

Cassandra se perguntava aonde Emanuelle queria chegar com aquela pergunta, depois de
tantos anos!

— Você conhece a Belle´s melhor do eu. E seu tio Afonso poderá contar o que quiser
saber, ele que fundou a empresa junto com seu pai, ambos eram sócios. Mas depois seu pai
vendeu sua parte e é só isso.

Emanuelle viu que a visita à Cassandra não lhe ajudaria em nada. Realmente ela não sabia
de nada sobre a empresa. Olhou em volta e viu as demais presidiárias e seus familiares. Mesmo
estando ali por algum erro, todas tinham uma vida fora das grades. Mas Cassandra havia
destruído qualquer laço com a sua, estava sozinha e raramente recebia uma visita. Manu ficava se
perguntando até onde a ganância e a vingança pode levar uma pessoa.

— Está precisando de algo? — Voltou-se para ela e perguntou.

— Tenho tudo que quero aqui dentro. Nada mudou, Emanuelle. Já era para eu estar
cumprindo pena no semiaberto, entretanto, prefiro ficar aqui onde sou bem recebida e bem
tratada. O que tem para mim lá fora?

Emanuelle sentiu um aperto no peito. Embora Cassandra tivesse destruído a própria


família, não conseguia esquecer o que tinha feito por ela no passado. Foi então que perguntou:

— Logo será meu casamento e gostaria de tê-la junto de nós.— Você é uma mulher
madura e tem direito de fazer suas próprias escolhas, Emanuelle — disse Cassandra. — Mesmo
eu não concordando, sabe disso. Não faz parte das minhas escolhas estar no mesmo ambiente
que a família Damasceno. Espero que essa escolha te traga felicidade, pois no passado as minhas
escolhas me fizeram parar aqui.

— É o que espero também. — Emanuelle olhou o relógio na parede e se despediu: — Já


está na minha hora, tenho que sair daqui e ir direto para o aeroporto.

— Outra viagem? Seu tio anda sugando mais seu tempo do que eu imaginava.
— Acho melhor do que ficar sozinha em casa — respondeu Manu.

— Sei que não sou uma pessoa exemplar, embora tenha errado apenas por acreditar que
estava cuidando da minha família. Mas peço, Manu, que não desperdice sua vida por trabalho. Se
vai casar, cuide de seu esposo e exija que ele cuide de você. Contudo, me prometa que irá se
divertir, viver a vida. Esse foi um erro que seu pai cometeu e que não desejo para você.

— Obrigada, Cassandra. — Deu-lhe um abraço rápido saiu. A conversa tinha mexido com
ela.

— Adeus, minha pequena Manu.

Cassandra ficou ali parada olhando-a sair. Havia tantas palavras que queria dizer. Quantas
vezes pensou em dizer a verdade a ela? Mas tinha medo de Emanuelle não acreditar. Agora, o
casamento com Heitor não fazia o menor sentido para Cassandra.

Os dias se passaram e o momento aguardado havia chegado. O telefone tocou e Emanuelle


assustou-se, não estava esperando ligações naquele dia e poucas pessoas sabiam do número do
telefone do seu apartamento. Ficou encarando o aparelho por alguns segundos sem ter coragem
para atendê-lo.

Enfim atendeu, poderia ser importante. Sentiu alívio ao ouvir a voz de Heitor do outro lado
da linha.

— Tudo bem? — Sem hesitar ele perguntou.

— Estou sim. E satisfeita por ter ligado. — Ela fez uma pausa tentando disfarçar a
ansiedade. — Chegou o grande dia, realmente vamos nos casar! — exclamou sentindo um
tremor no peito.

— Vamos sim — confirmou ele sorrindo ao telefone.

— E você, como está? — Emanuelle murmurou.

— Tranquilo. Daqui a algumas horas teremos a certidão de casamento e nossos problemas


serão resolvido — respondeu confiante. — Emanuelle, não se preocupe, você terá sua liberdade
como sempre teve.

Manu queria poder falar que havia muitas outras coisas para se preocuparem, contudo
aquele não era o momento para dialogarem sobre aquilo.

— Digo o mesmo a você. Também terá sempre a sua liberdade — falou mais por
educação. O simples fato de imaginar-se casada com Heitor e pensar que ele pudesse se envolver
com outras mulheres a incomodava sim.

— Então vou deixá-la descansar. — Ele comentou, com o sorriso na voz.

— Vou mesmo — confirmou ela deitando-se no sofá.

— Vejo você mais tarde — concluiu Heitor.

— Não se atrase, pois sou pontual. — Ela o avisou.

— Que bom!

Emanuelle chegou e aguardou dentro do carro, como haviam combinado. Sem aviso o
carro de Heitor encostou ao lado do seu no estacionamento. Aliviada, ela desceu do carro
ajustando o vestidinho, um tubinho mídi cor creme com um zíper nas costas que acentuava suas
curvas nos lugares certos. O decote era discreto, estava elegantemente vestida para seu
casamento. Heitor caminhou até ela, olhando-a com ar de aprovação. Ela também percebeu o
quanto era uma mulher de sorte. Seu futuro esposo estava elegante, de uma forma que não
saberia explicar, estava mais que sexy naquele terno azul-escuro, os cabelos arrumados, um
perfume delicioso.

— Uau, você está maravilhosa! — Ele cumprimentou beijando-a na face, sorrindo e


fazendo seus olhos brilharem.

— Você não está nada mal. — Ela deu piscadela sorrindo. Estar tão próxima a ele a deixou
encabulada de repente. — Pronta? — ele perguntou oferecendo o braço para que ela se apoiasse.
— Sim, entretanto ainda não vi nossas testemunhas. Será que já chegaram? — Olhando em
volta Emanuelle procurava por Roger e Rose.

Heitor, também preocupado, pegou o celular e ligou para Roger.

— Cadê vocês? — perguntou.

— Estamos aqui dentro do cartório, irmão — Roger brincou. — Desistiu do casório?

Por um instante Heitor olhou para Emanuelle, pensou na possibilidade e respondeu:

— Jamais... Já estamos entrando — disse estudando a mulher linda ao seu lado.

Entraram e perceberam que Rose e Roger os aguardavam. Trocaram abraços e


cumprimentos. Rose, como sempre, estava emocionada e parecia tentar se conter. Emanuelle
sentiu-se horrível por estar mentindo para ela, mas era necessário, ao menos por um tempo.
Depois pediria todas as desculpas do mundo.

Logo estavam em frente ao juiz e ao lado das testemunhas. Poucos minutos depois
colocavam a aliança prometendo perante aos presentes que estariam um ao lado do outro por
todos os momentos ruins ou alegres durante a vida de casados. Heitor sentiu o peso daquela troca
de promessas com Emanuelle, fazendo entender que a partir daquele momento eram marido e
mulher perante a lei. Estavam casados. Mas não era apenas a aliança no dedo que sugeria uma
mudança em suas vidas, foi o que aquilo passou a significar para ambos.

O certificado foi entregue, provando que eram um do outro conforme precisavam perante
as circunstâncias. Emanuelle e Heitor se olharam com cumplicidade e gratidão, depois sorriram.

Certo nervosismo tomou conta de Emanuelle quando ele encostou os lábios nos dela e
beijou-a suavemente. O coração dela bateu mais forte do que o normal, e o dele também.

— Obrigado, Emanuelle — murmurou ele.

Então eles beijaram-se novamente. Foi um beijo sem promessas, mas que deixou uma boa
impressão nos presentes e um gostinho de “quero mais” nos recém-casados. Voltaram à realidade
e se afastaram para agradecê-los.

— Meu Deus! Não estou acreditando, Manu! Você é uma mulher casada! — Rose toda
sorridente a abraçou.

— Logo será você — sussurrou Emanuelle ao ouvido de sua prima querida, que ruborizou
ao ouvir tal coisa.
Depois de se despedirem, combinaram que à noite se encontrariam na recepção de
casamento que Elizabeth preparava na casa da praia, onde se conheceram. Ambos queriam algo
entre a família, mas no final concordaram em convidar pouquíssimas pessoas para o casamento,
principalmente no cartório. Foi muito difícil convencê-la. A mãe de Heitor queria a imprensa
registrando todos os momentos nos mínimos detalhes.

Ao saírem do cartório, Heitor acompanhou-a até o carro, ambos em silêncio, mas de mãos
dadas. Pararam ao lado do carro.

— Vá na frente que a seguirei — disse ele.

— Com certeza, marido — respondeu ela sorrindo e destrancando o carro. — O melhor


está por vir — falou e tomou o lugar no assento, girando a chave na ignição.

Fitaram-se por alguns segundos. Heitor sentiu-se estranho, aquela mulher era sua esposa!
Mesmo sendo por contrato, sentia-se feliz por ser ela sua parceira de negócios. Como seria viver
ao lado dela ele ainda não sabia, ainda mais sob o mesmo teto. Porém, ansiava por conhecê-la
um pouco mais.

— Nosso compromisso hoje nos guiará para um futuro cheio de perspectivas — disse ele e
ambos sorriram. Um futuro de apenas um ano... Mesmo assim era um futuro.

— Até mais... — Ela murmurou quando fechou a porta e começou a dirigir. — Meu lindo
esposo — disse mais para si.

Emanuelle tinha que confessar que nunca imaginou que seu casamento seria de tal forma.
E ainda mais por contrato! Pelo espelho retrovisor do carro ela o viu entrar no próprio carro e
segui-la. Estavam cada vez mais próximos a cada contato. Seriam bons amigos.

Lembrou-se do beijo que havia selado a aliança entre eles... Lembrou-se da forma como se
sentiu ao ver-se casada com ele. Talvez fossem mais que bons amigos...

Heitor enviou um motorista até o apartamento buscar Emanuelle. Preferiu ir para a casa da
praia onde aconteceria a comemoração do seu casamento. Queria ter certeza que sua mãe não
aprontaria algo, principalmente em relação à imprensa. Alguém tinha que controlá-la.

Na janela do seu quarto que logo teria de deixar, lembrou-se do momento em que viu
Emanuelle pela primeira vez, na praia caminhando com Rose. Mesmo de longe, sem saber quem
era, sentiu que uma forte conexão os manteria juntos. Ela não fazia parte das doze convidadas de
sua mãe na noite do baile, mas havia se tornado sua esposa. No entanto, havia algo que não
poderia se esquecer, aquele era apenas um casamento por contrato. Um negócio que em um ano
venceria o prazo.

O sol se punha e os convidados começavam a chegar. Eram poucos, mas fizeram questão
de marcar presença. Viu Rose e seus pais chegando. Era hora de descer e recepcionar seus
convidados e sua esposa.

Mas antes, como esperado, sua mãe e seu pai apareceram na porta.

— Viemos dar os parabéns, querido — desejou a mãe, mas o abraçou avisando: — Caso
não dê certo, entenderemos.

— Elizabeth! Conversamos sobre isso. — Tonny repreendeu-a. Abraçou o filho dando-lhe


uns tapinhas nas costas: — Muitas bênçãos, nos dê netos logo.

— Se ela for como a mãe... — resmungou Elizabeth para si mesma. — Não está na hora de
receber seus convidados, filho?

Deixaram o quarto dele e seguiram para a recepção de sua união com Emanuelle. Por sorte
sua mãe tinha sido gentil em convidar somente trinta pessoas. Entre elas estavam algumas das
doze garotas, umas felizes outras insatisfeitas, como era o caso principalmente de Nicole.

— Meu querido, imaginei que este dia seria estonteante, porém nos meu sonhos sua esposa
era eu — disse ela beijando-o na face. Depois, maliciosamente completou: — Mas estarei
sempre aqui quando precisar...

— Com licença, Nicole.

Heitor se afastou no momento que seu olhar encontrou os de Emanuelle, magnífica


entrando com o tio dela. Ela parecia uma fada, delicada, sensual naquele vestido longo com uma
fenda que a cada passo revelava sua coxa torneada. Era linda, tinha as curvas perfeitas. O sorriso
era discreto, os olhos pareciam sorrir junto. Havia nela uma luz que Heitor jamais vira em outra
mulher.
Apressadamente foi ao encontro dela e de Afonso, cumprimentou-o e recebeu a mão dela.
Sem demora Heitor tocou-lhe o rosto e a beijou. Queria que aquele momento fosse lembrado
mesmo quando tudo estivesse acabado entre eles. Os fotógrafos que ali estavam não deixariam
que ninguém esquecesse. — Deixem o beijo para mais tarde, queremos aproveitar a noite. Se
assim o pombinhos desejarem. — Roger os fez lembrar que não estavam sozinhos e que os
convidados os aguardavam.

Emanuelle não era de ficar constrangida, mas naquele momento, sem conseguir evitar,
sentiu suas faces queimarem. Ela era o centro das atenções. Sem se afastar de Heitor
cumprimentou e agradeceu a presença de todos os convidados, da família e amigos mais íntimos.

Havia planejado a proposta, feito o contrato, porém não imaginava o quanto seria difícil
encenar estar casando com Heitor por amor. Mas será que estava mesmo encenando
completamente? Claro que não podia dizer que o amava... Longe disso, mas desde que saíram da
presença do juiz sentia-se estranha, algo nele mexia com ela, era nítido para si mesma. Às vezes
sentia o coração esquentar, quando o pegava olhando-a de uma maneira diferente. E ali, ao lado
dele, estava confiante que juntos conseguiriam obter sucesso. Assim como ela desejava alcançar
seus objetivos.

— Moça, queria ter conhecido você em circunstâncias diferentes. — Ele cochichou.

