Você está na página 1de 7

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ABAETETUBA


FACULDADE DE CIÊNCIAS DA LINGUAGEM
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS-LÍNGUA PORTUGUESA

DÉBORA ALEXANDRA LOPES DE OLIVEIRA

MANOELA CORREA FERREIRA

MATHEUS CARDOSO PEREIRA

FICHAMENTO

Do signo ao discurso: Introdução à filosofia da linguagem.

Abaetetuba
2023

ARAÚJO, Inês Lacerda. Do signo ao discurso: introdução à filosofia da linguagem.


São Paulo: Parábola Editorial, 2004. Cap. 1, p. 19

“1. A problemática da linguagem. [...]. A linguagem tem sido o tema por


excelência da filosofia contemporânea. As escolas e sistemas mais importantes e os
filósofos mais influentes, seja em lógica, teoria do conhecimento, ontologia, ética, de
uma forma ou de outra, acabam abordando a linguagem.” (p. 19).
“Até o século XIX, a linguagem foi praticamente ignorada, uma vez que seu
papel era confundido com o papel de logos, de ideias na mente, de cogito. Este breve
escorço histórico mostra que foram raros os momentos em que a própria linguagem foi
alvo de preocupação filosófica e/ou linguística. Destacamos os estoicos, Agostinho, a
Gramática de Port-Royal, Locke e Hobbes.” (p. 19).
“Os estoicos [...] elaboraram uma teoria acerca da linguagem, [...]. A razão
recebe as ideias mediante as sensações, a memória e a experiência. Daí nascem os
conceitos. A representação, sendo intelecção pela qual se reconhece a verdade das
coisas, permite que haja assentimento, compreensão e pensamento. O pensamento é
enunciativo, exprime com palavras o material recebido da representação, que são as
proposições completas em si.” (p. 19-20).
“No processo de significação, há três elementos: o significado, o signo e a coisa,
que pode ser uma entidade física, uma ação, um acontecimento. O signo é, por exemplo,
a palavra "Dion" (nome de uma pessoa); o significado é o que vem expresso por aquela
palavra e que nós compreendemos quando é dado ao pensamento; a coisa é o que
subsiste exteriormente, neste caso, o próprio Dion.” (p. 20).
“O valor do signo depende de ele relacionar-se com um fato anterior. Por
exemplo, "fumaça" precisa relacionar-se a fogo. A cada ocorrência de fogo, infere-se a
ocorrência de fumaça, o que mostra que os signos são formulados em proposições [...]”
(p. 20).
“Quando não for possível indicar o significado das palavras abstratas apontando
para algo, o sinal deve ser interpretado por meio de outro sinal, por exemplo, um gesto.”
(p. 21).
“As palavras são sinais verbais que remetem a outros sinais. As orações se
compõem de nomes, e a presença do verbo assegura que se trata de uma proposição.
Enquanto a palavra resulta da verbalização [...] o nome relaciona-se ao que o espírito
compreende ou conhece. Assim é que, para memorizar, pergunta-se o nome de algo e
não a palavra que serve para nomear. (p. 21).
“O significado se esvazia se não houver referente, conteúdo, coisa significada,
tanto que conhecer as coisas é preferível a conhecer os sinais correspondentes; falar é
valioso porque possibilita ensinar, usar o sinal no discurso.” (p. 21-22)
“Apesar de a maioria das coisas depender do sinal para ser transmitida e
ensinada, o conhecimento resultante é mais valioso do que os sinais. Se alguém vê uma
pessoa carregando armadilhas e armas e em seguida a vê com uma ave capturada,
compreende, sem sinais, o que é caçar.” (p. 22)
“Agostinho restringe a linguagem à referência, sem o que o significado é vazio,
pois a linguagem deve transmitir pensamento, e pensamento é sobre algo; esse é
justamente o problema do qual a filosofia e a linguística contemporâneas procuram se
desembaraçar. [...] conhecer a essência, a realidade "mesma" , é algo mais precioso do
que a palavra.” (p. 22).
“Há que mencionar ainda a contribuição da Gramática de Port-Royal (1660).
Lancelot e Arnauld tomam Descartes como ponto de partida. Para Descartes, mais vale
o pensamento, que é independente das línguas, é extralinguístico. A linguagem pode ser,
inclusive, uma das causas de erros e equívocos.” (p. 23).
“Para Port-Royal, a língua é um sistema de signos. As palavras ou expressões
