Você está na página 1de 5

História da Música II

Nome: Nayara Lopes da Silva

Resumo: Beethoven, homem, compositor e revolucionário.

Ludwig van Beethoven foi um verdadeiro revolucionário na música, marcou uma era
de transição e turbulência, de guerras e revoluções. Através da sua produção, incluindo
sinfonias, concertos e óperas, sua influência se tornou profunda para outros compositores.
Marx destaca a diferença entre a França revolucionária e a Alemanha que, devido ao seu
atraso social viu uma revolução principalmente nas mentes. O movimento Sturm und Drang
reflete a agitação intelectual alemã do final do século 18, influenciada pela filosofia idealista.
Essa revolução teve impacto além das fronteiras, moldando a literatura e, eventualmente, a
música de Beethoven, que personificou o espírito revolucionário.
A narrativa muda para a juventude de Beethoven em Bonn. Nascido em uma família
musical, sua infância infeliz moldou um caráter introvertido e rebelde. Apesar das tentativas
de seu pai de transformá-lo em um prodígio infantil, Beethoven não era naturalmente
inclinado à música e precisava ser impulsionado por vários professores. Nascido em um
período de agitação histórica, influenciado pelas Revoluções Americana e Francesa. Sua
música reflete o espírito revolucionário da época, respondendo às transformações sociais e
políticas. Apesar de enfrentar adversidades, como a perda gradual da audição a partir de
1796, Beethoven transformou sua surdez em uma vantagem criativa.
O compositor, inicialmente um entusiasta da Revolução Francesa, viu sua vida
pessoal marcada por tragédias, incluindo relacionamentos problemáticos. Em meio a crises,
Beethoven encontrou na arte sua salvação, expressando suas emoções e lutas internas
através da música. Sua capacidade de superar desafios resultou em obras notáveis, como a
Sinfonia "Eroica", testemunhando sua genialidade e resiliência. A vida e obra de Beethoven
são entrelaçadas com o contexto histórico, suas lutas pessoais e a capacidade única de
transcender adversidades, deixando um legado duradouro na música clássica.

A dialética da sonata

As formas sonatas de Beethoven, introduziu uma dinâmica instigadora. Ao contrário


dos compositores anteriores, ele integrava partes calmas e cargas altas de sentimentalismo
em uma interação contínua, criando uma tensão interna que clamava por resolução. A
forma sonata, uma estrutura musical essencialmente dialética, já existia, mas Beethoven a
elevou a novos patamares ao incorporar uma abordagem dialética em seus movimentos,
seguindo a progressão dialética de tese-antítese-síntese.
Embora a forma sonata fosse predominante no final do século XVIII, com Mozart e
Haydn consolidando-a, Beethoven trouxe uma mudança fundamental ao destacar o
conteúdo real da forma. Suas sinfonias transcendem a mera conformidade formal,
revelando um processo de luta e desenvolvimento por meio de contradições. A combinação
entre forma e conteúdo nas obras de Beethoven representa um feito na história da música,
evidenciando a unidade dialética que caracteriza toda grande arte.
As sinfonias de Beethoven representam uma ruptura paradigmática na evolução da
música, caracterizadas por uma transformação significativa na estrutura formal e na
expressão emocional. Enquanto formas aparentemente convencionais são mantidas,
Beethoven introduz dissonâncias proeminentes que refletem conflitos internos, desafiando a
simetria formal. Sua abordagem à forma sonata transcende a mera estrutura, adotando uma
expressão poderosa e íntima de sentimentos. Com uma paleta sonora áspera e uma
dinâmica musical revolucionária, suas sinfonias, notadamente a Quinta e a Terceira
(Eroica), atingem uma sublimidade sem precedentes. Este desenvolvimento musical,
fortemente enraizado no contexto histórico da Revolução Francesa, reflete não apenas a
genialidade de Beethoven, mas também uma resposta profunda às mudanças sociais e
históricas de sua época, evidenciando um conflito intenso que caracteriza sua obra.