Tentada a dar uma resposta mais criativa, simplesmente disse:

— Sinto em dizer, mas já estou comprometida. — Ela mostrou aliança que ele havia
colocado em seu dedo mais cedo.

Rindo foram se juntar aos demais.

O ambiente era agradável, mesmo com Elizabeth mostrando o quanto estava infeliz com a
escolha do filho. Emanuelle dançava com seu tio, que parecia muito satisfeito com o rumo da
vida de sua sobrinha.

— Seu pai ficaria orgulhoso de você, se transformou em uma mulher incrível — comentou.

— Obrigado, tio Afonso — agradeceu, emocionada com as palavras do tio e com saudades
do pai.

Naquele momento ninguém duvidaria que Heitor e Manu não eram um casal comum,
qualquer pessoa diria que eram os noivos mais apaixonados no dia do seu casamento.

Tinham que admitir, eram uma parceria e tanto. Na hora do discurso Heitor conseguiu de
forma brilhante emocionar muitos e deixar claro que o amor era a base do casamento deles. Foi
bem teatral até certo ponto, mas nem tudo o que disse era mentira. Quando falou do
encantamento por ela, da forma como se conheceram, do quanto a admirava, estava falando a
verdade.

Tudo transcorria da melhor forma possível e a noite seguia tranquila. Os casais estavam na
pequena pista montada ao ar livre, dançando com os noivos. Foi na última música que Heitor
notou o quanto seria difícil ficar ao lado dela sem poder tocá-la como desejava. Tê-la junto de
seu corpo fazia com que a quisesse ainda mais, além de simples beijos. Mas decidiu que focaria
no objetivo e seguiria com a proposta da forma mais honrosa que pudesse.

Já era tarde quando Heitor percebeu que Emanuelle estava cansada, mas os convidados
pareciam que não queriam ir embora. Ele se aproximou dela, que havia sentando junto de Rose e
sua tia.

— Querida, acho que já está na hora de irmos. O que acha? — perguntou.

— Está certo, devemos ir mesmo. Obrigada pela noite incrível, Heitor. — Ela o olhou
agradecida.
Capítulo 6 — Minha vida de pernas para o ar

“A vida nunca é a mesma a partir do momento que outra pessoa passa a fazer
parte dela”.

Os dias e semanas passaram devagarinho para Emanuelle e Heitor. Passavam muito tempo
separados, mas sempre havia um ou outro momento de maior intimidade, como quando assistiam
a um filme juntos, ou quando Manu viu Heitor sair do banheiro enrolado com uma toalha no
corpo, todos os seus músculos aparentes. Teve uma noite que Heitor chegou em casa e Manu
estava dormindo no sofá, linda! Teve vontade de carregá-la no colo até o quarto. Era difícil
conterem-se. Às vezes evitavam ficar sozinhos à noite, a química entre eles estava cada vez mais
forte. Muitas vezes, ao chegarem no apartamento, cada um ia para seu quarto e por lá ficavam
algumas horas apenas pensando um no outro.

Por mais que houvesse no contrato de casamento que o sexo era uma opção entre eles,
lutavam contra o desejo e o sentimento crescente.

Certa noite, Emanuelle chegou e foi direto para seu quarto. Ficar com Heitor no mesmo
cômodo estava sendo difícil. Tomou uma ducha rápida e colocou a camisola. Precisava rever
alguns detalhes para apresentar à nova cliente de São Paulo, teria de fazer um café forte, pois as
emoções do dia ainda pulsavam nítidas em suas veias.

Passou na sala e viu que estava tudo silencioso, seria melhor assim. Colocou água para
ferver e aguardou. Colocou o café na caneca e sentou-se na bancada. Era raro ver Heitor
acordado, rondando o apartamento. Já ela, amava ficar ali apreciando seu café e o queijo
fresquinho que havia comprado na feira aquele dia. De repente sentiu que não estava mais
sozinha.

— Atacando a geladeira à noite?! — Heitor entrou na cozinha, comentando.

— E você veio fazer o mesmo? — Emanuelle respondeu rindo.

Heitor não respondeu, tomou água e voltou-se para ela, olhando a intensamente por
instantes. Colocou o copo na pia, dirigiu-se a ela e tocou-lhe o rosto.

— Vou dizer a verdade, não está sendo fácil ficar perto de você sem poder tocá-la... —
disse com a voz rouca, sedutora.

Heitor era um homem gentil, jamais forçaria algo que ela não quisesse. Naquele instante,
ela sabia que o rumo da vida deles mudaria se ela permitisse. Ela o queria tanto quanto ele, tinha
de admitir.

— Nunca o proibi de estar com outras... — replicou Emanuelle. Mas foi interrompida, os
lábios dele já estavam sobre os seus.

Não podiam negar que os dois estavam loucos de desejo um pelo outro. Ele a pegou no
colo e a levou para seu quarto. Como chegaram lá, ambos não saberiam responder, estavam
cegos de paixão. Heitor mal podia acreditar, saber que naquele instante a teria para si, o deixava
com mais tesão.

Colocou-a delicadamente em sua cama e afastou-se um pouco, mas ela o puxou:

— Aonde pensa que vai, Heitor? Agora que começamos não pode parar

— Vou buscar algo... — disse ele, referindo-se à camisinha.

— Quanto a isso, não se preocupe. Tomo pílulas todos os dias.

— Certo — falou voltando a beijá-la.

Aquela mulher era perfeita. Não conseguiam mais ficar afastados. Heitor e Emanuelle
renderam-se um ao outro. A pele, o sabor e o desejo dela era como um sonho gostoso de
saborear. Se fosse um sonho, não queria acordar. Queria cada parte de seu corpo junto dela.
Emanuelle retribuía, deixando-o ainda mais excitado.

Ela sentia-se em um vulcão prestes a entrar em erupção, os sentimentos de ambos estavam


cada vez mais fortes.
A partir daquele dia as noites em que estavam em casa não foram mais vazias e nem se
evitavam mais, depois daquele noite Emanuelle e Heitor mal esperavam entrar no apartamento
para se amarem. O que não imaginavam e nem queriam pensar, era como sairiam daquele
relacionamento ilesos.

Nesses momentos, em que os sentimentos crescem cada vez mais fortes, como rosas de um
jardim, se não são podados, pode vir a machucar com os espinhos mais tarde.

Na Belle´s tudo estava uma loucura, mas Emanuelle não conseguia se concentrar no que
sua tia dizia, ficava pensando em como Heitor havia feito amor com ela. Sentiu algo que jamais
imaginara sentir. Já tinha ficado com outros homens, no entanto, com ele era verdadeiro e
intenso, sabia que tanto ela quanto ele tinham sentimentos além da atração física.

— Posso saber que felicidade é essa? — Soraya perguntou, curiosa com a felicidade de sua
sobrinha.

— É que o trabalho está rendendo, tia Soraya — disfarçou.

— Hum, sei, recém-casada, tenho certeza que tem coisa boa aí nessa história.

Ambas riram, divertidas, porque era a verdade.

Viagens constantes...

Às vezes Heitor sentia-se mal por viajar tanto, sabia que aquilo já não era só um casamento
por aparências e sentia saudades de Manu. Mas era um homem de negócios e a sociedade exigia
a sua presença em eventos. Algumas dessas reuniões ele deveria ir acompanhado da esposa. Era
o caso daquela noite, teria que comparecer ao seu primeiro evento social depois de casado.

Manu tentou ajustar sua agenda com a dele para poder acompanhá-lo, mas era muito
complicado. Algumas viagens não podiam ser adiadas. Mesmo ele dizendo que compreendia, via
a contrariedade no rosto dele.

Esperava por Heitor no balcão da sala, tomando um suco de limão enquanto pensava em
como esses eventos tinham comidas com temperos exóticos que não lhe fazia bem. Assustou-se
ao sentir o toque no seu ombro. Heitor estava pronto.

— Somos o casal mais interessante que já vi. — Rindo ele comentou.

— Por quê? — perguntou sorrindo.

— A mulher é que espera o homem ficar pronto! — disse ele, enquanto ela se levantava,
ficando de frente para ele.

Heitor ficou maravilhado com a visão que teve. Emanuelle usava um macacão moderno,
preto com decote revelando os seios fartos, havia fendas no tecido das pernas, deixando à mostra
suas coxas torneadas, estava simplesmente linda.

— Uau, você está sexy! — elogiou.

Emanuelle aproximou-se mais para ajeitar a gravata dele, sentindo a respiração de Heitor
ficar mais acelerada. Gostava de saber que mexia com ele.

— Obrigada... — Deu-lhe um selinho e agradeceu baixinho. — Tenho que estar


apresentável para o nosso primeiro evento depois de casados.

Heitor a tocou no rosto, mas imaginou tocando-a por inteiro. Contundo, ainda não era o
momento.

— Está linda, acho melhor irmos — raspando a garganta falou.

Divertida ela concordou, pois o ambiente já tinha mudado por ali e parecia mais abafado.
Pegou a bolsa no balcão e o acompanhou.

O evento era no luxuoso Hotel Harris Plaza, lançamento de um novo investimento da


família Harris. Cristina havia se afastado dela desde o casamento de Heitor com Manu. Contudo,
os Damascenos eram sócios, o que tornava inevitável o encontro com ela.

Rose e Roger estavam sentados na mesa reservada para a família, onde Elizabeth também
já estava sentada junto de Roger e Rose. Manu e Heitor cumprimentaram a todos e sentaram-se
de frente para eles.

— Posso ficar sem marido a qualquer momento esta noite. — Divertida Emanuelle
comentou com Rose.

— Por que diz isso, querida?

Discretamente ela mostrou Nicole, Cristina e Diane. Elas estavam juntas e de vez em
quando olhavam para a mesa deles. — É melhor evitar que ele fique sozinho. — Rindo Rose
recomendou.

— Sim, sim, foi o que pensei.

Emanuelle sorriu e virou-se para dar um beijo no rosto de Heitor, mas seus olhos se
depararam com Vinicius, que caminhava até a mesa deles. Só podia ser brincadeira eles estarem
no mesmo evento.

Heitor acompanhou o olhar de Emanuelle, deparando-se com Vinicius já ao lado deles,


sorrindo cinicamente para Manu.

— Olá, querida. — Vinicius pegou a mão de Emanuelle e beijou-a. — Está mais linda do
que da última vez que nos vimos. — Olhou os demais e os cumprimentou formalmente.— Olá,
Vinicius. — Por educação Manu respondeu, mas ficou visivelmente desgostosa de tê-lo
encontrado.

Da mesma forma que chegou à mesa deles, Vinícius saiu, sentando-se com Diane, Cristina
e Nicole.

— Quando será sua próxima viagem? — Rose quebrou o silêncio que pairou sobre eles,
tentando amenizar o desconforto.

— Terça-feira, por quê?

— Poxa, vai ficar uns dias a mais em casa, então? — Heitor comentou sorrindo, animado.

— Queria marcar um jantar lá em casa e ter vocês conosco.— Realmente tem sido raro vê-
la livre do trabalho — Roger falou.

— Estou formando uma equipe que ajudará a diminuir minhas idas e vindas. — Emanuelle
contou.

— Que bom! Você terá um tempo para seu esposo... — Elizabeth se manifestou pela
primeira vez, como sempre dando uma alfinetada.

— Nós temos, Elizabeth — respondeu Manu.

Momentos depois. Emanuelle percebeu que Heitor estava calado. Roger e Rose estavam
cochichando o tempo todo. Tonny e Elizabeth distraiam-se com os amigos da mesa ao lado.

— Algum problema? — Virando-se para ele, Manu perguntou.

— Não, e com você?

— Não gosto de ver você triste ou preocupado com alguma coisa — disse pegando a mão
dele entre as suas. — Me conta o que aconteceu.— Está tudo bem. — Ele sorriu e beijou-lhe a
testa, tranquilizando-a.

Mas não estava tudo bem. Heitor ficou observando Emanuelle depois da chegada de
Vinicius. Percebia que ela parecia não se preocupar com a presença dele, isso deixava-o
satisfeito, mesmo assim sentiu um desconforto em relação a Vinícius. Sabia que no contrato
estava bem claro que ambos poderiam levar a vida como bem desejassem, desde que
respeitassem a imagem um do outro. Mas Heitor não queria dividi-la com outra pessoa.

O evento transcorria perfeitamente, Emanuelle não saía de perto de Heitor, pois viu que
Vinicius esperava por uma brecha para chegar até ela. Este gostinho ele não teria. Ficou
satisfeita, pois Heitor estava junto dela o tempo todo, abraçando-a pela cintura. Emanuelle
gostava de sentir que com ele não precisaria se preocupar, pois percebia que seria protegida
enquanto estivesse juntos.

O evento parecia não ter fim, Heitor estava ansioso para voltar para casa com Emanuelle,
seu corpo ansiava por ela, seus lábios também. E tê-la tão próxima de si fazia com que a
ansiedade crescesse ainda mais.

A proposta de Emanuelle revelava-se a melhor de sua vida. Era uma mulher carinhosa,
cheirosa e eficiente. Às vezes assustava-se em ver o quanto era resolvida e decidida até mesmo
na cama. Meu Deus, não é o momento de estar pensando nela na cama. Mas não tinha como
evitar, ainda mais tendo-a nos braços praticamente durante todo o evento, pois o gavião chamado
Vinicius não desviava os olhos de sua pequena e linda mulher.
Já havia passado meses após o casamento... Heitor gostava de aproveitar cada minuto que
Emanuelle estava em casa, pois realmente estava sendo uma loucura colocar sua agenda de
acordo com a dela. Ela trabalhava o tempo todo, as horas vagas só existiam para seus próprios
compromissos.

