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Título do Livro:
As raízes religiosas da racionalidade moderna:
para pensar com Max Weber
Autores:
Bruno Reikdal de Lima
Produção editorial:
Mariana Paulon e Marielly Agatha Machado
Designer gráfico:
Jéssica Teixeira
Capa:
Jéssica Teixeira
Bi bl i ogr af i a.
I SBN 978- 65- 85030- 02- 1
CEP 09531-190
E-mail: contato@institutoliberta.com.br
ISBN:
Sumário
Apresentação................................................................................................................ 6
Introdução........................................................................................................................ 7
3. O mediador evanescente............................................................................. 20
Referências...................................................................................................................... 31
Sobre o autor.................................................................................................................. 33
Apresentação
Boa leitura,
Suze Piza
6
Introdução
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Tendo uma perspectiva desse tipo,
um dos intérpretes mais importantes
da modernidade capitalista é Max
Weber. Como também nos mostra
Jessé Souza, para a interpretação do
Brasil o sociólogo alemão é
fundamental, de modo que aparece
como um dos “exemplos mais
significativos do caráter bifronte da
ciência: tanto como mecanismo de
esclarecimento do mundo quanto
como mecanismo de encobrimento
das relações de poder que permitem a
reprodução de privilégios injustos de
toda espécie” (SOUZA, 2015, p. 18).
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1. Alguns pressupostos importantes
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dos efeitos que se acredita serem de fato
inerentes a eles ou em conjecturas. Desse modo,
vem à existência um mundo de ideias que
influencia no modo como as pessoas agem. São
esses sistemas simbólicos, que podem ser mais
ou menos abstratos, diferenciados e
sistematizados, que direcionam nossas ações,
pois nos informam para o que e do que queremos
e podemos ser salvos (SCHLUCHTER, 1985, p. 27)
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Isto posto, vejamos a definição que Weber utiliza para
apresentar a ciência a partir da qual trabalha os fenômenos
que analisa, a sociologia: “uma ciência que pretende
compreender interpretativamente a ação social e assim
explicá-la casualmente em seu curso e em seus efeitos”
(WEBER, 2014, p.3).
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2. O estudo das raízes religiosas da racionalidade
moderna capitalista
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Na primeira versão de A ética protestante e o “Espírito”
do capitalismo, publicada em duas partes entre 1904 e 1905,
Weber delimita sua análise entre os séculos XVI e XVIII,
focando em uma série de expressões religiosas de grupos
reformados reunidos sob o conceito de “protestantismo
ascético”, com um foco especial no movimento de
anabatistas e do calvinismo. Nesse ponto, como comenta
Roland Boer:
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como comenta Pierucci, tal doutrina “afetava de forma
radical a concepção cristã de salvação”, de modo que:
Compactada nesse dogma estava a noção da
absoluta liberdade de Deus para salvar ou
condenar, exercida sempre-já muito acima do
mérito ou da culpa das criaturas humanas, e
muito além de sua capacidade de influenciá-lo
com rituais e rezas, súplicas, chantagens,
prestações ou oferendas. Muito além da magia,
fosse qual fosse (PIERUCCI, 2003, p. 195)
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Na busca pelos conteúdos e processos históricos que
garantem um tipo de racionalidade peculiar como a
modernidade ocidental, Weber amplia o escopo da
discussão que em um primeiro momento vinculou a relação
entre o ascetismo protestante e a ética profissional própria
do capitalismo. Agora, temos a problemática das raízes da
racionalidade moderna, que remontam sob a mesma
estrutura de análise das condutas e modos de vida à um
percurso de transformações religiosas de longa duração. Em
1920, Weber acrescenta à citação que a pouco fizemos dele o
seguinte:
Aquele grande processo histórico-religioso do
desencantamento do mundo que teve início com
as profecias do judaísmo antigo e, em conjunto,
com o pensamento científico helênico, repudiava
como superstição e sacrilégio todos os meios
mágicos de busca da salvação, encontrou aqui
sua conclusão (WEBER, 2014, p. 96)
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No caso do estudo do desenvolvimento histórico que
tem como resultado a modernidade ocidental e sua
racionalidade, destacar as raízes religiosas, é importante
realizar os apontamentos que fizemos. Eles possibilitam
distinguir a pesquisa sobre o influxo do ethos do
protestantismo ascético sobre a vocação profissional
moderna da produção teórica posterior que desemboca no
desencantamento do mundo. Isso é fundamental para que
não tomemos um estudo histórico específico como conceito
geral ou abstração aplicável a outros objetos de estudo.
