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Linguística no Século XX

Com o progresso do método comparativista, os estudos lingüísticos do século XX adotaram uma nova orientação e
uma nova atitude com relação ao enfoque e ao objeto de estudo da lingüística. Ao invés de se concentrar na
descrição histórica da língua, como queriam os gramáticos comparativistas, a lingüística daria maior ênfase ao
estudo da linguagem em si mesma e a seu caráter sociocultural.

Durante a primeira metade do século XX, as novas orientações lingüísticas estiveram representadas
fundamentalmente pelo estruturalismo, cujos expoentes foram Ferdinand de Saussure, na Europa, e Leonard
Bloomfield, nos Estados Unidos.

Estruturalismo europeu. Considera-se em geral o suíço Ferdinand de Saussure o fundador do estruturalismo


lingüístico na Europa, embora suas teorias não tenham sido assim definidas explicitamente. As principais idéias de
Saussure, reunidas por seus discípulos Charles Bally e Albert Séchehaye e publicadas postumamente sob o título
Cours de linguistique générale (1916; Curso de lingüística geral), tiveram forte influência nos estudos lingüísticos da
primeira metade do século XX. O estruturalismo, conforme exposto na obra de Saussure, baseia-se na convicção de
que a linguagem é um sistema abstrato de relações diferenciais entre todas as suas partes. Esse sistema se
apresenta subjacente aos fatos lingüísticos concretos e constitui o principal objeto de estudo do lingüista.

Para fundamentar suas afirmações, Saussure estabeleceu uma série de definições e distinções sobre a natureza da
linguagem, que se podem resumir nos seguintes pontos:

(1) a diferenciação entre langue (língua), sistema de signos presente na consciência de todos os
membros de uma determinada comunidade lingüística, e parole (discurso), realização concreta e
individual da língua num determinado momento e lugar por cada um dos membros da
comunidade;

(2) a consideração do signo lingüístico, elemento essencial na comunidade humana, como a


combinação de um significante (ou expressão) e um significado (conteúdo), cuja relação
arbitrária se define em termos sintagmáticos (entre os elementos que se combinam na seqüência
do discurso) ou paradigmáticos (entre os elementos capazes de aparecer no mesmo contexto); e

(3) a distinção entre o estudo sincrônico da língua, ou seja, a descrição do estado estrutural da
língua em um dado momento, e o estudo diacrônico, descrição da evolução histórica da língua,
que leva em conta os diferentes estágios sincrônicos. Saussure considerou prioritário o estudo
sincrônico, que permite revelar a estrutura essencial da linguagem: "A língua é um sistema em
que todas as partes podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica."

Os lingüistas encontraram nas idéias renovadoras de Saussure o ponto de partida para desenvolver novos métodos
e teorias. Foi o caso da chamada escola de Praga, surgida em 1926 e formada, entre outros, pelos lingüistas de
origem russa Nikolai Trubetskoi, Serguei Karcevski e Roman Jakobson. No I Congresso Internacional de Lingüistas,
realizado em Haia, em 1928, os integrantes da escola de Praga assinalaram a importância da fonologia no sistema
da língua.

Sobre a base das distinções realizadas por Saussure entre língua e discurso, sincronia e diacronia, os lingüistas da
escola de Praga proclamaram a necessidade de se fazer distinção entre fonologia e fonética, dois termos usados até
então para definir a ciência dos sons. Segundo eles, a fonologia estuda as funções lingüísticas dos sons, os
fonemas, enquanto a fonética se preocupa com a produção e as características dos sons da fala. À escola de Praga
deveu-se também a definição de fonema como a unidade mínima do significante que está no plano da língua, assim
como o conceito de traços pertinentes, distintivos ou funcionais dos fonemas.

Os lingüistas escandinavos Viggo Brøndal e Louis Hjelmslev, criadores da teoria da linguagem conhecida como
glossemática, foram os principais representantes do Círculo Lingüístico de Copenhague, fundado em 1931, e que
também se inspirou nos conceitos de língua, discurso, sincronia e estrutura de Saussure. Coube a Hjelmslev criar
uma das mais conhecidas e precisas definições da lingüística estrutural: "conjunto de pesquisas baseadas na
hipótese de que é cientificamente legítimo descrever uma língua como, essencialmente, uma unidade autônoma de
dependências internas ou, numa só palavra, uma estrutura".

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