Evitaram-se durante algum tempo quando estavam a sós, principalmente à noite, mas desde
a primeira vez que fizeram amor, não conseguiram mais controlar o desejo e aproveitavam os
raros momentos juntos.

O fato é, que quando um homem e uma mulher se sentem atraídos um pelo outro, nada
nem ninguém consegue impedi-los de se relacionarem.

Naquela noite, mal chegaram ao apartamento e cada um foi para seu próprio quarto, cada
um com seus pensamentos, com suas dúvidas.

Mas o inevitável aconteceu, no meio da noite Heitor levantou e viu a luz do quarto dela
acesa, sabia que estava acordada. Bateu de leve na porta e assim que a viu abrir, começou a
beijá-la, sendo correspondido na mesma intensidade.

— Demorou... a vir...

— Não sabia se estava acordad...

As palavras eram cortadas por beijos e carícias, ambos ansiosos por aquele momento de
paixão e loucura. Amaram-se desesperadamente, não conseguiam evitar o desejo que só
aumentava.

Renderam-se um ao outro. Heitor saboreou cada parte do corpo dela e Emanuelle retribuiu
deixando-o ainda mais excitado.

Ao penetrá-la ele não conseguiu se segurar, ela o acompanhava seguindo seu ritmo e ele
movimentava-se com paixão dentro dela. Não pensavam em como seria a vida no futuro, apenas
desfrutavam o momento que o presente lhes proporcionava.
Emanuelle ficaria fora o restante do mês. Temia o que aconteceria depois que chegasse.
Estava apegada a Heitor e estar longe dele deixava-a assustada e ao mesmo tempo convencida
que ele era mais do que um amigo e amante. E ele, sentiria falta dela? Era o pensamento que
mais a atormentava. Ele era livre, não havia um casamento de verdade... Então, por que deveria
ficar preocupada com o que ele faria quando ela não estivesse em casa?
Capítulo 7 — Comemoração

Heitor e Emanuelle haviam combinado de se encontrarem na empresa para que juntos


fossem à casa de seus pais comemorarem o aniversário de Roger. Sua mãe, como sempre, queria
a família reunida em eventos assim.

Heitor estava demorando, então resolveu subir e ver o que estava acontecendo, pois nem ao
telefone ele atendia. Entretanto ficou sem graça ao perceber que a empresa parecia estar com um
problema com um cliente. Passando em frente à sala de reuniões olhou através do vidro e sorriu
para ele, mas não obteve respostas.

Pedindo licença a todos, Heitor saiu e foi ao encontro dela.

— Desculpe, vou me atrasar aqui. Se puder ir e avisar minha mãe — pediu passando a mão
nos cabelos, nervoso.

— Não, eu espero Ficarei na sua sala esperando — disse ela, passando a mão no rosto dele
e tentou tranquiliza-lo: — Ei, vai dar tudo certo, respire fundo.

— Não estamos conseguindo agradar o cliente mais antigo da casa, já tentamos apresentar
três materiais, mas nada o faz decidir a campanha.

— Eu sinto muito — disse olhando para dentro da sala. Inesperadamente sorriu.

— Eu te conto minha frustração e você sorri?

Emanuelle não respondeu, apenas o deixou sozinho no corredor e entrou na sala de


reuniões. Ela reconheceu o cliente, que era uma pessoa muito querida para ela.

— Benjamin?!

— Emanuelle! Oh, meu Deus, menina, quanto tempo! — disse parecendo muito surpreso e
feliz.

Levantou-se imediatamente e a abraçou. As pessoas na sala e até mesmo Heitor ficaram


assustados, mas mantiveram-se quietos.

— Que prazer rever o senhor. E Juliet, como ela está?

— Ela está bem, ainda mais depois de comprarmos flores novas para ela. Deve estar lá no
sítio, plantando-as. — disse o senhor, convidando-a a se sentar. — Mudou de profissão?
— Não, senhor, mas Heitor é meu esposo... Por isso estou aqui — contou Manu. Heitor
aproveitou para se aproximar deles.

— Oh! Sim, sim, minha menina. — Benjamin revelou surpresa. — Estamos tentando
encontrar algo diferente para a nova campanha e até agora não conseguiram me agradar. Eu
queria algo mais familiar, não sei se estou ficando velho demais ou hoje as campanhas são muito
modernas.

— Jamais, o senhor só quer algo original. Entendo o senhor.

Heitor a encarou aflito, Manu não estava ajudando em nada, embora seu cliente parecesse
mais calmo depois de ver e conversar com ela.

— O senhor se lembra de quando o convidei para me acompanhar à casa da costureira em


Minas, a Dona Mirna? Fomos eu, o senhor e a Juliet. — Ela pegou a mão do cliente entre as
suas.

— Claro, foi uma das minhas melhores viajem. Os mineiros são muito hospitaleiros.

— Sim, por isso fiz questão de levá-los lá, pois sabia que iam gostar.

Heitor estava ainda mais confuso, os demais na sala sentaram em volta da mesa e
começaram a ouvi-la.

— Essa é uma boa lembrança, minha menina. — Benjamin disse.

— Mas ficará melhor ainda... — Emanuelle começou a explicar: — Ao chegarmos, fomos


recebidos de uma maneira tão carinhosa que não queríamos mais sair de lá. Mesmo sendo uma
casa simples, de pessoas humildes, era um lar aconchegante, principalmente no momento que ela
trouxe as xícaras de café. O senhor se lembra de qual café ela nos serviu?

— Impossível não lembrar... — Sorriu diante da recordação, parecia tocado pela


lembrança. — Café Beltrão.

— Por acaso essa campanha é a de 40 anos da empresa?

— Ah! Isso... — Heitor respondeu, estava empolgado.

— Irei visitar Dona Mirna, como é uma comemoração importante, poderíamos gravar o
comercial lá... O que acha?

Houve um murmurinho entre os demais, esperta Emanuelle se adiantou:


— Jéssica, já pode providenciar o contrato alterado, por favor?!

— Sim, senhora, com licença...

— Só um segundo, Jéssica. — Virando-se para o senhor Benjamin perguntou: — Se


importa se aumentarmos 20% do valor anterior? São para os gastos que teremos ao gravar o
comercial em outro estado.

Houve certo alivio dentro da sala.

— Minha menina, é claro, acha que é o suficiente? — Benjamin sorriu.

— Sim, senhor. — Olhando pra Jéssica solicitou: — Acrescente os 20% de despesas para a
viagem, por favor.

— Essa turma tem muito que aprender com você, Manu — disse Benjamin para que só ela
ouvisse, mas Heitor também escutou.

— Acha que devemos contratá-la, senhor? — Heitor perguntou divertido.

— Emanuelle está em uma posição importante na empresa Belle´s, mas será bom tê-la por
perto, ela é boa em tendências e sabe agradar os clientes. — Dando uma piscadela para
Emanuelle, pôs sua mão sobre a dela e contou: — Conheço-a desde criança, ela tem potencial.

Ela apenas ouvia em silêncio, pois Benjamin sabia muito sobre sua vida e não queria
revelar as reviravoltas que estava passando. Para tudo tinha um tempo.

Jéssica retornou com o contrato e Benjamin assinou satisfeito. Depois de tudo acertado,
Emanuelle o acompanhou até a saída. Estava feliz por ter ajudado Heitor e sua empresa.

— Você foi brilhante na empresa — Heitor elogiava quando já estavam na casa de seus
pais para o aniversário de Roger.

— Convivo com as esposas de vários empresários do Brasil e de outros países, assim como
você, porém tive um professor imbatível nos negócios. E o senhor Ben e Juliet são especiais na
minha vida, não tinha como dar errado.
— Notei no momento em que ele a viu...

— Pode ficar tranquilo, não farei mais nada como hoje.

— O que você fez de tão horrível que não se repetirá? — Elizabeth perguntou, ela e os
demais da casa entravam na sala e escutaram o que Manu havia acabado de dizer.

Todos voltaram a atenção para eles. Rose pareceu preocupada. Heitor levantou-se e com a
taça na mão contou:

— Hoje devemos agradecer muito à minha doce esposa.

— É aniversário dela também? — Elizabeth questionou com desdém.

Heitor levantou sua taça e disse:

— Um brinde à mulher que salvou nossa empresa hoje! — E contou o que tinha acontecido
em sua sala de reuniões.

Elizabeth tinha que reconhecer, Emanuelle era boa nos negócios. Mas seu filho, aos seus
olhos, parecia entediado. Será que estava dando conta do recado? Manu vivia viajando... Bem, o
filho podia resolver essa situação com Nicole e Diane, pensou.

— Um brinde a você, querida! — disfarçando carisma ergueu a taça e sorriu.

— Obrigada, Elizabeth.

— Quando ia me contar sobre Minas? — Heitor a puxou para ele em um abraço.

Gostava de saber sobre as coisas mais especiais para Manu. Queria conhecê-la mais,
desvendar seus mistérios e fazê-la feliz enquanto estivessem juntos.

— Eu não ia, Heitor, porém vi a necessidade para fecharmos com Ben.

— Você parece conhecê-lo há muitos anos...

— Desde pequena. Costumava passar os finais de semana na casa dele. Eu desaparecia no


meio dos cafezais. Tenho ótimas lembranças na fazenda dele. Papai e ele eram muito próximos...

— Então você conhece o Vinicius, filho dele? — Heitor perguntou com uma ponta de
ciúme.

— Sim, por quê? — Manu ficou sem jeito e Heitor percebeu.

— Ele é ex-namorado da Emanuelle, não sabia?! — Roger comentou despretensiosamente.


— Até hoje ele é apaixo... — Ao perceber o que estava prestes a dizer, Roger se calou. — Nossa,
desculpa... É que pensei que todos soubessem.

— Ainda não sei tantas coisas assim sobre a Manu... — comentou Heitor.

Sem entender o porquê, Emanuelle viu que os olhos dele estavam escurecidos e o maxilar
endurecido. Ele estava chateado.

— Vinicius Beltrão é um homem maravilhoso, literalmente. — Elizabeth aproveitou o


momento e provocou. Viu a reação do filho, mesmo assim continuou: — Você é uma mulher
poderosa com os homens, querida.

— Nunca foi segredo que namorei o Vinicius, assim como você teve suas namoradas —
disse para Heitor. — E realmente, ele tenta se aproximar de mim durante as viagens, mas há
exatamente três anos não trocamos uma única palavra, a não ser no último evento que fomos ao
Hotel Harris.

Durante os meses de casamento, Heitor vinha observando que Emanuelle evitava intrigas,
quaisquer que fossem. Ele a admirava por isso, embora estivesse curioso com o fato dela nunca
ter comentando sobre seu namoro com Vinicius, nem mesmo no evento quando ele foi até a
mesa cumprimentá-la. Aliás, quase nunca falavam sobre aspectos pessoais da vida de Manu, mas
ele queria acreditar que ele jamais lhe esconderia algo.

— Não se preocupe, meu anjo, confio em você — disse apenas.

— Obrigada... — Trocaram um selinho para que sua família acreditasse que estava tudo
bem.

Emanuelle sabia que Elizabeth planejava separá-la de Heitor, mas não deixaria que ela
estragasse seus planos. Conhecia-a o suficiente para entender o que acontecia na mente
perturbada dela. Cassandra a alertara sobre Elizabeth.

Cassandra se orgulhava da mulher decidida que Emanuelle havia se transformado. Porém


não estava gostando das visitas dela ao presídio, sempre querendo saber mais sobre seu pai e seu
passado. Era um assunto delicado. Principalmente depois do acidente do pai de Manu com a
segunda esposa, que resultou em suas mortes, Emanuelle se distanciara ainda mais da mãe, como
se a culpasse por aquilo.

Preocupava-se ainda mais agora que Manu estava casada com Heitor, pois temia que o
passado de ambas as famílias pudesse prejudicar sua filha. Amava Manu. Naquele dia, aguardava
ansiosa a visita de Emanuelle, mas quase caiu sentada na cadeira ao ver Elizabeth se
aproximando dela.

— O que faz aqui? — Foi logo perguntando, tomada pela surpresa.

— Uma velha amiga não pode visitar a outra no presídio?

— Amigas? — perguntou rindo com sarcasmo.

— Não fui a amante do seu marido? Não era o que sempre dizia? — Olhando ao redor
Cassandra não entendia o que aquela mulher fazia ali.

— Isso é passado. E não tenho provas o suficiente para garantir que vocês estiveram
mesmo juntos.

— Agora não tem mais certeza? Só pode estar de brincadeira. Mas desembucha, o que
você quer aqui?

— Falar de Emanuelle.

— Aconteceu algo com ela? — preocupou-se.

— Não se preocupe, ela e Heitor foram para Minas gravar um comercial.

— Estando próxima a você, tenho sim que me preocupar.

— Nunca fiz mal a ninguém, jamais faria algo com Emanuelle.

— Quem me colocou aqui, Elizabeth? — inquiriu.

— Eu não podia mentir perante o juiz, sabe disso.

— Tudo bem — Cassandra respirou fundo, estava cansada e não queria ficar lembrando-se
do passado. Pela segunda vez perguntou: — O que traz você até esse presídio?

— Emanuelle casou com meu filho e está escondendo algo dele e de nossa família. Quero
saber o que é.
— Por que não pergunta a ela? — exasperou-se. Estava muito irritada.

— Não temos afinidade.

— E você acha que eu sei de tudo sobre ela? Estou aqui, trancafiada! — gritou.

— Deveria saber, vocês são da mesma família. Ah, já sei, por causa da morte do pai e da
madrasta ela não confia mais em você — cinicamente lembrou.