são invólucro das ideias. Apenas as ideias ligam-se aos objetos. O nível mais elaborado
é o nível lógico das ideias, a língua exterioriza essa lógica, que é o fundo comum por
detrás da diversidade linguística, daí a gramática fundir-se com a lógica.” (p. 24).
“Enquanto Lancelot e Arnauld ressaltam uma gramática logicizada, Locke dará à
linguagem um papel mais complexo e significativo para o processo do conhecimento,
no qual aquela deixa de ser transparente.” (p. 25).
“O empirismo de Locke leva em conta a linguagem, que passara praticamente
despercebida ou mesmo desprezada por Descartes [...]. Os sons são sinais de ideias. A
linguagem transmite pensamentos através desses sinais, marcas exteriores das ideias
internas. Os sinais são usados para compreender várias coisas particulares, não há um
nome para cada coisa e sim termos gerais para indicar seres particulares.” (p. 25).
“As palavras, mesmo as abstratas, provêm da sensação: os vários e ricos
pensamentos só são conhecidos quando manifestados por sinais. A conexão entre sons e
ideias não ocorreu de modo uniforme, e como consequência disso temos as diversas
línguas.” (p. 25).
“As palavras só se tornam significativas no discurso. No discurso usam--se
palavras para significar em geral e em particular quando uma pessoa fala com outra.
Essa consideração da linguagem como fundamental para as ideias provém do
empirismo, o material sensível fornece as ideias que são depois elaboradas como ideias
de reflexão.” (p. 26).
“Seguindo os princípios do nominalismo, Hobbes afirma que os universais não
passam de nomes, não correspondem a nenhuma ideia ou conceito que pudesse ter ou
tivesse de fato consistência ontológica, diversamente das tendências conceptualistas
platónicas e cartesianas.” (p. 27).
“Não há conhecimentos absolutamente certos e evidentes, pois pelos discursos
jamais se saberá se isto ou aquilo foi, é ou será. O conhecimento é sempre condicional.
"E não se trata de conhecer as consequências de uma coisa pela outra, e sim as do nome
de uma coisa para outro nome da mesma coisa"[...] Quer dizer , deve-se levar em conta
o modo como se lida com as coisas, pela linguagem.” (p. 27).
“2. Signo e referência. Com notáveis avanços e, ao mesmo tempo com sérios
entraves, a análise de Saussure é ponto obrigatório na discussão da relação dos signos
com o chamado fator extralinguístico.” (p. 28).
“A referência fica fora da linguagem, uma vez que para a linguagem contam
apenas às relações intrassígnicas. O que tem duas consequências, sendo a primeira
produtiva, pois, como veremos, falar é relacionar signos entre si e não signos com a
realidade. A segunda consequência é mais problemática: a linguística estrutural é
constrangida a abandonar o problema da referência para preservar o caráter científico da
própria linguística. (p. 28).
“2.1. O signo linguístico. Para Saussure, a análise da linguagem deve ter caráter
científico, o que se obtém circunscrevendo o objeto de estudo da linguagem naquilo que
ele chamou de langue. No Curso de linguística geral (1916, obra póstuma, fruto das
anotações de seus alunos), ele explica que "língua" não é o mesmo que linguagem.” (p.
28).
“Segundo Saussure, no corte entre fatos sincrônicos , que são atuais e efetivos, e
fatos diacrônicos, que são históricos, temporais, a língua pertence aos primeiros, pois é
um sistema de signos.” (p. 29).
“Atualmente diríamos que a língua é uma estrutura. A coletividade fornece o
instrumento essencial à faculdade de articular palavras . Para haver língua, é preciso que
ideias distintas correspondam a signos distintos.” (p. 29).
“Trata-se do par opositivo língua/fala. A língua é social, essencial , não
demanda uma tomada de consciência , o indivíduo não pode criá-la nem modificá-la.
Requer aprendizado e vem fixada pela comunidade que a fala. É homogénea, une o
sentido à imagem acústica , é um sistema de signos que exprime ideias, situado entre as
instituições humanas.” (p. 29).
“Emissor e receptor, língua e fala, sincronia e diacronia, todos eles dependem,