A sinfonia heroica

A terceira sinfonia de Beethoven, conhecida como a Eroica, é um marco


revolucionário tanto na vida do compositor quanto na história da música ocidental.
Composta durante o auge da Revolução Francesa, a Eroica inicialmente refletia o
entusiasmo de Beethoven pelos ideais revolucionários, sendo originalmente dedicada a
Napoleão Bonaparte. No entanto, a traição de Napoleão aos princípios democráticos levou
Beethoven a rasgar furiosamente a dedicatória, renomeando-a em homenagem a um herói
anônimo da revolução. A sinfonia, caracterizada por inovações musicais e um subtexto
político, destaca-se por seu chamado à luta e otimismo triunfante, representando não
apenas uma revolução na música, mas também ecoando a tumultuada realidade política da
época.
A Eroica não apenas introduziu sons inéditos e desafiou as convenções musicais da
época, mas também consolidou a posição de Beethoven como um dos maiores gênios
musicais. A sinfonia, expressando um conflito interno por meio de dissonâncias e temas
significativos, transcende a música superficial programática, tornando-se a base para o
desenvolvimento da música romântica. Beethoven, alinhado com os grandes
revolucionários franceses, conferiu à sua música um significado profundo, levando o público
a refletir sobre a natureza da música e suas implicações abstratas e gerais.

Quinta Sinfonia

A Quinta Sinfonia de Beethoven, reflete um espírito revolucionário que permeia toda


a obra do compositor. Considerada uma agitação política musical, a sinfonia é interpretada
como um chamado à mudança e à luta contra um mundo insatisfatório. Beethoven, alinhado
com as raízes revolucionárias da Quinta, incorpora temas de canções revolucionárias
francesas e apresenta uma notável transição dialética da tonalidade menor para a maior. A
narrativa musical, assim como a Revolução Francesa, atravessa fases de impulso vigoroso,
momentos de indecisão e desespero, culminando no brilhante triunfo do último movimento.
A Quinta Sinfonia transmite uma mensagem atemporal de luta e superação das
adversidades, inspirando diferentes audiências ao longo dos séculos, desde os alemães
que resistiram à ocupação francesa até os franceses mobilizados contra os alemães
durante a Segunda Guerra Mundial. Beethoven, verdadeiro revolucionário, redefine a
música, antes predominantemente aristocrática, para um patamar exigente e inspirador.

Egmont

A ópera Fidelio, inicialmente concebida como Leonora, foi composta por Beethoven
em 1805, durante a entrada vitoriosa do exército francês em Viena. Com claras conotações
revolucionárias, especialmente evidentes no famoso coro dos prisioneiros, a obra exalta a
Liberdade, um tema constante no pensamento e na obra do compositor. Similarmente, a
música incidental para a peça Egmont, baseada na revolta dos Países Baixos contra o
domínio espanhol, transmite uma mensagem explícita. Inspirado pela história de Egmont,
um nobre flamengo decapitado por lutar contra a tirania espanhola, Beethoven adaptou a
tragédia de Goethe, vendo Egmont como um símbolo universal da luta revolucionária contra
a opressão. A música de Beethoven para Egmont, embora conhecida principalmente por
sua abertura, incorpora materiais notáveis, incluindo o discurso final do protagonista, que
denuncia a tirania e instiga corajosamente o povo à revolta pela liberdade, mesmo que isso
signifique sacrificar suas vidas.
O otimismo revolucionário de Beethoven enfrentou um teste severo quando
Napoleão, após restaurar formas do Antigo Regime, encontrou resistência na Europa
monarquista, desencadeando uma década de guerra e lutas pela liberdade. A derrota de
Napoleão em Waterloo e a morte do irmão de Beethoven, Kasper, em 1815, marcaram um
período de reação negra na Europa, com a restauração monarquista e perseguições a
movimentos progressistas. Após esses eventos, Beethoven, profundamente afetado,
compôs obras marcadas por uma introspecção filosófica e resistência, como a monumental
Missa Solemnis e os últimos quartetos de cordas.
Durante esse período, Beethoven enfrentou não apenas desafios políticos, mas
também pessoais, envolvendo uma amarga disputa pela custódia de seu sobrinho Karl. Sua
surdez, isolamento e perdas pessoais contribuíram para um declínio na produção musical
durante os anos de 1815 a 1820. Apesar das dificuldades, Beethoven permaneceu um
republicano militante e defensor da Revolução Francesa, resistindo às pressões da reação
predominante.
Em meio a um contexto cultural adverso, Beethoven compôs obras revolucionárias,
como a Grosse Fuge, que, embora incompreendidas por muitos contemporâneos,
expressavam seu espírito inabalável. A Nona Sinfonia, concluída em 1824, tornou-se um
testemunho duradouro de seu otimismo revolucionário, culminando na famosa "Ode à
Alegria". Mesmo enfrentando dificuldades financeiras e declínio na saúde, Beethoven
conduziu a estreia da Nona Sinfonia, marcando um triunfo emocional e artístico. Seu legado
perdura, pois, em suas composições, Beethoven ofereceu uma expressão profunda e
revolucionária da condição humana.