— Veio aqui para me ofender? Não tenho nada para falar com você — Cassandra se
empertigou.

— Querida, senta aí, não falei por mal, apenas lembrei o motivo.

— Ah, e com certeza não foi maldade sua citar tal acontecimento, não é?

— O fato é que assim como você se preocupa com sua filha, eu me preocupo com o meu.
E sei que há algo por detrás desse casamento. Primeiro, meu filho não queria compromisso com
ninguém. E sua filha interessou-se por Heitor assim, da noite para o dia? Ela nunca deu indícios
de que estava interessada nele. O que a fez se sujeitar a um casamento, mesmo sabendo que a
mãe do noivo em questão era contra? E ele resolveu do nada casar-se com ela, mesmo sabendo
de todos os fatos sobre nossas famílias?

— Não sei onde está querendo chegar. Mas se quer saber, no momento em que ela me
contou sobre o casamento, também não compreendi. Emanuelle estava pensativa, mas não sei se
está escondendo algo. Realmente não posso ajudá-la, Elizabeth.

— Por mais que não sejam tão íntimas, é impossível que Emanuelle não tenha apresentado
nenhuma atitude suspeita ou diferente do normal. Tente se lembrar — pediu Elizabeth.

— Infelizmente apenas conversamos sobre as viagens dela, dos desfiles... Nada


relacionado com a vida dela e do esposo — disse Cassandra, levantou-se e despediu-se de
Elizabeth. — Diferente de você, Elizabeth, eu respeito as escolhas dela. Resolveu casar com
Heitor e desejo toda a felicidade do mundo. Passe bem, Elizabeth. Agora deve ir, caso eu
descubra algo que prejudique a felicidade deles, entro em contato.

— Como desejar, Cassandra — concordou Elizabeth. Não desistiria, daria um jeito de


descobrir os planos de Emanuelle.

Cassandra notou que Elizabeth estava mesmo desesperada para descobrir algo e acabar
com o casamento de Emanuelle e Heitor. Sujeitara-se a ir ao presídio em busca de respostas as
quais nem sabia direito as perguntas.
E mesmo que soubesse de algo sobre a vida de Emanuelle, nunca contaria para Elizabeth.
Aprendera cedo que com pessoas egoístas e vingativas não se deve brincar. Ela era uma delas, o
passado ainda a incomodava, dava para perceber. Passado esse que Cassandra daria tudo para
poder mudar e ter a confiança de sua querida Emanuelle novamente.
Capítulo 8 — Viagem a Minas Gerais

Benjamin fez questão de estar junto no mesmo dia que Emanuelle e Heitor foram para
gravarem o comercial de comemoração dos 40 anos do café Beltrão.

Aquela era a primeira viagem dos dois juntos, apesar de estarem com outras pessoas da
equipe. A forma como Heitor a tratava fazia com que se sentisse feliz, como se realmente fossem
um casal comum que partilhava de um sentimento intenso.

Chegando à casa da senhora Mirna, tanto ela quanto a família os receberam com muita
hospitalidade. Aquele era o local certo para a gravação do comercial de um cliente do nível de
Benjamin. Durante as gravações, Heitor pôde sentir que ali realmente teria a originalidade que
ele tanto buscava.

Levaram equipamentos de primeira linha, a melhor equipe e tinha tudo para ser um
sucesso. Inicialmente a sua mãe tinha criticado a ideia de Emanuelle sobre irem para outro
estado, por causas dos gastos, mas quando contaram a manobra dela, cobrando 20% a mais, sua
mãe teve que concordar que Emanuelle era uma ótima negociante.

Heitor olhou o ambiente rústico, os pássaros, as pessoas humildes... Tudo que uma boa
comemoração de aniversário do café Beltrão precisava estava ali. Sentiu orgulho de sua esposa,
que com sua sensibilidade conseguiu perceber o que o seu cliente precisava e desejava.

Trabalharam até tarde naquele dia, ajustando lâmpadas, arrumando as roupas das pessoas
que participariam da propaganda. Emanuelle estava ajudando em tudo, tranquilizando Dona
Mirna e a família para que ficassem à vontade diante das câmeras. Heitor notava nela uma pessoa
ainda mais brilhante, eficiente e maravilhosamente linda.

Aquela seria a primeira noite que dividiriam a cama de casal. Nas outras noites, após o
sexo, cada um ia para a sua própria cama em quartos diferentes. Não queriam se envolver
emocionalmente, não mais do que já estavam. A relação deles era aparentemente perfeita, ela era
uma companhia agradável e não queriam se magoar.

— Acho que já deu por hoje, pessoal — disse Manu, abraçando Heitor pelos ombros. —
Você também, já é tarde e Dona Mirna está quase servindo o jantar. Os quartos de vocês também
já estão prontos — disse aos demais da equipe. — Se desejarem podem tomar banho e descer
para que o jantar seja servido.

— Hum, realmente estou faminto — disse o diretor de filmagem, levantando-se. Os demais


o acompanharam. — Muito obrigada por cuidar de nós, Emanuelle — agradeceu sorrindo.

— Imagina! — O que achou do lugar agora que está aqui pessoalmente? — Manu sentou
no colo de Heitor, o beijou no rosto e perguntou.

— Este é o cenário perfeito, meu anjo, você pensou em tudo — disse acariciando o rosto
dela. — Nós não vamos subir para tomarmos banho? — olhou-a travesso, com várias ideias
rondando sua mente.

— Claro que sim — sorriu ao dizer. — Mas terá que ir sozinho, estou ajudando Mirna com
a salada.

— Aqui ninguém come salada. — Heitor fez um biquinho. — Vamos? — insistiu.

— Mas ela fez questão de fazer, então terão de comer, o contrário será falta de educação,
mas prometo que depois que terminar ficaremos juntos.

— Agora sim, gostei. Ficarei aguardando. — Heitor aproveitou o momento a sós para
beijá-la e caprichou no beijo.

Emanuelle ficou satisfeita ao descobrir que o deixava louco de desejo. O beijo


demonstrava o quanto a queria, porém precisava voltar para a cozinha.

— Heitor, Dona Mirna precisa de mim na cozinha... — interrompeu o beijo devagar e


levantou-se, pois o contrário e estaria rolando no chão com ele.— Devíamos ter trazido uma
ajudante, você não precisa se esforçar tanto.

— Eu gosto de trabalhar, Heitor. Estou me sentindo útil e quero continuar assim, mas
quando eu fizer algo que atrapalhe, por favor, me avise.

— Tudo que tem feito até o momento está sendo brilhante.

— Fico mais tranquila sabendo disso, agora vá para o seu banho.

— Sim, senhora — ele brincou.

Emanuelle o observou e foi para a cozinha. Seu querido Heitor estava ainda mais lindo
naquele dia, o ar fresco estava fazendo bem a ele também. Ficou feliz ao vê-lo satisfeito com o
ambiente, apesar de ter feito alguns ajustes na iluminação dentro da casa, mas sabia que era para
melhorar as filmagens.

Benjamin e Juliet sentiam-se contentes por estarem ali. Ambos acreditavam que aquele era
realmente o melhor local para as gravações. Tudo seguia perfeitamente bem, era tudo o que
importava, a satisfação do cliente e o sucesso da empresa de Heitor.

Após o jantar todos sentaram-se na varanda, Emanuelle e Mirna serviam chá e café,
enquanto bebiam e conversavam animados. Pouquíssimas vezes falavam da vida na cidade,
estavam entusiasmados com novos projetos que pudessem resgatar a simplicidade da vida.

Heitor olhou de soslaio e observou Emanuelle ao lado de Benjamin e Juliet. Eles


conversavam sobre algum assunto que Heitor não sabia qual era. Quando o casal subiram para
descansar, ele se aproximou da esposa.

— O quarto já está pronto... Está tudo bem? — Heitor quis saber.

— Sim, só recordando de quando eu vinha aqui com papai, senti saudades. —


Disfarçadamente ela enxugou os olhos marejados de lágrimas.

— Vamos subir, Heitor? Ou quer ficar aqui mais um tempo? — indagou.

— Vou subir contigo. — disse afagando os cabelos de Manu carinhosamente.

Despediram-se de todos os que ainda estavam na varanda e subiram. Dentro do quarto que
compartilhariam, ele pareceu preocupado.

— Tem certeza que é apenas saudades, Emanuelle?

Emanuelle foi até a janela em silêncio. Sentou-se no sofá e abriu a boca para responder,
mas no fim, preferiu ficar calada. Queria conseguir se abrir mais com Heitor, contar a ele tudo
que a afligia, mas desistiu.

Ele a fitava curioso. Caminhou até ela e a tomou nos braços.

— Sabe que estou aqui para o que precisar — murmurou. — Quer conversar?

— Eu sei que está. — Ela o puxou, beijando-o e sentindo seu delicioso perfume. — E está
querendo me seduzir com seu cheiro bom também, né? — perguntou sorrindo e mudando o
assunto.

Heitor sorriu de uma maneira tão gostosa que Emanuelle ficou com o coração batendo
mais forte. Começava a gostar dele de uma forma ainda mais intensa.

— Se está funcionando, irei usar isso como arma para tê-la sempre junto de mim.

Sempre... Aquela palavra martelou no pensamento de ambos. Para Manu, era bom saber
que Heitor a queria por perto “sempre”, e que o sentimento era mútuo entre eles. Entreolharam-
se por alguns instantes, sem dizer nada.

Depois, ele a beijou nos lábios gentilmente, em seguida aprofundou mais o beijo, trazendo-
a para seu colo.

Os braços dela circundaram o pescoço dele, precisava estar em seus braços, protegida do
restante do mundo. Sentia-se segura com ele. Estavam perdidos de paixão. Amava como ele
mexia em seus cabelos, a forma como a abraçava com força. Gostava de sentir o calor dele
contra seu corpo, pressionar-se a ele.

— Heitor... — murmurou enquanto as mãos dele desciam por suas costas, acarinhando sua
cintura e abaixo dela. Rapidamente ele usou uma das mãos para lhe acariciar o seio. Emanuelle
sentiu o desejo arrebatá-la.

Heitor deitou-se sobre ela no minúsculo sofá, mas que encaixava-os de maneira perfeita.
Ajudou-a a se livrar das roupas como mágica. Beijando-a ele se livrou da calça e de suas próprias
roupas, porém sem deixar de beijá-la. Emanuelle sentiu a quentura rígida acariciando seus
quadris, desceu as coxas e ergueu-se, encaixando-se nele.

Amaram-se com paixão, deliciando-se com os gemidos de prazer que excitava-os ainda
mais. Ele murmurava palavras carinhosas e outras sensuais, deliciava-se com os espasmos que
percorriam o corpo dela. Quando viu que ela estava perto de obter seu maior prazer, acelerou o
ritmo. Ele atingiu ao clímax e levou-a consigo.

Sem entender os motivos, lágrimas rolaram dos olhos de Emanuelle. Ela não saberia
explicar, mas a ideia de não ter contado toda a verdade a ele, naquele momento caía em sua
consciência de uma forma pesada.

Pela primeira vez dividiriam a mesma cama durante toda a noite. Heitor ergueu-a em seus
braços e carregou-a para o leito conjugal, deitando-a gentilmente sobre os travesseiros.

Deitou-se ao lado dela, envolveu-a com os braços e a segurou firmemente contra si. Manu
nunca dormira tão bem quanto naquela noite.
Ouvindo ao longe o galo cantar, Heitor acordou assustado, mas logo se lembrou de onde
estava. Contudo, olhando para o lado percebeu que Emanuelle não estava mais deitada.
Levantou, trocou de roupa e foi procurá-la. Mas em vez de encontrar Manu, encontrou Dona
Mirna. Aproximou-se dela perguntou sobre Manu. A senhora disse que não sabia onde ela
estava naquele instante.

— Senhora, acha que Manu parece contente? — arriscou a pergunta. Aquela senhora
parecia conhecer Manu muito bem.

— Muito, nunca vi essa pequena tão feliz, senhor Heitor.

— Nunca? Tem certeza? Às vezes ela parece tão distante.

— Desde que a conheço, ela luta diariamente pelos outros... — Foi a resposta de Dona
Mirna.

Antes que terminassem a conversa, seus funcionários da empresa entraram na cozinha para
tomar o desjejum, atrapalhando-os. Heitor pegou uma caneca de café e aproveitou para ir atrás de
Emanuelle. Onde será que ela estava?

Saiu da casa e olhou em volta, mas nada dela. Caminhou mais um pouco e adiante
encontrou um lago. Emanuelle estava sentada em um banquinho debaixo de uma árvore, olhando
fixamente os gansos que nadavam tranquilamente.

— Manu... — Heitor a chamou.

— Não quis acordá-lo, você estava dormindo tão tranquilamente.

— Fiquei preocupado, imaginando o quanto devo ter roncado para afugentá-la da cama
mais cedo.

— Não, não foi isso — disse Manu, chamando-o para sentar-se ao seu lado. Abraçou-o
carinhosamente. — Amo essa paz. Se eu pudesse, ficava aqui para sempre.

— Seria maravilhoso. Se ao menos tivesse um lugar assim perto de nossa casa, poderíamos
ir todo final de semana, já seria o bastante.

— Seus pais têm o sítio deles, não? — perguntou Manu.

— Mas lá fica cheio até mesmo nos finais de semana. Minha mãe gosta de movimento,
Emanuelle — lembrou.

— Ela gosta de poder, Heitor. E os amigos dela a bajulam o tempo inteiro — disse. Depois
levou a mão à boca e desculpou-se: — Desculpe, não devia ter falado assim de sua mãe.