para funcionar, do caráter articulatório da língua falada, que não é uma simples lista de
termos correspondentes a coisas.” (p. 30).
“A língua é feita de signos estruturados de acordo com regras supra-individuais,
funciona mediante relações sincrônicas como um sistema de valores puros. As ideias, ou
o pensamento, seriam massa amorfa sem os signos, não há ideias que se possam
estabelecer previamente aos signos.” (p. 31).
“2.2. O problema da referência para Saussure [...]. As pesquisas em
sociolinguística, desde seus pioneiros Sapir e Whorf, desmontaram uma noção
largamente aceita entre os primeiros filósofos analíticos, que é raramente criticada, a
não ser pelo ângulo da sociolinguínguistica: a de que a linguagem descreve a realidade
através das proposições, configurando-a através da forma lógica, único modo de
produzir significado.” (p. 32).
“Whorf, discípulo de Sapir , radicalizou as ideias de seu mestre na
sociolinguística. Para Sapir, o léxico é exclusivo de cada língua , para Whorf, até
mesmo a organização sintática é particular e própria de cada língua , não contendo uma
forma lógica, matriz geradora, universal. Assim , o pensamento, a "lógica" , os tipos de
raciocínios, inferências etc. variam , como variam a sintaxe e o léxico.” (p. 33).
“Para a sociolinguística, o modelo proposicional não é, epistemicamente
falando, nem universal nem compulsório. As diferenças sintáticas e semânticas
apontadas pela sociolinguística não impedem que todas as línguas sejam igualmente
aptas ao conhecimento e à lida com a s coisas e situações, ao trato comunicativo e à
manutenção das tradições.” (p. 34).
“Do que se conclui que a linguística sugere meios para lidar com o problema da
relação entre significação e realidade, ao contrário da suposição de Saussure. Mesmo
levando-se em conta que os propósitos de Sapir e Saussure não sejam os mesmos,
importa ressaltar justamente a complexidade da linguagem.” (p. 34).
“Na linguística de vertente estrutural-saussuriana, o signo, como vimos, é
arbitrário e convencional, o referente não conta para a compreensão e para o
funcionamento dos signos. Não é obrigatoriamente pela relação referencial que o signo
tem a capacidade de realizar semiose, isto é, de significar algo para alguém.” (p. 34).
“Os signos [...] significam, porém não referem. Não são eles que realizam a
relação propriamente dita de referir, de estabelecer uma relação entre as palavras e as
coisas, entre dizer e ser.” (p. 35).
“Tratar das relações intrassígnicas evita incluir a "coisa" no interior do
significado. Se houvesse uma conexão necessária entre o signo e o objeto que ele
designa, a capacidade linguística de semiotização, de significação, ficaria prejudicada.
Falar limitar-se-ia a nomear.” (p. 35).
“[...] a língua não se limita a puro instrumento do pensamento, a código de sinais
de que cada um se serve para comunicar o claro e límpido pensamento, sujeitado ao
meio precário dos códigos linguísticos, aos signos. O senso comum costuma afirmar
que as palavras são meros sons, que as línguas são limitadas, que o pensamento claro e
distinto encontra nelas um obstáculo para expressar-se.” (p. 36).
“Devido ao fenómeno da transparência linguística, o falante considera haver
"entre o signo e a realidade uma adequação total: o signo recobre e dirige a realidade, ou
melhor, ele é essa realidade ", afirma Benveniste (1966: 52).” (p. 36).
“O problema, e este é um ponto bastante controvertido, são as razões invocadas
para deixar a referência de fora do âmbito da linguística. Linguagem e significação não
têm função denotativa, isto é, de "afirmar" a realidade.” (p. 36).
“A questão da cientificidade da linguística [...] e do seu alcance, continua sendo
um problema crucial , como veremos com Chomsky e com as discussões sobre o
estatuto da "análise do discurso". Ocorre que esse problema só pode ser equacionado se
levarmos em conta justamente o que Saussure apontara como secundário, a parole.” (p.
37).
"Grande parte da filosofia clássica não duvida de que há o mundo real de um
lado e o pensamento de outro lado, prenhe de conceitos e idéias (...)” (p. 37-38).