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3. O mediador evanescente
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Importante destacarmos esses
pormenores do pensamento
weberiano, ainda que sem
aprofundarmos, para não
incorrermos no erro recorrente de
descontextualizar e perder de vista a
base histórica e material que
acompanha essa produção teórica.
Como demonstra Jessé Souza em
seus trabalhos, o mal uso de Weber
acompanha uma série de estruturas
ideológicas que justificam a
manutenção da ordem social
brasileira e legitimam o poder das
elites, valendo-se de um ar de
ciência.
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De todo modo, ao tratarmos das condições para a
racionalidade propriamente capitalista e de tipo moderno, o
aspecto religioso do protestantismo ascético precisa ser visto
em seu alcance e seus limites históricos. Não é uma etapa
geral necessária, mas que nas raízes da cultura ocidental
observada por Weber, surge como um movimento que dentro
de processos históricos, remontam desde os profetas de
Israel e culminam no protestantismo ascético. Como
comenta Frederic Jameson, a posição de Weber busca deixar
de lado qualquer pensamento ou filosofia que tenta nos
persuadir de algum “movimento teleológico seja imanente
na agitação de outra forma caótica e aleatória da vida
empírica” (JAMESON, 1973, p. 61).
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Sob essas condições e relações, os agentes não buscam
seus fins terrenos em vista garantias de bens de salvação e
felicidade eterna. A orientação da vida pode realizar e
vivenciar sinais de salvação em acordo com a crença sem
garantias do próprio sujeito, todavia, está agora vinculada
com fins terrenos e o planejamento do êxito de ações na vida
mundana e por meio da vida mundana. Não há meios
mágicos ou práticas que garantam a salvação: condições
ótimas para que as tarefas sejam realizadas por outro modo
de conduzir a vida. Por isso, Gabriel Cohn comenta que no
pensamento de Weber não encontramos uma apresentação
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emergência e destituição de instituições, as dinâmicas em
torno da divisão social do trabalho e da justificação de sua
coordenação e etc., o protestantismo ascético tem que
“desaparecer”: “Afinal, o capitalismo precisa do consumo e
do hedonismo para funcionar, e ambos eram inimigos do
protestantismo ascético” (SOUZA, 2018, p. 25).
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4. A ciência na legitimação da ordem
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[...] a ciência herda o prestígio da religião no
contexto pré-moderno e assume, em boa parte,
pelo menos, o papel de explicar o mundo
moderno. Não existe tema que seja discutido na
esfera pública de qualquer sociedade moderna
que não invoque a "palavra do especialista que
fala pela ciência. Assim, o potencial da ciência de
produzir efetivo aprendizado individual e coletivo
está ligado e muitas vezes condicionado, por
força de seu prestígio público, a servir de
instância legitimadora e primeira e decisiva
trincheira da luta social e política pela definição
legítima de "boa vida" e "sociedade justa". Em
outras palavras: não existe ordem social
moderna sem uma legitimação pretensamente
científica desta mesma ordem (SOUZA, 2015, p.
14)
27
compartilhada entre “aqueles que
foram excluídos de todos os
privilégios” (SOUZA, 2015, p. 9).
28
O fundamento implícito de todo o raciocínio de
Buarque no seu principal livro é a oposição entre
duas abstrações: o 'homem cordial', como tipo
genérico brasileiro; e o 'protestante ascético',
como seu contraponto norte-americano. O
homem cordial é simplesmente o corolário do
mito nacional que viemos debatendo até aqui:
um indivíduo emotivo que guia as escolhas por
preferências afetivas e pessoais. O protestante
ascético é percebido como seu contrário
especular: um indivíduo "racional" guiado por
considerações impessoais e comunitárias
(SOUZA, 2015, p. 45)
29
resultado é uma explicação que
aparece como científica, mas que
interrompe o pensamento e ação
crítica na medida em que
essencializam (ou ainda racializam)
os problemas da reprodução social
brasileira, transportando esses
“tipos” para as instituições.
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Referências
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WEBER, Max. Textos selecionados: Coleção "Os Pensadores".
Tadução Maurício Tragtenberg, Waltensir Dutra, Calógeras A.
Ajuaba, M. Irene de Q. F. Smzercsányi e Tamás J. M. K.
Szmercsányi. São Paulo: Editora Abril Cultural, 1997.
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Sobre os Autores
E-mail: bruno@reikdal.net
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