— Mas é a verdade, Emanuelle. Às vezes é difícil querer ficar em família, sempre tem
alguém de fora em nossa casa.

— Ela se sente sozinha, Heitor, mas agora que seu pai está tendo mais tempo para ela,
talvez as coisas mudem — falou encostando a cabeça no ombro dele.

— Você acha? Tenho certeza que a casa deve estar cheia de amigos interesseiros agora
mesmo — Heitor riu ao comentar.

— Bem... O pessoal está nos aguardando para continuarmos os trabalhos. Benjamin e


Juliet devem estar acordados também. Vamos? — Emanuelle convidou.

— Claro, não vamos deixar nossos clientes esperando por nós. — Ele a acompanhou em
silêncio.

Emanuelle era parte de sua vida agora, não conseguia imaginar-se sem ela. Cada dia era
uma descoberta... E chegava a ser assustador aquele novo sentimento.

Passou o braço pelo ombro dela e caminharam juntos rumo à casa onde estavam os demais,
os aguardando.
Capítulo 9 — Além do planejado

Desde que voltaram da viagem a Minas Gerais Heitor sentia-se cada vez mais ligado à
Manu, com mais desejo de estar perto. Mas depois que voltaram, precisaram retomar suas rotinas
e acabaram ficando distantes um do outro. Heitor só conseguia recordar da pele dela, que parecia
seda, suave, tão macia... Como estava louco por aquela mulher.

Emanuelle tinha que ser dele definitivamente, só de imaginar-se sem ela, já entrava em
desespero... Naquele instante ela estava em mais uma de suas viagens. Faltavam dois dias para
ela retornar. Embora tentasse disfarçar, Heitor sentia falta de sua esposa. Iria enlouquecer de
saudade.

O celular tocou, Heitor viu que era Manu e a atendeu imediatamente. Seu coração parecia
mais descompassado.

— Heitor?!

— Boa tarde, Emanuelle.

— Oiiii, desculpe ligar a essa hora. Deve estar deitado já.

— Na verdade não, estou lendo um livro.

— Sério?

— Sim, gosto de ler. A insônia tem caprichado comigo — contou, feliz por ela ter ligado.
— E você, o que anda fazendo? — Prolongou a conversa.

— Vim para o hotel tomar um banho e descansar um pouco antes do desfile iniciar.

— Deve estar uma loucura aí. — É... — Ela ficou calada por uns instantes antes de
confessar: — Como é bom ouvir sua voz... Na verdade, não vejo a hora de voltar para casa,
Heitor.

Ele foi tomado por um contentamento ao saber que ela também sentia sua falta.

— Pega o primeiro avião e vem — brincou.

— Ah, se fosse tão simples assim, já estaria aí contigo... — Ela sorriu: — Só um minuto...
Em alguns instantes chego aí... — respirando fundo voltou a falar com Heitor, desculpando-se:
— Desculpe, esses dias foram agitados e as meninas não ficam um segundo longe de mim.
— Estou percebendo, mas quando voltar para casa vai tirar uma folga, não é?

— Realmente estou precisando, Heitor, mas terei de finalizar essa remessa de desfiles, aí
sim poderei pensar em folga.

Os dois mantiveram-se em silêncio, cada um com seus pensamentos. Temiam o rumo que
estava tomando suas vidas, a grandeza com que se revelavam os sentimentos um pelo outro. Se
fossem somente amigos, tudo bem, mas logo o contrato venceria e sentiam medo de sofrerem
porque sabiam que tinham ultrapassado o acordo.

— Bom, acho que já está na minha hora. — Emanuelle quebrou o silêncio.

— Já?! Nem irá descansar um pouco?

— O tempo é curto, mas ao conversar com você os ânimos reapareceram.

— Fico feliz em saber que ajudei, mesmo estando longe. Emanuelle?

— Sim, Heitor?

— Sinto muito sua falta — confessou.

Por um momento Emanuelle prendeu a respiração. Heitor começava a significar muito em


sua vida. Sentia saudades de tudo que pertencia a ele.

— Eu também sinto a sua — respondeu e desligou o celular, pois não queria que Heitor
percebesse a mudança no tom de sua voz, que ficou embargada pela emoção.

O celular desligou e Heitor sentiu a verdade cair sobre si. Um sentimento que nunca sentira
começava a brotar dentro do seu coração. Um coração que já pertencia a ela. Não tinha planejado
se apaixonar, mas agora já não sabia mais viver sem sua linda Manu.

Abandonando o livro levantou-se e foi ao quarto dela, vazio naquele instante. Desde que se
casaram, entrara no quarto de Manu poucas vezes, queria que ela sentisse à vontade e por isso
respeitava sua individualidade.

O quarto era grande, com espaço suficiente para os dois, mas ele não se atreveria a
comentar isso com ela, esperava que um dia ela o convidasse para permanecer todas as noites ali.
Observou as cores claras e os detalhes da decoração simples, porém com a identidade dela.
Havia uma escrivaninha próxima à janela, Heitor foi até lá e sentou-se na cadeira. A curiosidade
o fez abrir a gaveta. Havia fotos antigas e em uma delas reconheceu Emanuelle e Rose
pequeninas, cada uma junto ao pai delas. O pai de Manu não era um rosto estranho para Heitor,
ele sentiu que já tinha o visto em algum lugar. A próxima foto o deixou intrigado, era Emanuelle
sorrindo no colo de uma mulher linda. Seria a mãe dela? Em um impulso pegou seu celular
dentro do bolso e tirou uma foto, encaminhando para Rose. Estava muito curioso.

Poucos segundos depois veio a resposta:

“Olá, querido! Que foto sensacional. Conheço essa mulher linda!”

Heitor sentiu um calafrio na coluna ao perceber que enviara a foto para sua mãe e não para
Rose. Guardou a foto no lugar e saiu do quarto.

“Havia esquecido o quanto Emanuelle se parece com a mãe dela”, Sua mãe enviou outra
mensagem.

“Mãe, essa á é a tia de Emanuelle!”.

“Quem lhe falou isso? A Manuzinha?”

“Qual o problema da senhora com ela, afinal, mãe?”

“Há muita coisa que precisa perguntar para sua mulher, Heitor. Antes de vocês se casarem,
o avisei sobre ela e a sua família”.

“Se é tão horrível, por que a senhora mesmo não fala?”

“Quem é sua esposa? É ela, não eu. Pergunte a ela”.

“Tudo bem, mãe, não quero discutir”.

“O melhor que tem a fazer é interrogar sua esposa, não a mim. Venha jantar aqui conosco,
seus irmãos estarão aqui”.

Heitor fechou os olhos e suspirou. Realmente sabia pouca coisa sobre a vida de Emanuelle,
isso o incomodava cada vez mais. Na época do colégio ouvia Rose falar sobre ela, mas eram
poucas as lembranças que tinha sobre tais menções. Por que a mãe ficava relembrando o passado
alheio? Queria que sua esposa tomasse essa decisão e lhe contasse sobre sua vida, indiferente se
o casamento durasse ou não, tinha vontade de saber mais sobre ela e ficaria feliz se ela fosse
sincera.

Emanuelle era muito discreta, apesar da mídia estar sempre arrancando novidades de sua
vida. Mas Heitor não se recordava de algo que denegrisse a família Everdeen, além disso, toda
família tinha problemas. Deixaria para descobrir quando ela chegasse da Europa. A própria
Manu contaria quem era a moça da foto.
Capítulo 10 — Verdade oculta

Vivemos a vida que escolhemos... Se no futuro algo desanda, o único responsável somos
nós mesmos.

Antes mesmo de chegar ao escritório, Heitor pensava em propor uma lua de mel de
verdade com Emanuelle. Sua vida tomara outro rumo desde o dia em que a conhecera. Queria
confessar que estava apaixonado e saber se ela sentia o mesmo.

Naquele dia, Heitor chegou ao escritório alheio a qualquer pessoa. Passou pela secretária
Jéssica, cumprimentou-a e pegou o jornal do dia, seguindo o caminho para a sua sala. Sentando-
se na cadeira ficou lembrando do quanto seus sentimentos por Manu estavam cada vez mais
evidentes, mas dada as circunstâncias e o contrato que assinaram, ficariam casados por apenas
um ano, e o prazo estava vencendo.

Entretanto, ela era a mulher da sua vida e faria com ela enxergasse isso. Heitor suspirou,
precisava provar a ela que pertenciam um ao outro. Foi em meio a esse pensamento que o
telefone tocou:

— Sua mãe pediu para avisá-lo que irá almoçar com o senhor hoje — anunciou Jéssica.

— Já marquei com Emanuelle. Desmarque com minha mãe, por favor.

— Será um desafio, senhor, mas verei o que posso fazer. — Jéssica desligou sorrindo.

Heitor sorriu também, pois sua mãe era de uma forte opinião. Dificilmente desistia de um
compromisso que ela marcava.

O movimento estava calmo naquela manhã em seu escritório, algo raro de acontecer.
Aproveitando, pegou o café que havia trazido consigo e também o jornal local. Folheando as
páginas deparou-se com o verdadeiro motivo pelo qual Emanuelle lhe propusera o casamento. E
aquilo o atingiu como um raio danoso. Ela era a única herdeira da empresa Belle´s, mas só
tomaria a frente da presidência no momento que se casasse com ele.

Chocado com a notícia, ele continuou lendo. Emanuelle havia cedido uma coletiva para a
imprensa há dois dias e ele não sabia. Ele era seu amigo, seu esposo, amante e estava apaixonado
por ela, mas nem sequer sabia! Na matéria havia o nome do pai e da mãe de Manu, Glauco
Everdeen e Cassandra Everdeen. A mãe dela tinha sido presa como principal suspeita do acidente
de Glauco e a madrasta dela, e revelava que Cassandra tivera um relacionamento com seu pai no
passado. Por isso sua mãe era contra! Por isso tantas implicâncias com Manu.
Sem poder esperar pelo almoço, saiu apressado com as chaves na mão.

— Estou de saída — anunciou para Jéssica. Antes que o elevador chegasse avisou: — Caso
alguém procure por mim, diga que não voltarei hoje.

— E a reunião com o senhor Roger? — Ela teve que elevar o tom de voz.

— Desmarque — respondeu simplesmente e sumiu dentro do elevador, transtornado.

Nunca antes em sua vida lembrava-se de buscar tanto por respostas como naquele
momento. Como chegara à empresa Belle´s era algo que jamais conseguiria explicar, estava cego
e decepcionado por ter sido enganado por Manu, por ela ter ocultado tudo sobre sua vida e ele ter
descoberto a verdade pelos jornais!

— Posso ajudá-lo senhor? — Uma atendente sorridente bloqueou o seu caminho.

— Emanuelle Everdeen — respondeu irritado. Respirou fundo e apresentou-se: — Sou


esposo dela.

— Perdoe-me, senhor, sou nova aqui e infelizmente não sabia quem era o senhor —
desculpou-se a atendente dando um passo para trás. — Avisarei a senhora Emanuelle que o
senhor está aqui...

— Não. Só me diga se ela está aqui. E em qual sala? — Impaciente Heitor a interrompeu.

— Na nova sala da presidência, senhor. — A atendente mostrou o caminho e o deixou


passar ao notar o quanto ele estava nervoso.

Entrou no elevador e procurou controlar suas emoções, com certeza haveria uma
explicação para ela não ter revelado a verdade. Será que não confiava nele o bastante para se
abrir? Por que não havia informado sobre tudo aquilo no contrato? Sua mente estava confusa,
sentia-se transtornado. Devagar entrou na sala, Emanuelle estava de costas para a entrada,
concentrada em uma ligação. Olhava por uma parede de vidro que dava-lhe uma ótima visão das
funcionárias produzindo.

Ele entrou e fechou a porta atrás de si, depois ficou observando-a. Se o motivo que o levara
até ali não fosse tão importante, teria ido até ela a abraçaria. Lembrou-se dos momentos que
estiveram juntos, mas logo foi tomado por seus novos sentimentos, muito mais tortuosos e frios.
Ela virou-se ao ouvir um barulho atrás de si. Ao fitá-la, Heitor descobriu que estava
perdidamente apaixonado por aquela mulher que lhe propusera um casamento por contrato.
Estava apaixonado, mas também com muita raiva.
Por um momento Emanuelle achou que estava tendo um devaneio, embora visse que
realmente Heitor estava sentando-se à sua frente com olhar indagador e distante. Manu estranhou
principalmente por estar em sua nova sala. Percebeu que com certeza ele já sabia da verdade
sobre a presidência da Belle´s.

— Você não me contou que havia ganhado uma promoção — comentou com ironia. Seus
olhos eram frios e os lábios tremiam.

Emanuelle caminhou até a cafeteira e se serviu de uma boa dose de café, uma para ela e
outra para ele. Ambos gostavam do café forte. Em seguida, entregou uma das xicaras a Heitor.

— Preferiu confirmar com os próprios olhos a aguardar o horário do almoço para me


perguntar? Interessante. — Manu não pôde deixar de alfinetar também, pois não gostou da forma
que ele falou.

— Há exatamente um ano você entrou no meu escritório com uma proposta de casamento,
dizendo que seria uma ótima oportunidade de colocarmos nossos interesses financeiros em
segurança — disse ele encarando-a. Levantou-se e continuou: — Contudo, você era apenas a
secretária da empresa. Alguém que vivia viajando, mas que queria garantir sua vaga por mais
tempo. Mas, no fim, é filha da pessoa que tentou arruinar minha família, da pessoa responsável
pela morte do ex-marido e da esposa dele e, acima de tudo, filha de uma presidiária! Se isso for
um plano de vingança para destruir minha mãe e minha família, digo que não dará certo.

