Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISSN: 2359-2354
Vol. 5 | Nº. 2 | Ano 2019
Site/Contato
www.capoeirahumanidadeseletras.com.br
capoeira.revista@gmail.com
Editores
Marcos Carvalho Lopes
marcosclopes@unilab.edu.br
Pedro Acosta-Leyva
leyva@unilab.edu.br
Paulo Alves Júnior
RESENHA de:
Marx na América – a práxis de Caio Prado e Mariátegui. São Paulo: Alameda, 2018, de
Yuri Martins Fontes
1
MARTINS FONTES, Yuri. Marx na América – a práxis de Caio Prado e Mariátegui. São Paulo: Alameda, 2018,
p. 47.
2
MARTINS FONTES, idem. As seguintes citações, caso não referenciadas, são todas relativas a esta obra
resenhada.
*************
O que Marx na América nos mostra de forma contundente é que ambos não postulavam
leituras anódinas a respeito de suas sociedades: não deve haver nas análises marxistas meras
transposições teóricas, mas sempre interpretações mediadas pelas próprias realidades históricas.
Entre as particularidades dos intelectuais investigados por Yuri Martins Fontes, o viço
que os aproxima é a questão nacional na América Latina, tema que aparece como corrente na
obra ora resenhada. Se no primeiro e segundo capítulo o autor procura historicizar o tema,
apresentando a formação teórica, política e a obra dos pensadores, no terceiro e quarto, o
destaque fica para a questão do método (primeiro em corte teórico-historiográfico, depois
filosófico). Isto amplia o horizonte da obra de Yuri, que para além de Prado e Mariátegui,
dialoga com Marx, Lênin, Lukács, Gramsci, Florestan Fernandes, e mesmo Mészáros; ou seja,
todos aqueles que tomaram como “pedra de toque” de suas incursões sobre a teoria social a
tradição marxiana como approach heurístico.
Longe de defender a cantilena universitária, primada hoje por uma assepsia teórica,
temos não somente um expediente reduzido ao linguístico, mas uma concepção que assimila a
unidade entre a teoria e a prática. Nesse sentido, a “filosofia da práxis” desenvolvida por Yuri
não tem meramente a função de dar lustro academicista ao livro, mas sim para inseri-lo na
Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.5 | Nº. 2 | Ano 2019 | p. 361
RESENHA: Marx na América – a práxis de Caio prado e Mariátegui
tradição que remonta à 11ª Tese sobre Feuerbach, em que Marx sentencia: “Os filósofos apenas
interpretaram o mundo de diferentes maneiras; porém, o que importa é transformá-lo”3. Gramsci
já alertava que essa tese não pode ser lida como negação a qualquer filosofia, mas lembrando que
o campo de ação prático está sempre em acordo com a tradição teórica 4. Para a filosofia da
práxis, o ser não pode desconectar-se da reflexão; se assim o fizer, corre o risco de cair no vale
sinistro da abstração sem sentido.
Mas o filósofo da práxis, sabendo do riscado, não deixa margem a falhas interpretativas
no que diz respeito ao caráter revolucionário dos autores estudados:
3
MARX, K. A ideologia alemã – crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B.
Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 539.
4
GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere vol.1, RJ: Civilização brasileira, 2004, 3ª edição.
5
MARTINS FONTES, Y. Marx na América, obra cit., p. 320.
REFERÊNCIAS
GRAMSCI. Antonio. Cadernos do cárcere (vol.1), Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2004,
3ª edição.
LÖWY, Michael (org.). O Marxismo na América Latina. São Paulo: Expressão Popular, 2016.
MARTINS FONTES, Yuri. Marx na América – a práxis de Caio Prado e Mariátegui. São
Paulo: Alameda/Fapesp, 2018.
MARX, K. A ideologia alemã – crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes
Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas. São Paulo:
Boitempo, 2007
6
LÖWY, Michael (org.). Marxismo na América Latina. São Paulo: Expressão Popular, 2016.
Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.5 | Nº. 2 | Ano 2019 | p. 363