Pós-escrito

A nona sinfonia foi a última palavra de Beethoven — um desafio destemido à reação


aparentemente triunfante, que parecia toda-poderosa após a derrota dos exércitos
franceses em 1815. Essa aparente vitória final das forças de reação levou a uma onda de
desânimo e derrotismo que sufocava as esperanças da geração que havia buscado a
salvação na Revolução Francesa. Muitos ex-revolucionários caíram em desespero, e mais
de um foi para o lado do inimigo. É um quadro muito familiar para nossa própria geração,
com estranhos paralelos com a situação que se seguiu ao colapso da União Soviética.
Também parecia que a Europa estava prostrada aos pés da reação monarquista. Quem
poderia enfrentar um poder como os poderes monárquicos unidos da Europa, com a força
do czar russo por trás de cada trono e espiões da polícia em cada esquina? Despotismo e
O obscurantismo religioso triunfou. Em todos os lugares havia um silêncio sepulcral. E,
no entanto, no meio dessa terrível desolação, um homem corajoso levantou a voz e deu
ao mundo uma mensagem de esperança. Ele próprio nunca ouviu esta mensagem, exceto
dentro de sua cabeça, onde ela nasceu.
Mas a derrota da França e a reimposição dos Bourbons não puderam impedir a
ascensão do capitalismo e da burguesia, nem deter a maré da revolução que eclodiu
repetidamente: em 1830, 1848, 1871. O sistema de produção que triunfou na Inglaterra,
agora começava a penetrar em outros países europeus. A indústria, o tear de força, as
ferrovias e o navio a vapor eram as forças motoras da mudança universal e irreversível. As
ideias da Revolução Francesa — as ideias de liberdade, igualdade, fraternidade e os
direitos do homem — continuaram a atrair a imaginação da nova geração. Mas, cada vez
mais, as velhas ideias revolucionárias eram preenchidas com um novo conteúdo de classe.
A ascensão do capitalismo significava o desenvolvimento da indústria e da classe
trabalhadora — a portadora de uma nova ideia e de uma nova etapa na história da
humanidade — o socialismo.
A música de Beethoven foi o ponto de partida para uma nova escola de música, o
Romantismo, que estava inextricavelmente ligada à Revolução. Em abril de 1849, no
calor da revolução na Alemanha, o jovem compositor Richard Wagner conduziu a Nona
Sinfonia de Beethoven em Dresden. Na plateia estava o anarquista russo Bakunin, cujas
ideias influenciaram Wagner em sua juventude. Entusiasmado com a música, Bakunin
disse a Wagner que se houvesse algo que valesse a pena salvar das ruínas do mundo
antigo, seria essa partitura.
A Revolução de Outubro deveria desempenhar um papel semelhante ao da
Revolução Francesa. Inspirou gerações de homens e mulheres com a visão de um
mundo novo e melhor. É verdade que a Revolução Russa degenerou, sob condições de
terrível atraso, em uma caricatura monstruosa que Trotsky, usando uma analogia histórica
com a Revolução Francesa, caracterizou como bonapartismo proletário. E, assim como a
ditadura de Napoleão minou a Revolução Francesa e levou à restauração dos Bourbons,
a ditadura burocrática stalinista na Rússia levou à restauração do capitalismo.