— Plano de vingança? — Manu se sentiu ofendida.

— Qual outra razão para ter ocultado tudo? Nunca me disse nada nesses meses todos!

— Eu já imaginava que um dia a verdade sobre minha mãe viria à tona, Heitor — falou
Emanuelle sentindo um tom de ameaça nas últimas palavras dele.

— E veio da pior forma possível, porque não veio dos seus lábios, mas sim de um jornal!
Acha isso certo?

— Heitor, está me ofendendo! — Indignada replicou: — Na época desse escândalo, saiu


em todas as revistas do Brasil. Isso foi noticiário! Não entendo por que só neste momento está
me abordando sobre o assunto. Pensei que já soubesse...

— Pensou? Não, você sabia que eu não o tinha conhecimento de nada disso! Você preferiu
não me contar. Não ser sincera, não se abrir, não permitir que eu a conhecesse. Assinamos um
contrato! Tudo foi muito bem esclarecido da minha parte. Não deveria haver segredos entre nós.
Ainda mais na altura em que está o nosso casamento... — acrescentou, lamentoso.
— Esse é o seu melhor argumento? Não me convenceu. — Ela endureceu o olhar e o
enfrentou: — Está sendo cínico! Quer dizer que aceitou casar-se comigo, assinou o contrato sem
ligar meu nome ao da mulher que tentou destruir a família exemplar que é a sua?

— Não é exemplar, mas é a que tenho, e você sabe tudo sobre eles. Por que eu não pude ter
o mesmo direito?

Ambos sabiam que aquela era a hora de acabar com tudo. O momento havia chegado.

— Apenas me responda — Heitor pediu. Encarava-a como se estivesse de frente para uma
estranha. — Por que mudou para a sala da presidência?

— Por que a Belle´s é minha! — disse Emanuelle respirando fundo. Era a hora da verdade.

— E quando iria me contar? Nunca?

Ela caminhou até a janela e ficou olhando o sol se pôr ao longe. Muita coisa havia
acontecido naquele ano, mas a pior de todas acontecia naquela sala.

— Quando descobrisse realmente de quem era a empresa, Heitor. — Voltando-se para


Heitor ela contou. — Minha mãe dizia uma coisa, meu tio dizia outra, e...

— Está na presidência, mas não tem certeza se ela é sua? É isso? Aliás, podia ter me
contado sobre sua mãe, não acha? Era por isso que em muitos sábados fazia questão de sair
sozinha à tarde?

— Sim. É o único dia que posso ir ao presídio — disse ela. — Mas qual diferença faz isso
agora, Heitor?

— Muita diferença, Emanuelle. Achei que confiasse em mim! A não ser que... — passou a
mão no rosto e perguntou: — Foi por isso a proposta de casamento? A tal herança que você tinha
a receber?

— Sim, eu só receberia a herança de meu pai se estivesse casada. Era uma cláusula...

— E viu em mim uma ótima opção?

— E você a mesma coisa! Não me julgue, ambos tivemos nossas razões!

— É, mas você sabia as minhas, eis a diferença. E eu acreditando que pudesse ter outro
motivo — disse ressentido. — Bem que mamãe me avisou sobre as mulheres Everdeen. Fui
avisado, mas não quis acreditar nela. — Heitor se sentia traído. — E seus encontros com
Vinicius, da última viagem que fez a Europa!?
— O que está insinuando? Olha, Heitor, saia daqui! — A raiva cresceu dentro de
Emanuelle. — Tive meus motivos para agir de tal forma. Entretanto não sou obrigada a escutar
ofensas vindas de você. Já ouvi demais da sua mãe. Pode ficar tranquilo, antes mesmo de chegar
ao seu apartamento já terei tirado tudo meu de lá. Meu advogado entrará em contato em breve.
Logo sairei do seu caminho.

— Como desejar... — Heitor foi pego de surpresa, aquilo doeu, mas concordou. Parou na
porta com a mão na maçaneta e acrescentou: — Eu que irei providenciar que tirem ainda hoje
minhas coisas do apartamento, passar bem, Emanuelle.

— Adeus!

Ela se sentou e ficou por alguns minutos olhando para a porta por onde Heitor havia
acabado de sair. Por quanto tempo pagaria pelos pecados de sua mãe? Ele tinha razão de estar
com raiva por sua omissão e pela história da sua família. Um homem em sua posição faria de
tudo para não ter o nome manchado por erros de outro, como descobrir que sua sogra já tinha
sido amante de seu pai.

Emanuelle sabia o que fazer naquele instante. Pegou o telefone e pediu para a secretária
cancelar suas duas reuniões e remarcá-las para o dia seguinte.

Sophia providenciou o chá e ligou para Rose, avisando sobre a visita inesperada de Heitor
e que ouvira os dois discutirem feio na sala da presidência.

— O que aquela megera fez dessa vez, Manu? — Uma hora depois Rose entrou como um
furacão na sala de Manu.

— Quem?

— Soube que Heitor saiu daqui feito um doido. Sabe-se lá Deus se não vai passar por cima
de muitos no caminho.

— Ele descobriu sobre a minha mãe, a herança de papai e já decidimos que o melhor é nos
separarmos — Manu contou tudo de uma só vez, querendo pôr um ponto final naquele assunto.
— Nunca! Vocês foram feitos um para o outro. Que besteira, logo isso passa.

— Rose, a verdade é que nunca existiu um casamento de verdade. Eu propus a ele o


casamento. Foi uma farsa.

— Manu, do que está falando? — Rose franziu o cenho e não entendeu.

Emanuelle apontou a cadeira para que Rose sentasse e começou:

— Vamos lá, no dia do baile pedi para que você fosse na frente, pois seu pai havia enviado
um arquivo e queria que eu o lesse, porém eu não podia comentar com mais ninguém. —
Levantou-se e começou andar de um lado para outro. — Nem mesmo para você. No testamento
de papai não constava o documento que me deixava a empresa como herança, mas sim que eu
devia estar casada aos trinta e dois anos. Era uma exigência.

— Mas você já havia recebido sua herança, só tomou posse agora que tem idade e está
casada com o homem que ama. Não é? O quer dizer é que você que propôs isso? — Rose
arregalou os olhos e perguntou.

— Sim. Eu precisava me casar e ele também. Negociamos, assim, como se fosse um


negócio qualquer mesmo. Esse documento estava com o advogado de papai e do titio esses anos
todos. Eu deveria saber dele só quando chegasse o momento.

Rose levantou de uma vez e pôs-se a andar, indignada.

— Por isso pediu para manter em segredo sobre você estar à frente da empresa? — Olhou
para Emanuelle que afirmava com a cabeça. — Achei estranho o casamento de vocês, rápido
demais. Mas vocês são perfeitos juntos, meu Deus, ninguém perceberia que era por aparências,
Manu.

Elas permaneceram em silêncio por um momento. Emanuelle notou que Rose de repente
erubescera, encarando-a.

— Algum problema, Rose? — indagou Emanuelle.

— É... Manu — era algo íntimo, porém a curiosidade fez Rose perguntar: — Vocês
ficaram juntos por todos esses meses sem sexo?

Emanuelle riu diante do constrangimento de Rose, mas mesmo pega de surpresa diante da
curiosidade da prima, respondeu:

— Éramos um casal completo, Rose, apesar do contrato — disse com uma pontada de
tristeza. Como se acostumaria a viver sem ele?

— Então, pronto, logo estarão juntos novamente!

— O problema é que Elizabeth sabia do meu passado. E saiu no jornal sobre minha posse
como nova presidente da Belle´s e única herdeira de papai. Eu estava planejando contar toda a
verdade a Heitor hoje no almoço. Infelizmente a notícia chegou antes e ele veio até aqui e me
disse coisas muito cruéis. Eu reagi e disse algumas coisas detestáveis também.

— Isso é normal no calor do momento. E não é o seu passado, mas sim o de seus pais!

— Para mim tanto faz. O caso é que Heitor e a família exemplar dele preocupam-se apenas
com o que as pessoas vão pensar. Você os conhece tanto quanto eu.

— Se fossem tão perfeitos nunca teriam tentado deserdar o Roger. Mas Heitor não é assim.

— No momento estou muito magoada para concordar. Infelizmente já era, Rose. —


Passando o dorso da mão nos olhos Emanuelle ergueu a cabeça. — O que havia de ser feito já foi
feito. Bola para frente que a vida tem que continuar.

“Agora é deixar a vida seguir seu curso e me acostumar sem ele...”

Rose nunca tinha visto Emanuelle daquele jeito. Ela parecia cansada. Sentiu pena da prima.
O que mais admirava era vê-la dar a volta por cima mesmo sofrendo. Naquele momento a única
coisa que podia fazer por ela era estar ao seu lado.

Agora, quem realmente havia prejudicado Manu, e por quê?!


Capítulo 11 — A vida continua. E agora?!

“Jamais pense que está tudo acabado. Tudo tem um início, meio e fim. Mesmo
que demore, tenha apenas fé”.

Os dias passaram e Heitor sentia que estava ficando louco, não conseguia tirar Emanuelle
da cabeça. Embora ela tivesse omitido muitas coisas sobre sua vida, sentia vergonha de si mesmo
por não ter dado a oportunidade para que ela pudesse se explicar. E mais vergonha pelas coisas
que dissera na hora da raiva.

O tempo passou, e após quatro meses de saudade, ele apenas a tinha visto pelas redes
sociais ou televisão. Realmente, ela era a única herdeira da Belle´s. A novidade deixou a todos
boquiabertos, pois o testamento lido para a família confirmava que o pai havia deixado tudo
exclusivamente para ela, caso a mesma tivesse idade suficiente e estivesse e casada, tudo
conforme estava no testamento.

Heitor queria entender o motivo que a levou esconder dele sobre toda a verdade, era isso o
que o deixava com mais raiva, pois ela sabia o tempo todo o que estava acontecendo e não quis
compartilhar com ele. Mas agora, com a cabeça mais fria, daria um jeito de tentar encontrá-la
para conversarem melhor. Rose havia deixado claro que ela não voltaria para Florianópolis por
um bom tempo. Iria apenas a outros estados para os desfiles mais importantes.

Tentou ligar novamente para o escritório dela e obter mais informações, contudo os
funcionários eram muito fieis, não passavam nada sobre a chefe. Angustiado, resolveu ir
pessoalmente ao encontro de Manu. No escritório, encontrou com Nilda na porta da empresa.
— Boa tarde, Nilda. A senhora tem notícias de Emanuelle? — perguntou, sabendo da
amizade delas.

— Olá, Heitor — Nilda olhou para os lados e o puxou para um canto. — Sim, o senhor
poderá encontrá-la em São Paulo amanhã.

— Muito obrigada pela informação... — Heitor sorriu agradecendo, muito feliz com
notícia.

— O senhor ama mesmo minha garota, Heitor? — Nilda perguntou.

— Mais do que pode imaginar, Nilda.

— Então não vá amanhã a São Paulo.

— Mas essa é a melhor oportunidade! Por que devo deixar escapar?! — indagou erguendo
as sobrancelhas.

— Porque deverá mostrar a ela o quanto sente sua falta e que faria qualquer coisa para
reconquistá-la. Essa semana teremos o principal desfile da Belle´s, mas ela fará outro daqui a
duas semanas, na França. Lá será ainda mais especial.

— A senhora é um anjo. — Ao entender o que Nilda lhe dizia, Heitor sorriu satisfeito,
abraçando-a agradecido. — Quero provar a ela o quanto estou arrependido por não tê-la
escutado.

— Isso, meu querido. — Segurando as mãos dele pediu: — Busque nossa garota e trate de
cuidar bem dela.

— É o que mais quero, mais uma vez obrigado por ter me ajudado.

— Eu quero vê-la sorrindo novamente, Heitor, é tudo o que mais quero.

Heitor sentiu uma dor comprimir meu peito. Se Manu não estava sorrindo mais
ultimamente, era tudo por sua culpa!

— Farei isso, a senhora vai ver. — Beijando-a na testa sorriu e saiu determinado.

Nilda sorriu feliz. Realmente ele amava Emanuelle. Ela merecia toda felicidade de volta.
Na Belle´s noivas tudo estava uma correria. Na semana seguinte iniciariam os desfiles mais
esperados do ano e um deles era a São Paulo Fashion Week. Manu estava representando a
empresa de um jeito diferente naqueles eventos, agora como presidente do grupo Belle´s, sentia-
se outra pessoa. Mais madura, seu jeito de pensar era outro e a forma de trabalhar também estava
renovada.

Algumas experiências nos ensinam que no meio do caminho encontraremos obstáculos,


mas são eles que vão nos guiar na direção certa.

As modelos, os vestidos, os acessórios... Estavam todos em ordem, impecáveis. Tinha


preparado para o desfile algo diferente dos demais lançamentos.

Muita coisa estava acontecendo na vida de Manu. Sua mãe agora estava livre da prisão, seu
tio estava junto com ela na presidência. Rose estava grávida do primeiro bebê, muito feliz e junto
com Roger planejavam se casar. Já Manu, continuava sozinha e com saudade de Heitor, embora
estivesse feliz pela prima, algo fazia falta a seu coração. Fazia cinco meses que não via Heitor,
desde a separação. Teriam uma última audiência em poucos dias, mas estava decidida a pedir o
advogado para representá-la. Vê-lo pessoalmente naquele momento difícil seria muito doloroso.