"Para Kant, a coisa em si não é cognoscível, o que se conhece são os fenómenos,


as coisas tais como elas se manifestam pelo instrumento da sensibilidade e do
entendimento. Kant, contudo, preocupa-se apenas com as formas puras da razão, a
linguagem é um fator que só passa a contar a partir do século XIX. " (p. 38).

"Realistas e conceptualistas pensam assim: a realidade traz em si, discriminados,


os seres. Basta então nomeá-los. Como se o problema filosófico, ou o problema
metafísico por excelência consistisse em conhecer o que são exatamente os seres, em si
e por si próprios, independentemente de um sujeito, ou melhor, de sujeitos que falam."
(p. 38).
"O nominalismo de Occam é uma exceção à tendência generalizada de atribuir
aos nomes uma relação direta com os conceitos encarregados de espelhar ou representar
a realidade, o mundo exterior. Para o nominalismo, os conceitos não passam de nomes,
rubricas, simples signos que reúnem seres individuais sob um nome geral." (p. 38).

"O signo linguístico é operacional, não está simplesmente no lugar de algo.


Contrariamente ao que pensa a tradição filosófica, o pensamento não é um tabernáculo
onde os conceitos abstratos são encerrados." (pg.39).

"Os conceitos formam um campo ou um sistema lógico/mental de relações, cujas


estruturas provêm das diversas línguas, mas as ultrapassam, para o primeiro, e para o
segundo fazem parte da estrutura inata da mente. Os significados devem poder traduzir
o mais fielmente possível o conceito que expressam." (p. 40).

"A linguística estuda desde a menor unidade significativa, que é o fonema, até a
maior unidade significativa, que é a frase gramaticalmente bem construída, isto é, de
acordo com as regras fonológicas, sintáticas e semânticas." (p. 41).

"Para Saussure, significante e significado são os dois lados da mesma moeda. É


no ponto de interseção entre as cadeias sintagmáticas e paradigmáticas que o signo
recebe significado." (p. 41).

"A semântica do signo limita-se ao estudo dos traços que compõem o


significado. Para Saussure, significante e significado são os dois lados da mesma moeda
[...] O significado depende da posição que o signo ocupa e da função que exerce [...]"
(p. 42).

"[...] O problema da relação entre signo e realidade depende da postura com


relação a significado e referência [...]” (p. 45).

"[...] Peirce resolve o impasse de Saussure : se o signo não retira sua significação
da denotação, se ele não está simplesmente no lugar de algo, como fica, então a
linguagem não é um jogo solitário e autossuficiente.” (p. 46).

"[...] O homem trabalha com uma capacidade ou poder divinatório (ainda que
potencial) de fazer suposições numa ação governada pela razão [...] Peirce propõe as
seguintes características: Originalidade [...] Obsistência [...] Transuação [...]” (p. 47-
48).

"[...] O código para Peirce funciona como uma leitura, como um saber
constituindo, que permite ligar o signo a um objeto.” ( p. 48).

"O símbolo é um signo que se refere ao objeto que denota devido a uma "lei" há
uma regra de leitura, a uma associação de ideias que leva o símbolo a ser interpretado
como referido aquele objeto." (p. 50).

"Em suma, um signo, ou representamen é aquilo que, sob certo aspecto ou


modo, representa algo para alguém.” (p. 51).

"Todo pensamento é um signo, dirige-se ao outro. Quem afirma "Aristóteles é


homem portanto é falível". Pensou também que todos os homens são falíveis [...]” (p.
53).
"Os signos podem ser : um termo que deixa seu objeto e, portanto, seu
interpretante será aquilo que pode ser, ou seja, o termo recebe uma certa significação;
[...]” (p. 53).

"[...] Se o signo leva a interpretação, e é por sua vez, outro signo, não há uma
mente funcionando como um receptáculo contendo o pensamentos que representam
coisas os estados de coisas [...]". (p. 56).

Você também pode gostar