Hoje, em um mundo dominado pelas forças da reação triunfante, enfrentamos uma
situação semelhante à enfrentada por Beethoven e sua geração após 1815. Agora, como
muitos ex-revolucionários abandonaram a luta. Não nos juntaremos ao campo dos
cínicos e céticos, mas preferimos seguir o exemplo de Ludwig van Beethoven.
Continuaremos a proclamar a inevitabilidade da revolução socialista. E a história vai
provar que estamos certos.
Aqueles que preveem o fim da história, provaram estar errados muitas vezes. A
história não é tão fácil de parar! Apenas três anos após a morte de Beethoven, os Bourbons
franceses foram derrotados pela Revolução de Julho. Isto foi seguido por revoluções em
toda a Europa em 1848-9. Então houve a Comuna de Paris de 1871, a primeira revolução
genuína dos trabalhadores da história, que abriu o caminho para a Revolução Bolchevique
em 1917.
Portanto, não vemos razão para pessimismo. A atual crise mundial confirma a
análisemarxista de que o sistema capitalista está em um beco sem saída histórico.
Prevemos com confiança, que o colapso da União Soviética, longe de ser o fim da história,
é apenas o prelúdio de seu primeiro ato. O segundo ato será a derrubada do capitalismo em
um país ou outro, que preparará o caminho para uma nova onda revolucionária em uma
escala nunca antes vista na história.
O declínio do capitalismo não se expressa apenas em termos econômicos e
políticos. O impasse do sistema reflete-se, não apenas na estagnação das forças
produtivas, mas também na estagnação geral da cultura. No entanto, como sempre
acontece na história, sob a superfície, novas forças estão lutando para nascer. Essas forças
exigem uma voz, uma ideia, uma bandeira em torno da qual se reunir e lutar. Isso chegará
com o tempo e, quando acontecer, não será apenas na forma de programas políticos.
Encontrará sua expressão na música e na arte, nos romances e na poesia, no teatro e no
cinema. Pois Beethoven e Goya nos mostraram há muito tempo que a arte pode ser uma
arma da revolução.
Como os grandes revolucionários franceses — Robespierre, Danton, Marat e
Saint-Juste — Beethoven estava convencido de que escrevia para a posteridade. Quando
(como frequentemente acontecia) músicos reclamavam que não podiam tocar sua música
porque era muito difícil, ele costumava responder: “Não se preocupe, isso é música para o
futuro”. Podemos dizer o mesmo sobre as ideias do socialismo. Elas representam o futuro,
enquanto as ideias desacreditadas da burguesia representam o passado. Para quem acha
isso difícil de entender, dizemos: não se preocupe, o futuro mostrará quem está certo!
No futuro, quando homens e mulheres relembrarem a história das revoluções e as
repetidas tentativas de criar uma sociedade genuinamente humana, baseada na verdadeira
liberdade, igualdade e fraternidade, eles se lembrarão do homem que, usando como meio
uma música que ele podia ouvir, lutou por um amanhã melhor que ele nunca veria. Eles
reviverão as grandes batalhas do passado e entenderão a linguagem de Beethoven: a
linguagem universal da luta pelo estabelecimento de um mundo adequado para homens e
mulheres livres viverem.

Você também pode gostar