Entrou no setor de confecção e caminhou até Nilda, a costureira mais velha da casa e
responsável pela produção.

— Dona Nilda, acha que com esse modelo dá para usar o Voil de Seda? — perguntou.

— Ficará lindo, Manu, e podemos acentuar mais aqui neste ponto — disse apontando para
o desenho na mão de Emanuelle. — É para dar mais volume.

— Perfeito, está chegando uma peça dele em tons pastel e rose. Elaine, da grife Itallis quer
uma coleção fechada desse modelo, nessas cores. As medidas vou pegar certinho para a senhora.

— Estamos indo bem, né? — Nilda encarou Emanuelle sorrindo com carinho.

— Sim, tudo está em perfeita ordem.

— Mas e esse coraçãozinho aí?


Emanuelle tinha Nilda como conselheira há muito tempo, quando os pais brigavam muito,
corria para ficar junto dela e aprendeu muito de corte e costura, tudo sobre os tecidos e inventar
modelos com retalhos.

— Ainda sinto falta dele — confessou sentando-se do lado de sua velha amiga.

— Claro que sente, ficaram um ano juntos. Mas não vão resolver essa situação?

— Ele está feliz, Nilda, isso é o que importa.

— Você o viu?

— Não.

— Então como sabe que ele está feliz?

— Apenas o vi nos jornais. Vi ele nos eventos com a Cristina. Os dois são o par perfeito,
como a família dele desejava — disse enciumada.

— A família! Mas e ele?

— Eu não sei. — Levantando sorriu ajustando as pregas da saia. — Contudo, estamos


maravilhosas, é isso que importa. Mais tarde Sophia trará para senhora as medidas. Obrigada,
Nilda.

— Por nada, minha menina.

Nilda ficava com pena da garota, nunca tinha visto Emanuelle tão feliz como ela estava
junto de Heitor. Esperava que logo eles ajustassem suas diferenças, mas pelo visto isso não
aconteceria tão cedo.

Aquele era o desfile mais aguardado de sua carreira, pois ela estava à frente de tudo.
Conferiu a coleção com Nilda pela última vez. Faltavam poucas horas para o desfile, tudo estava
em perfeita ordem. Logo teria o início do desfile que apenas ela e Nilda haviam planejado os
detalhes desde o início até o momento da apresentação, com modelos exclusivos em vestidos de
noivas, madrinhas e acessórios. Seria um total de vinte e duas peças. Manu estava confiante.
Voltou para o hotel e aproveitou para tomar uma longa ducha e sair para comer alguma
coisa. Nilda estava descansando em seu quarto, então decidiu que a deixaria descasar mais um
tempo e compraria algo para ela comer.

Mais tarde, depois de tudo já ajustado, Emanuelle foi assistir ao desfile tão aguardado.
Sorriu ao ver todos os lugares ocupados, a imprensa, antigos clientes e alguns que ainda não
conhecia. Estava satisfeita, aquele era um sinal de que eram parceiros de outros clientes que
vieram conhecer o trabalho da Belle´s. Sentou-se na fileira da esquerda, caso precisassem dela
estaria mais próxima à equipe. Dali tinha uma ampla visão de tudo.

Fizeram uma breve apresentação e depois a abertura com o Ballet Fly. Os movimentos
eram lindos e graciosos. Tinha sido ideia de Rose. Estavam impecáveis e deixaram todos
encantados. Mas mesmo com tudo perfeito, Manu sentia algo estranho, como se houvesse
alguém a observando. Era uma sensação que sentia desde o momento em que entrara na boate
Ballet Classic Constantine. Ao olhar à sua direita, do outro lado do salão, seus olhos
encontraram-se com os de Heitor. Manu não soube explicar a si mesma, o que sentiu naquele
momento, era um misto de emoções indecifráveis. Todavia, desviou olhar para apresentação,
precisava de foco, depois pensaria em como ele havia chegado ali e o que estava fazendo ali.
Apesar do esforço, sua concentração fora roubada.

Finalizado o desfile ela subiu na passarela juntamente com Nilda, modelos e toda a equipe
em forma de agradecimento. Logo depois seguiram para o coquetel servido no ambiente ao lado,
um espaço simples, mas com muita classe, como seus clientes mereciam. Manu era abordada por
várias revistas e interessados em adquirir peças exclusivas do desfile. Havia também noivas
querendo fechar vestidos para casamentos. Ali, Manu foi tomada por uma nostálgica vontade de
ver seu pai. Saber se naquele momento ele teria orgulho dela.

Em meio a esse pensamento, sentiu um perfume atrás de si. Antes mesmo que se virasse
para confirmar, Heitor apareceu ao seu lado. Desde a discussão que tiveram na Belle´s, não
tinham se falado mais. Naquele momento ela sentia um frio na barriga ao reencontrá-lo, sem
falar que depois do desfile entraria com o processo definitivo de divórcio. Não queria demorar
mais, pois tinha visto uma foto dele com Cristina em um evento de caridade e a jornalista deixara
claro que estavam juntos. Manu queria logo deixá-lo livre.

Ele se aproximou dela, ambos não se olharam.

— Parabéns! — Heitor disse.

— Obrigado... Estou surpresa em vê-lo aqui.

— Os resultados do desfile serão excelentes. Ouvi muitos falarem do bom gosto e


elegância da coleção — falou. Estava se sentindo um tolo ao lado dela, não sabia o que dizer.

— Caso precise de algo em especial, Larissa poderá atendê-lo. Quem sabe encontra algo
para a sua nova conquista — disse sorrindo. Tomou um gole do champanhe e continuou: — Ou
veio apenas para me fazer lembrar que há um divórcio para darmos entrada? Pois fique tranquilo,
ainda essa semana providenciarei tudo.

Heitor sentiu-se culpado por causar tamanha dor a ela. Lembrava-se das palavras que
dissera quando estava dominado pela raiva. Ela era uma mulher maravilhosa. A verdade é que
estava ali para reconquistá-la e não sairia enquanto não conseguisse. Antes que pudesse
respondê-la, Sérgio a puxou para uma foto e entrevista.

Não havia entendido o comentário dela sobre sua nova conquista... Heitor ficou perdido.
Precisava conversar com ela, mas precisaria ser em outro lugar, ali estava cheio demais e ela
estava muito ocupada. Ficou observando-a ao longe, admirando-a em segredo. Como fora um
idiota por tê-la deixado escapar de sua vida. A queria ao seu lado. Agora só precisava contar isso
a ela e pedir desculpas.

— O senhor está marcando presença no desfile de sua ex-esposa. Isso é o início de uma
reconciliação? — perguntou uma colunista da revista de fofocas.

No momento que iria responder, viu Emanuelle olhando na direção dele. Aproveitou para
sorrir. Para sua surpresa, ela sorriu para ele também. A esperança renasceu dentro do seu
coração.

— Nunca estivemos tão juntos quanto agora — respondeu. Caminhou entre todos e parou
ao lado de Emanuelle, para que a imprensa pudesse registrar o momento.

Emanuelle não entendia o que se passava na cabeça de Heitor, estavam separados já há


algum tempo e do nada ele pousava ao seu lado como se nunca tivessem se separado? Ele
precisaria explicar o que pretendia com aquela encenação. Mas naquele momento apenas sorriu
para que todos achassem que estavam bem.

— Cadê o beijo do casal mais lindo dessa noite? — Sérgio, provocador como sempre,
pediu.

Emanuelle se perguntava o que estava acontecendo, por que ele agia daquela forma?
Pensou em negar o beijo, mas viu que algumas pessoas aguardavam aquilo. Só naquele instante o
encarou novamente depois de muito tempo longe um do outro. Heitor, como cavalheiro que
sempre foi, segurou seu queixo e a beijou de leve nos lábios. Foi como uma carícia que a fez
voltar em um passado não muito distante, de quando estavam casados e era tudo mil maravilhas.
Parecia um filme em sua mente. Afastou-se assustada, percebendo que o que sentia era ainda
mais forte do que antes.

Mantiveram-se um ao lado do outro até que a imprensa e todos os demais se esquecessem


deles. Heitor via que ela agia naturalmente, mas sua presença parecia incomodá-la. Aproveitou
para afastar-se quando ela reuniu-se com a equipe para despedir-se e ir para o hotel com Nilda.

Do lado de fora aguardava o táxi quando viu Manu e Nilda indo embora também.

— Se quiserem pegar esse táxi, aguardo outro — sugeriu Heitor.

— Em que hotel está hospedado? — Nilda perguntou a ele, sorrindo com cumplicidade.

— No Plaza Del Ricco. — Heitor a respondeu.

— Que coincidência, estamos no mesmo hotel. Vamos todos juntos? — Nilda sugeriu.

— Perfeito — concordou Heitor.

Emanuelle mantinha-se em silêncio. Pela primeira vez não sabia o que dizer a ele. Era
melhor manter-se calada até acostumar-se com a presença dele ali. Mas como se acostumaria
com o beijo, com os olhares que trocaram e com o fato de ele estar ao seu lado e indo com ela
para o mesmo hotel? Aliás, aquilo só podia ser coisa de Nilda!

Nilda e Heitor conversavam animados, parecia que era a primeira vez que se viam. O táxi
estacionou em frente ao hotel e ela foi pagar, mas ele não aceitou.

— Na próxima é você.

— Tudo bem.

Ele desceu, ajudou Nilda e voltou para ajudar Manu. Ao pegar a mão de sua linda esposa,
desejou segurá-la por toda sua vida, mas ela foi mais rápida e soltou-se dele assim que desceu do
carro.

— Vou ao bar tomar alguma coisa — disse Heitor no Hall de entrada do hotel. — Vocês
me acompanham?

— Não, querido, meus pés estão moídos, mas Emanuelle poderá lhe acompanhar — disse
Nilda com rapidez, satisfeita com a ideia de juntá-los novamente. Saiu antes que Emanuelle
resmungasse.

— É, vamos lá. — Foi a única frase que ela pronunciou desde que saíram do coquetel.

Heitor já estava incomodado com o silêncio dela. Sentaram em um canto onde não seriam
vistos. Ele pediu uma bebida e aguardou o pedido dela.

— O que irá pedir? — perguntou ao notar a demora dela.

— Só água, por favor, tomei muito champanhe já.

Heitor não sabia por onde começar a conversa, pois ela estava quieta demais. Também
notou que ela estava pálida.

— Vi que sua tia estava no desfile. — Resolveu comentar.

— Sim, veio me ajudar. Mas havia outro evento esta noite e ela teve de sair mais cedo —
comentou Manu brevemente.

— Minha presença a incomoda, Emanuelle? — Sem rodeios Heitor perguntou.

No mesmo instante ele se arrependeu da pergunta. O olhar dela era triste e cansado. Queria
cuidar dela e não fazer perguntas.

— Não, mas me assusta.

— Eu nem sei por onde começar, mas precisamos conversar, Emanuelle...

— Não sei — ela o interrompeu: — Da última vez que nos encontramos falamos tudo o
que queríamos, Heitor.

— Eu sinto muito por ter lhe magoado. Eu queria poder reparar o que saiu da minha boca.

— Infelizmente não tem como recuperar o que sai de nossas bocas. Você estava certo de
querer saber sobre a verdade. Era um direito seu.

Ele pegou a mão dela e com a outra segurou-a pelo queixo, fazendo-a encará-lo.
Entretanto, ao levantar a cabeça para olhá-lo, Manu viu Cristina atrás dele. Emanuelle levantou-
se forçando um sorriso.

— Olá, Cristina — cumprimentou.

Heitor não estava acreditando no que ouvia. Cristina? O que ela fazia ali? Como conquistar
Emanuelle, se onde ia tinha alguém para atrapalhar! Teria de pôr um ponto final naquela história.

— Oi, querido, estava procurando por você.

— Por mim? Por que me procurava? — franziu o cenho.

Emanuelle sentia-se mal, a respiração começou a pesar de repente. Colocando a mão no


peito falou:

— Bem, já que o encontrou, Cristina, vou subir e descansar. Estou exausta. — Era só o que
faltava ficar junto deles ali.

Antes que Heitor tentasse falar algo, ela se afastou. Seu peito doía muito, era como se o ar
não fosse suficiente. Ficar no mesmo ambiente que os dois era ainda pior.

— Espere, Emanuelle... — Heitor tentou chamá-la.

— Ela parecia pálida ao me ver com você — Cristina comentou segurando Heitor pelo
braço. — Contou sobre nós ou ela soube só agora?

— Quê? O que exatamente acha que há entre nós, Cristina? — Heitor explodiu, tinha
vontade de chamá-la de maluca.

— Achei que pudéssemos nos acertar. Sabe, namorar... Todos estão comentando sobre
nosso suposto caso.

— Pouco me importa o que dizem por aí, Cristina. – Afastando a mão dela do seu braço ele
continuou: — Deixei claro a você que éramos apenas sócios e amigos. Agora, se me der licença.

Heitor saiu desesperado atrás de Emanuelle. Então era isso que a deixou coagida na
presença dele. Com certeza o tinha visto ao lado de Cristina na revista de fofocas.

Faria tudo para provar o quanto sentia falta dela, que não conseguia viver sem tê-la ao seu
lado. Dentro do elevador olhou para si no espelho e só então notou o quanto estava cansado.
Devia ter envelhecido alguns anos de tanto esperar uma oportunidade de estar sozinho com
Emanuelle e explicar tudo.
Tinha visto o número do quarto dela em seu cartão, então não demorou para encontrar o
quarto. Mas assustou-se ao ver a porta entreaberta e ouvir a voz de Nilda lá dentro. Havia outra
mulher junto, parecia-se com Emanuelle, porém mais madura.

— O que houve lá embaixo, Heitor? — Nilda perguntou ao vê-lo.

Ao aproximar da cama viu Emanuelle deitada. Ela estava pálida. Correu até ela
desesperado.

— O que aconteceu com a Manu? Estávamos conversando quando Cristina chegou, mas
Emanuelle saiu sem aparentar qualquer mal-estar. — Sentando-se na cama colocou a mão na
testa dela, angustiado. — Devemos chamar o médico?

— Ela pediu para não chamar. Exaustão adoece, mas a dona teimosa não nos deu atenção
— disse a mulher ao seu lado. — Sou Cassandra — apresentou-se.

Heitor olhou para Cassandra e depois para Nilda, tentando entender o que se passava ali.
Mas aceitou a mão dela e a cumprimentou.

— Prazer, sou...

— Sei quem você é, Heitor Damasceno.

— Não sabia que você estava aqui também.

— Emanuelle conseguiu minha liberdade condicional. — Olhando-o com atenção ela


falou: — Eu é que estou surpresa com sua presença aqui.

Encararam-se por segundos.

— Podemos falar sobre isso em outra hora? Neste instante devemos nos preocupar com a
saúde de Emanuelle — disse ele segurando a mão de Emanuelle entre as suas.

Viu Nilda e Cassandra se olharem.

— Vamos, senhora, deixe Heitor e Emanuelle um pouco a sós — pediu caminhando até a
porta, sendo acompanhada por Cassandra. — Estamos no quarto ao lado, querido — Nilda
avisou.

Contrariada, Cassandra o encarou antes de fechar a porta atrás de si. Não deixaria que mais
ninguém machucasse sua família, lutaria com todas as forças. Emanuelle era seu maior tesouro.
— Heitor, o que está fazendo aqui? — A voz dela era fraca.

Ele estava sentado na poltrona que havia colocado ao lado da cama dela, caso ela
despertasse estaria ali. Com dificuldade ela tentava se sentar.

Heitor ajudou-a, ajeitando os travesseiros atrás de suas costas para que ela se apoiasse
melhor.

— Cassandra e Nilda, foram ao outro quarto... — começou a dizer. Por que não abria o
jogo logo e dizia que a amava mais do que tudo no mundo?

— Elas incomodaram você? Estou bem, pode voltar para a Cristina, vocês parecem bem
íntimos.

— Você está com ciúmes, Emanuelle?

Percebeu que ela não negava a pergunta, mas também não afirmava. Ficou apenas em
silêncio.

— Esquece! — tentou disfarçar. — Mesmo que ainda estejamos casados, isso não me dá o
direito de saber com quem anda. E ciúme está bem longe do que sinto.

— Que bom, porque é isso o que ela quer.... E, Manu, eu vim até aqui por você, a Cristina
me pegou de surpresa... Nem sei o que ela está fazendo aqui.

— É sério, Heitor, você não precisar me dar explicações — cortou-o secamente. Sua mente
estava cheia de imagens dos dois juntos. — Qual o motivo o trouxe de tão longe, o que
aconteceu que não pôde aguardar minha chegada?

Heitor a observou demoradamente, tentando achar as melhores palavras. Sem hesitar falou:

— Primeiramente, não vim aqui por causa de divórcio.

Emanuelle compreendeu que era algo de suma importância para fazê-lo largar a preciosa
empresa e ir até ali.
— Mas esse é o melhor momento. Já estamos há meses separados... Se precisa de mais um
tempo para que realmente receba de seu pai a promoção, tudo bem, estou de acordo. É egoísmo
de minha parte, já que eu...

— Vamos deixar a empresa e nossas heranças de lado, por favor. — Ele a interrompeu de
repente.

Emanuelle o olhou com interesse. O que ele estava tentando lhe dizer?

— Pensei que esse fosse o real motivo de ter vindo atrás de mim. Então o que é? —
perguntou confusa.

— Casamento, Manu. Vim até aqui para conversarmos sobre o nosso casamento.

Ela se endireitou na cama. O que ele queria, afinal?

— O que tem o nosso casamento, Heitor? — perguntou. Ela ainda não estava bem, sua
cabeça doía. — Algum problema com sua família?

— Emanuelle, não há ninguém nos meus pensamentos agora além de nós. Quero falar do
nosso futuro — ele falou de uma só vez.

— Houve muita coisa durante os meses que estivemos juntos, sei que saímos do
planejado...

Ele sorriu... E que sorriso! Não podia estar mais lindo do que naquele momento com o
ambiente à meia luz. Emanuelle já sentia-se melhor do que antes só de vê-lo sorrir.

— Somos adultos. Ambos desejamos tudo o que aconteceu.

— Tentamos evitar diversas vezes — acrescentou sorrindo, tentando ajudá-lo a falar logo.

— Nosso plano teve êxito no final — declarou ele. — Você conseguiu a empresa e eu
consegui continuar à frente da empresa da minha família e fazer com que meus pais parassem de
tentar guiar minha vida. Entretanto, as coisas mudaram... — estava confuso.

— O que mudou, Heitor? — perguntou, encorajando-o, sem entender o que se passava. Ele
era tranquilo e seguro de si, mas naquele instante não parecia assim.

— Tudo mudou. No inicio fiquei pensando que seria arriscado, mas no instante em que fui
pressionado me peguei imaginando se o seu acordo realmente colocaria um fim nos nossos
problemas. Era um plano mais que perfeito para ambos.
— Desde o momento que planejei sabia que conseguiríamos — disse ela. Emanuelle estava
começando a se sentir quente debaixo das cobertas.

— Lindamente, o resultado foi perfeito — Heitor concordou. — Mas, as coisas mudaram


de figura. Jamais imaginei que fosse sentir o que comecei a sentir.

— Diga, Heitor. O que começou a sentir? — A ansiedade estava matando-a por dentro.

Ele pegou sua mão e beijou seus dedos. Os olhos dele tinham um brilho diferente do que
de costume.

— Como sabe, sou um homem voltado ao trabalho. Tento não deixar nada me atrapalhar.
— Ele brincava com seus dedos. — Bem, vim até aqui, pois sentimentos que antes eu não
possuía começaram a nascer.

— Interessante... E esses sentimentos, o que têm a ver comigo? — perguntou.

— A ideia de tê-la longe de mim começou a incomodar demais, principalmente ao ver


outros homens a cobiçando. — Passando as mãos pelos cabelos dela, falou: — Não consigo
imaginar minha vida sem você, Emanuelle.

— Mas isso não deveria ter acontecido, Heitor — disse ela, tentando se livrar das cobertas.

— E por que não?! Somos casados. — Ele respondeu simplesmente.

— Sei lá, você tem planos para o futuro. Encontrar alguém você mesmo, sem ninguém
forçando a barra, ou escolhendo por você.

— Mas já fiz minha escolha, Emanuelle — espontaneamente falou. — Era um casamento


planejado, com contrato e tudo mais. Era tudo bem claro, por sinal, mas no momento que
coloquei a aliança no seu dedo e nos beijamos... E depois, quando logo estávamos fazendo amor,
tentei resistir ao que sentia, mas sem sucesso.

— Não imaginava que eu significasse tanto para você — ela murmurou levantando-se da
cama.

Ele levantou-se também, tinha medo que ela caísse, aparentemente ainda estava fraca. No
centro do quarto havia um sofá, Heitor ajudou-a se sentar ali e ficou ao lado dela.

— Significa muito Emanuelle. Na verdade, desde o momento que a vi no dia do baile, me


encantei por você. Tentei esquecê-la, afastando-a de mim, porém você apareceu toda linda no
meu escritório e fez a proposta mais excêntrica que já havia recebido.
Emanuelle não sabia por onde começar. Ele estava ali falando de seus sentimentos por ela.
Precisava agir e ser sincera também. Suspirando disse:

— Meus sentimentos, assim como os seus, também mudaram.

— Minha doce Emanuelle... — Heitor a puxou devagar e a beijou suavemente, em seguida


confessou: — Tentei encontrá-la diversas vezes para dizer a verdade.

— Por que não foi?

— Por estar apaixonado por você — declarou ele.

— Mas, não entendo, estive tão perto de você.

— E ao mesmo tempo tão longe, tentei de várias formas encontrá-la, mas meu orgulho não
me permitia — declarou Heitor. — Mas você ficou em meus pensamentos.

— Eu nem sei o que dizer, Heitor, realmente não estava nos nossos planos — Emanuelle
pigarreou, um nó havia se formado em sua garganta. — Enganei você quando fiz a proposta de
casamento, omiti qual era o real motivo para a proposta...

— Isso já não importa Emanuelle, vamos iniciar do zero e do jeito certo.

Manu colocou a mão na boca dele para silenciá-lo. Precisava falar.

— Eu preciso contar, tirar esse fardo de minhas costas, Heitor... — Ela levantou torcendo
as mãos. — No dia do baile, tio Afonso enviou-me uma carta e um anexo que papai havia
deixado para mim. Lá dizia que eu deveria estar casada antes dos trinta e dois anos, ou perderia a
herança que papai deixou para mim. Caso eu estivesse solteira, parte da empresa passaria para os
sócios de papai e tio Afonso. Eu perderia todo o trabalho que fizemos todos esses anos. Os
funcionários ficariam sem emprego... — Ela estava muito abalada ao imaginar o que poderia ter
causado a eles.

— Você propôs o casamento para que eles não perdessem seus empregos? — indagou
abraçando-a. — Perdoe-me por não ter lhe dado a chance de se explicar melhor.

— Mas você estava certo, eu devia ter contado... — Ela o abraçou forte. — Perdoe-me
Heitor, preciso tirar de mim esse erro.

— Apenas me responda uma coisa. O que você sente por mim, Emanuelle? — perguntou
segurando o rosto dela em suas mãos, beijando-a gentilmente.

— Se eu disser não estarei enganando a mim mesma, Heitor. Desde o momento em que
colocou a aliança em meu dedo, no dia do nosso casamento, eu o amei. Confesso que tentei de
todas as maneiras lembrar meu coração o real motivo de nosso casamento. Sabia que logo você
seguiria seus próprios caminhos — falou enquanto lágrimas rolavam em sua face. — Mas
algumas vezes, doía imaginar-me longe de você, Heitor.

— Emanuelle... — Ele começou a beijá-la, secando suas lágrimas.

— A única forma de tentar te esquecer foi trabalho e mais trabalho, cheguei no ponto em
que estou neste momento, exausta. E mesmo assim, ver você, sentir seu cheiro gostoso — ela
sorriu timidamente —, ouvir a sua voz, tudo isso mexeu muito comigo.

— Meu amor... — exprimiu-se ele. Estava encantado com a sinceridade dela.

Ambos se abraçaram por segundos, depois afastaram-se casualmente para um beijo,


sentindo-se aliviados por partilharem do mesmo sentimento.

— Amo você, Heitor Damasceno — revelou ela.

Sem demora ele a pegou nos braços e carregou-a até a cama.

— Eu também a amo, muito! Agora descanse, minha adorável esposa — pediu. Heitor a
viu passar a mão na barriga e só então percebeu que havia um volume ali. Curioso, encarou-a: —
Emanuelle, sua barriga, é o que estou pensando?

Ela balançou a cabeça, afirmando com um sorriso doce.

— Você será papai, meu amor. Estou grávida de dezessete semanas.

A felicidade contagiou todo o rosto dele. A única mulher que amara na vida estava ali
dizendo que o amava e ainda que teriam um bebê? Sentia-se o homem mais feliz do mundo.

— Eu te amo, Emanuelle — disse novamente. Beijou-a no rosto e logo em seguida


começou a beijá-la na barriga. — E vou amá-la sempre.

The end.
Biografia

Biografia
Waldinéia de Oliveira é apaixonada por livros, além de gostar de moda, animais e música.
Seus livros já foram lançados nas bienais de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. É autora dos
romances “A essência da rosa”, “As controvérsias do amor” e do infantil “Marronzinho Escuro”.
Publicou também o romance juvenil “Papo de garotas” e o conto “Valentina”, na antologia
“Amores em metamorfose”. Escreveu o conto “Espectro” para a antologia “Aconteceu no Natal”
e lançará em breve o romance “Doze garotas e Eu”, “Conto dos Contos” e “Amigos e nada
mais”.

Membro acadêmica da ALUR — Academia de Letras de Unaí e Região — na qual ocupa a


cadeira 23, patrono Maurício de Sousa. Além disso é também artista plástica, design de moda,
idealizadora da revista “Livros Nacionais” e editora na The Books Editora.

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Conheça outras obras

Em breve

A Essência da Rosa

Sinopse: Aos seis meses de idade, Fabienny foi abandonada em frente ao


convento. As freiras a acolheram com amor e cuidaram dela, mas a maioridade
chegou e ela teve que fazer uma escolha, entre se tornar uma noviça ou seguir seu
próprio caminho longe do lugar que sempre considerou seu lar.
O destino então lhe apresenta Lauren, uma mulher gentil que lhe oferece uma
vida fora do convento. Ela aceita, e assim que passa pelo portão de sua nova casa,
tudo muda ao se deparar com o filho de sua benfeitora e sentir emoções que até
aquele instante eram desconhecidas.

As descobertas do primeiro amor, as mudanças em seu corpo diante da paixão


e desejos inesperados , fazem com que Fabienny se sinta confusa sobre o que sente e
em conflito com todos os ensinamentos religiosos que teve ao longo da vida.

A Essência da rosa traz a história delicada de uma moça que precisa aprender
a conhecer suas emoções e a lidar com suas paixões sem perder a paz.

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